Dever

Perguntas e Respostas

1) O que é o dever?

Dever – Do latim devere. No sentido habitual do verbo, o que deve ser, ou ser feito. Significa a obrigação moral determinada, expressa numa regra de ação. É o princípio da ação e estriba-se na razão.

2) Há diferença entre dever e obrigação?

Obrigação designa a necessidade moral que vincula o sujeito a proceder de determinado modo; dever significa esse procedimento a que ele está obrigado. Em outros termos: obrigação seria o aspecto formal e subjetivo e o dever o material e Objetivo da mesma realidade global. (1)

3) Na sua origem, como era o dever?

Segundo os estoicos, o dever pertencia a uma ética fundada na norma do "viver segundo a natureza", isto é, conformar-se à ordem racional do todo. As pessoas não se preocupavam com a felicidade, o prazer ou as conquistas de virtudes; havendo uma lei natural, a conduta nela deveria ser alicerçada.

4) Como Sócrates, Platão e Aristóteles viam o dever?

Sócrates, Platão e Aristóteles, embora aceitassem a tese estoica da conformação com a ordem racional do todo, procuraram relacioná-lo com a felicidade e a prática das virtudes.

5) Qual a concepção de dever na Idade Média?

Para os religiosos da Idade Média, o dever tinha íntima relação com os mandamentos, não no sentido grego de entolé (ensino, instrução), mas no de ordenação, de obediência à autoridade dos padres, dos vigários e dos papas.

6) Qual a relação entre consciência moral, livre-arbítrio e dever? Onde começa e termina o dever?

O Dever, que é o exercício do livre-arbítrio, começa no ponto em que ameaçamos a liberdade do próximo e termina no limite em que não gostaríamos de ver ultrapassado com relação a nós mesmos. O cumprimento do dever depende das circunstâncias, ou seja, implica contrariar e ser contrariado. Por isso, ao estarmos livres para escolher esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos.

7) Como Fichte interpreta o dever?

Fichte, em Doutrina Moral (1798), afirma o caráter originário da ideia do dever, da qual deriva o reconhecimento dos outros eus. A ideia do dever é a autodeterminação originaria do eu, mas ela não poderia ser realizada se não existissem outros eus, outros sujeitos em face dos quais, somente, a ideia do dever pode ter a sua determinação e, portanto, possibilidade de realização.

8) Como Kant analisa o dever?

Kant distingue a ação empreendida conforme o dever da feita “por dever”. Na ação feita conforme o dever não há esforço da criatura; na feita “por dever”, sim, pois aqui ela luta contra as suas próprias inclinações.

9) Como o dever está posto em O Evangelho Segundo o Espiritismo?

Nas Instruções dos Espíritos, o dever é posto como uma obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida. É a lei da vida que se encontra tanto nos pequenos como nos grandes atos. Lembram-nos de que na ordem dos sentimentos, o dever acha-se em antagonismo com os interesses do coração.

10) O dever deve aumentar ou diminuir? 

Em virtude da complexidade da cultura e da civilização, o dever deve sempre crescer. Significa que, conforme os anos passam, a criatura humana vai absorvendo novas formas de progresso moral e espiritual e, com isso, ampliando os seus deveres junto à sociedade.

11) Cite alguns pensamentos sobre o dever.

H. F. Amiel diz: “O nosso dever consiste em sermos úteis, não como desejamos, mas como podemos”. Para André Maurois, “Infelizmente, nem sempre coincide o dever com o interesse”. Dante Veoleci alerta-nos: “De grande valor moral é quem, dispondo de poder ou de autoridade, só faz o que lhe ordena o dever e não o que lhe é mais fácil, vantajoso ou agradável”. J. W. Goethe consola-nos: “Quando um dever se nos afigura demasiadamente pesado, temos um meio para torná-lo mais leve. É cumpri-lo com maior escrúpulo”. Para C. Cantu, “O cumprimento do dever é superior ao heroísmo”.

(Reunião de 01/10/2011)

(1) POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986. (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/dever?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Dever

Dever - do lat. devere significa a obrigação moral determinada, expressa numa regra de ação. É o princípio da ação e estriba-se na razão.

A consciência moral é a determinante de nossas ações. Pode ser entendida como a capacidade que temos de escolher o nosso caminho na vida. Num sentido mais amplo e profundo, a consciência moral é a opção entre o bem e o mal. Embora as noções de bem e de mal sejam absolutas, cada um de nós age de conformidade com a percepção relativa de que foi capaz de absorver. Contudo, leva-se em conta, ainda, os usos e costumes de cada povo.

A consciência moral liga-se ao livre-arbítrio e este ao dever. O Dever, que é o exercício do livre-arbítrio, começa no ponto em que ameaçamos a liberdade do próximo e termina no limite em que não gostaríamos de ver ultrapassado com relação a nós mesmos. O cumprimento do dever depende das circunstâncias, ou seja, implica em contrariar e ser contrariado. Por isso, ao estarmos livres para escolher esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos.

O sentimento de dever pode ser obscurecido pelo sentimento da paixão. A paixão é útil quando é governada e prejudicial quando governa. Muitas vezes, o dever se acha em antagonismo com as seduções do interesse próprio. Nessas circunstâncias, a vontade deve ser acionada, a fim de estabelecermos limites das referidas seduções. Posteriormente, habituando-nos a atuar segundo o interesse geral, diminuiremos os impulsos da paixão e solidificaremos os ímpetos do verdadeiro dever.

O cumprimento do dever está entremeado de contradições. A confiança em Deus e em nós próprios muito nos auxiliarão na suplantação de todas as nossas dificuldades. À medida que vamos atuando, percebemos que aquilo que no passado era temível e considerado impossível hoje fazemos com muita facilidade. É que a dificuldade criou o seu antídoto, liberando forças para enfrentarmos dificuldades maiores.

Ajamos sempre de acordo com o interesse geral. Esta ação, várias vezes repetida, amplia-nos a visão de mundo, colocando-nos no devido lugar para o cumprimento de nossos deveres. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/06/dever.html)


Em Forma de Palestra

Dever

1. Introdução 

O que devemos entender por dever? Qual a relação entre deveres e obrigações? Há distinção entre agir segundo o dever e por dever? Que contributos prestaram os grandes pensadores ao entendimento do dever? Que subsídios Allan Kardec nos oferece para melhor entendermos esse tema?

2. Conceito  

Dever – Do latim devere significa a obrigação moral determinada, expressa numa regra de ação. É o princípio da ação e estriba-se na razão. Muitas vezes usados como sinônimos, as duas palavras "dever" e "obrigação" podem ser empregadas com significados diferentes: enquanto obrigação designaria a necessidade moral que vincula o sujeito a proceder de determinado  modo, dever significaria esse procedimento a que ele está obrigado. Por outras palavras: obrigação seria o aspecto formal e subjetivo e o dever o material e Objetivo da mesma realidade global. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e Estado)

3. Considerações Iniciais 

O dever, na sua origem, e segundo os estoicos, pertencia a uma ética fundada na norma do “viver segundo a natureza”, isto é, conformar-se à ordem racional do todo. Os estoicos não se referiam à felicidade, ao prazer ou à conquista de virtudes; simplesmente alimentavam a crença que, havendo uma lei natural, a conduta humana nela seria alicerçada. Isso já era o suficiente para pautar o comportamento de cada ser humano.

Ao longo do tempo, outros pensadores expressaram os seus pontos de vista sobre o dever.

O dever está presente em todos os aspectos de nossa vida de relação.

Refletir sobre os nossos deveres e obrigações é muito útil para o nosso aperfeiçoamento moral e intelectual.

4. O Dever Segundo Alguns Pensadores 

4.1. Sócrates, Platão e Aristóteles 

Sócrates, Platão e Aristóteles, filósofos gregos da Grécia clássica, deram outro verniz ao dever: embora aceitassem a conformação com a ordem racional do todo, procuraram relacioná-lo com a felicidade e a prática das virtudes. Colocavam a busca da felicidade (eudaimonia) no centro da vida moral. Para eles, o homem feliz é aquele cujo daimon (divino) é virtuoso. Esta foi a concepção que permaneceu ao longo da história.

4.2. Pensadores da Idade Média 

Durante a Idade Média, a filosofia ficou totalmente à mercê da Igreja. Esse período, denominado de escolástica, caracterizou-se pela construção de um saber alicerçado na lógica aristotélica. Para esses religiosos, o dever tinha íntima relação com os mandamentos, mandamentos esses alicerçados no Evangelho de Jesus. Porém, eles tomam a palavra mandamento, não no seu sentido grego de entolé (ensino, instrução), mas no de ordenação, ou seja, obediência à autoridade, que no caso específico referia-se ao Papa, aos vigários ou aos padres.

A ingerência da Igreja mutilou o pensamento inovador. O servo tem que obedecer, sob pena de cometer o pecado. Observe que na Boa Nova do Cristo não existe a palavra dever. O que consta nos seus ensinamentos é a palavra “feliz”, que aparece 55 vezes no Novo Testamento. A palavra feliz dá a idéia de liberdade, de conformação à vontade de Deus, mas de forma espontânea e não como uma obrigação, um temor da divindade. Veja a irracionalidade do pecado original: uma mancha que todos nós herdamos ao vir a este mundo.

4.3. Fichte e Kant

Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), em Doutrina Moral (1798), afirma o caráter originário da idéia do dever, da qual deriva o reconhecimento dos outros eus. A idéia do dever é a autodeterminação originaria do eu, mas ela não poderia ser realizada se não existissem outros eus, outros sujeitos em face dos quais, somente, a idéia do dever pode ter a sua determinação e, portanto, possibilidade de realização.

Immanuel Kant (1724-1804) distingue a ação empreendida conforme o dever da feita “por dever”. Na ação feita conforme o dever não há esforço da criatura; na feita “por dever”, sim, pois aqui ela luta contra as suas próprias inclinações.

5. Dever e O Evangelho Segundo o Espiritismo 

5.1. Lei da Vida 

O dever é, primeiramente, a obrigação moral diante de si mesmo; depois, com relação aos outros. O dever encontra-se tanto nos mais ínfimos como nos mais elevados detalhes da vida. O dever íntimo de cada um de nós está entregue ao nosso livre-arbítrio, que muitas vezes não sabe controlar os apelos da paixão.

5.2. Onde Começa e Termina o Dever?

“O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos”.

A igualdade perante a dor é a providência divina para ajudar-nos a delimitar a esfera de nossas ações. Deus não quer que cometamos o mal argumentando ignorância dos seus efeitos. (Kardec, 1984, p. 226 e 227)

5.3. Especulações Morais 

O cumprimento do dever depende das circunstâncias, ou seja, implica em contrariar e ser contrariado. Por isso, ao estarmos livres para escolher esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos.  O sentimento de dever pode ser obscurecido pelo sentimento da paixão. A paixão é útil quando é governada e prejudicial quando governa. Muitas vezes, o dever se acha em antagonismo com as seduções do interesse próprio. Nessas circunstâncias, a vontade deve ser acionada, a fim de estabelecermos limites das referidas seduções.

O cumprimento do dever está entremeado de contradições. A confiança em Deus e em nós próprios muito nos auxiliarão na suplantação de todas as nossas dificuldades.

6. Ação e Dever 

6.1. Ação Livre 

A intenção de praticar um ato torna-o responsável pelas suas conseqüências. Contudo, nem sempre é livre para escolher o que lhe acontece, mas é seguramente livre para escolher a resposta ao que lhe acontece. Diferentemente dos animais, que apenas respondem, o ser humano tem que organizar o seu pensamento, avaliar situações e circunstâncias, pesar os prós e os contra e decidir-se por um comportamento, por uma atitude.

À pergunta, que é uma ação livre, responderíamos, de imediato, que uma ação é livre quando nada se lhe oferece obstáculo. Esta, porém, não é uma resposta convincente. De acordo com os escritos enciclopédicos, uma ação, para ser dita livre, é a ação pela qual o agente pode responder. Ser livre é poder agir no mundo numa determinada situação, o que implica a existência do sujeito agente em relação com o objeto agido.

6.2. Direitos e Deveres 

Ao lado dos direitos, cada um de nós tem também deveres: para consigo mesmo (sua consciência); para com o próximo; para com o mundo em que habita. Acontece que visamos muito mais aos direitos do que aos deveres. Exemplo: exigimos o direito de liberdade, mas negligenciamos o dever de ser livre. Como explicar? Observe que todo o ato livre, para que realmente seja livre, deve ter como conseqüência uma ampliação da liberdade. O vício, que é um ato livre, não amplia a nossa liberdade, porque a necessidade gerada cria uma dependência, impedindo a continuidade dos atos livres. 

A vida é composta de direitos e deveres. Importa saber qual é a nossa parcela dos direitos e dos deveres para que assim, cumprindo com os deveres que a nossa consciência nos indicar, adquiramos o direito em relação ao próximo e à sociedade. Ninguém é herói por acaso. Faltava-lhe as circunstâncias para por em prática tudo o que arquitetara, silenciosamente, no seu subconsciente. Há muita sabedoria na frase: “A vida de deveres fáceis e enfadonhos não é tão fácil quanto parece”. O óbvio não é tão óbvio quanto o senso comum o apregoa.

6.3. Pensamento sobre o Dever 

H. F. Amiel diz: “O nosso dever consiste em sermos úteis, não como desejamos, mas como podemos”. Para André Maurois, “Infelizmente, nem sempre coincide o dever com o interesse”. Dante Veoleci alerta-nos: “De grande valor moral é quem, dispondo de poder ou de autoridade, só faz o que lhe ordena o dever e não o que lhe é mais fácil, vantajoso ou agradável”. J. W. Goethe consola-nos: “Quando um dever se nos afigura demasiadamente pesado, temos um meio para torná-lo mais leve. É cumpri-lo com  maior escrúpulo”. Para C. Cantu, “O cumprimento do dever é superior ao heroísmo”.

7. Conclusão 

Ajamos sempre de acordo com o interesse geral. Esta ação, várias vezes repetida, amplia-nos a visão de mundo, colocando-nos no devido lugar para o cumprimento de nossos deveres.

8. Bibliografia Consultada 

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986. 



Notas do Blog

Natureza Humana e Dever

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (item 7, do capítulo XVII), de Allan Kardec, há algumas instruções dos Espíritos sobre o dever. Nessa passagem, diz-nos que o dever é uma obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida. É a lei da vida que se encontra tanto nos pequenos como nos grandes atos. Lembra-nos de que na ordem dos sentimentos, acha-se em antagonismo com os interesses do coração. Para saber onde começa e onde termina, ele nos alerta: “O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade de vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos”. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2011/03/natureza-humana-e-dever.html)

Lei Divina e Natural

A lei é uma norma, um preceito, um princípio, uma regra, uma obrigação imposta pela consciência e pela sociedade. De forma geral, expressa um dever ser ou ter de ser. A lei é modelo, medida e diretriz da conduta humana. A lei é um imperativo básico da sociedade. Sócrates, na sua época, chegou a afirmar que obedecia até às más leis, para não estimular outros seres humanos a desobedecer às boas. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/08/lei-divina-e-natural.html)

Faculdades Morais e Intelectuais

Para Kant, "Uma ação realizada por dever não tira seu valor do objetivo a ser alcançado por ela, mas da máxima segundo a qual é decidida". O indivíduo age exclusivamente segundo a regra que estabelece, ou seja, "sem levar em conta nenhum dos objetos da faculdade de desejar" e "fazendo-se abstração dos fins que podem ser alcançados por tal ação" (Fundamentos..., I). "Ela não tem a menor necessidade da religião", insiste Kant, nem de um fim ou objetivo qualquer: "ela se basta a si própria" (A religião nos limites da simples razão, Prefácio). (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2019/05/faculdades-morais-e-intelectuais.html)

Justiça e Igualdade

Quando falamos de direitos e deveres, estamos nos referindo à acepção do direito como poder ou faculdade. A Constituição Brasileira nos diz que cada um de nós tem o direito de viver, de ser livre, de ser respeitado como pessoa etc. Cada um de nós tem o dever de lutar pelos direitos iguais para todos, de defender a pátria, de preservar a natureza etc. Ser cidadão é exercer a sua cidadania, ou seja, fazer valer os seus direitos e suas obrigações. Exemplificando: temos o direito de receber energia elétrica; por outro lado, temos o dever de pagar a conta mensalmente. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2009/05/justica-e-igualdade.html)

Kant, Immanuel

Para Kant, "Uma ação realizada por dever não tira seu valor do objetivo a ser alcançado por ela, mas da máxima segundo a qual é decidida". O indivíduo age exclusivamente segundo a regra que estabelece, ou seja, "sem levar em conta nenhum dos objetos da faculdade de desejar" e "fazendo-se abstração dos fins que podem ser alcançados por tal ação" (Fundamentos..., I). "Ela não tem a menor necessidade da religião", insiste Kant, nem de um fim ou objetivo qualquer: "ela se basta a si própria" (A religião nos limites da simples razão, Prefácio).  (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2020/02/kant-immanuel.html)

Confúcio

Confúcio (551-479 a.C.) foi um filósofo e pensador chinês. Não nos deixou nada escrito. O objetivo de sua pregação moral é o esforço no Bem, útil à formação da personalidade, e a mais eficaz para tornar uma sociedade feliz. Duas são as virtudes fundamentais: a amizade e a equidade. Ficou famoso a partir do século V de nossa era ao tornar-se o filósofo oficial da China imperial. Confúcio, contrariamente ao que rezava a vulgata dos imperadores chineses de ordem e harmonia permanentes, pregava o dever moral dos intelectuais de criticar o dirigente, mesmo pondo em risco a sua vida, quando ele abusasse do poder ou estivesse oprimindo o povo. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2020/02/confucio.html)


Pensamentos

"O nosso dever consiste em sermos úteis, não como desejamos, mas como podemos." (H. F. Amiel)

"O que tira aos homens a independência não são os deveres, são os compromissos." (Louis Bonald)

"O mais difícil não é cumprir o dever; é conhecê-lo." (Louis Bonald)

"O cumprimento do dever é superior ao heroísmo." (C. Cantu)

"Consome-te no dever // Sê, tu mesmo, a claridade // Jesus, para ser Senhor // Foi servo da Humanidade." (Casimiro Cunha)

"Saber sacrificar tudo a um dever é a principal e a mais difícil ciência que nós temos de aprender na vida." (Júlio Diniz)

"Quando um homem se concentra com toda a sua energia no cumprimento do dever, aproxima-se de Deus." (Ralph Waldo Emerson)

"Incerta e passageira é a felicidade; e o dever é certo e eterno." (Feuchtersleben)

"Quem, alegre e contente, cumpre o que deve, vive satisfeito e feliz." (H. Fritsch)

"Só vemos os nossos deveres tais como são no dia em que começamos a amá-los." (A. de Gasparini)

"Quando um dever se nos afigura demasiadamente pesado, temos um meio para torná-lo mais leve. É cumpri-lo com maior escrúpulo." (J. W. Goethe)

"Nada é mais cruel do que o dever em concorrência com a afeição, porque é indispensável que o dever vença." (Lacordaire)

"Os que mais pugnam pelos seus direitos são os que mais se esquecem, às vezes, os seus direitos." (Gonçalves Magalhães)

"Infelizmente, nem sempre coincide o dever com o interesse." (André Maurois)

"Por caros que vos sejam o vosso patrimônio, a honra e a vida, estejais prontos a sacrificar tudo ao dever, se este vos exigir semelhante sacrifício." (Silvio Pellico)

"A isto se reduzem os deveres humanos: resignação à vontade de Deus e caridade para com o próximo." (Alexander Pope)

"Um dos grandes males da humanidade é a falta de compreensão do dever que cada um de nós tem para com a coletividade." (Antonio Pousada)

"Cumpre o teu dever, aconteça o que acontecer." (Provérbio)

"Quem se apega mais à vida que ao dever não pode considerar-se solidamente virtuoso." (J. J. Rousseau)

"Faze o que puderes, e deixa o resto a quem pode. Para cada trabalho é necessário um homem." (F. Rueckert)

"Deus nunca nos impõe um dever sem nos dar o tempo necessário para cumpri-lo." (Ruskin)

"Faça questão de fazer todo o dia algo que você não gosta de fazer. É a regra de ouro para adquirir o hábito de fazer o seu dever sem pena." (Mark Twain)

"De grande valor moral é quem, dispondo de poder ou de autoridade, só faz o que lhe ordena o dever e não o que lhe é mais fácil, vantajoso ou agradável." (Dante Veoleci)

"Pouquíssimas são as coisas terrenas pelas quais vale a pena viver. Mas todos nós devemos caminhar sempre em linha reta, para a frente, e cumprir o dever." (Duque de Wellington)


Artigo

Dever e mutilação da liberdade

O dever, na sua origem, e segundo os estoicos, pertencia a uma ética fundada na norma do "viver segundo a natureza", isto é, conformar-se à ordem racional do todo. Os estoicos não se referiam à felicidade, ao prazer ou à conquista de virtudes; simplesmente alimentavam a crença que, havendo uma lei natural, a conduta humana nela seria alicerçada. Isso já era o suficiente para pautar o comportamento de cada ser humano.

Sócrates, Platão e Aristóteles, filósofos gregos da Grécia clássica, deram outro verniz ao dever: embora aceitassem a conformação com a ordem racional do todo, procuraram relacioná-lo com a felicidade e a prática das virtudes. Colocavam a busca da felicidade (eudaimonia) no centro da vida moral. Para eles, o homem feliz é aquele cujo daimon (divino) é virtuoso. Esta foi a concepção que permaneceu ao longo da história.

Durante a Idade Média, a filosofia ficou totalmente à mercê da Igreja. Esse período, denominado de escolástica, caracterizou-se pela construção de um saber alicerçado na lógica aristotélica. Para esses religiosos, o dever tinha íntima relação com os mandamentos, mandamentos esses alicerçados no Evangelho de Jesus. Porém, eles tomam a palavra mandamento, não no seu sentido grego de entolé (ensino, instrução), mas no de ordenação, ou seja, obediência à autoridade, que no caso específico referia-se ao Papa, aos vigários ou aos padres.

A ingerência da Igreja mutilou o pensamento inovador. O servo tem que obedecer, sob pena de cometer o pecado. Observe que na Boa Nova do Cristo não existe a palavra dever. O que consta nos seus ensinamentos é a palavra "feliz", que aparece 55 vezes no Novo Testamento. A palavra feliz dá a ideia de liberdade, de conformação à vontade de Deus, mas de forma espontânea e não como uma obrigação, um temor da divindade. Veja a irracionalidade do pecado original: uma mancha que todos nós herdamos ao vir a este mundo.

A pressão religiosa carrega-nos de medos, de pecados e de proibições. É como se Deus dissesse: "Não coma da árvore da ciência do bem e do mal, porque será enviado ao fogo do inferno". A aceitação passiva dessa ordenação rouba-nos energia vital, pois acabamos frustrando a nossa própria natureza em detrimento de uma proibição vinda dos altos mandatários da Igreja ou das religiões. O nosso livre-arbítrio se tolhe e parece que não temos força de decidir por nós mesmos.

Tenhamos a mente livre para uma atitude crítica. Somente assim vamo-nos libertando do mal e embalando-nos no bem, elemento fundamental da ampliação de nossa visão de mundo e de nós mesmos.

Fonte de Consulta

PLÉ, ALBERT. Por Dever ou por Prazer? Tradução de Jean Briant. São Paulo: Paulinas, 1984 (Pesquisa e Projeto, 3)