26/05/2024
“UNIÃO COM CRISTO E O PAI NO ESPÍRITO”
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Deuteronômio 4,32-34.39-40
Salmo Responsorial:
32(33)-R- Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!
Segunda Leitura:-Romanos 8,14-17
Evangelho: Mateus 28,16-20
Os onze discípulos voltaram à Galiléia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando o viram, prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. 18 Jesus se aproximou deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. 19 Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20- Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco até o fim do mundo.
Mt 28,16-20
Estamos diante do mistério mais alto da nossa fé. A nossa fé é fé no Deus único: Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus. Três Pessoas realmente distintas e um só Deus. Nós nunca teríamos chegado a tal fé, se Deus não tivesse se revelado como Ele é. Foi necessária uma conversão intelectual profunda, um despojamento humilde da nossa razão para aceitar o mistério que Deus revelou de si mesmo. A fé em Deus uno e trino é, de fato, obediência da fé.
Nessa obediência da fé, tudo na nossa vida cristã deve ser moldado segundo a Trindade Deus.
A fé trinitária, em primeiro lugar, molda a nossa oração: orar é invocar o Pai, por meio do Filho, na força do Espírito Santo.
A vida da graça tem sua fonte e origem no Pai e chega até nós por meio do Filho e do Espírito Santo. O nosso caminho de salvação consiste em receber o Espirito Santo que nos configura ao Filho para que sejamos um com o Pai.
A fé na Trindade ilumina a criação como uma expansão admirável e gratuita do diálogo entre Pai, Filho e Espírito Santo para fora de si mesmo. A criação é um transbordamento maravilhoso do amor que une e que são o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O mundo e, de modo sublime, o ser humano é criado pelo Pai que imprime na criatura a imagem de si mesmo que é o Filho por meio da ação do Espírito Santo.
A eucaristia revela a ação da Trindade em nosso favor. Sobre as oferendas, suplicamos ao Pai que envie o Espírito Santo que torna presente o Filho nas espécies consagradas. Pedimos ao Pai que os que se alimentam da eucaristia sejam plenificados do Espírito Santo para formar com o Filho um só Corpo.
Crer no Pai, no Filho e no Espírito Santo não é aceitar uma ideia de Deus. É aceitar e viver conscientemente a felicidade dessa relação radical, dessa presença no coração, dessa intimidade e presença da Trindade em nós. O dogma da Trindade não é uma teoria! É a presença da realidade de Deus em nós. Santa Isabel da Trindade testemunhou: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã sem essa fé, sem essa habitação interior, sem essa divina presença, é uma vida cansativa, sobretudo porque vive fora do ambiente do amor.
Seja bendito Deus Pai, Filho e o Espírito Santo, porque grande é seu amor por nós.
Solenidade Santíssima Trindade – Mt 28,16-20-Ano B-26-05-24
“Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19)
Nem sempre é fácil, como cristãos, relacionar-nos de maneira concreta e viva com o mistério de Deus confessado como Trindade. A festa da Trindade nos recorda que não se trata de entender, ou simplesmente de pensar e estudar o Mistério das Três Pessoas divinas. O decisivo é viver o Mistério a partir da adoração e da partilha fraterna.
De Deus não sabemos nem podemos saber absolutamente nada. Temos que retornar à simplicidade da linguagem evangélica e utilizar a parábola, a alegoria, a comparação, o exemplo simples, como fazia Jesus. A realidade de Deus não pode ser compreendida, não porque seja complicada, senão porque é absolutamente simples; a nossa maneira de conhecer é que analisa e divide a realidade. Deus não é dividido em partes para que cada uma delas possa ser analisada por separado.
A Trindade chega até nós, não cada uma das “Pessoas” por separado. Ninguém poderá se encontrar só com o Filho, ou só com o Pai, ou só com o Espírito Santo. Nossa relação será sempre com o Deus Uno e Trino. É necessário tomar consciência de que quando falamos de qualquer uma das Três Pessoas divinas relacionando-se conosco, estamos falando de Deus. Nem o Pai só cria, nem o Filho só salva, nem o Espírito Santo só santifica. Tudo é sempre obra do Deus Uno e Trino.
Tudo em nós é obra do único Deus. Dizer que é preciso ter devoção a cada uma das pessoas, é uma “piedosa” interpretação do dogma. Que sentido pode ter, dirigir as orações ao Pai crendo que é diferente do Filho e do Espírito?
A partir de sua própria experiência de Deus, Jesus convida seus seguidores a se relacionarem de maneira confiada com Deus Pai, a seguirem fielmente seus passos como Filho de Deus encarnado e a deixarem-se guiar e alentar pelo Espírito Santo. Enfim, ensina-os a se abrirem ao mistério da Trindade Santa.
“Só n’Ele (Jesus Cristo) a Trindade se comunica a nós e somos revelados pela Trindade. Jesus é o Mestre porque é a voz da Trindade para nós e a nossa voz para a Trindade. Jesus Cristo é a porta através da qual a Trindade passa até nós e nós até a Trindade. Jesus Cristo é o caminho que nos leva à Trindade e através da qual a Trindade chega até nós. Jesus Cristo é a Vida, porque n’Ele a Vida da Trindade corre em nós e a nossa pobre vida corre na vida da Trindade eterna de Deus” (Bruno Forte).
A festa da Trindade quer expressar o mistério do Amor-Vida de Deus que se comunica a nós. “Deus é UM, mas não está jamais só”. Deus não é um ser isolado, distante da Criação, solitário. É um Deus comunhão, família, sociedade, fraternidade etc. Por isso, o cume de toda a revelação bíblica é esta: “Deus é Amor”, ou seja, Deus não é uma realidade fria e impessoal, um ser triste, solitário e narcisista. E o Amor nunca é solidão, isolamento, mas comunhão, proximidade, diálogo, aliança...
O Deus revelado por Jesus é Amor e aproximar-nos do Deus Amor é descobrir a Trindade.
Se Deus deixasse de amar um só instante, deixaria de ser Deus. O movimento que parte do Pai, passa pelo Filho e se consuma no Espírito é um movimento de Amor sem fim.
Não podemos imaginá-Lo como poder impetrável, fechado em si mesmo. Em seu ser mais íntimo, Deus é vida compartilhada, diálogo, entrega mútua, abraço, comunhão de pessoas. O amor trinitário de Deus é amor que se expande e se faz presente em todas as criaturas.
Só quando intuímos, a partir da fé, que Deus é só Amor e descobrimos fascinados que não pode ser outra coisa senão Amor presente e palpitante no mais profundo de nossa vida, começa a crescer, livre em nosso coração, a confiança em um Deus Trindade, de quem o único que sabemos foi revelado por Jesus.
Quando se anuncia que estamos envolvidos amorosamente pela Trindade Santa, não devemos pensar em três entidades fazendo e desfazendo, separada cada uma das outras duas. As tradições orientais afirmam: “No Espírito, pelo Filho ao Pai”.
Antes de mais nada, Jesus convida seus seguidores a viverem como filhos e filhas de um Deus próximo, bom, com entranhas de misericórdia, amoroso, a quem todos poderão invocar como Pai querido. O que caracteriza este Pai não é seu poder e sua força, mas sua bondade e sua compaixão infinitas. Ninguém está só; todos temos um Deus Pai que nos compreende, nos ama e nos perdoa sempre.
Ao mesmo tempo Jesus convida seus seguidores a confiarem também n’Ele: “Não se perturbe vosso coração. Crede em Deus e crede em mim também”. Ele é o Filho de Deus, imagem viva de seu Pai. Suas palavras e seus gestos lhes revelam como o Pai de todos os quer bem. Por isso, convida a todos a segui-Lo. Ele os ensina a viver com confiança e docilidade a serviço do projeto do Pai.
Para isto, precisam acolher o Espírito que é o Sopro amoroso do Pai e do Filho: “Vós receberei a força do Espírito Santo que virá sobre vós e assim sereis minhas testemunhas”. Este Espírito é o Amor de Deus, o Alento que o Pai e seu Filho Jesus compartilham, a força, o impulso e a energia vital que fará dos seguidores de Jesus suas testemunhas e colaboradores a serviço do grande projeto da Trindade Santa.
A festa de hoje, portanto, nos coloca diante de nossos olhos a unidade da obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Jesus veio cumprir a obra do Pai e nos deu seu Espírito, para que permanecêssemos n’Ele, “ensinando a todos tudo o que Ele nos ordenou”.
Em Jesus Cristo, desperta-se a consciência da relação que há entre todos os seres humanos e destes com todas as demais criaturas e com o Criador. Ele não só tornou próximo um Deus cuja essência é encontro (cerne da doutrina cristã da Trindade), mas revelou que o caminho para a plenitude e a transformação humana consiste em “entrar no fluxo do encontro intra trinitário”, fazendo-se encontro e reconstruindo as relações rompidas.
Na verdade, Ele chamou o ser humano a sair de seu mundo fechado, de seu isolamento e padrões alienados de relacionamento para se expandir na direção de um novo encontro com tudo o que existe; tal encontro é o prolongamento do encontro trinitário e concretização do sonho do Reino de Deus.
Assim, a visão cristã de Deus como Trindade ajudou também a entender a pessoa humana como solidária mais que como solitária. A pessoa é tal quando vive em comunhão com outras pessoas.
Fomos criados à imagem do Deus, Comunidade de Pessoas; assim, carregamos em nosso interior o impulso para a convivência, a comunhão, o encontro... Só corações solidários adoram um Deus Trinitário.
Viver a cultura da indiferença, do ódio, da intolerância..., é bloquear a ação amorosa da Trindade no próprio interior. Sempre que construirmos relações pessoais e sociais que facilitem a circulação da vida, a comunhão de diferentes à base da igualdade, estaremos tornando um pouco mais visível o mistério íntimo do Deus Trino.
Para meditar na oração:
A oração cristã, tanto a mais silenciosa como a mais jubilosa, é sempre abertura às permutas de amor das Três Pessoas divinas. Assim se expressa tantas vezes S. João da Cruz: o Espírito nos aspira com ele na comunhão do Pai e do Filho.
Toda oração cristã se expressa, espontaneamente, de maneira trinitária: rezamos ao Pai, pelo Filho, no Espírito. Isto não é uma fórmula, mas a expressão profunda do que vivemos. Assim se afirma, pouco a pouco, uma originalidade cristã da oração que vai marcar todas as atitudes espirituais da Igreja: contemplação, invocação, louvor litúrgico...
Configurando-nos ao Filho, no Espírito, a oração nos faz encontrar todos os seres humanos sob olhar do Pai; tal vivência fundamenta nossa fraternidade e a experiência daquilo que nos une.
No núcleo da fé cristã num Deus trinitário há uma afirmação essencial. Deus não é um ser tenebroso e impenetrável, encerrado egoistamente em si mesmo. Deus é Amor e só Amor.
Os cristãos, acreditamos que no Mistério último da realidade, dando sentido e consistência a tudo, não há senão Amor. Jesus não escreveu nenhum tratado acerca de Deus. Em nenhum momento o encontramos expondo aos camponeses da Galileia doutrina sobre Ele. Para Jesus, Deus não é um conceito, uma bela teoria, uma definição sublime. Deus é o melhor Amigo do ser humano.
Os investigadores não duvidam de um elemento que recolhem os evangelhos. As pessoas que escutavam Jesus falar de Deus e o viam atuar em Seu nome experimentavam Deus como uma Boa Nova. O que Jesus diz de Deus representa algo de novo e bom. A experiência que comunica e contagia parece-lhes a melhor notícia que podem escutar de Deus. Por quê?
Talvez o primeiro que captam é que Deus é de todos, não só dos que se sentem dignos para apresentar-se ante Ele no Templo. Deus não está atado a um lugar sagrado. Não pertence a uma religião. Não é propriedade dos piedosos que peregrinam a Jerusalém. Segundo Jesus, “faz sair o Seu sol sobre bons e maus”. Deus não exclui nem discrimina ninguém. Jesus convida todos a confiar Nele: “Quando oreis, dizei: ‘Pai!’”.
Com Jesus vão descobrindo que Deus não é só dos que se aproximam Dele carregados de méritos. Antes deles escuta a quem lhe pede compaixão, porque se sentem pecadores sem remédio. Segundo Jesus, Deus anda sempre a procurar os que vivem perdidos. Por isso se sente tão amigo de pecadores. Por isso lhes diz que Ele “veio procurar e salvar o que estava perdido”.
Também se dão conta de que Deus não é só dos sábios e entendidos. Jesus dá graças ao Pai porque gosta de revelar as pequenas coisas que lhes estão ocultas aos ilustrados. Deus tem menos problemas para entender-se com o povo simples que com os doutos que acreditam saber tudo.
Mas foi sem dúvida a vida de Jesus, dedicada em nome de Deus a aliviar o sofrimento dos doentes, libertar os possuídos por espíritos malignos, resgatar leprosos da marginalização, oferecer o perdão a pecadores e prostitutas..., o que os convenceu de que Jesus experimentava Deus como o melhor Amigo do ser humano, que só procura o nosso bem e só se opõe ao que nos faz mal. Os seguidores de Jesus nunca puseram em dúvida que o Deus encarnado e revelado em Jesus é Amor e só Amor para todos.
Celebra-se hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. É uma festa que se nos convida a celebrar e agradecer. As três leituras que se oferecem na missa deste domingo ajudam a entender melhor a presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A conclusão do evangelho de Mateus define a missão dos discípulos e discípulas como continuação da presença de Jesus no mundo.
Na narrativa que a liturgia oferece nesta Festa escutamos que “Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.” Eles voltam para suas terras, para o lugar onde se encontraram com o Senhor. Nesse mesmo espaço que conheceram ao Senhor e experimentaram sua Boa Nova receberam também suas últimas palavras. Aos discípulos ele se faz presente e atualiza até nossos dias a missão de Jesus.
Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Os discípulos, ao verem Jesus, se ajoelham, mas alguns ainda duvidavam. É significativo o realismo dos evangelistas que sempre deixam aberta a possibilidade de não entender ou até não aceitar o que está acontecendo.
Acabam de ver Jesus e alguns se ajoelham diante dele porque o aceitam como o Senhor Ressuscitado. Eles o reconhecem como seu Deus, seu Mestre, que continua acompanhando-os e permanece a seu lado. Jesus tinha dito: “Eu não deixarei vocês órfãos, mas voltarei para vocês” (Jo 14,18). Eles acreditam nas suas palavras e neste momento reconhecem sua presença no meio deles.
“Ainda assim, alguns duvidaram”. Neste texto do evangelista Mateus acontece diante da mesma manifestação de Jesus aparecem diferentes atitudes dos discípulos e discípulas.
Alguns deles o adoram e outros duvidam. Eles ainda não acreditam que a presença de Jesus no meio deles. É possível que ele continue guiando-os como seu Mestre e Senhor? Ao longo do Tempo Pascal lemos diferentes manifestações de Jesus às mulheres, aos discípulos reunidos, aos que iam de caminho a Emaús, e a tantos outros/as, mas nem todos acreditam no imediato.
Podemos reconhecer, nessa pequena comunidade, a nossa comunidade e a Igreja onde convivem luzes e sombras?
Adorar o Senhor é resposta ao dom de Sua presença e do seu Amor, que nos cativa e surpreende. Eles se ajoelham diante do Senhor! O reconhecem e acreditam nele. Mas nem sempre é fácil colocar-se de joelhos. É reconhecer-se menor e colocar tudo nas mãos daquele que consideramos nosso guia e mestre.
Neste dia peçamos ao Senhor que nos conceda esse presente que nos coloca de joelhos diante dele! Que sejamos uma comunidade de discípulos e necessitados das palavras e dos conselhos de Jesus. Uma comunidade humilde, simples, sem aparência.
Como disse Francisco, somos parte de uma “Igreja que é uma barca que “ao longo da travessia deve enfrentar também ventos contrários e tempestades que ameaçam afundá-la. O que a salva não são a coragem e as qualidades de seus homens: a garantia contra o naufrágio é a fé em Cristo e em sua palavra. Esta é a garantia: a fé em Jesus e em sua palavra”. (Disponível “A fé não é uma fuga dos problemas da vida”, adverte o Papa Francisco)
Nas palavras que Jesus nos dirige hoje está explicitado o mandato missionário da Igreja de todos os tempos: “vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês”.
A missão dos discípulos não é ficar olhando sua partida e simplesmente lembrando o que foi vivido. O Espírito Santo celebrado e recebido na semana passada é luz interior para descobrir sempre qual é o melhor caminho para responder a esta missão. Continua sendo assim a presença contínua que anima a Igreja desde seus inícios.
Jesus promete estar sempre com os seus: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.
As palavras “todos os dias” nos comunicam a certeza de que, em cada momento que vivemos, o Senhor está conosco! Peçamos ao Espírito Santo que nos abra os olhos para reconhecer, no hoje de nossa vida, a presença do Emanuel.
O mandato missionário de Jesus a sua Igreja nos revela o coração da Trindade. O desejo de Deus é que a humanidade participe de sua vida de comunhão para a qual fomos criados.
Assim, a missão da Igreja, que tem como centro o ser humano, se coloca a serviço, especialmente daqueles que mais precisam da centralidade e da atenção: os pobres, os marginalizados e tantas pessoas que continuam na busca de uma terra digna para seus filhos e filhas.
Festa da Santíssima Trindade – MT 28,16-20-anoB
A Igreja hoje celebra a festa da Santíssima Trindade.
O Mistério Divino é Amor que não pode ser descrito em palavras humanas. Alguém disse uma vez: “Tudo o que você pensa sobre Deus é mais você do que ele. Se eu tivesse um Deus que pudesse ser compreendido por mim, não gostaria nunca de reconhecê-lo como meu Deus! Por isso, cale-se e não especule sobre ele. Não lhe ponha roupas de atributos e propriedades. Aceite-o “sem ser propriedade sua”. Então vamos evitar tentar definir Deus.
Entre todos os seres vivos, o ser humano tem por vocação ser imagem e semelhança de Deus, porque somos chamados à comunhão e ao amor, dimensões do próprio ser de Deus. Os evangelhos nos apresentam Jesus como filho amado de Deus que revela o Mistério Divino como Pai que nos dá o seu sopro de vida. Em nós o seu Espírito nos move a transformar esse mundo.
O texto do evangelho lido hoje nas comunidades (Mateus 28,16-20) é o finalzinho do Evangelho de Mateus e contém três elementos importantes: 1º – uma revelação nova, 2º – o envio em missão e 3º – uma promessa.
Depois da morte de Jesus os onze discípulos voltam para a Galileia, a região de onde tinham vindo. Galileia era o mundo dos mais empobrecidos, onde a missão de Jesus tinha começado.
Foi no monte da Galileia que Jesus fez o seu primeiro discurso e nos deu as bem-aventuranças. Agora, é ali que o Ressuscitado se revelará. É para lá que envia os primeiros discípulos e a todos/as nós. As mulheres foram as primeiras e testemunhar a Ressurreição e o próprio Jesus as envia aos discípulos para eles irem à Galileia. Certamente essas amigas e discípulas de Jesus foram junto com os apóstolos.
O evangelho diz que, apesar de terem ido ao monte ao encontro do Cristo Ressuscitado, os discípulos duvidavam. Duvidavam de que? De quem? Se duvidavam, por que, então, foram? Mesmo na dúvida, permaneceram juntos e foram até a Galileia ao monte indicado por Jesus. Interessante! Com todas as suas dúvidas aquele pequeno grupo representava a comunidade de Mateus nos anos 80 (quando e para quem foi escrito o Evangelho de Mateus), uma comunidade dividida com muitas dúvidas e fragilidade.
Esses discípulos podem também ser figura de cada um/uma de nós e de nossas comunidades. Nós também vivemos esta experiência de crer e, ao mesmo tempo, duvidar. Jesus não se detém sobre as dúvidas dos discípulos ou sobre as nossas indecisões. A fé não se opõe às dúvidas e sim à nossa indiferença e à frieza. Dúvidas, a gente pode ter. O importante é que o evangelho chama a comunidade para voltar às bases e escutar de novo Jesus ressuscitado.
1 – Jesus lhes faz a revelação: Toda autoridade (exousia) me foi dada (pelo Pai). Poder (doxa) e Autoridade (exousia) são coisas diferentes. Um militar tem poder. Uma mãe tem autoridade, que é algo mais interno, do ser, da pessoa. É em função da autoridade que vem o chamado ao compromisso: “Então, se é assim, vão….”.
2 – O envio em missão. O tipo de envio que Jesus deu aos discípulos exige compromisso. Vão fazer discípulos e discípulas em todas as nações… Há quem entenda isso como missão religiosa, mas é importante lembrar duas coisas: Jesus não fundou religião, e nem o projeto divino é a Igreja. A Igreja tem sentido somente quando ela é instrumento desse projeto maior: o reinado divino no mundo. Isso significa tornar o mundo uma terra de amor compassivo, justiça solidária, libertação de todos/as e cuidado universal.
A responsabilidade é a de fazer discípulos de todas as nações, que é, em essência, espalhar a mensagem do amor e do perdão de Deus para todos os cantos do mundo, batizando-os em nome da Trindade. É um chamado à evangelização, um lembrete para todos os cristãos do compromisso de partilhar a boa nova da salvação.
Quando Jesus fala em batizar, as pessoas logo imaginam a pia de água benta ou o rio onde padre ou pastor batiza. O termo grego batizar significa mergulhar. Jesus está propondo mais do que um rito. Jesus manda discípulos e discípulas mergulharem as pessoas de todas as nações e culturas no projeto do reino de Deus que ele tinha ensinado e trazido para o mundo. O importante é o compromisso que decorre do batismo: “Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho mandado”. Como disse o Evangelho de São João: O que lhes mando é que se amem uns aos outros, como eu amo vocês”. Este é o envio e aí vem a promessa.
3 – A promessa: “Estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos”
O trecho (MT 28,16-20) é os últimas versículos do São Mateus. Mas no início deste mesmo Evangelho São José recebe a mensagem do Anjo que lhe diz: “O menino que vai nascer se chamará Emanuel, que significa Deus conosco”. Agora, lemos que a última frase do mesmo evangelho é a promessa de Jesus: “Estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”. Através do Espírito, estou em vocês. Em toda a Bíblia, Deus nunca aceitou se definir. Simplesmente disse “Eu serei com vocês mostrará a vocês quem sou Eu”. É essa presença amorosa que temos de viver para nós e testemunhar ao mundo.
A grande promessa é a presença contínua de Jesus. Ele assegura que, embora tenha ascendido ao céu, ainda está presente na vida de seus discípulos: "E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". Esta é uma promessa de constante companhia e apoio, um lembrete reconfortante de que não estamos sozinhos em nossas lutas e dificuldades. A presença de Jesus é constante e incondicional.
Temos aqui uma fonte de inspiração e de conforto. Inspiração, pois nos chama a assumir a responsabilidade de compartilhar o amor de Deus com o mundo. Conforto, pois nos garante que não estamos sozinhos em nossos esforços. Estamos acompanhados pelo próprio Jesus, que prometeu estar conosco "até o fim dos tempos".
Na prática as perguntas que sobra para nós hoje são: Como nós estamos vivendo este compromisso em nossas vidas diárias? Como podemos ser instrumentos/as do amor de Deus no mundo?
Mas não se esqueça da promessa consoladora de Jesus de sua presença constante e de seu apoio incondicional em nossas vidas. Quer dizer a verdadeira beleza deste chamado é que não nos é pedido que o façamos sozinhos. Jesus não diz: "Vão e façam tudo por conta própria". Ele nos oferece um modelo de parceria e comunidade. Quer dizer não é apenas uma ordem para a ação individual, mas um convite para a ação coletiva e colaborativa na Igreja e na comunidade.
A presença de Jesus - até o fim dos tempos - deve ser a nossa força e o nosso encorajamento. A promessa de Jesus é que Ele está conosco. Esta presença divina não apenas nos fortalece, mas também nos lembra da necessidade de estarmos presentes para os outros, de sermos a mão que ajuda, o ouvido que escuta e o coração que ama.
A Grande promessa, portanto, é uma chamada à ação, mas é também uma chamada ao amor e à solidariedade. É um chamado para sairmos de nossas zonas de conforto e irmos ao encontro dos outros, partilhando com eles a mensagem de esperança e amor que encontramos em Jesus.
Agora, somos convidados a olhar para a nossa própria vida e perguntar: onde estou sendo chamado a fazer discípulos? Como posso incorporar o amor de Cristo em minhas ações diárias? Como posso sentir e partilhar a presença contínua de Jesus em minha vida e na vida dos outros?
Ao continuar refletindo sobre essa passagem, podemos ainda nos perguntar: onde estão as áreas de dúvida em minha fé e como posso me apoiar em Deus e na comunidade para navegar por elas? Como estou vivendo a minha fé de uma maneira que honra a complexidade e a riqueza da Trindade?
Cada um de nós tem um papel único a desempenhar na grande comissão de Jesus. Ao refletirmos sobre esse evangelho, podemos encontrar inspiração e orientação para cumprir nosso papel de uma maneira que honra a Deus e serve ao próximo. Somos, cada um de nós, parte desta grande comissão. E, no final das contas, é a promessa da presença constante de Jesus que nos bsustenta em nossa jornada.
*Baseado nas reflexões de Marcelo Zanotti, historiador, e Gilvander Moreira, CEBs.
SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE CICLO “B”
Primeira leitura (Dt 4,32-34,39-40):
Este texto é o epílogo do quarto capítulo do livro de Deuteronômio e apresenta, em forma de exortação, os elementos jurídicos de um tratado de aliança para convencer Israel sobre a observância dos dois primeiros mandamentos: Javé, o Deus de Israel , é o único Deus; e fazer imagens é idolatria e é proibido. Estas exigências são apresentadas como condições para entrar na terra e poder viver nela para sempre.
Especificamente, nesta seção final do capítulo, procura convencer Israel a ser fiel ao seu Deus e, para isso, lembra o presença próxima de Deus ao seu povo. Recordando as experiências únicas e extraordinárias do Êxodo e do Horebe, ele quer demonstrar que o Deus de Israel é único e próximo; e que nenhum outro povo teve uma experiência da proximidade de Deus como Israel. Estes dons ou graças recebidos dão razão à exigência do povo de uma fidelidade absoluta. Portanto, faz parte do experiência (ouvir, ver, saber) para chegar ao exigência ética (guarde os mandamentos).
Quão conhecido A. Nocent1: "Existem certos fatos concretos que revelam o amor. No Senhor isto se cumpre em tudo o que Ele fez pelo seu povo [...] a história é uma revelação contínua de Deus. Desta revelação através dos gestos de Deus, há algumas conclusões concretas a tirar: a observância dos seus mandamentos".
Segunda leitura (Rm 8,14-17):
É importante considerar primeiro a função deste capítulo 8 na carta aos Romanos. Na verdade, tendo explicado no capítulo 7 as implicações negativas da salvação cristã, como a libertação do pecado e da morte, São Paulo desenvolve agora os grandes temas anunciados em 5,1-11: vivemos uma vida nova, a vida do Espírito, que atingirá o seu dinamismo final porque é garantida pelo Espírito, pelo Filho e pelo Pai. Nos versículos que lemos hoje é afirmado que um aspecto essencial da vida no Espírito é a adoção filial (8,14). Isto significa, concretamente, que o cristão não está mais sob a escravidão da lei numa relação de temor com Deus, mas, pelo contrário, está agora situado numa nova relação com Deus, numa religião fundada no amor manifestado do Pai em Cristo que nos tornou seus filhos adotivos. E isso se manifesta na oração, onde o Espírito Santo move o nosso próprio espírito a invocar a Deus Abbá, isto é, pai. Sobre estes belos versos disse o Papa Bento XVI: “O Cristianismo não é uma religião de medo, mas de confiança e amor ao Pai que nos ama. Estas duas densas afirmações falam-nos do envio e do recebimento do Espírito Santo, dom do Senhor Ressuscitado, que nos torna filhos em Cristo, Filho unigênito, e nos coloca numa relação filial com Deus, uma relação de profunda confiança. , como o das crianças; uma relação filial semelhante à de Jesus, embora diferente na origem e na espessura: Jesus é o Filho eterno de Deus que se fez carne, e nele nos tornamos filhos, ao longo do tempo, através da fé e dos sacramentos do Batismo e da Confirmação; Graças a estes dois sacramentos estamos imersos no mistério pascal de Cristo" (Catequese de 23 de maio de 2012).
Além disso, este espírito filial, fruto do Espírito em nós, leva-nos a ser co-herdeiros de Cristo (8:15-17) e, portanto, podemos esperar compartilhar a ressurreição e a glória com Ele, através Dele e Nele.
Evangelho (Mt 28,16-20):
Esta cena, de evidente solenidade, é a conclusão e o ápice de todo o evangelho de Mateus. Nele se unem os fios teológicos que o atravessam e é a chave para a compreensão de toda a obra. A cena consiste num quadro narrativo (vv. 16-18a) e na mensagem do Senhor Ressuscitado (vv. 18b 20). Esta mensagem tem três elementos: no meio, formulado em imperativo, está o comando missionário (19-20a); enquanto o primeiro (v.19) e o terceiro (v. 20a), ambos indicativos, formulam respectivamente o seu fundamento (o poder do Senhor Ressuscitado) e a sua garantia (a promessa da presença contínua do Senhor com o seu povo). Como observa E. Bianchi2“Nesta passagem a manifestação de Jesus ressuscitado e a missão da Igreja foram tão admiravelmente integradas que é claro que o acontecimento da salvação realizado em Jesus Cristo continua na fé e na vida da comunidade cristã.”.
Este final foi muito elaborado por Mateus e deve ser entendido, sobretudo, colocando-o em relação ao evangelho como um todo.
Desde o início o narrador coloca os discípulos em Galiléia (v.16), lugar onde o Senhor os tinha convocado (cf. Mt 26,32; 28,7.10). Esta região fronteiriça de Israel tem um significado importante porque o ministério de Jesus começou (cf. Mt 4, 12ss) e desenvolveu-se na Galileia; e aí também os discípulos deverão retomar a missão. A citação de Is 8:23 em Mt 4:15 chama isso de “Galiléia das nações ou dos pagãos”(Galiléia,a tw/n e vqnw/n) por ser a região com maior presença pagã em Israel; Portanto, a nível histórico salvífico, torna-se um símbolo da universalidade da mensagem evangélica. E é precisamente aqui, na Galileia, que os discípulos recebem o mandato de anunciar o Evangelho não só a Israel, mas a todas as nações.
Num monte da Galileia, difícil de identificar, os discípulos encontram o Senhor ressuscitado. O texto diz que eles adoraram, mas ao mesmo tempo, eles hesitaram, eles duvidaram (v.17). Para expressar dúvida usa-se o mesmo verbo distância, zw com a qual Jesus repreende Pedro pela sua falta de fé em 14,31: “E imediatamente Jesus estendeu a mão e o apoiou e disse-lhe: Ó homem de pouca fé, por que você dudaste?”- É uma atitude contraditória que caracteriza os discípulos do evangelho de Mateus, a quem Jesus chama várias vezes de “homens de pouca fé” (ovário, pistilos em Mt 6,30; 8,26; 16,8; 17,20). Eles têm fé, mas ainda precisam acreditar mais e acreditar melhor.
Jesus então se apresenta como o glorioso e exaltado Senhor de Deus, que recebe todo o poder do Pai (e vxousi, um) no céu e na terra; Portanto, ele agora detém o senhorio divino sobre toda a criação. O que o tentador ofereceu a Jesus, levando-o a um alto monte - todos os reinos do mundo e a sua glória - em troca de adorá-lo (cf. Mt 4, 8-10); agora ele a recebe do Pai através da sua obediência filial. E recebe também a adoração dos homens, que dobram os joelhos diante dele (cf. Fl 2, 9-11).
Segue-se então o mandato missionário. Esta missão é expressa com um verbo imperativo principal (faça discípulos / mateteusato) e dois verbos no particípio ativo (batizando... ensinando). Como nota P. Bonnard3“É provável que os dois verbos no particípio presente (batizar e ensinar) designem as duas ações ou meios com os quais os discípulos, por sua vez, farão discípulos.”. Portanto, os discípulos devem repetir a ação de Jesus: formar discípulos, mas discípulos de Jesus, não os seus. E deverão transmitir-lhes os ensinamentos de Jesus que é o único mestre (cf. Mt 23,8-10); Além disso, eles terão que “submergi-los” (batizá-los) no mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Trata-se, portanto, de levar outros a seguir Jesus e fazê-los participar da vida trinitária.
O horizonte da missão é universal, pois a expressão “a todas as nações” (pa, não ta. e ;) refere-se a todos os povos, sem exceção. Desta forma, Mateus assume o tema da missão pagã presente em Marcos (cf. Mc 5,18-20; 13,10; 15,39) e destaca-o, especialmente nesta conclusão programática onde convida todos os homens a serem discípulos .
Por último, o Promessa de Sua Presença. Jesus não promete garantias nem grandes feitos, apenas a sua Presença, sempre e até ao fim do mundo. Em Jesus Cristo realiza-se a presença permanente de Deus com o seu povo (“Estou com você todos os dias até o fim do mundo”, 28,20). Ou seja, é o Emanuel, “Deus connosco" (1.23). Na inclusão solene de 1:23 e 28:20 todo o evangelho de Mateus se desenvolve.
Meditação:
Sabemos o quanto é importante saber o nome das pessoas para poder chamá-las e criar um vínculo com elas. Portanto, para começarmos a nos conhecer, nos apresentamos dizendo nossos nomes. E este pode ser o início de uma linda amizade. Agora, qual o nome mais adequado para que Deus possa invocá-lo, começar a conhecê-lo e a relacionar-se com ele? Esta mesma pergunta foi feita pelos cristãos no segundo século e a “Santíssima Trindade” surgiu como resposta. Este é o nome mais apropriado para o Deus dos cristãos, pois através dele podemos expressar sinteticamente o que a fé cristã tem de novo e original em relação a Deus. Assim, com o nome da Santíssima Trindade, os cristãos expressam e confessam a nossa fé num único Deus que na sua intimidade é comunhão de Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Mas assim que começamos a falar da unidade da natureza e da distinção das pessoas em Deus - a Trindade, este mistério central da nossa fé torna-se distante e quase até abstrato, irreal. Contudo, Deus no seu mistério de vida trinitária é ao mesmo tempo o mais transcendente e o mais próximo de nós. Na verdade, a palavra batizar significa literalmente “imergir”; por tanto,
No nosso batismo fomos “imersos” em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. “Aos catecúmenos de Constantinopla, São Gregório Nazianzo, também chamado de “o Teólogo”, confiou este resumo da fé trinitária:
Antes de mais nada, guarda para mim este bom depósito, pelo qual vivo e luto, com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo . Confio isso a você hoje. Através dele, em breve irei apresentá-lo à água e tirá-lo dela. Entrego-a a você como companheira e padroeira de toda a sua vida. Eu lhe dou uma Divindade e Poder, que existe Um nos Três e contém os Três de uma maneira diferente. Divindade sem distinção de substância ou natureza, sem grau superior que eleva ou grau inferior que rebaixa... É a conaturalidade infinita de três infinitos. Cada um, considerado em si, é Deus em sua totalidade... Deus Três considerado em conjunto... Ainda não comecei a pensar na Unidade quando a Trindade já me banha com seu esplendor. Ainda não comecei a pensar na Trindade quando a unidade já me possui novamente... (0r. 40,41: PG 36,417)”(CÁTICO 256).
Podemos muito bem dizer que “Deus é família” e que fazemos parte desta família, é a nossa “família divina”. A este respeito, o Papa Francisco disse: “Deus é uma “família” de três Pessoas que se amam tanto que formam uma só coisa. Esta “família divina” não está fechada em si mesma, mas está aberta, comunica na criação e na história e entrou no mundo dos homens para chamar todos a participar. O horizonte trinitário de comunhão envolve-nos a todos e encoraja-nos a viver no amor e na partilha fraterna, certos de que onde há amor, há Deus.”.
A aceitação pela fé deste mistério trinitário implica aceitar a comunicação deste Amor trinitário, recebê-lo na própria alma, pois acreditamos que ao sermos batizados a Trindade veio habitar em nós, tal como Jesus anunciou: “Quem me ama será fiel à minha palavra, e meu Pai o amará; iremos até ele e viveremos nele”(Jo 14,23). Alguns santos viveram de forma muito forte esta verdade da nossa fé, como a jovem Santa Isabel da Trindade, que rezou dizendo: «Meu Deus, Trindade que adoro, ajuda-me a esquecer-me inteiramente para estabelecer-me em ti, imóvel e pacífico como se a minha alma já estivesse na eternidade; que nada pode perturbar minha paz, nem me fazer deixar você, meu
imutável, mas que a cada minuto me leva mais fundo no seu Mistério. Paz minha alma. Faça dele o seu paraíso, o seu lar amado e o lugar do seu descanso. Que eu nunca o deixe sozinho nisso, mas que eu esteja lá inteiramente, totalmente desperto em minha fé, em adoração, devotado sem reservas à sua ação criativa..
Todos somos convidados a experimentar a Santíssima Trindade que habita em nós; Pois se permitirmos que a nossa fé cresça e amadureça, nos uniremos a cada Pessoa da Trindade de uma maneira diferente.
Em nosso relacionamento com o Pai, nosso Criador, encontraremos a origem da vida, a fonte primordial, e experimentaremos a paz que brota em nossa alma quando nos abandonamos em suas mãos firmes e suaves. A este respeito, diz o Papa Francisco em Cristo Vive 113: “Talvez a experiência de paternidade que você teve não seja a melhor, talvez seu pai na terra estivesse distante e ausente ou, pelo contrário, dominante e absorvente. Ou ele simplesmente não era o pai que você precisava. Não sei. Mas o que posso lhe dizer com certeza é que você pode se lançar com segurança nos braços do seu divino Pai, daquele Deus que lhe deu a vida e que a dá a você a cada momento. Ele o abraçará com firmeza e, ao mesmo tempo, você sentirá que Ele respeita profundamente a sua liberdade.”
Em nosso relacionamento com o Filho, com Jesus nosso Salvador, experimentaremos o irmão e amigo que nos compreende, diante do qual podemos abrir amplamente o nosso coração, mesmo nas áreas mais obscuras, porque ele sempre nos olhará com misericórdia e nos oferecerá o perdão de Deus. O Papa Francisco diz aos jovens que “Ele vive, para que possa estar presente na sua vida, em cada momento, para enchê-la de luz. Assim nunca haverá mais solidão ou abandono. Mesmo que todos partam, Ele estará lá, tal como prometeu: “Estou sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Ele preenche tudo com sua presença invisível, e onde quer que você vá ele estará esperando por você. Porque Ele não só veio, mas vem e continuará vindo todos os dias para convidá-los a caminhar rumo a um horizonte sempre novo..” (CV 125).
Al Espirito Santo, nosso santificador, não podemos dar-lhe um rosto, mas sentiremos a força do amor que gera a vida, que aquece a nossa relação com o Filho e que vem em socorro da nossa fragilidade e nos move a clamar a Deus, chamando lhe Abba, Pai (cf. Gal 4,6). E também nos dá a força para confessar com coragem a nossa fé, para amar sempre e todos os homens; e ser testemunhas do amor de Deus diante de todos. Em efeito, "É Ele quem está por trás disso, é Ele quem prepara e abre os corações para receber esse anúncio, é Ele quem mantém viva essa experiência de salvação, é Ele quem o ajudará a crescer nessa alegria se você O deixar agir. O Espírito Santo enche o coração de Cristo ressuscitado e daí derrama em sua vida como uma fonte. E quando você o recebe, o Espírito Santo faz você entrar cada vez mais no coração de Cristo para que você esteja sempre mais cheio do seu amor, da sua luz e da sua força.”(Papa Francisco, CV 130).
Finalmente, acreditamos que o homem é imagem e semelhança de Deus. Sim, somos imagem de Deus Trindade, de Deus que na sua intimidade é comunhão de pessoas. E na Trindade cada pessoa se define pela relação com os outros, o seu ser pessoal está na doação de si mesmo. É claro que alcançaremos a nossa maior realização como pessoas na medida em que vivermos a comunhão e a doação sincera de nós mesmos aos outros por amor.
Em resumo, a solenidade de hoje fala-nos do mistério infinitamente transcendente de Deus na sua intimidade; mas ao mesmo tempo do mistério da Vida e do Amor em que participamos e em que estamos envolvidos. Como observa N. Baisi4: “Se fôssemos criados à imagem e semelhança de um ‘deus’ único e unipessoal, a nossa perfeição seria ser autónomo, não dar a ninguém, não depender de ninguém, não dar nem receber nada, ser e estar sozinho”. Mas este não é o caso porque Jesus nos revelou que “Deus é mistério de gerar e de ser gerado, de dizer a Palavra e de ouvi-la. Deus é comunhão de Pai e Filho, de dar e receber, de dizer e ouvir. Nosotros que somos imagen de Dios nos realizamos, hacemos lo que somos, vivimos como hombres de verdad, cuando somos capaces de recibir y de dar, de vivir en mutua interdependencia, de escucharnos y hablar, de comunicarnos en la verdad con otros, de amarnos de verdade”.
E esta comunhão divina é a fonte e o modelo da comunhão e da missão da Igreja. A este respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 30 de maio de 2021: “No anúncio do Evangelho e em todas as formas de missão cristã, não podemos prescindir desta unidade que Jesus chama entre nós, seguindo a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo: não podemos prescindir desta unidade. A beleza do Evangelho exige ser vivida – unidade – e testemunhada na harmonia entre nós, que somos tão diferentes. E esta unidade, ouso dizer, é essencial para o cristão: não é uma atitude, uma forma de dizer: não, é essencial, porque é a unidade que nasce do amor, da misericórdia de Deus, da justificação de Jesus Cristo e da presença do Espírito Santo em nossos corações”.
Em breve, A Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, é ao mesmo tempo mistério de comunhão e missão.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Trindade
Leve-nos Senhor para a montanha
Vamos subir ao topo, vamos conversar cara a cara
Conceda-nos sua graça
Não nos impeça da dúvida e do medo,
Encontremo-nos contigo a solas
Mergulhar na intimidade da oração
Prostremo-nos por terra!, reza o salmista
Bendito seja o Senhor! Ouçamos com alegria:
Sua vontade convoca e envia
Você será para nós, conosco
E em nós, até ao fim destes dias.
Você é celebrado na Eucaristia
Espírito Santo, Manda-nos velar como Pueblo
Pela Liturgia que vocês engendram
Abramos as portas para Cristo
Recebamos as promessas por sua graça
E vamos sair para o mundo por isso
Em seu corpo e sangue: a Igreja
Reunidos diariamente em honra do Pai
Eles virão de todos os lugares, para conhecer o Uno,
Quem você nos mostrou. Amém
.
[1] El año Litúrgico. Celebrar a Jesucristo V (Sal Terrae; Santander 1982) 67.
[2] Escuchad al Hijo amado, en él se cumple la Escritura (Sígueme; Salamanca 2011) 191.
[3] Evangelio según San Mateo (Cristiandad; Madrid 1976) 624.
[4] Trinidad para todos (Agape; Buenos Aires, 2013) 27-29.