Abandonei a abundância e as águas ditas medicinais, como peão do trecho percorria o longínquo caminho. A única referência para a estrada de chão do bairro do Limoeiro era um orelhão azul no acostamento.
Passado o orelhão, algumas plantações e pastagens, logo me inseri na monotonia dos canaviais, deserto verde do sertão cobrindo o solo arenoso. Ao longe, ilhas de matas cercadas pela cana, frágeis corredores que levam ao rio Piracicaba. Sofrido rio onde os peixes se juntam, correndo lentamente com suas águas mantiqueiras.
Antigos sítios em ruínas lembram o pulsante passado do local, nem limoeiros são encontrados mais... Penso no sofrimento das pessoas que abandonaram estas bandas, provavelmente foram tentar a vida na cidade. Restaram suas memórias, traduzidas em flores na forma de cercas vivas, de cactos a hibiscos, visitados por coloridos beija- flores.
A pouca sombra do canavial não amenizava o sol forte da manhã, nem um isolado abacateiro abandonado na paisagem. Quase no fim da rota um velho sítio, cheio de plantas e flores, um curral com dois cavalos e galinhas soltas, além da samambaia na janela, esperando o homem da casa voltar...
Abaixo findou o trecho, um portão de ferro isolou as margens do rio Piracicaba, em prol da extração de areia. Canais de dragagem, barcos, estruturas e um cão bravo.
Acima, a cruz quase caída e a situação precária indicam o abandono da capela local, a única que encontrei em mais de doze quilômetros. Seria fraca a fé dessa gente ou perderam suas tradições rurais?
Andando pelo retorno, recortando as curvas de nível entre linhas de cana, ausente de todo e qualquer bicho, conclui que o silêncio daquele deserto verde era a resposta para esta e outras questões. Assobiei por toda a volta, quebrando o terror do silêncio vegetal, alegrando minha alma e a do caminho.
Por isso que digo: assobia homem, assobia...
Por Diego de Toledo Lima da Silva
Data: 04 de Setembro de 2015