09/06/2024
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Gênesis 3,9-15
Salmo Responsorial-129(130) R- No Senhor, toda graça e redenção!
Segunda Leitura: 2 Coríntios 4,13-5,1
Evangelho: Marcos 3,20-35 (Jesus em casa ensinando)
Jesus voltou para casa, e outra vez se ajuntou tanta gente que eles nem mesmo podiam se alimentar. 21 Quando seus familiares souberam disso, vieram para detê-lo, pois diziam: “Está ficando louco”. 22 Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios. 23 Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como pode Satanás expulsar Satanás? 24 Se um reino se divide internamente, ele não consegue manter-se. 25 Se uma família se divide internamente, ela não consegue manter-se. 26 Assim também, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, ele não consegue manter-se, mas se acaba. 27 Além disso, ninguém pode entrar na casa de um homem forte para saquear seus bens, sem antes amarrá-lo; só depois poderá saquear a sua casa. 28 Em verdade, vos digo: tudo será perdoado às pessoas, tanto os pecados como as blasfêmias que tiverem proferido. 29 Aquele, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será réu de um ‘pecado eterno’”. 30 Isso, porque diziam: “Ele tem um espírito impuro”. 31 Nisso chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. 32 Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe: “Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram”. 33 Ele respondeu: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?” 34 E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Eis minha mãe e meus irmãos! 35 Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
Mc 3,20-35
No Evangelho de hoje, Jesus anuncia a derrota do reino de Satanás. Tal derrota estava prometida desde o início do mundo e agora se torna realidade com a ação de Jesus Cristo. Esse é o sentido da parábola de Jesus: Satanás é o homem forte que é derrotado por um outro mais forte do que ele e que tem seus bens roubados por este mais forte. Satanás está para acabar. Ele é amarrado e sua casa, ou seja, o seu reino, o mundo, é saqueado pelo mais forte que é Jesus. Agora Jesus inicia o seu reino.
Poucos trechos do evangelho conseguem dar este sentido da autoridade de Jesus. Ele derrota Satanás e acaba com o seu domínio sobre o mundo. Agora o dominador é Jesus.
Nós não somos mais prisioneiros da casa de Satanás. Jesus veio finalmente e dominou Satanás. Nós fomos conduzidos para fora da prisão de Satanás. Tudo isso foi realizado pelo mistério pascal, quando Jesus invadiu a casa de Satanás e nos trouxe para a liberdade. Esse acontecimento se verificou para nós no batismo, na crisma e na eucaristia quando escapamos de Satanás e de suas seduções e passamos para o Reino do Filho bem-amado.
Mas a mensagem do evangelho de hoje é também uma mensagem para a nossa vida. A batalha final decisiva entre o reino de Satanás e de Cristo já tem um vencedor. Mas a batalha do dia a dia continua. A serpente continua a armar ciladas. Ele foi expulso da casa no batismo, mas ele continua tentando voltar para a casa de onde saiu. E se ele voltar a situação se torna mais lamentável do que antes.
Portanto, os tempos de hoje são tempos de vigilância, de decisão e de perseverança. É preciso lutar porque rebelião e guerra de Satanás contra os cristãos que foram conquistados por Cristo continua.
A rebelião de Satanás contra Deus não se deu somente em um passado distante e durante a vida terrena de Jesus. A história da salvação não chegou ao seu termo, e o juízo final sobre os demônios deve ainda ocorrer. Até o retorno de Cristo, o mundo é ainda teatro do conflito entre o Reino de Deus e o de Satanás. Por isso às potências demoníacas permanece a possibilidade de uma atividade (preste atenção: uma atividade limitada e permitida) na tentação e sedução dos homens.
É preciso sempre lembrar que a vitória de Cristo é vitalmente muito mais eficaz e poderosa na defesa e proteção da Igreja. Na rebelião contra Deus, o influxo de Satanás sobre o homem nunca se iguala ao de Deus: somente Deus pode agir no íntimo da pessoa, a partir do seu interior (do coração). Por ser uma criatura, Satanás pode influenciar o homem somente através da instrução, da persuasão e da excitação, a partir de fora, das paixões e dos afetos do homem.
Há também casos de ação demoníaca por possessão. Em senso estrito possessão é a tomada de posse do corpo por parte de Satanás. Desconhecemos a extensão total dos poderes do demônio sobre o universo criado, no qual se inclui a humanidade. Sabemos que, tanto na Bíblia quanto na história, há casos em que o diabo penetra no corpo de uma pessoa e controla as suas atividades físicas (palavra, movimentos e ações). Mas o diabo não pode controlar a alma; a sua liberdade permanece inalterada e nem todos os demônios do inferno juntos têm o poder ou a permissão de forçá-la. Em princípio, não devemos menosprezar a influência do demônio e julgá-la insignificante; nem devemos julgar que todos os transtornos de personalidade (histeria, doença psíquica, distúrbios mentais, desvios) sejam possessão demoníaca. O remédio sacramental contra a possessão é o exorcismo.
Além da sedução, sugestão, instrução (tentação a partir de fora) e da possessão, o demônio, enquanto criatura que pertence ao Cosmo, pode também se servir de elementos criados. Em sua rebelião contra Deus, o demônio pode atuar nos males físicos (para entender a distinção entre males físicos e morais cf. Catecismo da Igreja Católica, 309-314) em modos e em graus diferentes. Mas também nesse caso, é muito difícil ver com clareza se um evento no cosmo (por exemplo, um cataclismo, uma catástrofe climática, uma pandemia) pode ser explicado como fenômeno natural ou deva ser atribuído aos poderes demoníacos. De fato, atualmente o homem, graças ao progresso das ciências naturais, está em condições melhores para compreender e interpretar os eventos climáticos, sísmicos, ambientais, ecológicos do que as gerações passadas. De qualquer forma, devemos ter claro que Satanás e os seus anjos, em virtude da sua criaturalidade, estão inseridos no conjunto do cosmo e tem a capacidade de exercer uma influência deletéria (a atividade demoníaca não é construtiva e sim destrutiva do mundo e da humanidade) também sobre as criaturas infra-humanas. Essa possível influência sempre se dá na medida da permissão divina e no âmbito do governo providente de Deus. Contra esse influxo de Satanás sobre os elementos criados, o remédio protetor é o sacramental da consagração.
Satanás pode agir também através de maldições. Esse caso está incluído nos que os demônios agem através de poderes desconhecidos e que não são explicáveis pelas ciências naturais (sortilégio, bruxaria, mandinga, feitiçaria, magia, adivinhação, satanismo, etc.). Essas práticas, mesmo que não provoquem dano direto, causam geralmente confusão, inquietude e medo. Aqui é preciso discernimento prudente entre o campo das forças demoníacas e o das forças naturais. Por isso, não devemos descartar que uma pessoa dotada de forças demoníacas possa provocar um mal. Mas a verificação de tal possibilidade só deve ser admitida quando todas as explicações naturais forem insuficientes. Contra tal influxo de Satanás através do recurso a forças ocultas, o remédio protetor é a bênção.
Diante da atuação demoníaca, a Igreja recebeu meios genuínos de defesa, nos quais se aplica o poder vitorioso de Cristo. São os sacramentais da consagração, da bênção e do exorcismo. Mas muito mais eficaz e importante é a defesa de uma vida santa, fundada na fé, na graça e na comunhão com Cristo. Para que Satanás fuja do cristão, não há providência melhor e mais eficaz do que a adesão firme e consciente a Cristo através dos sacramentos, da oração, da vigilância e de uma vida santa.
10º DTC-Mc 3,20-35-Ano B-08-06-24.
“E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: ‘aqui estão minha mãe e meus irmãos”.
O evangelho de Marcos tem como preocupação fundamental responder à pergunta: “Quem é Jesus”. Porém, o evangelista não elabora teorias cristológicas, mas visa despertar nos leitores uma adesão e identificação com o Mestre da Galileia.
No. evangelho deste domingo, Marcos revela a identidade de Jesus através de diferentes temas: a multidão que se reúne junto à casa onde Ele se encontrava, a reação de seus parentes que querem sequestrá-lo, os mestres da lei que o acusam de estar possuído por Belzebu, o pecado contra o Espírito Santo, a chegada de sua mãe e irmãos, a nova família que se reúne em torno a Ele... Embora pareça não haver uma relação e uma lógica interna no texto, estes temas tem um ponto em comum: a presença inspiradora e provocativa de Jesus. Não é mais possível permanecer neutro diante do seu modo de ser e viver, de sua liberdade, de sua transparência, de sua abertura à diversidade, de sua profunda sintonia com o Pai.
Por isso, de um lado, a reação da multidão, seduzida pelo novo ensinamento de Jesus; de outro, a reação de seus familiares e escribas que não o compreendem: querem sequestrá-lo ou o acusam de fazer pacto com “belzebu”.
Jesus, desde o seu batismo, foi apresentado como o Filho de Deus, a quem todos deveriam escutar. Ele foi constituído mediador da salvação divina oferecida a toda humanidade. Suas palavras e ações, porém, tinham como princípio dinamizador o Espírito Santo, força de Deus que atuava n’Ele.
A atitude de seus parentes, que o acusavam de louco quando viram as multidões acorrerem a Ele, e a interpretação dos mestres da Lei que viam nele o poder de “belzebu”, chocava-se com a realidade da ação divina em Jesus. Isso significava negar que o Espírito Santo agia n’Ele e atribuíam ao demônio o que pertencia ao Espírito de Deus. Eis uma autêntica blasfêmia!
As acusações contundentes levantadas contra Jesus deixavam transparecer um fechamento radical à ação do Espírito. Assim como Jesus agia pela força do Espírito, do mesmo modo só quem se deixa iluminar pelo Espírito pode agir como Jesus. Quem se fecha ao Espírito, torna-se incapaz de discernir a manifestação da misericórdia de Deus, em Jesus. Fechar-se para Ele, portanto, significa fechar-se para Deus e, por conseguinte, tornar-se indigno de perdão.
Se Jesus nos alerta severamente sobre a “blasfêmia contra o Espírito Santo” é porque este pecado consiste precisamente na atitude petrificada diante da ação de Deus em nós, permanecendo desamparados, sem ninguém que nos defenda do erro e do mal. Os blasfemos se excluem a si mesmos do perdão, se separam do Espírito de Deus. Trata-se de uma clara opção fundamental pelo mal, impedindo o Espírito Santo de agir. O pecado contra o Espírito Santo não é simplesmente um ato, mas uma atitude contínua de resistência, uma cegueira radical, uma petrificação interior que bloqueia toda possibilidade do perdão de Deus.
O Espírito é a força que sustenta a nova comunidade que Jesus instituiu com seu projeto messiânico; por isso, pecam contra o Espírito aqueles que negam e rejeitam sua ação libertadora em favor dos excluídos e dos pobres. Dura foi a acusação contra Jesus; duríssima foi sua resposta. Negando-se a acolher a obra de Deus, os mestres da lei se destroem a si mesmos. Ao afirmar que Jesus “tem um espírito impuro”, eles não o rejeitam simplesmente, mas rejeitam e negam a obra salvadora de Deus em favor daqueles que são vítimas de uma sociedade injusta.
O Espírito é uma força que atua em nós e que não é nossa. É o próprio Deus inspirando e transformando nossa vida. Ninguém pode dizer que não está habitado por esse Espírito. O importante é não o apagar, avivar seu fogo, fazer com que arda purificando e renovando nossa vida.
Com a presença desta força interior, a pessoa se sente guiada pelo seu dinamismo, que lhe proporciona saúde física, lucidez mental e limpidez afetiva. É esta força que comanda os melhores momentos da vida humana como um princípio ativo, dinâmico, criativo... Tais forças primordiais, vitais, presentes nas diferentes etapas do crescimento, são essenciais ao ser humano, graças às quais ele se orienta diante das solicitações da vida pessoal e das múltiplas escolhas, constrói a sua vida pessoal e chega ao seu amadurecimento; elas assistem e sustentam o ser humano no caminho da maturidade para a plenitude do seu ser.
O mesmo Espírito, que atuava livremente em Jesus, sustenta os vínculos entre seus seguidores, constituindo a sua “nova família”.
O Reino de Deus, anunciado por Jesus, estabelece laços profundos entre aqueles que assumem seu projeto de vida. Estes laços fazem dos discípulos do Reino uma grande família, não unida pelos vínculos do sangue e, sim, pela sintonia com a vontade do Pai. A comunidade dos seguidores de Jesus, então, pode ser definida como a família do Reino, cuja característica são os laços fraternos que unem seus membros.
Assim, a ligação entre Jesus e os seus(suas) seguidores(as) é muito mais profunda do que a sua convivência física com eles. Havia algo de superior que os une, sem estar na dependência de elementos conjunturais, quais sejam, a pertença a uma determinada família, raça ou cultura.
Para Jesus, estes são seus irmãos, suas irmãs, suas mães. São irrelevantes outros títulos de relação com Ele, quando falta este pré-requisito. O critério estabelecido por Jesus possibilita a todo discípulo do Reino, em qualquer tempo e lugar, saber-se unido a Ele como a um ser querido muito próximo. Por conseguinte, é sempre possível estabelecer laços com ele pela via da afetividade.
Ser “irmão” ou “irmã” de Jesus tem sua razão de ser; mas, ser sua “mãe” parece inexplicável. No entanto, podemos buscar uma luz no mais simples e cotidiano da vida, ou seja, o que acontece na gravidez: desde o começo e de maneira progressiva, todo o interior da mãe, as paredes do seu útero, vão se ampliando para deixar um espaço cada vez maior ao bebê que está crescendo dentro dela e que precisa mover-se e desenvolver-se.
Partindo desta imagem, podemos dizer que, para nos tornar “mãe de Jesus”, precisamos liberar espaços em nossa vida, “empurrando para trás” aquilo que não nos deixa expandir e crescer. Concretamente, trata-se da vivência cotidiana do amor, no sentido de abrir lugar para os outros, de deixá-los passar primeiro, de ampliar nossa própria interioridade para que eles possam ser como são e mover-se facilmente. Descobrimos que é preciso esvaziar-nos de falsas seguranças, desapegar-nos, remover costumes, relativizar coisas...
Certamente haverá algum sinal de vida querendo crescer e abrir caminho em nosso ser profundo.
Assim, o evangelista Marcos distingue dois tipos diferentes de “irmãs”, “irmãos” e “mães” de Jesus: aqueles que estão “fora” e aqueles que estão “dentro”, no círculo. O grupo que está em torno a Jesus goza de uma grande intimidade, de uma proximidade espacial e de sintonia com o coração d’Ele. Jesus, o Mestre, ocupa o centro e a multidão, numa atitude de escuta, situa-se em torno a Ele.
O relato do evangelho deste domingo finaliza priorizando a irmandade e situando o homem e a mulher em plano de igualdade. A imagem do círculo simboliza: vínculo com Jesus (identificação) e vínculo com os outros (diferentes serviços). A circularidade facilita estabelecer a igualdade; aqui não há hierarquia, nem imposição de uns sobre os outros. A igualdade é o lugar privilegiado, o único lugar. Todos vivem serviços diferentes, inspirados pelo modo de ser e viver do mesmo Jesus.
Para meditar na oração:
Muitas vezes, nossas vidas giram em torno àquilo que dá a sensação de segurança: riqueza, vaidade, poder, prestígio... Outras vezes, giram em torno a ídolos ou mitos com “pés de barro”.
- Em torno de que ou de quem gira sua vida?
A cultura moderna exalta o valor da saúde física e mental, e dedica todo um conjunto de esforços para prevenir e combater as doenças. Mas, ao mesmo tempo, estamos construindo, entre todos, uma sociedade onde não é fácil viver de forma sã.
Nunca esteve a vida tão ameaçada pelo desequilíbrio ecológico, a contaminação, o estresse ou a depressão. Por outra parte, temos fomentado um estilo de vida onde a falta de sentido, a carência de valores, certo tipo de consumismo, a banalização do sexo, a falta de comunicação e tantas outras frustrações impedem as pessoas de crescer de forma sã.
Já S. Freud, na sua obra O mal-estar na civilização, considerou a possibilidade de que uma sociedade esteja doente no seu conjunto e possa padecer de neuroses coletivas das quais talvez poucos indivíduos estejam conscientes. Pode inclusive acontecer que dentro de uma sociedade doente se considerem precisamente doentes aqueles que estão mais sãos.
Algo disso acontece com Jesus, cujos familiares pensam que «não está no seu juízo», enquanto os letrados vindos de Jerusalém consideram que ele «tem dentro Belzebu».
Em qualquer caso, temos de afirmar que uma sociedade é sã na medida em que favorece o desenvolvimento são das pessoas. Quando, pelo contrário, as conduz ao seu esvaziamento interior, à fragmentação, à dissolução como seres humanos, deve-se dizer que essa sociedade é, pelo menos em parte, patogênica.
Por isso devemos ser suficientemente lúcidos para nos perguntarmos se não estamos caindo em neuroses coletivas e condutas pouco sãs sem estarmos conscientes disso.
O que é mais são, deixar-nos arrastar por uma vida de conforto, comodidade e excesso que provoca letargia no espírito e diminui a criatividade das pessoas ou viver de modo sóbrio e moderado, sem cair na «patologia da abundância»?
O que é mais são, continuar a funcionar como «objetos» que giram pela vida sem sentido, reduzindo-a a um «sistema de desejos e satisfações», ou construir a existência dia a dia, dando-lhe um sentido último a partir da fé? Não esqueçamos que Carl G. Jung ousou considerar a neurose como «o sofrimento da alma que não encontrou o seu sentido».
O que é mais são, encher a vida de coisas, produtos da moda, vestidos, bebidas, revistas e televisão ou cuidar das necessidades mais profundas e cativantes do ser humano na relação do casal, no lar e na convivência social?
O que é mais são, reprimir a dimensão religiosa esvaziando de transcendência a nossa vida ou viver a partir de uma atitude de confiança nesse Deus «amigo da vida» que só quer e busca a plenitude do ser humano?
Jesus volta para sua casa, Jesus retorna para casa. Hoje em dia, essas simples palavras estão carregadas de significado devido às situações difíceis pelas quais o Rio Grande do Sul está passando. O texto do Evangelho nos diz que havia tantas pessoas reunidas que nem sequer podiam comer.
O Evangelho enfatiza que havia tanta demanda das pessoas que elas não tinham tempo nem para comer. O que poderia ter sido considerado fundamental torna-se secundário, deixando em aberto a questão do que é importante e nos convida a reconhecer uma nova realidade trazida por Jesus.
Lendo o texto, vemos que há diferentes pontos de vista sobre a pessoa de Jesus e seu trabalho: há aqueles que se aglomeram ao redor dele para ouvi-lo, curar os doentes, receber suas palavras... há outro grupo, seus “parentes”, que acham que ele está fora de si e, portanto, vão procurá-lo para levá-lo ao “lugar de sempre” e há os mestres da lei que dizem que ele está possuído pelo espírito dos demônios e, portanto, ele expulsa os demônios. Cada um deles conhece e sabe o que está acontecendo ao redor de Jesus e em cada um há diferentes reações que geram atitudes muito diferentes: alguns querem vê-lo a todo custo, outros querem levá-lo para “sua casa”, quase como para tranquilizá-lo, para acalmar um pouco essa “loucura que está acontecendo” e o terceiro grupo é o que reconhece nele um poder diferente que é atribuído aos demônios. Sabendo disso, Jesus chama esses mestres da lei que tinham vindo de Jerusalém e fala com eles em parábolas: "Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se.
Com palavras claras, Jesus os confronta, mostrando-lhes a divisão que eles mesmos vivem: eles reconhecem o poder que está nEle, mas não querem aceitá-lo porque não estão dispostos a mudar. Preferem permanecer presos à sua própria escravidão e, portanto, não podem ser livres. São como um cego que, ao ver, opta por fechar os olhos e permanecer cego. Um reino dividido não pode subsistir. Os mestres que conhecem as escrituras sagradas reconhecem que Jesus liberta, que sua atividade gera vida naqueles que estavam sujeitos à escravidão de uma doença que os mantinha excluídos e afastados da vida social, das pessoas, deixados à beira do caminho... Lembremos que as limitações físicas, doenças como a lepra ou outras eram consideradas punições divinas por algum mal (pecado) cometido.
Marcos em seu Evangelho nos mostra Jesus que, mesmo sendo sábado, escolhe a vida contra tudo o que poderia escravizá-lo. Sua opção é a pessoa humana contra a repressão. Sua opção é a pessoa humana contra as normas repressivas que marginalizavam aqueles que sofriam de doenças. Jesus liberta o homem possuído por um espírito impuro (1,21ss) para espanto e admiração dos que o cercam. Em seguida, ele cura a sogra de Pedro que estava com febre “todas as pessoas doentes e possuídas por demônios” que eram trazidas a ele para serem curadas. Marcos dirá que “ele curou muitos doentes de várias doenças e expulsou muitos demônios” (1:34). Jesus cura o leproso que vem até ele e pede que o cure, cura também o paralítico que é carregado pelo telhado da casa por quatro pessoas, compartilha a mesa com os cobradores de impostos e pecadores, fazendo com que sua pessoa e seu trabalho sejam questionados pelos eruditos e fariseus. Sob a lente de aumento daqueles que se consideram conhecedores e intérpretes da lei, Jesus não vem de Deus porque não respeita o sábado e faz “o que é proibido fazer no sábado” e, pior ainda, porque dizem que “ele estava possuído por Belzebu”.
A essa acusação, ele responde com a liberdade de quem trabalha pelo bem e pela verdade: a divisão gera ainda mais divisão. Nenhum reino dividido pode sobreviver porque está minando seus próprios alicerces! Neste momento difícil do Rio Grande do Sul, a força da ajuda mútua, da colaboração conjunta, de deixar para trás interesses pessoais para reconstruir espaços totalmente destruídos pelas enchentes, brilha de forma clara e limpa. Mas quando interesses pessoais e mesquinhos aparecem, a reconstrução é impossível, a individualidade se sobrepõe ao bem comum, e uma fenda se abre toda vez que se prioriza a “obtenção de lucro”.
Deixamos ressoar as palavras de Douglas Felipe Gonçalves de Almeida, acadêmico, pesquisador e membro da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara – ABEFC. “Talvez amaríamos mais se olhássemos a vida de tudo, de todos, todas, todxs. Na biodiversidade. Na amplitude do cosmos. Na tessitura da existência. No território das águas, nos terrenos das plantas, nas ocupações dos indivíduos, nos habitats dos animais – onde mais que a vida se desponta. Por si só, o Amor para além de mim não bastaria para sairmos do fracasso que está sendo o ato de viver? Falhamos no nosso humanismo (disponivel em: Stop, é necessário amar. Artigo de Douglas Felipe Gonçalves de Almeida).
Neste domingo, recebemos as palavras de Jesus como um farol que nos ilumina nessa jornada conjunta que nos levará a construir uma sociedade mais justa e fraterna
O texto começa nos dizendo que Jesus foi para sua casa, e que uma grande multidão o acompanhou, tanta gente que foi impossível que todos os presentes pudessem comer. Alguns dos seus familiares o foram buscar, pois achavam que estava ficando maluco, que perdeu o juízo (v 21). Essa é, com certeza, uma acusação muito dolorosa, ainda mais quando vem de quem deveria dar suporte a Jesus, por conhecê-lo mais profundamente.
Um segundo momento de nosso texto nos remete ao diálogo entre Jesus e os escribas. Estes mestres da lei discutiam com ele afirmando que ele estava possesso por Belzebu – o chefe dos demônios -, e que é com a permissão desse demônio que ele expulsava os outros demônios.
Jesus responde a partir de parábolas. Uma nação que se divide e luta entre si será destruída! Ou uma família que se divide - onde as pessoas arrumam brigas uma com as outras - acabará destruída! São afirmações que querem mostrar a fraqueza existente no argumento que eles usavam para acusar Jesus. Como pode Satanás expulsar-se a si mesmo? Se o reino de Satanás se dividir, poderá subsistir? Claro que não. Na vida comum, do dia a dia, da família, ou de um país, dividir significa, separação e brigas, e acaba na sua aniquilação.
O trecho continua com Jesus afirmando que os pecados ou blasfêmias das pessoas podem ser perdoados. O único pecado que nunca será perdoado é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Assim, Jesus associa blasfêmia a uma tradição antiga dos Judeus, que dizia que alguns pecados nunca poderão ser perdoados, entre eles o assassinato, a imoralidade e a blasfêmia contra a lei de Deus.
Ao afirmar que Jesus estava possesso de um espírito imundo, os escribas blasfemaram contra o próprio Deus. Em Jesus está o Espírito Santo que o leva a sua missão – libertar e des-alienar as pessoas. Foi justamente por isso que ele é acusado de “estar possuído por um espírito impuro”. Tal acusação é um pecado sem perdão. Para seus acusadores o bem é mal e o mal é bem. Eles, na verdade, estão comprometidos e tiram proveito do mal, Por isso não reconheceram e não aceitaram Jesus como Messias. Não reconhecer que Jesus é o messias é um insulto ao Espírito Santo – e, por isso, é algo imperdoável e digno de condenação.
“Quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado!”. Jesus e os pobres libertados interpretam sua ação como obra libertadora e regeneradora de Deus; os escribas e doutores da lei veem nela a ruína da ordem estabelecida e o espírito diabólico.
Após essa discussão, Jesus retoma a questão da família! Quando chegam a mãe de Jesus e os seus irmãos, o pessoal manda chamar Jesus. A mãe e os irmãos sequer ousam ultrapassar o círculo dos discípulos e chegar perto de Jesus: mandam chamá-lo. Será que a família compartilha da visão dos escribas, e tentam fazer Jesus interromper ou desistir da sua missão? Mas o distanciamento é mútuo: a família não aceita a vocação de Jesus, e ele não a reconhece como sua família. A ruptura parece radical e total.
Quem é minha mãe e meus irmãos? A pergunta de Jesus é a mesma que muitas pessoas fazem hoje em dia! Quem são os meus familiares? Será possível que aqueles que deveriam estar próximos se afastarem e os que estavam afastados se tornarem mais próximos?
A resposta de Jesus para a sua provocante pergunta é dada por ele mesmo: “olhando ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer um que fizer a vontade de Deus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (vs 34-35). Assim, podemos perceber que a verdadeira família de Jesus é a família de Deus. Isto é, aqueles que fazem a vontade de Deus. Jesus propõe uma nova família, caracterizada pela prática da vontade de Deus – que é sempre uma vontade de vida abundante para todos!
“Minha alma aguarda o Senhor mais que as sentinelas a aurora.” Espirito Santo, abre os olhos da nossa fé para que vejamos o eterno que se esconde no tempo e se encarna naquilo que é fraco e frágil. Ajuda-nos a vencer o paralisante medo de perder o bom nome pelas calúnias que lançam contra nós. E faz com que nossas comunidades sejam família de homens e mulheres iguais. Assim seja! Amém!
(TRADUZIDO AUTOMATICAMENTE PELO GOOGLE TRADUTOR, SEM CORREÇÕES)
DOMINGO X DURANTE O ANO – CICLO “B”
Primeira leitura (Gn 3,9-15):
Depois de narrar a tentação e o pecado de Adão e Eva (Gn 3,1-8), o processo judicial começa agora com o aparecimento e interrogatório dos culpados. Os personagens aparecem no processo judicial na ordem inversa dos acontecimentos. O primeiro procurado por Deus é o homem, que se escondeu da sua presença por causa da sua “nudez”. Esta nudez indica agora que mudaram as relações entre o homem e a mulher, bem como as do homem (ser humano) com Deus.1.
É digno de nota como os acusados procuram se desculpar culpando o outro. O homem de certa forma acaba acusando Deus porque diz: “a mulher que deu-me Como companheiro ele me ofereceu o fruto da árvore, e eu comi”. A mulher, por sua vez, reconhece agora a sedução da cobra.
A cobra não é questionada. Pela dinâmica da história, a cobra é quem começou e então perguntar à cobra seria tentar entender como o mal começa, qual a sua origem. Mas o mal continua a ser um mistério que o homem conhece por experiência, mas não consegue explicar completamente.
Segue-se a frase sobre a serpente, que por ser a mais ardiloso de todos os animais, é o mais maldito. A maldição é exatamente o oposto da bênção, mas é tão eficaz quanto ela.
A tradução do v.15 (“Colocarei inimizade entre você e a mulher, entre a sua linhagem e a dela. Ele esmagará sua cabeça e você perseguirá seu calcanhar") é problemático, por um lado porque usa o mesmo verbo suf em ambas as metades da frase, mas que são traduzidos de várias maneiras como esmagar e perseguir. Por outro lado, embora no texto hebraico e na tradução grega da LXX esteja claro que quem pisar na cabeça da serpente será 'o descendente ou linhagem'da mulher; Na versão latina refere-se a a mulher em si (o pronome é usado ela mesma que é feminino e concorda com uma mulher). Da Vulgata passou à arte cristã com a conhecida imagem da Virgem pisando na cabeça de uma cobra. É melhor respeitar o texto original e ter em conta a intenção do simbolismo, que é representar uma luta contínua do homem contra a tentação com a vitória da primeira (cf. Gn 4, 7). O texto hebraico sugere uma ruptura ou confronto hereditário entre a mulher (e sua prole) e a serpente (e sua prole), pois o significado dos verbos que aqui aparecem indica a tentativa permanente de destruição mútua como expressão de uma inimizade perene . 2. O Magistério leu aqui o anúncio de uma separação permanente e total entre a mulher/Maria e a serpente/mal. São Justino (+160) e Santo Irineu (+180) já falaram deste versículo como um protoevangelho no sentido da primeira profecia messiânica do Antigo Testamento; porque antecipa o plano salvífico de Deus, prefigurando a obra de Cristo, Messias Salvador, e a de Maria como sua Mãe.
Evangelho (Mc 3,20-35):
Nesta perícope podemos distinguir três partes ou subseções. A primeira (3,20-21) e a terceira (3,31-35), que enquadram o texto e têm como tema comum as relações de Jesus com sua família. E na parte central (3:23-30) temos a acusação dos escribas contra Jesus de estar possuído por um demônio e a resposta do próprio Jesus a esta acusação.
O texto começa por devolver Jesus e os seus discípulos à “casa”, que seria a casa que Pedro tinha em Cafarnaum (cf. 1,29), com a intenção de descansar e partilhar. Mas a situação que surge é diferente porque vem tanta gente que nem teve tempo de comer. “Seus” (οἱ παρ᾽ αὐτοῦ), ou seja, seus “parentes”, ficam sabendo dessa situação e vão procurá-lo com a intenção de levá-lo embora porque consideram que “ele está maluco” ou “ ele é exaltado.” Este julgamento de valor sobre as ações de Jesus por parte de seus familiares ainda é duro e forte. Eles podem sentir que o “tumulto social” causado por esta atuação de Jesus está prejudicando a honra da sua família. No plano teológico, deve ser interpretado como mais uma manifestação da falta de compreensão da obra e da mensagem de Jesus que inclui não apenas as autoridades judaicas, mas também a sua própria família e os seus próprios discípulos. (J. Gnilka).
Em 3:22, “os escribas de Jerusalém” entram em cena e fazem um julgamento de valor muito pior sobre as ações de Jesus: ele está possuído por um demônio e age movido por um poder diabólico. A posse é atribuída a “Belzebul” que pode ser traduzido como “senhor do esterco” ou “senhor das moscas”; e que responderia às concepções demonológicas da época e da região, com certa ironia sobre as divindades pagãs. O poder demoníaco teria uma hierarquia e é justamente por causa do “príncipe ou chefe entre os demônios” que expulsa os “demônios” (e vn tw/| a ;rconti tw/n daimoni ,wn e vkba ,llei ta. daimo,niaÅ).
Então, em 3:23-26, Jesus chama os escribas e através de “parábolas” ou comparações procura demonstrar-lhes o absurdo da sua acusação. Se o príncipe dos demônios, o próprio Satanás, é quem expulsa os demônios, isso indica uma divisão interna que é um caminho seguro para a destruição, como acontece com um reino ou família dividida.
internamente. Notemos que “Satanás, o antagonista, é, no judaísmo, o nome de um poderoso anjo de castigo, que induz o homem ao pecado e trabalha contra o plano de Deus apoiado por muitos cúmplices. Assim, o homem está cada vez mais escravizado pelo pecado, sujeito às consequências desastrosas da doença e da morte.”
O V. 27 apresenta-nos outra breve parábola ou comparação que relata de forma positiva a atividade de Jesus como exorcista, dizendo que para saquear a casa de um homem forte é preciso primeiro amarrar o seu dono. Ou seja, Jesus é quem domina com o poder de Deus o homem forte, que é Satanás, e liberta os homens que ele mantém cativos em sua casa, em seu reino do mal.
Nos v. 28-30 o tom polêmico é retomado como o v. deixa claro. 30: “Jesus disse isso porque eles disseram: “Ele está possuído por um espírito imundo”.”
Aqui Jesus estabelece pela primeira vez o princípio do perdão total que Deus oferece aos homens, de “todos os pecados e blasfêmias” que eles possam ter cometido (v. 28). Mas então (v. 29) ele declara que há uma exceção a este princípio: “a blasfêmia contra o Espírito Santo” nunca será perdoada (blasfhmh, sh| eivj para. pneu/ma para. uma[gião). Observemos que a oração é condicional, ou seja, se ocorrer a blasfêmia contra o Espírito Santo – a condição – então nunca haverá perdão. Blasfêmia é um discurso ofensivo e desrespeitoso contra Deus ou seus mensageiros. Isso está perdoado. Mas a “blasfêmia contra o Espírito Santo” não é, porque se trata da rejeição da salvação oferecida por Jesus, porque em vez de reconhecerem que ele está realizando a ação salvadora de Deus através do Espírito Santo, atribuem-na a uma atitude impura. espírito (.pneu/ma avka, cartão), isto é, um demônio.
Ao respeito R. Schnackenburg4afirma: “Um pecado contra o Espírito Santo não é simplesmente um facto, mas uma disposição espiritual permanente, é uma cegueira culposa por si só, uma resistência à ação salvadora de Deus. Enquanto um homem persistir obstinadamente em sua oposição a Deus, ele se excluirá da salvação. E é precisamente isso que acontece quando alguém atribui ao espírito satânico as ações do Espírito divino reconhecíveis em Jesus.”.
Em 3,31-35 é retomado o tema da família de Jesus. O evangelho nos diz que eles se aproximam, mas não podem ou não querem entrar na casa; Eles permanecem do lado de fora e mandam buscá-lo. Então JesusEle rejeita as reivindicações de seus parentes, aludindo a uma nova família que começa a se formar ao seu redor.”(J. Gnilka). Jesus declara a substituição de uma família fundada em laços de sangue (parentesco); para uma nova família cujo vínculo está no cumprimento da vontade de Deus (poih, merda| que. qe ,lhma tou/ qeou/).
A este respeito, observe L. Lentzen-Deis5que “Ao definir quem é o “irmão, irmã e mãe” de Jesus, o texto precede as palavras “irmão e irmã”. Desta forma, ele não centra mais a atenção na mãe e nos irmãos “históricos” (v. 31), mas na nova comunidade, porque as palavras irmão e irmã também estavam em voga na comunidade do evangelista [...] Os membros da Esta comunidade torna-se para ele irmão, irmã e mãe de Jesus e ele vive com eles. As exigências do chamado no grupo de discípulos podem prevalecer sobre as da própria família. Mas a resposta de Jesus também impõe uma condição a esta nova comunidade, que se torna uma tarefa para os leitores. Aqueles que ele chama de irmãos são apenas aqueles que realmente cumprem a vontade de Deus”.
Em síntese, o texto nos mostra que para compreender e aceitar Jesus e sua obra, não basta nem mesmo a perspectiva simplesmente humana, a partir de uma lógica social, que seus familiares tinham; nem muito menos o olhar de suspeita ou desconfiança dos guardiões da religião oficial, dos escribas de Jerusalém. Para eles Jesus aparece como alguém louco ou possuído. O único caminho válido continua a ser juntar-se à sua família, pertencer à sua casa, acolhendo e cumprindo a vontade de Deus que Jesus revela e que é a oferta do perdão que nos liberta da escravidão do pecado e do domínio do mal. Quem responder a este chamado de Deus seguindo Jesus, acreditando e confiando Nele, poderá compreender “o mistério do reino de Deus” (Mc 4,11) e dele participar.
MEDITAÇÃO:
Embora muitas vezes não o percebamos plenamente, a vida é um combate permanente, uma luta entre o bem e o mal. E todos os dias temos que escolher de que lado estamos, seja do bem ou do mal.
Na Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, do início ao fim, encontramos refletido esse combate, essa luta entre o bem e o mal que tem como protagonistas, em diferentes níveis de ação, Deus, o homem livre criado e Satanás como tentador. Diante do triunfo do mal e da derrota do homem nas origens (primeira leitura), Deus decide comprometer-se totalmente nesta luta e temos a Encarnação, Deus se torna homem em Jesus Cristo e entra pessoalmente na história humana para transformá-la no história da salvação. E desde então o Senhor Jesus está ao lado da humanidade tentada, ferida e cativa; e oferece perdão e libertação. E convida-nos também a sermos protagonistas nesta luta, a segui-lo pelo caminho do amor, da verdade, do compromisso com a justiça e da doação da nossa vida em busca do bem dos outros. Como diz o Papa Francisco:
“A vida cristã é um combate permanente. São necessárias força e coragem para resistir às tentações do diabo e anunciar o Evangelho. Essa luta é muito bonita, pois nos permite comemorar cada vez que o Senhor vence em nossas vidas. Não se trata apenas de uma luta contra o mundo e contra a mentalidade mundana, que nos engana, nos entorpece e nos torna medíocres sem compromisso e sem alegria. Também não se reduz à luta contra a própria fragilidade e as próprias inclinações (cada pessoa tem as suas: preguiça, luxúria, inveja, ciúme, etc.). É também uma luta constante contra o diabo, que é o príncipe do mal. O próprio Jesus celebra nossas vitórias. Ficou feliz quando os seus discípulos conseguiram avançar no anúncio do Evangelho, vencendo a oposição do Maligno, e celebrou: “Eu via Satanás cair do céu como um raio” (Lc 10,18).”(Alegrem-se e alegrem-se 158-159).
Padre Rossi de Gasperis sj escreveu que onde Jesus chega, os demônios vão embora. E a razão é que Jesus tocou a raiz de tudo. Ou seja, Jesus volta (e nos leva consigo) ao combate originário e originário para sair vitorioso. Por isso seguir Jesus é entrar em combate, não há espaço para conforto ou mediocridade.
E se a isto acrescentarmos que o “tentador” ainda está activo e quer conduzir-nos pelo caminho do egoísmo, da mediocridade e do conformismo, temos que reconhecer a necessidade de “discernimento” para descobrir os seus enganos e rejeitá-los. E também seguir os movimentos do Espírito Santo em nossas vidas. Diante desta realidade das “duas frentes de luta”
Surge uma questão fundamental: “Como saber se algo vem do Espírito Santo ou se sua origem está no espírito do mundo ou no espírito do diabo? O único caminho é o discernimento, que não implica apenas uma boa capacidade de raciocínio ou bom senso, mas é também um dom que deve ser pedido.”(G e E 166). Este “ o hábito do discernimento tornou-se particularmente necessário. Porque a vida de hoje oferece enormes possibilidades de ação e distração, e o mundo as apresenta como se fossem todas válidas e boas.”(G et E 167). E precisamos disso porque “É preciso esclarecer o que pode ser fruto do Reino e também o que vai contra o projeto de Deus. Isto implica não só reconhecer e interpretar os movimentos do bom e do mau Espírito, mas – e aqui reside o factor decisivo – escolher os do bom Espírito e rejeitar os do mau Espírito.”(EG 51).
Além do discernimento, temos que ingressar na nova família de Jesus, buscando sempre cumprir a vontade do Pai. Assim disse o Papa Bento XVI em seu discurso inaugural em Aparecida: “O que a fé neste Deus nos dá? A primeira resposta é: ele nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé liberta-nos do isolamento de nós mesmos, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si e como tal, um encontro com os irmãos, um acto de convocação, de unificação, de responsabilidade para com o outro e para com o outro. outros.”.
Como membros desta nova família que Jesus nos oferece, podemos ser verdadeiramente livres porque quem aceita o senhorio de Jesus na sua vida experimenta uma grande paz interior, porque tudo está em ordem; e esta ordem interna permite-nos compreender e discernir melhor o que nos acontece na vida; e sempre reaja com amor.
É interessante um dos pontos de contacto e contraste entre a primeira leitura e o evangelho de hoje que L. Monloubou aponta.6: “Os textos de hoje mostram diversas relações familiares: homem e mulher no Gênesis; mãe, irmãos e irmãs, no evangelho. O primeiro tipo de relacionamento é rompido – “não fui eu, foi ela”, diz Adam, acusando a mulher – depois de ter “desobedecido a Deus”. O segundo tipo de relações familiares será a característica da história de um grupo de pessoas, cujos componentes se constituem como “irmãos e irmãs” pelo fato de “cumprirem a vontade de Deus”. Esta proximidade inesperada pode parecer artificial, mas na realidade atinge o cerne da questão. Constitui todo um programa de renovação da humanidade”. Ou seja, a tentação original leva o homem e a mulher a desobedecer à Vontade de Deus e as consequências são a desunião e o conflito, entre muitos. Por sua vez, Jesus convida-nos a reconstruir a família humana sobre o único fundamento do cumprimento da Vontade de Deus. E esta é a finalidade última de todo o discernimento: procurar e encontrar a vontade de Deus, cumpri-la com a sua graça.
Em suma, sigamos o exemplo de Jesus, que viveu “fora de si” e não centrado ou fechado em si mesmo. Ele não procurou a si mesmo; mas esqueceu-se de si mesmo e viveu dedicado aos outros, levado pelo amor. E por viver dessa forma radical, ele foi tachado de louco e possuído por demônios. E certamente o mesmo nos acontecerá se nos comprometermos verdadeiramente no seguimento de Jesus que nos leva a doar-nos aos outros, porque “No coração do Evangelho está a vida comunitária e o compromisso com os outros”(EG 177).
PARA ORAÇÃO (RESSON NCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Quem são?
Vem Espírito Santo
Para encher o coração do Povo de Deus
Bendita herança do Senhor
Cancele os lábios daqueles
Que sustentam confusão com sua raiva
E eles são cúmplices de mentiras
Eles negam suas obras, sua sabedoria,
Seu orgulho escurece os dias.
Livra-nos do mal, rogamos ao Pai,
Venha o Reino: Seu Amor eterno nos salve
Escutando a Palavra nos tornamos irmãos
E em seu Corpo e em seu Sangue
Nós saciamos a sede e a fome
Quem são? Para onde eles estão indo e o que procuram?
Vamos para a Pátria, nossa casa, no caminho...
Estrangeiros, peregrinos. Amém.
1“As palavras de Gn 3,10 testemunham uma mudança radical no significado da nudez original”; agora “através da nudez se manifesta o homem privado da participação do dom, o homem alienado daquele amor que foi fonte do dom original, fonte da plenitude do bem destinado à criatura”. João Paulo II, catequese de 14/05/80.
2 Cf. S. Croato, Crie e ame em liberdade. Estudo de Gênesis 2:4-3:24 (Bs. As. 1986) 141 e GJ Wenham, Gênesis 1-15 (WBC; Waco 1987) 80.
3 F. Lentzen-Deis, Comentário ao Evangelho de Marcos (Palavra Divina, Estella 1998) 115.
4 O evangelho segundo São Marcos (Herder; Barcelona 1980) 97.
5 Comentário ao Evangelho de Marcos (Palavra Divina, Estella 1998) 121.123.-
6 Leia e pregue o Evangelho de Marcos (Sal da Terra; Santander 1981) 63.