O vão de abertura da barraca estava voltado para a cidade vizinha, onde amarelas luzes iluminavam as ruas. Havia escolhido o brilho solitário das estrelas, meras coincidências que me acompanhavam desde cedo.
A inexatidão matinal transportou o corpo por estradas de chão, cortando extensos canaviais ausentes de tudo, inclusive de vilas, sítios e casas. Incrível como a solidão destes caminhos faz barulho, sons e ecos de histórias mal vividas e pouco contadas.
Distante muitas léguas, a pequena vila é a única descontinuidade das plantações. Era uma segunda-feira e confesso que pareceu um bairro fantasma. O Bar do Juca fechado, a escola rural perdida no meio do mato, casas abandonadas, um sítio tomado por animais, a igreja e áreas anexas num tom de abandono e solidão.
Pode ser apenas impressão de uma manhã de segunda-feira, talvez nos finais de semana a vida local seja pulsante, com festas, missas e muita gente, e que o bar seja tomado por frequentadores, jogos e muita música.
Mas, por alguns instantes, não soube diferenciar a solidão dos canaviais com a da pequena vila, sinuosas conjunturas do momento, alongadas como as retas e subidas do local.
Mesmo cansado, no interior desta barraca, deitado e olhando para cima, as dúvidas eram pontos comuns da noite, invadindo a madrugada sem autorização nem aviso. Assim como os pensamentos que questionam a real existência daquela vila... Será que os grandes tijolos da igreja rural eram relíquias históricas ou apenas pedaços de um sonho, frutos de minha imaginação?
E o bar, o que eram os vários nomes escritos a giz em todo ponto, das paredes ao madeiramento do telhado?
Possivelmente, testemunhas de um lugar no meio do nada, gente que passou e deixou seu registro... Ao fechar os olhos no interior da barraca, lembrei que me esqueci de assinar a parede do bar, próxima ao espelho localizado na entrada do banheiro masculino, único local com espaço livre para algumas palavras sem sentido!
Por Diego de Toledo Lima da Silva
Data: 24 de Outubro de 2015