Dogmatismo

Perguntas e Respostas

1) O que é o dogma?

Dogma – do grego dokein – significa opinião certa, decreto, axioma.

2) O que se entende por dogmatismo?

Dogmatismo é a atitude do espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dogmas, ou seja, de verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão.

3) Como está posto o dogma da Santíssima Trindade?

Segundo este dogma, há três pessoas em Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. São distintas, iguais, e por consequência coeternas, isto é, igualmente eternas e consubstanciadas numa só e indivisível natureza.

4) Como situar o comportamento dogmático?

Parte-se sempre de uma “tese geral”, que nunca é posta em dúvida, e é exatamente por esta razão que pode ser denominada de dogmática.

5) O que a “tese geral” acarreta?

Esta "tese geral" produz segurança, porque não se lhe abre a perspectiva de problematizar. Por isso, a explosão da fé, em que basta apenas crer, sem saber muito porque se crê.

6) Que lição podemos tirar do Mito da Caverna de Platão?

Nesse mito, o homem é obrigado a busca a luz (conhecimento), que gera dor e risco.

7) Como adquirir a postura de um comportamento não dogmático?

Pode ser espontânea, quando as circunstâncias o obrigam, ou o ser humano procura por si mesmo um novo paradigma para a realidade em que está inserido.

8) O Espiritismo é dogmático?

Os princípios espíritas não são dogmáticos, mas os espíritas podem fazê-los dogmáticos.

9) Cite alguns exemplos de atitudes dogmáticas dentro do Espiritismo.

O médium não deve comer carne no dia do trabalho.

Estudo somente os livros da codificação.

Leio somente romances espíritas.

(Reunião de setembro de 2023)

 https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/dogmatismo


Texto Curto no Blog

Dogmatismo

Dogmatismo - atitude do espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dogmas, ou seja, verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão. Entre os gregos era a posição filosófica que se opunha ao ceticismo (exame, investigação).

A religião católica estabelece seus dogmas emprestando-lhes um caráter divino e infalível. Discutidos nos Concílios Ecumênicos, tornam-se regras obrigatórias a todos os membros da comunidade. Não importa se a razão não consegue entender já que é um princípio aceito pela fé e seu fundamento é a revelação divina. Citam-se, a título de exemplo: o Dogma da Santíssima Trindade, aprovado no Concílio de Nicéia (325) e complementado no Concílio de Constantinopla (381) e o Dogma da Infalibilidade Papal, no Concílio Vaticano I (1869/1870)

Os dogmas católicos, aliados à dificuldade de elaborarmos o nosso pensamento de forma lógica e racional, propiciam o surgimento do "comportamento" cognominado "dogmático". Por "comportamento dogmático", entende-se a crença nos conhecimentos herdados de nossos antepassados, as nossas atitudes voltadas para o fazer técnico e as nossas ações cristalizadas na tradição. Isso mantém-nos acomodados à nossa aparente segurança interior. Temos de romper essa estrutura do pensamento.

O "comportamento não dogmático", centrado nas atitudes críticas, é a ruptura do modelo anterior. Como o homem passa do estado pré-crítico ao crítico? O que caracteriza essa mudança? Podemos vê-la sob dois ângulos: 1.º) mudança espontânea, pelo fato das crenças tradicionais se chocarem com as antagônicas e o indivíduo ser obrigado a fazer nova escolha; 2.º) mudança provocada, pelo fato do indivíduo procurar conscientemente um novo paradigma para a realidade em que está inserido.

Nossa vivência, na maioria das vezes, é apoiada nas crenças dogmáticas. Entrar no Espiritismo não significa dizer que nos despojamos de todos os nossos automatismos formados ao longo de inúmeras existências. Na veiculação da ideia espírita, observamos a transferência dessas imagens, dando-se a impressão de que o Espiritismo é dogmático. Lembremo-nos de que é um erro de nossa interpretação e não expressão verdadeira dos princípios codificados por Allan Kardec. Para ilustrar, citamos alguns fatos: "o mentor falou, temos de atender"; "só leio romances espíritas"; "para mim só Kardec e nada mais".

"O Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma", diz J. Herculano Pires. Reconheçamos que devemos despender esforços para penetrar no âmago de suas questões. Somente assim conseguiremos aprender os fundamentos da doutrina, evitar o preconceito e descobrir a verdade que nos liberta.

Fonte de Consulta

BORNHEIM, G. A. Introdução ao Filosofar - O Pensamento Filosófico em Bases Existenciais. 7. Ed., Rio de Janeiro, Globo, 1986. GOMES, L. C. Antologia Filosófica. ________, Livros Horizontes, 1983. 


Em Forma de Palestra

Dogmatismo

1. Introdução

O dogmatismo está presente em muitos atos de nossa vida. Nosso propósito é refletir sobre o significado e a ocorrência do comportamento dogmático, a fim de nos afastarmos do erro, e conduzirmos o nosso pensamento para uma atitude crítica da realidade em que estivermos inseridos.

2. Conceito

Dogma – do grego dokein – significa opinião certa, decreto, axioma.

Dogma (religião) – É ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa. No Cristianismo, chamam-se dogmas as verdades reveladas, propostas pela suprema autoridade da Igreja como artigos de fé, que devem ser aceitos por todos os seus membros. (Santos, 1965)

Dogma (pejorativamente) – Chamam-se dogmas todas e quaisquer afirmações que apenas expressam opinião, sem os necessários fundamentos, mas que são proclamados como verdades indiscutíveis. (Santos, 1965)

Dogmatismo – Atitude do espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dogmas, ou seja, de verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão. (Legrand, 1982). Entre os gregos era a posição filosófica que se opunha ao ceticismo (exame, dúvida).

Dogmática – Parte da teologia que tem por objeto a exposição dos dogmas.

3. Dogmas da Religião Católica

O Concílio Ecumênico, Assembleia de Bispos e principais dignitários da Igreja, sob a presidência papal, tem por objeto a formulação dos artigos de fé e moral (dogmas) com o caráter de infalibilidade. O Dogma da Infalibilidade Papal, o Dogma da Imaculada Conceição, o Dogma das Penas Eternas, o Dogma do Pecado Original etc. são alguns desses dogmas.

Dentre tais dogmas, o Dogma da Santíssima Trindade merece destaque especial.  Segundo este dogma, há três pessoas em Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. São distintas, iguais, e por consequência coeternas, isto é, igualmente eternas e consubstanciadas numa só e indivisível natureza. Cada uma destas três pessoas é realmente Deus. O Pai não tem princípio; o Filho é originado pelo Pai desde toda a eternidade; procede assim dele por geração, ou, como se dizia outrora, por gênese; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de um só princípio. Entre estas três pessoas existe ordem de origem, mas não há nem subordinação nem dependência, nem prioridade de tempo ou de excelência. A palavra Trindade não se encontra no Novo Testamento, nem nos escritos dos padres apostólicos. Contudo, segundo os teólogos, o mistério estava arraigado na primitiva comunidade cristã, “como o demonstra a fórmula do Batismo”. Mais tarde, para combater a doutrina de Ário, que impugnava a divindade de Cristo, a Igreja declarou a consubstancialidade do Pai e do Filho no Concílio de Nicéia (325) e a divindade do Espírito Santo no Concílio de Constantinopla (381). (EDIPE, 1987)

Observação: não importa se a razão não consegue entender já que é um princípio aceito pela fé – e seu fundamento é a revelação divina.

4. Comportamento Dogmático

Bornheim, em Introdução ao Filosofar, estuda o comportamento dogmático. Quer saber como o homem passa de um estado pré-crítico para uma atitude crítica. O problema do autor consiste em analisar o que Husserl chama de “postura natural”, isto é, a concepção da realidade própria a este viver natural, metafisicamente ingênuo, desprovido de um sentido mais profundo de problematização. Husserl chama esta compreensão implícita do mundo de Generalthesis, de “tese geral”.

Dentro da postura dogmática esta “tese geral” nunca é posta em dúvida, e é exatamente por esta razão que pode ser denominada de dogmática. Nesse sentido, todas as atividades humanas, com exceção da filosófica, partem de uma tese geral, que deve ser aceita como premissa. Podemos pôr em dúvida alguns aspectos desta “tese geral” mas não a tese em si. De acordo com Husserl, mesmo a atividade científica, seja da natureza ou do espírito, se processa dentro do horizonte fundamentalmente ingênuo e dogmático da tese geral. O cientista pode duvidar de um ou outro ponto de sua ciência, contudo nunca põe em dúvida a totalidade do real, razão pela qual nenhuma ciência pode, com os seus próprios meios, justificar-se como ciência, e no momento em que o fizer assume uma tarefa própria da filosofia.  

Esta tese geral gera segurança, porque não se lhe abre a perspectiva de problematizar. Por isso, a explosão da fé, em que basta apenas crer, sem saber muito porque se crê. É esta crença que torna o homem dogmático, esquecido de que terá de edificar a sua própria existência. Essa mesma crença gera também o preconceito e a falsa aparência da realidade. (1986, cap. III).

5. Filosofia da Negação

Como abandona o homem a postura dogmática para assumir a filosófica? Como passa de uma posição não crítica para uma atitude crítica?

O Mito da Caverna de Platão auxilia a nossa explicação. Nesse mito, Platão coloca alguns homens voltados para o fundo da caverna, de modo que só podem ver as suas próprias sombras. Eles estão como que acorrentados. Esse mundo das sombras seria o comportamento dogmático, ou seja, o mundo da aparente segurança, pois nada além daquilo pode vir a perturbar os pensamentos do ser humano. Acontece que por forças das circunstâncias, o homem é obrigado a buscar a luz (conhecimento). Mas buscar a luz não é tarefa fácil, pois terá de abandonar o mundo das sombras — que acarreta dor e risco: a dor por abandonar o bem preferido; o risco por se introduzir na incerteza.

Essa nova postura é entendida como um comportamento não dogmático. Mas, o que caracteriza essa mudança? Podemos vê-la sob dois ângulos: 1.º) mudança espontânea, pelo fato das crenças tradicionais se chocarem com as antagônicas e o indivíduo ser obrigado a fazer nova escolha; 2.º) mudança provocada, pelo fato do indivíduo procurar conscientemente um novo paradigma para a realidade em que está inserido. (Borheim, 1986, cap. IV e V)

6. Dogmatismo e Espiritismo

Nossa vivência, na maioria das vezes, é apoiada em crenças dogmáticas. Entrar no Espiritismo não significa dizer que nos despojamos de todos os nossos automatismos formados ao longo de inúmeras existências. Na veiculação da ideia espírita, observamos a transferência dessas imagens, dando-se a impressão de que o Espiritismo é dogmático. Lembremo-nos de que é um erro de nossa interpretação e não expressão verdadeira dos princípios codificados por Allan Kardec.

Ilustremos esta temática com alguns exemplos:

O médium não deve comer carne no dia do trabalho. Allan Kardec, na pergunta 723 de O Livro dos Espíritos – A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?, obteve dos Espíritos, a seguinte resposta: - “Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização”. A “proibição” da ingestão de carne no dia do trabalho não estaria ligada à reminiscência do pecado original? Ou seja, comendo carne iríamos conspurcados, manchados à sessão mediúnica.

O mentor falou, acatemos. Em muitos Centros Espíritas, os dirigentes obedecem cegamente às diretrizes traçadas pelos seus mentores. Sem uma crítica serena, podem aceitar determinações incongruentes com relação aos princípios codificados por Allan Kardec.

Sigo a orientação de Kardec. Muitos espíritas, para defenderem os seus pontos de vistas, dizem: eu sigo a orientação de Kardec. Esquecem-se de que toda a palavra escrita deve ser processada, atualizada e melhorada pelas constantes avaliações de nosso espírito crítico.

Leio somente romances espíritas. Alguns espíritas, que não estão dispostos a um aprofundamento da Doutrina, acabam ficando apenas com a visão dos romances. Esta visão parcial do fato espírita pode ocasionar raciocínio parciais e criar atitudes dogmáticas dentro do movimento espírita.

7. Conclusão

“O Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma”, diz J. Herculano Pires. Tenhamos coragem e despendamos esforços para penetrar no âmago de suas questões. Somente assim conseguiremos aprender os fundamentos da doutrina, evitar o preconceito e descobrir a verdade que nos liberta.

8. Bibliografia Consultada

BORNHEIM, G. A. Introdução ao Filosofar - O Pensamento em Bases Existenciais. 7. ed., Rio de Janeiro, Globo, 1986.

EDIPE - Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. 3. ed., São Paulo, Iracema, 1987.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. São Paulo, FEESP, 1972.

LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1982.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.


Notas do Blog

Ceticismo e Termos Correlatos

Alguns de seus termos correlatos: dogmatismo, agnosticismo, crítica e crise. O dogmatismo admite a capacidade de o homem atingir a certeza absoluta. Desta maneira, opõe-se ao ceticismo (que não admite tal possibilidade). Lembremo-nos de que os grandes filósofos (na sua maioria) são dogmáticos. Por quê? Quem pode duvidar da demonstração de um teorema, da exatidão de uma fórmula matemática, ou mesmo do próprio existir? (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2011/09/ceticismo-e-termos-correlatos.html)

Como se Deve Viver Segundo Alguns Filósofos

Para Fichte, o dogmatismo ou idealismo depende do caráter do sujeito. A escolha não é feita segundo um convencimento racional, mas segundo as qualidades morais do sujeito. “quem é idealista, interiormente livre, professa o idealismo e vive em mundo efetivamente livre; quem é dogmático, ao contrário, acredita viver em mundo dominado pela necessidade objetiva somente porque, dentro de si, já é desprovido de amor pela liberdade”. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2012/02/como-se-deve-viver-segundo-alguns.html)

Autoajuda

O discurso de autoajuda pelo grau de autoridade e dogmatismo que possui vem justificar os sintomas degradantes do vínculo social, principalmente pelo enfraquecimento dos laços sociais e sua consequência para a vida comunitária, em virtude da valorização dos bens de uso, de consumo, da autonomia, da liberdade, em detrimento do amor ao próximo, da fraternidade do auxílio mútuo, do fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito. Este é o grande sintoma (egoísmo) que devemos combater. Esta é a chaga número 1 da sociedade, mascarada pelos discursos de autoajuda. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/06/auto-ajuda.html)

Alternativas da Humanidade com Relação ao Mundo Espiritual

A revolução teológica da atualidade procura eliminar, tanto no Catolicismo como no Protestantismo, estes pontos negativos da Teologia clássica. Veja-se o esforço gigantesco de Teilhard de Chardin para dar uma orientação evolucionista ao Catolicismo. No Protestantismo a revolução teológica chegou ao extremo do Cristianismo Ateu. Todas as soluções apresentadas até agora são insuficientes e padecem às vezes de gritante incoerência. Enquanto as religiões dogmáticas não substituírem os seus dogmas de fé (que sustentam a fé cega) pelo dogma racional da reencarnação (fundamento bíblico e evangélico do Cristianismo) não escaparão do absurdo, do ilogismo em que se afundaram. (N. do Rev.) (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2005/10/alternativas-da-humanidade-com-relao.html)

Epístola de Paulo aos Romanos

Dogmatismo. Em se tratando do Dogmatismo, no que concerne à epístola de Paulo aos Romanos, não é a lei que importa, nem as obras; a salvação vem de Jesus, filho de Deus, ressuscitado dentre os mortos. Para Paulo, Jesus e a Lei são duas coisas opostas. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2022/07/epistola-de-paulo-aos-romanos.html)

Dogma da Reencarnação

Se o Espiritismo não tem dogmas, por que o dogma da reencarnação? (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/dogma-da-reencarnao.html)


Os Dogmas do Espiritismo, por José Herculano Pires

Positivada, assim, a natureza tríplice do Espiritismo, como  ciência, filosofia e religião, devemos apreciar os princípios fundamentais da  doutrina, que se resumem nos seguintes dogmas:

a)  Deus é a  inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas;

b)  O homem,  criado por Deus, deve amá-lo sobre todas as coisas e ao próximo como a si  mesmo;

c) Tríplice é a natureza do homem, que se constitui de espírito,  perispírito e corpo material;

d)  O espírito preexiste e sobrevive ao corpo, que lhe serve  apenas para a realização de experiências de natureza evolutiva, no mundo  material;

e) O perispírito é um corpo espiritual, duplo do corpo  físico, e meio de ligação entre o espírito e o corpo;

f) A morte é o processo de desencarnação do espírito, ou  seja, do seu desprendimento do corpo material, tornado imprestável pela doença,  pela velhice ou por um acidente;

g)  As encarnações do espírito são sucessivas e progressivas, provindo dos reinos inferiores da natureza e prosseguindo através da evolução  moral e espiritual do ser, até os mais elevados estágios da perfeição;

h)  A lei da reencarnação implica o efeito das conseqüências  ou causas da vida anterior, na seguinte, de maneira que o homem é hoje o  resultado do que foi no passado, e assim por diante;

i) Tríplice é também a natureza do Universo, que se constitui  de: Deus — causa  primária, Espírito   princípio inteligente, e Matéria   elemento passivo;

j)  O elemento espiritual preexiste e sobrevive ao material, é  a sua causa imediata e o seu imediato fim, e tudo o que existe no mundo  material provém do mundo espiritual e a ele retorna, no incessante processo da  evolução de todas as coisas;

k)  Os espíritos povoam o elemento espiritual, que circunda e  interpenetra o material, vivendo, portanto, ao nosso redor, de maneira  invisível para o sentido visual comum, mas perceptível pelo aprimoramento das  qualidades próprias de que o homem é dotado, e participam da vida humana,  influenciando-a para o mal ou para o bem;

l)  O mundo espiritual apresenta uma gradação infinita de  seres, consequência natural da lei de evolução, que vai desde o espírito que  ainda se prende à matéria e se julga encarnado, até os mais elevados seres, dos  quais Jesus, o Cristo, é o supremo exemplo de que o homem tem notícia;

m) Os espíritos não só influenciam os homens, como podem  comunicar-se com eles, através das várias modalidades de mediunidade: a  intuitiva, a de incorporação, a de efeitos físicos, a de materialização, a de  voz-direta, a audiente, a vidente, e diversas outras;

n)  Os homens exercem influência sobre os espíritos que vivem  nas proximidades da terra, podendo atraí-los consciente ou inconscientemente e  orientá-los, esclarecê-los, doutriná-los durante as sessões práticas de  Espiritismo;

o) A prece e a concentração mental com objetivos elevados são  meios de vibração que o homem dispõe para atrair ou afastar as influências  espirituais e orientar o seu próprio pensamento;

p) Cada homem está sob a influência benéfica de um espírito  protetor, ou guia espiritual, que é o anjo guardião das religiões, e sob o  amparo dos espíritos familiares e amigos, que procuram auxiliá-lo, assim como  sob a influência malfazeja de espíritos inferiores e de adversários e inimigos  da presente ou de passadas existências;)  Pela sua conduta e sua firmeza no bem, o homem se liberta  das más influências e ajuda os seus inimigos a se melhorarem;

r)  As relações entre os espíritos e os homens se baseiam nas  leis de vibração mental e emocional, sendo inútil e prejudicial o uso de  símbolos, gestos, vestimentas próprias, queima de ingredientes como incenso e  arruda e outros aparatos exteriores, para a prática de sessões e de outros  meios de afastamento dos maus espíritos;

s)  O amor de Deus é extensivo a todas as criaturas, sem  qualquer distinção, não havendo razão de ser para a existência de sacramentos  como o batismo, o casamento religioso, a extrema-unção e outros;

t)  A lei de causa e efeito preside a todos os processos da  vida, tanto no terreno material quanto no moral e espiritual, e a salvação dos  homens está nas suas próprias mãos;

u)  A caridade é a lei principal da evolução do espírito e se  traduz, não na simples distribuição de esmolas, mas no amor do homem pelo seu  semelhante e por tudo quanto existe, pelo que o Espiritismo adota como lema a  seguinte frase: Fora da caridade não há salvação;

v)  O Universo é infinitamente habitado, e os mundos que rolam  no espaço carregam humanidades que não conhecemos, mas que se ligam a nós pela  lei da solidariedade universal;

w)  Todo o Universo conhecido é um processo  único de evolução, que o homem tem a possibilidade de integrar de maneira  consciente, desde que se decida a acelerar a própria evolução.

A palavra dogma suscita desconfiança no meio espírita, em virtude  da campanha provocada pelos dogmas da Igreja. Devemos lembrar que a ciência  também se baseia em dogmas, pontos firmados da sua doutrina de interpretação do  mundo fenomênico. Dogma é todo princípio fundamental de um sistema filosófico,  científico ou religioso. A diferença entre os dogmas da Igreja e os do  Espiritismo se funda na própria natureza de uns e de outros. Os dogmas da  Igreja são fundados em suposições e impostos autoritariamente à razão. Os  dogmas do Espiritismo são, como os da ciência, fundados na observação e na  experiência, e oferecidos à razão como as conclusões lógicas a que se pode  chegar, para a interpretação dos fatos. Como disse Kardec, os dogmas ou  princípios do Espiritismo não são rígidos, podendo ser alterados pela  demonstração evidente de princípios contrários. Até hoje, porém, os dogmas  fundamentais da doutrina, de que demos acima uma interpretação, não sofreram  nenhuma contestação científica positiva, mas apenas contradições filosóficas.  Ora, como contra fatos não há argumentos e os fatos continuam a sustentar esses  princípios, eles prevalecem.

Poderiam dizer-nos que, se os dogmas são susceptíveis de revisão,  a doutrina não está firmada. Responderíamos que o Espiritismo não pretende  transformar-se num sistema ossificado, sem plasticidade, e por isso mesmo  incapaz de interpretar a infinita fluidez e plasticidade da vida. Assim como  não se pode interpretar, mas apenas figurar, de maneira precária, o movimento,  no quadro fixo, também não se pode interpretar a vida e o mundo numa doutrina  estratificada.

Diriam, talvez, os adversários que o Espiritismo é precário, uma  vez que a negação científica de um dos seus dogmas fundamentais, como a da  independência do espírito, poria abaixo toda a estrutura doutrinária. Não  tenhamos dúvidas a respeito. De fato, se nos provarem, cientificamente, que o  espírito não passa de efeito e não causa, o Espiritismo estará falido e o  abandonaremos imediatamente. Até lá, porém, continuaremos com ele. Mesmo  porque, como já demonstramos nas páginas anteriores, consideramos ocorrido  justamente o contrário, ou seja, o Espiritismo já demonstrou experimentalmente  a independência do espírito, e com isso derrogou um dos dogmas fundamentais da  ciência materialista, que subsiste apenas, graças à capacidade de teimosia do  espírito humano.

J. Herculano Pires

Do livro O Sentido da Vida Pág. 120

https://estudosherculanopires.com.br/site/2018/12/os-dogmas-do-espiritismo/



Dicionário

Dogma. Rigorosamente considerado, fora da Igreja Católica, o dogma não existe. Em filosofia, doutrina ou opinião filosófica transmitida de modo impositivo e sem contestação por uma escola ou corrente filosófica. Em religião, doutrina religiosa fundada numa verdade revelada e que exige o acatamento e a aceitação dos fiéis. No catolicismo, o dogma possui duas fontes: as Escrituras e a autoridade da Igreja. (1)

Dogma. Uma crença que é tida como inexpugnável ao argumento e à experiência. Exemplo: as assim chamadas verdades reveladas da religião. Diferença entre dogma e tautologia: as tautologias são passivas de prova. Diferença entre dogma e postulado: os postulados são passiveis de verificação por meio de suas consequências. Se estas forem falsas, os postulados que as implicam logicamente ficam refutados. (2)

Dogmatismo. Doutrina dos que pretendem basear seus postulados apenas na autoridade, sem admitir crítica nem discussão. (1)

Dogmatismo. 1. Toda doutrina ou toda atitude que professa a capacidade do homem atingir a certeza absoluta; filosoficamente, por oposição ao ceticismo, o dogmatismo é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a razão humana, de chegar a verdades absolutamente certas e seguras. 2. No sentido vulgar, atitude que consiste em afirmar alguma coisa, de modo intransigente e contundente, sem provas nem fundamento. (3)

Dogmatismo. No sentido corrente: um pendor para os dogmas, uma incapacidade de duvidar daquilo em que acredita. É gostar mais da certeza do que da verdade, a ponto de dar por certo tudo o que se julga verdadeiro.

No sentido filosófico: toda doutrina que afirma a existência de conhecimentos certos. É o contrário de ceticismo. Os grandes filósofos, em sua maioria, são dogmáticos (o ceticismo é a exceção), e têm boas razões para tal, a começar pela própria razão. Quem pode duvidar da sua própria existência, da verdade de um teorema matemático (se compreende a sua demonstração). Cumpre notar, porém, que uma incapacidade de duvidar não prova nada. A certeza de que nada é certo seria tão duvidosa quanto as outras, ou antes, seria mais – já que se contradiz. (4)

(1) EDIPE - ENCICLOPÉDIA DIDÁTICA DE INFORMAÇÃO E PESQUISA EDUCACIONAL. 3. ed. São Paulo: Iracema, 1987.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(4) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.