Por quais caminhos deixamos a revolução, meu camarada? Em que muro mesmo que registramos nossos ideais? Quando foi a última vez que saímos às ruas carregando faixas e gritando por igualdade?
As vozes do nosso interior ainda tentavam nos animar, palavras em vão. Tudo culpa do tempo, estamos velhos. Nosso trem passou e nem vimos, perdidos em alguma estação só nos restaram lembranças.
E as marcas no rosto... O espelho é cruel, tanto quanto o tempo meu velho.
Hoje, olhando antigas fotos e páginas amareladas dos jornais, vejo o quanto éramos ativos. Do tempo antigo restaram apenas a barba e algumas promessas.
As coisas mudam... As pessoas mudam... A vida é uma metamorfose ambulante. Não temos mais àquela velha opinião formada sobre tudo, graças à experiência. Não somos mais capa de jornal e daí?
Estas ilusões ficaram para trás, junto do idealismo jovem e outras coisas mais. Aliás, parte de nós também ficou para trás, pedaços perdidos pelo asfalto urbano.
Voltamos ao campo, para as coisas da terra, às estradas de chão e à simplicidade rural, antigos ideais de amor e paz junto à natureza.
A mesma natureza que, ao longe, tantas vezes nos observava pelas ruas da cidade, guiando passeatas com palavras de ordem. Desta vez, ela percorre o nosso silêncio, refletindo sobre os tombos passados, lembranças que ressurgem após cada curva do nosso sertão.
Tipo cidadão, que às vezes pensa em mudar, às vezes pensa em ficar por aqui, seguindo por linhas tortas na revolução própria do dia-a-dia.
Loucos, delirantes ou simplesmente viventes de novos tempos, não sabemos... Quem sabe um dia, meu velho camarada?
____________
Observação: Este texto foi escrito no ano de 2014 e publicado na Edição de Outubro/15 da Revista Eletrônica Bragantina On Line. Republicado nesta data de 26 de Novembro de 2016, com o falecimento do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, que tantas vezes foi utilizado como referência aos movimentos de esquerda, greve e luta por direitos sociais. Um personagem antagônico da história, que gera sentimentos de paixão e ódio. Resolvi republicar o texto para demonstrar uma tese que defendo: as palavras são atemporais... Mesmo passados dois anos de sua criação, esta crônica permanece atual!