Idade Medieval: Capítulo XVII, de "A Caminho da Luz"
Este tema é um resumo do capítulo XVII — “Idade Medieval”, do livro A Caminho da Luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
O clima religioso do século VI não era de otimismo. Os religiosos, em vez de herdarem a humildade de Jesus, dedicaram-se à vida suntuosa, às honrarias e prerrogativas dos imperadores. Contudo, no meio desse pantanal de ambições, surgem os beneditinos, que pacientemente conduziram grande número de coletividades dos povos considerados bárbaros, principalmente os germanos, para o seio generoso das ideias do Cristianismo.
Valor histórico do Império Bizantino. Também conhecido como Império Romano do Oriente, foi uma potência marcante na história mundial, existindo por mais de mil anos (de 395 d.C. a 1453 d.C.) e exercendo profunda influência em diversos aspectos da civilização ocidental e oriental. O Império Bizantino era o depositário da legislação e dos costumes romanos. Um poderoso sopro de latinidade vitaliza as suas instituições.
Missão de Maomé. Nascido em Meca, em 570, tinha a missão de reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos ambientes da Europa.
Falha de Maomé. Tornando-se rico, esquece sua tarefa e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra. Dotado de grande mediunidade, cede aos apelos das Trevas, e deixa-se contaminar pelo espírito belicoso. O islamismo, surgiu para corrigir os desvios do Papado nascente, mas falhou nesse intento, permitindo mais uma vitória das Trevas contra a Luz.
Consequências da falha de Maomé: guerras do Islã. Maomé, pelas recordações que trazia à Terra, vulgarizou a palavra “infiel”, aplicando a expressão aos sacerdotes transviados do Cristianismo. Depois de seu desencarne, toda Arábia estava submetida à sua doutrina pela força da espada. Seus continuadores iniciaram, assim, no exterior, as guerras santas.
Missão de Carlos Magno. Num reinado de 46 anos consecutivos, intensificou a cultura, corrigiu defeitos administrativos que imperavam entre os povos desorganizados da Europa, deixando as mais belas perspectivas para a latinidade.
O funcionamento do feudalismo, que se estendeu do século VIII ao século XII. Toda a unidade política desaparece nesses tempos de luzidas lembranças para a Humanidade. A propriedade individual jamais alcançou tamanha importância e nunca a servidão moral ganhou tão forte impulso.
As razões do feudalismo. “A missão de Carlos Magno houvera sido organizada pelo plano invisível como uma das mais vastas tentativas de reorganização do império do Ocidente, mas, observando-se a inutilidade do tentame, em virtude do endurecimento da maioria dos corações, as autoridades espirituais, sob a égide do Cristo, renovaram os processos educativos do mundo europeu, então no início da civilização atual, chamando todos os homens para a vida do campo, a fim de aprenderem melhor, no trato da terra e no contato da Natureza”. (https://sbgespiritismo.blogspot.com/2024/06/idade-medieval.html)
Um teólogo no século XIII tinha assim três tarefas: ser leitor, ou seja, participar de cursos onde a lectio era a forma privilegiada de ensino; disputar, ou seja, assistir ou ser participante ativo em disputas públicas (disputatio) segundo regras bem definidas; e realizar sermões (praedicatio). Em um texto clássico, Pierre de Chantre compara essas três atividades dos teólogos à construção de um edifício: a lectio corresponderia à fundação, a disputatio, às paredes e a praedicatio, ao teto que protege do calor e das tempestades de vícios.
O conjunto de métodos de investigação, de discussão e de ensino típicos da universidade medieval forma o que tradicionalmente se chama de “escolástica”. Conhecer a escolástica latina é, portanto, reconhecer os principais métodos empregados no período, suas funções específicas e os ideais que eles representam. É decifrar os gêneros retóricos e literários pelos quais os medievais se expressavam.
A lectio reflete o quanto o ensino da filosofia medieval era dependente de livros. Normalmente, uma lectio observava a seguinte ordem:
(1) leitura em voz alta de um a seção de um texto;
(2) apresentação da estrutura do texto, evidenciando sua divisão e colocando em destaque certas frases que mereceriam comentário detalhado;
(3) exposição de cada uma das partes com maior ênfase naquelas passagens com maiores dificuldades;
(4) discussão em detalhe, normalmente seguindo a forma de uma quaestio, de frases ou dificuldades previamente selecionadas.
Normalmente, uma disputatio começava com o mestre propondo um tema, por exemplo, “Se o mundo é eterno”. Seguia-se a apresentação de teses sustentando uma certa posição, por exemplo: “De acordo com os ensinamentos dos filósofos, o tempo foi criado juntamente com o mundo. Logo, nunca houve um momento do tempo no qual o mundo não existia. Logo, o mundo é eterno.” Em seguida, entrava em cena um oponente (opponens) encarregado de apresentar objeções à tese proposta. Por exemplo: “O argumento acima confunde as noções de eternidade, propriedade específica e exclusiva de Deus, ser absolutamente imóvel e atemporal, e a noção de infinito temporal. Portanto, mesmo sendo infinito do ponto de vista temporal, o mundo não é eterno.” Surgia então o respondedor (respondens), cuja função era opor contra-objeções à medida que o opponens apresenta suas objeções. O próprio opponens podia replicar e receber tréplicas, sendo o resultado uma verdadeira discussão entre as partes com o intuito de testar o rigor das teses defendidas. É preciso salientar que a função do opponens não era atacar o mestre, nem a do respondens defendê-lo. Os dois personagens constituíam antes uma equipe dialética cujo propósito era o de colocar em prática o método do Sim e não (Sic et non, método preconizado por Abelardo) com vistas a uma melhor compreensão das implicações e das nuanças de um problema. Uma vez compreendidos os diversos matizes do problema, o mestre voltaria à cena fornecendo, de maneira argumentada, a solução (determinatio).
Os gêneros literários. A quaestio, a lectio e as disputationes são formas orais de exposição e de debates de ideias. Elas receberam uma expressão escrita responsável pela preservação do que nos resta da produção escolástica. Assim, as quaestiones quodlibetales são, em princípio, a transcrição das disputas dirigidas por um mestre e reunidas por temas ou por gênero. Frequentemente, um ou mais ouvintes transcreviam tanto as disputas quanto a solução fornecida pelo mestre no dia seguinte. O conjunto era publicado com o nome de reportatio, tendo obviamente um grau de fidelidade não muito confiável. Quando o mestre as corrigia, utilizando suas próprias anotações para suprir algumas passagens, o resultado ganhava o nome de ordinatio.
A partir do século XII, aparece uma forma de expressão literária sob a forma de manuais ou resumos de temas teológicos chamados sententiae, summa ou mesmo summa sententiarum. Esses resumos, que de início eram formados basicamente por citações de autoridades, vão progressivamente incorporar opiniões de mestres contemporâneos mediante a introdução de questões (quaestiones) suscitadas pelo conflito de interpretações.
A Suma de teologia de Tomás de Aquino é um exemplo característico do uso do método da quaestio e de um certo distanciamento das autoridades praticado pela escolástica. Concebida por seu autor como um resumo de temas teológicos que evitaria a multiplicação excessiva de argumentos e que analisaria apenas os pontos essenciais de acordo com a ordem da disciplina, a Suma de teologia produz um resumo claro, ordenado e progressivo dos conteúdos doutrinais e de suas demonstrações. Tomás adota espontaneamente a forma dialética cuja origem, já vimos, remonta à dialética aristotélica. A diferença reside, contudo, na falta de um interlocutor real, efeito mesmo do modo de expressão.
A Suma de teologia é composta de três partes, a segunda subdividida em duas, e estruturada em questões e artigos. Cada artigo é introduzido por uma interrogação dialética, iniciada por um “se” (utrum). Por exemplo: “Se a existência de Deus pode ser demonstrada”. Os dois lados da alternativa são apresentados por meio de citações bíblicas e de autoridades, argumentos filosóficos, noções comuns etc. A primeira série de argumentos apresenta normalmente a alternativa negativa e é introduzida por um “parece” (videtur): “Parece que a existência de Deus não pode ser demonstrada”. Vem após um “mas em contrário” (sed contra), geralmente mais breve, que serve de contrapeso à discussão e anuncia a linha a ser seguida pelo autor. Vem então a solução, anunciada por um “eu respondo” (respondeo), e que inicia pela retomada do problema, prossegue com a introdução de distinções e termina com a conclusão do autor. O artigo acaba com uma série (introduzida por um dicendum) na qual ou se refutam as opiniões opostas, ou se tenta uma solução de compromisso entre as partes.
O gênero literário da suma conheceu um grande sucesso, não se limitando de forma alguma à teologia. No entanto, esse gênero nunca chegou a ser hegemônico. Na verdade, os medievais jamais abandonavam completamente um método antigo após adquirir um novo. Ocorria muito mais um acúmulo de métodos e mesmo um cruzamento entre eles. É assim, por exemplo, que muitos comentários vão alternar a atenção à letra de um texto com questões dialéticas sobre o tema, como ocorre, por exemplo, no “comentário” que Tomás de Aquino faz do Da trindade de Boécio. A razão para isto é simples: a escolha do método a ser praticado depende também das intenções do autor. (In: Filosofia Medieval, de Alfredo Storck. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
Por que na Alta Idade Média pessoas mentalmente sãs, pertencentes sobretudo à nobreza, subiram em seus cavalos para participar das cruzadas? Por que então se arriscar? Uma questão relacionada ao sistema de incentivo. Se voltassem vivos, podiam ficar com os despojos de guerra. Se morressem, iriam automaticamente como mártires para o além — com todos os benefícios que o status de mártir prometia. Só se tinha a ganhar.
O império carolíngio
A dinastia carolíngia conseguiu realizar algo que nenhum outro reino germânico havia conseguido desde o desaparecimento do Império Romano no Ocidente: reunir uma vasta extensão de territórios com vista à formação de um grande estado e cristalizar os ideais de restauração do antigo Império Romano. O processo iniciou-se no século VII com Pepino o Breve (752-768), e atingiu seu ápice no ano 800, com a coroação de seu filho, Carlos Magno, como imperador.
Carlos Magno
Carlos Magno não sabia escrever, mas tinha consciência da necessidade e da importância da escrita e da educação para a manutenção de seus estados, o que o levou a cercar-se dos mais importantes sábios da época. Sua política em relação à Igreja não era de submissão, e sim de aliança. Assim, como imperador, agiu como o protetor de Roma, favorecendo-a e defendendo-a, e acabou por tomar partido nas questões de legislação eclesiástica e teológicas.
A queda do império
Vários fatores contribuíram para o rápido desaparecimento do império carolíngio, entre os quais a ausência de uma noção de estado superior, uma vez que os reis o consideravam um patrimônio familiar. O próprio Carlos Magno previu a partilha entre seus filhos e somente a morte dos irmãos de Ludovico Pio (814-840) possibilitou a sobrevivência do império.
Além disso, a partir de 850, a Europa sofreu uma segunda onda de invasões: pelo norte, os escandinavos —e, entre eles, os viquingues; pelo leste, os húngaros; e pelo sul, os muçulmanos. Essas invasões contribuíram para aumentar a insegurança da população, e como resultado os monarcas encarregaram os nobres da defesa de seu território, a quem pagaram com terras, estabelecendo assim as bases do futuro feudalismo.
O feudalismo
A sociedade europeia decorrente das transformações do século XI era muito diferente da anterior ao ano 1 000. A crise das estruturas herdadas da Antiguidade romana deu origem ao surgimento do sistema social e político hoje conhecido como “feudalismo”. A instauração do senhorio banal, que conferia poder praticamente ilimitado aos senhores locais, afetou todos os níveis das relações humanas, pois intervinha nos processos produtivos, monopolizava os excedentes de produção, controlava a moagem dos grãos e conserto de ferramentas, determinava os padrões de assentamento das populações de acordo com as necessidades dos poderosos etc. o estrato mais baixo das sociedade — os camponeses transformados em servos — ficou sujeito a novos vínculos de dependência. Novos laços, inseridos na nova instituição feudal, regulamentavam os diferentes graus de nobreza e de acesso à riqueza.
A instauração do sistema feudal
O conceito de sistema feudal agrupa dois níveis de análises diferentes que apresentam divergências e geram debates entre os historiadores. Em primeiro lugar, o feudalismo, tomado no sentido amplo, consiste num conjunto de relações de produção e de dependência que aos poucos se estabeleceram entre os senhores e seus súditos. Em segundo lugar, no sentido mais estrito, compreende o conjunto de relações feudais originadas no seio da classe dominante.
O senhorio banal
Na nova ordem, a pequena produção camponesa era a base da economia, e o confisco de parte de suas colheitas e gado consistia no mecanismo que permitiu o estabelecimento de uma complexa rede de relações sociais inexistentes antes do século XI.
O controle de produção
A intervenção no processo de produção agropecuário foi um dos aspectos mais relevantes do senhorio banal.
Em primeiro lugar, o surgimento do feudalismo pressupõe a generalização da chamada “trilogia mediterrânea” (cereais, videiras e oliveiras), inclusive nas áreas menos adequadas para o seu cultivo.
Em segundo lugar, o estabelecimento do senhorio banal restringiu amplamente o acesso dos camponeses aos bosques e áreas de pastagem.
Feudos, vassalos e servos
A nova sociedade criou seu próprio sistema de relações pessoais e de vínculos de dependência. Cada senhor realizava uma série de pactos feudais com pessoas de sua confiança. Esses indivíduos, denominados “feudatários”, obedeciam ao seu senhor e eram designados como seus vassalos numa cerimônia de honra. Nela, se comprometiam a servi-lo, especialmente na guerra, por meio de um juramento de fidelidade. O senhor concedia aos vassalos sua proteção e um bem em usufruto, ou feudo, que podia consistir em terras, rendas ou direitos diversos para seu sustento econômico.
Instituição de servidão real ou ligado à terra, pela qual o camponês era obrigado a pagar um resgate para romper o vínculo que o unia ao senhor e poder deixar o feudo. As sucessivas crises agrárias dos séculos XIV e XV agravaram a situação do campesinato e provocaram a sua rebelião.
O arcabouço teórico do feudalismo
Uma nova ideologia foi configurando do século XI. A igreja era responsável pela criação dos mecanismos de justificativa para a estratificação social feudal.
Em primeiro lugar, a configuração da sociedade em três ordens, estabelecida por monges francos ainda no século X, era perfeitamente adequada aos objetivos das classes dirigentes. Postulava uma imposição divina de separação rígida de direitos e deveres entre os que guerreavam (os belatores), os que rezavam (os oratores) e os que trabalhavam (os laboratores). Essa classificação social fundamenta-se numa suposta explicação sobrenatural e ameaçava com a ira divina aquele que ousasse contradizê-la.
Em segundo lugar, a exaltação do ideal cavalheiresco pretendia atenuar os desequilíbrios entre as antigas linhagens autocráticas e os grupos de guerreiros que acabavam de ascender ao grau de nobres. O cavaleiro cristão (miles Christi) chegava a ser, após um processo árduo de aprendizagem, o teórico defensor dos pobres e desvalidos, protegia a igreja de seus inimigos e demonstrava um respeito absoluto pela ordem vigente. A busca de glória militar, própria de cada cavaleiro, era canalizada pela igreja para a luta contra o infiel, popularizada pelas canções de gesta.
Em terceiro lugar, o rei ou o príncipe situava-se no topo da teórica pirâmide feudal. A graça divina havia encarregada a ele e a seus sucessores de velar pela paz social. Aqueles que se opusessem ao seu governo estariam definitivamente combatendo o estado natural das coisas e a garantia máxima de equilíbrio. (Temática Barsa - História)