26/10/2025
1ª Leitura: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a
Salmo Responsorial 33(34) - R- O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.
2ª Leitura: 2 Timóteo 4,6-8.16-18
Evangelho Lucas 18,9-14
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ 13Eu vos digo, este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”. – Palavra da salvação.
Lc 18,9-14 –
A parábola do publicano e do fariseu mostra maneira como Jesus vê as pessoas, que é a forma correta do olhar de Deus, porque não julga pelas aparências, mas pela verdade profunda do coração humano, discernindo a verdadeira motivação que gera as ações e as orações das pessoas.
Até os adversários de Jesus, embora conspirassem contra Ele, reconheciam publicamente: “Mestre, sabemos que falas e ensinas com retidão. Não levas em conta as aparências, mas ensinas de verdade o caminho de Deus” (Lc 20,21; cf. Mt 22,16).
A parábola do publicano e do fariseu, que foram rezar no Templo, mostra que a oração revela a verdade do coração de cada um deles. É diante de Deus, que se eles revelam suas disposições internas e profundas. Só Deus pode ver a profundidade do coração.
O publicano e o fariseu se dirigem ao Templo com a intenção de rezar. Eles partilham assim, por uns instantes, o mesmo lugar sagrado. No entanto, será o modo como cada um deles reza que definirá o próprio destino espiritual. O publicano, tendo tido a humildade e a sinceridade de reconhecer a sua indignidade e o seu pecado e de implorar o perdão de Deus, regressa a casa como um homem melhor, interiormente transformado e reconciliado com Deus. Frente à sua oração autêntica, a graça divina não se fez esperar. Mais uma vez se verificou que “quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 18,14b).
O fariseu, pelo contrário, está aprisionado em sua torre de orgulho espiritual. Demasiado consciente das suas próprias obras meritórias e da excelência da sua prática religiosa, julga-se superior e melhor do que todos os outros e desprezando-os. Penso que ele era bom e piedoso, um religioso a ser seguido e imitado. Mas é no momento da oração que a arrogância aflora no seu coração e acaba por perverter a sua virtude no vício da soberba.
A parábola nos ensina que não devemos nos colocar diante de Deus para nos vangloriar e nos exibir, olhando os outros de alto. Devemos nos colocar diante de Deus para um encontro de amor e para encontrar os outros em Deus. Nesse sentido, a oração é contemplação do Senhor, celebração das maravilhas que a sua graça realiza em cada dia no seio da fragilidade humana, celebração da sua incansável misericórdia, que reanima aquele que está caído e que deseja se levantar.
Escutando esta parábola, a tentação imediata seria a de nos colocar na pele do publicano, exatamente porque ele ocupa um lugar positivo. Essa é a nossa mania enganosa de procurar tranquilizar a nossa consciência e de nos dispensar da conversão.
Pelo contrário, a parábola nos convida a olhar para dentro de nós a fim de removermos toda a nossa autossuficiência e o nosso desprezo pelos outros, a fim de reencontrarmos um coração simples, humilde e fraterno, que saiba pousar sobre si próprio e sobre os outros um olhar misericordioso e cheio de esperança.
Nesse sentido, devemos nos interrogar com frequência sobre o modo como rezamos. O que a nossa oração nos revela sobre a profundidade e a qualidade do nosso coração? O que nos revela sobre nós próprios, sobre a maneira como nos relacionamos com os outros, como os vemos espontaneamente na sua relação conosco? O que nos revela da nossa relação com Deus e com a sua salvação?
A oração é a alma da missão: não há como anunciar aos outros a pessoa de Cristo se não o encontramos pessoalmente.
Além disso, tal orante, tal missionário. Procure imaginar: como voltou o fariseu e como voltou o publicano. Um voltou justificado, outro não. Um voltou para anunciar o Evangelho como missionário humilde, incluindo-se ele mesmo entre os necessitados de perdão e de salvação. Ele anuncia a verdade sem ter uma atitude arrogante. Ele anuncia a vida nova não como uma pessoa convencida da sua própria superioridade moral e religiosa. A missão do publicano convertido consiste em anunciar uma proposta humilde de amizade com Cristo. Trata-se de uma verdadeira humildade que nunca é ausência de verdade. É, antes, presença eficaz de uma verdade que julga, perdoa e salva quem anuncia e os seus interlocutores.
O publicano voltou para sua casa justificado (Lc 18,14)
Se algo fica patente no Evangelho deste domingo é a denúncia, por parte de Jesus, do perfeccionismo farisaico. Fariseus de ontem e de hoje. O tão proclamado “ideal de perfeição” chega a enraizar-se tão profundamente na vivência religiosa que acaba produzindo consequências desastrosas para as pessoas. A busca de perfeição torna-as rígidas, legalistas e intolerantes; seu “deus” é pura projeção de sua rigidez e moralismo: um “deus desumano” que cobra até o último centavo e ameaça sempre com o “inferno”.
A Bíblia nunca nos apresenta, como modelos de fé, pessoas perfeitas e sem falhas, mas sim, justamente pessoas marcadas pela fragilidade e fracasso e que colocaram sua esperança unicamente em Deus, ao invocarem-no do fundo do abismo.
Jesus, através de uma simples parábola, desmascara uma religião centrada no moralismo e no julgamento dos outros. Nesta parábola, Jesus contrapõe os dois extremos da sociedade judaica daquele tempo: o fariseu, expressão máxima da piedade e da moralidade, e o publicano, que por sua profissão, era a expressão máxima do pecador, distante dos ideais religiosos.
Ambos vão ao templo e, na oração, cada um deles revela sua vida e seus sentimentos.
De fato, é na oração que o ser humano exprime aquilo que é mais íntimo e mostra como ele se relaciona com os outros e com Deus. O risco do “farisaísmo” é subir o pedestal da “perfeição” e do “legalismo”, distanciando-se do amor e da misericórdia de Deus; com isso, cai no orgulho religioso e é incapaz de converter-se a Deus no seu íntimo.
Na prática, a oração do fariseu significa submeter Deus a si mesmo, cobrando o prêmio pelas boas ações. Agradece porque é sem vícios, não porque se sinta amado por Deus.
Seu louvor e agradecimento é apenas um pretexto para louvar a si próprio, inflar o próprio ego.
Ele tem méritos e nada deve a Deus; ao contrário, Deus é quem lhe deve: a enumeração de suas boas obras implica a pretensão de uma recompensa; ele acha que pode impressionar Deus com suas qualidades aparentes, seus sacrifícios e boas obras puramente formais, sem extirpar de seu coração o orgulho e o desprezo pelos outros.
A salvação que esperamos não é fruto de nosso trabalho e penitência, de nossa prática legal e de nossas virtudes. Ela é puro dom de Deus, divino presente de seu coração de Pai.
Só nos resta acolhê-la em atitude de humilde gratidão.
Na sua auto-suficiência e com sua oração um tanto blasfema, o fariseu está aí, de pé, para dar espetáculo, aguardando o aplauso da plateia. O publicano, no entanto, nos revela que basta redescobrir o caminho da humildade (do húmus), bem no fundo de nós mesmos: este é o lugar da oração.
Esta humildade é a porta de abertura para sair de um coração fechado em si mesmo, de um coração auto-suficiente e perfeccionista, onde tudo gira em torno do próprio eu, onde não há espaço para o Outro e os outros, onde a Misericórdia não tem como agir para poder transformar a pessoa.
A palavra latina “humilitas” está relacionada com “húmus”, com terra.
Ser “humano” é reconhecer-se terroso, argiloso; é por essa razão que somos todos irmãos já que somos todos feitos de argila. Somos “argila” e devemos cuidá-la, cultivá-la e fornecer-lhe as condições para mantê-la aberta ao Transcendente. A “humildade” é a própria essência do ser humano; ela é a própria condição para ser aquilo que se é: para ser “humano”. Essa é a verdade de nossa humanidade.
Somente o humilde, que está preparado para abraçar seu húmus, sua humanidade, sua fragilidade, sua sombra, experimentará o Deus verdadeiro.
Só a aceitação de sua verdade completa conduzi-lo-á no caminho da libertação. E a verdade é que em cada um jazem unidas a luz e a sombra. Em cada santo dorme um pecador, e não reconhecer isso conduz ao farisaísmo e ao moralismo; mas em todo pecador dorme também um santo, e não o perceber supõe um empobrecimento humano, desesperança e vazio.
Numa espiritualidade perfeccionista, o ideal é o ser humano puro, sem defeitos nem fraquezas. Mas isso leva a um rigorismo moral, contra quem se dirige a parábola do “publicano e do fariseu”.
Aqui está a aparente contradição da espiritualidade cristã: nós “subimos” para Deus precisamente quando “descemos” à nossa realidade humana.
Nesse sentido, o caminho para Deus não é visto como uma estrada de mão única que nos leva sempre para o alto, em direção às virtudes e à perfeição. Pelo contrário, o caminho para Deus passa pela limitação e fragilidade, pelos erros e desvios enganosos, pelo fracasso e pela decepção consigo mesmo.
Quem se identifica com “ideais” muito elevados, quem se exalta a si mesmo na busca da “perfeição”, mais cedo ou mais tarde terá de confrontar-se com suas “sombras”, será forçado a tomar consciência de sua condição humana e terrena, de seu “húmus”.
Quem “desce” até sua própria realidade, até os abismos do inconsciente, até a escuridão de suas sombras, até a impotência de seus próprios sonhos, quem mergulha em sua condição humana e terrena e se reconcilia com ela, este sim, está “subindo” para Deus, faz a experiência do encontro com o Deus verdadeiro.
Na parábola acima mencionada, os dois personagens correspondem a dois aspectos de nossa própria pessoa. Vive em cada um de nós um eu prepotente, que se considera justo e rejeita todo o imperfeito; é o eu rígido, fruto da super-exigência, que se identifica com a imagem idealizada de nós mesmos e se alimenta do orgulho. Mas junto a ele, e com frequência sufocado, vive “outro eu” que teve de esconder-se porque não se sentiu reconhecido em sua verdade nem aceito em seus limites.
A parábola revela-nos que a reconciliação virá por esse lado. Precisamos abraçar toda a nossa frágil realidade, em toda a sua verdade e, a partir dessa humildade, começar a viver em gratuidade e em gratidão.
A parábola nos fala da necessidade de acolher o desprezível que descobrimos em nós, de receber amorosamente em nossos braços o pobre publicano interior, de contemplá-lo com olhos compassivos e alimentá-lo. Desse modo, iremos reduzindo nosso abismo interior e avançaremos para a totalidade a que Deus nos chama em Jesus.
Será justamente a partir da consciência de nossa pobreza e de nossa negatividade que poderemos nos abrir à experiência da gratuidade; é quando nos encontramos sem nada que sentimos mais necessidade de nos abrir para cumular-nos dos dons da graça divina.
Segundo a espiritualidade que parte do “chão da vida”, ali pode estar a maior de todas as chances, ali pode estar também nosso tesouro. É ali que entramos em contato com nossa verdadeira essência. E é ali que alguma coisa poderá ganhar vida e desabrochar.
Dorotéo de Gaza disse certa vez: “Teu entulho seja teu pedagogo”.
Onde nós caímos, onde nos afastamos de Deus, é que aprendemos uma lição, a lição que a busca da perfeição não é capaz de nos ensinar. Justamente onde nos deparamos com nossas fraquezas pessoais é que nos tornamos abertos para Deus. Na nossa fraqueza somos capazes de reconhecer a Vontade que Deus tem para conosco e o que Ele poderá fazer de nós quando Ele realizar totalmente sua graça em nós.
Deus nos educa justamente também através de nossos fracassos, através de nossos escombros.
“Descer” à nossa realidade, significa considerar a experiência da impotência e do fracasso como o lugar da verdadeira oração e como chance de chegarmos a uma nova relação pessoal com Deus.
É decisiva a reconciliação com todas as paixões, com todas as feridas, com todas as fragilidades..., pois todas elas podem levar-nos a Deus. Não é preciso outra coisa senão “descer” até onde elas se encontram e interrogar o que elas têm a nos dizer. Este é o caminho da espiritualidade que brota do húmus: descobrir novas possibilidades de vida e de encontro com Deus.
O Amor de Deus se mistura com nosso pobre amor, de modo que os dois se tornam um: eis o despertar do coração! Eis a verdadeira espiritualidade!
Para meditar na oração:
Quando nos vemos demasiadamente organizados, demasiadamente perfeitos, exigentes, rígidos, ansiosos, agressivos..., agiríamos bem perguntando-nos o que o nosso “ego” perfeccionista está escondendo.
- Quais são as “marcas” da perfeição impregnadas no seu interior pela formação familiar, pela religião...
A parábola do fariseu e do publicano geralmente desperta em muitos cristãos uma grande rejeição do fariseu que se apresenta diante de Deus, arrogante e seguro de si mesmo, e uma simpatia espontânea para com o publicano que humildemente reconhece seu pecado. Paradoxalmente, o relato pode despertar em nós este sentimento: “Agradeço-Te, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.
Para ouvir corretamente a mensagem da parábola, temos de ter em mente que Jesus não a conta para criticar os setores fariseus, mas para sacudir a consciência de “alguns que presumiam serem homens de bem e desprezavam os outros”. Entre estes encontramo-nos, certamente, não poucos católicos dos nossos dias.
A oração do fariseu revela-nos sua atitude interior: “Oh Deus! Te dou graças porque não sou como os outros”. Que tipo de oração é esta de acreditar que é melhor que os outros? Mesmo um fariseu, fiel cumpridor da lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se justo diante de Deus e precisamente por isso se converte em juiz que despreza e condena os que não são como ele.
O publicano, pelo contrário, só consegue dizer: “Oh Deus! Tem compaixão deste pecador”. Este homem reconhece humildemente o seu pecado. Não se pode vangloriar da sua vida. Entrega-se à compaixão de Deus. Não se compara com ninguém. Não julga os outros. Vive verdadeiramente ante si mesmo e ante Deus.
A parábola é uma penetrante crítica que desmascara uma atitude religiosa de engano, que nos permite viver seguros da nossa inocência, enquanto condenamos desde a nossa suposta superioridade moral a todos os que não pensam ou agem como nós.
Circunstâncias históricas e correntes triunfalistas afastadas do evangelho fizeram os católicos especialmente propensos a esta tentação. Por isso, temos de ler a parábola, cada um em atitude autocrítica: por que achamos que somos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais perto de Deus dos que não são praticantes? O que está no fundo de certas orações pela conversão dos pecadores? O que é reparar os pecados dos outros sem viver convertendo-nos a Deus?
Em certa ocasião, ante a pergunta de um jornalista, o Papa Francisco fez esta afirmação: “Quem sou eu para julgar um gay?”. As suas palavras surpreenderam a quase todos. Aparentemente, ninguém esperava uma resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a atitude de quem vive em verdade ante Deus.
Jesus continua ensinando ao grupo de pessoas que o seguem. Conta uma nova parábola dirigida, como narra o texto, “para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros”. É uma parábola própria de Lucas e nela apresenta-se uma vez o amor preferencial de Jesus pelos pobres, pelos marginalizados da sociedade, em contraposição com os que se consideram os possuidores da fé e da justiça divina. Jesus relata uma parábola para convidar seus ouvintes a viver um caminho de humildade e de conversão a Deus. Os fariseus, opositores da Boa Notícia que traz Jesus, consideram que pelo cumprimento dos numerosos preceitos e normas eles são justos diante de Deus. E ainda têm o direito de desprezar as pessoas que consideram indignas diante de Deus.
Há dois homens que “subiram ao Templo para rezar”. O texto apresenta claramente a diferença entre eles: um fariseu e um publicano. O fariseu era parte do grupo dos “piedosos”, dos defensores da Torah e de seu cumprimento rigoroso. E o cobrador de impostos que pelo seu próprio trabalho era considerado uma pessoa indigna, ligada aos romanos e a seu serviço. Para os judeus eram pessoas impuras e tinham fama de utilizar o dinheiro para si mesmas. É importante lembrar que este grupo de pessoas estava privado de alguns direitos cívicos, políticos e religiosos. Jesus coloca assim duas situações social, religiosa e culturalmente opostas e sua atitude diante de Deus.
Lendo o texto, aprecia-se a descrição de cada um deles. O fariseu de pé, erguido, com os olhos no alto em contraposição com o publicano que “ficou a distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito”. Contemplo assim estes dois homens que realizam sua oração no Templo. O fariseu centrado em si mesmo, que se considera justo e com autoridade para julgar o outro. E o cobrador de impostos, que se sabe pecador, fica a distância e clama a Deus pela sua misericórdia e compaixão.
A oração do fariseu é uma referência de seu agir diante de Deus e por isso considera-se superior aos demais: “eu te agradeço” ”não sou como os demais homens”, “eu faço jejum duas vezes por semana”, “eu dou o dízimo de toda a minha renda”. O sujeito da enumeração do seu atuar é ele mesmo: “eu”! Mas qual é a imagem de Deus que está por trás deste tipo de oração? É um Deus que contabiliza as que são consideradas boas obras e as registra uma por uma? O agir de Deus está centrado em recompensas ou castigos? O fariseu apresenta-se diante de Deus vangloriado pelo seu comportamento, envaidecido e com soberbia. Para ele, a salvação é uma conquista da pessoa que, se leva uma vida irrepreensível, merece ser salva. Seu comportamento determina o agir de Deus.
Em contraposição está o cobrador de impostos que fica a distância, “nem se atrevia a levantar os olhos para o céu”, “bate o peito”, se sabe pecador e por isso se dirige a Deus desde sua necessidade. Ele precisa da misericórdia de Deus e sua realidade clama por um Deus misericordioso: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador”.
Na sua oração o publicano comunica a imagem de um Deus que escuta a súplica dos pecadores, dos que o procuram desde sua necessidade. Um Deus que não deixa ninguém na sua miséria, um Deus que “ergue da poeira o fraco e tira do lixo o indigente” (Sal 112). Um Deus que ouve o grito dos que o invocam com coração abatido e atende sua prece (cfr Sal 61).
A parábola que narra Jesus gera rejeição diante da atitude do fariseu. Mas é preciso considerar em que momento da nossa vida aparece uma atitude similar. Quantas vezes nos consideramos com capacidade de julgar os demais, seja pelo seu agir, pela sua vida, pelo seu posicionamento diante da vida e tantas outras situações de nosso cotidiano? Pensemos também nos momentos que nos consideramos mais dignos, melhores, mais capazes que as demais pessoas.
A parábola é um convite de Jesus para todos os cristãos a formar comunidades que sejam servidoras e saibam reconhecer sua necessidade da misericórdia e do amor de Deus. O orgulho e a vaidade são contrários à Boa Notícia que Jesus vem nos comunicar. Jesus não quer cristãos cumpridores de normas e indiferentes à realidade social que os rodeia; sacrifícios observantes das normas do culto que alimentam o orgulho e são injustos diante das demais pessoas e da realidade social.
Deus é amor, mas seu amor é preferencial com os pobres e os desvalidos, os desprotegidos e marginalizados pela nossa sociedade. Deus não vira as costas diante do pobre e do indigente, pelo contrário, escuta seu clamor e atua em consequência. Como filhos de Deus somos convidados a amar com sua mesma sensibilidade e amor pelas vítimas de injustiça, da exclusão e de tudo aquilo que gera morte, segregação, destruição.
Neste domingo somos convidados a reconhecer a autossuficiência na nossa vida e, desde nossa realidade de pessoas necessitadas de Deus, abrir nossos ouvidos ao clamor dos mais pobres e agir em consequência.
Oração
Obrigado porque sou como os outros homens
Te agradeço Senhor
porque sou como os outros homens.
Tento estar seguro de mim
ante tua ausência,
e acerto minha contabilidade
para não ser surpreendido
ao final da jornada.
Comparo-me com os outros
e olho de cima
aos que julgo pecadores,
e na comparação, não em ti,
coloquei minha segurança.
Também tenho elaboradas
condenações em voga,
publicanos ao serviço
dos que impõem seu império,
mas escondo na ambiguidade
meus pecados de sempre,
armadilhas radicais contigo,
cortes abismais com o outro.
Também eu tenho meus seguros
de economias e dízimos,
pequenas moedas efetivas
com as quais pretendo negociar
a falta de entrega a teu mistério.
Também eu saio satisfeito
de ouvir-me a mim mesmo
de pé no centro do templo.
Como os outros homens,
já posso abrir-me a teu perdão
dando-me golpes ao peito
ao lado do publicano. (Lc 18, 4-14)
A primeira leitura deste domingo é tirada do livro do Eclesiástico. Este livro foi escrito uns 200 anos, mais ou menos, antes de Cristo e o povo de Deus estava sob o poder dos Selêucidas, com forte influência da cultura helênica (dos gregos). A dominação não é somente política e social, mas também cultural. Acabar com a cultura dos povos dominados tem como resultado um desprezo pelos valores e virtudes de um povo.
Assim, o autor do livro do Eclesiástico queria defender o que havia de mais profundo da cultura do povo de Israel, que estava se deixando levar pela cultura grega. Dentre os valores da cultura e religião do povo de Israel estava a defesa dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Por isso, Eclesiástico é bastante concreto ao afirmar que Deus ouve a prece do pobre e que não adianta tentar comprar a Deus com cultos e orações, mas não praticar a justiça e escravizar os irmãos.
É preciso cumprir os mandamentos de Deus em relação à proteção dos pobres e fracos. Assim, a verdadeira religião que agrada a Deus é aquela que defende os pobres, pois as preces deles atravessam as nuvens e chegam até Deus. De nada adianta louvar a Deus pela manhã e explorar o pobre à tarde. Deus não é conivente com essa prática.
A segunda leitura, seguramente escrita por um discípulo de Paulo, confirma a certeza do apóstolo de ter feito o melhor de si no anúncio e vivência da Boa Nova. Por isso, ele pode afirmar: Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé! Feliz daquele que pode ter essa convicção no fim de sua vida.
No evangelho, Lucas continua mostrando que no caminho a Jerusalém Jesus vai ensinando aos seus discípulos o que é fundamental para ser um seguidor dele. No episódio de hoje, reprova a atitude falsa e hipócrita daqueles que louvam a Deus com os lábios e com o coração desprezam os seus irmãos.
É melhor reconhecer-se pecador e necessitado da misericórdia de Deus do que ser um religioso presunçoso. Nada mais contrário à fé que descolar a vida prática daquilo que se diz crer. Crer em Deus é praticar a justiça, ter humildade para reconhecer-se pecador e suplicar constantemente a misericórdia do Pai.
Arcebispo de Uberaba.
Normalmente as pessoas tidas como arrogantes não passam de falsificadoras da própria identidade. Exigem, até de uma forma desonesta, o que elas mesmas não fazem, porque são incapazes de agir com humildade. Encontramos aí uma profunda mediocridade, a exigência de servilismo com aparência de escravidão. Muitos dos arrogantes não põem a mão no arado e exigem que outros o façam.
É constrangedor ver um cidadão ou um cristão arrogante, dono da verdade, que não abre espaço para o progresso de outros. Não é esse o tipo de vocação que agrada a Deus. Jesus, Mestre de todos, lava os pés dos discípulos e os convida a fazer o mesmo. É gesto de profunda humildade, que visualiza a abrangência da missão de quem é enviado para construir o Reino de Deus na comunidade.
A pior das arrogâncias é aquela que provoca a exploração do pobre, do órfão, da viúva e dos marginalizados em geral. Existe uma igualdade fundamental entre as pessoas, que desabona atitudes de imposição. É da profundidade desta dimensão que conseguimos entender a atitude de Jesus quando vai ao encontro fraterno dos mais sofridos e vulneráveis da sociedade de seu tempo.
As práticas de arrogância podem provocar muito sofrimento e lágrimas na vida das pessoas atingidas. Isto está muito em sintonia com a situação de poder e de fraqueza, que costuma ter uma trajetória carregada da prática de injustiça pelo fato de não respeitar a dignidade de quem vive situação de vulnerabilidade. Parece ser como conflito de poder, onde vence quem tem mais força.
Na vida de quem age com honestidade existe a consciência de que o respeito e a humildade são dimensões de valores essenciais, que não podem ser feridos por práticas arrogantes e de imposição. Jesus e os apóstolos legaram para a sociedade a importância do agir com humanidade. Para eles as pessoas, sem distinção nenhuma, são sujeitos de respeito e consideração, como imagem de Deus.
Ninguém é melhor do que ninguém. Dois jovens entram no templo para orar. Um arrogante e outro humilde. O arrogante se gaba de sua arrogância e seu gesto não foi agradável diante de Deus, porque fez uma prece falsa. Acabou ficando fora do projeto de Deus. O humilde teve postura diferente e sua prece foi acolhida. “Quem se exalta será humilhado, e que se humilha será exaltado” (Lc 18,14).
DOMINGO XXX DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Eclo 35,12-14.16.18):
Tanto esta primera lectura como el salmo de hoy (Sal 33), en especial la antífona ("El pobre invocó al Señor y él lo escuchó"), insisten en la atención prestada por Dios a la oración del pobre, del afligido y del humilde. Son una invitación a la confianza en Dios y, por tanto, a orar sin desanimarse, como nos enseñaba el evangelio del domingo pasado.
Evangelio (Lc 18, 9-14):
Al igual que el domingo anterior, la primera frase nos da ya la clave para entender la parábola: "Y refiriéndose a algunos que se tenían por justos y despreciaban a los demás, dijo también esta parábola" (Lc 18,9). El texto griego literalmente dice que "estaban persuadidos, convencidos (verbo pei,qw) a sí mismos, de ser justos", o sea de tener la aprobación de Dios. Casi como consecuencia inmediata de esta actitud, dice que "despreciaban" a los demás, a los tenían como injustos, como reprobados por Dios. Para “despreciaban” se utiliza el verbo ἐξουθενέω (exoutheneō), que puede traducirse por también por "tener en nada", tratar con desprecio (como ejemplo tenemos su uso en Lc 23,11 para señalar el trato despectivo de Herodes y sus guardias hacia Jesús en la pasión).
Por tanto, la parábola se dirige especialmente a personas con esta actitud, que más adelante son ejemplificadas con la figura de un fariseo.
La parábola consiste en mostrarnos a dos hombres en oración: un fariseo y un publicano. Esta primera presentación era por demás elocuente para los contemporáneos de Jesús, ya que son dos figuras representativas del judaísmo de la época.
Los fariseos constituían un grupo dentro del judaísmo caracterizado por su estricta observancia de la ley que los llevaba incluso a separarse de los demás, de los no observantes. Flavio Josefo los describe de esta manera: «Un grupo dentro del judaísmo oficial, que se distinguía particularmente por su estricta observancia de las prescripciones religiosas y por su interpretación formalista de la ley» (Bell. I, 5, 2, n. 110). Hoy equivaldría a decir: subió al Templo a orar un hombre religioso, fiel cumplidor de los mandamientos.
En contraste tenemos a un publicano, un cobrador de impuestos, o sea un hombre vendido al poder dominante, un ladrón de los dineros del pueblo y socialmente considerado como pecador. Hoy diríamos: subió al Templo a rezar un pecador, un desfachatado a quien no le importan la ley ni el honor.
Esta es la cara externa de los personajes y el juicio de la sociedad sobre ellos.
La parábola se concentra en describirnos su oración ante Dios. Sabemos que tanto los gestos como las palabras revelan lo que abunda en el corazón. En particular los gestos y las palabras dirigidas a Dios, pues en la oración el hombre se muestra tal cual es.
El fariseo reza de pie, según la costumbre de entonces, y suponemos que adelante, en el atrio de los israelitas, pues se siente cerca de Dios. El texto griego vuelve a repetir aquí el pronombre reflexivo "sí mismo" (πρὸς e`auto.n) que utilizó en el versículo inicial, por lo que algunos traducen “oraba en su interior”; pero otros “oraba para sí mismo”. Como bien nos indica F. Bovon esta expresión griega pone de relieve que el fariseo más que hablar a Dios se habla a sí mismo y se aísla de Dios y de los demás.
En su oración el fariseo, dando gracias a Dios, se compara con los demás, a quienes juzga como ladrones, injustos y adúlteros (la referencia al decálogo es indiscutible: cf. Ex 20,14-15; Dt 5,17-18); y también se compara con “ese” publicano. Luego se mira a sí mismo y enumera sus actos virtuosos que van más allá de lo exigido: sus ayunos dos veces por semana y su pago del diezmo sobre todo lo que adquiere. Agradece a Dios, pero despreciando a los demás y exaltándose a sí mismo. No le pide nada a Dios, más bien le muestra sus obras meritorias. Además, en la lista de sus obras virtuosas brillan por su ausencia la caridad y la justicia (cf. Lc 11,42: "Pero ¡ay de ustedes, fariseos, que pagan el impuesto de la menta, de la ruda y de todas las legumbres, y descuidan la justicia y el amor de Dios! Hay que practicar esto, sin descuidar aquello").
En contraste, el publicano se coloca a distancia (suponemos del “santo de los santos”, lugar de la presencia de Dios), pues se sabe lejano de Dios por su vida pecadora. Tiene la mirada baja (el texto griego dice literalmente que "no quería levantar los ojos hacia el cielo"), signo de arrepentimiento y, tal vez, de vergüenza por su condición de pecador. Además, como signo de dolor y de culpa se golpea el pecho, como haciendo brotar de lo más profundo de su corazón una súplica de perdón: "Oh Dios, ten compasión de mí, soy un pecador". El verbo que se suele traducir por "ten compasión" (i`la,skomai) no es el que aparece comúnmente (como en el caso de los diez leprosos, 17,13; o del ciego, 18,38) sino que pertenece al ámbito cultual-sacrificial. Literalmente sería: "sé propicio conmigo"; “perdóname, expíame o excúlpame” pues está relacionado con el propiciatorio (i`lasth,rioj) del templo donde se expiaban los pecados (cf. Lv 16). Este verbo lo volvemos a encontrar en el NT solamente en Heb 2,17 referido al sacerdocio de Cristo y su acción de expiar los pecados: "En consecuencia, debió hacerse semejante en todo a sus hermanos, para llegar a ser un Sumo Sacerdote misericordioso y fiel en el servicio de Dios, a fin de expiar los pecados del pueblo".
Por tanto, más que compasión lo que pide el publicano es el restablecimiento de su relación con Dios mediante el perdón o expiación de sus pecados. Por ello F. Bovon propone traducirlo: "¡Oh Dios, reconcíliate conmigo!". En breve, se reconoce pecador y pide sinceramente perdón a Dios por ello.
Comparando las dos oraciones podemos concluir que “el lenguaje del fariseo es el de un perfecto egoísta; mientras que el publicano sólo espera que se le conceda la misericordia de Dios” .
La narración termina con la valoración de Jesús, que está en contraposición a la espontánea valoración social; y también a la que el fariseo tenía de sí mismo. En efecto, el publicano bajó justificado, declarado justo por Dios. El fariseo no.
El relato concluye con la repetida frase: "todo el que se exalta será humillado y el que se humilla será exaltado", donde tenemos dos pasivos teológicos pues Dios es el que, en definitiva, humilla al que se exalta y exalta al que se humilla.
Es claro el mensaje de la parábola uniendo su comienzo y su final: el que se considera justo a sus propios ojos y desprecia a los demás, no es justificado por Dios y será humillado. El que se reconoce pecador, y se humilla ante Dios, es justificado y será exaltado por Dios.
ALGUNAS REFLEXIONES:
G. Zevini y P. G. Cabra dicen en su comentario que siempre nos sentimos incómodos ante este evangelio porque no nos sentimos identificados del todo con ninguno de los dos personajes. En su opinión, nosotros vendríamos a ser un tercer personaje porque a veces nos parecemos al fariseo y otras al publicano .
Por su parte R. Cantalamessa dice que esto se debe a que estamos en transición permanente entre la antigua y la nueva alianza, sin terminar de asumir y de vivir plenamente la novedad del evangelio que nos ofrece Jesús. En efecto, según este autor, la cuestión de fondo de la parábola es la contraposición entre la justificación por las obras de la ley y la justificación por la fe, tema tan desarrollado por San Pablo y del cual Lucas se muestra fiel discípulo. En el libro de los Hechos de los Apóstoles (13,38-39), obra de Lucas, el apóstol San Pablo predica esto como núcleo del primer anuncio cristiano (kerygma): "Ustedes deben saber que la remisión de los pecados les ha sido anunciada por él (Cristo). Y la justificación que ustedes no podían alcanzar por la Ley de Moisés, gracias a él, la alcanza todo el que cree”.
También J. Fitzmyer apoya esta interpretación cuando afirma que “el v. 14a es importante porque puede constituir un indicio de que la doctrina neotestamentaria sobre la «justificación» no es mero fruto de reflexiones teológicas posteriores, sino que hunde sus raíces en la enseñanza del Maestro e incluso en su actitud personal frente a las corrientes pietísticas de su época. «Justo», verdaderamente «justo», a los ojos de Dios no es el que cumple las observancias, sino el que, fiándose de la misericordia divina, reconoce su propia limitación y confiesa sinceramente su pecado”.
Ahora bien, partamos de esta base existencial: todos buscamos la aprobación de lo que hacemos, de cómo vivimos, sea ante nosotros mismos, ante los demás o ante Dios. Buscamos ser justificados, o sea, declarados justos/correctos, que reconozcan que hacemos bien las cosas y que caminamos por el camino del bien. Entonces hay tres miradas que nos aprueban o reprueban: la propia nuestra, la de los demás y la de Dios. La que realmente debe importarnos es la mirada de Dios a quien corresponde justificar, hacer justo a alguien y reconocerlo como tal ("Dios es quien justifica", grita san Pablo en Rom 8,30). Porque justo es el que agrada a Dios, el que está en el camino de la salvación y de la santidad.
Entonces vemos que el fariseo de la parábola no busca tanto la justificación o aprobación de Dios, sino más bien que se justifica a sí mismo. Y haciendo esto se engaña a sí mismo, engaña a los demás y, peor aún, no agrada a Dios, no entra por el camino de la salvación. En otro lugar ya Jesús les había dicho esto mismo a los fariseos de modo directo: "Y Él les dijo (a los fariseos): Ustedes son los que se justifican a sí mismos delante de los hombres, pero Dios conoce sus corazones, porque lo que entre los hombres es de alta estima, abominable es delante de Dios" (Lc 16,15).
Esta autojustificación del fariseo queda patente en su oración, centrada en la primera persona singular: yo ayuno, yo pago el diezmo, yo no soy como los demás hombres que son pecadores…
En cambio, el publicano reconoce su pecado y pide a Dios la gracia de ser justificado por Él. Espera la justificación como un don gratuito de la misericordia de Dios que lo devolverá al camino de la salvación. Y por esta actitud humilde y confiada volvió a su casa justificado. Creyó en el amor de Dios, o sea que fue justificado por su fe, se volvió agradable a Dios por haber creído en su misericordia y pedido perdón. Porque la fe es en primer lugar la confianza en el amor de Dios, en su poder salvador. Por esto repite Jesús en el evangelio a los que confían en su Palabra y en su Poder: Tu fe te ha salvado. En otros términos: si crees que la justificación viene sólo de Dios, que sólo Él puede perdonar los pecados, estás en el camino de la salvación. En cambio, si pones toda la confianza en el propio cumplimiento de la ley, en la auto justificación, te quedas aislado en tu yo, sin entrar en el camino de la salvación.
Sobre la auto justificación nos dice el Papa Francisco: “Lo que san Pablo rechaza es la actitud de quien pretende justificarse a sí mismo ante Dios mediante sus propias obras. Éste, aunque obedezca a los mandamientos, aunque haga obras buenas, se pone a sí mismo en el centro, y no reconoce que el origen de la bondad es Dios. Quien obra así, quien quiere ser fuente de su propia justicia, ve cómo pronto se le agota y se da cuenta de que ni siquiera puede mantenerse fiel a la ley. Se cierra, aislándose del Señor y de los otros, y por eso mismo su vida se vuelve vana, sus obras estériles, como árbol lejos del agua” (LF n° 19).
Siguiendo a R. Cantalamessa, podemos ver representados en el publicano y en el fariseo dos categorías de personas con las que Jesús se encuentra permanentemente en el evangelio. Una son los pecadores (que según la concepción de la época incluye a todos los enfermos y a los afectados por algún mal) y que, por ello, no agradan a Dios, no son justos. Los otros son los que "se creen justos" a sí mismos, desprecian a los demás y, por ello, tampoco agradan a Dios, viven una falsa justicia: la autojustificación. Lo que nos dice el evangelio al respecto es que, entre estas dos categorías de personas, la más alejada de la salvación son los que se creen justos, no los pecadores. Y que Jesús ha venido a buscar y llamar a los pecadores para ofrecerles la conversión, el ingreso en el camino de la salvación, en el Reino. Sólo les pide que se arrepientan, que pidan y crean en el perdón de Dios. Si hacen esto, quedan justificados, como el publicano de la parábola.
Aquí puede surgirnos la misma cuestión que le plantearon a San Pablo cuando anunciaba esto: ¿y las obras, las buenas acciones?; ¿dónde quedan, no valen nada? Quedan en segundo lugar, dejándole el primero a la obra de Dios, a su Gracia. Porque las buenas obras son efecto y no causa de nuestra justificación. Ésta es gratuita, causada por el infinito amor misericordioso de Dios manifestado en Cristo Jesús.
Sobre el fariseo de la parábola dijo el Papa Francisco en su homilía del 27 de octubre de 2019: “El drama de este hombre es que no tiene amor. Pero, como dice san Pablo, incluso lo mejor, sin amor, no sirve de nada (cf. 1 Co 13). Y sin amor, ¿cuál es el resultado? Que al final, más que rezar, se elogia a sí mismo. De hecho, no le pide nada al Señor, porque no siente que tiene necesidad o que debe algo, sino que cree que se le debe a él. Está en el templo de Dios, pero practica otra religión, la religión del yo. Y tantos grupos “ilustrados”, “cristianos católicos”, van por este camino. Y además de olvidar a Dios, olvida al prójimo, es más, lo desprecia. Es decir, para él no tiene un precio, no tiene un valor. Se considera mejor que los demás, a quienes llama, literalmente, “los demás, el resto” (“loipoi”, Lc 18,11). Son “el resto”, son los descartados de quienes hay que mantenerse a distancia.”
Y sobre la oración del publicano decía el Papa Francisco que: “nos ayuda a comprender qué es lo que agrada a Dios. Él no comienza por sus méritos, sino por sus faltas; ni por sus riquezas, sino por su pobreza… Hoy, mirando al publicano, descubrimos de nuevo de dónde tenemos que volver a partir: del sentirnos necesitados de salvación, todos. Es el primer paso de la religión de Dios, que es misericordia hacia quien se reconoce miserable. En cambio, la raíz de todo error espiritual, como enseñaban los monjes antiguos, es creerse justos. Considerarse justos es dejar a Dios, el único justo, fuera de casa.”
Concluyendo, creo entonces que la intención de la parábola es ponernos como ejemplo al publicano para que todos, en cierto modo, nos identifiquemos con él. Porque la humildad de corazón que nos hace sentirnos siempre pecadores ante Dios es más una cuestión teológica que moral. En efecto, es una constante que los santos, sobre todo en el último período de su vida, que se confiesen como pecadores. Desde el punto estrictamente moral esto no es justo ya que viven con virtud heroica. Pero desde el punto de vista teologal, místico, son plenamente conscientes de su condición pecadora y de la obra de la gracia de Dios en ellos. Por eso no dudan en reconocerse pecadores y hasta en identificarse con el publicano. La gran cercanía a Dios y a su amor misericordioso les descubre su pequeñez, su nada y su miseria. Pero viven esto pacíficamente, sin centrarse en sí mismos, sino lanzados hacia el amor misericordioso de Dios. Por ello no se consideran nunca superiores a los demás ni toman la postura de jueces sobre los otros. Se saben de naturaleza pecadora y lo confiesan, pero es mucho más fuerte en ellos la certeza de ser amados por Dios. Y esto, y no otra cosa, es la humildad o pobreza de corazón. Como decía Chesterton: "Reconozco un santo en quien se reconoce pecador".
Es casi inevitable hacer referencia aquí a Sta. Teresita del Niño Jesús y su camino de la confianza, que la llevó a no considerarse justa y a abrirse totalmente, “con las manos vacías”, a la acción justificadora de Dios. Hay un claro contraste entre la oración del fariseo y la oración de Teresita, concretamente en su Acto de Ofrenda al Amor Misericordioso, donde reza: “Después del destierro de la tierra, espero ir a gozar de ti en la Patria, pero no quiero acumular méritos para el cielo, quiero trabajar sólo por tu amor, con el único fin de agradarte, de consolar a tu Sagrado Corazón y de salvar almas que te amen eternamente. En la tarde de esta vida, compareceré delante de ti con las manos vacías, pues no te pido, Señor, que lleves cuenta de mis obras. Todas nuestras justicias tienen manchas a tus ojos. Por eso yo quiero revestirme de tu propia Justicia y recibir de tu Amor la posesión eterna de Ti mismo”.
Como bien dice H. U. von Balthasar : “El hombre que tiene como meta última su propia perfección, jamás encontrará a Dios; pero el que tiene la humildad de dejar que la perfección de Dios actúe en su propio vacío – no pasivamente, sino trabajando con los talentos que se le han concedido – será siempre un «justificado» para Dios”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Señor,
Enséñanos la verdadera justicia
Cuando ante ti todo hombre se humilla
Sabe de su debilidad y se reconoce
Pequeño y necesitado
Si esto se nos olvida, se nos infla el pecho
Se hace una prisión el lecho,
El descanso no llega y el interior se rebela
Entonces caemos en la cuenta…
Dentro nuestro están los dos
Enfrentados en tu templo
En la densidad de su silencio
Y ante al Único que es Uno: Dios
Hay de nosotros sino agradecemos
lo que no somos y nunca seremos
porque solo Tú eres el “Yo soy”
Solo Tú el Verdadero
Si ni el pecado nuestro vemos
Cómo pedir piedad estando ciegos
Tú y solo Tú, Hijo de Dios
Eres capaz de corrernos el velo
Señor
Enséñanos la verdadera justicia
La que viene del cielo
Cuando el hombre se humilla
y se reconoce necesitado y pequeño. Amén