09ª PARTE

CAPÍTULO 09 DA 3ª PARTE :- AMOR DE CASTIDADE

“Desejaria falar-lhes sobre o amor, o verdadeiro amor, aquele do qual Jesus morreu, aquele que Ele pôs no coração do Pe. De Foucauld e que Ele quer também incutir na alma dos Irmãozinhos”. Jesus morreu, antes de tudo, para que vocês soubessem amar e Ele lhes fará compreender minhas palavras diretamente no fundo do coração.”

O Senhor trabalha nas Fraternidades no sentido do amor verdadeiro, que arranca vocês de seus planos, hábitos previsões humanas, do “amor que o entrega vencido, triturado, sempre inacabado, à vontade de Jesus” que está presente nas solicitações inoportunas dos acontecimentos, do trabalho, da fadiga e, sobretudo do sofrimento das pessoas, em face do qual você deve renunciar ao desejo de fazer algo de eficaz porque você não tem o poder de curar todos os sofrimentos.” Saber amar como Jesus é nossa vocação e o preceito do Senhor. É a perfeição, a única coisa que vocês têm que aprender.

A vida regular, horário bem observado, a própria tranquilidade, só têm sentido se contribuírem para arrancar vocês do egoísmo e substituí-lo pelo amor verdadeiro. Por esse amor que Jesus morreu. Nossa vida será difícil, dura, agitada, mas estou convencido de que Deus não nos quer preservar. “Nossa vocação consiste em ir ao amor por esse caminho.”

O Cartuxo procura a morte total a si mesmo na observância de sua regra. O Irmãozinho a encontra nesse peso de misérias, solicitação dos sofrimentos humanos, na oração dolorosa, na servidão, na fadiga do trabalho.

Cristo solicita a vocês cada dia por esses instrumentos, um salto a mais para um amor mais despojado, para que carreguemos com ele o peso do pecado e de morte que está no mundo. Sejam suficientemente generosos e atentos para perceberem nisso tudo a maneira de amar as pessoas e de se entregarem à oração redentora, carregando algo do fardo alheio.

Isso formará o amor em vocês com maior eficácia do que por meio de uma vida regular em que buscamos a perfeição à nossa medida. A cruz incomoda! Como receber o hóspede, o pobre, os que nos solicitam e amá-los sem incômodo?

A vida de Irmãozinho será “um instrumento de que Deus se servirá para tirar do melhor de vocês mesmos essa inteira adesão à cruz e ao amor que Ele quer dividir com vocês.” A única coisa a fazer é tornar-se companheiros de Jesus, amigos de sua Cruz. Esse tipo de vida não leva ao ativismo, estou certo disso.

Só se atinge o apostolado deixando-se apoderar pela aflição da pobreza e angústia humana dos outros, que através de vocês, deverá chamar Deus e Sua Redenção. É assim que Jesus lhes ensinará a amar como Ele, a fazer a vontade do Pai, que é que vocês trabalhem para salvar seus irmãos não pelas obras, nem pela pregação, “mas pela entrega total da vida, pela imolação do egoísmo e por uma franca e total amizade dada a cada ser humano”Só poderá ser Irmãozinho de Jesus quem for capaz de amar pelo menos um pouquinho as pessoas.

O AMOR CONCRETO

O amor “será uma ilusão ou uma hipocrisia se não passar nos atos e nas palavras”. Quantas coisas nos impedem de amar a todos como irmãos e amigos! Só seremos amigos de Jesus quando aprendermos a amar assim! Não reconhecemos que não sabemos amar! E ainda julgamos os outros, desejando que sejam piores do que nós!

“Reconhecemos que isso está em nós, que somos assim horrivelmente egoístas: não gostamos de ser amolados, de nos cansar pelos outros, não sabemos ver seus sofrimentos. Os nossos nos dominam e nos tornam cegos”. Só nos interessamos pelo que nos diz respeito, que nos envaidece!

“Não gostamos de mostrar aos outros o que somos! Como ficarmos transparentes ao amor de Cristo, se agimos assim?” Caçoamos com facilidade, passamos para diante um tipo de maleficência que aceitamos, o julgamento soberano que fazemos sobre cada coisa, teimosia em discutir sem inteligência e sem o verdadeiro amor da verdade por si mesma, os preconceitos de classe, as conveniências, o medo de não fazer como todo mundo faz, de ser mal julgado, de interpretarmos falsamente o “justo meio” ou as regras da prudência. Tudo isso provém-nos de uma educação individualista.

Há também uma falsa noção do resguardo do coração e da maneira de dirigir em nós o crescimento de um amor casto. É sobre isso que vamos falar: castidade, amor fraterno, amizade, caridade divina, que estão ligados à própria unidade do nosso ser bem mais do que se pensa.

Será que daqui a 20 anos esse fervor de amor que agora vocês têm aos 20, 30 anos ainda perdurará? Será que ele vai aumentar, ou se manteve puro, ou parará de crescer quando vocês forem atingidos pela esclerose do egoísmo de homens maduros? “Terão aprendido a contar consigo mesmos, ou então as tempestades da carne e do coração terão amainado em um grande amor casto, todo purificado pelo Cristo?” Terão vocês mantido a generosidade no meio das purificações tão dolorosas da sensibilidade do coração?

Para a perseverança, vemos três elementos: a generosidade total da vontade, o auxílio da graça, que nunca lhes faltará, se forem generosos e orarem, e a retidão de concepção do amor de castidade. Mesmo com boa vontade corremos o perigo de nos desviar do caminho, de sar dos trilhos, de nos deformar.

ALGUMAS DIRETIVAS

Deus quer que amemos. É uma ordem sem limite. Cristo amou até à morte. O amor seria uma realidade que não se pode definir? A mãe e a esposa não precisa que ninguém lhe ensine a amar o esposo e os filhos! Mas há amores egoístas! Nem todos os pais e mães sabem amar com pureza e verdade.

Nem toda amizade nos engrandece realizando o mais alto grau do amor! Não existe amor humano muito grande sem que tenha passado pela depuração do sofrimento. O que dizer então do amor que Jesus exige de nós, para ele mesmo e para cada pessoa, em seu nome?

“O que significa esse amor, como deve ele crescer e como se exprimirá em nós,” quando exigir o sacrifício, a necessidade de ultrapassar qualquer outro amor: parentes, esposa, irmãos, amigos: “Deixarás tudo para seguir-me”?

Que amor é esse, de tal maneira casto, de tal maneira puro, que até hoje somente Cristo foi capaz de vivê-lo em plenitude num coração de homem? A Virgem viveu também esse amor!

Toda a nossa vida cristã consiste em aprender a amar Deus, nosso Pai, e todas as pessoas, todos e cada um em particular, como um amigo, como um autêntico irmão. Essa é a condição de sermos verdadeiros filhos de Deus e verdadeiros Irmãozinhos de Jesus Cristo.

“Esse é o único problema da vida de vocês: aprender a amar”. Nosso coração e nossa sensibilidade são nossos instrumentos, pois não somos anjos! Somos sres humanos! Amor<-> coração<->amizade<->ternura<-> sensibilidade. É o organismo complexo e delicado do amor posto em nossa natureza humana pelo próprio Deus.

Algumas objeções que são feitas:

>O amor de Cristo não seria um amor como os outros: seria um amor sobrenatural, e não natural; Nos vem de Deus. Só poderia residir na parte superior de nossa alma. Seria puramente espiritual, enquanto que nosso coração nos arrasa a amar as criaturas, a pegar-nos a elas. Também no nosso amor natural há muitas vezes tanta alegria que excluiria o mérito de amar, e não seria, pois, “por amor de Deus” que amaríamos, não seria um amor de caridade.

>haveria perigo demais em amar com um coração humano, em que há um peso de impureza que arrasta o ser humano constantemente para um amor duvidoso, carnal.

> Procura egoísta e inconsciente de si mesmo em nosa sensibilidade que falseará o desenvolvimento de uma amizade reta e casta.

Que fazer, então? Não se servir desse organismo natural de amor? Vedarmos nosso coração e qualquer movimento espontâneo de amizade e ternura para com quem quer que seja? Nessa objeção, qualquer manifestação do coração seria considerada como um perigo, como algo “humano” e “natural”, portanto imperfeito (numa concepção em que humano é visto como sinônimo de imperfeito).

O resultado será um estado de indiferença e frieza em que não há mais em nós nenhum movimento espontâneo de ternura, de amizade ou de amor por qualquer criatura que seja. O amor sobrenatural poderá ter, então, o caminho livre e residirá apenas na vontade, numa soberana indiferença de coração para toda a criatura, de um modo igual, unicamente por “amor de Deus”.

É um método que exige uma generosidade heróica, e que foi usado por alguns santos, mas que deixou muitos cristãos e religiosos deformados e incapazes para sempre, de saberem amar com o verdadeiro amor de caridade. Outros sofreram brutais desforras de um coração recalcado, em direção a uma sensibilidade desviada.

Quando foram evitados esses incidentes, mesmo assim, que ar triste toma o amor de caridade que não resida senão num ato de vontade despido de alegria, de sorrisos e que não tem mais à sua disposição nenhum meio de expressão cordial e afetuosa!

“Todos os santos autênticos souberam amar com um coração transbordante de ternura, de espontaneidade e de alegria: Santa Catarina de Sena, São Francisco de Assis, São João da Cruz, São Francisco de Sales”, por exemplo.

“O evangelho não nos apresenta nada de parecido com isso” (esse método drástico) “na fisionomia de Jesus, na simplicidade da Virgem, na pura afeição de um São João, na espontaneidade de um São Pedro e no amor ardente de uma Santa Madalena”.

Esse método que comentamos tem como base talvez uma falsa noção do sobrenatural e uma concepção pessimista da natureza humana! O amor sobrenatural visto como uma entidade fundamentalmente diferente do amor natural de cujos meios normais de expressão ele não tem assim nenhuma necessidade. Eles se esquecem que o sobrenatural não poderia existir fora de uma natureza a ser transformada e sobe-elevada.

Cristo ressuscitou: se morremos com Ele também desde aqui começaremos a reviver com Ele! “A morte não existe senão para a vida. O amor de caridade em sua perfeição deve expandir-se numa sensibilidade, não apenas purificada, mas engrandecida e afinada que lhe permitirá exprimir-se a Deus e às pessoas com todas as riquezas de ternura, de amizade, de doçura e de força de um coração humano”. Não podemos mutilar o que há de mais belo no homem!

Nunca comprimir, reprimir, brutalmente o coração, mas dirigi-lo; não se deve destruir a sensibilidade, masa purificá-la e dominá-la. Não se trata de diminuir e abafar, mas de tornar o coração maior e a sensibilidade mais delicada, para pô-los, um e outra, ao serviço de um amor sobrenaturalizado.

Não nego que seja difícil esse controle e orientação. É preciso uma renúncia total de si mesmo! “Haverá a cruz, a morte, o sepulcro, não como um termo final, mas para a Vida e a Ressurreição!

CAMINHO A SEGUIR

“Vocês deverão educar e formar em si uma plenitude de amor fraterno por todos” A realidade lhes parecerá diferente, porque a descoberta de nós mesmos será a primeira etapa de nosso itinerário para o amor. É preciso muita humildade; caso contrário, não superaremos os obstáculos.

Nós temos tendência de procurar o amor para a própria satisfação, para o prazer que ele nos traz, no fundo do coração. “O verdadeiro amor consiste em esquecer-se de si mesmo para transmitir-se, inteiro, naquele que se ama”, embora mesmo no amor natural também podemos nos dar, mas para encontrarmos de novo a nós mesmos.

Na maior parte das vezes é a sensibilidade que nos domina e nos dirige; por isso, não consegue representar o papel que lhe cabe. Ela só é uma riqueza e uma força quando for dirigida pela razão e pela fé. Isso varia conforme os temperamentos. Consequência dessa desarmonia: depressão e entusiasmo, susceptibilidade aguda, movimentos de ciúme, de inveja. O resultado será um amor todo feito de sensibilidade, amor irracional, porque a razão não contribuiu em nada para a sua formação: as pessoas se fixarão numa mulher que não deveria ser amada assim, ou num irmão, ou num amigo, de maneira errada. Isso é percebido, mas é mais forte que vocês.

É preciso conhecer essas coisas e as leis de sua sensibilidade. “Manter a cabeça suficientemente fria e o coração suficientemente leal para saber reconhecer em vocês o começo de um amor por uma mulher, ou de uma amizade desordenada por um de seus irmãos (...) É preciso ter em si um tal desejo de castidade a ponto de não se deixar enganar pela sensibilidade ou pelo coração.

A mesma medida desses amores e amizades ocorrerá em relação às aversões instintivas irracionais, por tal ou qual pessoa. Isso nos paralisa e nos afasta dos irmãos.

Não perca a coragem! Tudo isso é normal. O coração e a sensibilidade são bons, mas o mal é que estão mais por si mesmos submetidos ao espírito, mas o dominam.

É preciso pôr em ordem e refazer a unidade. Trata-se, pois, não de destruir-se e mutilar-se, mas de reconstruir, e isso não se fará sem o sofrimento.

A INCLINAÇÃO AO PRAZER SENSUAL

O belo e grande amor que Jesus quer edificar em você na castidade poderá ser destruído de maneira brutal, animal, se o coração não for submetido ao espírito: é a brutal solicitação sem amor no coração, tentação normal e corrente, devido à quebra de unidade do nosso ser, consequência do pecado original em nós.

Há uma força fisiológica independente sobre a qual agem excitações exteriores, físicas, fora de nossa vontade, sujeita também a desvios de instinto e a hábitos que se tornam omo uma segunda natureza. “É preciso aprender calmamente a conhecer as leis de seu próprio temperamento e as excitações às quais é mais sensível.” É preciso uma virilidade, uma abertura simples e constante, sem falsa vergonha. “Não neglicenciar a mortificação, nem mesmo a higiene e a limpeza. Nunca percam a coragem diante das próprias fraquezas!”

APRENDER A AMAR

Partir do que houver melhor em nós, do desejo sincero e generoso de amar Jesus acima de tudo.

Enraizados na amizade a Jesus, da qual nossa vida será uma consequência.

Fazer com que cresça em nós o desejo de amar ao “bem amado irmão e Senhor” Jesus, mais do que a nenhuma pessoa do mundo. Essa disposição é a base de tudo, e nos levará à oração, à adoração e à contemplação dele. É desse amor que brotará a fonte do amor a todas as demais pessoas. Amar com o próprio coração de Cristo, com a mesma força, a mesma ternura, como o mesmo desejo de entregar-se por nossos irmãos. O próprio Jesus começa a viver em nós.

Ter confiança! Não ter medo. O amor de Jesus foi forte como a morte. Aprender a ser forte. Amar grandes coisas. Ambição de dar-se, sofrer pelo Cristo, por nossos irmãos, Desejar com humildade o martírio. Ser viril nas afeições. Nunca se mole, nem preguiçoso, ou relaxado consigo mesmo. Não se deixar levar por susceptibilidades, rancores, ciúmes. Desprezar todas essas coisas. Com humildade deixar bem clara essa zona de nossas paixões mesquinhas.

Ser corajoso, não ceder nunca ao medo que nos inspira a mortificação, particularmente em tudo o que se refere ao apetite ou um desejo do corpo: a gulodice, o hábito de fumar, a preguiça. Nada é sem importância quando constitui um obstáculo ao amor. Manter o corpo são e equilibrado.

O amor de Jesus foi universal. O nosso também deve sê-lo. Não formar um grupo à parte. O amor sensível cega. Não se inclinar à antipatia. Aprender a pôr-se no lugar dos outros e a compreender. Conhecer os outros mais intimamente. Nossos estudos (filosofias, religiões, culturas e línguas estrangeiras devem levar-nos a aprofundar nosso amor pelas pessoas.

“Ninguém foi tão simples e tão verdadeiro em seu amor como Cristo”. Façamos o mesmo. Amor universal, como no Padre de Foucauld: “Irmãozinhos universais”. Banir a estreiteza de espírito, os julgamentos severos de mesquinhez, as antipatias instintivas. Ser simples na manifestações de afeição para com os irmãos e os amigos; ser vigilantes, mas sem medo de exprimir-se. Isso, é claro, não se aplica às tentações.

Profundo respeito para com quem amamos: amor casto é sempre amor respeitoso. “Jesus nos ama com tal respeito por nós mesmos, e somos tão frágeis diante dele!”

EXPRIMIR A CARIDADE

Obstáculos que aparecerão para exprimir a caridade: timidez, reticências, hábitos egoístas ou individualistas, além dos normais, como gestos, linguagem, meios. Amor que ser manifesta, que alivia, que carrega o sofrimento, que sustenta, que espalha em volta d si a verdadeira alegria. Desenvolver o que há de melhor em nós e lutar para a correção de nossos defeitos. Conhecer nosso defeito dominante, como a timidez, sensibilidade insuficiente equilibrada, tentações de ciúmes, de antipatia, orgulho na manifestação d seu amor pelo próximo, facilidade para o nascimento de amizade ou de amores descontrolados e sensíveis demais, a reflexão exagerada sobre si mesmos, ocasionando a retenção pelo egoísmo. “Em tudo isso seja corajoso, firme, voltado continuamente ao exercício de uma verdadeira simplicidade.

Ir além dos próprios sentimentos: proceda como se amasse seus irmãos com amizade: o mais das vezes o sentimento seguirá o ato. Não espere sentir que ama para amar. Trabalhar o espírito de serviço, Não se desesperar com as oportunidades perdidas. Pensar nos outros antes de pensar em si mesmo. Usar a imaginação para ser dedicado, adivinhar o sofrimento e o cansaço do ouro, participar de sua alegria. “Isso se obtém pela educação, não espere que venha sozinho”.

Transparência em face de nós mesmos, como em face de Deus e de nossos irmãos. As tentações não atingem a castidade do amor por Jesus: “Não brinque de esconde-esconde com seus sentimentos1” Saiba avaliá-los, sobretudo com o sexo oposto. “Não tenha em sua alma nenhum cantinho obscuro sobre o qual você tenha medo de ver cair um raio da luz de Cristo”. Sinceridade na oração. Não inventar sentimentos irreais. “Não fale com Deus uma linguagem que seja diferente daquilo que Ele vê em você”. Ser filho da luz. Saiba desmascarar um mau instinto à procura de uma ocasião.

“ A abertura sem falso pudor, totalmente simples, nesses assuntos de amor e castidade, é uma garantia mais segura do que uma reclusão e um afastamento das ocasiões exteriores de tentações que vão procurar o monge até lá no fundo de sua cela, e muitas vezes com tanta e mais violência quanto seu mosteiro esteja mais fechado ao mundo”.

Vocês vivem no meio do povo, e não em mosteiros isolados, e estão mais expostos. Falem francamente com o confessor, com um irmão mais íntimo, com seu responsável. Usem a reunião da noite, exceto para as confidências que dizem respeito à luta pela pureza. Não traria vantagem para ninguém. “É um terreno particular e delicado demais para tornar-se objeto de uma conversa em comum. Não prolongar as conversar que tiver em particular sobre esse assunto: ser sóbrio, embora franco.

DIRETIVAS MAIS PARTICULARES

“Tanto o homem como a mulher são feitos para o casamento”. A paternidade leva à paciência, à dedicação, à abnegação de si mesmo em favor da esposa e dos filhos.

O chamado de Jesus convida-o a renunciar todo amor humano, à esposa, ao lar, à paternidade. “Você renuncia à doçura da intimidade de um amor feminino e à alegria exaltante de ter filhos. (Lc 16,26: “aquele que não renunciar a seu pai...etc”)(..) para pertencer mais exclusivamente a Cristo”.

“Essa renúncia se consumará pouco a pouco, por etapas, à medida em que as virtualidades afetivas, primeiro do esposo, depois do pai, atingirem a maturidade em você”.

Aos 20 anos = apelo de um amor terno e sensível.

Aos 30 anos = intimidade mais refletida, complementação.

Aos 40 anos = apelo ao prazer da carne, o “canto do cisne”, últimas oportunidades de procriação.

É absolutamente normal que o desenvolvimento de seu ser o leve a ressentir, uns após os outros, essas diferentes necessidades do coração,mais ou menos imperiosamente conforme seu temperamento.

Tendências boas em si mesmo, mas que você renunciou para oferecê-las na castidade de um amor que cada uma dessas oferendas tornará mais rico e mais fecundo.

Esse amor se espalhará sobre as pessoas, principalmente pobres e desamparadas, amando-as com toda a ternura que daria à sua esposa.

“À necessidade de paternidade que se manifestará em você deverá corresponder um sentido mais agudo da fecundidade do amor que dá a vida pela cruz, amor ao qual Jesus o associou.”

“ Sua generosidade deve crescer e seu amor a Jesus se enriquecer com a maturidade de suas potências de afeição.” Cuidado para não querer dominar outros corações e apropriar-se deles de modo ciumento!

Ou seu amor sairá engrandecido, ou sua castidade se enfraquecerá. “ A queda, então, está muito próxima, e é sempre a mediocridade de uma vida religiosa, curvada num egoísmo à procura de compensações ao sacrifício, uma vez consentido”. Tornam-se “solteirões”. Nenhum de vocês poderá viver sem um imenso amor no coração.

Querer ter intimidade com uma mulher e a alegria de ser chamado de “papai” é coisa normal. Aprenda a colocar isso diante de Deus “e saiba que Jesus pede simplesmente que você O escolha (...)de novo, como único objeto do seu amor”

O amor que nos une a Cristo não suporta mediocridade, que o arruína pela base. Ou é tudo ou nada.

“É a cruz de Cristo que dominará a sua vida de amor. Não pode ser de outro jeito. Luta cotidiana. “Purificação cada vez mais profunda de nossas potências de amar, na mesma medida em que crescerá a intimidade de nossos corações com Deus”. Se ficarmos de modo claro e generoso “na luz de Deus, fiel à cruz de Cristo, tudo isso será mais simples para ser vivido do que parecerá pelo que foi exposto”.

AS AMIZADES

Devem encontrar um lugar em nossa vida. “Jesus teve amigos. A amizade é a mias pura e a mais alta expressão de um amor casto, generoso, esquecido de nós mesmos! Surge como um bom êxito da caridade divina entre duas pessoas; mas para ser capaz de amar dessa maneira, é preciso ainda que nosso coração seja suficientemente purificado”, possuído pelo amor de Jesus.

Uma amizade “supõe uma escolha recíproca e uma certa co-naturalidade de tratamento. Como repousa numa base natural, no começo sempre põe em jogo a sensibilidade. “É o risco das amizades nascentes”. Serão purificadas em nosso amor por Cristo. “Normalmente suas amizades conterão sempre uma parte de atração sensível que será preciso vigiar e dominar, se não quiserem que suas amizades degenerem”.

Sinais de degeneração da amizade:

-preocupa a pessoa constantemente;

-interpõe-se na oração entre Deus e a pessoa;

-a pessoa resume tudo nessa amizade; ela apodera-se de seu coração que deixa de ser livre para Deus e para os outros.

A amizade supõe uma troca mútua. Entre os Irmãozinhos uma amizade teria a finalidade talvez única de um ajudar o outro a viver melhor seu amor por Jesus. “Um dará coragem ao outro para a generosidade; as dificuldades serão postas em comum para serem superadas melhor; haverá entre si uma emulação para mais caridade, mais espírito de serviço, mais pobreza, mais conhecimento d Cristo”.

Quanto mais formos íntimos de Deus, mais nossa amizades se estabelecem sobre um plano de troca mais espiritual, embora aumentando de profundidade e fidelidade. É preciso saber governar a sensibilidade para que ela se mantenha ao serviço do amor de Jesus, e isso muda conforme as épocas de nossa vida, e os diferentes temperamentos. Devemos tero maior número possível de amigos. “Nesse sentido devem procurar dar ao amor com que amares aqueles que se aproximam de voc~es a forame e a profundidade de uma amizade”.

Uma amizade que tendesse à exclusividade e dominasse seu coração seria, além de imperfeita, “porque poria obstáculo à liberdade de seu amor pelo Cristo, (...) seria (também) diretamente oposta à sua vocação de Irmãozinho universal”.

CONCLUSÃO

A maneira divina de amar as pessoas só se aprende com o sofrimento. Ela é obra de Deus, não nossa mas com nossa generosidade e nossa colaboração.

“É ao preço de correções, de purificações cada vez mais exigentes que nosso coração será suficientemente escavado por Deus, suficientemente alargado e puro para amar apaixonadamente, na castidade, toas as pessoas e amigos em nome de Jesus”.

“Deixe que tudo o que exija de vocês uma renúncia ao egoísmo e à tranquilidade trabalhe nessa transformação. A cruz que o transformará virá às vezes de suas relações com as pessoas, com seus irmãos; virá do sofrimento e da infelicidade do mundo que você terá deixado largamente penetrar em si; virá, sobretudo, da purificação operada pelo próprio Espírito Santo, na intimidade de suas relações com a presença divina. “ (El-Abiodh Sidi-Cheikh, Al Haouassi, 22/04/1949

10º CAPÍTULO DA 3ª PARTE – A OBEDIÊNCIA

(De Roma, 24/06/1951)

Chegamos a um ponto de desenvolvimento em que devemos pertencer à Igreja de maneira mais consciente, mais estreita, se quisermos que nossas Fraternidades sejam, sem reserva, coisa do Senhor”.

Admissão de sacerdotes de ministério à Fraternidade, no quadro mais vasto da grande Fraternidade leiga, que é composta de leigos, casados ou não, que desejam viver da espiritualidade das Fraternidades. (Atualmente os padres estão na Fraternidade Sacerdotal Jesus-Cáritas, denominada na data deste artigo “União dos Irmãos de Jesus”).

Peço a todos uma verdadeira e total obediência à Igreja, tão necessária aos que vão trabalhar no Canadá, ou no Chile, ou na África do Sul, por ser um fator de unidade, que nos liga todos à vontade de Cristo, que se torna, assim, nosso chefe.

OBEDIÊNCIA MAIS VERDADEIRA

“A obediência é uma das exigências inalienáveis da Igreja, é um de seus valores essenciais” embora seja necessário uma purificação em relação a certas concepções um tanto falsas da obediência. “Chegou o momento de colocá-los, com fé, em face das divergências de uma obediência total a Cristo e de procurarmos juntos pô-la em prática generosamente na vida das fraternidades.

O QUE É OBEDECER?

“É entregar, em plena liberdade, a nossa vontade à vontade de um outro, para agir com ele em conformidade de julgamento, pelo menos prático, se não se tratar de uma autoridade em si infalível e porque esse outro tem plenamente o direito de exigir essa submissão de ação de nossa vontade”. Esse outro só pode ser Deus ou um “homem autenticamente investido pelo próprio Deus de uma parcela da sua autoridade divina”. Essa delegação de autoridade é realizada na Igreja, por intermédio de Cristo. “Não podemos falar de obediência sem falar antes do mistério de Cristo e de sua Igreja”, da fé, permanecendo nesse plano. Se sairmos dele, não podemos compreender nem a obediência cristã nem a que prometemos em nossa profissão religiosa. É algo misterioso, incompreensível, e mesmo chocante para os que não creem no mistério de Cristo e até para nós, se não agirmos pela fé.

O destino sobrenatural do homem e sua filiação divina o leva a superar-se a si mesmo, a ir além de suas tendências e de suas necessidades espontâneas, que devem ser superadas. Devemos “tender para uma nova vida cujas exig~encias vão além daquelas que poderíamos naturalmente conceber e realizar”, pois Deus fez sua intervenção na história humana por sua Encarnação e em consequência sua vida e sua morte sobre o madeiro da cruz, seu mistério íntimo de obediência e de sofrimento, a fundação da Igreja, e nossa introdução pessoal no centro dessas realidades pelo Batismo.

Certos aspectos dessa nova ordem estabelecida por Cristo vão além dos aspectos naturais da obediência, como a que exercemos ao obedecermos os pais e às autoridades legítimas. Só podemos compreendê-la com a luz de Deus e traduzi-las na vida com a força divina.

Nossa vida de amor, justiça, participação da vida dos pequeninos, é cúmplice do que há em nós de mais autenticamente humano, com o impulso do convite do Evangelho; entretanto, a obediência, o amor da Cruz, da humildade, a pobreza, enquanto desapego interior de si mesmo, só encontram em nós oposições e contradições.” Essas disposições da alma não são espontâneas: “ Não é senão ao preço de despojamentos dolorosos e de uma ativa colaboração à ação de Deus (...) constantemente reconsiderada, que chegaremos a reproduzir em nós todos os aspectos misteriosos de Cristo”.

A OBEDIÊNCIA DE JESUS

Precisamos aprender a viver de Cristo, que obedecia com uma preocupação constante, e nisso se resume para ele o ato supremo de sua obra de redenção. Rom 5,19 lembra a obediência de Jesus Cristo completamente oposta à desobediência de Adão.

“A adesão de Jesus à obediência durou toda a sua vida de adulto, de modo doloroso, em que aderia a adesão dolorosa de sua vontade à vontade de seu Pai, que apresentava cada dia á sua livre aceitação de homem o plano assustador da Redenção pela paixão e Cruz.” A realidade é que não lhe foi fácil essa aceitação plena da Paixão, mas deu-se na tristeza e na angústia.

Releiam as três pedições da Paixão em Mc 8,3; Mt 17,2; Mc 9,30, a angústia medrosa em João 12,27, a luta final do Getsêmani em Mc 14,32; Mt 26,36. Ele disse sim por pura obediência, que para Ele foi mais dura do que nunca jamais o será para vocês. Ela está no centro, bem no coração da redenção pessoal de vocês.

“Jesus não seria nada para nós sem esse ato de obediência que resgata a humanidade do pecado”. O resgate de nossos irmãos só será possível dentro da perspectiva da obediência. Vivemos a verdadeira vida porque Jesus ofereceu-se a ela até morrer por ela. Em nossa escolha, é tudo ou nada! Se amamos Jesus, vamos perguntar a Ele como obedecer e a quem obedecer. “Se Jesus está na cruz é por obediência”.

A MANEIRA DE OBEDECER

O que nos falaria e nos pediria em relação à obediência? Somos obrigados a obedecer a Deus, embora às vezes nos falta a coragem e o desapego para cumpri-lo, embora concordemos que Ele tem o direito de obrigar-nos a obedecê-lo.

Nós achamos que para os homens da Bíblia foi mais fácil a obediência por se relacionada diretamente a Deus. Achamos também que o problema começa quando temos que obedecer aos homens cheios de defeitos. Jesus, porém, pediu que fizéssemos isso em Lc 10,16: “Aquele que vos ouve, a mim ouve; e aquele que vos despreza, a mim despreza. E quem a mim despreza, despreza aquele que me enviou.”

“Os chefes da Igreja, embora assistidos por Deus, não são garantidos contra todo desvio de julgamento no governo da assembléia dos cristãos”: erro, negligência prejudicial, julgamento falseado pela paixão... “Como terá podido Cristo conceber tal maneira de ligar-nos à sua própria vontade e quais as vantagens de organizar assim a Igreja?” Não seria melhor deixar apenas o Evangelho, sem intermediários humanos? A Igreja foi pensada e assim desejada pessoalmente pelo Senhor.

“A palavra do Senhor : “Quem os escuta, escuta-me”... aplica-se realmente aos superiores religiosos autenticamente estabelecidos pela Igreja, e nos limites de sua autoridade.”

A ESCOLA DA OBEDIÊNCIA.

Pelas diferentes maneiras de proceder conosco, Deus prepara em nós uma capacidade de unir-se a Ele sem hesitações nem reticências, no dia da revelação de sua Face. Para isso há algumas exigência, que serão cumpridas com a humildade, a pela clareza da alma , com a inteira docilidade e obediência ao menor desejo do Senhor, hábitos esses que condicionam totalmente a força e a natureza do amor exigidas para nossa união com Deus.

Os hábitos de obediência penetrarão em nosso íntimo só por meios sensíveis e planamente humanos. “É impossível para nós sermos espiritualmente obedientes a Deus, sem o sermos total e humanamente.” Isso só conseguimos nos submetendo a homens visíveis! Veja Lc 16,31: “Se não ouvem Moisés e os profetas, tão pouco acreditarão, ainda que ressuscitasse algum dos mortos.” - “Aquele que não ama” (poderíamos substituir por “não obedece”) “a seu irmão a quem vê, como pode amar” (obedecer) “a Deus, a quem não vê? (1ª Jo 4,20).

Entregar sua vontade é amar e obedecer. Jesus nos coloca, desse modo, numa “escola de uma obediência de homem” cujo atalho é a obediência à autoridade não apenas em alguns atos essenciais oriundos de nossa pertença à Igreja, mas por toda a nossa vida.

A obediência não é apenas um ato de ascese para tornar-nos mais dóceis, embora isso também seja verdadeiro: o fato de sermos rudemente conduzidos nos é salutar, para vencermos certas raízes de orgulho de instinto de dominação, de confiança presunçosa em nossos julgamentos. Nesse sentido podemos afirmar que quem obedece nunca está no erro.

QUEM VOS OUVE, ME OUVE

“O Senhor quis antes de tudo, pela obediência, nos permitir uma mais constante união de vontade com a sua: “Quem vos ouve, me ouve.” Precisamos crer que os investidos de autoridade recebem de Deus as luzes e os auxílios necessários para bem exercê-la: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28,20).- “Onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. (Mt 18,20). Cristo nos assiste e com certeza está junto aos superiores para que recebam a direção do Espírito Santo. Na autoridade da Igreja, ao contrário da autoridade simplesmente humana, há um mistério de fé.

O superior deve ter o único objetivo de conduzir os seus irmãos, pelas suas ordens, à vontade de Cristo, usando os meios normais em seu poder, na humildade, na desconfiança de seus defeitos habituais. O Espírito Santo intervém quando forem esgotados todos os meios de informação ao alcance humano.

Os subordinados devem colaborar de modo confiante, franco, sem reticências. É preciso mais coragem “para manter um contato eficaz de informação e de abertura para como superior do que para se submeter passivamente a uma ordem inoportunamente dada por ignorância da verdadeira situação. Nada é mais terrível do que o isolamento de um superior.” Nunca ficar esperando tudo passivamente de seus superiores. Estes não podem adivinhar o que não lhes foi dito!

Total confiança fraterna. Não envolver a autoridade religiosa com manifestações exageradas de respeito reverencial, pois isso isola o superior, ao contrário de uma atmosfera de simplicidade, que favorece as confidências e as observações dos subordinados.

Não deve ser um relacionamento de medo, mas uma obediência para unir a vontade do superior à vontade do Senhor. Tanto superior como subordinado têm o mesmo desejo, a mesma finalidade, ou seja, a vontade de Jesus.

“Quando, com todo conhecimento de causa este (=o superior) decidiu, seu irmão deverá, então, obedecer sem hesitação, não por medo, nem por efeito do prestígio do chefe, nem por amor a ele, mesmo que esses motivos possam concorrer em segundo lugar, mas antes de tudo, porque sabe em sua fé viva que se realiza então para ele esta promessa do senhor: “Quem vos ouve, me ouve”.

CORAÇÃO OBEDIENTE

É preciso adquirir o hábito de obedecer, concretamente, e a isso se chega com a repetição de atos voluntários, baseados na abertura mútua e na correção fraterna francamente desejada e recebida.

Há dois métodos de formação para a obediência:

1º- O noviço diante de um regulamento e das ordens muitas vezes humilhantes dos superiores. Pode se bom no sentido ascético, mas péssimo para se formar o espírito de fé.

2º- Tem como ponto de partida a formação de uma fé sólida na presença de Cristo na hierarquia da Igreja. É preciso ser discreto no uso de regulamentos e das ordens em que se procura empenhar a obediência; evitar o excesso de pormenores. Não devemos impor a eles um ritmo de obediência que não estão ainda em condições de seguir. Os progressos serão menos rápídos na aquisição de hábitos de disciplina e de docilidade; mas esse não é o primeiro objetivo a ser atingido. “Formar para o Senhor um coração totalmente obediente é uma obra mais profunda e de longo fôlego”.

“Um ano de noviciado não seria suficiente para aquilo que deve ser o resultado e o fruto de toda uma vida. A obediência depende demais do amor, do qual não é, no final das contas, senão uma expressão, e portanto não pode deixar de estar a ele ligado também em seu crescimento. Não se pode obedecer mais do que se ama e não se pode amar sem obedecer àquele que se ama. A obediência é a prova do amor. Pode e deve, pois, crescer indefinidamente, como ele”.

“A obediência votada a Cristo, entre as mãos da Igreja, procede da fé e do amor sobrenaturais e, como tal, deveria crescer com a idade e a maturidade espiritual.” Desse modo, deveria ser normal, em nossas Fraternidades, que um Irmãozinho mais antigo no serviço de Deus seja mais profundamente obediente que o noviço.

PRATICAR A OBEDIÊNCIA

Muitos responsáveis pelas Fraternidades não tomam decisões nítidas, deixando a cada um a iniciativa e a responsabilidade de seus atos. Isso poderia talvez tornar ilusório o exercício do voto de obediência, se levado longe demais e erigido em princípio.

No início, porém, essa intervenção menos rígida e menos estrita da autoridade favorece a ação do Espírito Santo. Entretanto, cada vez mais “os responsáveis devem tomar consciência de seu papel e exercê-lo sem timidez assim como sem presunção, mantendo-se muito abertos às lições da experiência, aos conselhos de seus irmãos e às inspirações do Espírito Santo. Irmãozinhos responsáveis, não sejam tímidos demais, mas mantenham-se humildes!”.

“Saibam ser claros e não tenham medo de exigir com conhecimento de causa: não temam demais fazer sofrer seu irmão quando lhe pedirem um esforço de maior generosidade que sozinho, talvez, não tivesse coragem de fazer sem o aguilhão do mando”.

A indecisão é mais nociva, quando constante, do que a nitidez de diretivas talvez imperfeitas, mas que levam à vontade de Cristo.

“Não tenham medo de pedir, de exigir, o que um Irmão não poderia ainda dar por si mesmo. Mostrem-lhe o caminho e corrijam-no”. Não deixem entrar na Fraternidade a desordem, a tibieza, a preguiça, a negligência na oração, o egoísmo. Enfrentem corajosamente a situação.

AOS SUBORDINADOS.

Nas fraternidades pequenas, em que cada Irmão vai para seu trabalho num horário diferente, há poucas ocasiões para a obediência. Esse risco pode ser evitado e até ser ocasião de uma obediência mais pessoal. Na vida monástica a obediência é, vamos assim dizer, mais natural: o sino, os horários demarcados, o regulamento. Não há como escapar. Há, porém, o risco de se tornar uma obediência passiva.

“Nas Fraternidades, ou a obediência será ativa ou não será obediência.” Vocês mesmos devem ir ao encontro do responsável para pedir-lhe conselho e submeter-lhe suas atividades, mesmo as pequenas. Isso provará seu amor por Cristo por fatos e não por palavras, submetendo ao responsável, voluntariamente, os atos da vida.

É a obediência live, que aproxima de Cristo. Não deve, porém, haver exageros. Essa frequência diante do racional depende do temperamento de cada um.

“Antes de solicitar uma autorização, dê-se ao trabalho de pesar o pró e o contra, perguntando a si mesmo, com toda a lealdade, o que aconselharia um outro a fazer, nesse caso, para ser plenamente fiel à sua vocação;”. Seja sincero, franco, e honesto consigo mesmo em suas solicitações.

DIFICULDADES

“Desde o instante que você abandonar o terreno da fé, não poderá mais obedecer, Você tropeçará diante da menor dificuldade, e todas a objeções contra a obediência apresentar-se-ão com toda a sua força diante de você.”

Quando o responsável insistir na ordem mesmo depois de você ter-lhe feito as devidas observações, você deverá obedecer-lhe, sincera e lealmente, confiando na autoridade divina, conforme o pensamento do superior.

Se a matéria for grave, pode se usar o recurso à autoridade mais alta. Repito que fora da fé, a obediência religiosa é incompreensível. “O risco do erro humano era conhecido e aceito por Cristo. Era melhor que a Igreja existisse com esse risco de erro do que se não existisse”.

Pode ser que uma ordem lhes pareça sem razão mas que, se dada legitimamente, pode ser a expressão autêntica de uma vontade de Cristo.

“O benefício geral e constante de uma hierarquia, depositária da autoridade divina para você e para todas as pessoas, compensa amplamente as deficiências parciais e excepcionais de sue exercício por superiores imperfeitos”. Devemos nos esforçar para que eles sejam o menor número possível.

OBEDIÊNCIA À IGREJA

A obediência à Igreja deve ser exercida nas “opiniões teológicas, disciplina litúrgica, de certas concepções da ação temporal ou social, de atitudes práticas empenhando a cristandade numa colaboração com as pessoas ou com partidos professando uma doutrina radicalmente incompatível com a doutrina de Cristo”.

“Todas as vezes que entra em jogo o privilégio conferido por Cristo a São Pedro e a seus sucessores, e todas as vezes que a Igreja entende ensinar-nos em nome do Senhor, devemos submeter nossa inteligência como se fosse ao próprio Deus, num movimento de fé confiante e filial.” Aderir com toda a fé, custe o que custar, aconteça o que acontecer, às palavras do Soberano Pontífice quando ensina a Igreja. Não hesitem no coração. Não pôr nada acima de nossa fidelidade à Igreja de Cristo.

“A Igreja vê geralmente mais longe do que nós, e a consequência de um desvio doutrinal podem aparecer somente no fim de muitas gerações.

CONCLUSÃO

Não tenham medo de obedecer. Cristo foi obediente. Sem a obediência não há unidade verdadeira nem na Igreja, nem entre as Fraternidades. (Roma, 24/06/1951)