A madrugada havia concluído sua missão e as primeiras luzes do dia iluminavam o céu, num acordar do sol alaranjado. Cruzando a pequena praça urbana um homem nos observava atentamente, aproximando-se para uma conversa.
Após um breve diálogo o convidamos a seguir conosco na caminhada, logo respondido com um sinal negativo. Seu olhar escondia segredos de um passado de guerra e perseguição, tristes lágrimas vindas de suas lembranças.
Subiu o pensamento, respirou fundo e tentou em vão dar alguns passos... Era livre, mas sua história não... Ainda estava trancado pelas portas de um tempo em que marchou para morte pela Europa.
Sentou e o acompanhei. Desabafou suas mais tenras memórias, por tantos anos tentou esquecer e apagar da memória àquelas cenas de horror e não conseguiu, restando a convivência com seu passado. Ambos choramos e nossos corações se aproximaram naquele momento.
Levantamos e ele se apoiou em meus ombros, caminhando após tanto tempo. Um sorriso foi o reflexo instantâneo de superação, a cada passo um novo sentido para sua vida.
Caminho e caminhante se tornaram um só, não era mais a marcha da morte e sim da vida. Ele respirou aliviado a liberdade de um novo dia, um novo tempo, observando atentamente a paisagem.
Enquanto o nevoeiro se dissipava lentamente, os raios de sol eram um brinde a sua vida e alegria. Seu passado e sua história o acompanhariam para sempre, mas os novos tempos imploravam pelo ato de caminhar, de seguir em frente e tocar a vida.
Prosseguimos pelos caminhos próprios da marcha da vida, onde passado e presente se cruzam na romaria do tempo... Em paz, sempre em paz!