Filosofia Cristã e Espiritisimo

Perguntas e Respostas

1. O que é a filosofia?

Filosofia é a busca da sabedoria ou a tensão que caminha para este fim. Na filosofia há um esforço constante de arrancar o véu em que o conhecimento se encontra. Pode-se dizer também que a filosofia é a correção do intelecto, revisão dos comportamentos e do caráter. Em filosofia, haverá sempre uma nova forma de aprender e de atuar em sociedade.

2. O que se entende por filosofia cristã?

É a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que vai do século I ao século XIV de nossa era. Apresenta-se em dois períodos distintos: o da patrística (séc. I a V); o da escolástica (séc. XI a XV).

3. Qual é o problema central da filosofia cristã?

O problema central da filosofia cristã é o de conciliar as exigências da razão com as perspectivas da fé na revelação.

4. Quem foi o protagonista da Patrística?

Santo Agostinho (354-430), influenciado por Platão, é o pensador que mais se destaca nesse período. Demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

5. Quem é o protagonista da Escolástica?

Santo Tomás de Aquino (1221-1274), influenciado por Aristóteles, é o pensador que mais se destaca na Escolástica. Santo Tomás representa o apogeu da escolástica medieval na medida em que conseguiu estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

6. Como expressarmos, no Espiritismo, a relação entre razão e fé?

José Herculano Pires, em Introdução à Filosofia Espírita, diz que "Razão e Fé" constituem os elementos essenciais do espírito, conjugados em torno de um eixo que é a Vontade. A Vontade assenta-se no livre-arbítrio, o princípio da liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido.

7. Quais são, segundo o Espiritismo, os aspectos imanentes e transcendentes da fé?

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata dos aspectos imanentes e transcendentes da fé. Observe que ele relaciona fé humana e fé divina. Na primeira, acentua o esforço do homem para a realização de seu fim; na segunda, coloca a crença humana sob a orientação dum poder superior, que supervisiona os nossos atos. Acrescenta, ainda, que a fé, sendo inata, pode manifestar-se racional ou dogmaticamente e que o Espiritismo aceita, somente, a primeira.

(Reunião de 07/11/2009) (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/filosofia-crist%C3%A3-e-espiritismo?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Filosofia Cristã 

Até a vinda de Cristo, a Filosofia, em sentido histórico, seguia o seu curso normal, ou seja, cada novo filósofo acrescentava algo ao anterior. Foi desta maneira que do método socrático, passamos à dialética platônica e desta à lógica aristotélica. Em termos de idéias, Platão e Aristóteles assumem papel relevante, pois os conhecimentos por eles proferidos servem ainda de bálsamo para mitigar o niilismo dos dias atuais.

Cristo não veio à Terra para acrescentar algo à filosofia existente; sua missão consistia em desvendar os mistérios do reino dos céus consoante a revelação divina. A denominação de filosofia cristã, cujo problema central é a conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina, nada mais é do que a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que se estende do século I ao século XIV de nossa era. Compreende dois períodos distintos: a filosofia patrística (séc. I ao V) e a filosofia escolástica (séc. XI ao XIV).

A filosofia patrística, que vai do século I ao V, foi influenciada por Platão. O apogeu desta filosofia teve o contributo de Santo Agostinho (354-430), o maior filósofo da era patrística, e que marcou mais profundamente a especulação cristã. Santo Agostinho reinterpreta a teoria das idéias de Platão, modificando-a em sentido cristão para explicar a criação do mundo. Deixou formulado - indicando o caminho para a sua solução - o problema das relações entre a Razão e a Fé, que será problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma.

A filosofia escolástica, que vai do século XI ao XIV, foi influenciada por Aristóteles. São Tomás de Aquino (1221-1274) representa o apogeu desta filosofia na medida em que conseguiu estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

As causas da decadência da escolástica são externas e internas. As causas externas são principalmente as condições sociais, políticas e religiosas da época que suscitaram o desenvolvimento do individualismo, do liberalismo e do racionalismo. As causas internas são, sobretudo, a inexistência de espíritos criadores, a paixão pelas sutilezas inúteis, o desprezo pela forma e a hostilidade de alguns filósofos contra as ciências experimentais que, nessa ocasião, começavam a florescer.

A filosofia cristã influenciou o pensamento da humanidade por muitos e muitos anos. Saibamos interpretá-la de modo racional, a fim de que não sejamos tragados pelos silogismos veiculados pelos seus pensadores.

Fonte de Consulta

REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1996.

SANTOS, T. M. Manual de Filosofia - Introdução à Filosofia Geral - História da Filosofia - Dicionário de Filosofia. 10. ed., São Paulo, Editora Nacional, 1958. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/06/filosofia-crist.html)


Em Forma de Palestra

Filosofia Cristã e Espiritismo

1. Introdução

O objetivo deste estudo é analisar as relações entre fé, razão e revelação explicadas tanto pela Filosofia Cristã como pelo Espiritismo. Sendo assim, o nosso roteiro segue os seguintes passos: conceito de filosofia, filosofia grega, Jesus e o cristianismo, filosofia cristã e Espiritismo.

2. O Conceito de Filosofia

A filosofia, tal qual surgiu na Grécia, mostra uma nova maneira de construir o conhecimento, distanciando-o do processo mitológico vigente até então. Partindo da dúvida, da crítica, do paradoxo, quer chegar à verdade das coisas. Nesse sentido, começa a indagar sobre a natureza e o papel do homem no universo, a imortalidade da alma, o destino versus livre-arbítrio etc.

Embora o termo filosofia comporte varias acepções, como por exemplo, filosofia da vida, filosofia de um povo, filosofia de trabalho, é preciso estar ciente de que a disciplina acadêmica que se intitula filosofia usa essa palavra num sentido estrito, que exclui de seu âmbito não só a concepção de vida da vovó e as disciplinas ascéticas dos monges tibetanos, mas também textos das filosofias milenares chinesa e hindu.

Se perguntarmos a dez físicos "o que é a física", eles responderão de forma parecida. O mesmo não acontece com a Filosofia. Por que? Porque para definirmos a Filosofia deveríamos vivenciá-la. De qualquer forma, a origem do conceito de filosofia está na sua própria estrutura verbal, ou seja, na junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". Filósofo é, pois, o amante da sabedoria. Mas o que é a sabedoria? É um termo que significa erudição, saber, ciência, prudência, moderação, temperança, sensatez, enfim um grande conhecimento.

3. Filosofia Grega

Em termos históricos, a filosofia grega caracteriza-se por três grandes períodos evolutivos:

a) período pré-socrático ou de formação: de Tales a Sócrates (século VI e V a. C.), em que predominam as questões cosmológicas;

b) período socrático ou de apogeu: Sócrates, Platão e Aristóteles (século IV a. C.), em que predominam as questões metafísicas;

c) período pós-socrático ou de decadência: de Aristóteles aos século I a. C. em que predominam as questões morais.

Salientemos, para efeito de nosso estudo, os contributos de Platão e de Aristóteles.

3.1. Platão (427-347 A. C.)

Segundo o Platonismo, a alma humana, quando vem a este mundo, traz implícita a reminiscência do mundo eterno onde viveu (Menon). É por isso que certas idéias lhe são inatas. Por virtude das idéias latentes, um escravo ignorante, por exemplo, responde com acerto a questões de geometria, se as perguntas forem bem dirigidas. A alma é imortal (Faidon), e pode elevar-se à felicidade da participação do Justo, do Belo e do Verdadeiro. Destas virtualidades da alma nascem as inspirações, e as inspirações podem elevar a mente ao contato com as Idéias sobrenaturais. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Assim, para Platão, que criou a dialética, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das idéias e essências.

3.2. Aristóteles (384-322 A. C.)

A filosofia de Aristóteles (discípulo de Platão) caracterizava-se, antes de tudo, pelo seu realismo, pela sua observação fiel da natureza, pela sua objetividade científica, pelo seu rigor metodológico e pela unidade harmônica do seu sistema que constitui uma síntese orgânica e maravilhosa.

Apaixonado pela Biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da Natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a Lógica para ser uma ferramenta básica do raciocínio. E com ela todos os silogismos para bem conduzir o pensamento.

Ao contrário de Platão, dizia que é partindo da existência do ser, que devemos atingir a sua essência. Utiliza-se para isso o método indutivo, em que partindo da observação particular pensa em generalizar para o todo. (Cotrim, 1990, p. 128-131)

4. Jesus e o Cristianismo 

Jesus Cristo (de Jesoûs, forma grega do hebraico Joxuá, contração de Jehoxuá, isto é, "Jeova ajuda ou é salvador", e de Cristo, do grego Christós, corresponde ao hebraico Moxiá, escolhido ou ungido) veio ao mundo numa manjedoura.

Contava trinta anos quando começou a pregar a "Boa Nova". Compreende a sua vida pública um pouco mais de três anos (27 a 30 da era cristã). Utilizou-se, na sua pregação, o apelo combinado à razão e ao sentimento, por meio de parábolas ilustrativas das verdades morais.

As duas regiões de sua pregação:

1) Galileia (Nazaré) - as cercanias do lago de Genesaré e as cidades por ele banhadas, e principalmente Cafarnaum, centro a atividade messiânica de Jesus;

2) Jerusalém - que visitou durante quatro vezes durante o seu apostolado e sempre por ocasião da Páscoa.

Na Galileia, percorrendo os campos, as aldeias e as cidades, Jesus anunciava às turbas que o seguem o Reino de Deus; é aí, também, que recruta os seus doze apóstolos e os prepara para serem as suas testemunhas. Ao mesmo tempo, vai realizando milagres.

Em Jerusalém, continuamente perseguido pela hostilidade dos fariseus (seita muito considerada e muito influente, que constituía a casta douta e ortodoxa do judaísmo), ataca a hipocrisia deles e esquiva-se às suas ciladas. Como prova de sua missão divina, apresenta-lhes a cura de um cego de nascença e a ressurreição de Lázaro. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

É justamente dessas pregações que os Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João compõem os textos do Novo Testamento. Daí que surge o Cristianismo, ou seja, a religião monoteísta que coloca em primeiro plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho Jesus Cristo, Salvador da humanidade.

5. Filosofia Cristã 

É a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que vai do século I ao século XIV de nossa era.

Problema central: conciliar as exigências da razão com as perspectivas da fé na revelação.

A filosofia cristã divide-se em dois períodos:

5. 1. Patrística (Séc. I ao V)

Santo Agostinho (354-430), influenciado por Platão, é o pensador que mais se destaca nesse período.

Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução - o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

Em relação ao platonismo, o posicionamento de Santo Agostinho não é meramente passivo, pois o reinterpreta para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo, convencido de que a verdade entrevista por Platão é a mesma que se manifesta plenamente na revelação cristã. Assim, apresenta uma nova versão da teoria das idéias, modificando-a em sentido cristão, para explicar a criação do mundo.

Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as idéias divinas. Essas idéias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia. (Rezende, 1996, p. 77 e 78).

5.2. Escolástica (Séc. XI A XV)

Santo Tomás de Aquino (1221-1274), influenciado por Aristóteles, é o pensador que mais se destaca na Escolástica.

Santo Tomás representa o apogeu da escolástica medieval na medida em que conseguiu estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

Há distinção, mas não oposição entre as verdades da razão e as da revelação, pois a razão humana é uma expressão imperfeita da razão divina, estando-lhe subordinada. Por isso o conteúdo das verdades reveladas pode estar acima da capacidade da razão natural, mas nunca pode ser contrário a ela. (Rezende, 1996, p. 81).

6. Espiritismo 

A filosofia espírita não é dicotômica, ou seja, não divide a realidade em duas partes, não abre um abismo entre matéria e espírito. Pelo contrário, é o delta, o campo de chegada de todo o conhecimento, pois fazendo uma ligação do Espírito ao corpo físico através do Perispírito, descortina-nos a clareza da dimensão espiritual do homem na sua plenitude e potencialidade.

Em 18/04/1857 surgiu O Livro dos Espíritos, que veio abalar a fé dogmática e a fé cega, dando-lhe os condões da fé raciocinada. Kardec, valendo-se de todos os seus antecessores, vai imprimir ao Espiritismo uma dimensão mais acurada das verdades eternas. Diz-nos que a Fé é inata, pertence à essência do ser; contudo ela precisa de ser raciocinada.

Eis como se expressa J. Herculano Pires, em Introdução à Filosofia Espírita: "Razão e Fé constituem, portanto, elementos essenciais do espírito, conjugados em torno de um eixo que é a Vontade. Esta, a Vontade, se representa o livre-arbítrio, o princípio da liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido. Vê-se claramente a natureza sintética do Espiritismo. Todas as antinomias, todas as contradições se resolvem numa visão mais ampla do problema universal. O racionalismo e o empirismo, o positivismo e o idealismo, o materialismo e o espiritualismo, o ontologismo e o existencialismo, e assim por diante, encontram o seu delta comum numa visão gestáltica ou global do Universo. Não há motivo para as intermináveis disputas a respeito da Razão e Fé, pois ambas pertencem à própria substância do ser, que desprovido de uma delas já não poderia ser". (1983, p. 47)

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata dos aspectos imanentes e transcendentes da fé. Observe que ele relaciona fé humana e fé divina. Na primeira, acentua o esforço do homem para a realização de seu fim; na segunda, coloca a crença humana sob a orientação dum poder superior, que supervisiona os nossos atos. Acrescenta, ainda, que a fé, sendo inata, pode manifestar-se racional ou dogmaticamente e que o Espiritismo aceita, somente, a primeira.

7. Conclusão 

A revelação espírita, sendo de iniciativa dos Espíritos e fruto do trabalho dos homens, incita-nos a debruçar sobre os seus princípios. Inteiremo-nos, assim, da essência do Espiritismo: ele é um sol que nos tira do abismo das sombras.

8. Bibliografia Consultada 

COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia para uma Geração Consciente. Elementos da História do Pensamento Ocidental. 5. ed., São Paulo, Saraiva, 1990.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo, Paidéia, 1983.

REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1996. 


Notas do Blog

Razão, Fé e Espiritismo

Em Teologia, exclui-se a razão, como fonte de conhecimento. Para A. Bonnety, fundador, em 1830, dos Anais da Filosofia Cristã, o homem dispõe de um só princípio de conhecimento para as verdades da religião natural: a revelação divina manifestada ao homem através da Tradição; fora desta, a razão humana é apenas fraqueza e erro. Esse sistema põe a fé na base do conhecimento religioso. Não admite que se provem os preâmbulos da fé pela razão e que, assim, a razão leve à fé. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/razo-f-e-espiritismo.html)

Patrística

Patrística é o termo usado para expressar a junção do mundo antigo grego, elaborado pela razão, com o mundo cristão, concebido pela revelação. Na tradição judaica, a salvação é imediata; no cristianismo, não. Não se espera uma redenção imediata do sofrimento e da morte como acontecia no judaísmo. Para manter a esperança da salvação, há necessidade de aprofundar os conteúdos da verdade revelada. Por isso, a “patrística”. (http://sbgfilosofia.blogspot.com.br/2013/11/patristica.html)

Santo Agostinho de Hipona

Santo Agostinho, um dos maiores pensadores da Patrística, valeu-se da filosofia de Platão. No século V – principalmente em Alexandria – havia a ideia da eternidade da alma, extraída da "Teoria das Formas ou das Ideias", que aparece no Livro VI de A República, de Platão. E estas, segundo o platonismo, traziam a lembrança de uma vida anterior sem o corpo (isso não concorda com o dado de fé). Mas havia também a dúvida filosófica sobre a preexistência das almas.  (https://sbgfilosofia.blogspot.com/2020/02/santo-agostinho-de-hipona.html)

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino

Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274) foram, respectivamente, os maiores pensadores da Patrística e da Escolástica. Santo Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cada qual, em sua época, pode influenciar não só a religião católica como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/06/santo-agostinho-e-so-toms-de-aquino.html)

Tomás de Aquino

Tomás de Aquino (1225-1274) viveu num século em que duas correntes de ideias se opunham: a) um evangelismo radical do movimento de pobreza, ligado à obra de São Francisco, que renova e aprofunda a piedade e "redescobre" a Sagrada Escritura; b) um mundalismo inspirado em Aristóteles, que confere à razão natural e ao mundo material uma importância e uma independência jamais vistas. Tomás aceita, sem tomar partido, essas duas posições antagônicas. Depois, pela reflexão, ultrapassa-as ao desvendar a verdade de cada uma delas. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/07/toms-de-aquino.html)


Dicionário

Santo Agostinho

"Dai-me castidade e continência, mas não agora."

Confissões

Agostinho (354-430 d.C.) nasceu em Tagaste, norte da África, quando o Império Romano estava sendo destruído pelas invasões bárbaras. Seu Pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, posteriormente Santa Mônica, era cristã. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago, mas em 375 começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo e tornou-se professor de retórica em Roma, em 383. De Roma, foi para Milão, onde se viu tomado pelo carisma do bispo cristão Ambrósio. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo, mas depois de longa e dolorosa luta tornou-se cristão em 386, recebendo o batismo de Ambrósio na Páscoa de 387. Sua intenção era levar uma vida “monástica”, mas em 391 foi ordenado, contra a sua vontade, bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Foi bispo durante trinta e quatro anos, tempo em que escreveu copiosamente, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Aos 76 anos de idade, foi morto em Hipona, durante cerco da cidade pelos vândalos. (1)

Agostinho foi um escritor prolífico, e suas principais obras, Confissões e A Cidade de Deus, continuam sendo lidas até hoje. Para ele, filosofia e teologia estavam ligadas de maneira indissociável.

De Platão e dos neoplatônicos, Agostinho pegou a ideia de que há uma distinção entre o mundo imperfeito e transitório das coisas materiais, acessado por meio dos sentidos, e o mundo perfeito e eterno, acessado por meio do intelecto: a cidade dos Homens versus a cidade de Deus. Para Agostinho, Deus é a unidade absoluta, fonte primária de tudo o que vem depois. Problema: como explicar o mal em um mundo divinamente ordenado? A abordagem maniqueísta, dualista, não fornecia resposta, porque Deus é unidade. Em vez disso, a culpa estaria no pecado original. O divino está dentro de nós, mas acabou maculado por conta do que aconteceu no Jardim do Éden. Porém há um remédio bem à mão: a graça divina. Os eleitos - escolhidos por Deus - estavam predestinados a serem salvos da maldição eterna.

Fundamentalmente, a fé surgiu antes para Agostinho como ponto de partida para a busca pela sabedoria. Ao treinar para ser professor, ele deixou de ensinar retórica para ensinar cristianismo, usando sua própria vida como exemplo e aplicando uma rigorosa capacidade mental a uma ampla gama de aspectos doutrinais que, a seu ver, careciam de esclarecimento. (2)

Os humanos são seres racionais.

Para que sejam racionais, os humanos devem ter livre-arbítrio.

Isso significa que devem ser capazes de escolher entre o bem e o mal.

Os humanos podem, portanto, agir bem ou mal.

Deus não é a origem do mal. (3)

Santo Agostinho . Nos primeiros anos do século V, no momento em que Roma cai nas mãos dos bárbaros de Alarico (410), santo Agostinho, um dos maiores pensadores de todos os tempos, ainda não havia concluído sua vasta obra filosófica, teológica e exegética. O declínio e extinção do Império Romano contrastam com o pensamento agostiniano, que aponta para uma nova época. 

O mérito de santo Agostinho consiste na viva incorporação que faz do platonismo e na criação de um pensamento próprio e original, de raiz mística, que permitirá à igreja enfrentar a "noite escura" que aconteceu na Europa a partir do século V com as sucessivas invasões bárbaras. 

A iluminação agostiniana. De acordo com a exigência socrático-platônica, santo Agostinho busca a verdade necessária, imutável e eterna, que não pode ser facilitada pelos objetos sensíveis, que sempre estão mudando, e aparecem e desaparecem. Também a alma é contingente e mutável. Somente Deus é a verdade.

Encontra-se Deus no interior da alma. Nela se realiza a descoberta de "verdades, regras ou razões eternas" que nos permitem deliberar sobre as coisas sensíveis. Mas, como essas verdades não podem nascer da alma, que é mutável, só podem se explicar por iluminação divina. Como saberíamos, não fosse a iluminação divina, o que é justo e o que é injusto? Se o sabemos é porque daquela verdade se "copia" toda lei justa. (4)

(1) RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Idéias: Religião e Filosofia no Presente e no Passado. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Loyola, 1997, p. 25

(2) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

(3) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(4) Temática Barsa - Filosofia.


S. Tomás de Aquino

"[...] para o conhecimento de absolutamente qualquer verdade o homem precisa de ajuda divina."

Suma teológica

Aquino, S. Tomás de (1227-1274). Conhecido como "Doutor Angélico". Descendia dos Condes de Aquino, da Calábria. Em 1323, foi canonizado pelo Papa João XXII. Seus trabalhos formam a base da escola tomista. (1)

Nasceu na Itália, de família nobre, e entrou cedo na Ordem dos Dominicanos. Percorreu toda a Europa medieval. Depois dos estudos em Nápoles, Paris e Colônia (onde teve por mestre Alberto Magno), ensina em Paris e nos Estados do papa. Morreu quando se dirigia ao Concílio de Lyon. Sua imensa obra compreende duas Sumas: Suma contra os gentios e Suma teológica, vários tratados e comentários sobre Aristóteles, a Bíblia, Boécio etc., além das Questões disputadas. O pensamento de sto. Tomás está profundamente ligado ao de Aristóteles, que ele, por assim dizer, “cristianiza”. Seu papel principal foi o de organizar as verdades da religião e harmonizá-las com a síntese filosófica de Aristóteles, demonstrando que não há ponto de conflito entre fé e razão. Sua teoria do conhecimento pretende ser, ao mesmo tempo, universal (estende-se a todos os conhecimentos) e crítica (determina os limites e as condições do conhecimento humano). O conhecimento verdadeiro seria “a adequação da inteligência à coisa”. Retomando a física e a metafísica de Aristóteles, estabelece as cinco “vias” que nos conduzem a afirmar racionalmente a existência de Deus: a partir dos “efeitos”, afirmamos a causa. Estabelece sua concepção de natureza como ordem do mundo, ordem decifrável nas coisas e que permite fixar fins particulares a cada uma delas. Deus é a causa de tudo, mas não age diretamente nos fatos da criação: Ele instaurou um sistema de leis, causas segundas, ordenando cada um dos domínios naturais segundo a sua especificidade própria. Deus é o primeiro motor imóvel, é a primeira causa eficiente, é o único Ser necessário, é o Ser absoluto, o Ser cuja Providência governa o mundo. Santo Tomás mostra que há, em Aristóteles, uma filosofia verdadeiramente autônoma e independente do dogma, mas em harmonia com ele. Assim, sto. Tomás introduz no teísmo cristão o rigor do naturalismo peripatético. Porém, distingue o Estado e a Igreja, o direito e a moral, a filosofia e a teologia, a natureza e o sobrenatural. “A última felicidade do homem não se encontra nos bens exteriores, nem nos bens do corpo, nem nos da alma: só pode encontrar-se na contemplação da verdade”. (2) 

Sobre a questão da razão versus fé, Tomás de Aquino acreditava se tratar de elementos separados mas complementares; o primeiro era subserviente sem ser subordinado. O mundo está cheio de coisas reais que podemos ver e imaginar, porém, por trás delas, há uma causa primeira. A existência de Deus podia ser demonstrada por meio da razão, ao passo que doutrinas específicas, como a Santíssima Trindade e a encarnação de Cristo, eram reveladas por meio da fé. (3)

Aristóteles diz que o Universo sempre existiu.

A Bíblia diz que o Universo nem sempre existiu.

O mundo teve um começo, mas Deus pode tê-lo criado de forma a ter existido eternamente. (4)

(1) FROST JR., S. E. Ensinamentos Básicos dos Grandes Filósofos. São Paulo: Cultrix.

(2) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

(4) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.


Pensamentos 

Santo Agostinho

"Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser." (Santo Agostinho)

"Orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios." (Santo Agostinho)

"A confissão das más ações é o primeiro passo para a prática de boas ações."  (Santo Agostinho)

"O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros." (Santo Agostinho)

"Por que perambulas assim, homem, buscando muitas coisas? Busca uma apenas na qual estão as demais, e deixarás de perambular." (Santo Agostinho)

"As lágrimas são o sangue da alma." (Santo Agostinho)

"O orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande mas não é sadio." (Santo Agostinho)

"Ninguém faz bem o que faz contra a vontade, mesmo que seja bom o que faz." (Santo Agostinho)

"Ainda não nos esquecemos totalmente o que nos lembramos de ter esquecido. Não poderíamos buscar uma lembrança perdida se a tivéssemos esquecido por completo." (Santo Agostinho, Confissões)

"O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres." (Santo Agostinho)

"Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem." (Santo Agostinho)

"O tempo não passa de uma distensão. Mas uma distensão do que, não sei com exatidão, provavelmente da própria alma." (Agostinho, Santo, Confissões)

"Se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue." (Santo Agostinho)

"No devido tempo chegareis a colher o que semeastes." (Santo Agostinho)

São Tomás de Aquino

"A suma perfeição consiste em vagar o espírito para Deus." (S. Tomás de Aquino)

“Toma cuidado com o homem de um só livro.” (Santo Tomás de Aquino)

“A humildade é o primeiro degrau para a sabedoria.”(Santo Tomás de Aquino)

“Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir.”(Santo Tomás de Aquino)

“O fim último do universo é o bem do entendimento, que é a verdade.” (Santo Tomás de Aquino)

“Uma boa intenção não justifica fazer algo mal.” (Santo Tomás de Aquino)

“O estudioso é aquele que leva aos demais o que ele compreendeu: a Verdade.” (Santo Tomás de Aquino)

“Os professores devem ser elevados em suas vidas, de modo que iluminem aos fiéis com sua pregação, ilustrem aos estudantes com seus ensinamentos, e defendam a Fé mediante suas disputas contra o erro.”  (Santo Tomás de Aquino, “Contra Retraentes”)

“O amigo é melhor que a honra, e o ser amado, melhor que o ser honrado.”  (Santo Tomás de Aquino, “Summa Theologica”, II-II, q. 74, a. 2)

“A amizade diminui a dor e a tristeza.”  (Santo Tomás de Aquino, “Summa Theologiae”, I-II, q. 36, a. 3) 

“Ultima hominis felicitas est in contemplatione veritatis” [A suma felicidade do homem encontra-se na contemplação da verdade]. (Santo Tomás de Aquino, “Summa contra Gentiles”, III, 37)

“Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, saber o que deve desejar, saber o que deve fazer.” (Santo Tomás de Aquino)

“Ensinar alguém para trazê-lo à Fé é tarefa de todo e qualquer pregador, e até de todo e qualquer crente.” (Santo Tomás de Aquino)

“Quem diz verdades perde amizades.” (Santo Tomás de Aquino)


Mensagem Espírita

Vê como Vives

“E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes: negociai até que eu venha.” - Jesus. (Lucas, 19:13.)

Com a precisa madureza do raciocínio, compreenderá o homem que toda a sua existência é um grande conjunto de negócios espirituais e que a vida, em si, não passa de ato religioso permanente, com vistas aos deveres divinos que nos prendem a Deus.

Por enquanto, o mundo apenas exige testemunhos de fé das pessoas indicadas por detentoras de mandato essencialmente religioso.

Os católicos romanos rodeiam de exigências os sacerdotes, desvirtuando-lhes o apostolado. Os protestantes, na maioria, atribuem aos ministros evangélicos as obrigações mais completas do culto. Os espiritistas reclamam de doutrinadores e médiuns as supremas demonstrações de caridade e pureza, como se a luz e a verdade da Nova Revelação pudessem constituir exclusivo patrimônio de alguns cérebros falíveis.

Urge considerar, porém, que o testemunho cristão, no campo transitório da luta humana, é dever de todos os homens, indistintamente.

Cada criatura foi chamada pela Providência a determinado setor de trabalhos espirituais na Terra.

O comerciante está em negócios de suprimento e de fraternidade.

O administrador permanece em negócios de orientação, distribuição e responsabilidade.

O servidor foi trazido a negócios de obediência e edificação.

As mães e os pais terrestres foram convocados a negócios de renúncia, exemplificação e devotamento.

O carpinteiro está fabricando colunas para o templo vivo do lar.

O cientista vive fornecendo equações de progresso que melhorem o bem-estar do mundo.

O cozinheiro trabalha para alimentar o operário e o sábio.

Todos os homens vivem na Obra de Deus, valendo-se dela para alcançarem, um dia, a grandeza divina. Usufrutuários de patrimônios que pertencem ao Pai, encontram-se no campo das oportunidades presentes, negociando com os valores do Senhor.

Em razão desta verdade, meu amigo, vê o que fazes e não te esqueças de subordinar teus desejos a Deus, nos negócios que por algum tempo te forem confiados no mundo. (XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, capítulo 2)