04/06/2023
“UNIÃO COM CRISTO E O PAI NO ESPÍRITO”
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Êxodo 34,4b-6.8-9
Salmo Responsorial: Daniel 3, 52-56-R- A vós louvor, honra e glória eternamente!
Segunda Leitura:-2 Coríntios 13,11-13
Evangelho: João 3,16-18
16Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.18Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Palavra da Salvação.
Jo 3,16-18
Normalmente a liturgia nos remete a um evento histórico da salvação. Ela nos coloca, por exemplo, diante do evento da encarnação, do nascimento, do sofrimento, da morte e ressurreição de Jesus. E não podia ser diferente: é Deus que vem ao nosso encontro para nos salvar e isso implica vir para a nossa história e nosso tempo.
Hoje a liturgia não nos remete a um acontecimento histórico, mas ao próprio mistério de Deus. Trata-se do mistério cristão por excelência, o mistério do qual nasceu toda a história da salvação e tem origem todos os eventos salvadores. É o mistério pelo qual o cristianismo se distingue em seu vértice de todas as outras tradições religiosas. O mistério de Deus: um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
A Trindade é um mistério para nós. Este “para nós” deve ser entendido no sentido de que somos os destinatários da revelação do Mistério mais íntimo de Deus: Deus quis em sua bondade e condescendência revelar realmente a si mesmo.
O mistério da Trindade revelado “para nós” é o mistério da condescendência de Deus: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito... Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. A revelação da Trindade coincide com a ação da infinita bondade do Pai em nos enviar o Filho e o Espírito Santo para a nossa salvação.
O filósofo Platão exprimiu como o mundo antigo via a relação de Deus com o ser humano: “nenhum deus pode se misturar com o homem”. A revelação da Trindade representa uma revolução e um evento totalmente inesperado: Deus quis “misturar” a sua vida com a nossa, e Ele o faz nos enviando o Filho e o Espírito Santo.
A vida dos cristãos está agora indissoluvelmente ligada ao Pai, o Filho e ao Espírito Santo. Todos nós estamos ligados a pessoas que nos são familiares: os pais, os filhos, os irmãos e o cônjuge. Nossa existência está tão ligada a estas pessoas que nos sentimos parte deles e eles como parte de nós. Quando falta algum deles ou alguém desses nós é tirado, temos a sensação de perder uma parte de nós mesmos. Parece que não somos mais os mesmos se algum desses familiares se ausentar.
Nenhuma pessoa, porém, por mais familiar que nos seja, está tão radicada em nós do que o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As três pessoas divinas lançaram suas raízes profundamente em nossa existência no dia de nosso batismo. Eles estabeleceram em nós a sua morada e nos são mais íntimos a nós do que nós mesmos; estão mais presentes em nós do que nós em nós mesmos (Santo Agostinho).
Crer no Pai, no Filho e no Espírito Santo não é aceitar uma ideia de Deus. É aceitar e viver conscientemente a felicidade dessa relação radical, dessa presença no coração, dessa intimidade e presença da Trindade em nós. O dogma da Trindade não é uma teoria! É a presença da realidade de Deus em nós. Santa Isabel da Trindade testemunhou: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã sem essa fé, sem essa habitação interior, sem essa divina presença, é uma vida cansativa, sobretudo porque vive fora do ambiente do amor.
Essa é a “Trindade da fé”: presença, inabitação, intimidade, interioridade.
Devemos cair na conta da “Trindade da esperança”. A Trindade nos espera: está em nós para que estejamos nela por toda a eternidade; habita em nós como num templo para que possamos habitar nela como nossa morada definitiva. Atravessamos o vale de lágrimas acompanhados pela divina presença da Trindade para chegar à vida eterna “quando será enxugada toda lágrima”. Caminhamos na obscuridade da fé, às apalpadelas, guiados pela Trindade que nós veremos “face a face”. No nosso caminho o coração se aquece quando o divino peregrino nos explica as Escrituras, até que os nossos olhos se abram e a Luz, que é Deus, iluminar toda a história e todo universo.
Caminhamos em direção do Pai, do Filho e do Espírito, atraídos pela força gravitacional do amor. Na verdade, tudo é atraído para a Trindade: a humanidade, a história e o cosmos.
“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.
“Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único...” (Jo 3,16)
Ao longo do percurso litúrgico, a Igreja quis, em sua sabedoria, reservar um dia especial para que dedicássemos a glorificar a Trindade Santa. E que, nesse dia nos voltássemos a ela, não a partir de nossas misérias, necessidades e petições, mas que dirigíssemos para esse Mistério o olhar de nossa admiração, gratuita e livremente, a fim de contemplar os segredos de sua beleza, bondade, amor..., assim como o fazemos, por exemplo, ao contemplar a vastidão dos céus ou o jogo de cores e luzes de um pôr-do-sol.
A revelação da Trindade nunca poderá ser apreendida ou controlada por nós, pelo nosso rigor verbal nas formulações dogmáticas sobre Deus e seu ser. A Trindade não é uma simples doutrina a ser acolhida, ou uma verdade a ser pensada, mas uma Presença a ser vivida, com espanto e admiração. É encantador contemplá-la, dobrando-nos em reverência, deixando-nos impactar por tão grande e tão profundo mistério, tão belo e inefável dom que a teologia tentou expressar em palavras, mas sentiu-se impotente.
Trata-se de uma experiência contemplativa silenciosa, que ativa em nós uma sensibilidade intensa, capaz de nos despertar para entrar em sintonia com fluxo trinitário que atravessa toda a realidade, nos envolve e faz de nosso coração sua morada.
Se conseguirmos viver isso, com delicadeza, humildade e esvaziamento de nós mesmos, poderemos, então, perceber, que a Trindade de Deus não é uma experiência reservada apenas a uns poucos e privilegiados místicos, nem tampouco um complexo dogma teológico que só os especialistas, através de suas especulações racionais, conseguem se aproximar.
Afirma-se que o dogma da Trindade é o mais importante de nossa fé católica, pois estamos diante do maior Mistério que os olhos não viram, os ouvidos não escutaram, nem a mente conseguiu compreender... Nada do que podemos definir, pensar ou dizer sobre a Trindade é adequado a seu Ser mais íntimo.
O mais urgente neste momento para o cristianismo, não é explicar melhor o dogma da Trindade, e menos ainda, uma nova doutrina sobre Deus Trino. Seria, em definitiva, a busca de um encontro vivo com Deus, a perfeita comunidade. Não se trata de demonstrar a existência da luz, mas de abrir os olhos para ver.
Tudo o que “sabemos” da Trindade pode ser um estorvo para viver sua presença vivificadora em nós. Calar sobre Deus, é sempre mais exato que falar. Dizem os orientais: “Se tua palavra não é melhor que o silêncio, cala-te”. O decisivo é viver o Mistério da Trindade a partir da adoração e da partilha fraterna.
Grandes teólogos fizeram profundos estudos sobre a Trindade, tratando de pensar conceitualmente o mis-tério de Deus. No entanto, eles mesmos dizem que, para “saber” de Deus, o importante não é “refletir” muito, mas “saber” algo do Amor.
O dogma da Trindade, portanto, nos liberta do “Deus poder” e nos lança nos braços do Deus Amor.
O mistério de Deus Uno e Trino é fruto da experiência de revelação progressiva na história da Salvação, culminando na revelação que Jesus nos fez. “Deus é UM, mas não está jamais só”. Deus não é um ser isolado, distante da Criação, solitário. É um Deus comunitário, família, sociedade, fraternidade, etc... Por isso, o auge de toda a revelação bíblica é esta: “Deus é Amor”, ou seja, Deus não é uma realidade fria e impessoal, um ser triste, solitário e narcisista. Não podemos imaginá-lo como poder impenetrável, fechado em si mesmo. Em seu ser mais íntimo, Deus é amor, vida compartilhada, amizade prazerosa, diálogo, entrega mútua, abraço, comunhão de pessoas. O amor trinitário de Deus é amor que se expande e se faz presente em todas as criaturas. E o Amor nunca é solidão, isolamento, mas comunhão, proximidade, diálogo, aliança...
O Deus revelado por Jesus é Amor e aproximar-nos do Deus Amor é descobrir a Trindade.
Em Deus o Amor não é uma qualidade como em nós, mas sua essência. Se Deus deixasse de amar um só instante, deixaria de ser Deus. O movimento que parte do Pai, passa pelo Filho e se consuma no Espírito é um movimento de Amor sem fim. Amor expansivo que envolve o mundo todo, segundo o relato do evangelho deste domingo.
Nesse sentido, “saborear o mistério da Trindade” nos sensibiliza e nos capacita para nos aproximar do nosso mundo, com uma visão mais contemplativa. O “subir” até Deus passa pelo “descer” até às profundezas da humanidade.
Como “contemplativos na ação”, movidos por um olhar novo, entramos em comunhão com a realidade tal como ela é. É olhar o mundo como “sacramento de Deus”; um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que estão surgindo; um olhar afetivo, marcado pela ternura, pela compaixão e gerador de misericórdia; um olhar gratuito e desinteressado, “janela da alma”, que nos expande numa atitude acolhedora de tudo que nos rodeia; um olhar que rompe distancias e alimenta encontros instigantes.
Precisamos retornar às palavras de Jesus, que ora ao Pai por seus discípulos:
“Não te peço que os tires do mundo, mas que os defendas do maligno” (Jo. 17,15).
Ser cristão é ser presença diferenciada e inspiradora no mundo. O mundo da globalização é a realidade que agora nos cabe transformar. O Evangelho não nos ensina doutrinas, mas um modo original de estar no mundo, à maneira de Jesus. Nossa vida deve ser um espelho que, em todo momento, deixa transparecer o mistério da Trindade.
Somos desafiados a “viver uma vida no mundo e no coração da humanidade” (P. Kolvenbach).
Se o ser humano é o caminho para Deus, o ponto de encontro do ser humano com Deus está no mundo. Este princípio cristão significa que o encontro do ser humano com Deus se dá no campo da cultura, das relações, do diálogo inter-religioso... enfim, uma espiritualidade enraizada na realidade do mundo. Um mundo configurado pela ciência e pela tecnologia: este é o cenário em que o cristão está chamado a encontrar-se com Deus, re-criando um novo tipo de humanismo de acordo com o nosso tempo.
Num mundo em que a competência se degenera em competitividade sem limites, em que o individualismo
e a falta de solidariedade criam novas fronteiras e exclusões, em que a cultura da indiferença, do preconceito e da suspeita é fonte das mais variadas formas de violência..., é preciso recuperar o discurso e a prática do “ser-para-os-outros”, o saber e a autoridade como serviço, solidariedade, compaixão, partilha, perdão, gratuidade, compromisso, dom de si mesmo, amor...
O surpreendente é que nós fomos criados à imagem do Deus Trindade; todos carregamos em nosso interior a “faísca amorosa” da Trindade Santa. É fácil perceber isso: sempre que sentimos necessidade de amar e ser amados, sempre que sabemos acolher e buscamos ser acolhidos, quando desfrutamos compartilhando uma amizade que nos faz crescer, quando sabemos doar e receber vida, estamos saboreando o “amor trinitário” de Deus. Esse amor que brota em nós provém d’Ele.
Nesse sentido, o melhor caminho para nos aproximar do mistério do Deus Trindade não são os tratados teológicos que falam dele, mas as experiências amorosas que compartilhamos na vida. Só encontramos o Deus Trino com o coração. “Só corações solidários adoram um Deus Trinitário”.
Texto bíblico: Jo 3,16-18
Na oração: Quando nos abrimos à comunhão com a Trindade, Ela entra em comunhão conosco na forma sutil de um perfume. Não força, não invade, mas cria um ambiente agradável, perfumado, que nos eleva e nos suscita alegria interior. Tal como o perfume, a Trindade derrama sua Graça sobre toda a Criação e a humanidade inteira. Quê há de mais suave, reconfortante e realizador do que sentir a Trindade a partir do coração?
- A oração é o momento privilegiado para abrir-se ao dinamismo do amor trinitário; deixe-se empapar por esta presença perfumada.
Continuamos com as grandes festas da nossa fé. Neste domingo celebra-se a Festa da Santíssima Trindade, que nos lembra dum aspecto essencial da nossa vida cristã. A liturgia de hoje contribui para que aprofundemos na presença do Espírito Santo na comunidade, que nos revela o Amor de Deus Pai e Mãe na pessoa de Jesus.
O trecho do evangelho situa-se no cenário do encontro entre Jesus e Nicodemos, que “foi encontrar-se com Jesus à noite”. Diz-se que os rabinos estudavam até a noite e o evangelho nos traz assim esta busca de Jesus como fonte de conhecimento. Nicodemos era “um judeu importante” que conhecia os sinais que Jesus realizava e por isso vai até ele.
Sua presença diante de Jesus à noite sinala também seu medo diante dos seus, como também expressa uma possível pergunta que havia sido feita por alguns fariseus sobre a origem de Jesus: será ele o profeta enviado por Deus para acelerar a chegada do reino de Deus mediante o cumprimento da Lei? Mas Jesus fala da necessidade de nascer de novo, é fundamentalmente nascer do alto! Apesar de ser mestre de Israel, Nicodemos não compreende as palavras de Jesus e sua mensagem!
“Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” Assim começa a narrativa sobre a qual meditamos hoje. Para acolher as palavras de Jesus é preciso abrir-se e receber o amor de Deus na pessoa de Jesus. Esse é o Pai que Jesus vai nos revelar. No amor de Deus não há limites, só é preciso acolher a pessoa de Jesus que faz nascer em nós a vida eterna.
O amor de Deus é um amor que só pode ser compreendido se é experimentado. É uma experiência da sua presença na nossa vida e na vida das comunidades que nos conduz a redescobrir sua presença de amor no meio de nós. Ele está presente, mas muitas vezes nossas atitudes impedem que possamos reconhecê-lo e, assim, acolhê-lo para que faça morada em nós.
A Trindade é uma relação de amor entre as Pessoas que se manifesta no grande amor ao ser humano na entrega de seu Filho. Esta festa é uma memória vivente da presença do Pai, Filho e Espírito Santo que põem sua morada na nossa vida e nas comunidades que não fecham a porta ao seu Amor. Desta forma pode-se falar da experiência de Deus que nos conduz a Ele, à vivência da sua presença e ternura. Não há distinção de pessoas porque seu amor é “para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 16).
Como disse Enzo Bianchi, “Eis o dom dos dons de Deus: dom gratuito, dom de si mesmo, dom irrevogável e sem arrependimento; dom nunca merecível, mas que deve ser acolhido com fé; dom feito apenas por um amor louco de Deus, que quis se tornar homem, carne frágil e mortal (cf. Jo 1, 14), para estar no meio de nós, conosco, e assim compartilhar a nossa vida, a nossa luta, a nossa sede de vida eterna” (Texto completo: Uma comunhão de amor).
Podemos perguntar-nos, como descobrimos sua Presença na história de salvação? Como é possível reconhecê-lo neste momento histórico que estamos vivendo?
Nosso Deus não ficou separado da humanidade, senão pelo contrário, é um amor que se entregou por cada um e cada uma de nós. Não é possível acreditar em Deus se não acredito no irmão que está ao meu lado. Acreditar em Deus e receber seu amor deve-se expressar no compromisso com todas as pessoas que sofrem as injustiças sociais, a marginalização ou, como acontece neste tempo de pandemia, a exclusão social pela possibilidade de contágio e por isso devem ficar à beira do caminho, “fora da cidade”.
Como disse o Papa Francisco na carta aos irmãos e irmãs dos movimentos e organizações populares: “vocês são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdecem nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho. Vocês são para mim, como lhes disse em nossas reuniões, verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos”.
E continua dizendo: “Quero que saibam que nosso Pai Celestial olha para vocês, vos valoriza, reconhece e fortalece em sua escolha. Quão difícil é ficar em casa para quem mora em uma pequena casa precária ou para quem de fato não tem teto. Quão difícil é para os migrantes, as pessoas privadas de liberdade ou para aqueles que realizam um processo de cura para dependências. Vocês estão lá, colocando seu corpo ao lado deles, para tornar as coisas menos difíceis, menos dolorosas”.
Deixando que suas palavras ecoem na nossa vida e no nosso agir, celebramos esta festa da Trindade sendo testemunhas vivas do amor do Pai por toda a humanidade.
Oração
Deus exposto
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste,
saíste da eternidade
à intempérie dos tempos,
e em uma herança corrompida,
divino e humano conosco,
aninhou teu amor um vôo
de asas solidárias
girando até a altura,
elevando sem fim o horizonte.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste,
te encarnaste para dizer-te perto,
na inaudita pretensão
de ser todas as línguas e cores
em uma carne mortal e reduzida,
de ser uma parábola inesgotável
de matizes infinitos pelos séculos,
chegando viva e nova para todos
até o umbral dos sentidos.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste
te arriscaste no lugar mais baixo
vigiado, excluído e fracassado,
para oferecer-nos a Vida
em encontros vulneráveis,
na face sem falsidade,
às vezes beijado como amigo
e no final triturado sem remédio
até a morte e o escárnio.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste,
não te impuseste com teofanias
de fogos e espantos siderais,
nem com a sedução astuta,
nem com o poder armado,
porque somente em encontros livres
podem engendrar-se auroras
para ressurgir desde a noite
mais divinamente amanhecidos
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
Ao longo dos séculos, os teólogos fizeram um grande esforço para aproximar-se do mistério de Deus, formulando com diferentes construções conceituais as relações que vinculam e diferenciam as Pessoas Divinas no seio da Trindade. Esforço, sem dúvida, legítimo, nascido do amor e desejo de Deus.
Jesus, no entanto, não segue esse caminho. A partir da sua própria experiência de Deus, convida seus seguidores a relacionar-se de forma confiada com Deus Pai, a seguir fielmente seus passos de Filho de Deus encarnado, e a deixar-nos guiar e alentar pelo Espírito Santo. Ensina-nos assim a abrir-nos ao mistério santo de Deus.
Antes de tudo, Jesus convida seus seguidores a viver como filhos e filhas de um Deus próximo, bom e afetuoso, a quem todos podemos invocar como Pai querido. O que caracteriza este Pai não é seu poder e força, mas sua bondade e compaixão infinitas. Ninguém está sozinho. Todos têm um Deus Pai que nos compreende, nos quer e nos perdoa como ninguém.
Jesus mostra-nos que este Pai tem um projeto nascido do seu coração: construir com todos seus filhos e filhas um mundo mais humano e fraterno, mais justo e solidário. Jesus chama-lhe «reino de Deus» e convida todos a entrar nesse projeto do Pai, procurando uma vida mais justa e digna para todos, começando com seus filhos mais pobres, indefesos e necessitados.
Ao mesmo tempo, Jesus convida seus seguidores a que confiem também nele: «Não se perturbe vosso coração. Acreditais em Deus; acreditai também em mim». Ele é o Filho de Deus, imagem viva do seu Pai. Suas palavras e gestos mostram-nos como nos quer o Pai de todos. Por isso convida a todos a segui-Lo. Ele nos ensinará a viver com confiança e docilidade ao serviço do projeto do Pai.
Com seu grupo de seguidores, Jesus quer formar uma família nova onde todos procurem «cumprir a vontade do Pai». Esta é a herança que quer deixar na terra: um movimento de irmãos e irmãs ao serviço dos mais pequenos e desamparados. Essa família será símbolo e germe do novo mundo, querido pelo Pai.
Para isso, precisam acolher o Espírito que alenta o Pai e o Seu Filho Jesus: «Vós recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e assim sereis Minhas testemunhas». Este Espírito é o amor de Deus, o alento partilhado pelo Pai e o Seu Filho Jesus, a força, o impulso e a energia vital que fará dos seguidores de Jesus suas testemunhas e colaboradores ao serviço do grande projeto da Santíssima Trindade.
Seria quase impossível falar sobre a identidade de Deus sem a presença de alguns traços dessa realidade sobrenatural, porque existe um mistério e uma distância muito grande entre o humano e o divino, superados somente pela ação intermediada por Jesus Cristo. Jesus fez justamente a aproximação do céu com a terra através do fato de sua ascensão e o envio do Espírito Santo em Pentecostes.
Celebramos a Festa da comunhão na Santíssima Trindade. É a manifestação de Deus nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, constituindo um verdadeiro gesto de amor, que engloba toda a humanidade na via da salvação. A Encarnação de Jesus Cristo no seio dos humanos trouxe vigor positivo para o mundo, instaurando um reino com marcas profundas de justiça, paz e fraternidade.
A história dos povos foi muito marcada por rupturas. Uma delas aconteceu com a vinda de Jesus de Nazaré, como Deus e como homem, encerrando um longo passado de expectativas, mas também construindo as verdadeiras bases para um futuro concreto de esperança. Na pessoa de Jesus, Deus vem ao encontro das pessoas para motivá-las na construção do bem, relacionado com a vida.
Na identidade de Deus podemos enxergar alguns aspectos que lhes são próprios como a misericórdia, a clemência, a bondade, a fidelidade, a paciência etc. Mas podemos destacar também um Deus amoroso e próximo das pessoas, que caminha junto e quer o bem de todos, sem distinção. Ele não leva em conta a dureza do coração humano com tendência para o erro, mas opta pela misericórdia.
A crise da pandemia pode ser interpretada como uma nova ruptura na história do mundo. Milhares de pessoas morreram até agora, deixando um rastro de sofrimento e de desestruturação social e familiar de grandes dimensões. A sociedade não pode continuar da mesma forma de antes. Ela precisa se reinventar e construir novos padrões de sustentação com bases sólidas de fraternidade.
Apesar do mistério da Santíssima Trindade, Deus sempre foi acessível a todas as pessoas. Basta saber que Ele não é Deus de um povo ou de uma classe privilegiada. Acolhe a todos que O procuram pela prática de fidelidade aos princípios do Evangelho, principalmente da justiça, da verdade e do amor. É uma identidade divina, que se aproxima amorosamente das realidades das pessoas humanas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
(Camaragibe/PE,)
O discurso sobre Deus é sempre atual, sobretudo em nosso continente latino-americano. Mesmo na Europa iluminista, ouve-se muito a expressão “Deus sim, igreja não”. A experiência religiosa, defendem alguns, não necessita da pertença a vida eclesial. Ela se faz no palco do mundo, sem hierarquias e ritos religiosos. Contudo, para nós cristãos a vida de comunidade é fundamental e exige o cultivo da espiritualidade, requer união e compromissos concretos, a fim de que o amor se traduza em obras. Mas em tempos de pandemia tudo isso passa por uma séria avaliação e Deus, mais do que nunca, tornou-se a invocação comum em nossos dias. Porém, a maneira pela qual o invocamos reflete a originalidade da revelação divina realizada em Jesus? Qual é mesmo a imagem de Deus que está emergindo neste longo inverno de pandemia?
Para dar-nos conta do que a pandemia realizou na experiência de fé, os meios de comunicação, tão relevantes neste momento da história, nos põem diante das famosas imagens de Deus que nascem, por exemplo, do medo de morrermos vítimas do vírus, de pensar que a humanidade está sendo castigada, de culpabilizar o carnaval de fevereiro como o estopim do castigo divino sobre nós brasileiros, etc.
São tantas interpretações que não podemos deixar de nos questionar qual deveria ser realmente a experiência de Deus que mais se aproxima da revelação bíblica. Creio que este é o ponto crucial que nos liberta da armadilha do fundamentalismo religioso.
A fim de levarmos a cabo esta tarefa vamos desenvolver os seguintes conceitos: deserto, miragem e oásis. O deserto é a realidade da vida, com todos os seus dramas. Podemos dizer que hoje o deserto nos traz o desafio da pandemia do Covid-19. Diferentemente dos padres do deserto que fugiam das cidades para uma experiência mais radical de Deus através de inúmeras privações, vencidas com a ascese, hoje nos damos conta que o deserto é o assumir a responsabilidade da vida com toda a dureza da pandemia. Não temos para onde fugir, devemos nos refazer no chão onde estamos pisando. Porém, é justamente em meio a árdua missão de enfrentarmos o peso da existência neste momento triste de nossas vidas que podemos projetar uma imagem errada de Deus. Feuerbach já dizia que Deus é uma projeção do homem. E o pior é quando se trata de algo que se distancia da revelação. A projeção pode ser a consequência de uma dor não suportada e, por isso, recorremos ao divino para que ele nos alivie e é exatamente aqui que nasce a miragem, ou seja, a falsa imagem de Deus.
A miragem faz-nos agir motivados por algo falso e por isso produz um efeito nocivo. Quando alguém, por exemplo, promove violência e a justifica em nome de Deus, esta pessoa encontra-se profundamente enraizada em uma miragem, ou seja, uma projeção que está longe da verdade. O mesmo pode ocorrer quando concebemos Deus a partir da ótica da justiça do “olho por olho, dente por dente”, ou então quando usamos o nome dele para justificar algum partido político, seja de direita ou de esquerda. A direita acredita num Deus justiceira e poderoso, um Deus nacionalista que não admite as diferenças. Da mesma forma pode acontecer com o discurso da esquerda quando os movimentos que representam todas as classes minoritárias pretendem assumir algum cargo ou posição na sociedade com o objetivo de mudar a ordem vigente. A intenção é até boa, mas muitas vezes a prática tem nos ensinado que a libertação não se faz com o poder das classes, mas com o testemunho pacífico. Se a direita delira com a miragem de um Deus nacionalista e restrito apenas a alguns, a esquerda por sua vez, pode cair no risco de acreditar que a mudança se faz só com a política partidária, ou política de minorias. Pelo contrário, a revolução começa a nível pessoal, no desenvolvimento de uma existência profética, sem manifestações violentas.
Já o oásis seria o caminho alternativo e crítico que nos salva das armadilhas das miragens que falseiam a autêntica revelação de Deus. Oásis no deserto de nossa vida é o encontro com a verdade e o bem. Trata-se daquele poço onde se gera a fraternidade revolucionária. Neste poço de água fresca emerge a autêntica imagem de Deus, ao modo de Jesus de Nazaré. Quando fazemos a experiência do oásis, o deserto da nossa vida torna-se algo suportável e nos faz superar as miragens desprovidas de plenitude. Mas como? Creio que neste momento da história só o espírito crítico poderá nos salvar. A propósito, a história tem nos ensinado que só os dotados deste espírito foram capazes de tomar distância das situações de barbárie para descobrir uma revelação mais profunda de Deus, aos moldes de Jesus libertador.
Como você se encontra em meio ao deserto da vida? Você está vivendo das miragens? E Deus, é uma projeção tua ou se trata de um oásis que te liberta das ilusões? Tudo indica que chegou o tempo de optamos por uma via alternativa, aquela que nos remete a experiência de Jesus, a água viva que nos sacia.
(Camaragibe/PE)
Este é um assunto importante, não só para os cristãos, mas para todos aqueles que estão em busca de novos tempos onde podemos desenvolver a nossa existência a partir de uma fraternidade mais parecida com o Evangelho de Jesus. Quando dizemos fraternidade pensamos em comunidade, não como pessoas que estão aglomeradas, ou que vivem umas paralelas as outras. Fraternidade, para a tradição cristã, é algo que assenta as suas raízes no seio da Trindade. A Trindade, para usarmos uma expressão de Leonardo Boff, é a melhor comunidade. Mas isso não é slogan ou grito de guerra. Isso é o evangelho!
Viver em comunidade, é colocar-se um de frente ao rosto do outro. É reconhecimento e veneração absoluta a alteridade, ou seja, a dimensão do sagrado que cada um possui. Na Trindade, o Pai ama o Filho e o Filho oferece a humanidade o mesmo amor que recebeu do Pai. O Espírito Santo é o próprio amor. Então, as três divinas pessoas não sabem fazer outra coisa senão amar. É neste sentido que a Trindade é e será sempre a melhor comunidade.
Porém, temos que nos perguntar se as organizações políticas de nosso tempo ou se o modo social de encararmos a vida refletem de alguma forma a vida trinitária como estamos falando. Infelizmente, a história plasmou muitos impérios autoritários que ofuscaram a vida da comunidade. Basta citarmos as grande duas últimas guerras mundiais que causaram danos irreparáveis a vida. Tudo começa com os discursos populistas que prometem solucionar os problemas em nome da segurança nacional. Esses são os messias de ontem e de hoje que levantam a bandeira da pátria para ameaçar o estrangeiro, ou para assegurar os direitos da classe burguesa que tem medo de perder o monopólio e os seus privilégios.
Mas não vamos tão longe na história, lembremo-nos dos tempos da ditadura onde o chumbo e a censura falavam mais alto com a pretensão de calar a democracia e os direitos humanos. Como falar de comunidade se os poderosos deste mundo trabalham contra o amor trinitário? Como pensar numa sociedade de irmãos e irmãs, quando o direito e a igualdade são ameaçados pelo autoritarismo de nossos governantes que se autointitulam messias salvadores da pátria? Não! Estes modelos de organização política trabalham contra a Boa Nova do Evangelho. Eles são, para usar uma expressão de Platão, a personificação da tirania. E quem é o tirano? É aquele governante que se alimenta das vísceras humanas em nome do poder e da falsa ordem.
Contudo, a lógica de viver em comunidade, segundo o sonho da Trindade, não é uma fantasia. Pode ser realidade! Para tanto, precisamos mudar, sobretudo, o nosso modo de educar as novas gerações. Mudar é um processo árduo e lento, mas possível. O próprio Jesus nos dirá que no princípio as coisas não eram assim, ou seja, o mundo era regido na lógica do amor. Mas a sede e a corrida pelo poder nos corromperam.
Organizar a sociedade a partir da lógica da Trindade é uma missão difícil, pois requer o princípio da gratuidade, tão esquecido e banalizado em nossas relações. Tudo seria feito sem interesses e sem a pretensão de tirarmos sempre proveito sobre os outros. A gratuidade é irmã gêmea do cuidado, ou seja, daquele outro princípio que se recusa a ceifar a vida dos mais frágeis, ou para usar uma expressão que se encontra no evangelho de São Mateus: “Não esmagará a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça vencer a justiça.”
Sim, a Trindade é a melhor comunidade. Mas viver na sociedade a partir desta lógica é necessário construir a cada dia uma via alternativa, ou seja, não se contentar com o status quo deste mundo. A comunidade que Jesus viveu e quis para a humanidade não se trata de assumir formas totalitárias que excluem os que sofrem. Jesus não compactua com o sistema político romano nem com o sistema político do Templo de Jerusalém. Podemos dizer que a constituição, ou seja, a carta magna que rege a sociedade sonhada por Jesus são as bem-aventuranças que sinalizam a chegada do Reino de Deus. E este Reino não é um lugar, mas uma ação de vida e de libertação integral da pessoa. A ideia de desenvolvimento e progresso, não é para suprir apenas as necessidades biológicas do ser humano, apesar disto também ser importante, mas Jesus pretende restituir o todo da nossa vida, ele não nos dá migalhas, nos redime por completo.
Este é o sonho de Deus para nós que vivemos em sociedade: “Eu vim para que todos tenham a vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
Pensemos nisso sobretudo neste tempo confuso e difícil de pandemia. Reflita que você é um cidadão para construir pontes e ser protagonista do amor que une e que não levanta as bandeiras da divisão.
SOLEMNIDAD DE LA SANTÍSIMA TRINIDAD CICLO "A"
Primera lectura (Ex 34,4-6.8-9):
Este texto forma parte de la sección que constituyen los capítulos 32 a 34 del Éxodo. En la misma se narra que Israel no respetó la ley fundamental contenida en las tablas de la piedra (Ex 32) sino que pecó de idolatría haciéndose un becerro de oro, un "dios a medida". Justamente el becerro de oro es considerado como una divinidad rival de Yavé (Ex 20,3; 32,1.8) y provoca una grave crisis que pone en peligro la misma existencia de Israel como pueblo de Dios. Una cuestión domina estos capítulos: después del episodio del becerro de oro, ¿continuará Yavé a habitar en medio de su pueblo y a guiarlo en el desierto? (Ex 33,3.5.14). Pero Moisés intercede y finalmente Yavé cede (Ex 33,14.17). La lección es que el Dios que acompañará a Israel será un Dios de perdón y de misericordia (Ex 34,6-7; el texto de hoy).
En particular hay que notar que la misericordia y la clemencia aparecen como los atributos esenciales de Yavé (Ex 34,6)1. En efecto, se proclama solemnemente a Dios como “bondadoso y compasivo” (rahum y hanun); “lleno de misericordia y verdad” (hésed we emet); o sea que su misericordia es fiel y permanente, que se mantiene por mil generaciones y perdona o soporta la culpa, la rebeldía y el pecado. Se utiliza aquí una expresión que los estudiosos llaman “fórmula litúrgica” pues, con algunas variaciones, la encontramos presente también en Nm 14,18; Sal 86,15 y 103,8. Se ha dicho que esta “fórmula de gracia” es “la afirmación central sobre Dios en el Antiguo Testamento que define no sólo los actos sino el carácter de Dios pues dicha fórmula subraya los atributos divinos que tocan el ser mismo de Dios, del cual se deriva su comportamiento”2.
Ante esta manifestación Divina, Moisés responde con un gesto de adoración y con la petición, como prueba de esta actitud amigable de Dios, de que siga acompañando al pueblo estando presente en medio de ellos.
Segunda lectura (2Cor 13,11-13):
San Pablo concluye esta segunda carta a los Corintios, comunidad marcada por fuertes divisiones, con una exhortación a vivir en armonía y en paz. Si alcanzan esto, entonces "el Dios del amor y de la paz" permanecerá con ellos. Luego con la invocación final precisa que este Dios del amor y de la paz que permanecerá con ellos es el Dios cristiano, la Trinidad: el Señor Jesús; Dios el Padre y el Espíritu Santo. A Jesús se le atribuye la "gracia" (járis), al Padre el "amor" (ágape) y la comunión (koinonía) al Espíritu Santo. Por tanto, es Dios en su comunión íntima de Personas el fundamento y la causa de la comunión entre los cristianos.
Evangelio (Jn 3,16-18):
Jn 3,16: Sí, Dios amó tanto al mundo, que entregó a su Hijo único para que todo el que cree en él no muera, sino que tenga Vida eterna.
En este versículo notamos siempre en primer lugar la entrega del Hijo para nuestra salvación, para que tengamos vida eterna. Pero también aquí se nombra a alguien muy importante y que a veces no tenemos tanto en cuenta: Dios Padre. La fuente del amor que lleva al Hijo a entregarse y que da sentido a su pasión es el amor del Padre: "tanto (Ou[twj: así; de este modo) amó Dios al mundo". Y en el versículo siguiente (3,17) se afirma que “Dios no envió a su Hijo al mundo para juzgar al mundo, sino para que el mundo sea salvo por Él”. O sea que tanto el envío y como la misión salvífica del Hijo proceden de Dios Padre. Hay dos verbos principales en 3,16-17 que definen el querer de Dios respecto a su Hijo: «darlo» (16: dídomi) y «enviarlo» (17: apostéllo). O sea que tanto el envío y como la misión salvífica del Hijo proceden de Dios Padre. De este modo el evangelio insiste en que la salvación nos viene por la entrega del Hijo, pero que la misma es obra del Padre que "tanto amó al mundo".
El término “mundo” tiene aquí un sentido positivo, se refiere a la totalidad de la humanidad, a la que Dios ha creado, ama y quiere salvar. Hay un claro universalismo en la finalidad salvífica de la entrega de Jesús.
Ante esta donación amorosa de la salvación eterna por parte del Padre los hombres tienen que dar su respuesta: su opción fundamental que es recibirla o rechazarla, creer o no creer en ella. Y esta opción es tan fundamental que decide, ya en el presente, la salvación o condenación del hombre. Y en esto mismo consiste el juicio, por cuanto en el evangelio de Juan se da ya en el presente y provoca la separación entre los hombres según acepten o rechacen a Jesucristo como revelador del Padre3.
Algunas reflexiones:
Cada vez que nos hacemos la señal de la cruz, invocamos a Dios como Padre, Hijo y Espíritu Santo confesando lo esencial de nuestra fe cristiana: la Santísima Trinidad y la cruz de Cristo. Sin embargo, este este misterio de Un sólo Dios en Tres personas distintas, nos resulta extraño o lejano; siendo tal esencia y cotidiano en nuestra vida cristiana.
Comencemos con dos ejemplos que tal vez nos ayuden. En primer lugar, pensemos que a las personas sólo podemos conocerlas bien cuando hablan y cuando actúan. Porque sólo nos damos a conocer, revelamos lo que sentimos y pensamos, cuando hablamos y cuando obramos. Y lo segundo, que una cosa es tener un trato formal con alguien y conversar de cosas exteriores a nosotros; y otra muy distinta es tener un trato de amistad donde compartimos lo que sentimos y pensamos; lo que esperamos y soñamos.
Pues bien, Dios quiere tener con nosotros una relación de este segundo tipo, de amistad. Él quiere que lo conozcamos en su intimidad y que nosotros también nos abramos a Él, revelándole nuestra intimidad.
Y Dios se nos ha tomado la iniciativa y se nos ha dado a conocer obrando la historia de la Salvación y revelándose en ella a través de acciones y palabras. Justamente todo que hemos estado celebrando a lo largo de la cuaresma y del tiempo Pascual, es especial la muerte, resurrección y ascensión de Jesús y su envío del Espíritu Santo a la Iglesia, nos ha revelado que Dios es único, es uno sólo; pero en su intimidad hay una comunión de Tres Personas distintas: el Padre Creador; el Hijo redentor y el Espíritu Santo santificador.
El Padre se ha manifestado como el Creador y origen de todo. Ahora bien, en la plenitud de los tiempos Dios “amó tanto al mundo que entregó a su propio Hijo”, que es Jesús, el Hijo de Dios hecho hombre. Y Jesús nos ha revelado que en Dios existen el Padre, el Hijo y el Espíritu Santo; porque Dios es amor y el amor exige comunión de Personas. Por tanto, los cristianos creemos en un Único Dios que es Padre, Hijo y Espíritu Santo y que llamamos la Santísima Trinidad.
Ahora bien, la respuesta del hombre, como lo señala con claridad el evangelio de hoy, es la aceptación de este amor salvífico mediante la fe. Así, la fe es justamente "creer en el amor de Dios". Dejarse amar y abrasar por este amor que supera todo conocimiento.
Ahora bien, la fe enamorada busca igualmente conocer al Amado en su intimidad, y a esto es invitada por la acción del Espíritu Santo. De este modo la inteligencia creyente de la Iglesia ha buscado penetrar en el misterio de Dios Amor y se ha encontrado con la revelación de Dios como comunión de Personas: Padre, Hijo y Espíritu Santo. Porque Jesús no sólo nos ha revelado el amor de Dios, sino a Dios como Amor, como comunión de Tres Divinas Personas en la unidad de una única Naturaleza Divina. Esta distinción de las Personas Divinas aparece con claridad en saludo final de San Pablo a los Corintios, en la segunda lectura de hoy.
Todos estamos invitados a experimentar la Trinidad que habita en nosotros; pues si dejamos que nuestra fe crezca y madure, nos vincularemos con cada Persona de la Trinidad de modo distinto.
En nuestra relación con el Padre, nuestro creador, encontraremos al origen de la vida, la fuente primordial, y experimentaremos la paz que brota en nuestra alma al abandonarnos en sus firmes y suaves manos.
En nuestra relación con el Hijo, con Jesús nuestro salvador, experimentaremos al hermano y amigo que nos comprende, ante quien podemos abrir de par en par nuestro corazón, incluso en sus zonas más oscuras, pues siempre nos mirará con misericordia y nos ofrecerá el perdón del Padre.
Al Espíritu Santo, nuestro santificador, no podemos ponerle un rostro, pero sentiremos la fuerza del amor que engendra vida, que hace cálida nuestra relación con el Hijo y que viene en ayuda de nuestra fragilidad y nos mueve a clamar a Dios llamándolo Abba, Padre (Gal 4,6). Y también nos da la fuerza para confesar nuestra fe con valentía, para amar siempre y a todos los hombres; y ser testigos del amor de Dios delante de todos.
Por último, creemos que el hombre es imagen y semejanza de Dios. Sí, somos imagen de Dios Trinidad, de Dios que en su intimidad es comunión de personas. Es claro que alcanzaremos nuestra mayor realización como personas en la medida que vivamos la comunión y la entrega sincera de nosotros mismos a los demás por amor. Como nota N. Baisi4: “Si estuviésemos creados a imagen y semejanza de un ‘dios’ único y unipersonal nuestra perfección sería ser autónomos, no darnos con nadie, no depender de nadie, no dar ni recibir nada, ser y estar solos”. Pero no es así pues Jesús nos ha revelado que “Dios es un misterio de engendrar y ser engendrado, un decir la Palabra y escucharla. Dios es la comunión de Padre e Hijo, de dar y recibir, de decir y escuchar. Nosotros que somos imagen de Dios nos realizamos, hacemos lo que somos, vivimos como hombres de verdad, cuando somos capaces de recibir y de dar, de vivir en mutua interdependencia, de escucharnos y hablar, de comunicarnos en la verdad con otros, de amarnos de verdad”.
Bien podemos terminar con esta reflexión orante de Romano Guardini:
“En Cristo se nos ha abierto la hondura de la vida escondida de Dios. Su naturaleza, palabra y obra tan llenas de la realidad de lo sagrado. Pero de ella brotan figuras vivas: el Padre, en su omnipotencia y bondad; el Hijo, en su verdad y amor redentor, y entre ellos, el desprendido, el creador, el Espíritu.
Es un misterio que supera todo sentido; y hay gran peligro de escandalizarse de él. Pero yo no quiero un Dios que se ajuste a las medidas de mi pensamiento y esté formado a mi imagen. Quiero el auténtico, aunque sé que desborda mi intelectual capacidad. Por eso, ¡oh Dios vivo!, creo en tu misterio, y Cristo, que no puede mentir, es su fiador.
Cuando anhelo la intimidad de la compañía, tengo que ir a los demás hombres; y por más honda que sea la ligazón y más hondo que sea el amor, seguimos, sin embargo, separados. Pero tú encuentras tu propio «tú» en ti mismo. En tu misma hondura desarrollas el diálogo eterno. En tu misma riqueza tiene lugar el perpetuo regalo y recepción del amor.
Creo, ¡oh Dios!, en tu vida una y trina. Por ti creo en ella, pues ese misterio cobija tu verdad. En cuanto se abandona, tu imagen se desvanece en el mundo. Pero también, ¡oh Dios!, creo en ella por nosotros, porque la paz de tu eterna vida tiene que llegar a ser nuestra patria. Nosotros somos tus hijos, ¡oh Padre!; tus hermanos y hermanas, Hijo de Dios, Jesucristo, y tú, Espíritu Santo, eres nuestro amigo y maestro”.
En síntesis, la Santísima Trinidad, Misterio de Dios Amor es al mismo tiempo misterio de comunión y de misión.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Amó
Padre que nos amaste desde toda la eternidad,
Delicadeza creadora sin par
Infunde la Vida en tus creaturas
Y danos en tu Hijo habitar.
Tu Nombre es Uno, Padre
Él es, Hijo. Tanto amaste al hombre y fue muerto
Ahora por tu Gracia y tu Grandeza, Vivirá.
La Fe es un Tesoro escondido en los deseos
De los que se hacen como niños
Y nunca son los primeros
¿Qué será la salvación?
Eso aún no lo entendemos
Porque si fuéramos sabios,
Seríamos hombres nuevos.
Pero tu Poder es zumo, es fuerza, es fuego
Borra entonces nuestra merecida condena
Salva tu obra completa.
Amén
1 Cf. M. Buber, Moisés (Lumen-Hormé; Buenos Aires 1994) 260.
2 Cf. E. Sanz Giménez- Rico, Profetas de misericordia (San Pablo; Madrid 2007) 176.
3 Cf. L. H. Rivas, El Evangelio de Juan. (San Benito; Buenos Aires 2006) 165.
4 Trinidad para todos (Ágape; Buenos Aires, 2013) 27-29.