19 e 20/04/2025
1ª Leitura: Atos 10,34a.37-43
Salmo Responsorial 117(118) R Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos! Aleluia, Aleluia, Aleluia!
2ª Leitura: Colossenses 3,1-4
ou
1 Coríntios 6b-8
Evangelho: João 20,1-9
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,1-9 1No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: 'Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram.' 3Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 8Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. 9De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos. Palavra da Salvação.
ou nas missas vespertinas Lucas 24,13-35
Jo 20,1-9
No quadro dos acontecimentos da Páscoa o primeiro elemento é o túmulo. Ele é mencionado explicitamente 7 vezes ao longo de 9 versículos (só em dois não aparece essa palavra). Outro detalhe (que não é um detalhe) é que o túmulo está vazio. Trata-se de um sinal essencial. Com efeito, não havia dúvida quanto à sepultura de Jesus: José de Arimatéia e Nicodemos tinham deposto o corpo de Jesus no túmulo, e agora Jesus não está mais lá.
Maria Madalena tinha chegado ao túmulo de manhã bem cedo antes do amanhecer. Ela esperou todo o sábado e a noite do dia seguinte, mas se levanta impaciente de madrugada. Ela está ainda envolta nas trevas da dor. Aquela mulher continua a amar o Mestre, mesmo depois de sua morte. Por isso ele vai ao túmulo: deseja encontrar o cadáver de Jesus, que é sinal de sua presença. É uma pobre consolação, porque o corpo de um falecido é sinal de uma presença de alguém ausente. Madalena quer oferecer ao mestre a homenagem do seu amor, um amor impotente porque o mestre morto não pode mais corresponder a seu amor.
Por isso, quando ela chega ao túmulo vazio, experimenta uma outra dor e uma outra decepção. “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”. Essa é a primeira interpretação do sinal do túmulo vazio: um cadáver não pode sair sozinho e, por isso, alguém deve ter roubado o corpo de Jesus. De qualquer forma, Maria Madalena desempenha a missão de ser anunciadora para os outros discípulos do túmulo vazio.
Simão Pedro e o discípulo amado saem correndo para ver o que tinha acontecido. Os outros discípulos estão muito amedrontados para sair. Somente os dois saem.
Pedro é o chefe indiscutido; mas o outro discípulo é o predileto. Numa espécie de competição os dois correm. Por ser mais jovem, por ter mais energia, por amar mais, o outro discípulo chega antes ao túmulo. Ele viu as faixas de linho que envolviam o corpo de Jesus no chão, constata que o corpo de Jesus não está no túmulo, mas não entra nele. Espera Pedro; só entra depois dele.
Pedro entra no túmulo e constata o que o outro discípulo já tinha vista do lado de fora: as faixas de linho deitadas no chão e o pano que cobria o rosto de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado em lugar à parte. Os dois constatam que não foi roubo de cadáver: o túmulo está vazio, mas não por causa de roubo de cadáver. Com efeito, quem rouba cadáver carrega-o sem ter o cuidado de desenrolá-lo das faixas. Se não foi roubo de cadáver, o que foi então?
O evangelho diz que o outro discípulo entrou e que ele “viu e acreditou”. Os lençóis de linho são sinais da morte que Jesus deixou para trás. Ao constatar a ausência de Jesus, o discípulo amado descobre uma realidade. Ele não tem necessidade de ver Jesus para crer. Ele constata que Jesus não está envolto nos panos de linho porque está vivo.
Jesus ressuscitado se manifestou primeiramente com os sinais de sua ausência: o túmulo vazio, as faixas de linho, o sudário, deitados no chão e a mensagem da Madalena. Depois Jesus se manifestará de modo misterioso: como o jardineiro, o forasteiro que caminha para Emaús, o homem que vem para comprar peixes dos pescadores. Por fim, Jesus se manifestará corporalmente com sua voz e com os sinais da paixão.
Ao mesmo tempo, os discípulos vão progredindo na fé. Primeiro creem sem ver como o discípulo amado; depois reconhecem Jesus ressuscitado pela voz, pela visão e pelo tato como Maria Madalena. Por fim, é o grupo todo que reconhece Jesus vivo, mesmo que haja um teimoso e atrasado que exige ver para crer.
Todas as aparições são acompanhadas de uma missão. A aparição a Maria Madalena a faz Apóstola dos Apóstolos. A aparição aos apóstolos os transforma em portadores dos dons da paz, do Espírito Santo e do Evangelho a todo o mundo. A aparição a Tomé comunica a ele a bem-aventurança de crer sem ter visto.
Dom Ressurreição – Pascoa -- Jo 20,11-18; Lucas 24,13-35 – Ano C
Na alegria da ressurreição, prepare a oração, criando um clima de profunda intimidade com o Ressuscitado.
Suplique a Deus o dom da alegria com Cristo Ressuscitado; que a experiência da Ressurreição o(a) impulsione a viver com mais intensidade em comunhão com toda a humanidade e toda a Criação.
Antes de “entrar em contemplação”, repasse os “pontos” seguintes:
Mestre Crucificado, Mestre Ressuscitado. O ensinamento de Jesus revelou-se inseparável de sua vida; em outras palavras, Ele ensinou com sua vida.
Certamente, Jesus ensinou com parábolas, com gestos ousados... Mas, no final, o que educa de verdade é sua própria vida de Mestre amigo, terapeuta, compassivo, crucificado, ressuscitado... Por isso, não basta dizer que o ensinamento de Jesus “segue adiante”, mas que devemos acrescentar: Jesus mesmo, ressuscitado por Deus, é o autêntico educador.
Os relatos de suas Aparições nos revelam como Ele foi reconstruindo as pessoas, amigas e amigos, quebrados(as) pelo fracasso, pela tristeza, pela decepção... Jesus os(as) ressuscitou por dentro, despertando a vida bloqueada e abrindo o horizonte da missão.
“Olhar o ofício de consolar que Cristo nosso Senhor exerce” (EE. 224). S. Inácio utiliza esta expressão quando apresenta, na 4ª Semana dos Exercícios, a contemplação das aparições do Ressuscitado.
Consolar é o que define a ação do Ressuscitado, transformando a situação dos seus discípulos e discípulas: a tristeza se converte numa alegria contagiosa, o medo em valentia e audácia, a negação de Jesus em profissão de fé e martírio... Não se trata de um ato pontual senão de um “ofício” , que definirá para sempre a atividade de seu Espírito no mundo.
Nas cenas evangélicas das aparições, o efeito da presença do Ressuscitado sobre os discípulos e discípulas termina sempre em reconhecimento, em chamado e envio, em restauração de uma vocação e missão.
Jesus ressuscitado exerce sobre eles(elas) um original “ofício de consolar”, cujo efeito é iluminar o caminho pelo qual, em seu nome e com Ele, eles e elas hão de percorrer. O “ofício de consolar” é a marca do Ressuscitado, é força re-criadora e reconstrutora de vidas despedaçadas. Jesus “ressuscita” cada um dos seus amigos e amigas, ativando neles(as) o sentido da vida, reconstruindo os laços comunitários rompidos, e sobretudo, oferecendo solo firme a quem estava sem chão, sem direção...
O verbo “consolar” tem, no hebraico, um sentido mais amplo e forte que nas línguas latinas, porque, muito mais que animar a alguém abatido, expressa a ação eficaz de conseguir com que desapareçam os motivos de seu abatimento. Neste sentido, consolar não é tão somente acompanhar senão, também, inclui a ação de dar esperança, uma esperança fundada, capaz de produzir uma mudança radical no estado de ânimo do outro.
Nos relatos das aparições de Jesus Ressuscitado, esta experiência de ficar consolado aparece muito evidente, porque passa-se da angústia do túmulo vazio à consolação na presença d’Aquele que vive; é a passagem da ausência desconcertante à presença significativa.
O Ressuscitado se aproxima como Presença viva que comunica Vida: deixa-se ver, caminha, fala, interpela, corrige, anima, transmite paz e alegria. Em uma palavra, presenteia seu Espírito.
Sua maneira de se fazer presente é pessoal, personalizante, identificadora: dizer o nome, suscitar recordações e experiências comuns, fazer vislumbrar projetos de futuro.
Outra vez Jesus recria a comunidade que, depois da Paixão, estava se desintegrando; e seus discípulos experimentam novamente o chamado e o envio, a serem testemunhas e cúmplices do Espírito, porque vivem a certeza existencial de que o Crucificado é o Ressuscitado, que a morte foi vencida, que Deus está constituído como Senhor.
Em meio à dor, os(as) discípulos(as) aprendem a confiar em Deus e a não se deixar levar pela tristeza.
A alegria não começa quando acabam as dores; a alegria é uma opção de vida, expressão da confiança em Deus, que torna possível enfrentar o sofrimento com esperança. A alegria não suprime o sofrimento, mas lhe dá sentido. A alegria não desconhece o sofrimento, senão que o enfrenta com confiança.
Em nosso uso habitual, a palavra “consolação” e o verbo “consolar” apontam para um profundo e rico significado: revelam um tipo de proximidade e comunhão com o outro capaz de lhe transmitir compreensão, alento, acolhida, impulso... ou seja, uma transmissão de energia que desperte nele suas próprias capacidades de reação diante de uma situação de tristeza, de fracasso, de desespero ou sofrimento...
Nos Exercícios Espirituais de S. Inácio, consolação e consolar são a linguagem e ação de Deus no ser humano, comunicação do Criador com a criatura, iniciativa de Deus que, quando é recebida com agradecimento e pureza, isto é, como dom gratuito e como escuta disponível, nunca deixam a pessoa consolada no mesmo lugar ou situação onde estava antes.
A consolação de Deus é sempre dinamizadora daquilo que é mais divino no ser humano.
Por ser manifestação da comunicação do Espírito de Deus ao espírito humano, gera sempre na pessoa, amor, alegria, fé, entusiasmo..., e desemboca sempre na missão.
Deus nos consola para que possamos consolar.
Na consolação, Deus nos chama a ser seus colaboradores. A consolação que recebemos do Senhor não nos é dada tendo em vista um desfrute narcisista e fechado deste dom espiritual, mas tem a finalidade de capacitar-nos para o “ministério da consolação”.
É um dom para a missão; se alguém se apropria dela como coisa pessoal, morre.
Dessa consolação de Deus, da qual nós mesmos e nosso mundo tanto necessitamos, somos chamados a fazer-nos receptores e mediadores.
Trata-se de uma consolação que é pura graça, que não está ao alcance de nossa mão dá-la a nós mesmos, nem dá-la aos outros, mas da qual podemos ser agradecidamente receptores e gratuitamente mediadores. Com isso, a consolação pode estender-se a outros muitos rincões da existência humana.
É tempo de auto compreender-nos e atuar frente aos outros como enviados a exercer ativamente o “ofício de consolar”, tendo sempre presente que a consolação verdadeira pertence somente ao Espírito, já que não é outra coisa que a gratuita autocomunicação do Deus trinitário à humanidade.
É Ele mesmo quem deseja compartilhar conosco este ofício, o ofício de consolar.
Consolação e “ofício de consolar” nascem e vem precedidas pela experiência de uma alegria pura e totalmente desinteressada pelo Senhor. Alegria interna e verdadeira que procede e provoca a missão.
Nada mobiliza tanto como o agradecimento e nada revela tanto o agradecimento como a alegria pura pelo bem do outro. A gratuidade é o habitat natural da consolação e do consolado.
Todos somos chamados a prolongar este “ofício de consolar” de Jesus; a experiência da Ressurreição nos move a “descer” junto à realidade do outro (seus dramas, fracassos, perda de sentido da vida...) e exercer este ministério humanizador, ou seja, ministério entre iguais, “vida que desperta outra vida”.
É vida plenificada, iluminada, integrada... pela experiência de encontro com o Ressuscitado e que flui em direção à vida bloqueada, necrosada... ativando-a, despertando-a...
É movimento expansivo da vida.
Assim como a consolação é o canal privilegiado pelo qual Deus se comunica e atua em nós, o ofício do consolo” é o canal por onde flui a vida.
Para meditar na oração:
Faça “memória” das experiências de consolação, suscitadas pela Graça de Deus ao longo desta Quaresma
- Recorde pessoas que foram “presenças consoladoras” em sua vida.
- Traga à memória situações em que você foi o(a) mediador(a) da consolação de Deus.
Iluminar a madrugada e tecer liberdade, nutrir a vida de compaixão e amizade, celebrá-la e oferecê-la de verdade, orar... Esse é o movimento de Ressurreição? É isto que o evangelista João quer destacar quando escreve que Madalena “saiu correndo”, que Pedro e João “corriam juntos”?
Que a Páscoa seja um tempo de movimento e cada um(a) discirna para onde correr!
Um Santo Tempo Pascal e todos e todas!
O domingo de Páscoa, para os cristãos, é o dia da festa por excelência: o dia em que o Cristo passou da morte para a vida: dia da alegria, pela Ressurreição; dia da nova criação, «a maravilha diante de nossos olhos». Sim, Deus fez maravilhas, aleluia! Alegremo-nos com Pedro que testemunhou a ressurreição de Jesus perante um auditório de pagãos.
Alegremo-nos também com Israel, pela perenidade do amor de Deus: com Paulo, que nos convida a buscar «as coisas do alto»
e com o discípulo que «acreditou» antes mesmo que tivesse visto. Ele está vivo!
O domingo de Páscoa é o primeiro de todos os domingos e todo domingo é um dia de Páscoa. Desde dois mil anos, cada domingo celebra este dia que o Senhor fez: um dia de alegria, Aleluia!
O inacreditável
Aquele que, na antevéspera, foi crucificado, ressuscitou! A notícia, ou melhor, o rumor espalhou-se por toda a Jerusalém. Inacreditável! Ninguém viu Jesus levantar-se da morte. A Ressurreição é, antes de tudo, um túmulo aberto e vazio. Primeiro, para Maria Madalena e os seus companheiros. Em seguida, para todos os outros discípulos. Muitos cristãos têm dificuldade em acreditar na Ressurreição. Pois não se sintam culpados por causa disto além da conta: os próprios discípulos levaram tempo, até admitirem que Jesus estivesse vivo. "Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram" (João 20,13). A fé é tão mais difícil quanto o que difere a nova vida de Jesus da que precedia a sua morte. Ora, se o Cristo não ressuscitou, toda a mensagem evangélica perde o seu sentido: "Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé" (1 Coríntios 15,14). Se Deus não nos fez para existirmos para sempre, ele não é verdadeiramente amor e estamos sob o domínio de forças obscuras. Assim como pequenas marionetes, damos três voltinhas sobre esta terra e, depois, partimos. É precisamente a perspectiva de existir para sempre que dá valor a tudo o que a vida nos traz. O fato de que o Cristo tenha suportado e superado todo o mal que possamos fazer, e que, por sua condução à morte, nos tenha recapitulado, garante-nos termos acesso a uma vida nova. Sem isto, diz Paulo, permanecemos sempre fechados em nosso pecado, este pecado que sempre tem algo a ver com o homicídio que está exposto na Cruz. Com a Ressurreição, ficamos sabendo que o pecado, frente a este amor que o supera, não tem mais a última palavra.
Pedro e o discípulo preferido
O quarto evangelho não dá o nome deste discípulo. A tradição identifica-o com João. Foi ele o único a estar ao pé da Cruz; o único a ser declarado filho de Maria em lugar de Jesus que, de qualquer modo, ia morrer. E será o único a seguir Jesus e Pedro no final do capítulo 21. Por que o evangelista insiste nesta ordem de chegada dos dois discípulos ao túmulo, apressados em verificarem o que havia sido dito por Maria Madalena? Talvez este discípulo encarne a proximidade amante que podemos manter com Jesus vivo. E também que, mesmo se fundada nela, vai bem mais longe do que a fé nas "verdades" sobre a sua natureza e sua obra. No entanto, mesmo tendo chegado depois de João, foi Pedro quem entrou primeiro no túmulo. Prioridade concedida àquele sobre o qual a Igreja será fundada? Notemos que nada está dito sobre a sua fé na Ressurreição. Já a respeito do discípulo preferido, ao contrário, está escrito: "Viu e acreditou". Mas o que ele viu? Viu o vazio, ali onde deveria encontrar-se um cadáver: não havia nada para se ver. Estamos aqui, então, no "crer sem ver" do versículo 29 deste capítulo. E estamos todos aí: para nós, a fé só pode nascer de uma palavra que venha dum outro lugar. O discípulo vê algo, no entanto: o lençol dobrado e o lenço que havia recoberto a cabeça de Jesus. Estes detalhes significam sem dúvida que o corpo não havia sido removido na precipitação de um ato proibido e perigoso. Houve tempo para se deixar tudo em ordem. Melhor: foram deixados no lugar todos os acessórios relacionados com a morte.
O corpo da ressurreição
Jesus não estava mais lá. Daí em diante, não será mais localizável. Os evangelistas, no entanto, insistem no fato de que ressuscitou em seu corpo. Uma contradição? O Cristo ressuscitado escapa daí em diante às leis do espaço-tempo. Deste modo, podemos compreender a questão de 1 Coríntios 15,35: "Como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltam?" Paulo responde com uma parábola: a do grão semeado na terra, já utilizada em João 12,24. Paulo põe o acento na diferença entre a semente e a planta que dela surge. Misteriosa aptidão para mobilizar, utilizar e transformar tudo o que se encontra no meio natural. A Ressurreição leva ao limite esta aptidão: "Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual" (vs. 42-43). “Corpo psíquico” podemos ainda compreender, mas "corpo espiritual"? Eis aí algo que nos supera, porque parece haver uma contradição nos termos. Digamos que nosso corpo, lugar e instrumento de nossa relação com a natureza e com as outras pessoas, dilate ao extremo esta função de relação. Eis, então, que estamos em Deus e como Deus. É por isso mesmo que, se o corpo de Cristo ressuscitou, conserva a sua singularidade; torna-se ao mesmo tempo comunhão de todos os homens. O novo corpo de Cristo ressuscitado ganha o nome de Igreja. Será necessária a história toda para fazê-lo nascer. Estamos, porém, longe disto, seja pela qualidade da nossa união seja por sua universalidade.
Textos deste Domingo
1ª leitura: “Nós comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (Atos 10,34.37-43).
Salmo: Sl. 117(118) - R/ Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!
2ª leitura: “Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está o Cristo” (Colossenses 3,1-4).
Sequência: Cantai cristãos, afinal: “Salve, ó vítima pascal”.
Evangelho: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (João 20,1-9).
Marcel Domergue, jesuíta - Tradução livre de www.croire.com pelos irmãos Lara
As primeiras leituras de todo Tempo Pascal são tiradas dos Atos dos Apóstolos que são o segundo volume do evangelista chamado Lucas (cf. a mesma dedicação a Teofilo em Lc 1,3 e At 1,1). Hoje ouvimos a parte central da pregação missionária de Pedro diante do centurião Cornélio. Até então, Pedro visitava somente comunidades judeu-cristãs (cf. 9,23-43). Um judeu não entrava numa casa de um pagão para não ficar impuro (v. 28; cf. Jo 18,28; Mt 8,8p), mas uma visão (vv. 9-16.28s) mostrou a Pedro que não devia fazer distinção de puro e impuro. Impelido pelo Espírito (v. 19), Pedro aceitou o convite de Cornélio, pagão romano, mas “piedoso e temente a Deus” (v. 2; cf. Lc7,1-10), que residia em Cesareia (cidade litoral) e queria ouvi-lo com “seus parentes e amigos mais íntimos” (v. 24).
Pedro tomou a palavra e disse: (v. 34a)
No início da sua pregação (vv. 34b-36; omitida pela liturgia de hoje), Pedro resume a lição da sua visão anterior: “Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável” (cf. 15,9; Dt 10,17; 2Cr 19,7; Sl 15,2; Pr 15,37s; 16,7). Deus escolheu seu povo de Israel (cf. 13,46: “primeiro”), porque, “ele enviou a palavra aos filhos de Israel, dando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos” (cf. Is 52,7; Sl 107,20). Com isso, já introduziu Jesus como messias (“Cristo”) e “Senhor” (cf. 2,36).
“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fezna terra dos judeus e em Jerusalém (vv. 37-39a).
Diferente das pregações diante de pagãos que falam do Deus Criador e chama à conversão (14,15ss; 17,24ss), a pregação diante de Cornélio se refere ao que os ouvintes já sabem. Como tementes a Deus já participam da sinagoga (sem serem circuncidados) e devem ter ouvido “o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galileia” (cf. v. 39; Lc4,14.37.44; 23,5).
Segue o roteiro resumido do Evangelho (de Mc que Lc usou como modelo): o batismo por João em que “Jesus de Nazaré” se tornou “Cristo” (= “ungido”; Jesus não foi “ungido” rei-messias com óleo pelo sumo sacerdote, mas “por Deus com o Espírito”, cf. Is 42,1; Lc 4,4.18.; At 4,27), seus milagres (“poder”, “fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio”; cf. 4,9; Lc 13,16; Lc 4,18s = Is 61,1s). Os apóstolos (“nós”) são “testemunhas de tudo” (cf. 1,1), deste trajeto de Jesus desde o batismo até sua ascensão (cf. 1,21s).
Eles o mataram, pregando-o numa cruz.Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos(vv. 39b-41).
O kerygma (primeiro anúncio do fundamento da fé cristã, cf. 2,22-24) se apóia na fórmula de contraste (cf. 2,23s: “vós o matastes…, mas Deus o ressuscitou”), mas diante do romano Cornélio não menciona a culpa (cf. “vós o crucificastes…” cf. 2,23.36; 3,13.19; 4,10.12; 5,30); aqui só relata a morte de Jesus pelos responsáveis dos judeus (v. 39; cf. Lc 22,2; At 2,23; 13,28) que “o mataram pendurando-o numa cruz” (cf. Dt 21,22; At 5,30). Aquele morto de maneira tal desastrosa, “Deus o ressuscitou no terceiro dia” (cf. Lc 9,22; 24,7.46; At 3,13; 4,10; 5,30; 13,30.37).
O antigo kerigma pascal fala da ressurreição junto com as aparições diante de testemunhas (cf. 1 Cor 15,3-5), aqui como ação de Deus: “concedendo-lhe manifestar-se, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido.” Os filhos de Israel (v. 36) e agora os pagãos dependem destes testemunhos de apóstolos escolhidos (cf. Lc 6,12-16; At 1,2.22): “nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (cf. Lc 24,30.35.43; At 1,4).
E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos (v. 42).
A pregação apostólica é a mando do próprio Jesus e se dirige primeiramente ao “povo” (aos judeus), mas seu testemunho (cf. 2,40; 8,25; 28,23) alcança agora os pagãos também; Jesus é universal como “juiz dos vivos e dos mortos” (cf. 17,31; 1Ts 1,10).
Todos os profetas dão testemunho dele: ‘Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados’” (v. 43).
Os sermões diante dos judeus (cf. 2,14-36; 3,11-25; 4,9-12; 7,1-53; 13,16-43) contém provas da Escritura. Aqui diante dos pagãos, Pedro se contenta num resumo: “Todos os profetas os profetas dão testemunho dele” (cf. Lc 24,27.44; At 3,21.24).A boa nova da paz (v. 35) se concretiza no “perdão dos pecados”, que recebe “todo aquele que crê em Jesus” (cf. Paulo em 13,39; Rm 1,16; 3,22; 10,11). Este o recebe “em seu nome”, ou seja, no batismo (cf. 2,28) que Pedro administrará em seguida. Concedeu o batismo a estes pagãos, porque o Espírito Santo interrompeu o discurso de Pedro descendo sobre Cornélio e sua família (“pentecostes dos pagãos”, cf. vv. 44-48) sinalizando que Deus quer a inclusão dos outros povos formando a Igreja católica (=para todos, universal).
2ª Leitura: Cl 3,1-4
Na leitura de hoje, Paulo (ou um discípulo dele, que escreveu em nome de Paulo) não despreza as realidades terrestres, mas introduz a perspectiva da ressurreição que glorifica o corpo e toda matéria.
Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (vv. 1-4).
O autor da carta frisa mais uma vez que a salvação já aconteceu pela obra de Cristo (cf. 2,12s; Ef 2,6) e não vem pelos elementos deste mundo (cf. 2,16-23), porque já fomos ressuscitados com Cristo, já estamos mortos para o pecado, mas esta verdade expressa pelo sacramento do batismo (cf. Rm 6,2-11, leitura de ontem) ainda está “escondida” e precisa ser vivida no dia a dia. “Procurar as coisas do alto” significa procurar a vida nova revelada em Jesus Cristo, em oposição ao mundo antigo. Isto se apoia na citação de Sl 110,1: “Senta-te à minha direita” (cf. Mc 12,35-37p; 14,62p; At 2,33s; Rm 8,34; 1Cor 15,25; Ef 1,20; Hb3,1.13; 8,1; 10,12; 12,2; 1Pd 3,22).
O mistério da união com Cristo glorificado se projeta nas coordenadas imaginativas de espaço e tempo: terrestre e celeste, presente e futuro. Cristo glorificado vive em nós, “vossa vida” (v. 4), e nós por ele. Como Cristo está agora “escondido”, invisível, embora possa ser experimentado (2Cor 13,5), também nossa vida com ele “está escondida” (v. 3). Quando ele se “manifestar na glória” da parusia (sua volta nas nuvens; cf. 1Ts 1,10; 4,16s), também se manifestará nossa vida glorificada.
Evangelho: Jo 20,1-9
O Evangelho de João é o mais novo dos quatro evangelhos, o último evangelho aceito pela Igreja, escrito em 90-100 d.C. (conforme a maioria dos biblistas). É bastante independente e diferente dos sinóticos (Mt, Mc, Lc), talvez tenho conhecido umas tradições de Lc. Ele apresenta algumas características próximas dos evangelhos apócrifos (ex. dualismo gnóstico); estes não entraram mais no cânone do NT (Novo Testamento) por terem doutrinas diferentes da tradição apostólica (não são consideradas inspiradas).
O Ev de Jo foi escrito em várias etapas e por vários autores: primeiramente usava-se uma coleção sobre os “sinais” (sete milagres) e um relato da paixão, depois um autor (evangelista) acrescenta longos discursos teológicos (“Eu sou …”, preexistência do Verbo, escatologia presente), e por último uma redação eclesial escreve acréscimos posteriores como Jo 21 (após o primeiro final em Jo 20,30-31), e também Jo 15-17 (18,1 seguia antes ao v. 14,31), partes de Jo 10 e todas a referências sobre o “discípulo amado”, um discípulo ideal ou uma autoridade na origem da comunidade.
A atribuição do Ev ao apóstolo João, filho de Zebedeu, é tradicional, mas contestada hoje, porque o Ev não apresenta nada da transfiguração, da oração no jardim das oliveiras ou das outras situações onde João estava presente (cf. Mc 5,37; 9,2; 13,3; 14,33). Portanto podemossó afirmar que o quarto Evangelho foi concluído por discípulos anônimos do discípulo amado, cujo nome também não se sabe.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram” (vv. 1-2).
Além da cronologia da paixão, o “primeiro dia da semana” (vv. 1.19; cf. v. 26)pode ser uma alusão ao primeiro dia da nova criação (cf. Gn 1,3-5). Os cristãos o dedicarão ao Senhor (latim: dominus) glorificado, e por isso o chamarão dominical: “dies domínicus” (= domingo; Ap 1,10).
Maria Madalena é a primeira testemunha da ressurreição de Cristo. Seu nome indica o lugar de origem (Magdala na beira do lago de Genesaré) e não o nome do marido ou filho ou pai como era o costume (cf. 19,25; Mc 15,40p; Lc 8,3). Não deve ter tido (mais?) um marido, mas não está comprovada que era a prostituta anônima de Lc 7,36-50; esta tradição surgiu só pela proximidade de Lc 8,2 que nos diz que Jesus a libertou de sete demônios (Lc 8,2; Mc 16,9). Por gratidão desta cura, pôs os seus próprios bens à disposição de Jesus e dos discípulos (Lc 8,2). Mas sua maior importância consiste em ser a primeira testemunha da ressurreição. Todos os quatro evangelistas relacionam seu nome com o túmulo vazio e dois deles contam um encontro dela com o Ressuscitado (cf. Mt 28,9-10; Jo 20,11-18.)
Maria Madalena é uma das três mulheres que estiveram junto à cruz (19,25).No sábado era proibido trabalhar ou ter contato com os mortos (Lv21,1.11; Nm 6,9; 19,11-13; 31,19; cf. Ag 2,13; Ez 44,25-27), por isso tinha que passar o sábado, e a descoberta do túmulo vazio acontece “no terceiro dia” após a morte de Jesus. Maria esperou todo o sábado e a noite do dia seguinte, mas se levanta impaciente de madrugada (“por ti madrugo”; “antecipo-me à aurora”, Sl 63,2; 119,147-148). Diferente dos evangelhos sinóticos com sua alusão à luz do primeiro dia da semana (cf. Mt 28,1p), em Jo, “ainda estava escuro”. Este detalhe pode demonstrar a coragem de Maria Madalena. Já permaneceu embaixo da cruz, agora vai ao túmulo ainda na escuridão. Por outro lado, significa que a luz da ressurreição ainda não esclareceu sua tristeza (cheia de lagrimas nos olhos, ela não reconhece Jesus quando aparece em seguida (vv. 15-18).
O v. 1 só diz a metade do que Maria viu: “viu a pedra retirada”, mas não viu o cadáver de Jesus. O v. 2 o completa: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”, é a primeira mensageira do sepulcro vazio. Ela pensava que alguém (funcionário ou ladrão) tivesse retirado o corpo (vv. 2.13.15)
Curiosamente usa o plural: “nós não sabemos”. Alguns comentaristas suspeitam que numa versão precedente, Maria ia acompanhada de outras mulheres (cf. Mc 16,1; Mt 28,1; Lc 24,10). Nosso evangelho de hoje, porém, se concentra na corrida de Pedro e o discípulo amado ao túmulo.
No quarto evangelho aparece um discípulo anônimo “outro discípulo, aquele que Jesus amava”. Ele está perto de Jesus e descrito como testemunha e, na maioria das vezes, ao lado de Pedro (13,23s; 18,15; 20,3-10; 21,7.20-23; cf. 1,40; 19,26.35; Gl 2,9). Por isso, a tradição identificou este discípulo amado com o apóstolo João, filho de Zebedeu (cf. At 3-4; Gl 2,9), e lhe atribuiu a autoria do quarto e mais novo evangelho na Bíblia.
Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou (vv. 3-4).
De fato, os dois agem imediatamente. Duas devem ser as testemunhas segundo a lei (Dt 19,15). Com o realismo de uma corrida, quase competição, o autor quer dizer algo mais. Pedro é o chefe indiscutido em todo momento; mas o outro discípulo é o predileto. Esteve à direita de Jesus na ceia (13,23s) e ao pé da cruz na morte (19,26). O discípulo amado, por ser mais jovem ou impulsionado pelo amor, correu mais depressa (“correrei pelo caminho de teus mandamentos quando me dilatares o coração”, Sl 119,32), mas “não entrou”. O discípulo reconhece a Pedro certa preeminência (cf. 21,15-17).
Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte (vv. 6-7).
Pedro é a primeira testemunha em importância (cf. Lc 24,34; 1Cor 15,5). Como chefe, cabe a ele verificar o túmulo vazio relatado pela mulher (cf. Lc 24,10-12.22-24). Mulheres não eram aceitas como testemunhas na época. As faixas de linho e o sudário enrolado à parte indicam que nenhum funcionário de José de Arimateia e nenhum ladrão teriam levado o corpo. Se alguém levasse o corpo, o levaria junto com os panos nos quais estava enrolado para não dificultar o translado. O sepulcro vazio é sinal, não prova, pois pode significar outras coisas: remoção, trasladação; mas os lençóis separados reforçam o sinal do túmulo como lugar da ressurreição.
De fato, em Mt 28,11-15 surge o boato de que os próprios discípulos teriam retirado e escondido o cadáver para depois enganar o mundo proclamando a ressurreição do seu mestre. Mas o testemunho corajoso dos apóstolos que resistiram à perseguição, prisões, torturas e sofreram o martírio (por não negar sua fé no ressuscitado, cf. 21,18ss; At) não se deixa explicar com uma mentira dessa, antes teriam confessado o engano para salvar sua vida. Só a aparição do ressuscitado explica esta transformação de apóstolos fugitivos a testemunhas corajosas a partir de Pentecostes (20,19-23; cf. At 2).
Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou (v. 8).
O discípulo amado, impulsionado pelo amor, correu mais depressa e é o primeiro a crer. O sepulcro, os lençóis e o sudário são sinais da morte que Jesus deixou para trás. Na ausência, o discípulo amado descobre uma realidade nova. Quem se sente amado por Jesus e o ama também, acredita mesmo sem ter visto o ressuscitado ainda (cf. a bem-aventurança em 20,29).
De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos (v. 9).
No v. seguinte, o autor quer revelar que os discípulos não se achavam preparados para a revelação pascal, apesar das Escrituras (cf. Lc24,27.32.44-45). A Escritura poderia abrir os olhos, se fosse entendida. Os discípulos eram pessoas simples da roça da Galileia, mas na leitura das Escrituras encontrarão apoio para “provar” que a morte de Jesus não era um acidente da história nem a ressurreição era um absurdo, mas correspondia aos desígnios de Deus. A Escritura era reconhecida pelos judeus e servia de ponte para o anúncio (cf. o discursos nos At). A que texto se refere? Provavelmente a vários, numa linha de pensamento ou esperança (por ex. Is 53,11-12: “verá a luz”; cf. Sl 16,9-11; 30,49,16; 73,23-26; Is 26,19; Ez37;…).
Os vv. 2-10 com a corrida de Pedro e o discípulo amado ao túmulo parecem ser inseridos por uma redação posterior ao relato da ida de Madalena ao túmulo, porque nos vv. 11-18 ela se encontra novamente (ainda?) no túmulo e vê Jesus ressuscitado (cf. Mt 28,9s). Pode ser que o redator queria diminuir a importância da Madalena? Segundo a opinião de alguns peritos, a descrição desta corrida entre Pedro e o discípulo amado pode indicar um conflito dentre da comunidade joanina e a sua solução. O discípulo amado fundou e representou esta comunidade onde se desenvolveu certa compreensão mais avançada (“correu mais depressa”) sobre Jesus (cf. preexistência, discursos). Mas uma “corrente” avançou demais em direção gnóstica (dualismo grego entre espírito e carne, luz e trevas, Deus e o mundo; salvação apenas pelo conhecimento, não pela fé nem pelos sacramentos), deixando Jesus histórico (em carne e sangue) e os sacramentos do lado. Assim provocou-se um cisma e a saída de alguns (cf. 6,67; 1Jo 2,19). Daí os apelos no evangelho e nas cartas joaninas de “permanecer” na comunhão com Cristo e os irmãos (cf. Jo 15; 1Jo 2). A solução estava em reconhecer a preferência e o papel eminente de Pedro, o primeiro apóstolo (não na cronologia de Jo; cf. 1,40-42). Apesar de seu fracasso na paixão (três vezes negou), sua primazia foi instituída pelo próprio Jesus e reafirmada três vezes pelo ressuscitado (Jo 21,15-17). Daí se conclui que todos os trechos sobre o discípulo amado pertencem à última fase da redação do evangelho, chamada eclesial (ou eclesiástica), que inseriu também os cap. 10; 15-17 e 21.
(Traduzido pelo Tradutor Google sem a nossa correção. Veja o original logo após a tradução)
Domingo de Páscoa
Evangelho: Jo 20, 1-9
Este primeiro relato da ressurreição que o quarto evangelho traz é um claro convite à fé. O texto centra-se em apresentar-nos um túmulo vazio e a fé do discípulo que Jesus amava. Mas esta sobriedade não deixa de apresentar elementos muito significativos para sugerir ao leitor que o que se relata é um acontecimento ocorrido no primeiro dia da semana e do qual participaram três discípulos muito significativos para Jesus e para a comunidade cristã primitiva: Maria Madalena, a discípula amada e Pedro.
Recordemos que Maria Madalena e o discípulo que Jesus amava estavam aos pés da cruz (cf. Jo 19, 25-26), enquanto Pedro receberá de Jesus ressuscitado a missão de apascentar o rebanho (cf. Jo 21, 15-17). O discípulo amado é mencionado pela última vez no diálogo entre Jesus e Pedro (cf. Jo 20, 21). Este discípulo amado é o paradigma do discípulo: aquele que permanece fiel até o regresso do Senhor e aquele que dá testemunho de tudo o que aconteceu sobre a Palavra da vida (cf. Jo 21, 23-24; 1Jo 1, 1).
Este evangelho também nos apresenta claramente a distinção entre o ver e o acreditar como atitudes em relação à realidade do túmulo vazio.
Vamos começar com Maria Madalena quem é que vai primeiro, bem cedo pela manhã, ao túmulo, e vê que a pedra havia sido removida e que o túmulo estava vazio. O verbo grego é usado aqui blepein, que tem o significado material de ver. Em sua perplexidade ele interpreta esse fato como um roubo e esta é a sua “propaganda” para os discípulos: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2).
Siga o discípulo amado, que vai ao túmulo com Pedro e é o primeiro a chegar, olhou e vê as ataduras de linho no chão. O verbo grego também é usado aqui blepein com seu senso de visão material.
Pedro chega mais tarde e vê as ataduras de linho, como o discípulo amado, mas também descobre que o sudário está enrolado separadamente. Isso indica que foi uma ação deliberada de alguém, o que chama a atenção de Pedro porque quando um cadáver é roubado essa indicação não fica. E precisamente este “sinal” permite “ver" para Pedro que aí algo estranho aconteceu. O verbo grego que é usado aqui tem o sentido da visão material porém mais abrangente, com possibilidade de ir além do que se vê.
No final entra no túmulo o discípulo amado, Que viu e acreditou. Aqui o verbo usado implica ver a realidade como sinal de algo mais profundo, transcendente. Por isso é seguido pelo ato de fé, pelo crer expresso com o verbo blepo que por estar em aoristo alguns pensam que indica um ato inicial de fé e propõem traduzir: “ele começou a acreditar”. A este respeito, G. Zevini diz1: “Vai além do verbo horao (percepção física) usado no presente no v. 1.5, ao verbo theoreo (observe com atenção), usado no presente no v. 6, para chegar ao aoristo um dia de horao (perceber profundamente) no v. 8, que no mesmo versículo está intimamente relacionado com pisteúo (acredite) cujo aoristo episteusas Tem um valor inicial, enquanto o seu uso no perfeito tem o valor da fé plena [...] o discípulo, neste primeiro momento do seu caminho pascal de fé, tem consciência de que está aqui diante de um mistério da ação de Deus; mas ainda não compreendem nem sabem que o Senhor ressuscitou […] Ainda não estavam preparados para a revelação plena do mistério pascal; Ainda não tinham a capacidade de compreender com os meios extraordinários das Escrituras os sinais da presença do Senhor”.
O final da história confirma essa ideia: “Porque ainda não tinham entendido o que diz a Escritura, que era necessário que Jesus ressuscitasse dentre os mortos”(20,9). Esta afirmação nos revela o que “inédito” da ressurreição de Jesus, também para os seus discípulos, aos quais ele a anunciara no caminho para Jerusalém. Eles também não entenderam “Eles se perguntaram o que significa “ressuscitar dos mortos”" (Mc 9,10). Além disso, o verbo grego desonesto e o substantivo ressurreição Eles ainda não tinham a noção precisa de “ressuscitar” e “Ressurreição” que a Tradição Cristã lhe deu porque também podem ser traduzidos em outro contexto como “levante-se” o “acordar”.
Para cartão. Martini, esta história quer nos apresentar à Igreja que vai em busca dos sinais do Ressuscitado para acreditar Nele. Com efeito: "a fé, como João nos descreve, não atinge o seu objetivo senão através de testemunhos ou sinais; Cumpre, portanto, na sua estrutura essencial, duas condições: a capacidade de interpretar corretamente os sinais enquanto tais, e a capacidade de ir além dos sinais."2.
Pois bem, nesta história vemos como a busca de sinais para acreditar no Ressuscitado é diversa segundo temperamentos ou mentalidades: por um lado está o carinho de Maria Madalena; de outro, a intuição do discípulo amado e, por fim, a enorme lentidão de Pedro. Mas todos, se estão verdadeiramente na Igreja, têm em comum a saudade da presença de Jesus e todos se ajudam a procurar juntos os sinais desta presença e a comunicá-los a Ele. HU de Balthasar3, seguindo alguns Padres da Igreja, apresenta Pedro como o representante do “ministério eclesial” e o discípulo amado do “amor eclesial”. Ele amor eclesial corra mais rápido e chegue primeiro, mas deixe que ele seja o ministério eclesial quem decide a situação.
Em síntese, O leitor deste primeiro relato da ressurreição é convidado a fazer uma percorrer as diferentes formas do verbo “ver”, que são ligados a visões de sucessiva profundidade sobre a realidade do túmulo vazio, até que cheguem a assumir a própria visão do discípulo amado que vi e acreditei no Jesus ressuscitado.
Meditação de Páscoa:
O evangelho nos diz que a ressurreição do Senhor aconteceu “pública” o primeiro dia da semana ao amanhecer, começando naquele dia. Com estas indicações temporais nos é dito algo muito profundo sobre a Páscoa: é o início de uma semana e é o início de um dia. É um novo começo, algo novo, totalmente novo, começa: uma semana, um dia, uma vida…
Podemos acrescentar, como fez o Padre da Igreja de São Zenão de Verona, que no hemisfério norte a festa da Páscoa ocorre no início da primavera, estação em que o calor e a vida ressurgem depois do frio e da secura do inverno.
Por isso, tudo na Páscoa fala-nos de Vida nova, faz-nos olhar a vida com novidade e com alegre esperança. A Páscoa de Cristo foi a sua passagem para a vida de Deus, sempre nova e eterna. O Catecismo da Igreja Católica assim o define: “A Ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena como no caso das ressurreições que Ele realizou antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim, Lázaro. Esses eventos foram milagrosos, mas as pessoas afetadas pelo milagre tiveram mais uma vez, através do poder de Jesus, uma vida terrena “comum”. Em algum momento, eles morrerão novamente. A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. Em seu corpo ressuscitado, ele passa do estado de morte para outra vida além do tempo e do espaço. Na Ressurreição, o corpo de Jesus está repleto da força do Espírito Santo; Ele participa da vida divina no estado de sua glória, tanto que São Paulo pode dizer de Cristo que ele é “o homem celeste”." (n. 646).
Jesus sempre fez tudo por nós e por nós, ele viveu, morreu e ressuscitou por nós e por nós. Portanto, a Páscoa de Jesus é também para nós um novo começo porque com ela ele nos libertou do pecado e da morte e nos abre ao dom de uma vida nova como diz São Paulo: “Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela ação gloriosa do Pai, também nós possamos levar uma vida nova” (Rm 6,4).
E esta vida nova que surgiu da Páscoa de Jesus, e que recebemos no nosso batismo, não tem fim, não termina, mas continuará na Vida Eterna. Bem podemos dizer que Jesus ressuscitado nos abriu a porta da nossa Esperança. O Papa Francisco disse em Rainha do Céu a partir de 1º de abril de 2024: “A ressurreição de Jesus não é apenas uma notícia maravilhosa ou o final feliz de uma história, mas algo que muda nossas vidas e as muda completamente e para sempre. É a vitória da vida sobre a morte, esta é a Ressurreição de Jesus. É a vitória da esperança sobre o desânimo. Jesus passou pelas trevas do túmulo e vive para sempre: a sua presença pode encher tudo de luz. Com Ele cada dia se torna palco de uma viagem eterna, cada “hoje” pode esperar um “amanhã”, cada fim um novo começo, cada momento é projetado além dos limites do tempo, rumo à eternidade. ”
Tudo isso é um forte convite para abençoar e glorificar a Deus por sua obra em nosso favor, como faz o autor da primeira carta de Pedro: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos deu à luz novamente uma esperança viva, através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1,3).
Assim, como afirma o Padre Cantalamessa4 Páscoa e esperança são duas palavras feitas uma para a outra, uma está contida na outra. Todos os eventos anteriores à Ressurreição de Jesus – sua paixão, sua morte, seu enterro – Conduzem-nos a uma esperança frustrada que nos leva a regressar com um rosto triste, como se vê claramente nos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,21). E então, quando tudo parece perdido e não há mais esperança para olhar e seguir em frente, o Pai nos surpreende ressuscitando seu Filho Jesus. E isso acontece em nossas vidas, como disse o Papa Francisco: “Irmãos e irmãs, nossa esperança se chama Jesus. Ele entrou no túmulo dos nossos pecados, chegou ao lugar mais profundo em que nos havíamos perdido, explorou os emaranhados dos nossos medos, carregou o peso das nossas opressões e, dos abismos mais sombrios da nossa morte, despertou-nos para a vida e transformou o nosso luto em dança. Vamos celebrar a Páscoa com Cristo! Ele está vivo e também hoje passa, transforma, liberta. Com Ele o mal não tem mais poder, o fracasso não pode nos impedir de recomeçar, a morte torna-se um passo para o início de uma nova vida. Porque com Jesus, o Ressuscitado, nenhuma noite é infinita; E, mesmo na escuridão mais profunda, nessa escuridão brilha a estrela da manhã” (homilia de 16 de abril de 2022).
Em síntese, Somos convidados a fazer o caminho desde a visão do túmulo vazio até à fé na ressurreição do Senhor. Porque a ressurreição do Senhor é um mistério que deve ser acreditado, que deve ser contemplado. Precisamos de uma fé no amor, como a de Maria Madalena – aquele que estava de madrugada ao lado do túmulo – descobrir esta nova Presença do Senhor Ressuscitado no meio de nós, na nossa vida. Não podemos mais procurar Jesus entre os mortos porque Ele está vivo, ele ressuscitou.
Aqueles de nós que O encontraram em algum momento da vida têm a certeza de que Ele está vivo, que caminha ao nosso lado e que de várias maneiras procura comunicar-se conosco. É algo muito estranho o que acontece conosco com a fé em Cristo Ressuscitado. Olhando de fora parece uma loucura. Vivê-lo desde dentro é algo maravilhoso, é uma certeza que não conseguimos explicar plenamente, mas que enche o coração de alegria, a inteligência de luz e a força de vontade de força.
O Jesus ressuscitado traz-nos a alegria que supera o medo da morte. É um dia de vitória, de triunfo do nosso Deus, e nosso também. É por isso que é um dia de alegria e esperança:
«Ele realmente ressuscitou meu amor e minha esperança!» (Sequência de Páscoa).
A Virgem Maria, que na Páscoa se alegrou com o seu Filho ressuscitado, nos ajude a ser suas alegres testemunhas.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Acenda a esperança
Embora você não estivesse na sepultura, Senhor
Eu sei que você viu todo mundo
Para Maria, as mulheres
Pedro e João, em quem eles acreditaram?
A mortalha enrolada,
As bandagens no chão
A evidência não foi suficiente
Cristo na cruz havia morrido
Eu imagino você sorrindo
Para o difícil entendimento,
Experiência é necessária
Mesmo que isso traga sofrimento.
Horas se passaram
Dúvidas e medos aumentavam
Onde foi que levaram o corpo...
Seria verdade que ele havia retornado?
E então você vem tantas vezes
Ressuscitado no Sacramento
Contudo o coração
preciso estar acordado
A paixão do próprio Deus
Passado diante de olhos atentos
Acenda sua esperança irmão
O Cristo vivo vem ao nosso encontro. Amém
1 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 479.
sustantivo ἀνάστασις no tenían aún el sentido preciso de “resucitar” y “resurrección” que le dio la Tradición cristiana porque pueden traducirse también en otro contexto como “volver a levantarse” o “despertarse”.
2 C. M. Martini, El Evangelio de San Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 92.
3 Luz de la Palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 59.
4 Cf. La Parola e la Vita. Anno C (Città Nuova; Roma 1993) 126-131.
Domingo de Pascua de Resurrección
Evangelio: Jn 20, 1-9
Este primer relato de la resurrección que trae el cuarto evangelio es una clara invitación a la fe. El texto se concentra en presentarnos un sepulcro vacío y la fe del discípulo que Jesús amaba. Pero esta sobriedad no deja de presentar elementos muy significativos para sugerir al lector que lo relatado es un acontecimiento que ha tenido lugar en el primer día de la semana y del cual han participado tres discípulos muy significativos para Jesús y para la primitiva comunidad cristiana: María Magdalena, el discípulo amado y Pedro.
Recordemos que María Magdalena y el discípulo que Jesús amaba estuvieron al pie de la cruz (cfr. Jn 19, 25-26) mientras que Pedro recibirá de Jesús resucitado la misión de apacentar el rebaño (cfr. Jn 21, 15-17). El discípulo amado es mencionado por última vez en el diálogo entre Jesús y Pedro (cfr. Jn 20, 21). Este discípulo amado es el paradigma del discípulo: el que permanece fiel hasta que el Señor vuelva y el que da testimonio de todo lo acontecido acerca de la Palabra de la vida (cfr. Jn 21, 23-24; 1Jn 1, 1).
También este evangelio nos presenta claramente la distinción entre el ver y el creer como actitudes ante la realidad del sepulcro vacío.
Comencemos con María Magdalena que es la enamorada que va primero, muy de madrugada, al sepulcro, y vio que la piedra había sido sacada y que el sepulcro estaba vacío. Se utiliza aquí el verbo griego blepein que tiene el sentido material del ver. En su desconcierto interpreta este hecho como un robo y tal es su “anuncio” a los discípulos: “se han llevado del sepulcro al Señor y no sabemos dónde lo han puesto” (Jn 20,2).
Sigue el discípulo amado, quien va al sepulcro con Pedro y es el primero en llegar, se asomó y vio las vendas de lino en el suelo. Aquí también se utiliza el verbo griego blepein con su sentido de visión material.
Pedro llega después y ve las vendas de lino, al igual que el discípulo amado, pero descubre también que el sudario está enrollado aparte. Esto indica que se trató de una acción deliberada por parte de alguien, lo que llama la atención de Pedro pues cuando se roba un cadáver no se deja este indicio. Y Justamente este "signo" le permite “ver” a Pedro que allí sucedió algo extraño. Se utiliza aquí el verbo griego theōrein que tiene el sentido de visión material pero más abarcativa, con la posibilidad de ir más allá de lo que se está viendo.
Al final entra al sepulcro el discípulo amado, quien vio y creyó. Aquí se utiliza el verbo eiden que implica un ver la realidad como signo de algo más profundo, trascendente. Por eso va seguido del acto de fe, del creer expresado con el verbo pisteuein, que por estar en aoristo algunos piensan que indica un acto inicial de fe y proponen traducir: “comenzó a creer”. Al respecto dice G. Zevini1: “Se pasa del verbo blépo (percepción física) usado en presente en los v. 1.5, al verbo theoréo (observar atentamente), usado en presente en el v. 6, para llegar al aoristo eíden de horáo (percibir hondamente) en el v. 8, que en el mismo versículo guarda una estrecha relación con pisteúo (creer) cuyo aoristo epísteussen tiene un valor de comienzo, mientras que su uso en perfecto tiene valor de fe plena […] el discípulo, en este primer momento de su camino de fe pascual, es consciente de que se encuentra aquí ante un misterio de la acción de Dios; pero no comprende ni sabe todavía que el Señor ha resucitado […] No estaban preparados todavía para la revelación plena del misterio pascual; no tenían aun la capacidad de comprender con el medio extraordinario de las Escrituras los signos de la presencia del Señor”.
El final del relato confirma esta idea: “Porque todavía no habían entendido lo que dice la Escritura, que Jesús debía resucitar de entre los muertos” (20,9). Esta afirmación nos revela lo “inaudito” de la resurrección de Jesús, incluso para sus discípulos a quienes se los había anunciado durante el camino a Jerusalén. Tampoco entonces entendían pues “se preguntaban qué significará "resucitar de entre los muertos" (Mc 9,10). Además, verbo griego ἀνίστημι y el
1 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 479.
sustantivo ἀνάστασις no tenían aún el sentido preciso de “resucitar” y “resurrección” que le dio la Tradición cristiana porque pueden traducirse también en otro contexto como “volver a levantarse” o “despertarse”.
Para el Card. Martini este relato quiere presentarnos a la Iglesia que va en búsqueda de los signos del Resucitado para creer en Él. En efecto: "la fe, tal como Juan nos la describe, no logra su objetivo sino por medio de testimonio o de signos; por eso, ella realiza, en su estructura esencial, dos condiciones: capacidad de interpretar correctamente los signos como tales, y capacidad de ir más allá de los signos"2.
Pues bien, en este relato vemos cómo la búsqueda de los signos para creer en el Resucitado es diversa según los temperamentos o mentalidades: por un lado está el afecto de María Magdalena; por otro la intuición del discípulo amado y, por último, la maciza lentitud de Pedro. Pero todos, si están verdaderamente en la Iglesia, tienen en común el anhelo de la presencia de Jesús y todos se ayudan recíprocamente para buscar juntos los signos de esta presencia y comunicárselos. H. U. von Balthasar3, siguiendo a algunos padres de la Iglesia, presenta a Pedro como representante del "ministerio eclesial" y al discípulo amado del "amor eclesial". El amor eclesial corre más rápido y llega primero, pero deja que sea el ministerio eclesial quien dictamine sobre la situación.
En síntesis, el lector de este primer relato de la resurrección está invitado a hacer un recorrido a través de las distintas formas del verbo “ver”, que se vinculan con miradas de sucesiva profundidad sobre la realidad del sepulcro vacío, hasta llegar a asumir la mirada propia del discípulo amado quien vio y creyó en Jesús resucitado.
Meditación pascual:
Nos dice el evangelio que la resurrección del Señor se hizo “pública” el primer día de la semana cuando estaba amaneciendo, comenzando ese día. Con estas indicaciones temporales se nos está diciendo algo muy profundo sobre la Pascua: es el comienzo de una semana y es el comienzo de un día. Es un nuevo comienzo, algo nuevo, por estrenar, comienza: una semana, un día, una vida…
Podemos sumarle, como hizo el Padre de la Iglesia San Zenón de Verona, que en el hemisferio norte la fiesta de Pascua sucede al inicio de la primavera, la estación en la cual resurge el calor y la vida después del frío y la seca del invierno.
Por tanto, todo en Pascua nos habla de Vida nueva, nos hace mirar la vida con novedad y con alegre esperanza. La Pascua de Cristo fue su paso a la vida de Dios, lo siempre nuevo y eterno. El Catecismo de la Iglesia Católica la define así: “La Resurrección de Cristo no fue un retorno a la vida terrena como en el caso de las resurrecciones que él había realizado antes de Pascua: la hija de Jairo, el joven de Naim, Lázaro. Estos hechos eran acontecimientos milagrosos, pero las personas afectadas por el milagro volvían a tener, por el poder de Jesús, una vida terrena "ordinaria". En cierto momento, volverán a morir. La resurrección de Cristo es esencialmente diferente. En su cuerpo resucitado, pasa del estado de muerte a otra vida más allá del tiempo y del espacio. En la Resurrección, el cuerpo de Jesús se llena del poder del Espíritu Santo; participa de la vida divina en el estado de su gloria, tanto que San Pablo puede decir de Cristo que es "el hombre celestial" (n. 646).
Jesús hizo todo siempre por nosotros y para nosotros, vivió, murió y resucitó por nosotros y para nosotros. Por tanto la Pascua de Jesús es también un nuevo comienzo para nosotros porque con ella nos ha liberado del pecado y de la muerte y nos abre al don de una vida nueva como dice San Pablo: “Por el bautismo fuimos sepultados con él en la muerte, para que así como Cristo resucitó de la muerte por la acción gloriosa del Padre, también nosotros llevemos una vida nueva” (Rm 6,4).
2 C. M. Martini, El Evangelio de San Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 92. 3 Luz de la Palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 59.
Y esta vida nueva que surgió de la Pascua de Jesús, y que la hemos recibido en nuestro bautismo, no tiene fin, no termina, sino que se prolongará en la Vida Eterna. Bien podemos decir que Jesús resucitado ha abierto para nosotros la puerta de nuestra Esperanza. Decía el Papa Francisco en el Regina Coeli del 1° de abril de 2024: “la resurrección de Jesús no es sólo una noticia maravillosa o el final feliz de una historia, sino algo que cambia nuestras vidas y la cambia por completo y para siempre. Es la victoria de la vida sobre la muerte, esta es la Resurrección de Jesús. Es la victoria de la esperanza sobre el desaliento. Jesús ha atravesado la oscuridad de la tumba y vive para siempre: su presencia puede llenarlo todo de luz. Con Él cada día se convierte en la etapa de un viaje eterno, cada "hoy" puede esperar un "mañana", cada final un nuevo comienzo, cada instante se proyecta más allá de los límites del tiempo, hacia la eternidad. ”
Todo esto es una fuerte invitación a bendecir y glorificar a Dios por su obra en favor nuestro, como hace el autor de la primera carta de Pedro: “Bendito sea el Dios y Padre de nuestro Señor Jesucristo, quien según su gran misericordia, nos ha hecho nacer de nuevo a una esperanza viva, mediante la resurrección de Jesucristo de entre los muertos” (1Pe 1,3).
Entonces, como afirma el P. Cantalamessa4, Pascua y esperanza son dos palabras hechas la una para la otra, la una está contenida en la otra. Todos los acontecimientos previos a la Resurrección de Jesús – su pasión, su muerte, su sepultura – nos llevan a una esperanza frustrada que nos mueve a regresar con el rostro triste como bien se nota en los discípulos Emaús (cf. Lc 24,21). Y entonces, cuanto todo parece perdido y no hay más esperanza para mirar y seguir adelante, el Padre nos sorprende resucitando a su Hijo Jesús. Y esto pasa en nuestras vida, como dijo el Papa Francisco: “Hermanos y hermanas, nuestra esperanza se llama Jesús. Él entró en el sepulcro de nuestros pecados, llegó hasta el lugar más profundo en el que nos habíamos perdido, recorrió los enredos de nuestros miedos, cargó con el peso de nuestras opresiones y, desde los abismos más oscuros de nuestra muerte, nos despertó a la vida y transformó nuestro luto en danza. ¡Celebremos la Pascua con Cristo! Él está vivo y también hoy pasa, transforma, libera. Con Él el mal no tiene más poder, el fracaso no puede impedir que empecemos de nuevo, la muerte se convierte en un paso para el inicio de una nueva vida. Porque con Jesús, el Resucitado, ninguna noche es infinita; y, aun en la oscuridad más densa, en esa oscuridad brilla la estrella de la mañana” (homilía del 16 de abril de 2022).
En síntesis, somos invitados a hacer el recorrido del ver la tumba vacía a la fe en la resurrección del Señor. Porque la resurrección del Señor es un misterio que hay que creer, que hay que contemplar. Necesitamos una fe enamorada, como la de María Magdalena – la que estaba al alba junto a la tumba – para descubrir esta nueva Presencia del Señor Resucitado en medio nuestro, en nuestra vida. No podemos ya buscar a Jesús entre los muertos pues está vivo, ha resucitado.
Quienes nos hemos encontramos con Él en alguna vuelta de la vida tenemos la certeza de que está vivo, que camina junto a nosotros y que de diversas maneras busca comunicarse con nosotros. Es algo muy extraño lo que nos pasa con la fe en Cristo Resucitado. Mirada desde afuera parece una locura. Vivida desde adentro es algo maravilloso, es una certeza que no podemos explicar del todo, pero que llena de alegría el corazón, de luz la inteligencia y de fuerza la voluntad.
Jesús resucitado nos trae la alegría que vence el temor a la muerte. Es día de victoria, del triunfo de nuestro Dios, y nuestro también. Por eso es día de alegría y de esperanza:
«¡Resucitó de veras mi amor y mi esperanza!» (Secuencia pascual).
La Virgen María, que en Pascua se alegró de su Hijo resucitado, nos ayude a ser sus testigos gozosos.
4 Cf. La Parola e la Vita. Anno C (Città Nuova; Roma 1993) 126-131.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Enciende la esperanza
Aunque no estabas en la tumba, Señor
Se que a todos los veías
A María, las mujeres
Pedro y Juan, ¿quiénes creían?
El sudario enrollado,
Las vendas en el suelo
La evidencia no alcanzaba
Cristo en la cruz había muerto
Te imagino sonriendo
Por el duro entendimiento,
La experiencia es necesaria
Aunque traiga sufrimiento.
Fueron pasando las horas
Las dudas y los temores iban en aumento
Dónde estaba, se llevaron el cuerpo…
¿Sería verdad que había vuelto?
Y así vienes tantas veces
Resucitado en el Sacramento
Sin embargo el corazón
Necesita estar despierto
La Pasión del mismo Dios
Pasó ante los ojos atentos
Enciende hermano tu esperanza
Cristo vivo nos sale al encuentro. Amén