As cores do poente despontavam num universo paralelo, longe de qualquer lógica humana. Era mais uma tarde de um outono seco, em que as folhas já forravam o solo vermelho.
Referências de outros outonos não faltavam, apenas você meu amigo. A memória de sua presença ainda repercute em nosso grupo, mesmo com todo o tempo passado.
Além do horizonte seria possível imaginar uma nova terra, com reflexos de nossas movimentações pelo mundo. Mas você não estava nele... Por quê?
Aquela velha estação de rádio toca a mesma música de nossos sábados, corações noturnos vivos pelas ruas de pedra e de chão. Lembra-se de quando saíamos sem destino com nossas bicicletas?
Este laranja que colore o por do sol retoma trechos de suas pinturas, sempre preparando o céu para noites enluaradas. Por aqui seguimos, amigo...
Entre as cortinas de poeira provenientes das estradas da vida, visões e sonhos são rotinas memoriais de tempos tão bons. Nosso tempo, velho camarada!
E o espírito jovem e aventureiro será que ainda existe? Ou seria apenas uma ilusão criada pelos últimos raios de sol e suas artimanhas.
Nas esquinas do caminho abandonamos nossas lembranças, presas em algum poste, muro ou árvore. Vira e mexe passo pela mesma esquina e sinto sua alma sentada no meio fio... Que data foi àquele domingo mesmo?
Passaram-se tantos anos, que nem me lembro. Desculpas, meu amigo.
É sempre a mesma história, os mesmos erros e nosso caminho. Você sabe, eu sei, um dia nos veremos novamente. Neste reencontro a eternidade nos blindará com um forte abraço e sorrisos latentes de almas peregrinas, espíritos caminhantes e palavras verdadeiras.
É meu camarada... Hoje só me resta observar este poente, que linda tarde!