Ceticismo e Espiritismo

Perguntas e Respostas

1) O que se entende por ceticismo?

Do grego skeptikos, aquele que investiga. Concepção segundo a qual algum ou todo conhecimento é duvidoso ou mesmo falso.

2) Como podemos dividi-lo?

O ceticismo pode ser sistemático ou moderado. O ceticismo sistemático, total ou radical, é duvidar de tudo; o ceticismo moderado utiliza a dúvida como modo de propor novas ideias. O ceticismo sistemático é impossível porque toda ideia é avaliada contra outras ideias. O ceticismo moderado deveria ser a norma de todo o aprendiz. Ele é sinônimo de mente aberta, que é a disposição para aprender novos itens e revisar crenças.

3) Como está posto o paradoxo do cético?

O cético radical duvida de tudo igualmente. Ele coloca todas as hipóteses científicas ou não científicas no mesmo nível. É possível que ele peça tolerância ou até apoios para especulações não cientificas. Na prática, o ceticismo radical pode encorajar a credulidade. (1)

4) Que relação há entre ceticismo e argumentos da ilusão?

Para os que defendem os argumentos da ilusão, os sentidos às vezes nos enganam e podem fazê-lo em todas as ocasiões. Argumenta-se: talvez os sentidos nos enganem sempre. Erro: não é porque às vezes nos enganem que podem nos enganar sempre. Uma moeda pode estar viciada, mas não podemos inferir que todas estejam viciadas. (2)

5) Compare dogmatismo e ceticismo.

O ceticismo radical nega que podemos chegar à verdade absoluta. O dogmatismo é o seu oposto, ou seja, é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a razão humana, de chegar a verdades absolutamente certas e seguras.

6) Allan Kardec foi cético?

Poder-se-ia dizer que foi cético moderado. Em toda a obra da codificação, Allan Kardec tinha por base uma premissa muito importante: “É preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro”.

7) Como o ceticismo está posto na Doutrina Espírita?

Na metodologia usada por Allan Kardec, quando organizou a Doutrina Espírita. Ele não se fiou em um único médium, nem em uma única mensagem. Pegava várias respostas, de diferentes médiuns, para, depois, publicá-las de acordo com os princípios da razão. 

8) Qual a influência do ceticismo no caráter progressivo da Doutrina Espírita?

Embora Allan Kardec tenha fundamentado os princípios espíritas sobre as leis da natureza, deixava sempre uma porta aberta à dúvida, pois se uma nova lei fosse descoberta, o Espiritismo teria de se pôr de acordo com essa lei. Acrescenta: “Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade”. (3)

(Reunião de 10/09/2011)

(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

(3) KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975, p. 349. (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/ceticismo-e-espiritismo?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Ceticismo e Espiritismo

Ceticismo. Do grego skeptikos, aquele que investiga. Concepção segundo a qual algum ou todo conhecimento é duvidoso ou mesmo falso. O ceticismo pode ser sistemático ou moderado. O ceticismo sistemático, total ou radical, é duvidar de tudo; o ceticismo moderado utiliza a dúvida como modo de propor novas ideias. O ceticismo sistemático é impossível porque toda ideia é avaliada contra outras ideias. O ceticismo moderado deveria ser a norma de todo o aprendiz. Ele é sinônimo de mente aberta, que é a disposição para aprender novos itens e revisar crenças.

Em se tratando do ceticismo, há o paradoxo cético e os argumentos da ilusão. No paradoxo cético, o cético radical duvida de tudo igualmente. Ele coloca todas as hipóteses científicas ou não científicas no mesmo nível. É possível que ele peça tolerância ou até apoios para especulações não cientificas, o que, na prática, pode encorajar a credulidade(1). Para os que defendem os argumentos da ilusão, os sentidos às vezes nos enganam e podem fazê-lo em todas as ocasiões. Pode-se, assim, argumentar que talvez os sentidos nos enganem sempre. Este argumento não deixa de ser um erro, pois não é porque às vezes nos enganem que podem nos enganar sempre. Uma moeda pode estar viciada, mas não podemos inferir que todas estejam viciadas(2).

O ceticismo pode ser comparado ao dogmatismo. O ceticismo radical nega que podemos chegar à verdade absoluta. O dogmatismo é o seu oposto, ou seja, é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a razão humana, de chegar a verdades absolutamente certas e seguras.

Em se tratando da Doutrina Espírita, poder-se-ia dizer que Allan Kardec foi um cético moderado. Em todas as suas obras, o codificador tinha por base uma premissa muito importante: “É preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro”. Além do mais, o Espiritismo foi codificado segundo uma metodologia científica. Ele não se fiou em um único médium, nem em uma única mensagem. Pegava várias respostas, de diferentes médiuns, para, depois, publicá-las de acordo com os princípios da razão.

Embora Allan Kardec tenha fundamentado os princípios espíritas sobre as leis da natureza, deixava sempre uma porta aberta à dúvida, pois se uma nova lei fosse descoberta, o Espiritismo teria de se pôr de acordo com essa lei. Acrescenta: “Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade”.(3)

(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

(3) KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975, p. 349.

O Poder da Dúvida (Varanasi II) (*)

Há dois tipos de perguntas: as que são fruto da reação e as que são fruto da não reação. As primeiras provocam respostas superficiais, e nada contribuem para a mudança radical do ser humano. As segundas geralmente não têm respostas, e são mais significativas.

Geralmente, as perguntas que fazemos sofrem a influência de algum tipo de autoridade: família, governo, tradição, técnica, religião, etc. É possível construir pensamentos, livres dessa influência?

Perguntas superficiais deformam os pensamentos, porque a mente só funciona mecanicamente, dentro dos limites do conhecimento. Ela se torna incapaz de transcender a si própria.

É possível ficar livre do passado? O passado está sempre moldando a nossa mente. Pode o passado (memória) ser apagado? Se não o apagarmos, nunca experimentaremos algo novo, o imprevisto, o desconhecido. A memória nos impele a obedecer, a seguir.

Para uma mudança completa, cumpre duvidar a fundo da autoridade. Duvidar é mais importante do que investigar. Duvidar é desvendar a natureza da autoridade. Como ver algo novo, partindo de um dogma, de uma ideia já aceita?

(*) KRISHNAMURTI, J. A Mutação Interior. Tradução de Hugo Veloso. São Paulo: Cultrix, 1976. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2011/07/ceticismo-e-espiritismo.html)


Em Forma de Palestra

Ceticismo e Espiritismo

1. Introdução 

O que é ceticismo? Por que se opõe ao dogmatismo? Quem foi o seu maior divulgador? Como está posto na vida cotidiana? Como vê-lo dentro da ótica espírita?

2. Conceito

Ceticismo. Do grego skeptikos, aquele que inquire ou examina. Concepção segundo a qual algum ou todo conhecimento é duvidoso ou mesmo falso. Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma dúvida constante. Oposto a dogmatismo. (Jupiassu, 2008)

3. Considerações Iniciais

Ideias céticas podem ser encontradas em muitos textos da filosofia grega antiga. Presentemente, é um dos temas mais ventilados no meio filosófico. É através do ceticismo que podemos questionar crenças e dogmas, alicerçados ao longo do tempo.

 Para os céticos não há verdade eterna que não possa ser posta em dúvida, não há autoridade que não possa ser rejeitada, não há teses que não possam ser analisadas sob a luz da razão.

 Para bem compreendê-lo, precisamos dividi-lo em: ceticismo sistemático e ceticismo moderado. O ceticismo sistemático, total ou radical, duvida da própria possibilidade de conhecimento do mundo; duvida de tudo. O ceticismo moderado utiliza a dúvida como modo de propor novas ideias.

 O ceticismo sistemático é impossível porque toda ideia é avaliada contra outras ideias. O ceticismo moderado deveria ser a norma de todo o aprendiz. Ele é sinônimo de mente aberta, que é a disposição para aprender novos itens e revisar crenças.

Os céticos rejeitam sociedades ou instituições autoritárias, em que uma única linha de pensamento é imposta a todos, deixando pouco espaço para a reflexão crítica.

4. Pirro

Ceticismo é uma corrente de pensamento que remonta a Pirro, um jovem contemporâneo de Aristóteles que viveu no século IV a.C. Está contido nas compilações de Diógenes Laércio, Cícero e Sexto Empírico.

Diógenes Laércio, por exemplo, em Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, apresenta o ceticismo de Pirro dentro de uma visão extremamente radical. Para Pirro, “Não há nada realmente existente, mas o costume e a convenção governam a ação humana: pois nenhuma única coisa é em si mesma mais isto do que aquilo”. De acordo com Charles Landesman, Pirro contradiz a si mesmo, pois fica implícito que costumes e convenções e ações são coisas realmente existentes. Talvez quisesse dizer que nossas crenças sobre o que existe baseiam-se em costume e convenção e não como o mundo é na sua realidade. (Landesman, 2006, p. 81)

5. A Grande Ilusão dos Sentidos 

Os céticos se baseiam na ilusão dos sentidos. Para eles, o mundo que se nos apresenta aos sentidos não é aquele que realmente interpretamos.

Thomas Hobbes (1588-1679) disse: “Quaisquer que sejam os acidentes ou qualidades que nossos sentidos nos façam pensar que existem no mundo, eles não estão lá, mas são apenas aparências e aparições. As coisas que realmente existem no mundo sem nós são os movimentos pelos quais as aparências são causadas. E esta é a grande ilusão dos sentidos”. “A grande ilusão dos sentidos” fundamenta-se em que as aparências não coincidem com as qualidades das “coisas que realmente existem no mundo”. (Landesman, 2006, p. 45)

6. Os Argumentos da Ilusão 

Para os que defendem os argumentos da ilusão, os sentidos às vezes nos enganam e podem fazê-lo em todas as ocasiões. Argumenta-se: talvez os sentidos nos enganem sempre. Erro: não é porque às vezes nos enganem que podem nos enganar sempre. Uma moeda pode estar viciada, mas não podemos inferir que todas estejam viciadas. (Blackburn, 1977)

7. Dogmatismo e Ceticismo 

O ceticismo radical nega que podemos chegar à verdade absoluta. O dogmatismo é o seu oposto, ou seja, é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a razão humana, de chegar a verdades absolutamente certas e seguras.

O cético mantém uma atitude crítica diante da pretensão dogmática de ter descoberto a verdade. Está sempre questionando as suas teses. É por isso que o ceticismo é uma forma atual de filosofar.  

Segundo os céticos, não sabemos de nada, não temos certeza de nada e podemos colocar tudo em dúvida. Refutar o ceticismo tornou-se uma obsessão dos filósofos dogmáticos, sobretudo aqueles que se interessam pela teoria do conhecimento, já que a possibilidade do conhecimento e a descoberta da verdade é um assunto essencial para os céticos. (Smith, 2004, Introdução) 

8. O Paradoxo do Cético 

O cético radical duvida de tudo igualmente. Ele coloca todas as hipóteses científicas ou não científicas no mesmo nível. É possível que ele peça tolerância ou até apoios para especulações não cientificas. Na prática, o ceticismo radical pode encorajar a credulidade. (Bunge, 2002)

9. Allan Kardec foi Cético?

Poder-se-ia dizer que foi cético moderado. Em toda a obra da codificação, Allan Kardec tinha por base uma premissa muito importante: “É preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro”.

10. Metodologia da Codificação Espírita 

Allan Kardec, quando organizou a Doutrina Espírita, utilizou o método científico em moda, ou seja, o método teórico-experimental. Ele não confiou em um único médium, nem em uma única mensagem. Pegava várias respostas, de diferentes médiuns, para, depois, publicá-las de acordo com os princípios da razão.  

11. A Influência do Ceticismo no Caráter Progressivo da Doutrina Espírita 

Embora Allan Kardec tenha fundamentado os princípios espíritas sobre as leis da natureza, deixava sempre uma porta aberta à dúvida, pois se uma nova lei fosse descoberta, o Espiritismo teria de se pôr de acordo com essa lei. Acrescenta: “Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade”. (Kardec, 1975, p. 349)

12. Conclusão 

O ceticismo moderado deve nortear as atitudes de qualquer indivíduo  na sua vida cotidiana. E, com muito mais razão, quando se insere nos meandros do Espiritismo, que lida com fenômenos extra-sensoriais, sujeitos a muitas dúvidas e erros de interpretação.  

13. Bibliografia Consultada 

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

LANDESMAN, Charles. Ceticismo. Tradução de Cecília Camargo Bartalotti. São Paulo: Loyola, 2006.

SMITH, Plínio Junqueira. Ceticismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. (Passo-a-passo, 35) 


Notas do Blog

Verdade, Erro e Espiritismo

A verdade é uma relação entre o Sujeito e o Objeto. Embora haja várias espécies de verdade, tais como a lógica formal, a pragmática, a axiológica e outras, o seu fundamento é único: distinguir o erro da verdade. Neste sentido, estabelecem-se os argumentos dos vários sistemas filosóficos. O dogmatismo defende a possibilidade de conhecê-la; o ceticismo, não. Os empiristas admitem o conhecimento vindo, exclusivamente, pelas vias sensoriais; os racionalistas, somente pela razão. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/verdade-erro-e-espiritismo.html)

Dogma da Reencarnação

4) Primitivamente, deu-se o nome de dogmatismo a toda a doutrina que afirmava quaisquer concepções opondo-se assim ao ceticismo. Nessa concepção, pois, dogmatismo é toda a atitude do espírito que pressupõe ser possível o conhecimento da verdade. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/dogma-da-reencarnao.html)

Dogmatismo e Espiritismo

Dogmatismo - atitude do espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dogmas, ou seja, verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão. Entre os gregos era a posição filosófica que se opunha ao ceticismo (exame, investigação). (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/dogmatismo-e-espiritismo.html)

Ceticismo e Termos Correlatos

O ceticismo é a doutrina filosófica que tem a dúvida como carro-chefe. Apregoa que o conhecimento do real é impossível à razão humana. Nesse caso, devemos renunciar à certeza, suspender o juízo e submeter toda afirmação a uma dúvida constante. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2011/09/ceticismo-e-termos-correlatos.html)

Pensamento Helenístico

Pirro de Élida (365-275 a.C.) é o iniciador do ceticismo. A tranqüilidade de espírito aqui está na recusa de qualquer doutrina, pois ele considera que a razão não pode penetrar na essência das coisas e prega a dúvida diante de todas as questões. Pirro diz: já que nada sabemos com certeza sobre as coisas do mundo, tudo deve nos deixar em absoluta indiferença — e que nada perturbe nosso espírito. Esta é a sua ataraxia. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2013/11/pensamento-helenistico-o.html)

Santo Agostinho de Hipona

Santo Agostinho de Hipona (354-430) é filho de mãe cristã e de pai pagão. Quando jovem, ensinava retórica em Cartago. Nessa época, teve um filho com a amante e se envolveu com o maniqueísmo, um sistema de crenças religiosas centradas na luta entre o bem e o mal. Posteriormente, aderiu ao ceticismo e ao neoplatonismo. Em 387, em Milão, Agostinho se converteu ao cristianismo. Batizado no ano seguinte, ordenou-se padre em 391, e em 396 tornou-se bispo de Hipona. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2020/02/santo-agostinho-de-hipona.html)


Sites e Blogs

A Influência do Pensamento de Agostinho na Compreensão Espírita sobre a Morte.

Ceticismo é a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. Segundo Antônio Gasparetto Junior , “O ceticismo é a doutrina do constante questionamento. O termo Ceticismo é de origem grega e significa exame, seu fundador foi Pirro, no século IV a.C.. Como corrente doutrinária, o ceticismo argumenta que não é possível afirmar sobre a verdade absoluta de nada, é preciso estar em constante questionamento, sobretudo, em relação aos fenômenos metafísicos, religiosos e dogmáticos. Com o passar do tempo, o Ceticismo se dividiu em duas linhas, o filosófico e o científico. 

O Ceticismo Filosófico é exatamente esse que começa com a escola de Pirro e que se expandiu pela chamada “Nova Academia” que ampliou as perspectivas teóricas, refutando verdades absolutas e mentiras. Seus seguidores alegavam a impossibilidade de alcançar o total conhecimento e adotaram métodos empíricos para afirmar seus conhecimentos. Assim, o Ceticismo Filosófico se dedicou a examinar criticamente o conhecimento e a percepção sobre a verdade.

Entre os céticos há os chamados desenganadores que se dedicam ao combate contra o charlatanismo, expondo suas práticas falsas e não-científicas. Os religiosos afetados por esses indivíduos, quando chamados a provar suas convicções, preferem atingir pessoalmente os céticos e não discutir suas práticas. Por outro lado, há também o pseudo-ceticismo, que, ao invés de manter o perfil de questionamento, parte logo para a negação. Assim, o Ceticismo pode levar a um ciclo vicioso e tornar seu praticante em um fanático tecnológico. 

Em Catargo, Agostinho encontrou uma amante, que lhe deu um filho, a quem deram o nome de “Adeodatus” (dado por Deus). Embora Agostinho jamais tenha revelado o nome de sua amadaafirmou, em diversas ocasiões, que sempre foi fiel a ela. 

Em 384, Agostinho deixou Catargo para ensinar retórica em Roma. Depois de um ano, mudouse para Milão, onde assumiu um cargo de professor a pedido do novo prefeito da cidade. 

Em Milão, ele conheceu Ambrósio, que era então bispo de Milão. Agostinho começou a ouvir os sermões de Ambrósio na catedral milanesa. Ambrósio tornou-se mentor de Agostinho, que encontrou finalmente um bispo intelectual à sua altura. Como cita MATTHEWS,Gareth B.: 

“Comecei a gostar dele, a princípio não como mestre da Verdade – pois jamais esperara encontrá-la na vossa Igreja -, mas como um ser humano benevolente comigo. Costumava ouvi-lo com entusiasmo quando pregava ao povo, não com o espírito que convinha, mas como que para sondar sua eloquência oratória para ver se merecia a fama que gozava ou se realmente se enxergava ou diminuía a fluência de que tanto se falava. Eu ficava suspenso de suas palavras com sua dicção, mas indiferente e escarnecendo até do assunto que ele estava expondo. O meu prazer concentrava-se na suavidade e no encanto de sua linguagem.” 

Em 386, Agostinho procurou Ambrósio, em busca de uma colocação oficial como professor. Ao invés disso, encontrou respostas para algumas de suas dúvidas pessoais. 

Depois de sua busca incessante pela verdade, ele finalmente se rendeu à coerência da mensagem de Jesus Cristo. Agostinho encontrou em Jesus o que não havia encontrado em nenhuma outra filosofia, em nenhum outro mestre. Assim, ele e seu filho Adeodato, então com 15 anos, foram batizados em Milão na Vigília de Páscoa, por Santo Ambrósio. Em Confissões (2012, pág. 242), Agostinho diz que: 

“De tal forma me convertestes a ti, que já não procurava esposa, nem abrigava esperança alguma deste mundo, estando já naquela ‘regra de fé’ sobre a qual há tantos anos me havias mostrado à minha mãe. E assim convertestes seu pranto em alegria, muito mais fecundada do que havia desejado, e muito mais cara e pura do que a que podia esperar dos netos nascidos de minha carne.Naqueles dias eu não me fartava de considerar a profundidade de teus desígnios para a salvação do gênero humano, pela doçura admirável que sentia. Quanto chorei ao ouvir, profundamente comovido, teus hinos e cânticos, que ressoavam suavemente em tua Igreja! Penetravam aquelas vozes em meus ouvidos, e destilavam a verdade em meu coração. Acendia-se em mim um afeto piedoso, corriam-me lágrimas dos olhos e me fazia bem chorar”.  (https://www.ufjf.br/bach/files/2016/10/PETRA-MOURA-NOUGUEIRA.pdf)

Kardec, Viés de Confirmação e Ceticismo

Quando acreditamos numa determinada ideia, temos uma forte tendência a interpretar os fatos de tal forma que eles “provem” que a nossa hipótese está correta. Essa leitura seletiva que confirma aquilo que já acreditávamos ser verdade pode ser uma escolha consciente, para ganharmos respeitabilidade diante de um determinado público, ou pode acontecer porque temos uma fé muito grande em algo que ainda não foi comprovado. Por isso, o viés de confirmação acontece em todas as áreas do conhecimento, e é preciso muito esforço e desprendimento para que os argumentos e fatos levantados não trabalhem a serviço da tese.

Nas trocas de argumento mais acaloradas é recorrente a carteirada – que vai desde uma afirmação “definitiva” de uma figura de autoridade, ao questionamento das credenciais do interlocutor (tipo: Você leu mesmo Kardec? Toda a obra dele? Tem certeza?). Outra argumentação comum é a submissão a forças que não temos como explicar ou investigar, ou uma postura de humildade que tem como objetivo dar um “pito” no interlocutor. Frases como “quem sou eu (somos nós) para afirmar ou deixar de afirmar sobre esse tema”, ou então “eu faço a minha parte”, “o que podemos fazer é orar por esses irmãos já que o desenvolvimento das virtudes pertence a cada individualidade”, encerram as conversas com um tom paradoxal de superioridade desprendida. (https://blogabpe.org/2019/06/01/kardec-vies-de-confirmacao-e-ceticismo/)


Notas de Livros

Livro 1

Descartes, em seu Discurso do Método, ataca o ceticismo pela negação da realidade. Tem-se a impressão que, pelo seu duvidar de tudo, nada existia antes de Descartes. O seu penso logo existo está invertido, pois deveria ser existo, logo penso. O seu dualismo cria o homem-máquina. (WIKER, Benjamin. 10 Livros que Estragaram o Mundo - E Outros Cinco que não Ajudaram em Nada. Tradução de Thomaz Perroni. Campinas, SP: Vide Editorial, 2015.)

A Revolução Francesa com todos os seus excessos foi o resultado do ceticismo do Iluminismo, a Revolução Americana e seus sucessos podem ser atribuídos aos princípios cristãos particulares dos colonos americanos. (WIKER, Benjamin. 10 Livros que Todo Conservador Deve Ler: Mais Quatro Imperdíveis e um Impostor. Tradução de Mariza Cortazzio. Campinas, SP: VIDE Editorial, 2016, item "Democracia na América / Alexis Tocqueville" — Capítulo 6)

Livro 2

Relatos de aparições, apesar do grande ceticismo em torno deles, adquiriram certa importância tanto na crença popular quanto na história da religião. O fantasma de Banquo e do pai de Hamlet, embora criações literárias, basearam-se numa ideia comum e aceita na época, a ideia de que asa aparições eram os espíritos de pessoas mortas, que de algum modo se manifestavam de forma visual. Às vezes a aparição surgia como se simplesmente trouxesse uma mensagem para o observador vivo apenas com o propósito de mostrar-se (afirmando-lhe assim a sobrevivência do espírito). Outras vezes, trazia uma mensagem ou aviso mais específico, como os dos fantasmas de Shakespeare. (CAVENDISH, Ricardo (org.). Enciclopédia do Sobrenatural: Magia, Ocultismo, Esoterismo, Parapsicologia. Consultor especial sobre Parapsicologia Professor J. B. Rhine. Tradução de Alda Porto e Marcos Santarrita. Porto Alegre: L&PM, 1993, item "Aparições")

Livro 3

Nem todos os céticos na história da filosofia foram tão extremados quando Pirro. O ceticismo moderado tem uma longa tradição pautada em questionar suposições e examinar com cuidado as evidências do que acreditamos, sem a tentativa de vivermos como se tudo fosse colocado em dúvida o tempo todo. Esse tipo de questionamento cético está no coração da filosofia. Todos os grandes filósofos foram céticos nesse sentido, que é o oposto do dogmatismo.

O objetivo do ceticismo filosófico moderado é chegar mais perto da verdade, ou ao menos revelar como é pouco o que sabemos ou podemos saber. (WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Tradução de Rogério Bettoni. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. (Coleção L&PM POCKET),   item "Não sabemos nada (Pirro)" — Capítulo 3)

Livro 4

Como Descartes, Pascal estava profundamente interessado no ceticismo que era uma espécie de praga filosófica em seus dias. O ceticismo radical de Michel Montaigne (1533-1592), o grande ensaísta, é um bom exemplo. 

Como, então, poderia Pascal abordar, prudentemente, o cético e o cientista? Contrariando Bertrand Russel (Russel disse que Pascal "sacrificou seu magnífico intelecto ao seu Deus"), Pascal nunca desistiu da ciência em benefício da fé. Ao escrever "as ciências abstratas não são próprias ao homem", Pascal não estava negando sua legitimidade, mas sim sua suficiência em explicar a condição humana. (GROOTHUIS, Douglas. Filosofia em Sete Sentenças: Uma Pequena Introdução a um Vasto Tópico. Tradução Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, 2019, item "Pascal" — Capítulo 6)


Dicionário

Ceticismo. Do grego skeptikós, aquele que investiga. 1. As doutrinas dos antigos céticos gregos. 2. A doutrina filosófica em que a verdade de todo o conhecimento deve ser sempre posta em questão e que a investigação deve ser um processo de duvidar. 3. Atitude de dúvida ou cética ou estado de espírito. 4. Dúvida sobre as doutrinas religiosas fundamentais.

Concepção segundo a qual o conhecimento do real é impossível à razão humana. Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma dúvida constante. Oposto a dogmatismo. Ver relativismo. (1)

A família das doutrinas segundo as quais algum ou todo conhecimento é duvidoso ou mesmo falso. Há duas variedades: sistemático e metódico. O ceticismo sistemático, total ou radical, é o duvidar de tudo. O ceticismo metódico ou moderado utiliza a dúvida como um modo de aferir ou propor novas ideias. O ceticismo sistemático, tal como o de Sexto Empírico ou Francisco Sánches, é impossível porque toda ideia é avaliada ou conferida contra outras ideias. O ceticismo metódico devia ser a norma em todas as buscas racionais: a gente duvida somente quando há alguma razão para duvidar. (2) (Ver paradoxo do cético)

(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)


Pensamentos

"Sou cético com relação a muitas coisas, este ceticismo me ajuda a ter clareza quanto ao que de fato acredito..." (Evan do Carmo)

"Todo o niilismo se caracteriza pelo ceticismo em relação ao sentido, ceticismo esse, acompanhado de um relativismo quanto aos valores." (Viktor Frankl)

"Um ceticismo prudente é o primeiro atributo de um bom crítico." (James Lowell)

"Os grandes intelectuais são céticos." (Friedrich Nietzsche)

"Poupe-me de suas certezas e eu te poupo do meu ceticismo." (Paulo César Oliveira)

"Aqueles que têm alguma coisa para vender, aqueles que desejam influenciar a opinião pública, aqueles que estão no poder, diria um cético, têm um interesse pessoal em desencorajar o ceticismo." (Carl Sagan)

“A mera esperteza basta para fazer um cético, mas não um filósofo.” (Arthur Schopenhauer)


Mensagem Espírita

O Amigo Oculto

“Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.” — (Lucas, 24, 16.)

Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os acontecimentos terríveis do Calvário.

Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetrava-lhes a alma, levando-os ao abatimento, à negação.

Um homem desconhecido, porém, alcançou-os na estrada. Oferecia o aspecto de mísero peregrino. Sem identificar-se, esclareceu as verdades da Escritura, exaltou a cruz e o sofrimento.

Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de contradições ingratas, experimentaram agradável bem-estar, ouvindo a argumentação confortadora.

Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.

Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias. Atingem o Evangelho e espantam-se em face dos sacrifícios necessários à eterna iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram “paisagens mentais” distantes... Entretanto, chega sempre um desconhecido que caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de um viandante incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho generoso, de uma criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes, seus apelos mais doces.

Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá olvidá-la. Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorando-se nos trilhos escuros; no entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca esses viajores transviados e não os desampara enquanto não os contempla, seguros e livres, na hospedaria da confiança. (XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, capítulo 95)

Inconstantes

“Porque aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte.” – (Tiago, 1:6.)

Inegavelmente existe uma dúvida científica e filosófica no mundo que, alojada em corações leais, constitui precioso estímulo à posse de grandes e elevadas convicções; entretanto, Tiago refere-se aqui à inconstância do homem que, procurando receber os benefícios divinos, na esfera das vantagens particularistas, costuma perseguir variadas situações no terreno da pesquisa intelectual sem qualquer propósito de confiar nos valores substanciais da vida.

Quem se preocupa em transpor diversas portas, em movimento simultâneo, acaba sem atravessar porta alguma.

A leviandade prejudica as criaturas em todos os caminhos, mormente nas posições de trabalho, nas enfermidades do corpo e nas relações afetivas.

Para que alguém ajuíze com acerto, com respeito a determinada experiência, precisa enumerar quantos anos gastou dentro dela, vivendo-lhe as características.

Necessitamos, acima de tudo, confiar sinceramente na Sabedoria e na Bondade do Altíssimo, compreendendo que é indispensável perseverar com alguém ou com alguma causa que nos ajude e edifique.

Os inconstantes permanecem figurados na onda do mar, absorvida pelo vento e atirada de uma para outra parte.

Quando servires ou quando aguardares as bênçãos do Alto, não te deixes conduzir pela inquietude doentia. O Pai dispõe de inumeráveis instrumentos para administrar o bem e é sempre o mesmo Senhor Paternal, através de todos eles. A dádiva chegará, mas depende de ti, da maneira de procederes na luta construtiva, persistindo ou não na confiança, sem a qual o Divino Poder encontra obstáculos naturais para exprimir-se em teu caminho. (XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, capítulo 22)