Movimentos singulares representavam cenas de um documentário reproduzidas pelo seu olhar, trançando a visão por serras e morros tão longes e ao mesmo tempo tão próximos. O tempo deu um sinal de autorização ao sol, possibilitando vencer o mar de nuvens que o envolvia. Misteriosamente ela seguia à frente, cada vez mais distante.
Uma igreja, um sinal de glória e a velha estrada, vencida a passos lentos após horas caminhando como um moribundo. Já não a avistava mais, será que era apenas uma visão?
Por alguns quilômetros ela me acompanhou e agora se tornou uma miragem produzida pela Serra da Mantiqueira. Também, pudera, as dores se espalhavam por todo o corpo, havia percebido quão frágil é um homem.
Mas ela seguia como se nada pudesse a atingir, assobiava alegremente e carregava uma mochila nas costas, leve como o vento. Por alguns instantes imaginei que ela havia sido levada pelas corredeiras do rio do Peixe, em outros que um atalho foi a alternativa escolhida e que estava perdida.
No entanto, pensei bem e era eu que estava perdido entre nuvens, enxergando a estrada com certa dificuldade. Provavelmente, ela já teria alcançado o pouso, um banho e uma cama quente.
Parado numa ponte na estrada da Santa Cruz aguardava o dissipar do nevoeiro e as cores do sol, observando o correr das águas. Ali, senti sua alma presente, num doce perfume das primeiras flores da primavera, abrindo o caminho para novos passos.
Olhei o céu e uma solitária estrela ainda brilhava, guiando-me em direção ao pouso e ao descanso tão desejado, logo alcançado no meio da manhã.
Ela não estava no lugar, mas o perfume era tão presente quanto àquela estrela guia...