Paixão antiga

Afastado dos grandes centros urbanos, longe de toda crise econômica e política, por trechos precários até de gente, irmão da lua e tendo o vento como jornal. Assim seguia virando dias, noites e madrugadas numa viagem de pensamentos, refletindo sobre palavras ditas muitas vezes sem pensar.

É simples, pois tudo que é simples na vida consiste em não se ter nada. Apenas um céu de estrelas, o sol do meio-dia e alguns companheiros de jornada, certas promessas ou nada mais que ofertas e agradecimentos.

Ao nascer do novo dia acompanhar a rotina passando, indo e vindo, mas os atores são outros. Nós não temos rotina, nem horário e obrigação, somente o caminho.

Um luar bonito, nenhum rancor nem mágoa, na paz de noites eternas marcadas por atos tão antigos e ainda tão atuais. Por serras e vales, por mato dentro e direções desconhecidas. Sorrindo e vivendo, terra, asfalto e trilhos...

A sorte e o som dos sinos são manifestações espontâneas ao passear lento do grupo pela capela. Os trabalhos na lavoura, o tocar do gado e o correr das águas são imagens próximas dos olhos e do coração, em mais uma manhã rural.

Essa natureza solta, as matas e seus perfumes, os pássaros e seus cantos, a vida e o caminho. Uma apresentação digna de prêmios, para loucos do caminho ligados a um tempo que não se mede, que não se acerta, mas se desvirtua.

É o vício da estrada e da poeira, paixão antiga de poucos e negada por muitos. Um caminho que vai dar não sei onde, o destino é o coração que responde, a alma transparece os sentidos internos revelados num olhar.

Na lembrança apenas seus olhos seguem persistentes como os passos dados. Em breve voltarei para casa querida, tenha certeza...