Varanda da alma

Outra noite estrelada na Serra da Mantiqueira, seus olhos refletiam o céu negro e o luar amarelado no passear lento das horas. Intercalando curtas frases e longa observação senti um arrepio repentino, daqueles sem explicação nem sentido.

Da varanda, ela observava o pouco movimento daquela rua de pedra, pensando na vida e nas eloquências de mais um dia que findava em seu interior. Marcada pela paisagem, alguns dias de peregrinação haviam renovado seu espírito, ânimo e pensamento.

Recompensas de uma ou duas jornadas concluídas, poderiam ser etapas de uma vida ou até de uma viagem espiritual, talvez. Perguntas sem respostas, vazio dos coloridos campos, refletindo verdades ainda não faladas.

Eloquências de uma velha varanda, antiga morada de imensa sabedoria popular, histórias de um tempo que não volta mais... O passado é um livro de páginas amareladas, percorrido apenas por alguns antigos estudiosos e outros curiosos, que persistem em escrever a continuação daquelas palavras datilografadas.

A lua ocupava a varanda e a mulher brilhava no céu, trocaram de papéis num enredo de filme misturado com realidade. Pena que eu era o único presente na plateia, todos os outros estavam ocupados com suas tarefas cotidianas.

Seu olhar... Ah! Que olhar! Olhos iguais duas jabuticabas. Sem preocupação com o tempo, esqueci os compromissos marcados num diálogo próprio de alguém perdido em algum lugar. Somente três elementos faziam sentido: a lua, a mulher e a varanda.

Dias depois, refletindo sobre aquele momento mágico, compreendi que era um mistério e assim deveria permanecer pelo resto dos dias. Humano demais para entender a mística natureza de uma simples varanda, moldada por talentosos construtores, muito menos do luar e do olhar feminino.

Seguem tatuados na mente, vestígios de caminhos ainda não percorridos e de dias a serem vividos, benzidos pelo choro da vastidão de uma alma inconformada com o tempo!

Por Diego de Toledo Lima da Silva

Data: 01 de Novembro de 2015