Agostinho e o Espiritismo
Agostinho (354-430 d.C.), natural de Tagaste, norte da África, foi bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia) durante trinta e quatro anos, onde escreveu, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Para ele, filosofia e teologia estavam ligadas de maneira indissociável. Suas principais obras foram Confissões e A Cidade de Deus, obras que continuam sendo lidas até hoje.
Em Confissões, procura mostrar pelo seu exemplo o que pode a graça para os mais desesperados dos pecadores. Com admirável franqueza e contrição confessa os desregramentos de sua mocidade (teve inclusive um filho bastardo, Adeodato), sempre atribuindo a si mesmo as tendências perversas e a Deus os progressos de seu espírito para o bem. Foi um homem em permanente batalha contra as suas próprias emoções e fraquezas. Discute também questões acerca do tempo e a presença do mal no mundo.
Em A Cidade de Deus, discute a vontade humana, as relações entre teologia e razão e a divisão da história entre as duas cidades – dos homens e de Deus. O pensamento político. contido em A Cidade de Deus, forja-se no encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana e a das Escrituras judaico-cristãs. Da Antiguidade grega Agostinho retém as ideias de Platão (República e Leis). Traça, assim, os planos de uma cidade ideal, a Cidade de Deus, em contrapartida com a da cidade terrestre, em que predomina a guerra, a injustiça, o egoísmo etc. Para ele, a verdadeira administração de uma cidade deve estar baseada na justiça, e esta por sua vez na caridade, ensinada por Cristo.
Recebeu de Platão e dos neoplatônicos a distinção entre o mundo imperfeito e transitório das coisas materiais, acessado por meio dos sentidos, e o mundo perfeito e eteno, acessado por meio do intelecto. Assim, baseando-se na filosofia socrático-platônica, santo Agostinho busca a verdade necessária, imutável e eterna, não nas coisas materiais, que estão sempre em transição, mas em Deus, pois somente Deus é a verdade.
A explicação de Agostinho sobre o mal do mundo. Para ele, a culpa está no pecado original. O divino está dentro de nós, mas foi maculado por aquilo que aconteceu no Jardim do Éden. O remédio está na graça divina. Os escolhidos por Deus estavam predestinados a serem salvos da maldição eterna.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontram-se algumas comunicações deste insigne Espírito. São elas: Os Mundos de Expiações e de Provas, Mundos Regeneradores e Progressão dos Mundos (Cap. 3, 13 a 19), O Mal e o Remédio (Cap. 4, 19), O Duelo (Cap. 12, 11 e 12), A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família (Cap. 14, 9) e Alegria da Prece (Cap. 27, 23). Em O Livro dos Médiuns há anotações Sobre o Espiritismo (Cap. 31, 1) e Sobre as Sociedades Espíritas (Cap. 31, 16).
O Espírito Erasto, discípulo de São Paulo, comenta sobre as comunicações de santo Agostinho: 1) Santo Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte; 2) Como muitos, ele também foi arrancado do paganismo; 3) Em meio de seus excessos, sentiu o alerta dos Espíritos superiores: a felicidade se encontra alhures e não nos prazeres imediatos; 4) Depois de ter perdido a sua mãe, disse: “Eu estou persuadido de que minha mãe voltará a me visitar e me dar conselhos, revelando-me o que nos espera a vida futura”; 5) Hoje, vendo chegada a hora para a divulgação da verdade que ele havia pressentido outrora, se fez dela o ardente propagador, e se multiplica, por assim dizer, para responder a todos aqueles que o chamam. (Kardec, 1984, cap. 1, item 11, p. 41)
Há, também, uma nota de Allan Kardec: Santo Agostinho veio destruir aquilo que edificou? Não. Ele agora vê com os olhos do espírito; sua alma liberta da matéria entrevê novos horizontes, que lhe propiciam compreender o que não compreendia antes. Sobre a Terra, julgava as coisas segundo os conhecimentos que possuía, mas, quando uma nova luz se fez para ele, pode julgá-las mais judiciosamente. “Foi assim que mudou de ideia sobre sua crença concernente aos Espíritos íncubos e súcubos e sobre o anátema que havia lançado contra a teoria dos antípodas”. Com uma nova luz pode, sem renegar a sua fé, fazer-se propagador do Espiritismo, porque nele vê o cumprimento das coisas preditas. Proclamando-o, hoje, não faz senão nos conduzir a uma interpretação mais sã e mais lógica dos textos. (Kardec, 1984, cap. 1, p. 42)
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2020/09/agostinho-e-o-espiritismo.html)
Santo Agostinho
Santo Agostinho (354-430 d.C.), filho de Patrício e Mônica, nasceu em Tagaste, norte da África. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago. Em 375, começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo. Em 386, sob a influência de Ambrósio, torna-se cristão e, em 391, é ordenado, mesmo contra a sua vontade, bispo de Hipona. Exerceu esse mandato por mais de 30 anos. Morreu em Hipona, aos 76 anos, durante cerco da cidade pelos vândalos.
Santo Agostinho deixou-nos muitas obras. A Cidade de Deus e Confissões são as mais importantes. Na Cidade de Deus discute o problema do bem e do mal e as relações entre o mundo material e o mundo espiritual. Na cidade dos homens, o egoísmo humano leva os governos à guerra e às mortes; na cidade de Deus, as relações são governadas pela justiça e caridade, tendo-se paz e harmonia. Em Confissões, faz uma autobiografia: conta em detalhes o drama de um pecador, principalmente na época em que era pagão.
Santo Agostinho, na época da Patrística, procurou relacionar a fé, vinda da revelação, com a razão, vinda da filosofia grega. Até então havia muita dúvida, pois alguns pais da Igreja afirmavam que a fé estava acima da razão. Para ele não há contradição entre fé e razão, pois Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo há várias comunicações mediúnicas, ditadas por Santo Agostinho. Pergunta-se: essas comunicações são genuinamente espíritas ou trazem um ranço do catolicismo? Pelo fato de exercer muitos anos o bispado, não há um automatismo dos conceitos religiosos? A princípio, poderíamos dizer que sim. Mas, lendo uma nota de Allan Kardec, mudamos de ideia. Ele nos diz que o Espírito, desprovido do corpo físico, faz uma melhor avaliação do que seja a verdade. Pode penetrá-la mais facilmente do que se estivesse no corpo físico.
A caminhada espiritual de Santo Agostinho assemelha-se à trajetória de Paulo, quando uma intensa luz o cega no caminho de Damasco. A partir desse momento, opera-se uma mudança radical em sua existência: de perseguidor dos cristãos passa a ser perseguido. O mesmo acontece com Santo Agostinho: tomando consciência de que vida é muito mais do que a existência física, lança-se com todo o vigor do seu Espírito na obtenção da felicidade, que não é fruto dos prazeres da matéria, mas, sim, dos gozos do Espírito imortal.
Aprendamos com os exemplos dos grandes homens. Eles podem ser um excelente incentivo para a nossa mudança de atitude. Basta apenas que nos disponhamos a sair do nosso comodismo. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/santo-agostinho.html)
Santo Agostinho de Hipona
Dai-me castidade e continência, mas não agora." (Confissões)
Santo Agostinho de Hipona (354-430) é filho de mãe cristã e de pai pagão. Quando jovem, ensinava retórica em Cartago. Nessa época, teve um filho com a amante e se envolveu com o maniqueísmo, um sistema de crenças religiosas centradas na luta entre o bem e o mal. Posteriormente, aderiu ao ceticismo e ao neoplatonismo. Em 387, em Milão, Agostinho se converteu ao cristianismo. Batizado no ano seguinte, ordenou-se padre em 391, e em 396 tornou-se bispo de Hipona.
Para Agostinho, a filosofia e a teologia eram indissociáveis. Depois de sua conversão ao cristianismo, as suas crenças anteriores deixam de ter relevância. Adepto de Platão, distingue o mundo imperfeito das formas materiais, acessado pelos sentidos, do mundo perfeito e eterno, acessado pelo intelecto. Em seu raciocínio, Deus é a unidade absoluta, donde tudo o mais jorra. Deus, na realidade, é o ponto fixo que unifica tudo dentro de uma hierarquia eterna e racional.
Santo Agostinho, um dos maiores pensadores da Patrística, valeu-se da filosofia de Platão. No século V – principalmente em Alexandria – havia a ideia da eternidade da alma, extraída da "Teoria das Formas ou das Ideias", que aparece no Livro VI de A República, de Platão. E estas, segundo o platonismo, traziam a lembrança de uma vida anterior sem o corpo (isso não concorda com o dado de fé). Mas havia também a dúvida filosófica sobre a preexistência das almas.
Agostinho foi um escritor prolífico. Confissões (400) e A Cidade de Deus (426) são as mais citadas. O livro Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae) foi escrito em 388, na cidade de Roma. Trata-se de um diálogo entre o professor Agostinho e o aluno Evódio, ambos batizados quase ao mesmo tempo por Santo Ambrósio. A conversa entre os dois mostra a confiança que Santo Agostinho depositou em seu aluno Evódio que, na época, era ainda incipiente na arte de argumentar.
Sobre a Potencialidade da Alma é uma tentativa de Santo Agostinho responder às cinco perguntas formuladas por Evódio: De onde se origina a alma? O que ela é (qualis sit)? Como ela é (quanta sit)? Como se une ao corpo? Como procede unida ao corpo, e quando separada dele? Ao longo das perguntas e respostas, Santo Agostinho vai paulatinamente construindo um vasto conhecimento sobre a relação entre a alma e a matéria.
O método socrático agostiniano é demorado. Há uma argumentação lenta e detalhada sobre a alma e a sua ligação com o corpo físico. A demora se justificava porque pretendia que o seu aluno Evódio pudesse absorver profundamente o conhecimento veiculado. Para Santo Agostinho, o melhor método é aquele que obriga o aluno a pensar com a própria cabeça. Por isso, o excessivo rigor para com Evódio. Não perdia nenhuma ocasião de repreendê-lo, pois queria que este estivesse sempre compenetrado de si mesmo.
Fonte de Consulta
AGOSTINHO, Santo. Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae). Tradução de Aloysio Jansen de Faria. 2.ed., Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
LEVENE, Lesley. Filosofia para Ocupados: dos Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora Fleck. Rio de Janeiro: LeYa, 2019. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2020/02/santo-agostinho-de-hipona.html)
Agostinho e o Espiritismo
1. Introdução
Quem foi Santo Agostinho? O que nos deixou quando esteve encarnado? Qual a sua importância na codificação da Doutrina Espírita? As suas comunicações têm algum ranço do catolicismo? Para melhor conhecer esse Espírito, anotaremos os seus dados biográficos, os livros que publicou e as comunicações mediúnicas arroladas nas obras espíritas.
2. Dados Biográficos
Agostinho (354-430 d.C.) nasceu em Tagaste, norte da África, quando o Império Romano estava sendo destruído pelas invasões bárbaras. Seu Pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, posteriormente Santa Mônica, era cristã. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago, mas em 375 começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo e tornou-se professor de retórica em Roma, em 383. De Roma, foi para Milão, onde se viu tomado pelo carisma do bispo cristão Ambrósio. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo, mas depois de longa e dolorosa luta tornou-se cristão em 386, recebendo o batismo de Ambrósio na Páscoa de 387. Sua intenção era levar uma vida “monástica”, mas em 391 foi ordenado, contra a sua vontade, bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Foi bispo durante trinta e quatro anos, tempo em que escreveu copiosamente, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Aos 76 anos de idade, foi morto Hipona, durante cerco da cidade pelos vândalos. (Raeper, 1997, p. 25)
3. As Duas Principais Obras Deixadas por Santo Agostinho
3.1. Confissões
As Confissões de Santo agostinho, iniciada em 391 e concluída em 400, é uma obra fascinante. São treze livros, dos quais 9 autobiografados e 4 teologais. Nela se apresenta como o Filho Pródigo e a Ovelha Perdida do Evangelho de Lucas – perdido e depois encontrado, tal como o apóstolo Paulo.
Procura mostrar pelo seu exemplo o que pode a graça para os mais desesperados dos pecadores. Com admirável franqueza e contrição confessa os desregramentos de sua mocidade (teve inclusive um filho bastardo, Adeodato), sempre atribuindo a si mesmo as tendências perversas e a Deus os progressos de seu espírito para o bem. Foi um homem em permanente batalha contra as suas próprias emoções e fraquezas.
Discute também questões acerca do tempo e a presença do mal no mundo.
3.2. A Cidade de Deus
Os principais temas são: a vontade humana, as relações entre teologia e razão e divisão da história entre as duas cidades – dos homens e de Deus.
O pensamento político contido na Cidade de Deus forja-se no encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana e a das Escrituras judaico-cristãs. Da Antiguidade grega Agostinho retém as ideias de Platão (República e Leis). Traça, assim, os planos de uma cidade ideal, a Cidade de Deus, em contrapartida com a da cidade terrestre, em que predomina a guerra, a injustiça, o egoísmo etc. Para ele, a verdadeira administração de uma cidade deve estar baseada na justiça, e esta por sua vez na caridade, ensinada por Cristo.
4. Origens do Pensamento de Santo Agostinho
Santo Agostinho usou a filosofia a serviço da teologia, adotando as ideias platônicas e neoplatônicas e as moldando de acordo com a sua visão de mundo. Da mesma forma que Platão, acreditava que a alma habitava um corpo. Dizia: “O homem é uma alma racional habitando um corpo mortal”.
Em relação ao platonismo, o posicionamento de Santo Agostinho não é meramente passivo, pois o reinterpreta para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo, convencido de que a verdade entrevista por Platão é a mesma que se manifesta plenamente na revelação cristã. Assim, apresenta uma nova versão da teoria das ideias, modificando-a em sentido cristão, para explicar a criação do mundo. Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia. (Rezende, 1996, p. 77 e 78).
5. Fé, Razão e Revelação
Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução – o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.
6. Santo Agostinho e o Espiritismo
6.1. Instruções Mediúnicas dadas por Santo Agostinho
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontra-se algumas comunicações deste insigne Espírito. São elas: Os Mundos de Expiações e de Provas, Mundos Regeneradores e Progressão dos Mundos (Cap. 3, 13 a 19), O Mal e o Remédio (Cap. 4, 19), O Duelo (Cap. 12, 11 e 12), A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família (Cap. 14, 9) e Alegria da Prece (Cap. 27, 23).
Em O Livro dos Médiuns há anotações Sobre o Espiritismo (Cap. 31, 1) e Sobre as Sociedades Espíritas (Cap. 31, 16).
6.2. O Ponto de Vista do Espírito Erasto
O Espírito Erasto, discípulo de São Paulo, em uma de suas comunicações enfatiza:
1) Santo Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte.
2) Como muitos, ele também foi arrancado do paganismo.
3) Em meio de seus excessos, sentiu o alerta dos Espíritos superiores: a felicidade se encontra alhures e não nos prazeres imediatos.
4) Depois de ter perdido a sua mãe, disse: “Eu estou persuadido de que minha mãe voltará a me visitar e me dar conselhos, revelando-me o que nos espera a vida futura”.
5) Hoje, vendo chegada a hora para a divulgação da verdade que ele havia pressentido outrora, se fez dela o ardente propagador, e se multiplica, por assim dizer, para responder a todos aqueles que o chamam. (Kardec, 1984, cap. 1, item 11, p. 41)
6.3. Nota de Allan Kardec
Santo agostinho veio destruir aquilo que edificou? Não. Ele agora vê com os olhos do espírito; sua alma liberta da matéria entrevê novos horizontes, que lhe propiciam compreender o que não compreendia antes. Sobre a Terra, julgava as coisas segundo os conhecimentos que possuía, mas, quando uma nova luz se fez para ele, pode julgá-las mais judiciosamente. “Foi assim que mudou de idéia sobre sua crença concernente aos Espíritos íncubos e súcubos e sobre o anátema que havia lançado contra a teoria dos antípodas”. Com uma nova luz pode, sem renegar a sua fé, fazer-se propagador do Espiritismo, porque nele vê o cumprimento das coisas preditas. Proclamando-o, hoje, não faz senão nos conduzir a uma interpretação mais sã e mais lógica dos textos. (Kardec, 1984, cap. 1, p. 42)
7. Conclusão
A reflexão sobre a vida deste filósofo e religioso da época patrística nos revela que o progresso espiritual é uma constante. Será que o Espírito estaria pensando da mesma maneira, depois da sua experiência como católico? Não seria mais racional crer que ele tenha sido bafejado pelas luzes da verdade?
8. Vocabulário
Antípoda – Habitante que, em relação a outro do globo, se encontra em lugar diametralmente oposto.
Cícero (106-43)– Brilhante orador e político romano que se inspirava no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista etc.
Íncubo – Demônio masculino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
Maniqueísmo – Seita persa que afirmava ser o Universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre si. doutrina que reduz a realidade à oposição irredutível de dois princípios contraditórios, o Bem e o Mal, aos quais correspondem as realidades espirituais e materiais.
Neoplatonismo – Movimento filosófico do período greco-romano desenvolvido por pensadores inspirados em Platão. Entre os neoplatônicos, citam-se Plotino (205-270), Proclo (411-485). O neoplatonismo se espalhou por diversas cidades do Império Romano, sendo marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Patrística – Dá-se ao nome de patrística à fase de fundamentação e da fixação dos dogmas cristãos. Essa grande obra foi realizada pelos primeiros padres da Igreja, nos primeiros séculos da era cristã. Eles buscavam estabelecer e explicar a doutrina cristã, mostrando que ela era perfeitamente digna de ser aceita pelas autoridades romanas e pelo povo em geral.
Súcubo - Demônio feminino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com um homem, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
9. Bibliografia Consultada
RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Idéias: Religião e Filosofia no Presente e no Passado. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Loyola, 1997.
REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
Santo Agostinho e Comunicação Mediúnica
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo há várias comunicações mediúnicas, ditadas por Santo Agostinho. Pergunta-se: essas comunicações são genuinamente espíritas ou trazem um ranço do catolicismo? Pelo fato de exercer muitos anos o bispado, não há um automatismo dos conceitos religiosos? A princípio, poderíamos dizer que sim. Mas, lendo uma nota de Allan Kardec, mudamos de ideia. Ele nos diz que o Espírito, desprovido do corpo físico, faz uma melhor avaliação do que seja a verdade. Pode penetrá-la mais facilmente do que se estivesse no corpo físico. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2006/09/santo-agostinho-e-comunicao-medinica.html)
Mensagens de Santo Agostinho
Entre suas inúmeras dissertações, há uma que nos chama a atenção: Os Dois Voltaires. Ele permite que o próprio Espírito Voltaire venha dar a sua manifestação. Nessa oportunidade, Voltaire faz uma síntese do erro cometido em sua última encarnação. Diz que tinha a missão de levar a palavra de Deus, mas estimulado pela glória de ver o seu nome estampado nos anais da filosofia terrena, deixou-se guiar por essa fama, esquecendo-se de sua tarefa evangélica. Os Dois Voltaires representa o que foi no século XVIII e o que é agora, com a revelação de novas ideias. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/mensagens-de-santo-agostinho.html)
Evangelho
Que são os Evangelhos sinóticos? Por que Santo Agostinho usou a frase "concordância discorde"? Sinótico. Do grego synóptikos "percebido com uma só olhada". São os Evangelhos Segundo Marcos, Mateus e Lucas. Os três seguem uma mesma linha de raciocínio. Contudo, há diversidade entre eles. Cada evangelista tem um material próprio não transmitido por outros. Mateus tem cerca de 330 versículos exclusivamente seus; Marcos, 30; Lucas, 548. Algumas vezes não seguem a mesma ordem na disposição cronológica dos fatos. Sobre essas discrepâncias, Santo Agostinho fala de "concordância discorde" e atribuía a causa à influência recíproca, à personalidade própria de cada escritor, e à orientação da inspiração de Deus. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/06/evangelho.html)
O Método Socrático-Agostiniano
O método utilizado por Santo Agostinho é o mesmo de Sócrates, ou seja, de perguntas e respostas. Sua intenção é desenvolver a capacidade intelectual de Evódio. Em uma dessas conversas, Santo Agostinho diz a Evódio: "Não seja escravo da autoridade alheia, principalmente a minha que não vale nada. Oriente-se pela racionalidade, jamais pelo medo". Para exemplificar o conteúdo doutrinal dessa frase, ele cita o poeta Horácio, que diz: "Atreva-se a saber". Em outras palavras, ele incentiva o aluno a não ficar preso à autoridade alheia, mas à autoridade da razão. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/07/o-mtodo-socrtico-agostiniano.html)
Os Expoentes da Codificação: Santo Agostinho
As palavras que mais aparecem em seus escritos são amor e caridade. Por vezes, desenvolvendo uma ideia interrompe seu raciocínio para deixar escapar gritos de amor a Deus: “Ó Senhor, amo-Te. Tu estremeceste meu coração com a palavra e fizeste nascer o amor por Ti. Tarde Te amei, ó Beleza tão amiga e tão nova, tarde Te amei… Tocaste-me, e ardo de desejo de alcançar a Tua paz.”
Duas vezes por semana falava na Igreja da Paz. Certa vez, discorrendo a respeito de São João se entusiasmou de tal forma que pregou durante cinco dias consecutivos, sempre aplaudido.
Mas, dizia: “Vossos louvores são folhas de árvores; gostaria de ver os frutos.” Tal era a admiração que tinham por Agostinho, que chegaram a acreditar que ele fosse capaz de produzir curas e lhe levavam doentes.
“Se eu tivesse poder para curar”, dizia, “curaria a mim mesmo”.
A doença que o tomou durou poucos dias. Percebendo que se avizinhava a morte, pediu que o deixassem a sós, para orar. (https://espirito.org.br/artigos/expoentes-da-codificacao-santo-agostinho/)
Obra - O filósofo e teólogo Santo Agostinho foi um pensador cristão muito fértil. Sua filosofia nasceu de sua concepção entre a razão e a fé com bases na figura de Cristo, formulando, assim, suas teses fundamentais: "Do conceito de Deus e da Criação do Mundo", "Natureza do Mal", "Do Livre-arbítrio", "Teoria da Predestinação" etc.. Para defender o pensamento do Cristo, o promoveu intensamente através de sua obra, quase toda resultante do ferrenho combate aos adversários do Cristianismo da época, com cerca de 500 sermões, 300 cartas e 113 trabalhos, destacando-se: "Tratado da Graça", "Solilóquios", "Cuidado devido aos mortos" etc..
Cidade de Deus é obra-prima de Santo Agostinho, que ficaria conhecida como a "Doutrina das Duas Cidades." Nela, a Cidade de Deus é fundada no amor e na caridade e a Cidade Terrena (Estado) é fundada no egoísmo. Contém 22 livros, destacando-se um dos trechos mais significativos: "À medida em que o homem persiste nos erros construirá a Cidade Terrena, porém, se brilhar o caminho do bem construirá dentro de si a Cidade de Deus. No final dos tempos, a Cidade de Deus triunfará para a eternidade."
Comunicações mediúnicas - Poucos escritores antigos ficaram conhecidos como Santo Agostinho. Traduzindo a superioridade de seu Espírito, suas Doutrinas contribuíram poderosamente para o alicerce do pensamento cristão, superioridade que se consolidaria passados 1.500 anos da sua desencarnação. Entre os Espíritos responsáveis para trazer a mensagem da Terceira Revelação ao mundo, no século 19, sem dúvida Santo Agostinho se destacou como um dos mais importantes, não só pelo número de suas comunicações na Codificação Kardequiana (cerca de 34 comunicações), mas principalmente pelo seu conteúdo e significado.
Santo Agostinho foi uma das primeiras criaturas a comentar o Sermão do Monte, incluído pelo Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, em grande parte do O Evangelho Segundo o Espiritismo. Enfatizou questões sobre os pobres de espírito (humildes), o significado da porta estreita, a importância da oração, da casa sobre a rocha e da trave no olho. Abordou o polêmico tema sobre a morte à luz da Terceira Revelação e temas atuais como anjos guardiães e a missão dos Bons Espíritos.
Conhece-te a ti mesmo - Em sua famosa resposta na questão 919 de O Livro dos Espíritos, Santo Agostinho recomenda a prece e o auto-conhecimento: "Fazei o que eu fazia quando vivia na Terra: ao fim do dia interrogava a minha consciência. Passava em revista o que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma (...)." (http://www.acasadoespiritismo.com.br/artigos/santo%20agostinho.htm)
Livro 1
Agostinho nasceu no norte do Egito. Embora desde muito aclamado (ou ridicularizado) como pai da filosofia e da teologia ocidentais, ele não era ocidental, mas africano.
Agostinho era incrivelmente estudioso e filosófico, debruçando-se sobre os principais temas filosóficos de seu tempo. Agostinho, por fim, ouviu os ensinamentos cristãos de Ambrósio de Milão, um pensador que deixou em Agostinho profunda impressão do ponto de vista intelectual. Uma vez, ele rezou "dai-me castidade e continência, mas não ainda".
As Confissões não é um livro de viagem; é tudo menos instantâneo. Não foi escrito para o próprio benefício de Agostinho ou para alavancar sua carreira. Ele descreveu eventos que revelam a presença e o poder de Deus em sua vida. A confissão detalhada do pecado é o tema permanente do livro, que é uma oração embebida em filosofia.
Agostinho não considerava o pecado uma coleção de erros incidentais ou acidentais, mas uma condição do coração que afeta toda a pessoa. O pecado era uma orientação errada (orgulho) que conduzia a um comportamento errado contra Deus e os humanos. Achava que a essência do comportamento pecaminoso era a idolatria. (GROOTHUIS, Douglas. Filosofia em Sete Sentenças: Uma Pequena Introdução a um Vasto Tópico. Tradução Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, 2019. )
Livro 2
Aeterna veritas, verdade eterna. A expressão aeterna veritas, "verdade eterna", encontra-se pela primeira vez em De natura deorum de Cícero, em que ela designa o fatum. Mas, quando se fala das "verdades eternas", faz-se geralmente referência a santo Agostinho. Ora, contrariamente à ideia recebida, o teólogo de Hipona jamais empregou do mesmo modo a expressão aeternae veritates; apenas o singular, aeterna veritas, e para significar a Verdade hipostasiada em Deus. Por outro lado, para designar o que na época de Descartes eram chamadas "verdades eternas", ou seja, as proposições necessárias, transcendentes no pensamento, que são o princípio de todo conhecimento, por exemplo, 7 + 3 = 10, santo Agostinho empregava fórmulas como verae atque incommutabiles regulae "regras verdadeiras e imutáveis". (FONTANIER, Jean-Michel. Vocabulário Latino de Filosofia. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2007. )
Livro 3
Agostinho (354-430) queria desesperadamente conhecer a verdade. Como cristão, acreditava em Deus. Mas sua crença deixou muitas perguntas sem resposta. O que Deus queria que ele fizesse? Como deveria viver? No que deveria acreditar? Ele passou a maior parte da sua vida pensando e escrevendo sobre essas questões.
No período medieval, aproximadamente do século V ao século XV, a filosofia e a religião estiveram intimamente ligadas. Os filósofos medievais estudaram os filósofos gregos antigos, como Platão e Aristóteles, mas adaptaram suas ideias, aplicando-as a suas próprias religiões.
Agostinho concentrou-se no mal moral. Percebeu que a ideia de um Deus que sabe do acontecimento desse tipo de mal e não faz nada para evitá-lo é difícil de entender. Ele não se satisfazia com a ideia de que Deus age de maneira misteriosa, que está além da compreensão humana. (Capítulo 6 — Somos marionetes de quem? (Santo Agostinho) de WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Tradução de Rogério Bettoni. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. (Coleção L&PM POCKET)
Livro 4
Agostinho foi um escritor prolífico. em que filosofia e teologia eram indissociáveis. Depois de sua conversão ao cristianismo, as suas crenças anteriores deixam de ter relevância. Adepto de Platão, distingue o mundo imperfeito das formas materiais, acessado pelos sentidos, do mundo perfeito e eterno, acessado pelo intelecto. Em seu raciocínio, Deus é a unidade absoluta, donde tudo o mais jorra. Deus, na realidade, é o ponto fixo que unifica tudo dentro de uma hierarquia eterna e racional. (LEVENE, Lesley. Filosofia para Ocupados: dos Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora Fleck. Rio de Janeiro: LeYa, 2019.)
Livro 5
A oração de Santo Agostinho "Deus, noverim te ut noverim me" (conheça eu a ti para que me conheça a mim) resume, numa concisão lapidar, esta grande verdade: quem conhece a Deus conhece a si mesmo, porque o seu verdadeiro Eu é Deus nele. (ROHDEN, Huberto. O Espírito da Filosofia Oriental. 3. ed., São Paulo: Martin Claret, 2013. (Coleção a obra-prima de cada autor, 286) )
Livro 6
As propriedades matemáticas e religiosas desses números perfeitos também foram incorporadas pelos comentaristas cristãos. Santo Agostinho (354-430) escreveu em seu famoso texto Cidade de Deus: “Seis é um número perfeito por si só, e não porque Deus criou todas as coisas em seis dias; com efeito, o contrário é verdade: Deus criou todas as coisas em seis dias porque o número é perfeito.”
O poder da matemática foi reconhecido por santo Agostinho, que advertiu: “Cuidado com os matemáticos e com todos aqueles que fazem profecias vazias. Já existe o perigo de que os matemáticos tenham feito uma aliança com o diabo para obscurecer o espírito e confinar o homem às amarras do inferno.” (SAUTOY, Marcus du. Os Mistérios dos Números: uma Viagem pelos Grandes Enigmas da Matemática.Tradução George Schlesinger. Rio de Janeiro: Zahar. )
Livro 7
Santo Agostinho, que foi um neoplatônico, recorreu aos conceitos aristotélicos de potência e ato para perceber a relação entre criação e evolução; para Santo Agostinho, a criação teve um momento único no qual Deus criou o universo com todas as suas possibilidades, de modo que a evolução é o processo de atualização de potencialidades já postas no momento único da criação. Se nos pusermos de acordo com Agostinho e com o relato bíblico da criação, veremos que, no momento único da Criação Deus — puro Espírito — não poderia criar o homem à sua imagem e semelhança dotando-o só de corpo e psique. (MORAIS, Regis de. Stress Existencial e Sentido da Vida. São Paulo: Loyola, 1997.)
Livro 8
Nos primeiros anos do século V, no momento em que Roma cai nas mãos dos bárbaros de Alarico (410), santo Agostinho, um dos maiores pensadores de todos os tempos, ainda não havia concluído sua vasta obra filosófica, teológica e exegética. O declínio e extinção do Império Romano contrastam com o pensamento agostiniano, que aponta para uma nova época.
O mérito de santo Agostinho consiste na viva incorporação que faz do platonismo e na criação de um pensamento próprio e original, de raiz mística, que permitirá à igreja enfrentar a "noite escura" que aconteceu na Europa a partir do século V com as sucessivas invasões bárbaras. (Temática Barsa — Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005 [Capítulo 3 — "O Advento do Cristianismo"])
Livro 9
"O que tornou Adão capaz de obedecer as ordens de Deus também o tornou capaz de pecar." (Santo Agostinho)
Agostinho tinha interesse particular sobre a questão do mal. Se Deus é inteiramente bom e todo-poderoso, por que há o mal no mundo? Para cristãos como Agostinho, assim como para adeptos do judaísmo e do islamismo, esse era, e ainda é, um problema central. Isso ocorre porque transforma um fato óbvio sobre o mundo — que ele contém o mal — em argumento contra a existência de Deus.
Agostinho foi capaz de responder a um aspecto do problema facilmente. Ele defendia que, embora tenha criado tudo o que existe, Deus não criou o mal porque o mal não é algo, mas a falta ou a deficiência de algo. Por exemplo, o mal padecido por um homem cego é a ausência de visão; o mal em um ladrão, é a falta de honestidade. Agostinho tomou emprestado esse modo de pensar de Platão e seus seguidores.
Liberdade essencial
Mas Agostinho precisava explicar por que Deus teria criado o mundo de tal maneira e permitir que existissem tais males ou deficiências naturais e morais. Sua resposta girou em torno da ideia de que os humanos são seres racionais. Ele argumentou que, para que Deus criasse criaturas racionais, como seres humanos, tinha que lhes dar livre-arbítrio. Ter livre-arbítrio significa ser capaz de escolher inclusive escolher entre o bem e o mal. Por essa razão, Deus teve de deixar aberta a possibilidade de que o primeiro homem, Adão, escolhesse o mal em vez do bem. De acordo com a Bíblia, isso é o que aconteceu. Visto que Adão desobedeceu a ordem de Deus para não comer a fruta da Árvore do Conhecimento.
O argumento de Agostinho se sustenta mesmo sem se referir à Bíblia. A racionalidade é a capacidade de avaliar as escolhas por meio do processo do raciocínio. O processo é possível onde há liberdade de escolha, inclusive a liberdade de se escolher o errado.
Agostinho também sugeriu uma terceira solução para o problema, convidando-nos a ver o mundo como algo belo. Ele dizia que, embora o mal no universo, este contribui para o bem total, que é maior do que poderia existir sem o mal — exatamente como a dissonância na música pode tornar uma harmonia mais agradável ou fragmentos escuros contribuem para a beleza de um quadro. (O Livro da Filosofia. Tradução Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011. )
Agostinho (354-430 d.C.) nasceu em Tagaste, norte da África, quando o Império Romano estava sendo destruído pelas invasões bárbaras. Seu Pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, posteriormente Santa Mônica, era cristã. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago, mas em 375 começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo e tornou-se professor de retórica em Roma, em 383. De Roma, foi para Milão, onde se viu tomado pelo carisma do bispo cristão Ambrósio. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo, mas depois de longa e dolorosa luta tornou-se cristão em 386, recebendo o batismo de Ambrósio na Páscoa de 387. Sua intenção era levar uma vida “monástica”, mas em 391 foi ordenado, contra a sua vontade, bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Foi bispo durante trinta e quatro anos, tempo em que escreveu copiosamente, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Aos 76 anos de idade, foi morto em Hipona, durante cerco da cidade pelos vândalos. (1)
Agostinho foi um escritor prolífico, e suas principais obras, Confissões e A Cidade de Deus, continuam sendo lidas até hoje. Para ele, filosofia e teologia estavam ligadas de maneira indissociável.
De Platão e dos neoplatônicos, Agostinho pegou a ideia de que há uma distinção entre o mundo imperfeito e transitório das coisas materiais, acessado por meio dos sentidos, e o mundo perfeito e eterno, acessado por meio do intelecto: a cidade dos Homens versus a cidade de Deus. Para Agostinho, Deus é a unidade absoluta, fonte primária de tudo o que vem depois. Problema: como explicar o mal em um mundo divinamente ordenado? A abordagem maniqueísta, dualista, não fornecia resposta, porque Deus é unidade. Em vez disso, a culpa estaria no pecado original. O divino está dentro de nós, mas acabou maculado por conta do que aconteceu no Jardim do Éden. Porém há um remédio bem à mão: a graça divina. Os eleitos - escolhidos por Deus - estavam predestinados a serem salvos da maldição eterna.
Fundamentalmente, a fé surgiu antes para Agostinho como ponto de partida para a busca pela sabedoria. Ao treinar para ser professor, ele deixou de ensinar retórica para ensinar cristianismo, usando sua própria vida como exemplo e aplicando uma rigorosa capacidade mental a uma ampla gama de aspectos doutrinais que, a seu ver, careciam de esclarecimento. (2)
Os humanos são seres racionais.
Para que sejam racionais, os humanos devem ter livre-arbítrio.
Isso significa que devem ser capazes de escolher entre o bem e o mal.
Os humanos podem, portanto, agir bem ou mal.
Deus não é a origem do mal. (3)
Santo Agostinho . Nos primeiros anos do século V, no momento em que Roma cai nas mãos dos bárbaros de Alarico (410), santo Agostinho, um dos maiores pensadores de todos os tempos, ainda não havia concluído sua vasta obra filosófica, teológica e exegética. O declínio e extinção do Império Romano contrastam com o pensamento agostiniano, que aponta para uma nova época.
O mérito de santo Agostinho consiste na viva incorporação que faz do platonismo e na criação de um pensamento próprio e original, de raiz mística, que permitirá à igreja enfrentar a "noite escura" que aconteceu na Europa a partir do século V com as sucessivas invasões bárbaras.
A iluminação agostiniana. De acordo com a exigência socrático-platônica, santo Agostinho busca a verdade necessária, imutável e eterna, que não pode ser facilitada pelos objetos sensíveis, que sempre estão mudando, e aparecem e desaparecem. Também a alma é contingente e mutável. Somente Deus é a verdade.
Encontra-se Deus no interior da alma. Nela se realiza a descoberta de "verdades, regras ou razões eternas" que nos permitem deliberar sobre as coisas sensíveis. Mas, como essas verdades não podem nascer da alma, que é mutável, só podem se explicar por iluminação divina. Como saberíamos, não fosse a iluminação divina, o que é justo e o que é injusto? Se o sabemos é porque daquela verdade se "copia" toda lei justa. (4)
(1) RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Idéias: Religião e Filosofia no Presente e no Passado. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Loyola, 1997, p. 25
(2) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
(3) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.
(4) Temática Barsa - Filosofia.
"Deus não é a origem do mal." (Santo Agostinho)
"Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser." (Santo Agostinho)
"Orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios." (Santo Agostinho)
"A confissão das más ações é o primeiro passo para a prática de boas ações." (Santo Agostinho)
"O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros." (Santo Agostinho)
"Por que perambulas assim, homem, buscando muitas coisas? Busca uma apenas na qual estão as demais, e deixarás de perambular." (Santo Agostinho)
"As lágrimas são o sangue da alma." (Santo Agostinho)
"O orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande mas não é sadio." (Santo Agostinho)
"Ninguém faz bem o que faz contra a vontade, mesmo que seja bom o que faz." (Santo Agostinho)
"Ainda não nos esquecemos totalmente o que nos lembramos de ter esquecido. Não poderíamos buscar uma lembrança perdida se a tivéssemos esquecido por completo." (Santo Agostinho, Confissões)
"O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres." (Santo Agostinho)
"Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem." (Santo Agostinho)
"O tempo não passa de uma distensão. Mas uma distensão do que, não sei com exatidão, provavelmente da própria alma." (Agostinho, Santo, Confissões)
"Se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue." (Santo Agostinho)
"No devido tempo chegareis a colher o que semeastes." (Santo Agostinho)
A Morte não é Nada
A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo.
Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.
Santo Agostinho
(https://www.mensagemespirita.com.br/md/santo-agostinho/a-morte-nao-e-nada)