26/10/2025
1ª Leitura: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a
Salmo Responsorial 33(34) - R- O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.
2ª Leitura: 2 Timóteo 4,6-8.16-18
Evangelho Lucas 18,9-14
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ 13Eu vos digo, este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”. – Palavra da salvação.
Lc 18,9-14 –
A parábola do publicano e do fariseu mostra maneira como Jesus vê as pessoas, que é a forma correta do olhar de Deus, porque não julga pelas aparências, mas pela verdade profunda do coração humano, discernindo a verdadeira motivação que gera as ações e as orações das pessoas.
Até os adversários de Jesus, embora conspirassem contra Ele, reconheciam publicamente: “Mestre, sabemos que falas e ensinas com retidão. Não levas em conta as aparências, mas ensinas de verdade o caminho de Deus” (Lc 20,21; cf. Mt 22,16).
A parábola do publicano e do fariseu, que foram rezar no Templo, mostra que a oração revela a verdade do coração de cada um deles. É diante de Deus, que se eles revelam suas disposições internas e profundas. Só Deus pode ver a profundidade do coração.
O publicano e o fariseu se dirigem ao Templo com a intenção de rezar. Eles partilham assim, por uns instantes, o mesmo lugar sagrado. No entanto, será o modo como cada um deles reza que definirá o próprio destino espiritual. O publicano, tendo tido a humildade e a sinceridade de reconhecer a sua indignidade e o seu pecado e de implorar o perdão de Deus, regressa a casa como um homem melhor, interiormente transformado e reconciliado com Deus. Frente à sua oração autêntica, a graça divina não se fez esperar. Mais uma vez se verificou que “quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 18,14b).
O fariseu, pelo contrário, está aprisionado em sua torre de orgulho espiritual. Demasiado consciente das suas próprias obras meritórias e da excelência da sua prática religiosa, julga-se superior e melhor do que todos os outros e desprezando-os. Penso que ele era bom e piedoso, um religioso a ser seguido e imitado. Mas é no momento da oração que a arrogância aflora no seu coração e acaba por perverter a sua virtude no vício da soberba.
A parábola nos ensina que não devemos nos colocar diante de Deus para nos vangloriar e nos exibir, olhando os outros de alto. Devemos nos colocar diante de Deus para um encontro de amor e para encontrar os outros em Deus. Nesse sentido, a oração é contemplação do Senhor, celebração das maravilhas que a sua graça realiza em cada dia no seio da fragilidade humana, celebração da sua incansável misericórdia, que reanima aquele que está caído e que deseja se levantar.
Escutando esta parábola, a tentação imediata seria a de nos colocar na pele do publicano, exatamente porque ele ocupa um lugar positivo. Essa é a nossa mania enganosa de procurar tranquilizar a nossa consciência e de nos dispensar da conversão.
Pelo contrário, a parábola nos convida a olhar para dentro de nós a fim de removermos toda a nossa autossuficiência e o nosso desprezo pelos outros, a fim de reencontrarmos um coração simples, humilde e fraterno, que saiba pousar sobre si próprio e sobre os outros um olhar misericordioso e cheio de esperança.
Nesse sentido, devemos nos interrogar com frequência sobre o modo como rezamos. O que a nossa oração nos revela sobre a profundidade e a qualidade do nosso coração? O que nos revela sobre nós próprios, sobre a maneira como nos relacionamos com os outros, como os vemos espontaneamente na sua relação conosco? O que nos revela da nossa relação com Deus e com a sua salvação?
A oração é a alma da missão: não há como anunciar aos outros a pessoa de Cristo se não o encontramos pessoalmente.
Além disso, tal orante, tal missionário. Procure imaginar: como voltou o fariseu e como voltou o publicano. Um voltou justificado, outro não. Um voltou para anunciar o Evangelho como missionário humilde, incluindo-se ele mesmo entre os necessitados de perdão e de salvação. Ele anuncia a verdade sem ter uma atitude arrogante. Ele anuncia a vida nova não como uma pessoa convencida da sua própria superioridade moral e religiosa. A missão do publicano convertido consiste em anunciar uma proposta humilde de amizade com Cristo. Trata-se de uma verdadeira humildade que nunca é ausência de verdade. É, antes, presença eficaz de uma verdade que julga, perdoa e salva quem anuncia e os seus interlocutores.
30º DomTComum - Lc 18,9-14 - Ano C – 26-10-25
“Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Lc 18,14)
No seu inspirado ensinamento, são impactantes os diferentes personagens que Jesus apresentou como modelos de vida e que eram, social e religiosamente, considerados “impuros” e “imperfeitos” entre os membros daquela comunidade judaica que resistia acolher a sua mensagem de amor e seu chamado libertador.
Por outro lado, Jesus denunciou com severidade as atitudes dos fariseus, porque eram exigentes, rigoristas, tradicionalistas, intolerantes, sentindo-se superiores aos demais. Não sentiam a necessidade de se converterem e de restabelecerem a fraternidade com aqueles que não eram de seu grupo.
Com frequência, pessoas assim são desumanas, pouco compassivas, aferram-se às suas opiniões e desprezam os outros. Sua autossuficiência lhes impede se reconhecerem como filhos de Deus e irmãos dos outros, porque Deus só pode ser reconhecido de verdade nos outros e através dos outros e, de uma maneira muito especial, no rosto dos mais oprimidos deste mundo.
A indiferença, o julgamento, a intolerância e a “imagem aureolada” de si mesmo que exige méritos, são sinais distintivos de um ego inflado em seu modo de se situar na vida e na religião. O ego é incapaz de compaixão e de empatia: vive fechado em sua couraça de necessidades e de medos, empenhando-se por conseguir uma existência agradável para si, à margem de qualquer outro critério. E a religião tem sido um campo fértil para a manifestação das mazelas de um ego prepotente, julgador, rigorista, vazio de vida.
A parábola contada por Jesus revela que o fariseu é um observante escrupuloso da lei e um praticante fiel de sua religião. Sente-se seguro no templo. Ora de pé e com a cabeça erguida. Sua oração é autocentrada: uma oração de louvor e ação de graças a Deus, mas não lhe dá graças por Sua grandeza, Sua bondade ou misericórdia, mas pela própria grandeza e por aquilo que realiza.
O ego é incapaz de compaixão e de empatia: vive fechado em sua couraça de necessidades e de medos, empenhando-se por conseguir uma existência agradável para si, à margem de qualquer outro critério – Adroaldo Palaoro
Ele pensa que pode “ficar de pé” diante de Deus, que pode estabelecer o confronto sem problemas, como de igual para igual. O fariseu não suplica a Deus e nem tem necessidade de ouvi-Lo; já eliminou as distâncias com as suas palavras e se ilude de ter uma linha direta com o Altíssimo.
Em 2º lugar, o fariseu despreza os outros. Como ele se considera perfeito e não vê nenhuma falha em si mesmo, considera-se superior aos outros. Ao mesmo tempo que se autoelogia, critica e despreza os outros. De fato, não descobre nenhum projeto divino sobre si, basta-lhe saber que é melhor que todos.
Na realidade, de acordo com o evangelho deste domingo, a oração é o lugar privilegiado onde cada pessoa deixa transparecer sua identidade; a oração é reveladora de quem é o ser humano. Observamos uma falsidade na oração do fariseu. Mais que orar, este homem se contempla a si mesmo. Narra sua própria história cheia de méritos. Necessita sentir-se com créditos diante de Deus e exibir-se como superior aos outros.
Na verdade, este homem não sabe o que é orar. Não reconhece a grandeza misteriosa de Deus nem confessa sua própria pequenez. Busca a Deus para enumerar diante d’Ele suas “boas obras” e despreza os outros: isso é próprio dos perfeccionistas e legalistas. Por detrás de sua aparente piedade se esconde uma oração “ateia”. Este homem não precisa de Deus, não lhe pede nada; na sua soberba, basta-se a si mesmo.
Em sua oração, o fariseu aparece centrado em si mesmo, naquilo que faz. Sabe o que ele não é: ladrão, injusto ou adúltero; nem tampouco é como o publicano, mas não sabe quem é ele na realidade.
O fariseu não suplica a Deus e nem tem necessidade de ouvi-Lo; já eliminou as distâncias com as suas palavras e se ilude de ter uma linha direta com o Altíssimo – Adroaldo Palaoro
A parábola nos leva a reconhecer quem de fato ele é, precisamente não pelo que faz (jejuar, pagar o dízimo...), mas pelo que deixa de fazer (relacionar-se bem com os outros).
A oração do publicano, no entanto, é muito diferente. Sabe que sua presença no templo é malvista por todos. Seu ofício de cobrador de impostos é odiado e desprezado. Não se desculpa; reconhece que é pecador. Suas batidas no peito e as poucas palavras que sussurra já dizem tudo: “Meu Deus, tem compaixão de mim que sou pecador!”.
Este homem sabe que não pode vangloriar-se. Não tem nada que oferecer a Deus, mas sim muito que receber d’Ele: seu perdão e sua misericórdia. Em sua oração há autenticidade. Este homem é pecador, mas está no caminho da verdade.
A oração do publicano é muito diferente. Não se desculpa; reconhece que é pecador. Suas batidas no peito e as poucas palavras que sussurra já dizem tudo: “Meu Deus, tem compaixão de mim que sou pecador!” – Adroaldo Palaoro
O fariseu não se encontra com Deus, mas com seu ego inflado. O publicano, pelo contrário, encontra a atitude correta diante de Deus: a atitude daquele que não tem nada e necessita tudo. Não se detém sequer a confessar com detalhe suas culpas. Reconhece-se pecador. Dessa consciência brota sua oração: “Tem compaixão deste pecador!”
Por estar longe de sua própria verdade, o fariseu não pode viver a prazerosa gratuidade – está esperando uma recompensa – e cai no desprezo do outro. Pelo contrário, o publicano apoia-se na verdade sobre si mesmo; e é a verdade que o salva e o reconcilia.
Jesus era um profundo conhecedor da condição humana; sabia que a pessoa consciente das suas imperfeições é mais disponível para acolher o anúncio do Reino. Sabemos que as escolhas de Jesus não caíram sobre os chamados “perfeitos”. As pessoas com quem Ele entrou em contato não eram conhecidas por suas boas maneiras nem por práticas religiosas; antes, eram pecadoras públicas.
A parábola narrada por Jesus tem força para desmascarar atitudes egoicas e que nos distanciam dos outros e do próprio Deus. Por “delicadeza”, ou para satisfazer os outros, ou por viver dependente da autoimagem aureolada, ou alimentar a perfeição..., podemos perder a vida, nossa vida tão bela, tão frágil e efêmera.
Somente quando integrarmos e nos reconciliarmos com os aspectos de nós mesmos que tínhamos negado ou até rejeitado, poderemos alcançar a paz e a harmonia estáveis. Portanto, nosso esforço não consiste em sermos “perfeitos”, mas “completos”. Na medida em que somos mais “completos”, porque acolhemos de maneira integral toda a nossa verdade, vamos nos tornando mais compassivos e humanos.
O que Deus quer de nós não pode ser conhecido por meio da busca da perfeição e das altas exigências que estabelecemos para nós mesmos. Pois é nisso que justamente se manifesta a nossa ambição. Queremos alcançar altos ideais para darmos a impressão de estar bem diante dos outros e, também, diante de Deus.
É esse modelo de perfeição que gerou demasiado sofrimento inútil, causando verdadeiros estragos na vivência do seguimento de Jesus. Gostaríamos de ser pessoas fortes, perfeitas, ascetas virtuosos; sonhamos ser onipotentes, “feitos para vencer” ... Na realidade, estamos mais preocupados com a própria glória, poder e perfeição que com a glória de Deus.
A salvação que esperamos não é fruto de nosso esforço e penitências, de nossa prática legal e de nossas virtudes perfeitas. Ela é puro dom de Deus, divino presente de seu coração de Pai. Só nos resta acolhê-la em atitude de humilde gratidão – Adroaldo Palaoro
E aqui nos deparamos com uma das práticas mais comuns e universais do ser humano: a justificação. Buscar continuamente argumentos para esconder nossas fragilidades e incoerências. Somos peritos em alimentar um “fariseu” dentro de nós, com a lei na mão e rigidez no coração.
Elaboramos discursos e mais discursos para nos autoconvencer e convencer os outros daquilo que julgamos que somos. Tanto esforço para nada. Impossível cobrir a verdade tão simples como evidente daquilo que, na realidade, somos: “pobres pecadores(as)”.
O “fariseu”, que todos hospedamos em nosso interior, realiza seu trabalho em silêncio, mas com uma eficácia impressionante: torna o nosso coração impermeável à experiência divina e petrifica nossa compaixão na relação com os outros.
O publicano, por outro lado, nos revela que basta redescobrir o caminho da humildade (do húmus), bem no fundo de nós mesmos: este é o lugar da oração.
E quanto mais baixo for o ponto de partida, tanto mais alta ela vai subir...
A salvação que esperamos não é fruto de nosso esforço e penitências, de nossa prática legal e de nossas virtudes perfeitas. Ela é puro dom de Deus, divino presente de seu coração de Pai. Só nos resta acolhê-la em atitude de humilde gratidão.
Para meditar na oração:
A humildade é a coragem de acolher a verdade sobre si mesmo; ela é o caminho para Deus; ela é a resposta para a experiência de Deus; ela é o lugar onde nós podemos ir ao encontro do Deus verdadeiro. A humildade é acolher as próprias fragilidades e alargar o espaço interior para que o Infinito possa atuar livremente nas “fendas” de nossa existência.
- Trazer à memória os possíveis sintomas da presença do “fariseu” em sua relação com os outros: rigidez, julgamento, legalismo, perfeccionismo, indiferença, religiosidade autocentrada...
Jesus continua ensinando por meio de parábolas. Neste domingo, ele se dirige àqueles que confiam em sua própria justiça e desprezam os outros. É a partir dessa perspectiva que lemos o texto do evangelho de Lucas. Jesus se dirige àqueles que confiam que, por seus próprios méritos, já estão justificados, o que os leva a uma atitude de desprezo pelos outros. A parábola menciona dois homens que sobem ao Templo para rezar: “um era fariseu, o outro cobrador de impostos”.
Neste domingo, ele se dirige àqueles que confiam em sua própria justiça e desprezam os outros – Ana Casarotti
Recriando a cena, lembremos que os fariseus eram um grupo bastante variado, pois havia sacerdotes e leigos, pessoas simples e também pessoas com certa influência, cultas ou artesãos. Entre as características fundamentais desse grupo heterogêneo, destacam-se o pagamento do dízimo e o cumprimento das prescrições sobre a pureza. O grande risco desse grupo era colocar a observância das normas acima da pessoa.
Os publicanos eram aqueles que cobravam os impostos que deviam ser pagos a Roma. Eles, os publicanos, haviam comprado o direito de arrecadar os impostos, pelo que tinham a seu serviço um grupo de pessoas que, em diferentes lugares, operava cobrando esses impostos da população. Em nossa linguagem atual, era uma espécie de terceirização dos impostos que Roma impunha a cada um dos países que lhe estavam submetidos. Por isso, o comerciante, o lavrador, o pescador, todos os residentes, estavam expostos ao pagamento exigido pelos publicanos. Eram pessoas desprezadas e consideradas ladras porque, a partir do seu lugar, exploravam o povo
Jesus descreve a oração de cada um deles: O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda'.
O fariseu está de pé e reza “em seu íntimo”. Ele não faz grandes manifestações externas e parece agradecer a Deus por não ser desonesto, ladrão ou adúltero. No entanto, essa ação de graças não é sincera, pois ele despreza quem está ao seu lado. Seu discurso é cheio de arrogância, e o orgulho de se considerar um bom fariseu, que segue à risca as regras da Lei, faz com que ele despreze quem também está rezando ao seu lado. Sua oração, mais do que uma conversa sincera com Deus e uma demonstração de confiança, parece ser uma espécie de lembrete para si mesmo e para Deus de tudo o que ele faz. É como se ele estivesse cobrando de Deus uma justificativa. Tanto na sua observância rigorosa quanto no pagamento do dízimo, ele espera receber alguma recompensa, e não faz isso de forma espontânea ou por gratidão.
O fariseu, tanto na sua observância rigorosa quanto no pagamento do dízimo, espera receber alguma recompensa. (…) O cobrador de impostos, carregado pelo peso da sua condição, não tem motivos para se orgulhar e busca no olhar misericordioso de Deus um pouco de esperança – Ana Casarotti
O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!'
Ele sabe que é pobre, pecador e indigno, mas mesmo assim se dirige a Deus de acordo com sua realidade. Reconhece seus erros, seu trabalho já é considerado desonesto, não é bem visto pelo povo e serve ao império, mas ainda assim vai Templo. Talvez tenha enfrentado olhares de reprovação, insultos ou gestos de desprezo para estar lá, mas sente a necessidade de rezar e de se conectar com Deus. Carregado pelo peso da sua condição, não tem motivos para se orgulhar e busca no olhar misericordioso de Deus um pouco de esperança. É alguém que precisa de Deus, que pede e implora, mostrando quem realmente é, sem máscaras.
“Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado".
Mais uma vez, Jesus revela a falsidade de uma religião que se baseia apenas em cumprimentos e ações externas, sem promover um diálogo de confiança ou uma relação verdadeira de filiação com Deus. As palavras do fariseu mostram que ele se vê separado dos demais, considerando-os ladrões, desonestos e adúlteros. Ao mesmo tempo, ele destaca algumas práticas importantes, como o jejum e a esmola. O texto nos mostra um homem orgulhoso de suas ações e de suas atitudes, mas que não sente a necessidade de Deus. Por isso, ele não volta para casa justificado; não pede nada a Deus, pois acredita que sua própria vida e seus gestos já lhe dão essa justificativa.
Estou convencido de que a opção prioritária pelos pobres gera uma renovação extraordinária tanto na Igreja como na sociedade – Papa Leão XIV
O Papa Leão XIV, em sua nova Exortação Apostólica, afirma: "Estou convencido de que a opção prioritária pelos pobres gera uma renovação extraordinária tanto na Igreja como na sociedade, quando somos capazes de nos libertar da autorreferencialidade e somos capazes de ouvir o seu clamor" (DT 7). Jesus soube escutar o pedido sincero de um cobrador de impostos, é um clamor que vem do fundo do coração e ele nos convida a aprender a ouvir assim também, percebendo a presença de Deus na vida das pessoas.
As palavras do Papa Leão nos ajudam a entender isso, ensinando que devemos reconhecer a presença de Deus na vida daqueles que estão em necessidade e carência: “Nos rostos feridos dos pobres, encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo. Ao mesmo tempo, talvez devêssemos falar mais corretamente dos múltiplos rostos dos pobres e da pobreza, pois se trata de um fenômeno variado; de fato, existem muitas formas de pobreza: a de quem não tem meios de subsistência material, a de quem é socialmente marginalizado e não tem meios para expressar sua dignidade e capacidades, a de quem se encontra em uma condição de fraqueza ou fragilidade pessoal ou social, a de quem não tem direitos, nem espaço, nem liberdade (DT 9).
A parábola do fariseu e do publicano geralmente desperta em muitos cristãos uma grande rejeição do fariseu que se apresenta diante de Deus, arrogante e seguro de si mesmo, e uma simpatia espontânea para com o publicano que humildemente reconhece seu pecado. Paradoxalmente, o relato pode despertar em nós este sentimento: “Agradeço-Te, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.
Para ouvir corretamente a mensagem da parábola, temos de ter em mente que Jesus não a conta para criticar os setores fariseus, mas para sacudir a consciência de “alguns que presumiam serem homens de bem e desprezavam os outros”. Entre estes encontramo-nos, certamente, não poucos católicos dos nossos dias.
A oração do fariseu revela-nos sua atitude interior: “Oh Deus! Te dou graças porque não sou como os outros”. Que tipo de oração é esta de acreditar que é melhor que os outros? Mesmo um fariseu, fiel cumpridor da lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se justo diante de Deus e precisamente por isso se converte em juiz que despreza e condena os que não são como ele.
O publicano, pelo contrário, só consegue dizer: “Oh Deus! Tem compaixão deste pecador”. Este homem reconhece humildemente o seu pecado. Não se pode vangloriar da sua vida. Entrega-se à compaixão de Deus. Não se compara com ninguém. Não julga os outros. Vive verdadeiramente ante si mesmo e ante Deus.
A parábola é uma penetrante crítica que desmascara uma atitude religiosa de engano, que nos permite viver seguros da nossa inocência, enquanto condenamos desde a nossa suposta superioridade moral a todos os que não pensam ou agem como nós.
Circunstâncias históricas e correntes triunfalistas afastadas do evangelho fizeram os católicos especialmente propensos a esta tentação. Por isso, temos de ler a parábola, cada um em atitude autocrítica: por que achamos que somos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais perto de Deus dos que não são praticantes? O que está no fundo de certas orações pela conversão dos pecadores? O que é reparar os pecados dos outros sem viver convertendo-nos a Deus?
Em certa ocasião, ante a pergunta de um jornalista, o Papa Francisco fez esta afirmação: “Quem sou eu para julgar um gay?”. As suas palavras surpreenderam a quase todos. Aparentemente, ninguém esperava uma resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a atitude de quem vive em verdade ante Deus.
A primeira leitura deste domingo é tirada do livro do Eclesiástico. Este livro foi escrito uns 200 anos, mais ou menos, antes de Cristo e o povo de Deus estava sob o poder dos Selêucidas, com forte influência da cultura helênica (dos gregos). A dominação não é somente política e social, mas também cultural. Acabar com a cultura dos povos dominados tem como resultado um desprezo pelos valores e virtudes de um povo.
Assim, o autor do livro do Eclesiástico queria defender o que havia de mais profundo da cultura do povo de Israel, que estava se deixando levar pela cultura grega. Dentre os valores da cultura e religião do povo de Israel estava a defesa dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Por isso, Eclesiástico é bastante concreto ao afirmar que Deus ouve a prece do pobre e que não adianta tentar comprar a Deus com cultos e orações, mas não praticar a justiça e escravizar os irmãos.
É preciso cumprir os mandamentos de Deus em relação à proteção dos pobres e fracos. Assim, a verdadeira religião que agrada a Deus é aquela que defende os pobres, pois as preces deles atravessam as nuvens e chegam até Deus. De nada adianta louvar a Deus pela manhã e explorar o pobre à tarde. Deus não é conivente com essa prática.
A segunda leitura, seguramente escrita por um discípulo de Paulo, confirma a certeza do apóstolo de ter feito o melhor de si no anúncio e vivência da Boa Nova. Por isso, ele pode afirmar: Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé! Feliz daquele que pode ter essa convicção no fim de sua vida.
No evangelho, Lucas continua mostrando que no caminho a Jerusalém Jesus vai ensinando aos seus discípulos o que é fundamental para ser um seguidor dele. No episódio de hoje, reprova a atitude falsa e hipócrita daqueles que louvam a Deus com os lábios e com o coração desprezam os seus irmãos.
É melhor reconhecer-se pecador e necessitado da misericórdia de Deus do que ser um religioso presunçoso. Nada mais contrário à fé que descolar a vida prática daquilo que se diz crer. Crer em Deus é praticar a justiça, ter humildade para reconhecer-se pecador e suplicar constantemente a misericórdia do Pai.
(Confira esta tradução feita pelo Tradutor Google com o texto original em espanhol, que está logo após a tradução)
XXX DOMINGO DO ANO – CICLO "C"
1ª Leitura (Eclo 35,12-14.16.18):
Tanto esta primeira leitura quanto o salmo de hoje (Sl 33), especialmente a antífona ("O pobre clamou ao Senhor, e o Senhor o ouviu"), enfatizam a atenção de Deus às orações dos pobres, dos aflitos e dos humildes. São um convite à confiança em Deus e, portanto, à oração sem desânimo, como nos ensinou o Evangelho do último domingo.
Evangelho (Lc 18,9-14):
Assim como no domingo anterior, a primeira frase já nos dá a chave para entender a parábola: "E propôs esta parábola a alguns que se julgavam justos e desprezavam todos os outros" (Lucas 18:9).
Portanto, a parábola é dirigida especialmente a essa classe de pessoas, que mais tarde são exemplificadas pela atitude de um fariseu. O texto grego diz literalmente que "eles estavam persuadidos, convencidos (verbo pei, qw) de que eram justos", isto é, de que tinham a aprovação de Deus. Quase como consequência imediata dessa atitude, diz-se que eles "desprezavam" os outros, considerando-os injustos, como aqueles reprovados por Deus. Para "desprezavam", usa-se o verbo ἐξουθενέω ( exoutheneō ) , que também pode ser traduzido como "não reter nada", tratar com desprezo (como exemplo, temos seu uso em Lucas 23:11 para apontar o tratamento desdenhoso de Jesus por Herodes e seus guardas durante a Paixão).
A parábola nos mostra dois homens orando: um fariseu e um cobrador de impostos . Essa apresentação inicial foi particularmente eloquente para os contemporâneos de Jesus, pois eram duas figuras representativas do judaísmo da época.
Os fariseus eram um grupo dentro do judaísmo caracterizado pela estrita observância da lei, o que os levou a se separarem dos demais, dos não observantes. Flávio Josefo os descreve assim: "Um grupo dentro do judaísmo oficial, que se distinguia particularmente pela estrita observância das prescrições religiosas e pela interpretação formalista da lei" (Bell. I, 5, 2, n. 110). Hoje, isso equivaleria a dizer: um homem religioso, um fiel seguidor dos mandamentos, subia ao Templo para orar .
Em contraste, temos um publicano , um cobrador de impostos, um homem vendido ao poder dominante, um ladrão do dinheiro do povo e socialmente considerado um pecador. Hoje, diríamos: um pecador subiu ao Templo para orar, um homem sem-vergonha que não se importava com a lei ou a honra .
Esta é a face externa dos personagens e o julgamento que a sociedade faz deles. A parábola se concentra em descrever sua oração diante de Deus. Sabemos que tanto os gestos quanto as palavras revelam o que abunda no coração. Isso é particularmente verdadeiro em relação aos gestos e palavras dirigidos a Deus, pois na oração o homem se revela como realmente é . O fariseu ora em pé, segundo o costume da época, e presumimos que ora de frente, no pátio dos israelitas, pois se sente próximo de Deus. O texto grego aqui repete o pronome reflexivo "si mesmo" (πρὸς e `auto.n) usado no versículo inicial, razão pela qual alguns o traduzem como "orando em si mesmo"; mas outros como "orando para si mesmo". Como F. Bovon1 corretamente aponta, esta expressão grega destaca que o fariseu, em vez de falar com Deus, fala consigo mesmo, isolando-se de Deus e dos outros. Em sua oração, dando graças a Deus, ele se compara aos outros, que considera ladrões, injustos e adúlteros (a referência ao Decálogo é indiscutível: cf. Êx 20,14-15; Dt 5,17-18); e também se compara "àquele" publicano . Então, olha para si mesmo e lista seus atos virtuosos que vão além do que é exigido: seu jejum duas vezes por semana e seu pagamento do dízimo de tudo o que adquire. Ele agradece a Deus, mas com desdém pelos outros e autoexaltação. Em vez de pedir algo a Deus, ele lhe mostra suas obras meritórias. Além disso, a caridade e a justiça estão conspicuamente ausentes da lista de suas obras virtuosas (cf. Lc 11,42: "Mas ai de vós, fariseus! Porque pagais imposto sobre a hortelã, a arruda e todas as hortaliças, e negligenciais a justiça e o amor de Deus! Estas são as coisas que deveis praticar, e não as outras que negligenciais.").
Em contraste, o publicano mantém-se à distância (presumimos que se refira ao "santo dos santos", o lugar da presença de Deus), pois sabe que está longe de Deus devido à sua vida pecaminosa. Ele mantém o olhar baixo (o texto grego diz literalmente que ele "recusou-se a levantar os olhos para o céu: οὐκ ἤθελεν οὐδὲ τοὺς ὀφθαλμοὺς ἐπᾶραι εἰς τὸν οὐρανόν"), um sinal de arrependimento e, talvez, vergonha por sua condição de pecador. Além disso, como sinal de dor e culpa, ele bate no peito, como se invocasse um pedido de perdão do fundo do coração: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, sou um pecador". O verbo geralmente traduzido como "tem misericórdia" (i `la, skomai) não é o que comumente aparece (como no caso dos dez leprosos em 17:13; ou do cego em 18:38), mas pertence à esfera cúltico-sacrificial. Literalmente, seria: "sê misericordioso comigo"; "perdoa-me, expia-me ou desculpa-me", visto que está relacionado ao propiciatório (i `lasth, rioj) do templo onde os pecados eram expiados (cf. Lv 16). Encontramos esse verbo novamente no Novo Testamento apenas em Hebreus 2:17, referindo-se ao sacerdócio de Cristo e sua ação de expiar pecados: "Portanto, era necessário que ele fosse semelhante aos irmãos em tudo, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo."
Portanto, mais do que compaixão, o que o publicano pede é a restauração de seu relacionamento com Deus por meio do perdão ou da expiação de seus pecados . Por isso, F. Bovon propõe traduzir assim: "Ó Deus, reconcilia-te comigo!". Em suma, ele reconhece que é pecador e pede sinceramente a Deus que o perdoe .
Comparando as duas frases, podemos concluir que "a linguagem do fariseu é a de um perfeito egoísta; enquanto o publicano espera apenas receber a misericórdia de Deus". 2 A narrativa termina com a avaliação de Jesus, que contrasta com a avaliação espontânea que o fariseu fazia de si mesmo e com a sua própria . De fato, o publicano desceu justificado, declarado justo por Deus. O fariseu , não.
A história termina com a frase repetida: "todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado: πᾶς ὁ ὑψῶν ἑαυτὸν ταπεινωθήσεται, ὁ δὲ ταπεινῶν ἑαυτὸν ὑψωθήσεται.", onde temos duas passivas teológicas já que Deus é quem, em última análise, humilha aquele que se exalta e exalta aquele que se humilha.
A mensagem da parábola é clara, ligando o início ao fim: aquele que se considera justo aos seus próprios olhos e despreza os outros não é justificado por Deus e será humilhado. Aquele que se reconhece pecador e se humilha por isso é justificado e será exaltado por Deus .
ALGUMAS REFLEXÕES:
G. Zevini e P.G. Cabra dizem em seu comentário que sempre nos sentimos incomodados diante deste Evangelho porque não nos identificamos plenamente com nenhum dos dois personagens. Em sua opinião, chegaríamos a ser um terceiro personagem porque às vezes nos assemelhamos ao fariseu e outras vezes ao publicano 3 . Por sua vez, R. Cantalamessa 4 diz que isso ocorre porque estamos em transição permanente entre a antiga e a nova aliança, sem assumir e viver plenamente a novidade do Evangelho que Jesus nos oferece. De fato, segundo este autor, a questão fundamental da parábola é o contraste entre a justificação pelas obras da lei e a justificação pela fé , tema tão desenvolvido por São Paulo e do qual Lucas se mostra um discípulo fiel. No livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 13,38-39), obra de Lucas, o apóstolo São Paulo prega isso como o cerne da primeira proclamação cristã ( kerygma ): "Saibam que a remissão dos pecados lhes foi anunciada por ele (Cristo). E a justificação, que vocês não puderam alcançar pela Lei de Moisés, graças a ele, é alcançada por todo aquele que crê."
Também J. Fitzmyer (5) corrobora essa interpretação ao afirmar que “o v. 14a é importante porque pode constituir uma indicação de que a doutrina neotestamentária sobre ‘justificação’ não é meramente fruto de reflexões teológicas posteriores, mas tem suas raízes nos ensinamentos do Mestre e até mesmo em sua atitude pessoal em relação às correntes pietistas de seu tempo. ‘Justo’, verdadeiramente ‘justo’, aos olhos de Deus não é aquele que cumpre as observâncias, mas aquele que, confiando na misericórdia divina, reconhece sua própria limitação e confessa sinceramente seu pecado.”
Agora, comecemos por esta base existencial: todos nós buscamos aprovação para o que fazemos, para o nosso modo de viver, seja de nós mesmos, dos outros ou de Deus . Buscamos ser justificados, isto é, declarados justos/corretos, ser reconhecidos como pessoas que fazem as coisas bem e trilham o caminho do bem. Portanto, existem três perspectivas que nos aprovam ou desaprovam: a nossa, a dos outros e a de Deus. A que realmente importa para nós é a perspectiva de Deus, cuja tarefa é justificar, tornar alguém justo e reconhecê-lo como tal ("Deus é quem justifica " , clama São Paulo em Romanos 8:30). Pois justo é aquele que agrada a Deus, aquele que está no caminho da salvação e da santidade.
Vemos, portanto, que o fariseu da parábola não busca a justificação ou aprovação de Deus, mas sim justifica-se a si mesmo . E, ao fazer isso, engana a si mesmo, engana os outros e, pior ainda, não agrada a Deus; não entra no caminho da salvação. Em outro lugar, Jesus já havia dito a mesma coisa diretamente aos fariseus: "E disse-lhes (aos fariseus): Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque o que entre os homens é elevado é abominável diante de Deus" (Lucas 16:15).
Essa autojustificação do fariseu é evidente em sua oração, onde ele nomeia Deus apenas uma vez e então nomeia a si mesmo usando a primeira pessoa do singular: Eu jejuo, pago o dízimo, não sou como os outros homens que são pecadores...
Agora, "este Evangelho é relevante e deve nos ajudar a ver como está a nossa vida espiritual. Mesmo no catolicismo, a tentação do farisaísmo pode se infiltrar, de acreditar no poder das próprias obras, à parte da graça de Deus, de fazer orações vazias, de realizar práticas de piedade — até mesmo a Eucaristia — que servem apenas para olhar para nós mesmos". 6
A essa falta de humildade do fariseu se acrescenta o seu orgulho, a sua falta de caridade para com o próximo, pois se compara aos “outros” e despreza a todos, especialmente o publicano.
Pelo contrário, o publicano reconhece seu pecado e pede a Deus a graça de ser justificado por Ele . Ele espera a justificação como um dom gratuito da misericórdia de Deus que o retornará ao caminho da salvação. E por causa dessa atitude humilde e confiante, ele voltou para casa justificado . Ele acreditou no amor de Deus, isto é, foi justificado por sua fé; tornou-se agradável a Deus por ter acreditado em Sua misericórdia e ter pedido perdão. Pois a fé é, antes de tudo, confiança no amor de Deus, em Seu poder salvador. É por isso que Jesus repete no Evangelho àqueles que confiam em Sua Palavra e em Seu Poder: A tua fé te salvou . Em outras palavras: se você acredita que a justificação vem somente de Deus, que somente Ele pode perdoar pecados, você está no caminho da salvação. Por outro lado, se você coloca toda a sua confiança em seu próprio cumprimento da lei, na autojustificação, você permanece isolado dentro de seu próprio ego, sem entrar no caminho da salvação.
Seguindo R. Cantalamessa, podemos ver o publicano e o fariseu representando duas categorias de pessoas que Jesus encontra constantemente no Evangelho. Uma são os pecadores (que, segundo a concepção da época, inclui todos os doentes e aqueles afetados por algum mal) e que, portanto, não agradam a Deus e não são justos. A outra são aqueles que "se consideram justos", desprezam os outros e, portanto,
Eles também não agradam a Deus; vivem uma falsa justiça: a autojustificação. O que o Evangelho nos diz sobre isso é que, entre essas duas categorias de pessoas, os mais distantes da salvação são aqueles que se consideram justos, não pecadores. E que Jesus veio buscar e chamar os pecadores para oferecer-lhes a conversão, a entrada no caminho da salvação, no Reino. Ele apenas lhes pede que se arrependam, que peçam e creiam no perdão de Deus. Se fizerem isso, serão justificados, como o publicano da parábola.
Aqui podemos encontrar a mesma pergunta que foi feita a São Paulo quando anunciou isto: e as obras, as boas ações, onde se encaixam? São inúteis? Elas vêm em segundo lugar, deixando o primeiro lugar para a obra de Deus, para a Sua graça. Pois as boas obras são o efeito, não a causa, da nossa justificação. Esta é gratuita, realizada pelo amor infinitamente misericordioso de Deus manifestado em Cristo Jesus.
Concluindo, vemos que a intenção da parábola é usar o publicano como exemplo para que todos, de alguma forma, possamos nos identificar com ele. A humildade de coração que sempre nos faz sentir pecadores diante de Deus é mais uma questão teológica do que moral . De fato, é uma ocorrência constante para os santos, especialmente no último período de suas vidas, confessar-se como pecadores. De um ponto de vista estritamente moral, isso não é justo, visto que vivem com virtude heroica. Mas de um ponto de vista teológico e místico, eles estão plenamente conscientes de sua condição pecaminosa e da obra da graça de Deus neles. Portanto, eles não hesitam em se reconhecer como pecadores e até mesmo em se identificar com o publicano. Sua grande proximidade com Deus e seu amor misericordioso revela a eles sua pequenez, seu nada e sua miséria. Mas eles vivem isso pacificamente, sem se concentrar em si mesmos, mas sim impulsionados em direção ao amor misericordioso de Deus. Por essa razão, eles nunca se consideram superiores aos outros nem assumem a posição de juízes sobre os outros. Eles sabem que são pecadores por natureza e confessam isso, mas a certeza de serem amados por Deus é muito mais forte dentro deles. E isso, e nada mais, é humildade ou pobreza de coração. Como disse Chesterton: "Eu reconheço um santo em alguém que se reconhece como pecador."
É quase inevitável mencionar aqui Santa Teresa do Menino Jesus e seu caminho de confiança, que a levou a não mais se considerar justa e a se abrir completamente, "de mãos vazias", à ação justificadora de Deus. Há um claro contraste entre a oração do fariseu e a de Teresa, especificamente em seu Ato de Oferecimento ao Amor Misericordioso, onde ela reza: "Depois do meu exílio da terra, espero ir gozar de ti em minha pátria, mas não quero acumular méritos para o céu. Quero trabalhar somente por teu amor, com o único propósito de te agradar, de consolar teu Sagrado Coração e de salvar almas que te amarão eternamente. No entardecer desta vida, aparecerei diante de ti de mãos vazias, pois não te peço, Senhor, que preste contas das minhas obras. Todas as nossas justiças trazem manchas aos teus olhos. Portanto, quero revestir-me da tua própria justiça e receber do teu amor a posse eterna de ti."
Em suma, como HU von Balthasar 7 corretamente diz : “O homem que tem sua própria perfeição como objetivo final nunca encontrará Deus; mas aquele que tem a humildade de deixar a perfeição de Deus agir em seu próprio vazio – não passivamente, mas trabalhando com os talentos que lhe foram concedidos – sempre será “justificado” por Deus.”
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Pureza absoluta
Talvez vocês não mantenham as mesmas contas...
Senhor Jesus
Olha o quanto eu me esforço e coleciono
Acumulo minhas preocupações como um tesouro
E eu percebo, às vezes, só às vezes
Que você faça tudo
Eu busco a santidade, exausto, determinado
Sou atraído pela vertigem, não olho para o céu.
Pouco a pouco com ritos mecânicos
Minha visão está turva e estou cego.
Você espera que eu defenda minhas conquistas?
Então serei mais digno que os outros?
Ou talvez você não mantenha as mesmas contas,
E veja como aos poucos eu me transformo
Molde esta argila novamente à sua imagem.
Como no princípio nos criaste
Um filho como filho sob o olhar
Terno e misericordioso do Pai
Que a humildade corra em meu sangue
E eu me prostro como pecador dia após dia
Para poder te adorar até o fim
Em espírito e em verdade, como ordenaste. Amém.
1 Evangelho segundo São Lucas III (Segue-me; Salamanca 2004) 260.
2 J. Donahue, O Evangelho como Parábola (Mensajero; Bilbao 1997) 245.
3 Cf. G. Zevini – P.G. Cabra, Lectio Divina para Todos os Dias do Ano, vol. 15 (Verbo Divino; Estella 2006) 289. 4 La Parola e la vita. Anno C (Cittá Nuova; Roma 1979) 389-396.
5 O Evangelho segundo Lucas, Vol. III (Cristianismo; Madrid 1987) 857.
6 CEA, Hoje estarás comigo no Paraíso. Orientações para as Homilias do 28º ao 34º Domingo “Durante o Ano ”, Buenos Aires 1998, 41.
7 Luz da Palavra. Comentários às Leituras Dominicais (Encuentro; Madrid 1998) 292 .
DOMINGO XXX DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Eclo 35,12-14.16.18):
Tanto esta primera lectura como el salmo de hoy (Sal 33), en especial la antífona ("El pobre invocó al Señor y él lo escuchó"), insisten en la atención prestada por Dios a la oración del pobre, del afligido y del humilde. Son una invitación a la confianza en Dios y, por tanto, a orar sin desanimarse, como nos enseñaba el evangelio del domingo pasado.
Evangelio (Lc 18, 9-14):
Al igual que el domingo anterior, la primera frase nos da ya la clave para entender la parábola: "Y refiriéndose a algunos que se tenían por justos y despreciaban a los demás, dijo también esta parábola" (Lc 18,9).
Por tanto, la parábola se dirige especialmente a esta clase de personas, que más adelante son ejemplificadas con la actitud de un fariseo. El texto griego literalmente dice que "estaban persuadidos, convencidos (verbo pei ,qw) a sí mismos, de ser justos", o sea de tener la aprobación de Dios. Casi como consecuencia inmediata de esta actitud, dice que "despreciaban" a los demás, los tenían como injustos, como reprobados por Dios. Para “despreciaban” se utiliza el verbo ἐξουθενέω (exoutheneō), que puede traducirse también por "tener en nada", tratar con desprecio (como ejemplo tenemos su uso en Lc 23,11 para señalar el trato despectivo de Herodes y sus guardias hacia Jesús en la pasión).
La parábola consiste en mostrarnos a dos hombres en oración: un fariseo y un publicano. Esta primera presentación era por demás elocuente para los contemporáneos de Jesús, ya que son dos figuras representativas del judaísmo de la época.
Los fariseos constituían un grupo dentro del judaísmo caracterizado por su estricta observancia de la ley que los llevaba incluso a separarse de los demás, de los no observantes. Flavio Josefo los describe de esta manera: «Un grupo dentro del judaísmo oficial, que se distinguía particularmente por su estricta observancia de las prescripciones religiosas y por su interpretación formalista de la ley» (Bell. I, 5, 2, n. 110). Hoy equivaldría a decir: subió al Templo a orar un hombre religioso, fiel cumplidor de los mandamientos.
En contraste tenemos un publicano, un cobrador de impuestos, o sea un hombre vendido al poder dominante, un ladrón de los dineros del pueblo y socialmente considerado un pecador. Hoy diríamos: subió al Templo a rezar un pecador, un desfachatado a quien no le importan la ley ni el honor.
Esta es la cara externa de los personajes y el juicio de la sociedad sobre ellos. La parábola se concentra en describirnos su oración ante Dios. Sabemos que tanto los gestos como las palabras revelan lo que abunda en el corazón. En particular los gestos y las palabras dirigidas a Dios, pues en la oración el hombre se muestra tal cual es. El fariseo reza de pie, según la costumbre de entonces, y suponemos que adelante, en el atrio de los israelitas, pues se siente cerca de Dios. El texto griego vuelve a repetir aquí el pronombre reflexivo "sí mismo" (πρὸς e `auto.n) que utilizó en el versículo inicial, por lo que algunos traducen “oraba en su interior”; pero otros “oraba para sí mismo”. Como bien nos indica F. Bovon1esta expresión griega pone de relieve que el fariseo más que hablar a Dios se habla a sí mismo aislándose de Dios y de los demás. En su oración, dando gracias a Dios, se compara con los demás, a quienes juzga como ladrones, injustos y adúlteros (la referencia al decálogo es indiscutible: cf. Ex 20,14-15; Dt 5,17-18); y también se compara con “ese” publicano. Luego se mira a sí mismo y enumera sus actos virtuosos que van más allá de lo exigido: sus ayunos dos veces por semana y su pago del diezmo sobre todo lo que adquiere. Agradece a Dios, pero despreciando a los demás y exaltándose a sí mismo. Más que pedirle algo a Dios, le muestra sus obras meritorias. Además, en la lista de sus obras virtuosas brillan por su ausencia la caridad y la justicia (cf. Lc 11,42: "Pero ¡ay de ustedes, fariseos, que pagan el impuesto de la menta, de la ruda y de todas las legumbres, y descuidan la justicia y el amor de Dios! Hay que practicar esto, sin descuidar aquello").
En contraste, el publicano se coloca a distancia (suponemos del “santo de los santos”, lugar de la presencia de Dios), pues se sabe lejano de Dios por su vida pecadora. Tiene la mirada baja (el texto griego dice literalmente que "no quería levantar los ojos hacia el cielo: οὐκ ἤθελεν οὐδὲ τοὺς ὀφθαλμοὺς ἐπᾶραι εἰς τὸν οὐρανόν"), signo de arrepentimiento y, tal vez, de vergüenza por su condición de pecador. Además, como signo de dolor y de culpa se golpea el pecho, como haciendo brotar de lo más profundo de su corazón una súplica de perdón: "Oh Dios, ten compasión de mí, soy un pecador". El verbo que se suele traducir por "ten compasión" (i `la,skomai) no es el que aparece comúnmente (como en el caso de los diez leprosos en 17,13; o del ciego en 18,38) sino que pertenece al ámbito cultual-sacrificial. Literalmente sería: "sé propicio conmigo"; “perdóname, expíame o excúlpame” pues está relacionado con el propiciatorio (i `lasth,rioj) del templo donde se expiaban los pecados (cf. Lv 16). Este verbo lo volvemos a encontrar en el Nuevo Testamento solamente en Heb 2,17 referido al sacerdocio de Cristo y su acción de expiar los pecados: "En consecuencia, debió hacerse semejante en todo a sus hermanos, para llegar a ser un Sumo Sacerdote misericordioso y fiel en el servicio de Dios, a fin de expiar los pecados del pueblo".
Por tanto, más que compasión lo que pide el publicano es el restablecimiento de su relación con Dios mediante el perdón o expiación de sus pecados. Por ello F. Bovon propone traducirlo: "¡Oh Dios, reconcíliate conmigo!". En breve, se reconoce pecador y pide sinceramente perdón a Dios por ello.
Comparando las dos oraciones podemos concluir que “el lenguaje del fariseo es el de un perfecto egoísta; mientras que el publicano sólo espera que se le conceda la misericordia de Dios”2. La narración termina con la valoración de Jesús, que está en contraposición a la espontánea valoración social; y también a la que el fariseo tenía de sí mismo. En efecto, el publicano bajó justificado, declarado justo por Dios. El fariseo no.
El relato concluye con la repetida frase: "todo el que se exalta será humillado y el que se humilla será exaltado: πᾶς ὁ ὑψῶν ἑαυτὸν ταπεινωθήσεται, ὁ δὲ ταπεινῶν ἑαυτὸν ὑψωθήσεται.", donde tenemos dos pasivos teológicos pues Dios es el que, en definitiva, humilla al que se exalta y exalta al que se humilla.
Es claro el mensaje de la parábola uniendo el comienzo y el final: el que se considera justo a sus propios ojos y desprecia a los demás, no es justificado por Dios y será humillado. El que se reconoce pecador, y se humilla por esto, es justificado y será exaltado por Dios.
ALGUNAS REFLEXIONES:
G. Zevini y P. G. Cabra dicen en su comentario que siempre nos sentimos incómodos ante este evangelio porque no nos sentimos identificados del todo con ninguno de los dos personajes. En su opinión, nosotros vendríamos a ser un tercer personaje porque a veces nos parecemos al fariseo y otras al publicano3. Por su parte R. Cantalamessa4dice que esto se debe a que estamos en transición permanente entre la antigua y la nueva alianza, sin terminar de asumir y de vivir plenamente la novedad del evangelio que nos ofrece Jesús. En efecto, según este autor, la cuestión de fondo de la parábola es la contraposición entre la justificación por las obras de la ley y la justificación por la fe, tema tan desarrollado por San Pablo y del cual Lucas se muestra fiel discípulo. En el libro de los Hechos de los Apóstoles (cf. 13,38-39), obra de Lucas, el apóstol San Pablo predica esto como núcleo del primer anuncio cristiano (kerygma): "Ustedes deben saber que la remisión de los pecados les ha sido anunciada por él (Cristo). Y la justificación que ustedes no podían alcanzar por la Ley de Moisés, gracias a él, la alcanza todo el que cree”.
También J. Fitzmyer 5apoya esta interpretación cuando afirma que “el v. 14a es importante porque puede constituir un indicio de que la doctrina neotestamentaria sobre la «justificación» no es mero fruto de reflexiones teológicas posteriores, sino que hunde sus raíces en la enseñanza del Maestro e incluso en su actitud personal frente a las corrientes pietísticas de su época. «Justo», verdaderamente «justo», a los ojos de Dios no es el que cumple las observancias, sino el que, fiándose de la misericordia divina, reconoce su propia limitación y confiesa sinceramente su pecado”.
Ahora bien, partamos de esta base existencial: todos buscamos la aprobación de lo que hacemos, de cómo vivimos, sea ante nosotros mismos, ante los demás o ante Dios. Buscamos ser justificados, o sea, declarados justos/correctos, que reconozcan que hacemos bien las cosas y que caminamos por el camino del bien. Entonces hay tres miradas que nos aprueban o nos reprueban: la propia nuestra, la de los demás y la de Dios. La que realmente debe importarnos es la mirada de Dios a quien corresponde justificar, hacer justo a alguien y reconocerlo como tal ("Dios es quien justifica", grita san Pablo en Rom 8,30). Porque justo es el que agrada a Dios, el que está en el camino de la salvación y de la santidad.
Entonces vemos que el fariseo de la parábola no busca la justificación o aprobación de Dios, sino más bien que se justifica a sí mismo. Y haciendo esto se engaña a sí mismo, engaña a los demás y, peor aún, no agrada a Dios, no entra por el camino de la salvación. En otro lugar ya Jesús les había dicho esto mismo a los fariseos de modo directo: "Y Él les dijo (a los fariseos): Ustedes son los que se justifican a sí mismos delante de los hombres, pero Dios conoce sus corazones, porque lo que entre los hombres es de alta estima, abominable es delante de Dios" (Lc 16,15).
Esta autojustificación del fariseo queda patente en su oración donde sólo nombra a Dios una vez y luego se nombra a sí mismo utilizando la primera persona singular: yo ayuno, yo pago el diezmo, yo no soy como los demás hombres que son pecadores…
Ahora bien, “este evangelio es actual y debe servirnos para mirar cómo anda nuestra vida espiritual. También en el catolicismo puede infiltrarse la tentación del fariseísmo, de creer en el poder de las propias obras al margen de la gracia de Dios, de hacer una oración vacía; de cumplir con prácticas de piedad ̶incluso la Eucaristía ̶que sólo sirven para mirar solamente nuestro yo.”6
A esta falta de humildad por parte del fariseo se le suma su soberbia, su falta de caridad con el prójimo pues se compara con los “demás” y los desprecia a todos, en especial al publicano.
Por el contrario, el publicano reconoce su pecado y pide a Dios la gracia de ser justificado por Él. Espera la justificación como un don gratuito de la misericordia de Dios que lo devolverá al camino de la salvación. Y por esta actitud humilde y confiada volvió a su casa justificado. Creyó en el amor de Dios, o sea que fue justificado por su fe, se volvió agradable a Dios por haber creído en su misericordia y haber pedido perdón. Porque la fe es en primer lugar la confianza en el amor de Dios, en su poder salvador. Por esto repite Jesús en el evangelio a los que confían en su Palabra y en su Poder: Tu fe te ha salvado. En otros términos: si crees que la justificación viene sólo de Dios, que sólo Él puede perdonar los pecados, estás en el camino de la salvación. En cambio, si pones toda la confianza en el propio cumplimiento de la ley, en la auto justificación, te quedas aislado en tu yo, sin entrar en el camino de la salvación.
Siguiendo a R. Cantalamessa, podemos ver representados en el publicano y en el fariseo dos categorías de personas con las que Jesús se encuentra permanentemente en el evangelio. Una son los pecadores (que según la concepción de la época incluye a todos los enfermos y a los afectados por algún mal) y que, por ello, no agradan a Dios, no son justos. Los otros son los que "se creen justos" a sí mismos, desprecian a los demás y, por ello,
tampoco agradan a Dios, viven una falsa justicia: la autojustificación. Lo que nos dice el evangelio al respecto es que, entre estas dos categorías de personas, la más alejada de la salvación son los que se creen justos, no los pecadores. Y que Jesús ha venido a buscar y llamar a los pecadores para ofrecerles la conversión, el ingreso en el camino de la salvación, en el Reino. Sólo les pide que se arrepientan, que pidan y crean en el perdón de Dios. Si hacen esto, quedan justificados, como el publicano de la parábola.
Aquí puede surgirnos la misma cuestión que le plantearon a San Pablo cuando anunciaba esto: ¿y las obras, las buenas acciones, dónde quedan, no valen nada? Quedan en segundo lugar, dejándole el primero a la obra de Dios, a su Gracia. Porque las buenas obras son efecto y no causa de nuestra justificación. Ésta es gratuita, causada por el infinito amor misericordioso de Dios manifestado en Cristo Jesús.
Concluyendo, vemos que la intención de la parábola es ponernos como ejemplo al publicano para que todos, en cierto modo, nos identifiquemos con él. Porque la humildad de corazón que nos hace sentirnos siempre pecadores ante Dios es más una cuestión teológica que moral. En efecto, es una constante que los santos, sobre todo en el último período de su vida, se confiesen como pecadores. Desde el punto estrictamente moral esto no es justo ya que viven con virtud heroica. Pero desde el punto de vista teologal, místico, son plenamente conscientes de su condición pecadora y de la obra de la gracia de Dios en ellos. Por eso no dudan en reconocerse pecadores y hasta en identificarse con el publicano. La gran cercanía a Dios y a su amor misericordioso les descubre su pequeñez, su nada y su miseria. Pero viven esto pacíficamente, sin centrarse en sí mismos, sino lanzados hacia el amor misericordioso de Dios. Por ello no se consideran nunca superiores a los demás ni toman la postura de jueces sobre los otros. Se saben de naturaleza pecadora y lo confiesan, pero es mucho más fuerte en ellos la certeza de ser amados por Dios. Y esto, y no otra cosa, es la humildad o pobreza de corazón. Como decía Chesterton: "Reconozco un santo en quien se reconoce pecador".
Es casi inevitable hacer referencia aquí a Sta. Teresita del Niño Jesús y su camino de la confianza, que la llevó a no considerarse justa y a abrirse totalmente, “con las manos vacías”, a la acción justificadora de Dios. Hay un claro contraste entre la oración del fariseo y la oración de Teresita, concretamente en su Acto de Ofrenda al Amor Misericordioso, donde reza: “Después del destierro de la tierra, espero ir a gozar de ti en la Patria, pero no quiero acumular méritos para el cielo, quiero trabajar sólo por tu amor, con el único fin de agradarte, de consolar a tu Sagrado Corazón y de salvar almas que te amen eternamente. En la tarde de esta vida, compareceré delante de ti con las manos vacías, pues no te pido, Señor, que lleves cuenta de mis obras. Todas nuestras justicias tienen manchas a tus ojos. Por eso yo quiero revestirme de tu propia Justicia y recibir de tu Amor la posesión eterna de Ti mismo”.
En fin, como bien dice H. U. von Balthasar7: “El hombre que tiene como meta última su propia perfección, jamás encontrará a Dios; pero el que tiene la humildad de dejar que la perfección de Dios actúe en su propio vacío – no pasivamente, sino trabajando con los talentos que se le han concedido – será siempre un «justificado» para Dios”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Pureza absoluta
Tal vez no lleves las mismas cuentas…
Señor Jesús
Mira cuánto me esfuerzo y recojo
Acumulo mis afanes como un tesoro
Y caigo en la cuenta, a veces, solo a veces
Que Tú lo haces todo
Pretendo la santidad, agotado decido
Me atrae el vértigo, no miro al cielo.
Poco a poco con mecánicos ritos
Nublada la mirada, estoy ciego.
¿Esperas que rinda de pie mis logros
así seré más digno que los otros?
O tal vez no lleves las mismas cuentas,
Y veas como de apoco me transformo
Forma este barro de nuevo, a tu imagen
Como en el principio nos creaste
Un hijo como Hijo bajo la mirada
Tierna y misericordiosa del Padre
Que la humildad corra por mi sangre
Y me postre pecador día tras día
Para poder hasta el fin, adorarte
En espíritu y verdad, como mandaste. Amén
1 El evangelio según san Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 260.
2J. Donahue, El evangelio como parábola (Mensajero; Bilbao 1997) 245.
3 Cf. G. Zevini – P. G. Cabra, La lectio divina para cada día del año vol. 15 (Verbo Divino; Estella 2006) 289. 4 La Parola e la vita. Anno C (Cittá Nuova; Roma 1979) 389-396.
5 El Evangelio según Lucas, T. III (Cristiandad; Madrid 1987) 857.
6 CEA, Hoy estarás conmigo en el paraíso. Orientaciones para las homilías desde el domingo XXVIII hasta el domingo XXXIV “Durante al Año, Buenos Aires 1998, 41.
7 Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 292.