Salmo Responsorial 144(145)-R- Vós abris a vossa mão e saciais os vossos filhos.
2ª Leitura: Romanos 8,35.37-39
Evangelho de Mateus 14, 13-21
Ao ser informado da morte de João, Jesus partiu dali e foi, de barco, para um lugar deserto, a sós. Quando as multidões o souberam, saíram das cidades e o seguiram a pé. 14 Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. 15 Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!” 16 Jesus porém lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!” 17 Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. 18 Ele disse: “Trazei-os aqui”. 19 E mandou que as multidões se sentassem na relva. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos; e os discípulos os distribuíram às multidões. 20 Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios. 21 Os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças
DOM JULIO ENDI AKAMINE
Arcebispo Metropolitano de Sorocaba
As multidões estão com fome e não tem nada o que comer. Nada? Há cinco pães e dois peixes! Mas o que é isso para uma multidão de mais ou menos cinco mil homens?
Todos olham para Jesus esperando que Ele resolva, num passe de mágica, o problema. Parece até que dá para ouvir de novo o Tentador dizendo a Jesus: “Se és filho de Deus, transforma estas pedras em pães”. Teria sido um sucesso estrondoso se Jesus fizesse tal milagre. Mas a resposta de Jesus é “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus não quer que a fartura fácil e o milagre sejam usados para submeter as pessoas. Ele não quer fazer do poder de realizar milagres uma forma de subjugar as massas.
Por isso, Jesus realiza um outro milagre. “Ele pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões”.
Cada palavra aqui é importante e está repleta de significado. Jesus tomou o pouco, orou e rendeu graças. É pouco, quase nada, mas é dom de Deus e é preciso agradecer. Ele não fica se lamentando com Deus pelo pouco. O pouco é recebido com imensa gratidão.
Depois ele parte os pães. Importa partir o pão! Parte o próprio pão. Não é o pão do outro! Esse pouco tão pobre e tão precioso dom de Deus é partido e dados aos discípulos. E esse partilhar o pouco cria uma onda sucessiva de partilha: os discípulos distribuem esse pão exíguo e abençoado para as multidões. É acontece o milagre: todos ficaram saciados e ainda sobraram dozes cestos cheios.
Na missa Jesus continua realizando o milagre: Ele se dá a si mesmo! Ele é o pão dado a nós. Ele é o nosso precioso dom de Deus, partilhado conosco para que vivamos e para que o partilhemos com os outros.
Comentário do Pe. Freddy Goven, BA
2. Mt 14,13-21 Diante da fome do povo: “Jesus: Tragam 5 pães e 2 peixes. Mandou o povo se sentar. Tomou pães e peixes, elevou os olhos para o céu, partindo os pães os abençoou e os entregou.” Viver com Cristo nos mergulha na relação com homens e mulheres de nosso tempo oferecendo-lhes um sinal concreto da misericórdia e atenção de Cristo. O diretor da UNESCO deu um grito de alarme sobre a próxima fome mundial. Nunca foram produzidas tantas armas!
Um provérbio oriental diz que «quando o dedo do profeta aponta para a lua, o tolo olha para o dedo». Algo semelhante poderia ser dito de nós quando fixamos exclusivamente no caráter portentoso dos milagres de Jesus, sem alcançar a mensagem que eles contêm.
Porque Jesus não foi um milagreiro dedicado a realizar prodígios propagandísticos. Seus milagres são sinais que abrem uma brecha neste mundo de pecado e apontam já para uma realidade nova, meta final do ser humano.
Concretamente, o milagre da multiplicação dos pães convida-nos a descobrir que o projeto de Jesus é alimentar os homens e reuni-los numa fraternidade real na qual saibam como partilhar «Seu pão e Seu peixe» como irmãos.
Para o cristão, a fraternidade não é uma exigência junto com outras. É a única maneira de construir, entre os homens, o reino do Pai. Essa fraternidade pode ser mal entendida. Com demasiada frequência a confundimos com «um egoísmo vivo que sabe comportar-se muito decentemente» (Karl Rahner).
Pensamos que amamos o nosso próximo simplesmente porque não lhe fazemos nada especialmente mau, embora mais tarde vivamos com um horizonte mesquinho e egoísta, despreocupados de todos, movidos apenas pelos nossos próprios interesses.
A Igreja, enquanto «sacramento de fraternidade», é chamada a promover, em cada momento da história, novas formas de estreita fraternidade entre os homens. Os crentes devem aprender a viver com um estilo mais fraterno, escutando as novas necessidades do homem de hoje.
A luta pelo desarmamento, a proteção do meio ambiente, a solidariedade com os famintos, o partilhar com os desempregados as consequências da crise econômica, a ajuda aos drogados, a preocupação com os idosos sozinhos e esquecidos... são outras tantas exigências para quem se sente irmão e quer «multiplicar» por todos o pão que os homens necessitam para viver.
O relato do evangelho lembra-nos de que não podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe, enquanto junto a nós há homens e mulheres ameaçados por tantas «fomes». Os que vivem tranquilos e satisfeitos devem ouvir as palavras de Jesus: «Dai-lhes vós de comer».
ELES NÃO PRECISAM IR EMBORA
Ana Maria Casarotti
Continua-se a leitura do evangelho de Mateus. Nos domingos anteriores meditamos os ensinamentos de Jesus sobre o Reino do Céu através das parábolas. Elas revelam o segredo de Deus para os que têm fé. Nas palavras de Jesus tudo se renova e toma um novo sentido. O final do capítulo 13 do evangelho de Mateus apresenta-nos a volta de Jesus para sua terra. Ele se dirige à sinagoga “para ensinar”, mas suas palavras não são recebidas. Ficam assombrados pela sua sabedoria e seu conhecimento, mas como “eles” conhecem sua origem, sua autoridade é questionada e desestimada.
É impossível que uma pessoa pobre e simples como Jesus tenha essa capacidade e um poder de autoridade que proceda de Deus. Sua origem inabilita sua sabedoria. Jesus não pode ser um enviado de Deus, porque é “como eles”. No começo as pessoas ficam admiradas, e depois de questionar a origem da sua sabedoria ficam escandalizadas por causa dele. E por isso Jesus não pode fazer nenhum milagre aí, pois não tinham fé!
O capítulo 14 do evangelho de Mateus começa com a narrativa da morte de João Batista. Apresenta-se Herodes e sua decisão de matar o Batista, que já estava no cárcere porque sua pessoa incomodava Herodes. Tinha medo de matá-lo por causa da admiração que gerava no povo. Mas o momento considerado oportuno para mandar matar o Batista chega quando Herodes celebra seu aniversário, num banquete, por causa de um juramento que ele tinha feito na frente dos convidados. Para cumprir suas palavras, manda cortar a cabeça do Batista.
Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barca para um lugar deserto e afastado.
Assim começa o texto que lemos hoje. João era amigo de Jesus e podemos imaginar a sua dor pela morte do amigo, por isso ele parte e retira-se para outro lugar. Para Jesus a morte do Batista é também um prenúncio da sua própria morte. Jesus sabe que se as palavras de João incomodavam os poderes políticos e religiosos, suas palavras, ensinamentos e atitudes em favor dos desprotegidos e dos mais pobres também são rejeitadas, censuradas e geram reprovação.
Assim Jesus se dirige a um lugar deserto e afastado. Mas o grupo de pessoas que o segue e encontra consolo e descanso nas suas palavras e ações, não vai abandoná-lo. Essa multidão o segue e continua procurando-o apesar de ter que ir por outros caminhos.
A narrativa apresenta-nos duas atitudes diferentes, mas que se encontram no final do caminho. Jesus que parte na barca para um lugar afastado e as multidões que ficam sabendo da sua partida e saem “das cidades e o seguiram a pé”. As pessoas continuam a procurá-lo. Elas não podem deixá-lo partir e por isso o seguem. Possivelmente nestas multidões vindas dos diversos povoados há diferentes desejos e finalidades na procura de Jesus. Mas sua pessoa, suas palavras, seu agir os atrai, os admira, os consola. Junto dele sentem-se protegidos, queridos, confortados.
Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles e curou os que estavam doentes.
Jesus sai da barca e vê a multidão. É um olhar que desperta nele compaixão. Não afasta seu olhar das pessoas, não fica indiferente, pelo contrário, se deixa comover pelas pessoas. “Teve compaixão.”
Como disse Francisco: “Compaixão significa colocar o coração na jogada, significa misericórdia. A mesma que Jesus sente diante da multidão caída sobre a margem do lago Tiberíades; sozinhas, separadas, “como ovelhas que não têm pastor”. Jesus se comove, ele vê as pessoas e não consegue ficar indiferente porque o verdadeiro amor é inquieto, não tolera a indiferença, tem compaixão.
Sensibilizado por seu olhar compassivo Jesus age e cura as pessoas, recebe as súplicas e as doenças dos que caminharam na sua busca.
Ao entardecer, os discípulos chegaram perto de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto, e a hora já vai adiantada".
Neste momento da narrativa aparecem os discípulos. Aparentemente estão preocupados pelas pessoas para que não fiquem sem alimento quando chegue a noite. Para eles é preciso que retornem para os povoados próximos e procurem o alimento necessário. A multidão é grande e é preciso que não fiquem sem comida, devem se alimentar! É um bom desejo e assim o comunicam a Jesus: “Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar alguma coisa para comer”.
Mas a resposta de Jesus os desconcerta e confunde.
Jesus lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm que lhes dar de comer”.
No proceder dos discípulos percebe-se uma tentativa de convencer Jesus. Consideram-se portadores de uma realidade que Jesus não está percebendo? Os doentes são curados, as pessoas recebem as palavras de Jesus com entusiasmo, mas para os discípulos a noite vai chegar e as pessoas não têm alimento, por isso atuam como mensageiros “da realidade” para Jesus e dão-lhe a ordem de “despedir as multidões”.
“Os discípulos olham a enorme multidão que segue Jesus e sugerem ao Messias: “Despeça-se deles, que vão pelos campos, na escuridão, com fome. É problema deles... Nós temos cinco pães e dois peixes para nós”. Jesus, no entanto, como sempre surpreende e “dá o primeiro passo” porque “nos ama” e tem compaixão; enquanto nós, inclusive se somos bons, muitas vezes não entendemos as necessidades dos outros e permanecemos indiferentes. Mas por que Deus fez isso? Por “compaixão”, enfatiza o Bispo de Roma. (O Papa pede para olhar os pobres de frente)
Jesus contradisse o desejo dos discípulos que procuram que as pessoas sejam despedidas porque consideram que é o melhor: afastá-las de Jesus para que possam se alimentar! Quantas vezes tentamos resolver uma situação complexa afastando-a da nossa vista e até pensamos ou nos convencemos que isso é o melhor.
Eles têm uma responsabilidade intransferível diante do problema que Jesus lhes apresenta e que eles já tinham percebido, mas tentavam evadir. Jesus lhes disse, “dai-lhes vocês de comer”. Mas ainda eles não o compreendem e continuam considerando-o um problema de quantidade: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”.
Para eles é uma quantidade ínfima, não é suficiente para essa grande multidão. Que se pode fazer com cinco pães e dois peixes? Na mentalidade dos discípulos, é muito pouco. Somente é possível que um pequeno grupo receba alimento, mas é uma multidão!
Reconstruindo o cenário da narrativa, vemos Jesus no deserto seguido de uma grande multidão que o procura para receber suas palavras que os libertam da escravidão das doenças que atingem sua vida. Lembre-se que o deserto é para Israel o espaço do encontro com Deus, sem seguranças, sem certezas, o deserto é fundamentalmente o lugar onde Deus manifestou sua presença que acompanha e alimenta seu povo diante das necessidades: o maná que cai do céu, a água que brota da rocha. Mas para isso é preciso partilhar o que se recebe.
Mas o Dom de Deus não pode ser escondido ou acumulado para se ter uma reserva pessoal. Pelo contrário, os dons recebidos de Deus devem ser sempre colocados ao serviço dos irmãos.
Assim fez o jovem que partilhou o pouco que tinha entregando-o para os discípulos e, com essa pequena quantidade colocada nas mãos de Jesus, a multidão foi alimentada. Jesus ensina os discípulos a partilhar. Num primeiro momento eles pensam conforme o mundo, cada um deve pensar em si mesmo, mas “Jesus pensa segundo a lógica de Deus, que é a da partilha”. “Cuidado, não é uma ‘mágica’, é um ‘sinal’. Um sinal que convida a ter fé em Deus, Pai providente, que não nos faz faltar ‘o pão nosso de cada dia’, se sabemos compartilhá-lo como irmãos.
Neste domingo Jesus convida-nos a colocar nossos bens e nossas pequenas qualidades ao serviço dos irmãos. Jesus convida-nos a amar com um coração sincero e ainda mais neste momento em que tantas pessoas no mundo inteiro estão ficando sem trabalho, sem saber o que fazer por causa da pandemia que alcança a sociedade sem distinção.
Nos ambientes onde falta o alimento e as necessidades básicas ficam sem resposta, a solidariedade entre as pessoas questiona a indiferença de tantos grupos e pessoas que refletem, escrevem ou até informam sobre a dura realidade que está se passando, mas não oferecem respostas concretas partindo daquilo que é tão pequeno que passa despercebido.
Jesus convida-nos a colocar ao serviço dos nossos irmãos e irmãs nossos cinco pães e dois peixes e construir assim uma sociedade mais justa e fraterna.
A vida de Jesus está estreitamente ligada à daquele que foi o seu mestre, João Batista, definido por ele como “o maior entre todos os nascidos de mulher” (Mt 11,11).
Jesus iniciou o seu ministério público logo depois que João foi preso (cf. Mt 4,12), quase como que recolhendo o seu testemunho. Agora, tendo recebido a notícia da morte violenta de João, ele sente a necessidade de se retirar e vai de barco para um lugar deserto. Não se trata de uma fuga, mas sim de uma pausa necessária para meditar sobre aquele evento em solidão e para chegar a discernir o seu significado diante de Deus.
Mas as urgências da vida logo reaparecem no horizonte de Jesus. As numerosas multidões, que ficaram sabendo da sua partida, seguem-no a pé, contornando o lago da Galileia: o seu desejo de estar com ele parece não admitir dilações...
Jesus não tarda em sair ao seu encontro, talvez sentindo ainda mais a responsabilidade por essas pessoas, dado o vazio deixado por João. Como já havia acontecido com ele, ao ver as multidões, ele treme de compaixão e cuida particularmente dos doentes.
A necessidade dessas “ovelhas sem pastor” (Mt 9,36) leva Jesus a agir concretamente por elas: mais uma vez, ele se comporta como “homem para os outros”, fazendo o que está ao seu alcance para dar paz e consolação a quem está cansado e oprimido (cf. Mt 11,28).
Quando a noite cai, os discípulos pedem a Jesus que se despeça das multidões, para que, saindo daquele lugar deserto, se dirijam aos vilarejos vizinhos para comprar comida. Jesus, porém, os pega de surpresa e os chama a converter o seu olhar, respondendo: “Eles não precisam ir embora”. Os discípulos já deveriam saber que a comunhão com Jesus é fonte de vida abundante, que escutá-lo significa comer coisas boas, de acordo com as palavras do profeta (cf. Is 55,3). Portanto, se aderissem com plena confiança a ele, poderiam compartilhar aquilo que têm e fazer o que ele pede: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Mas a reação dos discípulos – aparentemente ditada pelo bom senso: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes” – mostra, na verdade, a sua incompreensão, cujo verdadeiro nome é “pouca fé”, aquela doença do coração várias vezes repreendida por Jesus (cf. Mt 8,26; 14,31; 16,8; 17,20)...
Então, é o Senhor mesmo quem toma a iniciativa, mandando que os discípulos tragam os poucos pães e peixes disponíveis e que as multidões se sentem na grama. Assumindo o sentimento de Deus, o Pastor misericordioso cantado no Salmo 23, Jesus está prestes a renovar o banquete pascal vivido por Israel no deserto (cf. Ex 12-13), está prestes a preparar o banquete messiânico profetizado por Davi (cf. 2Sm 6,19) E essa recapitulação da história da salvação é realizada através de gestos simples e cotidianos, que conhecemos bem: “Pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões”.
São os mesmos gestos feitos por Jesus na última ceia (cf. Mt 26,26), aqueles gestos à vista dos quais os dois discípulos a caminho de Emaús o reconheceriam como Ressuscitado (cf. Lc 24,30-31), aqueles gestos que nós repetimos no coração de toda a celebração eucarística: são a síntese de toda a vida de Jesus, gasta e entregue até à morte por amor aos homens e mulheres.
Eis a grande realidade contida nesse sinal da partilha dos pães e dos peixes: assim como Cristo entregou a sua vida pelos homens e mulheres, assim também todo cristão, seu discípulo, deve dar a vida pelos irmãos...
“Todos comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram ainda doze cestos cheios”, tantos quantas as tribos de Israel, cheios “dos pedaços que sobraram”. O dom de Jesus é superabundante, ele é o profeta que faz sinais muito maiores do que os de Eliseu (cf. 2Rs 4,42-44), é o Messias prometido a Israel e a toda a humanidade, como aparecerá na outra multiplicação dos pães, realizada por ele nas fronteiras do território pagão (cf. Mt 15,32-39).
E, acima de tudo, Jesus se parece cada vez mais com o Messias “manso e humilde de coração” (Mt 11,29): ele, que também é menor do que João por ter nascido depois dele, é o maior no reino dos céus ( cf. Mt 11,11); é ele quem cuida de nós, dando-nos a sua vida e pedindo que assumamos os seus sentimentos.
FARTURA DE ALIMENTO
DE DOM PAULO PEIXOTO
A natureza é um dom de Deus, organizada dentro de uma perfeita harmonia e cada peça é fundamental para preservar o existir dos seres. Aí está o valor dos alimentos, porque são fontes de preservação da vida, tanto dos animais como dos seres humanos. Foi dentro das exigências desta dimensão que Jesus, diante da fome do povo que o acompanhava, fez a multiplicação de pães e de peixes.
Estima-se que a população mundial já chegou a sete bilhões e setecentos milhões. Há uma estimativa de que chegará a onze bilhões e duzentos milhões em 2100. É muita gente e não é pouco alimento que vai sustentar a todos. Mas a terra é generosa quando é bem trabalhada. Ainda há fartura de alimento no mundo. O que falta é o cuidado com a distribuição e o desperdício, que acontece.
O Brasil é privilegiado na produção de grãos e de inúmeros benefícios produzidos pela terra. Mesmo assim muita gente passa fome, porque não há uma equitativa destinação do que é produzido, principalmente pelo agronegócio. O que conta é o mercado externo, porque traz divisa, riqueza para os empresários bem sucedidos. Não existe uma visão humana privilegiando o consumo interno.
A atitude de Jesus foi de compaixão, de preocupação com o outro, com o humano e com quem não tinha condições para adquirir alimento. A responsabilidade de alimentar o povo é do próprio país, criando mecanismos para isto. Quando existe partilha, todos ficam saciados e os alimentos sobram. Na figura do maná, ninguém podia armazenar alimento para o dia seguinte, porque perdia (Ex 16,20).
Na imagem da multiplicação de poucos pães e de alguns peixes realizada por Jesus, com a finalidade de saciar a vida de muita gente, houve sobra porque foram capazes de praticar a partilha e de organizar o povo. Essa sobra foi recolhida para que fosse evitado o desperdiço e ser usada em outro momento. O mais importante é dar atenção ao problema da fome, causa de sofrimento e morte.
É Deus quem provê o alimento fazendo a terra produzir, contando para isto com o trabalho das pessoas. Isso significa que ninguém é privilegiado por ter o que comer e beber, mesmo conseguindo com seu trabalho, mas é sim um direito adquirido pelos indivíduos. Todas as pessoas nasceram para a vida e necessitam de alimento suficiente para sua sobrevivência e realização pessoal.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
E PARA QUEM LÊ ESPANHOL...
De Damian Daninni, Argentina
DOMINGO 18 DURANTE EL AÑO CICLO "A"
Primera lectura (Is 55,1-3)
El capítulo 55 de Isaías cierra la segunda parte de su profecía conocida como deuteroisaías o segundo Isaías. Se trata de un oráculo de restauración que anuncia el regreso de los deportados a Jerusalén, a quienes invita, en primer lugar, a prepararse para poseer y gozar gratuitamente de los bienes de la tierra. Pero enseguida la exhortación pasa al plano “espiritual o simbólico” por cuanto invita a dejar de lado todo lo que no viene del Señor para concentrarse en la escucha de la Palabra de Dios y en la vivencia de la Alianza con Él[1]. Por tanto, hay una clara transposición de la comida y la bebida al plano espiritual; en otras palabras: Dios los invita a saciarse de Él y de su salvación.
Una buena síntesis nos la ofrece L. Monloubou: "La reflexión profética se mueve, a la vez, en la realidad y el símbolo. Ciertamente, es a personas que conocen la pobreza a quienes se dirige este predicador del Antiguo Testamento; a gentes para las que el hambre y la sed eran cosas experimentadas, conocidas. Pero partiendo de la dura necesidad que han tenido y siguen teniendo todavía, partiendo asimismo de su gran deseo de un bien que les colme, el profeta invita a los desterrados a buscar un bien superior […] La revelación de esta intervención salvadora es la que, a los ojos del profeta, se convierte en el alimento más capaz de saciar a los deportados de Babilonia, en la única bebida capaz de quitar la sed. Sin duda hay que decir que la situación de pobreza, el hambre, la sed que los desterrados conocen, les dispone a acoger la revelación de un valor superior: el mensaje de la salvación"[2].
Evangelio (Mt 14,13-21)
La sección del evangelio de Mateo que abarca de 14,1 a 16,20 está caracterizada por dos temas fundamentales: la retirada de Jesús frente a los adversarios con quienes tuvo situaciones conflictivas (Herodes, escribas, fariseos, saduceos); y una mayor dedicación a sus discípulos (consecuencia, en parte, de lo anterior) a los que va asociando a su obra y les va anunciando el nacimiento de la nueva comunidad: la Iglesia.
La estructura interna de esta sección incluye tres grandes bloques:
1. Primera retirada y enseñanzas (14,1-15,20);
2. Segunda retirada y enseñanzas (15,21-16,4a);
3. Tercera retirada, confesión de Pedro y promesa de la Iglesia (16,4b-20)[3].
Vale esta información por cuanto los evangelios de los domingos ordinarios 18, 19, 20 y 21 están tomados de esta sección de Mateo.
Justamente el evangelio de hoy comienza con una referencia a la retirada de Jesús (cf. 14,13 con el verbo anaxoréw que se repite en 15,21) después de enterarse de la muerte de Juan el Bautista por orden del rey Herodes (cf. 14,12). Jesús interpreta la muerte del Bautista como el signo confirmatorio del rechazo de Israel a su predicación y, por tanto, como el cierre de una etapa de la historia de la salvación. En cierto modo “la Ley y los profetas” llegan hasta Juan Bautista y con su muerte se inicia el período del cumplimiento (cf. Mt 11,13).
Juan Bautista fue para Mateo un nuevo Elías con la misión de preparar el camino a la venida del Mesías (cf. 17,10-13); pero las autoridades no creyeron en él (cf. Mt 21,32). Ya anteriormente, con el arresto de Juan Bautista, Jesús se retiraba (se utiliza aquí también el verbo anaxoréw) a Galilea dando comienzo a su predicación a Israel (cf. Mt 4,12).
Jesús se retira en la barca buscando un lugar desértico para estar a solas, para tener privacidad. Davies-Allison[4] señalan que no se trata tanto de buscar un lugar para reposar como en texto paralelo de Mc 6,31; sino para esconderse de las amenazas ya que es una reacción ante el asesinato de Juan Bautista.
La narración nos dice que Jesús no logra este propósito pues la multitud lo siguió a pie desde distintas ciudades y, al llegar a la orilla, se encuentra con una gran cantidad de gente. Al verlos Jesús siente compasión y cura a los enfermos.
Desde el comienzo el texto pone de manifiesto que la compasión entrañable o misericordiosa de Jesús ante la gente (verbo splagxnízomai que motiva acciones semejantes de Jesús en Mt 9,36; 15,32; 20,34) es el motor de todo lo que hará: curar a los enfermos y alimentar a los hambrientos.
Al llegar la tarde se da un interesante diálogo entre Jesús y sus discípulos, quienes le sugieren que despida a la multitud para que vayan a lugares poblados a comprarse algo para comer. Según U. Luz “la frase indica quizá que el pueblo no era en su mayoría un pueblo pobre, «agobiado con la preocupación del pan»; Mateo supone obviamente que tienen con qué comprar algo”. Y también nos informa que al parecer “era corriente en las ciudades hacer la comida principal al atardecer” [5].
Jesús les responde mandándoles (el verbo “denles” [δότε] está en imperativo) que ellos mismos los alimenten. Los discípulos dan cuenta de las “reservas” con que cuentan: “cinco panes y dos pescados”. Notemos que “pan y pescado en sal o en escabeche como aditamento son la comida habitual de la gente modesta”[6] y que la cantidad es prácticamente nada en relación con el número de comensales: unos “cinco mil hombres sin contar mujeres y niños” nos dirá Mateo al final del relato (14,21). Sin embargo, Jesús manda que se los traigan; y manda también que la gente se siente en el pasto.
En cuanto a la narración del milagro en sí, con una multiplicación sobreabundante de panes, puede verse como cumplimiento de algunas profecías del Antiguo Testamento que anunciaban una situación donde todos quedarán saciados por Dios como Is 49,10.13 e Is 55,2-3. Para L. Monloubou hay que ver una prolongación, sobre todo, de este último texto isaiano que es justamente la primera lectura de hoy. Según este autor "el tema de la Palabra aflora bajo la corteza del relato mateano; porque la vinculación entre el pan y la palabra estaba suficientemente atestiguada en todo el Antiguo Testamento […] Se comprende entonces la interpretación que da Mateo del milagro de Jesús. Puesto que su enseñanza se ha visto rechazada, Jesús intenta un último esfuerzo. Apela al signo, ese signo que es el pan, cuya importancia vital para todos los hombres, y por tanto para Israel, debe llevar al pueblo a entender el don que se le hace y que comprende su vida"[7].
También es de notar que las acciones y gestos de Jesús se describen con los mismos verbos que en última cena al instituir la Eucaristía (“tomar los panes y los peces, bendecir, partir el pan y dárselo a los discípulos” se repite en Mt 26,26: “tomó Jesús pan y lo bendijo, lo partió y, dándoselo a sus discípulos, dijo: "Tomad, comed, éste es mi cuerpo”); por lo que es aceptable una referencia simbólica a la Eucaristía.
Además, en este relato de la multiplicación de los panes se pone de manifiesto tanto la cercanía de los discípulos a Jesús como el papel mediador de los mismos en relación a la multitud. En efecto, son ellos los que llevan la inquietud del hambre de la gente, son también ellos quienes reciben la orden de Jesús de darles de comer, quienes aportan los cinco panes y los dos peces y quienes distribuyen el pan a la gente. También se dice que sobraron doce canastos, en clara referencia a los doce apóstoles. Por tanto, "el relato es un anuncio de la futura actividad eucarística de los discípulos"[8].
La indicación que hace el evangelista al final del relato diciendo que “comieron todos y se saciaron” y aclarando que se trataba de cinco mil hombres sin contar mujeres y niños (cf. 14,20-21), es una clara manifestación de la generosidad divina, del Padre, que responde a la invocación de Jesús quien “levantando los ojos al cielo, pronunció la bendición”. Y esta sobre abundancia en el don de Dios se refuerza con el sobrante de doce canastos “llenos”.
Para referirse a la “saciedad o satisfacción” de los comensales en 14,20 se utiliza el verbo χορτάζω que tiene un sentido primario referido a “llenarse o saciarse de comida” como en este caso y en 15,33.37; pero que tiene también un sentido más amplio, espiritual, como en la bienaventuranza de 5,6: “Felices los que tienen hambre y sed de justicia, porque serán saciados (χορτάζω)”. Aquí el hambre y sed de la justicia comprende el querer profundo y vital de hacer todo según la Voluntad de Dios; y el ser saciado se refiere a toda la plenitud -ser llenado- de Vida. Como trasfondo del Antiguo Testamento es interesante el Sal 16 LXX que en la versión griega utiliza este mismo verbo en los dos sentidos: como satisfacción por llenarse de bienes materiales (16,14) y como satisfacción por la contemplación de Dios (16,15): “14Llénales el vientre con tus riquezas; que sus hijos también queden hartos (χορτάζω) y dejen el resto para los más pequeños. 15 Pero yo, por tu justicia, contemplaré tu rostro, y al despertar, me saciaré (χορτάζω) de tu presencia”. Notemos que en ambos casos es Dios el que brinda saciedad.
Por tanto, desde este contexto del Antiguo Testamento (recordemos la primera lectura), podemos afirmar que la saciedad obtenida al comer los panes multiplicados por Jesús es un signo de la saciedad como plenitud de vida que el Señor ofrece a todos los creyentes.
Algunas reflexiones:
A lo largo de la historia el texto de la multiplicación de los panes ha tenido diversas interpretaciones, no necesariamente excluyentes entre sí. Pensamos que, de todas ellas, las que guardan cierta relación con el texto y con la intención del evangelista son la social, la eclesiológica, la espiritual y la eucarística.
La primera lectura de hoy (Is 55,1-3), que a su vez nos da el trasfondo veterotestamentario del evangelio de este domingo, orienta la lectura litúrgica del mismo en el sentido de la interpretación simbólico-espiritual. Por tanto, consideramos que lo mejor es comenzar por esta interpretación e integrar las restantes.
El domingo pasado nos preguntábamos por el valor que tiene para nosotros el Reino de Dios, que es la presencia de Jesús en medio nuestro; y cómo tenemos que reaccionar ante su llegada. Y el Señor nos respondía que es lo más valioso y lindo de la vida; y que hay que estar dispuesto a todo para poseerlo.
Hoy podemos preguntarnos, a la luz del evangelio, si hemos tenido alguna experiencia real de encontrarse con el tesoro escondido y la perla preciosa del Reino de Dios. Más concretamente, nos referimos a un encuentro personal con el Señor Jesús, que nos brinda una plenitud interior que es difícil de expresar con palabras. Porque existe un espacio o una dimensión de nuestro corazón que no puede ser llenado sino por Dios. Muchas veces queremos llenarlo con cosas, o incluso con personas, pero el vacío sigue allí. Nada puede llenarlo, sino sólo Dios.
¡Qué bien lo expresaba san Agustín al inicio de sus confesiones!: “Nos hiciste, Señor, para Ti; y nuestro corazón estará inquiero hasta que descanse en Ti” (Confesiones 1,1).
El p. Amedeo Cencini, por su parte, lo explica así: “en el corazón del ser humano hay un espacio que solamente Dios puede llenar, o hay una soledad ineludible que ninguna creatura podrá violar y pretender llenarla; quiere decir reafirmar la dignidad y nobleza de cada hombre y de cada mujer porque su corazón ha sido hecho “por” Dios y “para” Dios, posee una grandeza que le viene directamente de aquél que lo ha creado. Parafraseando aquello que Bloy dice acerca del dolor, podríamos decir que el hombre tiene algunas zonas de su corazón que no existen todavía y que Dios y sólo Dios puede entrar para que existan...."[9].
O con palabras más actuales nos dice el Papa Francisco: “La alegría del Evangelio llena el corazón y la vida entera de los que se encuentran con Jesús. Quienes se dejan salvar por Él son liberados del pecado, de la tristeza, del vacío interior, del aislamiento. Con Jesucristo siempre nace y renace la alegría… Invito a cada cristiano, en cualquier lugar y situación en que se encuentre, a renovar ahora mismo su encuentro personal con Jesucristo o, al menos, a tomar la decisión de dejarse encontrar por Él, de intentarlo cada día sin descanso” (EG n° 1 y 3).
Luego del encuentro con el Señor, podremos testimoniar que valió la pena el cansancio del camino recorrido y la espera junto a los demás. Como en el evangelio de hoy, al final, el Señor dejó a todos saciados por igual, cada uno según su capacidad de recibir. Por eso la multiplicación de los panes y peces es un signo que nos muestra lo que el Señor puede hacer con nosotros “eternamente”, si lo buscamos y seguimos con fidelidad.
Y lo que en verdad “nos llena el alma” es la donación que el Señor hace de sí mismo a nosotros, su entrega de amor infinito que celebramos en cada Eucaristía. Allí el Señor se hace sacramentalmente presente en el signo del pan y se comunica con nosotros. Aquí el Señor nos da un anticipo de la plenitud o saciedad eterna que nos promete.
A su vez esta perspectiva se vincula con la eclesiológica por cuanto es la Iglesia la custodia y la dadora de este Tesoro que es la Eucaristía. Es la Iglesia la que hace presente a Jesús anunciando su Palabra y celebrando la Eucaristía. Y haciendo presente a Jesús va estableciendo el Reino de Dios entre los hombres. Desde esta perspectiva se entiende el protagonismo de los discípulos en el relato con su función de mediación como un anticipo de la Iglesia, o también, como un reflejo de la Iglesia en tiempos de Mateo. En la misma, Jesús sigue manifestando su compasión misericordiosa y su poder, pero lo hace a través de los apóstoles por Él elegidos. Los dones de Dios llegan al pueblo por mano de los discípulos de Jesús.
Y la perspectiva social no es ajena a esto, al contrario, se incluye y hasta se exige. Así el servicio de la caridad puede considerarse como una forma de predicación viva de la Palabra de Dios; y la mística del Sacramento de la Eucaristía tiene un carácter social, tal como lo remarcaba el Papa Benedicto XVI en Dios es Amor nº 14; y también en en Sacramentum Caritatis nº 88: "…nuestras comunidades, cuando celebran la Eucaristía, han de ser cada vez más conscientes de que el sacrificio de Cristo es para todos y que, por eso, la Eucaristía impulsa a todo el que cree en Él a hacerse “pan partido” para los demás y, por tanto, a trabajar por un mundo más justo y fraterno. Pensando en la multiplicación de los panes y los peces, hemos de reconocer que Cristo sigue exhortando también hoy a sus discípulos a comprometerse en primera persona: “dadles vosotros de comer” (Mt 14,16). En verdad, la vocación de cada uno de nosotros consiste en ser, junto con Jesús, pan partido para la vida del mundo".
También hoy resuena en nuestro corazón el mandato del Señor a los apóstoles: “denles ustedes de comer”. Es un mandato que nos molesta porque nos invita a desprendernos y compartir lo que tenemos, nuestros panes y peces; y que nos descoloca un poco porque lo que tenemos es poco ante tanta necesidad de la gente; más aún en estos tiempos de pandemia y cuarentena. Pero la comunión eucarística, si es auténtica, nos lleva a compartir lo nuestro con los demás.
Algunos Padres de la Iglesia, como san Juan Crisóstomo, hablaron fuerte sobre esta dimensión social de la Eucaristía: "El mandato de Jesús "denles ustedes de comer", nos recuerda la exigencia que la Eucaristía plantea a los cristianos. Su celebración debería ser el marco donde se promueva y se celebre la entrega a los pobres. De una manera muy concreta san Juan Crisóstomo mostraba a sus fieles cómo realizar esta exigencia, y así muestra también hoy cómo aquel "denles ustedes de comer" es perfectamente realizable: "Por la gracia de Dios, calculo que aquí nos reunimos unos cien mil cristianos. Si cada uno diera un pan a los pobres, todos estarían en la abundancia. Si todos se desprendieran de una pequeña moneda, ya no habría ni un pobre, y nosotros no tendríamos que soportar tantos insultos y burlas por preocuparnos de los bienes materiales. Y aquello de "vende lo que posees, dalo a los pobres y después ven y sígueme", sería oportuno que se dijera también a los prelados de la Iglesia con respecto a los bienes de la misma Iglesia"[10].
En fin, las grandes síntesis se dan en la vida, en la existencia concreta y por obra del Espíritu Santo, quien invita a la Iglesia a una verdadera renovación y conversión pastoral, de la mano del Papa Francisco: “Salgamos, salgamos a ofrecer a todos la vida de Jesucristo. Repito aquí para toda la Iglesia lo que muchas veces he dicho a los sacerdotes y laicos de Buenos Aires: prefiero una Iglesia accidentada, herida y manchada por salir a la calle, antes que una Iglesia enferma por el encierro y la comodidad de aferrarse a las propias seguridades. No quiero una Iglesia preocupada por ser el centro y que termine clausurada en una maraña de obsesiones y procedimientos. Si algo debe inquietarnos santamente y preocupar nuestra conciencia, es que tantos hermanos nuestros vivan sin la fuerza, la luz y el consuelo de la amistad con Jesucristo, sin una comunidad de fe que los contenga, sin un horizonte de sentido y de vida. Más que el temor a equivocarnos, espero que nos mueva el temor a encerrarnos en las estructuras que nos dan una falsa contención, en las normas que nos vuelven jueces implacables, en las costumbres donde nos sentimos tranquilos, mientras afuera hay una multitud hambrienta y Jesús nos repite sin cansarse: «¡Dadles vosotros de comer!» (Mc 6,37)” (EG 49).
“¿de dónde nace la multiplicación de los panes? La respuesta se encuentra en la invitación de Jesús a los discípulos “Denles ustedes”, “dar”, compartir. ¿Qué cosa comparten los discípulos? Lo poco que tienen: cinco panes y dos peces. Pero son justamente esos panes y esos peces que en las manos del Señor sacian el hambre de toda la gente.
Y son justamente los discípulos desorientados ante la incapacidad de sus posibilidades, ante la pobreza de lo que pueden ofrecer, los que hacen sentar a la muchedumbre y distribuyen - confiándose en la palabra de Jesús - los panes y los peces que sacian el hambre de la multitud. Y esto nos indica que en la Iglesia pero también en la sociedad existe una palabra clave a la que no tenemos que tener miedo: “solidaridad”, o sea saber `poner a disposición de Dios aquello que tenemos, nuestras humildes capacidades, porque solo en el compartir, en el donarse, nuestra vida será fecunda, dará frutos. Solidaridad: ¡una palabra mal vista por el espíritu mundano!” (Papa Francisco).
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Reconociéndonos hijos y hermanos
Señor,
Puede tu barca alzarse a la mar, con el viento jugar o mirar el horizonte,
Un día volverás y escucharás el rumor de la multitud, el clamor del hombre.
Será como fue entonces cuando al desierto marchaste
Y viste al gentío siguiéndote a pie, y con hambre…
Así está hoy tu creatura, vagando confusa, indigente.
Se repite la historia una y otra vez, pero fue solo aquella
La noche en la que el pan se multiplicó, la verdadera.
Alimento que no se acaba ni se degrada, que a todos sacia.
Ay, ¡Si fuera la fe tan fuerte!, esperando más allá de la muerte
A la Vida que se hizo un trozo de pan, Dios bajado del cielo
Sin agotarse jamás, hasta el fin de los tiempos.
Ningún Santo clamó por este manjar, sin recibirte en su seno
Y así también venga hoy a este mundo, tu Reino
Para acabar con la ansiedad de un extraviado pueblo.
Sinceros corazones, ¡abran las puertas al cielo!
Porque él entendió la necesidad nuestra, la enfermedad
Se hizo uno de nosotros, puso punto final al duelo.
Ahora vuelve a ser ayer, nos toca a vos y a mí, dar de comer.
Son tantos y cae la tarde, sobrevienen los temores
Con el frío del invierno y con el hambre.
Danos Señor lo necesario, para no despedirlos vacíos
Forma en nosotros un corazón abierto al pobre, solidario
Reconociéndonos pobres todos, tus hijos, y tus hermanos. Amén
[1] Cf. H. Simian-Yofre, Isaías. Texto y comentario (Casa de la Biblia 1996) 258-259.
[2] L. Monloubou, Leer y predicar el evangelio de Mateo. Ciclo A (Sal Terrae; Santander 1981) 197-198.
[3] Cf. A. Rodríguez Carmona, Evangelio de Mateo (DDB; Bilbao 2006) 141.
[4] Cf. W. D. Davies – D. C. Allison, The Gospel according to Saint Mathew. Vol II, Clark, Edinburgh 1991, 486.
[5] El Evangelio según San Mateo vol. II (Sígueme; Salamanca 2001) 528.
[7] L. Monloubou, Leer y predicar el evangelio de Mateo. Ciclo A, 198.
[8] A. Rodríguez Carmona, Evangelio de Mateo (DDB; Bilbao 2006) 144. En la misma línea L. H. Rivas sostiene que en Mateo este milagro está elaborado como una instrucción sobre la tarea que deben desempeñar los Doce apóstoles en la distribución del pan eucarístico; cf. Jesús habla a su pueblo 3 (CEA; Buenos Aires 2001) 140.
[9] A. Cencini, "Formación permanente y madurez afectiva del presbítero", Pastores 21 (2001) 6.
[10] Xº Congreso Eucarístico Nacional: "Denles ustedes de comer". Texto para la preparación pastoral (CEA; Buenos Aires 2004) 37.