NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
95(96)-R- Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
Evangelho de Lucas 2,1-14
1ª Leitura:Isaías 62,11-12
96(97) -R- Brilha hoje uma luz sobre nós, pois nasceu para nós o Senhor.
1ª Leitura: Isaías 52,7-10
97(98)R- Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus.
MISSA DA NOITE - EVANGELHO Lc 2,1-14
Naqueles dias, saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra 2 – o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. 3 Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade. 4 Também José, que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, 5 para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. 7 Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. 8 Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. 9 Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. 10 O anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: 11 hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! 12 E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. 13 De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: 14 “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!”
DE DOM JÚLIO ENDI AKAMINE
Aconteceu que naqueles dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria.
Com estas palavras, Lucas introduz a sua narrativa sobre o nascimento de Jesus e explica porque ele aconteceu em Belém: um recenseamento, com a finalidade de determinar e depois cobrar os impostos. Essa é a razão pela qual José e Maria se deslocam de Nazaré até Belém.
A menção de César Augusto não é por acaso. Ela é intencional: serve para colocar em relação Jesus e César Augusto. O que eles têm em comum? O que eles têm de diferença?
Há uma inscrição histórica na qual vemos como César Augusto queria ser visto e considerado. O nascimento do Imperador conferiu uma fisionomia diferente ao mundo inteiro. O mundo teria se arruinado, se não tivesse nele nascido e brilhado uma felicidade universal. A Providência, que dirige a nossa vida, cumulou este homem de tais dons para a nossa salvação e para a salvação das gerações futuras. O dia do nascimento do Imperador foi para o mundo o início de um novo tempo. A partir do nascimento do salvador deve começar uma nova contagem do tempo (tradução livre da Inscrição de Priene, 9 a.C.).
Notem que César Augusto se considera e deseja ser considerado soter = salvador. O próprio título de Augusto possui uma conotação divina (sebastos = adorável). O imperador César Augusto queria ser considerado como o salvador que começou um novo tempo, e por isso o tempo devia começar a ser contado a partir dele.
Duas coisas importantes já podemos indicar sobre o nascimento de Jesus. Jesus não é um mito. Ele é um personagem histórico que pertence a um tempo e a um lugar: nasceu em Belém, no tempo de César Augusto, quando Quirino era governador da Síria, no contexto do recenseamento.
No tempo do nascimento de Jesus, todos falavam de paz e de justiça para o mundo todo. Também César Augusto se fazia chamar de salvador e de príncipe da paz. Depois dele, os Imperadores romanos faziam questão de serem saudados de “restaurador do mundo”, “esperado do povo”, “restituidor da luz”. Para o senso comum, para a maioria das pessoas a mentalidade era a de que somente o forte, somente quem tem o poder dos exércitos, só quem tem o comando pode impor a paz ao mundo e trazer a salvação para a humanidade.
O que os anjos anunciam aos pastores arrebenta com essa mentalidade!
"Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura".
O sinal de que nasceu o Salvador é um não-sinal: é um recém-nascido, envolvido em faixas, deitado numa manjedoura!
Somente Deus podia realizar uma mudança tão radical da lógica humana. Somente Deus poderia pronunciar um não tão radical àquilo que as pessoas sempre pensaram. Nós sozinhos nunca teríamos ousado afirmar tamanha reviravolta na escala de valores. Sozinhos nunca teríamos cogitado uma novidade tão grande quanto revolucionária. O Salvador, o Príncipe da Paz, o Cristo Senhor é este recém-nascido envolto em faixas, deitado na manjedoura.
O que viram os pastores e o que nós devemos ver?
O menino envolvido em panos já antecipa a hora da morte e da sepultura de Jesus. Jesus é desde o seu nascimento o imolado e a manjedoura se torna já o altar do sacrifício.
A manjedoura é o lugar onde os animais encontram o seu alimento. No natal, está deitado na manjedoura aquele que é o Pão descido do céu para ser nosso Pão da vida. A manjedoura se torna a mesa de Deus para a qual somos convidados para comer o Pão de Deus.
Na pobreza do nascimento de Belém se revela que o verdadeiro Salvador e o Príncipe da paz não é César Augusto, mas o recém-nascido envolto em faixas e deitado na manjedoura.
Natal é o encontro do Deus humilde e frágil que vem até nós. É a arte divina do encontro que cura todo mundano desencontro!
No Natal nós vamos a Ele, porque Ele veio a nós, indefeso, desarmado e humilde.
Neste Natal, deixemo-nos olhar pelo Senhor; permitamos que Ele venha a nós, e nos encontre, e nos ame, e nos olhe!
Abraçados por esse Amor terno e pessoal do Verbo Encarnado, desejo a você e à sua família, um Santo Natal!
Comentário do Pe. Freddy Goven, BA
25 Lc 2,1-14 (Natal do Senhor) “Maria deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria. Anjo aos pastores: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador. Ao anjo se juntou o exército celeste dizendo: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos que ele ama”. A luz de Deus nos causa medo. Preferimos viver as trevas. O Salvador é de todos e você está sendo(a) convidado(a) a colocar mais luz e verdade em sua vida e assim celebrarás Natal. Neste Menino encarna-se Deus, a ternura; a única coisa que a tecnologia não consegue dar. Nasceu em teu coração?
Lucas 2, 1-14, da Vigília de Natal.
O Natal obriga-nos a rever ideias e imagens que habitualmente temos de Deus, mas que nos impedem de nos aproximarmos do Seu verdadeiro rosto. Deus não se deixa aprisionar nos nossos esquemas e moldes de pensamento. Não segue os caminhos que nós lhe marcamos. Deus é imprevisível.
Imaginamo-Lo forte e poderoso, majestoso e onipotente, mas Ele oferece-se na fragilidade de uma criança débil, nascida na mais absoluta simplicidade e pobreza. Colocamo-Lo quase sempre no extraordinário, prodigioso e surpreendente, mas ele apresenta-se a nós no quotidiano, no normal e comum. Imaginamo-lo grande e distante, e ele torna-se pequeno e próximo de nós.
Não. Este Deus encarnado no menino de Belém não é o que teríamos esperado. Não está à altura do que teríamos imaginado. Este Deus pode-nos decepcionar. No entanto, não é precisamente deste Deus próximo que necessitamos junto de nós? Não é esta proximidade ao humano a que melhor revela o verdadeiro mistério de Deus? Não se manifesta na debilidade deste menino sua verdadeira grandeza?
O Natal recorda-nos que a presença de Deus nem sempre corresponde às nossas expectativas, pois se nos oferece onde menos esperamos. Certamente temos de procurá-Lo na oração e no silêncio, na superação do egoísmo, na vida fiel e obediente à sua vontade, mas Deus pode oferecer-se quando Ele quiser e como quiser, mesmo no mais vulgar e comum da vida.
Agora sabemos que o podemos encontrar em qualquer ser indefeso e fraco que precise do nosso acolhimento. Pode estar nas lágrimas de uma criança ou na solidão de um velho. No rosto de qualquer irmão podemos descobrir a presença desse Deus que quis encarnar-se no humano.
Esta é a fé revolucionária do Natal, o maior escândalo do Cristianismo, expressa de forma lapidar por Paulo: «Cristo, apesar da sua condição divina, não se agarrou à sua categoria de Deus; pelo contrário, despojou-se do seu posto e assumiu a condição de servo, tornando-se um de muitos e apresentando-se como um simples homem» (Filipenses 2,6-7).
O Deus Cristão não é um Deus desencarnado, distante e inacessível. É um Deus encarnado, próximo, perto. Um Deus a quem podemos tocar de alguma forma sempre que tocamos no humano.
O evangelho de Lucas nos apresenta o nascimento de Jesus num lugar pobre, sem nada, em caminho para sua terra seguindo o decreto do imperador Augusto. Duas realidades até contraditórias: o poder daquele que deseja saber o número de pessoas registradas no Império e a pobreza de um nascimento fora da cidade, numa manjedoura. Isso porque “não havia lugar para eles dentro da casa” (Lc 2, 7b).
Assim nos lembra Raymond Gravel, sacerdote de Quebec, Canadá: “Não é por nada que São Lucas faz nascer o Cristo numa imensa pobreza: num menino, numa criança, em primeiro lugar, com toda a vulnerabilidade, a fraqueza e a fragilidade que comporta esta etapa da vida... Porém, mais do que isso, um bebê pobre, saído de uma família não convencional, que nasce numa manjedoura de animais, porque demasiado pobre para nascer em outro lugar. Além disso, seu nascimento é anunciado em primeiro lugar aos pastores, os excluídos, os marginais, os desprezados da época”.
Os pastores que passam a noite tomando conta de seu rebanho são iluminados por uma luz que os envolve, dando-lhes a boa notícia. Diante desta luz eles ficam com muito medo, não compreendem o que está acontecendo. Porém, acreditam nas palavras do anjo.
De agora em diante devem caminhar na busca desse nascimento que lhes foi anunciado. A fé simples dos pastores e a atitude de se pôr a caminho nos lembram de Maria, que acredita e se põe a caminho para visitar sua prima Isabel.
Apesar do medo no início, a mensagem do anjo e a luz que envolve os pastores os colocam no caminho. Nela estão contidas as chaves para nos aproximar do mistério que se revela na simplicidade de um nascimento aparentemente tão insignificante.
Se lermos com atenção as palavras dirigidas aos pastores, nos damos conta de que esse filho pertence a todos. Não aparecem nomeados nem Maria nem José. É uma notícia que será uma grande alegria para todo o povo: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2, 11).
Hoje também, como pastores, celebramos o nascimento do Salvador, o Messias, o Senhor. Um Deus que esconde sua grandeza na pequenez de uma criança, na pobreza de um nascimento fora da cidade e longe dos grandes e poderosos. Assim refere-se Gonzalez Faus na entrevista concedida para a revista IHU On-Line:
EM ESPANHOL, DA ARGENTINA, DOM DAMIAN NANNINI
LA PALABRA SE HIZO CARNE Y HABITÓ EN NOSOTROS
Todas las lecturas de la misa de hoy nos invitan a tener una mirada contemplativa, esto es, de fe enamorada sobre el Misterio del Niño de Belén. Pero de modo especial el evangelio de hoy: “El prólogo de Juan es una síntesis meditativa de todo el misterio de Navidad, porque el Niño de Belén es la revelación de Dios, la verdad de Dios y del hombre, y reflexionando sobre este evento nos ponemos en tesitura de comprender quién es el que ha nacido y quienes somos nosotros” (G. Zevini - P. G. Cabra).
En efecto, ““El Verbo hecho carne será siempre para los cristianos, para todos los que desde siglos tienen los ojos fijos en Cristo, el polo de la contemplación, la fuente de su fe, de su esperanza y de su amor […] En el Verbo hecho carne, brilla, pues, el misterio del amor, pues sólo el amor puede reducir las distancias hasta llegar a suprimirlas. En fin, la expresión “el Verbo hecho carne” muestra la perfección de ese amor que está en el origen del misterio de la Encarnación”[1].
¿Y qué nos revelan las lecturas ante esta nueva mirada? Que el Niño Jesús es la Palabra de Dios. Sí, es la Palabra eterna y única de Dios. Dios Padre nos habla por medio de Su Palabra, o más aún, nos lo dice todo y de una sola vez, pues se dice a Sí mismo. Lo expresa muy bien San Juan de la Cruz: "«Porque en darnos, como nos dio a su Hijo, que es una Palabra suya, que no tiene otra, todo nos lo habló junto y de una vez en esta sola Palabra... Porque lo que hablaba antes en partes a los profetas ya lo ha hablado a Él todo, dándonos el todo, que es su Hijo" (Subida del Monte Carmelo, II, 22).
Esta Palabra o Verbo Eterno del Padre se ha hecho carne, hombre, niño en Jesús. Es el final y la plenitud de un largo camino de comunicación de Dios con los hombres que comenzó con la creación. En efecto: "Muchas veces y de muchas maneras habló Dios en el pasado a nuestros Padres por medio de los Profetas. En estos últimos tiempos nos ha hablado por medio del Hijo" (Heb 1,1-2).
Esta PALABRA Personal del Padre, nos dice el prólogo de Juan, es la VIDA y la LUZ de los hombres. Y esta PALABRA es AMOR. Así, el AMOR es la LUZ de la VIDA. Porque sólo el amor de Dios da razón, sentido (otros posibles significados del término logos) a la vida y de este modo la ilumina.
“Y la Palabra se hizo carne y habitó entre nosotros”
Καὶ ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο καὶ ἐσκήνωσεν ἐν ἡμῖν (Jn 1,14).
Aquí se llega al ‘clímax’ del prólogo. Podría haber dicho ‘hombre’, pero adoptó el término ‘carne’. De esta forma afirma lo que es escándalo para los oídos judíos: que la Palabra de Dios se haya presentado asumiendo lo que es débil y corruptible. A lo largo de todo el prólogo había mostrado cómo la Palabra de Dios se iba haciendo oír de forma cada vez más comprensible a los hombres: por la iluminación de la Palabra, por su presencia en la creación, por su manifestación en la Ley y los Profetas. Finalmente llega a decir que la Palabra, más que hacerse humana, se hace ‘hombre débil’. Al mismo tiempo que se enuncia el sorprendente misterio de la encarnación, aparece la afirmación de que la carne humana, en su debilidad, es capaz de revelar la divinidad.
Para indicar la habitación de la Palabra entre los creyentes recurre al término ’eskēnōsen, que se debe traducir ‘habitar en carpas – plantar una carpa’. Posiblemente remita a los textos rabínicos donde se utiliza el término šekiná para designar la revelación de Dios como ‘habitando en una carpa’.
La finalidad de la obra de la Palabra es hacernos Hijos de Dios. A los que creen en su nombre, o sea a los que reciben la Palabra no les da inmediatamente el nombre de hijos de Dios sino el poder de “llegar a ser” hijos de Dios. Con esto se indica que la adquisición de la filiación divina es un “proceso” que comienza con el acto de Fe, pero que permanece siendo un don del Padre.
La Palabra de Dios, que es VIDA, LUZ y AMOR, y que ahora habita en medio nuestro, se ofrece a nuestra libertad, por eso podemos aceptarla o rechazarla. Al respecto dice L. H. Rivas[2]: “Después de haber mencionado globalmente toda la obra del Logos en la creación “desde el principio”, el himno se detiene en la primera obra: la luz. En el Antiguo Testamento la luz es figura de la vida, lo contrario de la oscuridad o tiniebla, que es imagen de la muerte. La vida y la luz pertenecen sólo a Dios, porque la Vida divina es la vida eterna, que no se encuentra en los seres creados, y la Luz es la misma revelación de Dios como Vida. Dios se revela a los hombres haciéndolos participar de su vida. Pero tanto la Vida como la Luz se encuentran en la Palabra, que las comunica a los hombres.”
Importa que en nuestra meditación creyente podamos de verdad asimilar y vivir esta Verdad. Como bien decía el Card. C M. Martini [3]: “Juan cuando dice: ‘el Verbo habitó entre nosotros’, dice ya lo que después encontramos en su evangelio. ¿Qué falta? Falta que a este Verbo, que habita entre nosotros, se le dé el lugar que le corresponde. Por eso todo el evangelio es una disciplina espiritual que nos invita a reconocer las implicaciones que resultan de la presencia del Verbo entre nosotros: ¿qué quiere decir ‘hacerlo lugar al Verbo entre nosotros’?”.
Pienso que podemos tomar el ejemplo de San José sobre cómo recibir el Verbo de Dios en nosotros, como lo explica el Papa Francisco en su Carta Apostólica sobre san Patris corde n° 4: “La venida de Jesús en medio de nosotros es un regalo del Padre, para que cada uno pueda reconciliarse con la carne de su propia historia, aunque no la comprenda del todo. Como Dios dijo a nuestro santo: «José, hijo de David, no temas» (Mt 1,20), parece repetirnos también a nosotros: “¡No tengan miedo!”. Tenemos que dejar de lado nuestra ira y decepción, y hacer espacio —sin ninguna resignación mundana y con una fortaleza llena de esperanza— a lo que no hemos elegido, pero está allí. Acoger la vida de esta manera nos introduce en un significado oculto. La vida de cada uno de nosotros puede comenzar de nuevo milagrosamente, si encontramos la valentía para vivirla según lo que nos dice el Evangelio. Y no importa si ahora todo parece haber tomado un rumbo equivocado y si algunas cuestiones son irreversibles. Dios puede hacer que las flores broten entre las rocas. Aun cuando nuestra conciencia nos reprocha algo, Él «es más grande que nuestra conciencia y lo sabe todo» (1 Jn 3,20)”
Se trata, fundamentalmente, de aceptar el realismo de la Encarnación; casi diría el escándalo de la Encarnación. ¡Cuánto nos cuesta aceptar que la Divinidad se ha manifestado, revelado en la carne, en lo débil, en lo pequeño! Aquí se encuentra no sólo todo el misterio de la Navidad, sino de la misma vida cristiana.
La pandemia, a mi entender, ha puesto de manifiesto cuan presente está el gnosticismo en nuestra vida cristina, que con tanta claridad denunciara el Papa Francisco en Gaudete et exultate. Allí decía que los gnósticos “conciben una mente sin encarnación, incapaz de tocar la carne sufriente de Cristo en los otros, encorsetada en una enciclopedia de abstracciones. Al descarnar el misterio finalmente prefieren «un Dios sin Cristo, un Cristo sin Iglesia, una Iglesia sin pueblo»” (G E n° 37). “El gnosticismo es una de las peores ideologías, ya que, al mismo tiempo que exalta indebidamente el conocimiento o una determinada experiencia, considera que su propia visión de la realidad es la perfección. Así, quizá sin advertirlo, esta ideología se alimenta a sí misma y se enceguece aún más. A veces se vuelve especialmente engañosa cuando se disfraza de una espiritualidad desencarnada. Porque el gnosticismo «por su propia naturaleza quiere domesticar el misterio», tanto el misterio de Dios y de su gracia, como el misterio de la vida de los demás” (GE n° 40).
Por el contrario, el verdadero creyente vive su fe “encarnada”, como la vivió San José y es un claro ejemplo para todos nosotros. Nos lo explica el Papa Francisco en Patris corde n° 5: “Muchas veces, leyendo los “Evangelios de la infancia”, nos preguntamos por qué Dios no intervino directa y claramente. Pero Dios actúa a través de eventos y personas. José era el hombre por medio del cual Dios se ocupó de los comienzos de la historia de la redención. Él era el verdadero “milagro” con el que Dios salvó al Niño y a su madre. El cielo intervino confiando en la valentía creadora de este hombre, que cuando llegó a Belén y no encontró un lugar donde María pudiera dar a luz, se instaló en un establo y lo arregló hasta convertirlo en un lugar lo más acogedor posible para el Hijo de Dios que venía al mundo (cf. Lc 2,6-7). Ante el peligro inminente de Herodes, que quería matar al Niño, José fue alertado una vez más en un sueño para protegerlo, y en medio de la noche organizó la huida a Egipto (cf. Mt 2,13-14).
De una lectura superficial de estos relatos se tiene siempre la impresión de que el mundo esté a merced de los fuertes y de los poderosos, pero la “buena noticia” del Evangelio consiste en mostrar cómo, a pesar de la arrogancia y la violencia de los gobernantes terrenales, Dios siempre encuentra un camino para cumplir su plan de salvación. Incluso nuestra vida parece a veces que está en manos de fuerzas superiores, pero el Evangelio nos dice que Dios siempre logra salvar lo que es importante, con la condición de que tengamos la misma valentía creativa del carpintero de Nazaret, que sabía transformar un problema en una oportunidad, anteponiendo siempre la confianza en la Providencia” […] El Hijo del Todopoderoso viene al mundo asumiendo una condición de gran debilidad. Necesita de José para ser defendido, protegido, cuidado, criado. Dios confía en este hombre, del mismo modo que lo hace María, que encuentra en José no sólo al que quiere salvar su vida, sino al que siempre velará por ella y por el Niño. En este sentido, san José no puede dejar de ser el Custodio de la Iglesia, porque la Iglesia es la extensión del Cuerpo de Cristo en la historia, y al mismo tiempo en la maternidad de la Iglesia se manifiesta la maternidad de María. José, a la vez que continúa protegiendo a la Iglesia, sigue amparando al Niño y a su madre, y nosotros también, amando a la Iglesia, continuamos amando al Niño y a su madre”.
Esta contemplación del misterio de la Encarnación nos cambia la mirada sobre Dios y sobre nuestra relación con Él. Y desde allí nos invita a cambiar nuestra relación con nosotros mismos, con las cosas y con los demás.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Era tal el sentido de tu Palabra,
Tan categórico el significado de su expresión:
Un tesoro único. Ella estaba viva.
Y lo sabíamos porque brillaba, era luminosa
Aunque todo se empeñó en oscurecerla, en ocultarla
La creación fue hecha por medio de ella
Y para ella. Hubo testigos que la anunciaron.
Aquellos que creyeron en ella, fueron engendrados
Volvieron a nacer por ella y en ella
Porque fue antes de todo, y nunca se acabará
Muchas palabras se han oído y se oirán
Serán hojas que el viento llevará, sin embargo
Ella es la revelación del desconocido: El Padre.
Y la revelación es Jesucristo: solo Él,
Y a Él, Dios mismo hecho uno de nosotros,
Por su deseo infinito y eterno
de mostrarnos su Rostro en su Gran Misericordia,
Sea la Gloria, por los siglos de los siglos. Amén.
[1] Paul-Marie de la Croix, Testimonio espiritual del evangelio de San Juan (Rialp, Madrid 1966) 68.
[2] L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Bs.As. 2006) 127.
[3] El Evangelio de San Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan, 42-43.