Joana d'Arc

Perguntas e Respostas

1) Qual a situação da França no século XV, no momento em que Joana d'Arc vai aparecer na cena da História?

A França era um país curvado ao poderio inglês. Não era propriamente um país como hoje é conhecido. Constituía-se de vários feudos. A luta contra a Inglaterra dura perto de 100 anos.

2) Quando e onde nasceu Joana d’Arc?

Joana d’Arc nasceu em 1412, numa aldeia ignorada até então, que se tornaria célebre e célebre faria Domremy.

3) Em que contexto viviam seus familiares?

Filha de pobres lavradores, aprendeu a fiar a lã junto com sua mãe e guardava o rebanho de ovelhas. Teve três irmãos e uma irmã. Não aprendeu a ler, nem a escrever, pois cedo o trabalho lhe absorveu as horas.

4) Quando teve contato com os rumores da guerra?

Como a aldeia era afastada, somente tomou contato com os horrores da guerra, quando as tropas inglesas se aproximaram e toda a família precisou fugir e se esconder.

5) Quais eram as visões de Joana d'Arc?

Aos 12 anos começou a ter visões. A figura que ela divisou, identificou como sendo a do arcanjo São Miguel. As duas mensageiras espirituais que o acompanhavam, como Catarina e Margarida, santas conforme a Igreja que ela frequentava.

6) Qual a missão de Joana d'Arc?

Impulsionada pelas supostas vozes, Joana d'Arc acreditava que tinha duas missões. Uma era salvar sua terra, a França, e a outra era libertar a cidade de Orleans e fazer com que o Carlos VII fosse coroado rei.

7) Como foi a aceitação de sua missão?

Durante 4 anos ela hesitou e a história de suas visões começou a se espalhar. Ao alvorecer de um dia de inverno, ela se levanta, prepara uma ligeira bagagem, e parte para a sua nobre visão.

8) Por que a Igreja condenou Joana d'Arc?

Foi condenada por feitiçaria. O objetivo era provar que Joana era uma enviada do demônio. Consequentemente, se desmoralizaria o rei Carlos VII. Afinal, que espécie de rei era aquele que se deixara enganar por uma bruxa?

9) Como se processou o julgamento?

Durante 6 meses ela é submetida a uma verdadeira tortura moral. Os interrogatórios são longos, cansativos. Finalmente, a execução se dá na praça central de Roeun, no dia 30 de maio de 1431.

10) Como descrever a sua morte?

Seu cabelo foi raspado e, por temerem a reação do povo, 120 homens armados a escoltam até o local. Ela é atada a um poste e a fogueira é acesa. Quando as chamas a envolvem e lhe mordem as carnes, ela exclama: "Sim, minhas vozes eram de Deus! Minhas vozes não me enganaram."

11) O que a morte de joana d'Arc tem a ver com a mediunidade?

Era a prova inequívoca da mediunidade que lhe guiara a trajetória terrena. No capítulo XXXI de O livro dos médiuns, vindo a lume no ano de 1861, quando o Codificador reúne Dissertações Espíritas, confere à de Joana D'Arc o número 12, onde ela se dirige aos médiuns, em especial, concitando-os ao exercício do mediunato.

12) Quem é Joana D'Arc no espiritismo?

Segundo o Espírito Humberto de Campos, pelo médium Chico Xavier, a última reencarnação de Judas Iscariotes na Terra foi da conhecida heroína francesa Joana d'Arc, queimada nas fogueiras inquisitoriais do século XV, conforme mensagem apresentada no livro Crônicas de Além Túmulo.

https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/joana-darc


Texto Curto no Blog

Joana d’Arc

Baseando-nos no livro Joana d’Arc Médium, de Léon Denis, anotamos alguns dados biográficos deste Espírito, encarnado na França, durante o período da Guerra dos 100 Anos, entre França e Inglaterra.

No momento em que Joana d'Arc vai aparecer na cena da História, a França era um país curvado ao poderio inglês. Não era propriamente um país como hoje é conhecido. Constituía-se de vários feudos.

Joana d’Arc nasceu em 1412, numa aldeia ignorada até então, que se tornaria célebre e célebre faria Domremy. Filha de pobres lavradores, aprendeu a fiar a lã junto com sua mãe e guardava o rebanho de ovelhas. Teve três irmãos e uma irmã. Não aprendeu a ler, nem a escrever, pois cedo o trabalho lhe absorveu as horas.

Como a aldeia era afastada, somente tomou contato com os horrores da guerra, quando as tropas inglesas se aproximaram e toda a família precisou fugir e se esconder.

Aos 12 anos começou a ter visões. A figura que ela divisou, identificou como sendo a do arcanjo São Miguel. As duas mensageiras espirituais que o acompanhavam, como Catarina e Margarida, santas conforme a Igreja que ela frequentava.

Impulsionada pelas supostas vozes, Joana d'Arc acreditava que tinha duas missões. Uma era salvar sua terra, a França, e a outra era libertar a cidade de Orleans e fazer com que o Carlos VII fosse coroado rei. Durante 4 anos ela hesitou e a história de suas visões começou a se espalhar. Ao alvorecer de um dia de inverno, ela se levanta, prepara uma ligeira bagagem, e parte para a sua nobre misão.

Joana d'Arc  foi condenada pela Igreja por prática de feitiçaria. O objetivo era provar que Joana era uma enviada do demônio. Consequentemente, se desmoralizaria o rei Carlos VII. Afinal, que espécie de rei era aquele que se deixara enganar por uma bruxa?

Durante 6 meses ela é submetida a uma verdadeira tortura moral. Os interrogatórios são longos, cansativos. A execução se dá no dia 30 de maio de 1431. Seu cabelo foi raspado. Ela é atada a um poste e a fogueira é acesa. Quando as chamas a envolvem e lhe mordem as carnes, ela exclama: "Sim, minhas vozes eram de Deus! Minhas vozes não me enganaram."

A morte de joana d'Arc era a prova inequívoca da mediunidade que lhe guiara a trajetória terrena. No capítulo XXXI de O livro dos médiuns, vindo a lume no ano de 1861, quando o Codificador reúne Dissertações Espíritas, confere à de Joana D'Arc o número 12, onde ela se dirige aos médiuns, em especial, concitando-os ao exercício do mediunato.

Segundo o Espírito Humberto de Campos, pelo médium Chico Xavier, a última reencarnação de Judas Iscariotes na Terra foi da conhecida heroína francesa Joana d'Arc, queimada nas fogueiras inquisitoriais do século XV, conforme mensagem apresentada no livro Crônicas de Além Túmulo.

https://sbgespiritismo.blogspot.com/2022/12/joana-darc.html


Notas de Livros

Capítulo III "Martírio de Arigó", do livro Arigó: Vida, Mediunidade e Martírio, de José Herculano Pires

A História está repleta dessas vidas dolorosas e heroicas, marcadas pela mediunidade. Sócrates combatido e perseguido, ouvindo a voz, vai morrer na prisão pela cicuta; Joana d'Arc, a camponesa humilde, que lembra muito Arigó em sua fase de inocência campestre, ouve as suas vozes e vai morrer na fogueira; Francisco de Assis vê-se arrancando da família, abominado pelo pai para seguir a via estreita da pobreza e morrer no abandono; Amália Domingos Soler, a grande médium espanhola, é atirada à mendicância, sofre por toda uma vida de sacrifícios inauditos e depois de morta continua caluniada e espezinhada; Eusápia Paladino, a extraordinária médium italiana, essa pequena mulher analfabeta, como Lombroso a chamou, sacode a cultura europeia, desperta os sábios para a realidade maior, deixa no mundo a Biblioteca Paladiniana — a maior bibliografia científica já escrita sobre um caso mediúnico — mas vê-se até o fim da vida e depois de morta acusada de charlatanice e mistificação, caluniada e vilipendiada. Mas o que queremos? O próprio Cristo que o Mundo transformou em Deus, não teve de morrer na cruz? 


"Apresentação", do livro  História de Joana d’ Arc, Ditada por Ela Mesma, de Ermance Dufaux 

Em “A História de Jeanne d’Arc” vemos a luta de duas forças: a do bem, personificada no puro ideal da “Pucelle” — tão puro quanto ela mesma — e a do mal, representado pelo falso ideal de justiça de seus pseudos julgadores, digo pseudos já que o seu objetivo não era julgar, mas condenar Jeanne à morte, como realmente fizeram, apoiados no abandono a que Jeanne foi relegada por Charles VII — a quem ela fizera coroar lei da França — no descaso e na iniquidade dos próprios franceses que se tornaram assim os cúmplices perfeitos dos mandatários de sua morte.

Sob a acusação de “herege relapsa”, (acusação tecnicamente perfeita segundo alguns historiadores) Jeanne d’Arc foi queimada viva no dia 30 de maio de 1431, aos 19 anos de idade.

Nesse momento mesmo, algumas pessoas se mostraram horrorizadas e arrependidas por terem participado de seu sacrifício; é célebre a frase pronunciada pelo inglês John Tressart, um dos secretários de Henri VI, que saiu de junto do cadafalso se lamentando, e, em lágrimas, exclamou: “Estamos todos perdidos, queimamos uma santa!” Outra frase que também se eternizou foi a de Jean Alepée, cônego da catedral, e que era totalmente contrário a Jeanne: “Gostaria que minha alma estivesse onde acredito que está a desta mulher”.


"A Verdade sobre Joana d’Arc", item do Capítulo IV "O Apostolado", do livro Léon Denis, o Apóstolo do Espiritismo, sua Vida, sua Obra, de Gaston Luce

Foi no meio dos debates sobre o caso Miller que apareceu A Verdade sobre Joana d’Arc.

Léon Denis, apoiado em revelações de caráter pessoal que o haviam esclarecido fortemente, não deixara, desde sua juventude, de meditar sobre o mistério da vida e da morte da heroína nacional francesa.

Desde 1877, nas “Grandes Cenas da História da França”, abordava esse apaixonante assunto.

Retornou ao tema, alguns anos depois, em “O Patriotismo na Idade Média”, “O Gênio da Gália” e “Nossas Verdadeiras Tradições Nacionais”.

Em 1896, em Agen, e depois no Havre, desenvolveu sua tese sobre a missão da donzela, em três grandes conferências: “Joana d’Arc, sua vida, seu processo e sua morte”, “Joana d’Arc, suas vozes” e “Joana d’Arc e o Espiritualismo Moderno”.

Novamente voltou ao assunto em sua palestra sobre “Joana d’Arc em Touraine” e “O Papel da Mediunidade na História”. Era o momento de condensar tudo em capítulos definitivos, fazendo um livro que trouxesse uma contribuição nova ao estudo desse grande tema.

No começo do novo século (século XX), muito se falava de Joana d’Arc e, como de costume na França, haviam subordinado a preocupação pela verdade histórica às preferências de ordem política ou religiosa.

Obras e ensaios contraditórios nasceram desse apaixonado movimento de ideias e de sentimentos, dos quais a memória da “boa lorena” mais sofria do que ganhava.

Depois de Thalamas e Anatole France, que só fizeram confundir a questão, Léon Denis abordou essa página da História com um novo método.

Nossos grandes historiadores tinham compreendido perfeitamente que, com Joana d’Arc, se achavam diante de um fato excepcional, dificilmente explicável pelos meios habituais. “Jamais a História se aproximou tão perto do milagre”, disse um deles, que não era místico.

“Quer a Ciência queira ou não, será preciso admitir suas visões”, afirmava o sábio e probo Quicherat.[77] A Ciência nada tem a perder, reconhecendo a verdade.


Item I — "Provas da imortalidade da alma pela experiência", da parte 3, do livro O Espiritismo Perante a Ciência, de Gabriel Delanne

A história de Urbano Grandier e das religiosas de Loudun, dos tremedores das Cevenas, dos convulsionários jansenistas, provaram que muitos fatos históricos mereciam ser esclarecidos, e, para citar apenas os mais célebres, o demônio de Sócrates e as vozes de Joana d'Arc, que a levaram a salvar a França, são ainda mistérios para os sábios. Em vão, Lélut quis assemelhar a heroica Lorena a uma alucinada; desejar-lhe-íamos idêntica moléstia, a fim de que se lhe esclarecesse o juízo. 


Joana d’Arc Médium, de Léon Denis: Algumas Notas

Léon Denis quer buscar a verdade sobre a tarefa mediúnica de Joana d’Arc. Nessa busca não se interessa muito por aqueles que enaltecem o sofrimento de uma mulher, suportando uma armadura de ferro.

Quer verificar o que está por trás de sua missão, da sua mediunidade, e da tarefa de uma nação. 

Primeira Parte — Vida e mediunidade de Joana d’Arc

I — Domremy

Ao final deste capítulo, há uma mensagem de Joana d’Arc 

Mensagem de Joana

Tua alma se eleva e sente neste instante a proteção que Deus lança sobre ti.

“Comigo, que a tua coragem aumente, e, patriota sincera, ames e desejes ser útil a esta França tão querida, que, do Alto, como Protetora, como Mãe, contemplo sempre com felicidade.

“Não sentes em ti nascerem pensamentos de suave indulgência? Junto de Deus aprendi a perdoar, mas esses pensamentos não devem fazer com que em mim nasça a fraqueza, e — divino dom! — encontro em meu coração força bastante para procurar esclarecer, às vezes, aqueles que, por orgulho, me querem monopolizar a memória.

“E quando, cheia de indulgência, peço para eles as luzes do Criador, do Pai, sinto que Deus me diz: “Protege, inspira, porém jamais faças fusão com os teus algozes. Os padres, recordando teu devotamento à pátria, não devem pedir senão perdão para aqueles cuja sucessão tomaram.”

“Cristã piedosa e sincera na Terra, sinto no Espaço os mesmos arroubos, o mesmo desejo de oração, mas quero minha memória livre e desprendida de todo cálculo; não dou meu coração, em lembrança, senão aos que em mim não veem mais do que a humilde e devota filha de Deus, amando a todos os que vivem nessa terra de França, aos quais procuro inspirar sentimentos de amor, de retidão e de energia.”

II — A situação em 1429

Guerra dos 100 anos entre França e Inglaterra durou 116 anos (1337-1453)

A França se sente perdida, ferida no coração. Ainda alguns reveses, e mergulhará no grande silêncio da morte. Que socorro se poderia, com efeito, esperar? Nenhum poder da Terra é capaz de realizar esse prodígio: a ressurreição de um povo que se abandona. Há, porém, outro poder, invisível, que vela pelo destino das nações. No momento em que tudo parece abismar-se, ele fará surgir do seio das multidões a assistência redentora.

Certos presságios parecem anunciar-lhe a vinda. Já, entre outros sinais, uma visionária, Maria d'Avignon, se apresentara ao rei; vira em seus êxtases, dizia, uma armadura que o céu reservava para uma jovem destinada a salvar o reino.[2] Por toda parte se falava da antiga profecia de Merlin, anunciando uma virgem libertadora, que sairia de Bois Chesnu.[3]

III — Infância de Joana d’Arc

Numerosas obras, primores da ciência e de erudição, se têm escrito sobre a virgem de Lorena. Longe de mim a pretensão de igualá-las. Este livro se distingue de tais obras por um traço característico; ilumina-o, aqui e ali, o pensamento da heroína. Graças às mensagens obtidas dela, em condições satisfatórias de autenticidade, mensagens que se encontram sobretudo na segunda parte do volume, ele se torna como que um eco de sua própria voz e das vozes do Espaço. É por semelhante título que se recomenda a atenção do leitor.

A primeira visão se lhe produziu num dia de verão, ao meio-dia. O céu era sem nuvens e o Sol derramava sobre a Terra modorrenta todos os encantos de sua luz. Joana orava no jardim contíguo à casa de seu pai, perto da igreja. Escutou uma voz que lhe dizia: “Joana, filha de Deus, sê boa e cordata, frequenta a igreja,[8] põe tua confiança no Senhor”. [9] Ficou atônita; mas, levantando o olhar, viu, dentro de ofuscante claridade, uma figura angélica, que exprimia ao mesmo tempo a força e a doçura e se mostrava cercada de outras formas radiantes.

Doutra vez, o Espírito, o arcanjo São Miguel, e as santas que o acompanhavam, falam da situação do país e lhe revelam a missão. “É preciso que vás a socorro do delfim*, para que, por teu intermédio, ele recobre o seu reino”.[10] Joana a princípio se escusa: “Sou uma pobre rapariga, que não sabe cavalgar, nem guerrear!” “Filha de Deus, vai, serei teu amparo”, responde a voz.

* Delfim. História. Título que designava o primogênito do rei da França, herdeiro do trono

Um dia São Miguel lhe diz: “Filha de Deus, tu conduzirás o delfim a Reims, a fim de que receba aí sua digna sagração”[12]. Santa Catarina e Santa Margarida lhe repetiam sem cessar: “Vai, vai, nós te ajudaremos!” Estabelecem-se, então, entre a virgem e seus guias, estreitas relações. No seio de seus “irmãos do paraíso”, vai ela cobrar o ânimo necessário para levar a termo sua obra, da qual está inteiramente compenetrada. A França a espera, é preciso partir!

IV — A mediunidade de Joana d’Arc;

Numa conferência que fez, há anos, no Instituto Geral Politécnico, o Doutor Duclaux, diretor do Instituto Pasteur, se exprimia nos seguintes termos: “Esse mundo, povoado de influências que experimentamos sem as conhecer, penetrado de um quid divinum que adivinhamos sem lhe percebermos as minúcias, é mais interessante do que este em que até agora se confinou o nosso pensamento. Tratemos de abri-lo às nossas pesquisas: há nele, por fazerem-se, infindáveis descobertas, que aproveitarão à Humanidade.” 

V — Vaucouleurs

E vede que mistério admirável! Uma criança é quem vem tirar a França do abismo. Que traz consigo? Algum socorro militar? Algum exército? Não, nada disso. Traz apenas a fé em si mesma, a fé no futuro da França, a fé que exalta os corações e desloca as montanhas. Que diz a quantos se apinham para vê-la passar? “Venho da parte do Rei do céu e vos trago o socorro do céu!” 

 XI — Ruão; o processo

Com efeito, ao mesmo tempo em que padecia tão duro e horrível cativeiro, Joana ainda tinha que sofrer as longas e tortuosas fases de um processo, tal como nunca houve igual no mundo. 

Fazem-lhe esta pergunta prenhe de insídia: “Acreditas estar na graça de Deus?” — “Se não estou, que Ele me faça estar; e, se estou, que Ele nela me conserve”.[154] — “Julgas, pois, inútil confessar-te, ainda que em estado de pecado mortal?” — “Jamais cometi pecado mortal.” — “Podes lá sabê-lo?” — “Minhas vozes me teriam abandonado!” — “Que dizem tuas vozes?” — “Dizem-me: Não tenhas medo; responde desassombradamente; Deus te ajudará”. 

Após a retratação, Joana foi declarada relapsa, herética, cismática e condenada sem remissão. Só lhe restava morrer, morrer pelo fogo! Tal a sentença proferida por seus juízes! 

XII — Ruão; o suplício

Isto põe a nu a baixeza de seus inimigos, daqueles que ela tantas vezes vencera. Em lugar de lhe renderem à coragem, ao gênio, as homenagens que os soldados civilizados dispensam aos adversários que a má sorte lhes faz cair nas mãos, os ingleses reservam para Joana, depois dos mais atrozes maus tratos, ignominioso fim. Seu corpo será consumido e suas cinzas lançadas ao Sena. Não lhe permitirão repousar num túmulo, onde os que a amaram possam ir chorar, depositar flores, praticar o tocante culto da saudade. 

Terá Joana sofrido muito? Ela própria nos assegura que não. “Poderosos fluidos — diz-nos — choviam sobre mim. Por outro lado, minha vontade era tão forte que dominava a dor.” 

O pai de Joana, ferido no coração pela notícia do martírio da filha, morreu subitamente; acompanhou-o de perto ao túmulo o mais velho dos filhos. A mãe da virgem imolada continuou a viver, tendo por único objetivo neste mundo instar com persistência pela revisão do processo. Em vão, durante muito tempo, deu passos sobre passos, dirigiu petições sobre petições ao rei e ao papa. 

Eis porque à França moderna corre um grande dever: o de reparar, ao menos moralmente, as faltas da França antiga. Todos os olhares devem convergir para a nobre e pura imagem, para o vulto luminoso da virgem Lorena, que é o anjo da pátria. É preciso que todos os filhos da França gravem, no pensamento e no coração, a lembrança da que o Céu nos enviou na hora dos desastres e dos cataclismos.  

Segunda Parte — As missões de Joana d'Arc

XIII — Joana d´Arc e a ideia de pátria

Na primeira parte desta obra, recordamos os fatos principais da vida de Joana d'Arc e procuramos explicá-los com o auxílio dos dados que as ciências psíquicas nos facultam. Relatamos os triunfos e os sofrimentos da heroína e descrevemos o martírio que lhe foi como que coroamento da carreira sublime.

Resta-nos pesquisar e pôr em destaque as consequências de sua missão no décimo quinto século. Desse ponto de vista, formularemos em primeiro lugar a seguinte questão: Que é o que a França deve a Joana?

O caráter inglês denota qualidades eminentes, que já tivemos ocasião de reconhecer e proclamar;[176] mas, foram-lhe o fundo um egoísmo que tem chegado por vezes até a ferocidade. A Inglaterra jamais hesitou no emprego de quaisquer meios, para realizar seus propósitos. O francês, ao contrário, de mistura com inúmeros defeitos, revela um sentimento de generosidade quase cavalheiresca. Não menor se afirma a diversidade das aptidões. O gênio inglês é essencialmente marítimo, comercial, colonizador. O da França se orienta de preferência para os vastos domínios do pensamento. Diferentes são os destinos das duas nações e distintos os papéis que lhes tocam na harmonia do conjunto. A cada uma delas, para percorrer o caminho que lhe está naturalmente traçado e para manter em toda a plenitude a índole que lhe é própria, cumpria antes de tudo conservar a liberdade de ação e preservar sua independência. Reunidos debaixo de uma dominação comum, esses dois aspectos do gênio humano se teriam contrariado e peado os respectivos surtos. Por esta razão é que no século XV, ameaçado o gênio da França, Joana d'Arc se constituiu, na arena da História, o campeão de Deus contra a Inglaterra. 

Escutemos agora a palavra de um dos maiores psicólogos de nosso tempo, William James, reitor da Universidade de Harvard:[179]

“Um instinto profundo, impossível de desarraigar-se, nos impede de considerar a vida uma simples farsa, ou uma elegante comédia. Não, a vida é uma tragédia acerba e o que nela mais sabor tem é o que mais amarga. Na cena do mundo, só ao heroísmo cabem os grandes papéis. É no heroísmo, sentimolo bem, que se acha oculto o mistério da vida. Um homem nada vale, se se mostra incapaz de qualquer sacrifício.”

XIV — Joana d’Arc e a ideia de humanidade

Nunca matei ninguém.

Jehanne

XV — Joana d’Arc e a ideia de religião

Amo a Deus de todo o meu coração.

Jehanne

O sentimento religioso de Joana não degenera em beatice, ou em preconceitos pueris. Ela não importuna a Deus com intermináveis e vãos pedidos. É o que ressalta de suas palavras: “Não recorro a Nosso Senhor sem necessidade”.[194] Não hesita em combater debaixo dos muros de Paris, no dia da Natividade, mau grado às censuras que lhe fizeram por esse motivo. 

Todavia, Joana ignora o que pertence ao domínio das letras. Para ela, que tem a intuição da verdade, não existe a necessidade de estudos prévios. Sua força promana da fé, da piedade profunda, independente, dissemos, que se alça acima das concepções estreitas e mesquinhas da época e sobe diretamente ao céu. Tal o seu crime e a razão do seu martírio. 

XVI — Joana d’Arc e o ideal céltico

Léon Denis diz que ela teve várias encarnações anteriores, inclusive no mundo céltico.

No final deste capítulo há uma mensagem de Allan Kardec.

XVII — Joana d’Arc e o Espiritualismo moderno; as missões de Joana

Joana d'Arc é um messias que tinha por missão salvar a povo francês. De tempos em tempos, a humanidade necessita de um mensageiro, no sentido de acordar o povo para os ideais de pátria e amor ao próximo. 

XVIII — Retrato e caráter De Joana d’Arc

Viva o trabalho!

Jehanne

XIX — Gênio militar de Joana d’Arc

O mérito da vitória coube principalmente à Pucela.

Coronel E. Collet

XX — Joana d’Arc no século XX; seus admiradores; seus detratores

Dói-me ver que os franceses

disputam entre si minha alma.

Jehanne

XXI — Joana d’Arc no estrangeiro

Na Inglaterra, consideramos Joana

a maior heroína que o mundo já conheceu;

lamentamos quanto com ela fizeram,

tudo o que foi muito mal feito.

Edward Clarke

Conclusões

Da vida de Joana d'Arc três grandes lições se destacam em traços de luz.

Ei-las:

Nas horas de crise e de provação, a Humanidade não fica abandonada a si mesma. Do Alto, socorros, forças, inspirações descem para a sustentar e guiar em sua marcha. Quando o mal triunfa, quando a adversidade se encarniça contra um povo, Deus intervém por meio de seus mensageiros. A vida de Joana é uma das manifestações mais brilhantes da Providência na História.

Fortíssima comunhão existe entre todos os planos da vida, visíveis ou invisíveis. Para as almas sensíveis e adiantadas na evolução, nas quais os sentidos interiores, as faculdades psíquicas se acham desenvolvidas, essa comunhão se estabelece desde este mundo, no decurso da vida terrestre. É tanto mais íntima e fecunda, quanto mais puras e libertas das influências inferiores são as almas e melhor preparadas para as missões que lhes incumbem. Tais os médiuns, na sua maioria. Ao número deles pertence Joana, que foi um dos maiores.

Dessa comunhão entre os vivos e os mortos, entre os habitantes da Terra e os do Espaço, cada um de nós é chamado a participar no futuro, pela evolução psíquica e pelo aperfeiçoamento moral, até que as duas Humanidades, terrena e celeste, formem uma só e imensa família, unida no pensamento de Deus.

Desde agora, liames subsistem entre os homens e os que desapareceram. Misteriosos fios ligam todos os Espíritos que se têm encontrado na Terra. O presente é solidário com o passado e com o futuro e o destino dos seres se desenrola em espiral ascendente, do nosso humilde planeta até às profundezas do céu estrelado.

De lá, dessas alturas, descem os messias, os mensageiros providenciais. O aparecerem no nosso mundo constitui uma completa revelação. Estudando-os, aprendendo a conhecê-los, levantamos uma ponta do véu que nos oculta os mundos superiores e divinos a que eles pertencem, mundos dos quais os homens mal suspeitam, esmagados como se encontram, na sua maioria, pela pesada crisálida material.

Nas grandes datas da História, Deus oferece tais vidas como exemplos e lições à Humanidade. Para essas figuras de heróis e de mártires é que devem volver o olhar os que duvidam, os que sofrem. Entre elas, nenhuma tão suave como a de Joana d'Arc. Seus atos e suas palavras são, há um tempo, ingênuos e sublimes. Uma existência tão breve, mas tão maravilhosa, não pode deixar de ser tida como um dos mais belos dons feitos por Deus à França e, para o século XIX; será uma glória haver, em meio de tantos erros e faltas, posto em foco esse nobre perfil de virgem. Nenhuma nação conta em seus anais fato comparável a essa vida. Ela é, como bem escreveu Étienne Pasquier, “ um verdadeiro prodígio da mão de Deus”.

Sua ação no passado foi o início de uma renovação nacional; no presente, é o sinal de uma renovação religiosa, diversa das precedentes, mas adaptando-se melhor às necessidades da nossa evolução. Seríamos mais exatos se, em vez de religiosa, disséssemos científica e filosófica. O que é certo, porém, é que vão ser renovadas as crenças da Humanidade. Perecerá por isso o sentimento religioso? Não, sem dúvida; apenas se transformará, para revestir aspectos novos. A fé não pode extinguir-se no coração do homem. Se desaparecer, por instante, é unicamente para dar lugar a uma fé mais elevada. Para que os sóis da noite se acendam e a imensidade estrelada se ostente aos nossos olhos, não importa que o astro rei se suma no horizonte? Quando o dia descamba, parece que o Universo se cobre com um véu e que a vida vai ter fim. No entanto, sem a extinção da luz diurna, veríamos, no fundo do céu, o formigueiro dos astros? O mesmo se dá com as formas atuais da religião e da crença, que não morrem aparentemente, senão para renascerem mais amplas e mais belas. A ação de Joana e das grandes almas do espaço prepara esse renascimento, para o qual nós, do nosso lado, no plano terrestre, trabalhamos sem descanso, há longo tempo, sob a égide da gloriosa inspirada, cujos conselhos e instruções ainda nos não faltaram.

Por isso mesmo é que, votando-lhe ardente simpatia, consagrando-lhe terna veneração e vivo reconhecimento, escrevi este livro. Concebi-o em horas de recolhimento, longe das agitações do mundo. À medida que o curso de minha vida se precipita, mais triste se torna o aspecto das coisas e as sombras se condensam à volta de mim. Mas, vindo do Alto, um raio de luz me ilumina todo o ser e esse raio emana do Espírito de Joana. Foi ele quem me esclareceu e guiou na minha tarefa.

Vai para meio século, muito se há escrito, dissertado, discutido a respeito da virgem Lorena. Polêmicas violentas, bulhentas manifestações se têm produzido em diversos sentidos; quase que em seu nome batalhas se travaram. No torvelinho dessas contradições, dessas lutas, acompanhando-as com entristecido olhar, quis ela fazer ouvida a sua voz e dignou-se de entrar em comunicação conosco, divisando em nós um servidor devotado da causa que hoje está debaixo da sua proteção. Estas páginas são a expressão fiel do seu pensamento, do seu modo de ver. A este título é que, com a maior humildade pessoal, apresento-o aos que, neste mundo, prestam honras a Joana e amam a França.


Notas da Revista Espírita

Junho de 1858: Henri Martin — Comunicações Extracorpóreas

No entanto, eis um escritor cuja capacidade não é desconhecida por ninguém e que ousa, a despeito do risco de fazer-se passar também por um cérebro vazio, hastear a bandeira das ideias novas sobre as relações do mundo físico com o mundo corporal[6]. Na História de França, de Henri Martin, volume 6, página 143, lemos o seguinte, a propósito de Joana d’Arc:

“(...) Existe, na Humanidade, uma ordem extraordinária de fatos morais e físicos que parecem derrogar as leis ordinárias da Natureza: são os estados de êxtase e de sonambulismo, quer espontâneo, quer artificial, com todos os seus impressionantes fenômenos de deslocamento dos sentidos, de insensibilidade total ou parcial do corpo, de exaltação da alma, enfim, de percepções alheias a todas as condições da vida habitual. Essa classe de fatos foi julgada sob pontos de vista inteiramente opostos. Os fisiologistas, vendo perturbadas ou deslocadas as relações costumeiras dos órgãos físicos, qualificam de doença o estado extático ou sonambúlico, admitindo a realidade daqueles fenômenos que podem ser incluídos na patologia e negando todo o resto, isto é, tudo aquilo que pareça estranho às leis constatadas da física. A seus olhos, a doença se converte mesmo em loucura quando, ao deslocamento da ação dos órgãos, junta-se a alucinação dos sentidos, tal como a visão de objetos, que só existem para o visionário. Um eminente fisiologista defendeu, com toda clareza, a tese de que Sócrates era louco, porque esse filósofo imaginava conversar com o seu demônio. Respondem os místicos não somente atestando por reais os fenômenos extraordinários das percepções magnéticas — questão sobre a qual encontram numerosos auxiliares, e incontáveis testemunhas fora do misticismo — mas sustentando, também, que as visões dos extáticos têm objetos reais, vistos, é certo, não através dos olhos do corpo, mas do Espírito. Para eles, o êxtase é a ponte lançada do mundo visível ao mundo invisível, o meio de comunicação do homem com os seres superiores, a lembrança e a promessa da existência de um mundo melhor, de onde fomos destituídos e que devemos reconquistar.

Julho de 1859: Variedades — Lorde Castlereagh e Bernadotte

Em sua Vie de M. de Rancé, fundador de La Trappe, conta Chateaubriand que um dia esse homem célebre, passeando na avenida do castelo de Veretz, julgou ver um grande incêndio que consumia as dependências destinadas às aves domésticas. Correu rápido para lá: o fogo diminuía à medida que ele se aproximava. A certa distância o braseiro transformou-se num lago de fogo, no meio do qual se erguia a meio corpo uma mulher devorada pelas chamas.

Tomado de pavor, retomou correndo o caminho de casa. Ao chegar, as forças lhe faltaram, atirando-se semimorto na cama. Não foi senão depois de longo tempo que contou a visão, cuja mera lembrança o fazia empalidecer.

Esses mistérios pertencem à loucura? O Sr. Brière de Boismont[7] parece atribuí-los a uma ordem de coisas mais elevada, e concordo com a sua opinião. Isso não desagrada ao meu amigo Dr. Lélut: prefiro acreditar no gênio familiar de Sócrates e nas vozes de Joana d’Arc a crer na demência do filósofo e da virgem de Domrémy.

 Maio de 1860: II — Os Médiuns

Mensagem semelhante encontra-se, também, no item XII do capítulo XXXI — "Dissertações Espíritas", de O Livro dos Médiuns.

Sinto-me satisfeito por ver que sois pontuais ao encontro que vos marquei. Possa a bondade de Deus estender-se sobre vós e serdes auxiliados por vossos anjos-da-guarda, com seus conselhos, preservando-vos da influência dos Espíritos maus, se souberdes escutar sua voz e fechar o coração ao orgulho, à vaidade e à inveja.

Encarregou-me Deus de uma missão a cumprir junto aos crentes que ele favorece com o mediunato. Quanto mais graças receberem do Altíssimo, mais perigos correrão; e esses perigos são tanto maiores quanto nascem dos mesmos favores que Deus lhes concede.

As faculdades de que gozam os médiuns lhes atraem os elogios dos homens: felicitações, adulações, eis o escolho. Esses mesmos médiuns, que deveriam ter sempre presente na memória a sua incapacidade primitiva, a esquecem; fazem mais: o que só devem a Deus, atribuem ao seu próprio mérito. Que acontece, então? Os Espíritos bons os abandonam. Não tendo mais bússola para os guiar, se transformam em joguete dos Espíritos enganadores. Quanto mais capazes, mais são levados a considerar sua faculdade um mérito, até que, enfim, para os punir, Deus lhes retira o dom, que apenas lhes pode ser fatal.

Nunca seria demais lembrar que vos recomendeis ao vosso anjo-da-guarda, para que vos auxilie a vos manter vigilantes contra vosso mais fiel inimigo, que é o orgulho. Lembrai-vos de que sem o apoio de vosso divino Mestre, vós, que tendes a felicidade de servir de intermediários entre os Espíritos e os homens, sereis punidos tanto mais severamente quanto mais favorecidos, se não tiverdes aproveitado a luz.

Apraz-me crer que esta comunicação, da qual dareis conhecimento à Sociedade, produzirá seus frutos, e que todos os médiuns que lá se acham reunidos manter-se-ão em guarda contra o escolho que os destruiriam. Esse escolho — já o disse a todos — é o orgulho.

Joana d’Arc

Aviso: Temos a satisfação de anunciar aos nossos leitores a reimpressão da História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma. Essa obra aparecerá em breve, na livraria do Sr. Ledoyen. Voltaremos a falar novamente dela.

Allan Kardec

Dezembro de 1867: Joana d’Arc e seus Comentadores

Joana d’Arc é uma das grandes figuras da França, que se ergue na História como um imenso problema e, ao mesmo tempo, como um protesto vivo contra a incredulidade. É digno de nota que neste tempo de cepticismo, são os mais obstinados adversários do maravilhoso que se esforçam por exaltar a memória desta heroína quase lendária; obrigados a analisar esta vida cheia de mistérios, veem-se constrangidos a reconhecer a existência de fatos que as leis da matéria, por si sós, não poderiam explicar, porque se se tiram esses fatos, Joana d’Arc não passa de uma mulher corajosa, como se veem muitas. Provavelmente não é sem uma razão de oportunidade que a atenção pública é chamada sobre este assunto no momento. É um meio como qualquer outro de rasgar caminho às ideias novas.

Joana d’Arc não é um problema, nem um mistério para os espíritas. É um tipo eminente de quase todas as faculdades mediúnicas, cujos efeitos, como uma porção de outros fenômenos, se explicam pelos princípios da doutrina, sem que haja necessidade de se lhes buscar a causa no sobrenatural. É a brilhante confirmação do Espiritismo, do qual ela foi um dos mais eminentes precursores, não por seus ensinamentos, mas pelos fatos, tanto quanto por suas virtudes, que nela denotam um Espírito superior.

Nós nos propomos fazer um estudo especial a respeito, desde que nossos trabalhos no-lo permitam. Enquanto se espera, não é inútil conhecer a maneira pela qual suas faculdades são encaradas pelos comentadores.

O artigo seguinte é tirado do Propagateur de Lille, de 17 de agosto de 1867.

“Certamente nossos leitores se lembram de que este ano, por ocasião da festa de aniversário do levantamento do cerco de Orléans, o Sr. abade Freppel pediu, com humilde e generosa coragem, a canonização de nossa Joana d’Arc. Hoje lemos na Bibliothèque de l’École de Chartres um excelente artigo do Sr. Natalis de Wailly, membro da Academia das Inscrições, que, a propósito da Joana d’Arc do Sr. Wallon, dá suas conclusões e as da verdadeira ciência sobre a história sobrenatural daquela que foi, ao mesmo tempo, uma heroína da Igreja e da França. Os argumentos do Sr. de Wailly são bem feitos para encorajar as esperanças do abade Freppel e as nossas. — Léon Gautier (Monde).”

“Não há muitas personagens históricas que tenham sido, mais que Joana d’Arc, alvo da contradição dos contemporâneos e da posteridade. Não os há, entretanto, cuja vida seja mais simples nem mais bem conhecida.

“Saída repentinamente da obscuridade, ela não aparece na cena senão para representar um papel maravilhoso, que logo atrai a atenção de todos. É uma jovem que só sabe fiar e costurar, que se pretende enviada de Deus para vencer os inimigos da França. De início tem apenas um pequeno número de partidários devotados, que acreditam em sua palavra; os espertos desconfiam e lhe criam obstáculos: cedem, enfim, e Joana d’Arc pôde conquistar as vitórias que havia predito. Em breve ela arrasta até Reims um rei incrédulo e ingrato, que a atraiçoa no momento em que se prepara para tomar Paris, que a abandona quando ela cai prisioneira nas mãos dos ingleses, e que nem mesmo tenta protestar e proclamar a sua inocência, quando ela vai expirar por ele. No dia de sua morte, não havia apenas inimigos que a declaravam apóstata, idólatra, impudica, ou amigos fiéis que a veneravam como uma santa; também havia ingratos que a esqueciam, sem falar dos indiferentes, que não se preocupavam com ela, e gente esperta que se gabava de jamais ter acreditado em sua missão, ou de nela ter pouco acreditado.

“Todas essas contradições, em meio das quais Joana d’Arc teve que viver e morrer, lhe sobreviveram e a acompanharam através dos séculos. Entre o vergonhoso poema de Voltaire e a eloquente história do Sr. Wallon, produziram-se as mais diversas opiniões; e se todos hoje concordam em respeitar esta grande memória, pode dizer-se que sob a admiração comum ainda se ocultam profundos dissentimentos. Com efeito, quem quer que leia ou escreva a história de Joana d’Arc, vê erguer-se em sua frente um problema que a crítica moderna não gosta de encontrar, mas que aí se impõe como uma necessidade. Este problema é o caráter sobrenatural que se manifesta no conjunto dessa vida extraordinária, e mais especialmente em certos fatos particulares.

“Sim, a questão do milagre se apresenta inevitavelmente na vida de Joana d’Arc; ela embaraçou mais de um escritor e muitas vezes provocou estranhas respostas. O Sr. Wallon pensou com razão que o primeiro dever de um historiador de Joana d’Arc era não se esquivar a esta dificuldade: ele a aborda de frente, e a explica pela intervenção miraculosa de Deus. Tentarei mostrar que esta solução é perfeitamente conforme às regras da crítica histórica.

“As provas metafísicas sobre as quais pode apoiar-se a possibilidade do milagre escapam ou desagradam a certos espíritos; mas a História não tem que fazer essas provas. Sua missão não é estabelecer teorias, mas constatar fatos e registrar todos os que aparecem como certos. Que um fato miraculoso ou inexplicável deve ser verificado com mais atenção, ninguém o contestará; por conseguinte esse mesmo fato, verificado mais atentamente que os outros, adquire, de certo modo, um maior grau de certeza. Raciocinar de outro modo é violar todas as regras da crítica e transferir para a História os preconceitos da metafísica. Não há argumentação contra a possibilidade do milagre que dispense o exame das provas históricas de um fato miraculoso, e a sua admissão, quando capazes de produzir convicção num homem de bom-senso e de boa-fé. Mais tarde se terá o direito de procurar para esse fato uma explicação que satisfaça a este ou àquele sistema científico; mas, antes de tudo, e aconteça o que acontecer, a existência do fato deve ser reconhecida, quando repousar em provas que satisfaçam às regras da crítica histórica.

“Há ou não fatos desta natureza na história de Joana d’Arc? Esta questão foi discutida e debatida por um sábio que precedeu o Sr. Wallon, e desta maneira adquiriu uma autoridade incontestável. Se aqui cito o Sr. Quicherat, de preferência ao Sr. Wallon, não é somente porque um, antes do outro, constatou os fatos que quero lembrar; é, também, porque ele se propôs estabelecê-los sem pretender explicá-los, de sorte que sua crítica, independente de todo sistema preconcebido, limitou-se a estabelecer premissas, cujas conclusões nem mesmo quis prever.

“É claro, diz ele, que os curiosos quererão ir mais longe e raciocinar sobre uma causa, cujos efeitos não lhes bastará admirar. Teólogos, psicólogos, fisiologistas, eu não tenho solução a lhes indicar; que encontrem, se puderem, cada um de seu ponto de vista, os elementos de uma apreciação que desafie todos os contraditores. A única coisa que me sinto capaz de fazer na direção em que se exercer semelhante pesquisa é apresentar, sob sua forma mais precisa, as particularidades da vida de Joana d’Arc que parecem sair do círculo das faculdades humanas.

“A mais importante particularidade, a que domina todas as outras, é o fato de vozes que ela escutava várias vezes por dia, que a interpelavam ou lhe respondiam, cujas inflexões ela distinguia, referindo-as sobretudo a São Miguel, a Santa Catarina e a Santa Margarida. Ao mesmo tempo se manifestava uma viva luz, na qual ela percebia a figura de seus interlocutores. ‘Eu os vejo com os olhos do meu corpo, dizia ela aos seus juízes, tão bem quanto vos vejo.’ Sim, ela sustentava com inabalável firmeza que Deus a aconselhava por intermédio dos santos e dos anjos. Um instante ela se desmentiu; fraquejou diante do medo do suplício; mas chorou sua fraqueza e a confessou publicamente; seu último grito nas chamas foi que suas vozes não a tinham enganado e que suas revelações eram de Deus. Deve-se, pois, concluir com o Sr. Quicherat que ‘sobre este ponto a mais severa crítica não tem suspeitas a levantar contra a sua boa-fé.’ Uma vez constatado o fato, como certos sábios o têm explicado? De duas maneiras: ou pela loucura, ou por simples alucinação. Que diz a isto o Sr. Quicherat? Que prevê grandes perigos para os que quiserem classificar os fatos da Pucela entre os casos patológicos.

“Mas, acrescenta ele, quer a Ciência aí encontre ou não a sua explicação, não será menos necessário admitir as visões e, como vou fazer ver, estranhas percepções de espírito, resultantes dessas visões.

“Quais são essas estranhas percepções de espírito? São revelações que permitiram a Joana: ora conhecer os mais secretos pensamentos de certas pessoas, ora perceber objetos fora do alcance dos sentidos, ora discernir e anunciar o futuro.

“O Sr. Quicherat cita para cada uma destas três espécies de revelações ‘um exemplo assentado sobre bases tão sólidas que não se pode, diz ele, rejeitá-lo sem rejeitar o próprio fundamento da História.’

“Em primeiro lugar, Joana revelou a Carlos VII um segredo conhecido apenas por Deus e por ele, único meio que ela teve de forçar a crença deste príncipe desconfiado.

“Depois, achando-se em Tours, discerniu que havia, entre Loches e Chinon, na igreja de Santa Catrina de Fierbois, enterrada a uma certa profundidade, perto do altar, uma espada enferrujada e marcada com cinco cruzes. A espada foi encontrada e mais tarde seus acusadores lhe imputaram ter sabido, por ouvir dizer, que essa arma lá estava ou que ela própria a teria colocado ali.

“Sinto, disse a propósito o Sr. Quicherat, quanto semelhante interpretação parecerá forte num tempo como o nosso; ao contrário, quão fracos os fragmentos de interrogatório que ponho em oposição; mas quando se tem sob os olhos o processo inteiro, e quando se vê de que maneira a acusada põe sua consciência a descoberto, então é seu testemunho que é forte, e a interpretação dos argumentadores que é fraca.

“Deixo, enfim, o próprio Sr. Quicherat contar uma das predições de Joana d’Arc:

“Numa de suas primeiras conversas com Carlos VII, ela lhe anunciou que, operando-se a libertação de Orléans, ela seria ferida, mas sem ser posta fora de combate; suas duas santas lho haviam dito e o acontecimento lhe provou que não a tinham enganado. Ela confessa isto em seu quarto interrogatório. Estaríamos reduzidos a esse testemunho, que o cepticismo, sem pôr em dúvida a sua boa-fé, poderia imputar seu dito a uma ilusão de memória; mas o que demonstra que ela efetivamente predisse seu ferimento, é que o recebeu a 7 de maio de 1429, e que a 12 de abril precedente, um embaixador flamengo, que estava na França, escrevia ao governo de Brabant uma carta na qual não só era contada a profecia, mas a maneira por que se realizaria. Joana teve o ombro atravessado por uma flecha de balestra, no assalto do forte de Tourelles, e o enviado flamengo tinha escrito: Ela deve ser ferida por uma flecha num combate diante de Orléans, mas não morrerá. Essa passagem de sua carta foi consignada nos registros da Câmara de contas de Bruxelas.

“Um dos sábios cuja opinião eu lembrava há pouco, aquele que faz de Joana d’Arc uma alucinada antes que uma louca, não contesta suas predições e as atribui a uma sorte de impressionabilidade sensitiva, a uma irradiação da força nervosa, cujas leis ainda não são conhecidas.

“Estão bem certos de que essas leis existem e que jamais devem ser conhecidas? Enquanto não o forem, não é melhor confessar francamente sua ignorância do que propor tais explicações? Toda hipótese é boa quando se trata de negar a ação da Providência, e a incredulidade dispensa qualquer raciocínio? Não se deveria dizer que, desde a origem dos tempos a imensa maioria dos homens concordou em acreditar na existência de um Deus pessoal que, depois de haver criado o mundo, o dirige e se manifesta quando lhe apraz, por sinais extraordinários? Se fizessem calar um instante o seu orgulho, não ouviriam esse concerto de todas as raças e de todas as gerações? O que é maravilhoso é que se possa ter uma fé tão robusta em si mesmo quando se fala em nome de uma ciência que é a mais incerta e a mais variável de todas, de uma ciência cujos adeptos não cessam de contradizer-se, cujos sistemas morrem e renascem como a moda, sem que jamais a experiência tenha podido arruiná-los ou assentar definitivamente um só deles. Eu diria com muito gosto a esses doutores em patologia: Se encontrardes doenças como a de Joana d’Arc, guardai-vos de as curar; trabalhai muito, antes que se tornem contagiosas.

“Mais bem inspirado, o Sr. Wallon não pretendeu conhecer Joana d’Arc melhor do que ela própria. Posto em face da mais sincera das testemunhas, ouviu-a atentamente e votou-lhe inteira confiança. Essa mistura de bom-senso e elevação, de simplicidade e grandeza, essa coragem sobre-humana, realçada ainda por curtos desfalecimentos da natureza, não lhe apareceram como sintomas de loucura ou de alucinação, mas como sinais espetaculares de heroísmo e de santidade. Aí, e não alhures, estava a boa crítica; daí vem que, procurando a verdade, também encontrou a eloquência e ultrapassou a todos que o tinham precedido nessa via. Merece ser posto à frente desses escritores, dos quais disse excelentemente o Sr. Quicherat:

“Eles restituíram Joana tão inteira quanto puderam, e quanto mais se empenhavam em reproduzir a sua originalidade, mais encontravam o segredo de sua grandeza.

“O Sr. Quicherat achará muito natural que eu tome suas palavras para caracterizar um sucesso, para o qual ele contribuiu mais que ninguém; porque, se não lhe conveio escrever, ele próprio, a história de Joana d’Arc, doravante é impossível empreendê-lo sem recorrer aos seus trabalhos. O Sr. Wallon, em particular, deles tirou imenso proveito, sem ter quase nunca nada a modificar, nem nos textos recolhidos pelo editor, nem em suas conclusões. Entretanto, não os aceitou sem controle. É assim que aponta uma omissão involuntária, de que se prevaleceu um escritor, que antes se inclina para a alucinação do que para a inspiração de Joana d’Arc. Lê-se na página 216 do Processo (tomo I), que Joana d’Arc estava em jejum no dia em que, pela primeira vez, ouviu a voz do anjo, mas que não tinha jejuado no dia anterior. Na página 52, ao contrário, o Sr. Quicherat tinha impresso: et ipsa Johanna jejunaverat die proecedenti. Suprimindo na página 216 a negação que falta na página 52, tinham-se dois jejuns consecutivos, que pareciam uma causa suficiente de alucinação. O manuscrito não se presta a esta hipótese; o Sr. Wallon constatou que a exatidão habitual do Sr. Quicherat aqui se acha em falta, e que é preciso ler, na página 52, non jejunaverat.

“A única discordância um tanto grave que percebo entre os dois autores é quando apreciam os vícios de forma assinalados no processo. O Sr. Quicherat sustenta que Pierre Cauchon era muito hábil para cometer ilegalidades, e o Sr. Wallon o julga muito apaixonado para ter podido se defender. Não estou em condições de decidir esta questão; apenas farei notar que, no fundo, ela tem pouca importância, porque, de um e de outro lado, estão de acordo quanto à iniquidade do juiz e a inocência da vítima.

“Encontro o Sr. Wallon, afirmando com o Sr. Quicherat, contrariamente a uma opinião já antiga, e que ainda conserva partidários, que Carlos VII, uma vez sagrado em Reims, Joana d’Arc ainda não tinha realizado toda a sua missão, porquanto ela própria se tinha anunciado como devendo, além disso, expulsar os ingleses. Deixo deliberadamente de lado a libertação do duque de Orléans, porque é um ponto sobre o qual suas declarações não são tão explícitas. Mas no que concerne à expulsão dos ingleses, tem-se a própria carta que ela lhes dirigiu em 22 de março de 1429: ‘Eu aqui vim por Deus, o rei do céu, corpo por corpo, para vos expulsar de toda a França.’ Seus curtos desfalecimentos nada podem contra esse texto autêntico, confirmado por ela em muitas ocasiões, até que o consagrasse sobre a fogueira, por um protesto supremo. Assim, não sei por que persiste a dúvida, sobretudo no espírito dos que creem na inspiração de Joana d’Arc. Como podem conhecer sua missão, senão por ela? e por que recusar-lhe aqui a crença que lhe concedem alhures?

“Dirão que ela fracassou; portanto, não tinha missão de Deus para o empreender. Tal foi, com efeito, o triste pensamento que se apoderou dos espíritos, quando a souberam prisioneira dos ingleses. Mas o piedoso Gérson, alguns meses antes de morrer, e no seguinte à libertação de Orléans, de certo modo tinha previsto os reveses após a vitória, não como uma desaprovação a Joana d’Arc, mas como castigo para os ingratos que ela vinha defender. Escrevia ele em 14 de maio de 1529:

“Ainda mesmo — que Deus não o permita! — que ela se tivesse enganado em sua esperança e na nossa, daí não se devia concluir que o que ela fez vem do espírito maligno e não de Deus; mas antes de atribuir a culpa à nossa ingratidão e ao justo julgamento de Deus, embora secreto... porque Deus, sem mudar de opinião, muda a sentença conforme os méritos.

“Ainda aqui o Sr. Wallon fez boa crítica: não divide os testemunhos de Joana d’Arc; ele os aceita todos e os proclama sinceros, mesmo quando não parecem ser proféticos. Acrescento que os justifica plenamente, mostrando que, se tinha a missão de expulsar os ingleses, não prometeu executar tudo por si mesma, mas que começou a obra e predisse a sua conclusão. O Sr. Wallon o sentiu bem. Não é compreender Joana d’Arc glorificá-la em seus triunfos para a renegar em sua paixão.

“Sobretudo nós, que conhecemos o desenlace desse drama maravilhoso, nós que sabemos que os ingleses com efeito foram expulsos do reino e a coroa de Reims consolidada na cabeça de Charles VII, devemos crer, com o Sr. Wallon, que Deus jamais deixou de inspirar aquela, cuja grandeza lhe aprouve consagrar pela provação, e a santidade pelo martírio.” — N. de Wailly.

O nosso correspondente de Antuérpia, que houve por bem nos enviar o artigo acima, juntou a nota que se segue, oriunda de suas pesquisas pessoais sobre o processo de Joana d’Arc:

“Pierre Cauchon, bispo de Beauvais, e um inquisidor chamado Lemaire, assistidos por sessenta assessores, foram os juízes de Joana. Seu processo foi instruído segundo as formas misteriosas e bárbaras da Inquisição, que havia jurado a sua perda. Ela quis que a decisão do julgamento fosse delegada ao papa e ao Concílio de Basiléia, mas o bispo se opôs. Um padre, L’Oyseleur, a enganou, abusando da confissão, e lhe deu funestos conselhos. Por força de intrigas de toda sorte, ela foi condenada em 1431 a ser queimada viva, ‘como mentirosa, perniciosa, enganadora do povo, adivinha, blasfemadora de Deus, descrente na fé de Jesus-Cristo, vaidosa, idólatra, cruel, dissoluta, invocadora dos diabos, cismática e herética.’

“Em 1546 o papa Calisto III fez pronunciar, por uma comissão eclesiástica, a reabilitação de Joana e, por uma sentença solene, foi declarado que Joana morreu mártir para a defesa de sua religião, de sua pátria e de seu rei. O papa quis mesmo canonizá-la, mas sua coragem não foi tão longe.

“Pierre Cauchon morreu subitamente, em 1443, fazendo a barba. Foi excomungado; seu corpo foi desenterrado e atirado num monturo.”

Dezembro de 1866: O Lavrador Thomas Martin e Luís XVIII

As revelações feitas a Luís XVIII por um lavrador da Beauce, pouco depois da segunda entrada dos Bourbons, tiveram no tempo uma grande repercussão e, ainda hoje, a sua lembrança não se apagou. Mas poucas pessoas conhecem os detalhes deste incidente, cuja chave agora só o Espiritismo pode dar, como de todos os fatos deste gênero. É um assunto de estudo muito interessante, porque os fatos, quase contemporâneos, são de perfeita autenticidade, já que são constatados por documentos oficiais. Dar-lhe-emos um resumo sucinto, mas suficiente para que sejam apreciados...

Próximo ao fim do texto, temos: 

Como se vê, há mais de uma similitude entre estes fatos e os de Joana d’Arc, não que haja qualquer comparação a estabelecer quanto à importância dos resultados realizados, mas quanto à causa do fenômeno, que é exatamente a mesma e, até certo ponto, quanto ao objetivo. Como Joana d’Arc, Martin foi advertido por um ser do mundo espiritual para ir falar ao rei para salvar a França de um perigo e, também como ela, não foi sem dificuldade que chegou até ele. Há, todavia, entre as duas manifestações, esta diferença: Joana d’Arc apenas ouvia as vozes que a aconselhavam, ao passo que Martin via constantemente o indivíduo que lhe falava, não em sonho ou em sono extático, mas sob a aparência de um ser vivo, como o seria um agênere.