Fé e Razão

Perguntas e Respostas

1) O que se entende por fé?

O termo pode ser usado de modo profano ou religioso. No sentido profano, é dar crédito a alguma coisa, a um evento, a um empreendimento. No sentido religioso, o testemunho no qual se baseia a confiança é a revelação divina.

2) O que se entende por razão?

Razão tem o significado de "bem julgar". Tem relação com o raciocínio discursivo. É conhecimento natural enquanto oposto ao conhecimento revelado, objeto da fé.

3) Como a fé a razão se apresentam historicamente?

Na Antiguidade, tínhamos a filosofia grega (razão) de um lado e o cristianismo (fé) do outro. Na Idade Média, a filosofia tornou-se ancilla theologiae ("serva da teologia"). Os medievais tentaram conciliar fé e razão. Na Idade Moderna, com a chegada do Iluminismo e o desenvolvimento das ciências, a filosofia voltou a ser independente e desgarrou-se da fé.

4) Relacione fé religiosa, fé humana e fé divina.

A fé é inata. Ela não é adquirida pelo esforço, pela inteligência, pela técnica. Crê-se porque se crê. Os desdobramentos dessa crença é que podem ser caracterizados por fé religiosa (dogmas das religiões), fé humana (crença nas próprias forças para a realização de um trabalho, de um evento) e fé divina (quando o móvel é inspiração divina).

5) Qual a influência do iluminismo?

O Iluminismo endeusou a razão. Com isso, inverteu os objetivos da humanidade. Os desdobramentos da razão deveriam levar o ser humano a Deus. Com a inversão, levaram-no à materialidade.

6) A ciência contribuiu com o quê?

A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas, de fórmulas matemáticas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo conhecimento se tornava teórico-experimental, dando total apoio à razão.

7) Quais os dois grandes pensadores da Idade Média que quiseram unir fé e razão?

Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

8) Como a fé e a razão são vistas pelo Espiritismo?

Para o Espiritismo, Razão e Fé pertencem à essência da natureza humana. São potências que se atualizam no decurso das existências. A Razão e a Fé estão centradas no eixo, que é a Vontade. Esta, por sua vez, assenta-se no Livre-Arbítrio, princípio de liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido.

(Reunião de 26/06/2010) (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/f%C3%A9-e-raz%C3%A3o?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Fé e Razão

Razão significa a faculdade de "bem julgar". Tem relação com o raciocínio discursivo. É conhecimento natural enquanto oposto ao conhecimento revelado, objeto da fé. - fidelidade a um compromisso; confiança absoluta. Quando se trata da fé religiosa, o oposto é a razão.

Os filósofos racionalistas, tais como Descartes, Kant e Espinosa, dão primazia à razão na elaboração do conhecimento. Descartes, por exemplo, descobre Deus no seu "cogito ergo sum". Em contrapartida, os filósofos fideístas, tais como F. H. Jacobi (l743 - l8l9), Herder (l743 - l8l0) e Lamennais (1782-1854), fundamentam todo o conhecimento humano numa "fé" mais ou menos sentimental.

Em Teologia, exclui-se a razão, como fonte de conhecimento. Para A. Bonnety, fundador, em 1830, dos Anais da Filosofia Cristã, o homem dispõe de um só princípio de conhecimento para as verdades da religião natural: a revelação divina manifestada ao homem através da Tradição; fora desta, a razão humana é apenas fraqueza e erro. Esse sistema põe a fé na base do conhecimento religioso. Não admite que se provem os preâmbulos da fé pela razão e que, assim, a razão leve à fé.

Para o Espiritismo, Razão e Fé pertencem à essência da natureza humana. São potências que se atualizam no decurso das existências. Parte do geral indiferenciado (reino mineral) para a diferenciação progressiva (reino vegetal, animal e hominal), buscando, sempre, a perfeição. A Razão e a Fé estão centradas no eixo, que é a Vontade. Esta, por sua vez, assenta-se no Livre-Arbítrio, princípio de liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido.

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata dos aspectos imanentes e transcendentes da fé. Observe que ele relaciona fé humana e fé divina. Na primeira, acentua o esforço do homem para a realização de seu fim; na segunda, coloca a crença humana sob a orientação dum poder superior, que supervisiona os nossos atos. Acrescenta, ainda, que a fé, sendo inata, pode manifestar-se racional ou dogmaticamente e que o Espiritismo aceita, somente, a primeira.

A fé, direcionada pela razão, encaminha-nos para a atualização do nosso ser. Vençamos o ridículo e a miopia alheia, caso queiramos obter bom êxito em nossas realizações.

Fonte de Consulta

LALANDE, A. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

PIRES, J. H.. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, 1983. (https://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/razo-f-e-espiritismo.html)


Em Forma de Palestra

Fé e Razão

1. Introdução

Da antiguidade, passando pela Idade Média e alcançando a Idade Contemporânea, a fé e a razão é um tema bastante controverso. Por quê? Mas o que é a fé? E a razão? Podemos conciliar fé e razão? Como?

2. Conceito

. Do latim fides. O termo é empregado em muitas acepções que poderiam ser divididas em profanas e religiosas. No sentido profano, significa dar crédito na existência do fato, fazer bom juízo sobre alguém, expressar sinceridade no modo de agir etc. Quando o testemunho no qual se baseia a confiança absoluta é a revelação divina, fala-se de Fé no seu sentido religioso. A Fé, neste sentido, não é um ato irracional.  Com efeito, o espírito humano só pode aderir incondicionalmente a um objeto quando possui a certeza de que é verdadeiro. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

Razão significa a faculdade de "bem julgar". Tem relação com o raciocínio discursivo. É conhecimento natural enquanto oposto ao conhecimento revelado, objeto da fé.

3. Histórico

Há duas correntes de pensamento que se cruzam: cristianismo e filosofia grega. Na antiguidade clássica grega prevalecia a filosofia e o pensamento, calcado na razão.

Na Idade Média prevaleceu a teologia, que é a fé na revelação. A filosofia era considerada a ancilla theologiae (“serva da teologia”). Embora os medievais fossem mais teólogos do que filósofos, eles se esforçaram muito para encontrar uma síntese entre a fé e a razão.

No final da Idade Média, este equilíbrio se rompe e a filosofia torna-se independente da fé e da revelação. É o aparecimento do iluminismo, em que tudo deveria ser explicado à luz da razão. É nessa época que surgem as ciências e o método teórico-experimental.

Pascal, mesmo sendo homem de ciência, se rebelara contra a suprema autonomia da ciência. Para ele, embora a ciência tenha um poder extraordinário, ela não é capaz de explicar a origem do Espírito e do Universo.  

4. A Fé

4.1. Fé Religiosa

Fé religiosa é a crença nos dogmas das diversas religiões. A fé católica é a crença nos dogmas estabelecidos pela Igreja católica. Nesse caso, a fé pode ser cega ou raciocinada. Há um dogma, por exemplo, o da “Santíssima Trindade”. Podemos crer cegamente, ou raciocinar em cima dele. A fé cega, não examinando nada, aceita tanto o falso quanto o verdadeiro. Como a maioria das religiões pretende estar de posse da verdade, convém verificar se os seus dogmas tendem para a verdade ou para o erro. Paulo resumiu as características fundamentais da fé religiosa nos seguintes termos: “Fé é a garantia das coisas esperadas e a prova das que não se veem” (Hebr., II, 1)  

4.2. A Fé Humana

De acordo com a teologia, a fé é um assentimento da inteligência, motivado na autoridade alheia: se essa autoridade é humana, a chama-se humana. De acordo com o Espiritismo, a fé humana é caracterizada pela aplicação de nossas faculdades às necessidades terrestres. Um exemplo: o homem de gênio que persegue a realização de alguma grande empresa triunfa se tem fé, porque sente em si que pode e deve alcançar, e essa certeza lhe dá uma força imensa.

4.3. A Fé Divina

A fé é divina quando aplicamos as nossas faculdades às aspirações celestes e futuras. Ela diz respeito à crença, à adoração de um ente superior. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, explica-nos que embora queiramos separar didaticamente a fé humana da fé divina, ela é ao mesmo tempo humana e divina, pois a nossa confiança em algo não está separada da confiança em Deus. Isto simplesmente porque a fé, em primeiro lugar, é inata. Somente depois é que se torna humana, cega, raciocinada, religiosa. (1984, cap. XIX, item 12)

5. Razão 

5.1. Inversão de Valores

Na antiguidade, a razão estava aliada ao raciocínio, à dialética, no sentido de se buscar a verdade das coisas. Se ela tivesse seguido o seu curso normal, teríamos o ser humano voltado para Deus e não para matéria, como vemos hoje. Endeusamos a razão e não o raciocínio, a inteligência, a consciência, o autoconhecimento. A razão humana deveria ser aplicada para formar o homem integral, o homem cósmico e não o homem-máquina, o homem-técnica, desprovido de valores morais superiores.  

5.2. Iluminismo

O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau, entre outros. Apesar das diferenças de abordagem de cada pensador, há pelo menos dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião. Immanuel Kant (1724-1804) é o representante máximo do iluminismo alemão. O iluminismo kantiano é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. A minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. O sapere aude! kantiano tornou-se o lema do iluminismo.  

5.3. Razão e Ciência  

A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas, de fórmulas matemáticas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo conhecimento, que se tornava específico, ia cada vez mais se desmembrando do tronco comum da filosofia. O método teórico-experimental, em todos os campos do saber, prepara a revolução industrial. É de se notar que a revolução científica, que nasce com o renascimento, foi uma revolução do saber; a que nasce com a revolução industrial, é uma revolução da energia.

6. Fé e Razão

6.1. Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino

Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

6.2. Fides et Ratio

Para o papa João Paulo II, em sua décima segunda Encíclica, Fides et Ratio, de 14 de setembro de 1998, e razão constituem as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Segundo o seu ponto de vista, foi Deus quem colocou no coração do ser humano o desejo de conhecer a verdade. Para provar a sua tese, faz uma síntese das inter-relações entre filosofia, ciência e religião. Conclui que nem a ciência e nem a razão (filosofia) podem prescindir da fé, sob pena de se desviarem da própria verdade.

6.3. Razão, Fé e Espiritismo

Para o Espiritismo, Razão e Fé pertencem à essência da natureza humana. São potências que se atualizam no decurso das existências. Parte do geral indiferenciado (reino mineral) para a diferenciação progressiva (reino vegetal, animal e hominal), buscando, sempre, a perfeição. A Razão e a Fé estão centradas no eixo, que é a Vontade. Esta, por sua vez, assenta-se no Livre-Arbítrio, princípio de liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido. (Pires, 1983, p. 47)

7. Conclusão

A fé, direcionada pela razão, encaminha-nos para a atualização do nosso ser. Para a realização de nossas tarefas, creiamos em nossas próprias forças. Não nos esqueçamos, contudo, de pedir humildemente o beneplácito do divino amigo.

8. Bibliografia Consultada

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

PIRES, J. H.. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, 1983 

São Paulo, maio de 2010. 



Notas do Blog

Fides et Ratio

Fides et Ratio é a décima segunda Encíclica do Papa João Paulo II, editada em 14 de setembro de 1998. O seu objetivo é esclarecer as relações entre fé e razão, deturpadas ao longo do tempo, quer pela filosofia, quer pela religião, quer pela ciência, quer pelo próprio ser humano. Segundo João Paulo II, e razão são as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2010/07/fides-et-ratio.html)

Fé e Razão Segundo Alguns Filósofos

Para São Tomás de Aquino, Deus não reconhece divergências entre fé e razão. Teologia e filosofia são disciplinas distintas, porém colocadas em escala hierárquica. A filosofia pode perfeitamente ser considerada como uma teologia natural, submetida à teologia da revelação. Dar mais importância à razão é inverter a ordem natural. Nesse caso, o ser humano pode ser vítima da ilusão. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2010/07/fe-e-razao-segundo-alguns-filosofos.html)

A Simbiose Mito-Logos

A verdade, porém, é que há uma (co) implicação mito-logos. O ser humano é um misto de fé e de razão, de imaginário e de racional. Se dermos muita atenção ao sentimento, prejudicaremos a razão; se dermos muita atenção à razão, poderemos cair na mesma armadilha em que caiu Descartes, ao afirmar que é pela razão que conhecemos a Deus. O pensamento correto seria: somente depois de sentirmos Deus dentro de nós é que teremos condições de analisá-Lo à luz da razão, e não o contrário. Antes de ser racional, o ser humano é afetivo. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/07/simbiose-mito-logos.html)

Filosofia Cristã

Cristo não veio à Terra para acrescentar algo à filosofia existente; sua missão consistia em desvendar os mistérios do reino dos céus consoante a revelação divina. A denominação de filosofia cristã, cujo problema central é a conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina, nada mais é do que a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que se estende do século I ao século XIV de nossa era. Compreende dois períodos distintos: a filosofia patrística (séc. I ao V) e a filosofia escolástica (séc. XI ao XIV). (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/06/filosofia-crist.html)

Fé: Notas Extraídas da Revista Espírita

A questão da fé nos fenômenos espíritas. Perguntam os adversários por que motivo os Espíritos, que se deveriam empenhar em fazer prosélitos, não se prestam melhor ao trabalho de convencer certas criaturas, cuja opinião teria grande influência. Acrescentam que os acusamos de falta de fé e a isto respondem, e com razão, que não podem acreditar por antecipação. É um erro pensar que a fé seja necessária; mas a boa-fé é outra coisa. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2015/07/fe-notas-extraidas-da-revista-espirita.html)

Mistério

Mistério é tudo o que não pode ser compreendido, que é inacessível à razão humana. No sentido teológico, é uma verdade revelada, que é incompreensível à razão sem a presença da fé. Nas religiões antigas, é o conjunto de práticas, dos ritos e das doutrinas secretas, que se davam à margem da legalidade, reservado apenas aos iniciados. No sentido lato, designa certos ritos e formas de culto, com sentido simbólico. É apanágio de todas as religiões. No sentido estrito, acrescenta a nota particular da iniciação secreta que não é revelada aos profanos. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2014/06/misterio.html)


Pensamentos

"Se a razão é uma dádiva do céu, e se o mesmo se pode dizer quanto à fé, o céu deu-nos dois presentes incompatíveis e contraditórios." (Denis Diderot)

"Minha fé é no desconhecido, em tudo que não podemos compreender por meio da razão. Creio que o que está acima do nosso entendimento é apenas um fato em outras dimensões e que no reino do desconhecido há uma infinita reserva de poder." (harles Chaplin)

"Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade." (Allan Kardec)

"A fé e a razão caminham juntas, mas a fé vai mais longe." (Santo Agostinho)

"A fé precisa ser reforçada pela razão. Quando a fé é cega, ela morre." (Mahatma Gandhi)

"A razão é escrava quando a fé e autoridade são senhoras." (Marquês de Maricá)

"A razão de ser de qualquer fé é trazer-nos uma certeza." (André Maurois)

"Deus não espera que submetamos nossa fé a ele sem razão, mas os próprios limites da nossa razão tornam a fé uma necessidade." (Santo Agostinho)

"É inútil falar sobre a alternativa de razão e fé. A própria razão é uma questão de fé. É um ato de fé afirmar que nossos pensamentos têm alguma relação com a realidade, por mínima que seja." (G. K. Chesterton)

"A fé começa precisamente aonde acaba a razão." (Soren Kierkegaard)

"A fé aperfeiçoa a condição de entendimento da razão e a razão é o argumento aceito por todos os homens para esclarecer os assuntos da fé." (Tomás de Aquino 1221-1274)


Mensagem Espírita

Tempo de Confiança

“E disse-lhes: Onde está a vossa fé?” — (LUCAS, capítulo 8, versículo 25.)

A tempestade estabelecera a perturbação no ânimo dos discípulos mais fortes. Desorientados, ante a fúria dos elementos, socorrem-se de Jesus, em altos brados.

Atende-os o Mestre, mas pergunta depois:

— Onde está a vossa fé?

O quadro sugere ponderações de vasto alcance. A interrogação de Jesus indica claramente a necessidade de manutenção da confiança, quando tudo parece obscuro e perdido. Em tais circunstâncias, surge a ocasião da fé, no tempo que lhe é próprio.

Se há ensejo para trabalho e descanso, plantio e colheita, revelar-se-á igualmente a confiança na hora adequada.

Ninguém exercitará otimismo, quando todas as situações se conjugam para o bem-estar. É difícil demonstrar-se amizade nos momentos felizes.

Aguardem os discípulos, naturalmente, oportunidades de luta maior, em que necessitarão aplicar mais extensa e intensivamente os ensinos do Senhor. Sem isso, seria impossível aferir valores.

Na atualidade dolorosa, inúmeros companheiros invocam a cooperação direta do Cristo. E o socorro vem sempre, porque é infinita a misericórdia celestial, mas, vencida a dificuldade, esperem a indagação:

— Onde está a vossa fé?

E outros obstáculos sobrevirão, até que o discípulo aprenda a dominar-se, a educar-se e a vencer, serenamente, com as lições recebidas. (XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel, capítulo 40)

Obreiro sem Fé

“... e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tiago, 2:18.)

Em todos os lugares, vemos o obreiro sem fé, espalhando inquietação e desânimo.

Devota-se a determinado empreendimento de caridade e abandona-o, de início, murmurando: – “Para quê? O mundo não presta.”

Compromete-se em deveres comuns e, sem qualquer mostra de persistência, se faz demissionário de obrigações edificantes, alegando: – “Não nasci para o servilismo desonroso.”

Aproxima-se da fé religiosa, para desfrutar-lhe os benefícios, entretanto, logo após, relega-a ao esquecimento, asseverando: – “Tudo isto é mentira e complicação.”

Se convidado a posição de evidência, repete o velho estribilho: – “Não mereço! sou indigno!...”

Se trazido a testemunhos de humildade, afirma sob manifesta revolta: – Quem me ofende assim?”

E transita de situação em situação, entre a lamúria e a indisciplina, com largo tempo para sentir-se perseguido e desconsiderado.

Em toda parte, é o trabalhador que não termina o serviço pelo qual se responsabilizou ou o aluno que estuda continuadamente, sem jamais aprender a lição.

Não te concentres na fé sem obras, que constitui embriaguez perigosa da alma, todavia, não te consagres à ação, sem fé no Poder Divino e em teu próprio esforço.

O servidor que confia na Lei da Vida reconhece que todos os patrimônios e glórias do Universo pertencem a Deus. Em vista disso, passa no mundo, sob a luz do entusiasmo e da ação no bem incessante, completando as pequenas e grandes tarefas que lhe competem, sem enamorar-se de si mesmo na vaidade e sem escravizar-se às criações de que terá sido venturoso instrumento.

Revelemos a nossa fé, através das nossas obras na felicidade comum e o Senhor conferirá à nossa vida o indefinível acréscimo de amor e sabedoria, de beleza e poder. (XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel, capítulo 26)