Felicidade

Perguntas e Respostas

1) O que significa a palavra felicidade?

A felicidade pode ser entendida de diversas formas: como bem-estar, como atividade contemplativa, como prazer etc.

De acordo com Abbagnano, o conceito de felicidade é humano e mundano. Em geral, é um estado de satisfação devido à própria situação do mundo. Por essa relação com a situação do mundo, a noção de felicidade difere da de beatitude a qual é o ideal de uma satisfação independente da relação do homem com o mundo e por isso limitada à esfera contemplativa ou religiosa.

2) Como vê-la historicamente?

Na Antiguidade, Sócrates referia-se ao "conhece-te a ti mesmo" como sendo a chave para a conquista da felicidade. Platão dizia que a felicidade é relativa aos deveres que o homem tem no mundo. Para Aristóteles, a felicidade é a identificação com as melhores atividades do ser humano.

No âmbito do Velho Testamento, a felicidade centra-se na aquisição dos bens mais elementares como comer, beber e viver em família e no temor a Iahweh, que equivale à atitude religiosa do homem. Na dimensão do Novo Testamento, a felicidade está nas bem-aventuranças prometidas por Jesus.

Plotino (204-270) afirma que a felicidade do sábio não pode ser destruída nem pelas circunstâncias adversas nem pelas favoráveis. Santo Agostinho (354-430) entende a felicidade como o fim da sabedoria, a posse do verdadeiro absoluto, isto é, de Deus. Tomás de Aquino (1225-1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual". Kant (1724-1804) julga que a felicidade faz parte do bem supremo o qual é para o homem a síntese de virtude e felicidade. Bentham (1748-1832) e Stuart Mill ( 1773-1836) retomaram como fundamento de moral a fórmula de Beccaria: "A maior felicidade possível, no maior número de pessoas". (Abbagnano, 1970)

3) Há relação entre felicidade e os hemisférios do cérebro?

No final do século XIX, os médicos notaram algo estranho nas pessoas com lesão cerebral. Quando o dano era do lado esquerdo do cérebro, elas tendiam a ficar mais deprimidas. Richard Davidson, da University of Wisconsin, conduz uma pesquisa para certificar-se se o sentimento de felicidade é objetivo. Em seus estudos, coloca eletrodos em partes diferentes do couro cabeludo e lendo a atividade elétrica. Essas medições de EEG são então relacionadas com os sentimentos que as pessoas relatam. Quando elas experimentam sentimentos positivos, há mais atividade elétrica na parte frontal esquerda do cérebro; quando experimentam sentimentos negativos, há mais atividade na parte frontal direita. (Layard, 2008, cap. 2)

4) Qual a diferença entre a felicidade entendida por Jeremy Bentham e aquela propagada por Aristóteles?

Para Jeremy Bentham, filósofo do Iluminismo do século XVIII, a melhor sociedade é aquela em que os cidadãos são mais felizes. Felicidade aqui é definida como sentir-se bem. Portanto, a melhor política pública é a que produz mais felicidade. E quando se trata de comportamento individual, a ação moral correta é aquela que produz mais felicidade para as pessoas que afeta. Este é o princípio da Felicidade Maior. Aristóteles, por seu turno, acreditava que o objetivo da vida era a eudemonia, um tipo de felicidade associada à conduta virtuosa e reflexão filosófica.

5) Ter mais renda, mais diversão, mais poder é ter mais felicidade?

Pelo fato de não sabermos conceber plenamente a felicidade, ela aparece mesclada de diversos desejos. Uns imaginam encontrá-la na posse das riquezas, porque supõem que com o dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como tantas outras. Outros procuram encontrá-la nos prazeres sexuais, nas diversões, nos passeios. Outros ainda na glutonaria. Em realidade, estamos confundindo posse com felicidade, prazer com felicidade, desejo atendido com felicidade. A felicidade plena e verdadeira requer a atualização das virtualidades do ser espiritual.

6) Em que a concepção de Marx, acerca da felicidade, difere da de Allan Kardec?

Para Marx, a felicidade do indivíduo estaria presa aos proventos materiais do trabalho (salários).

Para Kardec, a felicidade do indivíduo iria além dos proventos materiais do trabalho (salários), pois implica evolução espiritual. São os bônus-horas de que nos fala o Espírito André Luiz, no livro Nosso Lar.

7) Como interpretar a máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo"?

Pode ser entendida de duas maneiras: 1) que há outros mundos mais evoluídos do que o Planeta Terra, onde a felicidade é mais plena; 2) que a felicidade não estando no mundo material, pode ser encontrada no mundo interior, como conseqüência do dever retamente cumprido.

(Reunião de 29/08/2009)

Bibliografia Consultada

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

LAYARD, Richard. Felicidade: Lições de uma Nova Ciência. Tradução de Maria Clara de Biase W. Fernandes. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008. (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/felicidade?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Felicidade

A felicidade pode ser entendida de diversas formas: como bem-estar, como atividade contemplativa, como prazer etc. De acordo com Abbagnano, o conceito de felicidade é humano e mundano. Em geral, é um estado de satisfação devido à própria situação do mundo. Por essa relação com a situação do mundo, a noção de felicidade difere da de beatitude a qual é o ideal de uma satisfação independente da relação do homem com o mundo e por isso limitada à esfera contemplativa ou religiosa.

Na Antiguidade, Sócrates referia-se ao "conhece-te a ti mesmo" como sendo a chave para a conquista da felicidade. Platão dizia que a felicidade é relativa aos deveres que o homem tem no mundo. Para Aristóteles, a felicidade é a identificação com as melhores atividades do ser humano. No âmbito do Velho Testamento, a felicidade centra-se na aquisição dos bens mais elementares como comer, beber e viver em família e no temor a Iahweh, que equivale à atitude religiosa do homem. Na dimensão do Novo Testamento, a felicidade está nas bem-aventuranças prometidas por Jesus.

Plotino (204-270) afirma que a felicidade do sábio não pode ser destruída nem pelas circunstâncias adversas nem pelas favoráveis. Santo Agostinho (354-430) entende a felicidade como o fim da sabedoria, a posse do verdadeiro absoluto, isto é, de Deus. Tomás de Aquino (1225-1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual". Kant (1724-1804) julga que a felicidade faz parte do bem supremo o qual é para o homem a síntese de virtude e felicidade. Bentham (1748-1832) e Stuart Mill ( 1773-1836) retomaram como fundamento de moral a fórmula de Beccaria: "A maior felicidade possível, no maior número de pessoas".

No final do século XIX, os médicos notaram algo estranho nas pessoas com lesão cerebral. Quando o dano era do lado esquerdo do cérebro, elas tendiam a ficar mais deprimidas. Richard Davidson, da University of Wisconsin, conduz uma pesquisa para certificar-se se o sentimento de felicidade é objetivo. Em seus estudos, coloca eletrodos em partes diferentes do couro cabeludo e lendo a atividade elétrica. Essas medições de EEG são então relacionadas com os sentimentos que as pessoas relatam. Quando elas experimentam sentimentos positivos, há mais atividade elétrica na parte frontal esquerda do cérebro; quando experimentam sentimentos negativos, há mais atividade na parte frontal direita. (Layard, 2008, cap. 2)

Para Jeremy Bentham, filósofo do Iluminismo do século XVIII, a melhor sociedade é aquela em que os cidadãos são mais felizes. Felicidade aqui é definida como sentir-se bem. Portanto, a melhor política pública é a que produz mais felicidade. E quando se trata de comportamento individual, a ação moral correta é aquela que produz mais felicidade para as pessoas que afeta. Este é o princípio da Felicidade Maior. Aristóteles, por seu turno, acreditava que o objetivo da vida era a eudemonia, um tipo de felicidade associada à conduta virtuosa e reflexão filosófica.

Pelo fato de não sabermos conceber plenamente a felicidade, ela aparece mesclada de diversos desejos. Uns imaginam encontrá-la na posse das riquezas, porque supõem que com o dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como tantas outras. Outros procuram encontrá-la nos prazeres sexuais, nas diversões, nos passeios. Outros ainda na glutonaria. Em realidade, estamos confundindo posse com felicidade, prazer com felicidade, desejo atendido com felicidade. A felicidade plena e verdadeira requer a atualização das virtualidades do ser espiritual.

A máxima do Eclesiastes, "A felicidade não é deste mundo", pode ser entendida de duas maneiras: 1) que há outros mundos mais evoluídos do que o Planeta Terra, onde a felicidade é mais plena; 2) que a felicidade não estando no mundo material, pode ser encontrada no mundo interior, como consequência do dever retamente cumprido.

Bibliografia Consultada

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

LAYARD, Richard. Felicidade: Lições de uma Nova Ciência. Tradução de Maria Clara de Biase W. Fernandes. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/06/felicidade.html)


Em Forma de Palestra

A Felicidade não é Deste Mundo

1. Introdução

O objetivo deste estudo é verificar por que Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz que a felicidade não é deste mundo. O que se entende por felicidade? Se a felicidade não é deste mundo, devemos esperar o desencarne para usufruí-la? Não é possível desfrutá-la já? Como proceder para buscar a paz de espírito? Eis algumas das muitas questões que poderíamos formular sobre o tema.

2. Conceito 

Felicidade – do latim felicitas que vem de Felix, ditoso, afortunado, feliz. Num sentido amplo é a ausência de todo o mal, e, vivência plena do bem. Em geral, um estado de satisfação devido à própria situação do mundo. Por essa relação com a situação, a noção de felicidade difere da de beatitude a qual é o ideal de uma satisfação independente da relação do homem com o mundo e por isso limitada à esfera contemplativa ou religiosa. O conceito de felicidade é humano e mundano. (Abbagnano, 1970)

Mundo – o Planeta Terra

(...) Cada mundo é um vasto anfiteatro composto de inúmeras arquibancadas, ocupadas por outras tantas séries de seres mais ou menos perfeitos. E, por sua vez, cada mundo não é mais do que uma arquibancada desse anfiteatro imenso, infinito, que se chama Universo. Nesses mundos, nascem, vivem, morrem seres que, pela sua relativa perfeição, correspondem à estância mais ou menos feliz que lhes é destinada. (Equipe da FEB, 1995)

3. A Felicidade no Tempo

Para Sócrates o "conhece-te a ti mesmo" é a chave para a conquista da felicidade. Para Platão a noção de felicidade é relativa à situação do homem no mundo, e aos deveres que aqui lhe cabem. Para Aristóteles a felicidade é mais acessível ao sábio que mais facilmente basta a si mesmo, mas é aquilo que, na realidade, devem tender todos os homens da cidade.

No âmbito do Velho Testamento, a felicidade centra-se na aquisição dos bens mais elementares como comer, beber e viver em família e no temor a Iahweh, que eqüivale à atitude religiosa do homem. Na dimensão do Novo Testamento, a felicidade está nas bem-aventuranças prometidas por Jesus.

Plotino (204-270) afirma que a felicidade do sábio não pode ser destruída nem pelas circunstâncias adversas nem pelas favoráveis. Santo Agostinho (354-430) entende a felicidade como o fim da sabedoria, a posse do verdadeiro absoluto, isto é, de Deus. Tomás de Aquino (1225-1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual". Kant (1724-1804) julga que a felicidade faz parte do bem supremo o qual é para o homem a síntese de virtude e felicidade. Bentham (1748-1832) e Stuart Mill ( 1773-1836) retomaram como fundamento de moral a fórmula de Beccaria: "A maior felicidade possível, no maior número de pessoas". (Abbagnano, 1970)

Este escorço histórico culmina com a nossa época atual em que os valores legítimos da verdadeira felicidade estão ameaçados pelo consumismo e globalização do mundo econômico. A globalização traz a padronização em termos mundiais, nem sempre factível com os hábitos culturais de determinados países. O consumismo faz com que o homem tenha necessidades imaginárias que mais atrapalham do que o auxiliam a realizar-se plenamente.

4. Problema da Felicidade

4.1. Bem Procurado por todos os Viventes 

A ausência de todo o mal e fruição de todo o bem é a aspiração que todo ser humano procura através de seus esforços e trabalhos. Ela é o pólo oculto que magnetiza o dinamismo humano. Toda ação humana, mesmo os gestos mais simples, são atravessados por esse magnetismo. Se este cessasse, o homem perderia o sentido de viver e seria prostrado pelo tédio. Assim, todo o homem tem na vida momentos de felicidade e gostaria que esses momentos nunca mais acabassem.

4.2. Os Caminhos Procurados 

Todos buscam a felicidade, porém por caminhos diferentes. Uns imaginam encontrá-la na posse das riquezas, porque supõem que com o dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como tantas outras. Outros procuram encontrá-la nos prazeres sexuais, nas diversões, nos passeios. Outros ainda na glutonaria. Há também os que anseiam pelo prestígio, enovelando-se nas lutas pelo poder. Observe que os Estatolatras (comunistas, socialistas, fascistas), colocam a felicidade na classe ou no Estado, ou na prosperidade econômica. Karl Marx, filósofo materialista, afirma que a felicidade do ser humano está presa aos proventos materiais advindos do trabalho. Confunde o termo felicidade com o bem-estar. O bem-estar é a posse de bens materiais, que dão mais conforto; a felicidade é mais ampla, porque envolve a realização do ser espiritual.

4.3. Paradoxo da Felicidade 

O fato mais confirmado pela experiência e pela sabedoria humana é este: a felicidade, no seu sentido pleno, é inatingível na Terra. O corriqueiro é que o ser humano, depois de muito lutar para conseguir um bem que almejava, já não está tão vigoroso para desfrutá-lo. Além disso, há que se considerar a decorrência do tempo na modificação de nossos ideais. Aí está o paradoxo: ela é sempre desejada e nunca realizável. No âmago deste paradoxo há algo positivo, ou seja, o começo de uma reflexão sobre o destino transcendental, meta-histórico do homem. É a partir daí que o homem começa a pensar numa vida futura, num mundo cheio de bem-aventuranças, de beatitudes. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

5. Situação do Planeta Terra 

5.1. Mundo de Provas e Expiações 

Os amigos espirituais informam-nos de que o nosso planeta não é um dos orbes mais evoluídos do Universo. Ele já esteve mais atrasado, pois já ultrapassou o estado primitivo. Na atualidade, estamos vivendo num mundo de provas e expiações em que o mal ainda predomina sobre o bem. Nesse sentido, por mais que busquemos a felicidade, nunca a encontraremos, pois ela não é deste mundo. Ela pertence a um mundo mais evoluído em que as ações voltadas para a fraternidade universal são a regra. De qualquer forma, devemos fazer esforços para evoluir, a fim de atingir a condição de habitar mundos melhores. Por enquanto, somos obrigados a conviver com toda a sorte de dificuldades.

5.2. O Necessário e o Supérfluo 

Como distinguir entre o necessário e o supérfluo? Não é tarefa fácil. Imagine alguém que tenha vivido, por longos anos, com uma renda monetária alta. Nessa condição, ele aprendeu a conviver com uma série de hábitos de consumo, que para ele se tornou imprescindível. Suponhamos agora que, por obra do destino, os ganhos desse indivíduo tenham diminuído drasticamente: ele se sentirá o mais desgraçado dos mortais, embora tenha o necessário para viver. Quer dizer, acabamos confundindo o necessário, aquilo que dá sustentação à nossa vida, com os aspectos psicológicos de nossa existência. Nesse mister, os grandes mestres da humanidade ensinam-nos que o homem cósmico terá sempre o que necessita, mas nem sempre o que deseja. Faltando-nos o supérfluo, lembremo-nos da frase consoladora do evangelho: "Tendo sustento e com o que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes".

5.3. Tanto o Rico quanto o Pobre Sofrem 

Como vimos anteriormente, o nosso planeta identifica-se com a categoria de mundo de provas e expiações. Assim, não há criatura na Terra que não tenha o seu quinhão de sofrimento. Deduz-se daí que tanto o rico como os pobres sofrem. Mas, o Espiritismo, doutrina que esclarece sobre a reencarnação e a pluralidade das existências, pode oferecer-nos valiosos subsídios para a compreensão da vida e dos seus diversos relacionamentos. Por que o pobre inveja o rico? Sabe ele que a prova da riqueza é mais difícil, para o Espírito, do que prova da pobreza? Se tivesse consciência dessa verdade, com certeza seria mais resignado.

6. Despojar-se do Homem Velho 

6.1. Sofremos Perseguições e Sarcasmos 

Quando o aprendiz do evangelho realmente persevera na sua trajetória rumo à verticalidade superior, começa a observar uma série de problemas que antes não vislumbrava: a solidão dentro e fora de si, o desprezo dos entes queridos e a incompreensão alheia. Para abrandar este estado de espírito, convém nos lembrarmos dos sofrimentos de Paulo, principalmente depois de ter aderido, no caminho de Damasco, ao chamamento de Cristo. De perseguidor passa a ser perseguido. Os seus familiares e amigos voltam-lhe as costas dizendo que ficara louco. É obrigado a se ausentar, recolhendo-se ao tear por 3 anos. Posteriormente, para tornar público o ensinamento do Evangelho, viu-se cercado por uma série de contratempos, que não havia previsto. Mesmo assim continuou na sua tarefa redentora. Baseado nesse exemplo, devemos ter coragem de expressar nossa fé, porque retroceder no meio do caminho é perder todas as vantagens já conquistadas. Jesus disse: "Todo aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu o reconhecerei e confessarei também, eu mesmo, diante de meu Pai que está nos céus; e todo aquele que me renegar diante dos homens, eu o renegarei também, eu mesmo, diante do meu Pai que está nos céus". (Mateus, X, 32 e 33). Quer dizer, há sempre fraqueza em recuar diante das consequências da opinião e em renegá-la, mas há casos de uma covardia tão grande quanto a de fugir no momento do combate.

6.2. Felicidade e Infelicidade Relativas 

Na condição de Espírito encarnado, deveríamos nos considerar como um usufrutuário de todos os bens dispostos por Deus, inclusive o nosso próprio corpo, pois, embora seja fruto da união do nosso pai e da nossa mãe terrestre, a essência que nele habita pertence ao Criador do Universo. Raciocinando dessa forma, o egoísmo deveria ser banido do nosso planeta, a fim de ceder o seu espaço à fraternidade.

Pergunta-se: será que podemos ser felizes ao lado de irmãos que não têm o necessário para o sustento físico? E por que esses são a maioria? É justamente devido à condição de nosso Planeta. Nesse sentido, nunca poderemos ter uma felicidade plena, a menos que não importemos com o nosso irmão menos aquinhoado. Quem pensa no irmão em dificuldade, dificilmente sentir-se-á feliz. É por isso que o justo é infeliz, pois lutando por uma distribuição mais justa tanto das riquezas materiais como espirituais, será sempre mal compreendido, além de ser desprezado, como o próprio Jesus e outros tantos missionários o foram.

Quais seriam, entretanto, as fontes de infelicidade? Perda de entes queridos, mortes prematuras, antipatias, ingratidão e doenças várias. Dentre elas, a ingratidão assume papel significante. Como, porém, enfrentar essa situação? Lembrando-nos de que a ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta encontrará mais tarde corações insensíveis como ele próprio o foi. Além do mais, a ingratidão é uma prova para persistência na prática do bem. Convém ter para com eles muita tolerância e paciência, assim como o Pai Celestial teve e está tendo para conosco.

6.3. A Boa Consciência Prepara uma Vida Futura Feliz 

"O que dá mais valor ao homem é um juízo sereno e uma firme capacidade de trabalho". Juízo sereno é sinônimo de pureza de consciência. Tendo esta em plenitude, não importa onde estivermos, estaremos sempre usufruindo a felicidade relativa de que somos merecedores. Os amigos espirituais não nos cansam de ensinar que a nossa felicidade será do tamanho da felicidade que proporcionarmos ao nosso próximo. Esforcemo-nos, então, para distribuir bom ânimo aos nossos companheiros de jornada. Esta é uma boa fórmula para prepararmos um desencarne tranquilo e, consequentemente, uma vida futura feliz.

7. Conclusão 

A máxima do Eclesiastes, "A felicidade não é deste mundo", pode ser entendida de duas maneiras: 1) que há outros mundos mais evoluídos do que o Planeta Terra, onde a felicidade é mais plena; 2) que a felicidade não estando no mundo material, pode ser encontrada no mundo interior, como consequência do dever retamente cumprido.

8. Bibliografia Consultada 

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

IDÍGORAS, J. L., Padre, S. j. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo, Edições Paulinas, 1983.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995. 


Notas do Blog

Felicidade e Espiritismo

Estamos constantemente procurando mais bens que possam satisfazer às nossas necessidades. A insaciabilidade humana é responsável pelo progresso material alcançado pela nossa sociedade. Há possibilidade de sermos felizes na busca do "mais"? Estamos confundindo felicidade com bem-estar? Que subsídios a doutrina espírita nos oferece para a compreensão desse tema? (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/felicidade-e-espiritismo.html)

Felicidade não é deste Mundo

Os amigos espirituais informam-nos de que o nosso planeta não é um dos orbes mais evoluídos do Universo. Ele já esteve mais atrasado, pois já ultrapassou o estado primitivo. Na atualidade, estamos vivendo num mundo de provas e expiações em que o mal ainda predomina sobre o bem. Nesse sentido, por mais que busquemos a felicidade, nunca a encontraremos, pois ela não é deste mundo. Ela pertence a um mundo mais evoluído em que as ações voltadas para a fraternidade universal são a regra.  (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2011/08/felicidade-nao-e-deste-mundo.html)

Bem-Aventurança

Bem-Aventurança – Grande felicidade, suprema ventura, especialmente a que se goza no céu. Para a teologia, são as oito bênçãos (beatitudes) com cuja exposição deu Cristo princípio ao Sermão da Montanha. A Bem-Aventurança é uma declaração de bênção com base em uma virtude ou na boa sorte. A fórmula se inicia com "bem-aventurado aquele..." Com Jesus toma a forma de um paradoxo: a bem-aventurança não é proclamada em virtude de uma boa sorte, mas exatamente em virtude de uma má sorte: pobreza, fome, dor, perseguição. As bem-aventuranças constituem uma mensagem divina aos homens de todas as raças e de todas as épocas, destinada a servir-lhes de roteiro, rumo à perfeição. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/06/bem-aventuranca.html)

Eudaimonia

Daimon é uma entidade sobrenatural, situada entre um deus (theos) e um herói. Ela não é boa nem má. Pode, entretanto, ser concebida no seu sentido positivo; nesse caso, torna-se um anjo da guarda. Daimon não era o espírito protetor de Sócrates, que o avisava quando algo não devia ser feito? Antepondo “eu” ao “daimon”, formaremos a palavra “eudaimon” que, literalmente, significa “bom demônio”. Traduzindo-a por "bom deus", "bom espírito", "bom anjo da guarda" e, por conseguinte, "felicidade", pois toda pessoa que tivesse um bom demônio era considerada feliz.  (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2013/09/eudaimonia.html)

Química da Felicidade

A felicidade requer tempo para meditação e reflexão. É aquele momento sagrado que todo o ser humano deveria reservar para si mesmo. Nesse mister, convém nos retirarmos do mundo exterior e debruçarmo-nos sobre o nosso interior. Seria como Santo Agostinho fazia todas as noites: repassava o dia para ver como fora em pensamentos, palavra e atos. Voltando para dentro de nós mesmos, podemos tomar consciência tanto de nossas fraquezas como de nossas potencialidades. É nesse clima de interioridade que podemos solicitar forças para suplantar as nossas limitações.  (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2006/09/qumica-da-felicidade.html)


Dicionário

Felicidade. Em geral, é um estado de satisfação devido à própria situação do mundo. Por esta relação com a situação do mundo, a noção de felicidade difere da de beatitude a qual é o ideal de uma satisfação independente da relação do homem com o mundo e por isso limitada à esfera contemplativa ou religiosa. O conceito de felicidade é humano e mundano. (1) 

Felicidade. No verbete eudemonismo, a felicidade se identifica com o supremo bem. A felicidade consiste na posse desse bem, qualquer que seja ele. 

Aristóteles declarou que a felicidade foi identificada com bens muito diversos: com a virtude, com a sabedoria prática, com a sabedoria filosófica, ou com todas elas, acompanhadas ou não por prazer, ou com a prosperidade (Eth. Nic., I, 8, 1098b 24-9). A conclusão de Aristóteles é complexa: as melhores atividades são identificáveis com a felicidade. Mas, como se trata de saber quais são essas "melhores atividades", o conceito de felicidade é vazio a menos que se refira aos bens que a produzem. De qualquer maneira, Aristóteles tende a identificar a felicidade com certas atividades de caráter ao mesmo tempo intelectual e moderado (ou, melhor, racional e moderado). Boécio também se deu conta da índole "composta" da felicidade; esta é "o estado em que todos os bens se encontram juntos". A felicidade, portanto, não tem sentido sem os bens que fazem feliz. Mas já a partir de Boécio, tendeu-se a distinguir várias classes de felicidade (beatitudo); pode-se falar de uma "felicidade animal" (que, propriamente não é felicidade, mas, no máximo, "felicidade aparente"), de uma "felicidade eterna" (que é a vida contemplativa), de uma "felicidade final" ou "última" ou "perfeita", que é o que se chamaria de "beatitude". Santo Agostinho falou da felicidade como o fim da sabedoria; a felicidade é a posse do verdadeiro absoluto e, em última análise, a posse (fruitio) de Deus. Todas as demais felicidades são subordinadas a ela. Assim também João Boaventura, para a qual a felicidade é o ponto final da consumação do itinerário que leva a alma a Deus. A felicidade não é então nem voluptuosidade nem poder, mas conhecimento, amor e posse de Deus. Santo Tomás utilizou o termo beatitudo como equivalente ao vocábulo felicitas e o definiu (S. Theol., I, q. LXVII a1) como "um bem perfeito de natureza intelectual". A felicidade não é simplesmente um estado de alma, mas algo que a alma recebe de fora, pois, caso contrário, a felicidade não estaria ligada a um bem verdadeiro. 

Embora os autores modernos tenham tratado da felicidade de uma forma distante da dos filósofos antigos e medievais, há algo comum a todos eles: a felicidade nunca é apresentada como um bem em si mesmo, já que para saber o que é felicidade deve-se conhecer o bem ou os bens que a produzem. 

A maior parte das obras sobre problemas éticos e sobre a questão da natureza da bem trata da noção da felicidade. (2)

(1) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(2) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.


Pensamentos

"Não há maus papeis para bons atores." (Balzac) 

"Quem vive contente com nada, possui todas as coisas." (Boialeau)

"Às vezes acontece de nos sentirmos felizes por um minuto. Não se deixem levar pelo pânico: é uma questão de segundos e depois passa." (G. Bufalino)

"Renda anual de vinte libras, despesa anual de dezenove libras, dezenove xelins e seis pence, resultado: felicidade. Renda anual de vinte libras, despesa anual de vinte libras e seis pence, resultado: desespero." (Charles Dickens)

"A maior felicidade que um homem pode possuir é a de ver, sem inveja, a felicidade alheia." (Bossuet)

"Encher as horas: é nisto que consiste a felicidade; encher as horas sem deixar frestas por onde possa entrar o arrependimento ou a reprovação." (Ralph Waldo Emerson) 

"Nossa felicidade tem o tamanho da felicidade que fazemos aos demais." (Espírito Emmanuel)

"Apenas quem terminou sua vida sem sofrimento / pode considerar-se feliz." (Ésquilo)

"Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia." (Mahatma Gandhi) 

"Não existe / felicidade perfeita." (Horácio)

"Se és feliz e não sabes, tens nas mãos o maior bem entre os mais terrenos." (Raul de Leoni) 

"Nada é melhor para a felicidade do que trocar preocupações por ocupações." (Maurice Maerterlinck) 

"O homem feliz pode zangar-se durante um quarto de hora, pode chorar por meia hora, pode até praguejar por um minuto, mas, fora desses quarenta e seis minutos sacrificados à fraqueza humana, nas outras vinte e três horas e catorze minutos é sempre paciente, sempre benévolo, sempre disposto a dar aos outros alguma coisa do que lhe pertence." (Paolo Mantegaza)

"O homem verdadeira e sabiamente feliz procura para seus companheiros não os homens felizes, mas os infelizes; porque o diminuir por pouquíssimo que seja o patrimônio doloroso da família humana, constitui grande parte da sua felicidade." (Paolo Mantegaza) 

"Perguntai a vós mesmos se sois felizes e deixareis de sê-lo." (J. S. Mill)

"A verdadeira aventura é não tentar ser feliz." (Álvaro Moreira)

"Não se deve acreditar que é possível ser feliz procurando a infelicidade alheia." (Sêneca)

"Não chamamos feliz a quem vai subindo, por mais alto que esteja, senão a quem parou em parte segura, podendo subir mais." (Joaquim Setanti)

"Não é feliz quem não se acredita como tal." (Públio Siro)

"Não há dever que subestimemos mais do que o dever de ser feliz." (R. L Stevenson)

"A felicidade é como a saúde: se não sentes a falta dela, significa que ela existe." (I. S. Turgenev) 

"Queres ser feliz? Aprende primeiro a sofrer." (I. S. Turgenev)


Mensagem Espírita

Aceita a Correção

“E, na verdade, toda correção, no presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” — Paulo. (Hebreus, 12:11.)

A terra, sob a pressão do arado, rasga-se e dilacera-se; no entanto, a breve tempo, de suas leiras retificadas brotam flores e frutos deliciosos.

A árvore, em regime de poda, perde vastas reservas de seiva, desnutrindo-se e afeando-se; todavia, em semanas rápidas, cobre-se de nova robustez, habilitando-se à beleza e à fartura.

A água humilde abandona o aconchego da fonte, sofre os impositivos do movimento, alcança o grande rio e, depois, partilha a grandeza do mar.

Qual ocorre na esfera simples da Natureza, acontece no reino complexo da alma.

A corrigenda é sempre rude, desagradável, amargurosa; mas, naqueles que lhe aceitam a luz, resulta sempre em frutos abençoados de experiência, conhecimento, compreensão e justiça.

A terra, a árvore e a água suportam-na, através de constrangimento, mas o Homem, campeão da inteligência no Planeta, é livre para recebê-la e ambientá-la no próprio coração.

O problema da felicidade pessoal, por isso mesmo, nunca será resolvido pela fuga ao processo reparador.

Exterioriza-se a correção celeste em todos os ângulos da Terra.

Raros, contudo, lhe aceitam a bênção, porque semelhante dádiva, na maior parte das vezes, não chega envolvida em arminho e, quando levada aos lábios, não se assemelha a saboroso confeito. Surge, revestida de acúleos ou misturada de fel, à guisa de remédio curativo e salutar.

Não percas, portanto, a tua preciosa oportunidade de aperfeiçoamento.

A dor e o obstáculo, o trabalho e a luta são recursos de sublimação que nos compete aproveitar. (XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, capítulo 6)

Contentar-se 

“Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho.” — Paulo. (FILIPENSES, capítulo 4, versículo 11.)

A vertigem da posse avassala a maioria das criaturas na Terra.

A vida simples, condição da felicidade relativa que o planeta pode oferecer, foi esquecida pela generalidade dos homens. Esmagadora percentagem das súplicas terrestres não consegue avançar além do seu acanhado âmbito de origem.

Pedem-se a Deus absurdos estranhos. Raras pessoas se contentam com o material recebido para a solução de suas necessidades, raríssimas pedem apenas o “pão de cada dia”, como símbolo das aquisições indispensáveis.

O homem incoerente não procura saber se possui o menos para a vida eterna, porque está sempre ansioso pelo mais nas possibilidades transitórias. Geralmente, permanece absorvido pelos interesses perecíveis, insaciado, inquieto, sob o tormento angustioso da desmedida ambição. Na corrida louca para o imediatismo, esquece a oportunidade que lhe pertence, abandona o material que lhe foi concedido para a evolução própria e atira-se a aventuras de consequências imprevisíveis, em face do seu futuro infinito.

Se já compreendes tuas responsabilidades com o Cristo, examina a  essência de teus desejos mais íntimos. Lembra-te de que Paulo de Tarso, o apóstolo chamado por Jesus para a disseminação da verdade divina, entre os homens, foi obrigado a aprender a contentar-se com o que possuía, penetrando o caminho de disciplinas acerbas.

Estarás, acaso, esperando que alguém realize semelhante aprendizado por ti? (XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, capítulo 29)