10/11/2024
LINKS AUXILIARES:
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: 1 Reis 17,10-16
Salmo Responsorial: 145(146)R-Bendize minh'alma, bendize ao Senhor!
Segunda Leitura: Hebreus 9, 24-28
Evangelho: Marcos 12,38-44
Naquele tempo, ao ensinar, Jesus dizia: “Cuidado com os escribas! Eles fazem questão de andar com amplas túnicas e de serem cumprimentados nas praças, 39 gostam dos primeiros assentos na sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes. 40 Mas devoram as casas das viúvas, enquanto ostentam longas orações. Por isso, serão julgados com mais rigor. 41 Jesus estava sentado em frente do cofre das ofertas e observava como a multidão punha dinheiro no cofre. Muitos ricos depositavam muito. 42 Chegou então uma pobre viúva e deu duas moedinhas. 43 Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo: esta viúva pobre deu mais do que todos os outros que depositaram no cofre. 44 Pois todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver”.
Mc 12,38-44
Jesus diz que o critério de julgamento não é a quantidade, mas a plenitude.
Quantidade e plenitude são coisas diferentes. Amar a Deus “com todo o coração” significa confiar n'Ele, na sua providência, e servi-Lo nos nossos irmãos mais pobres sem esperar nada em troca, não é questão de carteira, mas de coração. Diante das necessidades dos outros, somos chamados a nos privar de algo essencial, não apenas do supérfluo; somos chamados a dar o tempo que nos é indispensável, não só o tempo que sobra; somos chamados a dar imediatamente e sem reserva alguns de nossos talentos, e não depois de tê-los usados para nossas finalidades pessoais ou de grupo.
Jesus é o único a notar essa caridade humilde da pobre viúva. A sua oferta passa despercebida de todos menos de Jesus? Por que Jesus é o único a ver o gesto da viúva? A razão é simples: Jesus vê o que faz a viúva porque Ele faz o que faz a viúva: Ele não oferece ao Pai somente o que lhe sobra; Jesus oferece ao Pai tudo. Jesus é o único que tem olhos para perceber o que faz a viúva, porque Ele mesmo dá, na sua pobreza, tudo o que possui e é.
A caridade que agrada a Deus é uma caridade plena de humildade, destituída de qualquer autocomplacência. A humildade protege a caridade, e a caridade faz com que a humildade não seja vazia.
Peçamos ao Senhor que nos admita na escola desta pobre viúva que Jesus faz subir à cátedra e apresenta como mestra do Evangelho vivo.
“Tomai cuidado com os mestres da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas...” (Mc 12,38)
32° DomTComum – Mc 12,38-44 – Ano B – 11-11-18
No evangelho deste domingo, os mestres da Lei (escribas) e a viúva constituem dois símbolos que encarnam maneiras de viver diametralmente opostas. Os primeiros se movem sob o impulso do poder e da vaidade, querendo oferecer uma imagem ostentosa e buscando reconhecimento, privilégios e dinheiro através de qualquer meio, inclusive usando da religião. Jesus denuncia as “largas túnicas” que costumam utilizar, nos ambientes mais diferentes, como sinal distintivo de superioridade.
No nível mais profundo, podemos considerar os “mestres da Lei” como símbolos do ego (religioso) que, carentes de interioridade, vivem em função de suas próprias necessidades e interesses narcisistas.
Por outro lado, a imagem da viúva representa a pessoa capaz de doar e de entregar-se (“tudo o que possuía para viver”), de maneira generosa e desapegada.
O contraste que o relato realça deixa transparecer o que cada um de nós vive em nosso interior. Em nós convivem o melhor e o pior, e em diferentes “doses”, tanto o “escriba” (o ego que gira constantemente em tono a si mesmo), como a “viúva” (a dimensão profunda que vive na compreensão e se expressa no amor que se entrega).
O evangelista Marcos só precisou de sete versículos para mostrar duas realidades de alto contraste e que põem em evidência duas formas de situar-se na vida e na religiosidade.
O relato deste domingo começa situando Jesus em seu ministério pedagógico. Como verdadeiro Mestre, ensinava às pessoas, ensinava com transparência e a partir da liberdade que o caracterizava. Nesta ocasião, seu ensinamento se converte em um conselho imperativo: “tomai cuidado com os mestres da Lei”. E dá razões pelas quais é preciso proteger-se das atitudes deles.
Certamente os escribas eram os “experts” e intérpretes oficiais e lícitos da Escritura. Gozavam de grande autoridade; buscavam sempre serem vistos e admirados; vestiam de forma especial; Jesus os denuncia porque eles gostavam de andar pelas praças com vestes exuberantes. Não é casualidade que também os denuncie como aqueles que “devoravam os bens das viúvas”, pois costumavam persuadi-las demonstrando serem muito devotos para administrar seus bens e aproveitar-se delas.
Eles são justamente o contrário daquilo que Jesus vem pregando; o conflito está armado. Estes líderes religiosos revelam a superficialidade na vivência e no compromisso de sua fé. Uma religiosidade baseada na aparência, na conservação de uma posição sócio-cultural, em manter um lugar visível e hierárquico, em alimentar um ego inflado e enaltecido que os conduz a viver de modo egocêntrico e egoista.
O seguimento de Jesus, no entanto, é um modo de viver descentrado, um compromisso existencial, onde não prevalece a ambição do ego, mas o esvaziamento e a saída de si mesmo para centrar-se no cuidado e no serviço aos demais.
A ambição e a atitude dos “mestres da Lei” não se extinguirão nunca, nem sequer nas comunidades cristãs. Ainda hoje, a figura do “mestre da lei” continua atuante, sobretudo quando os “ministros” (ordenados e não-ordenados) insistem no uso exagerado de vestimentas exóticas que tem sua origem no modo de vestir dos poderosos do império romano. Tal insistência parece indicar a necessidade, consciente ou inconsciente, de manifestar posição de poder ou uma carência de interioridade. A “cultura da exterioridade” e da busca do reconhecimento revelam o “complexo de pavão”, quando predomina a preocupação com as aparências, o espetáculo visual, a insistência em ser o centro das atenções nas celebrações, em buscar o elogio e serem admirados por todos.
Diante do espetáculo visual dos “mestres da lei”, o evangelista Marcos apresenta uma nova situação: a viúva que colocou duas moedinhas no cesto das ofertas e que servirá de contraste para compreender a mensagem de Jesus. Esta mulher é muito mais que uma viúva que depositou uma insignificância no cesto. Jesus realça esta figura simbólica que rompeu os esquemas patriarcais e religiosos dos poderosos judeus e, neste caso, dos escribas. Um simples gesto recuperou a dignidade de uma mulher que, por ser mulher, não tinha nenhuma visibilidade e, por ser viúva, estava numa posição de indigência absoluta, segundo a visão judaica.
O gesto dela desvela a essência do coração da nova comunidade de Jesus: um abandono e confiança em Deus, uma gratuidade plena, um amor solidário, generosidade. Ela não tem poder algum, nem cargos, nem possui “dignidade eclesiástica” alguma; a única coisa que possui é um coração generoso, mas isso conta pouco nas instituições de poder. Para Jesus, o centro da comunidade cristã não é o poder e nem são os poderosos, mas as pessoas simples, a fé e o bom coração dos humildes e misericordiosos.
Jesus admira a pobre viúva. Eles não se conheciam; ela não é discípula, nem cristã..., ela é uma mulher, dos pés à cabeça, que fiel à sua consciência, deposita tudo no Templo, cujo “deus”, manipulado pelas autoridades religiosas, a exclui de quase tudo por ser mulher; no entanto, ela sabe, no fundo de suas entranhas, que Deus não é como propagam aqueles que a oprimem e alimentam uma vaidade vazia, mas é Aquele revelado pelos profetas e salmos, e a Ele se entrega e confia totalmente.
A generosidade desta mulher não está baseada numa obrigação moral, nem em um gesto público para ser aplaudido, mas se apoia na consciência de sua dignidade que a mobiliza a entregar tudo o que ela considera que deve doar.
Jesus já tinha estado no Templo, purificando-o e expulsando aqueles que ocupavam o lugar de Deus. No relato de hoje tudo é diferente; Ele não está irado e tenso, mas se admira da viúva despojada; isso lhe dá força e convoca os seus discípulos para clarear as ideias deles e dizer-lhes onde está o verdadeiro amor e a autenticidade de vida cristã; e que não se enganem, porque o discípulo e a discípula devem ter em Deus seu tesouro.
Ao contemplar a pobre viúva, talvez Jesus pensasse em sua mãe, em todas as mulheres pobres que, ao longo da história, mantém os lares, as comunidades cristãs, visitam os doentes, partilham o pão com famintos e, sempre com um detalhe nobre: com ternura, com dignidade, com compaixão. Esta viúva, contemplada por Jesus, continua caminhando por nossas ruas e paróquias, anônimas, mas com um coração generoso. Porque é essa capacidade de entregar tudo sem medida que converte uma pessoa em discípula de Jesus.
Jesus nos convida a olhar este exemplo vivo para ilustrar o modo de nos situar no seu seguimento, em contraste com os escribas e fariseus. Critica estes personagens, certamente, mas propõe uma alternativa: a de uma vida conectada à dignidade e que tem como consequência gestos de entrega, de simplicidade e liberdade. O modo de viver a vida e a fé não é questão de quantidade, das vezes que repetimos os ritos, das vezes que fazemos gestos generosos, do dinheiro que doamos ou outros atos repetitivos que vão se esvaziando de sentido. É muito mais uma questão de qualidade, de uma autoconsciência de nos percebermos enraizados numa Presença Providente que nos mobiliza a colocar toda a nossa realidade humana sob a influência da sua energia criadora.
Para meditar na oração:
O Evangelho desvela dois personagens que habitam nosso interior; o doutor da lei, centrado em si mesmo, vive da aparência, usa da religião para se projetar, para brilhar... É a cultura da vaidade, da exterioridade... Por outro lado, a pobre viúva representa aquilo que em nosso interior não valorizamos ou rejeitamos, mas que, na sua pobreza e humildade, desvela-se diante de Deus com um coração generoso. Não pensa em si, mas nos outros; partilha tudo o que tem. Não busca a glória e o elogio.
- Qual dos dois personagens eu alimento? Vivo da aparência e da vaidade ou do descentramento e serviço?
- O que em mim é “doutor da lei”? O que em mim é “pobre viúva”?
Uma das contribuições mais valiosas do evangelho ao homem contemporâneo é ajudá-lo a viver com um sentido mais humano em meio a uma sociedade doente de neurose de possessão.
O modelo de sociedade e de convivência que molda o nosso cotidiano não se baseia no que cada pessoa é, mas no que cada pessoa tem. O importante é ter dinheiro, prestígio, poder, autoridade... Quem tem isso avança e tem sucesso na vida. Quem não conseguir nada disso será desclassificado.
Desde os primeiros anos a criança é educada mais para ter do que para ser. O que a é que você se treine para amanhã ter um cargo, uma renda, um nome, um título. Assim, quase inconscientemente, preparamos as novas gerações para a competição e a rivalidade.
Vivemos num modelo de sociedade que empobrece facilmente as pessoas. A demanda de carinho, ternura e amizade que pulsa em cada ser humano é atendida com objetos. A comunicação é substituída pela posse de coisas.
As pessoas se acostumam a se valorizar pelo que têm. E, desta forma, correm o risco de se tornarem incapazes do amor, da ternura, do serviço generoso, da ajuda solidária, do sentido livre da vida. Esta sociedade não ajuda a crescer na amizade, na solidariedade e na preocupação pelos direitos dos outros.
É por isso que o convite de Jesus a valorizar a pessoa a partir da sua capacidade de serviço e de solidariedade assume especial relevância nos nossos dias. A grandeza de uma vida é medida, em última análise, não pelo conhecimento que se possui, nem pelos bens que se conseguiu acumular, nem pelo sucesso que se conseguiu alcançar, mas pela capacidade de servir e ajudar os outros a viver de forma mais humana.
Quantas pessoas humildes, como a viúva do Evangelho, contribuem mais para a humanização da nossa sociedade com a sua vida simples de solidariedade e ajuda generosa aos necessitados do que muitos protagonistas da vida social, política ou religiosa, hábeis defensores dos seus interesses, seu protagonismo e sua posição.
O Evangelho deste domingo nos dá dois momentos distintos que refletem duas maneiras complementares de Jesus nos ensinar. Primeiro, ele se dirige às multidões que caminham ao seu lado e ouvem suas palavras, alertando-as sobre atitudes e formas de comportamento que não têm nada a ver com os mandamentos de Deus. Em segundo lugar, Jesus está sentado no templo e “observava como a multidão depositava suas moedas no cofre” e, a partir daí, ensina seus discípulos a ver uma determinada situação.
Jesus disse: “Tomai cuidado com os doutores da Lei!” Dirigindo-se à multidão que o acompanhava, Jesus adverte contra os “modos de agir religiosos” que são uma aparência. “Tomai cuidado”, “sejam vigilantes”, “não se deixem enganar”, seja pela aparência, seja pela imagem, pelo exterior. Estas são expressões que aparecem nos lábios de Jesus tentando mostrar onde está o que realmente importa.
Nessa passagem, ele descreve os doutores da Lei e a vaidade que se esconde por trás da maneira deles de se vestir e ser reconhecidos publicamente. Ele denuncia a presunção que os leva a procurar os melhores lugares em espaços públicos e a ganância que os devora em sua aparente preocupação com as viúvas, denunciando a hipocrisia dentro deles, que é realmente o que os motiva a estar com elas sob o pretexto de longas orações.
Com sua descrição, Jesus denuncia um sistema religioso carregado de aparências e falsidades que impede as pessoas simples de se aproximarem do Deus que é amor. É um muro impenetrável que foi construído ao longo de décadas e que solidificou e se apropriou das expressões de fé do povo. Os doutores da Lei eram considerados pelo povo, e também entre eles, como os representantes de Deus na Terra e eram eles que tinham a chave para abrir ou fechar a porta da eternidade. Eles eram os melhores intérpretes da Lei e, portanto, os que regulavam e avaliavam a vida religiosa do povo judeu. Jesus descreve com muita severidade a atitude de hipocrisia, vaidade e ganância deles, convidando-nos a estar sempre atentos, a não sermos enganados e a sermos sinceros nas intenções que movem nossas ações.
Em um segundo momento, “Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre”. Jesus presta atenção em cada pessoa, olha com cuidado e cautela e se deixa tocar pela realidade que observa. Podemos imaginar diferentes atitudes na maneira como eles depositam seu dinheiro. Alguns acompanhariam cada gesto com grandes movimentos, outros talvez depositassem seu dinheiro automaticamente, como um costume ou por uma norma imposta. O texto enfatiza que muitos “muitos ricos depositavam grandes quantias”, fazendo-nos participar do que Jesus está observando atentamente.
“Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada”. São duas situações extremas: o rico deposita muito e a viúva pobre dá duas moedinhas de valor muito baixo. Quando chegou o momento de a viúva pobre entregar seu dinheiro, talvez ela o tenha feito com timidez ou até mesmo com vergonha, pois estava dando muito pouco. Ela não podia se gabar de sua generosidade porque, aos olhos dos outros, era insignificante. Mas Jesus percebe sua intenção e o valor de sua doação: ela dá tudo o que tem.
Sua doação é sincera e, possivelmente, acompanhada de uma profunda súplica interior, de um vínculo muito transparente com Deus ou também de uma gratidão a Ele porque o que ela vinha pedindo há muito tempo se tornou realidade. Ela não tem nada, mas tem a coisa mais valiosa, que não tem medida: o relacionamento com Deus, a quem ela dá tudo o que tinha para viver. Sua oferenda é tudo!
Jesus soube ver o que acompanha a oferta dessa mulher, que é seu relacionamento com Deus, sua confiança Nele. Não se trata de uma regra ou de um costume, mas de um relacionamento com Deus a quem ela responde com tudo o que tem.
Ele chama os discípulos para ensiná-los a olhar para a realidade com os olhos de Deus: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. O relacionamento com Deus não é alimentado por pequenas ou grandes esmolas, mas toma toda a pessoa, Deus se torna parte de sua vida, intervém em sua vida e estabelece um vínculo de amor com cada um. A viúva pobre dá suas duas moedas, que não valem muito, mas são tudo o que ela tem.
Mais uma vez, Jesus nos convida a um relacionamento com Deus, que é amor e que não é regulado por um comportamento externo, mas que se baseia em um vínculo com Ele, em um relacionamento de proximidade e amizade em que respiramos Seu próprio sopro de vida. E essa vida de troca mútua não tem medida, não há porcentagem para dar e porcentagem para manter. É dar tudo, como essa pobre viúva que dá tudo o que tem porque sua vida está com Ele e ela não pode viver sem Ele.
Raymond Gravel, Quebec, tradução, Susana Rocca.
Hoje, em quem Deus se reconhece, e através de quem ele age na nossa sociedade e na nossa Igreja?
Se eu tivesse que dar um título ao evangelho de hoje, seria: A generosidade do coração é a riqueza dos pobres. É exatamente essa a questão da primeira leitura e do evangelho de hoje. O autor do primeiro livro dos Reis ilustra muito bem essa generosidade do coração, através dessa pobre viúva de Sarepta que oferece as suas últimas provisões a Elias, o profeta de Deus, e São Marcos ilustra também através desta pobre viúva que deposita algumas moedas no tesouro do Templo. O que esses textos nos ensinam é que Deus está nos pequenos gestos de partilha, e que esses gestos geralmente estão mais presentes nos pobres que nos ricos. É por isso que eles são os preferidos de Deus.
Precisemos primeiramente o que é a riqueza e a pobreza:
a) Pobreza:
– uma pessoa desprovida material ou psicologicamente;
– uma pessoa que não possui nem o poder nem o ter;
– uma pessoa marginalizada pela maioria;
– uma pessoa que é explorada, condenada ou excluída.
b) Riqueza:
– alguém que possua importantes bens;
– alguém que exerça o poder;
– alguém com autoridade de decidir pelos outros;
– pode ser uma boa pessoa.
Mas por que a generosidade corresponde mais aos pobres do que aos ricos?
A generosidade é humilde
No evangelho de hoje, o Cristo de Marcos acusa diretamente os escribas e os fariseus de serem uns orgulhosos que só querem aparecer: “Tenham cuidado com os doutores da Lei. Eles gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam dos primeiros lugares nas sinagogase dos lugares de honra nos banquetes” (Mc 12,38-39). No fundo, estão tão preocupados com a aparência que eles não podem ser diferentes do que eles parecem, isto é, figuras importantes, proeminentes, que não podem decepcionar aos outros e que doam muito: “Jesus estava sentado diante do Tesouro do Templo e olhava a multidão que depositava moedas no Tesouro. Muitos ricos depositavam muito dinheiro” (Mc 12,41). Faz bastante barulho... pesa no tesouro. Mas não se diz que a generosidade não faz barulho? Então, não há humildade nisso: é preciso que todo o mundo veja e compreenda que o rico doa muito dinheiro aos outros. E, ainda, diz o evangelho: “Então, chegou uma viúva pobre, e depositou duas pequenas moedas, que valiam uns poucos centavos” (Mc 12,42).
Mas por que uma viúva? Porque, no tempo do evangelista Marcos, as viúvas e os órfãos estavam entre os mais pobres da sociedade da época. Imaginem uma mulher com três crianças pequenas que perde seu marido. Ele não terá nenhum direito e, pior ainda, ela poderá ser mesmo expulsa da sua casa e jogada na rua. Ela se torna propriedade dos irmãos do marido morto. Aplicava-se para eles o direito do levirato. Mas como esses homens, em geral, estavam casados, eles podiam subtrair-se a esse dever. A viúva, porém, ficava para sempre como propriedade dele e não podia casar de novo sem o consentimento dos irmãos do defunto que eram a quem ela pertencia. Não é por nada que os primeiros cristãos denunciavam com vigor essa situação, mas foi preciso vários séculos antes que isso pudesse mudar.
A viúva, que colocou duas moedas no tesouro do Templo, não o anunciou nos jornais; ela o fez simplesmente de coração. Trata-se da generosidade do coração, a generosidade total. Uma generosidade que é humilde e sincera. “Eu garanto a vocês: essa viúva pobre depositou mais do que todos os outros que depositaram moedas no Tesouro” (Mc 12,43). E por quê? “Porque todos depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva na sua pobreza depositou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver” (Mc 12,44).
A generosidade é honesta
No evangelho de hoje, o Cristo de Marcos acusa os escribas e os fariseus de serem ladrões: “No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas, e para disfarçar, fazem longas orações. Por isso eles vão receber uma condenação mais severa” (Mc 12,40). Surge um questionamento: de que maneira esses homens do poder roubam aos pobres, isto é, às viúvas e ao mesmo tempo permitem que essas mulheres fiquem na miséria? Tiravam-lhes até a sua casa, com a desculpa de que era a lei do levirato, e que uma mulher não podia ser proprietária de bens materiais. No fundo, esses homens, mesmo que doassem muito dinheiro ao Templo e mesmo às obras caritativas, monopolizavam esse dinheiro de maneira injusta para distribuí-lo. Então não pode haver generosidade da parte deles, porque a generosidade é honestidade; ela não pode ser o fruto de uma injustiça ou o resultado de uma exploração aos pobres.
Lembremos do que São Basílio de Cesareia dizia no século IV: “A quem faço mal, diz o avaro, guardando os bens que me pertencem? De onde os tiraste? Tu te pareces com o homem que, indo no teatro, queria impedir que os outros entrassem e pretendia desfrutar sozinho do espetáculo a que todos têm direito. Assim são os ricos: eles se declaram os donos dos bens comuns que monopolizaram, porque eles são os primeiros ocupantes. Se cada um não guardasse mais do que precisa para as suas necessidades pessoais, e que o supérfluo fosse deixado para os indigentes, a riqueza e a pobreza seriam abolidas...”.
A generosidade é sincera e verdadeira
Falando dos escribas, o Cristo de Marcos diz: “para disfarçar fazem longas orações”(Mc 12,40) para mostrar a sua hipocrisia. Quantos se escondem por trás da religião para justificar a sua intransigência e a sua intolerância? Será que não há, ainda hoje, dessas atitudes nos escribas e nos fariseus do século XXI? Será que quando, em nome da religião, se condenam as pessoas que fracassam no seu matrimonio, excluindo os homossexuais que tentam simplesmente assumir a sua realidade, ou ainda, quando se rejeita a plena igualdade entre os homens e as mulheres na nossa Igreja, não estamos como os escribas do evangelho? E, todavia, o evangelho está lá... O que fazemos nós?
Será que na parábola do rico e do pobre Lázaro, que somente São Lucas nos conta, não há uma mensagem clara a esse respeito? Quando o rico que morre se depara com grandes sofrimentos porque na vida ele ignorou o pobre Lázaro do lado dele, esse rico diz a Abraão: “Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não acabem também eles vindo para este lugar de tormento” (Lc 16,27-28); a resposta é límpida: “Eles têm Moisés e os profetas: que os escutem!” (Lc 16,29). Mas o rico insiste: “Não, pai Abraão! Se um dos mortos for até eles, eles vão se converter” (Lc 16,30). A resposta é bem clara: “Se eles não escutam a Moisés e aos profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos” (Lc 16,31).
Com efeito, Cristo ressuscitou dentre os mortos, e há ainda hoje um bilhão de seres humanos no planeta que passam fome. Que hipocrisia da parte dos escribas e fariseus deste mundo que se escondem por trás das orações para desculpar a sua inércia e a sua inatividade. Na primeira leitura de hoje temos uma bela ilustração onde a dignidade humana não se mede segundo a pertença a um povo ou a uma igreja, ou ainda ao status social de alguém. Deus se reconhece e age através de uma mulher, uma pagã, viúva, por baixo do mercado, que tem como missão alimentar seu profeta. É por essa mulher que Elias pode continuar a sua missão. Em 2012, em quem Deus se reconhece, e através de quem ele age na nossa sociedade e na nossa Igreja?
Para terminar, uma palavra sobre a segunda leitura de hoje: Não à religião! Sim à fé! Quando eu releio esse trecho da carta aos Hebreus, eu tenho a impressão, às vezes, que a religião passa frequentemente do lado da fé. Nessa comparação do Cristo da Nova Aliança com o Sumo Sacerdote da Antiga Aliança, o autor da carta aos Hebreus escreve explicitamente: “Ele não teve que se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote que todos os anos entra no santuário com sangue que não é seu” (Hb 9,25). Então, como pode ser que na religião se fala em repetir o sacrifício de Cristo a cada semana e ainda cada dia? Pode ser que a missa não seja um sacrifício, mas uma celebração de Páscoa, uma festa da ressurreição? Ainda mais, se Cristo nos libertou do pecado de uma vez para sempre, pela sua morte na cruz na Sexta-feira Santa, como pode acontecer que nós duvidemos ainda desse perdão, confessando os nossos pecados? A celebração do perdão não é a ocasião de nos confessarmos; nós já estamos perdoados. Por outra parte, é a ocasião de confessar o Amor de Cristo por nós e a esperança da salvação em plenitude que nós esperamos sempre: “Assim, também Cristo se ofereceu uma vez por todas, para tirar o pecado de muitos. Ele aparecerá uma segunda vez, sem nenhuma relação com o pecado, para aqueles que o esperam para a salvação” (Hb 9,28).
Convertamo-nos, então, ao evangelho! É urgente! É uma questão de confiança e de esperança para todos os crentes, e é uma questão de justiça e de dignidade para todos os humanos.
(Traduzido pelo Tradutor Google sem correção de nossa parte. Pode haver algumas palavras com a tradução incompleta).
DOMINGO XXXII DO ANO – CICLO “B”
Primeira Leitura (1 Reis 17,10-16):
O ciclo de Elias, que começa em 1 Reis 17, não é contínuo, pois os capítulos 20 e 22 referem-se às guerras arameus sem demonstrar animosidade especial contra Acabe e Elias não aparece neles. O capítulo 21, dedicado à história de Nabote, constitui um dos elementos essenciais, mostrando-nos como o profeta defende com a mesma energia os direitos do homem e os de Deus. A narrativa do arrebatamento de Elias ao céu (2Rs 2) é atribuída ao ciclo de Eliseu, pois o centro da história é a transmissão do espírito (2Rs 2:9), simbolizado no manto do profeta.
Portanto, esta história do início do ciclo de Elias quer apresentar o profeta como um homem de Deus cuja palavra é poderosa e devemos acreditar nela porque vem de Deus. Mas ao mesmo tempo apresenta-nos esta pobre viúva de Sarepta, isto é, de terras pagãs, que em tempos de seca e de fome ofereceu ao profeta tudo o que ela e o seu filho tinham para sobreviver mais um dia; e por causa de sua generosidade Deus operou o milagre porque “a vasilha de farinha não se esgotou nem a vasilha de azeite se esvaziou, conforme a palavra que o Senhor havia falado por meio de Elias” (1Rs 17,16). Na sua pobreza, deram tudo o que tinham para viver; e Deus recompensou a sua generosidade com abundância, permitindo-lhes sobreviver à crise.
Evangelho (Mc 12,38-44):
No evangelho deste domingo temos que distinguir duas partes: a primeira (12,38-40) que é um ensinamento de Jesus sobre a má conduta dos escribas; e a segunda (12,41-44) que se refere ao testemunho religioso de uma viúva pobre.
O contexto anterior é importante porque nos informa que Jesus está “ensinando no Templo” (ensinando no Senhor em 12:35) diante de “uma multidão que o escutava com agrado” (uma grande multidão o ouvia em 12:37). .
O texto de hoje começa anunciando um ensinamento ou instrução (didaché) de Jesus: “no ensinamento ele lhes disse” (ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ ἔλεγεν em 12,38). Recordemos que Marcos é o evangelista que mais insiste no ensinamento de Jesus e na boa recepção que tem por parte do povo (cf. Mc 1,22.27; 4,2; 11,18 onde aparece o termo didache; enquanto que em Mt encontramos duas vezes e apenas uma vez em Lc).
Podemos supor que o ensino é dirigido à multidão que aparece na cena imediatamente anterior ouvindo Jesus com prazer (cf. 12,37).
J. Gnilka[1] divide este ensinamento de Jesus em três partes: 1) advertência introdutória, 2) descrição da conduta condenável dos escribas e 3) ameaça conclusiva de julgamento.
A advertência introdutória começa com um verbo imperativo, blépete (βλέπετε), cujo significado principal é olhar, ver, mas que também tem o sentido de se proteger ou de se proteger de algo ruim. Este verbo aparece sempre na boca de Jesus e é dirigido principalmente aos discípulos. Já havia aparecido com significado idêntico em Marcos 8,15: “Estejam atentos, tenham cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. Portanto, indica que estamos diante de um importante chamado de atenção do Senhor, que pede aos seus discípulos que estejam alertas, constantemente vigilantes para não se deixarem confundir ou “contagiar” por modos de pensar ou agir contrários ao ensino do evangelho.
Jesus convida aqui a cuidar ou proteger-se dos escribas (γραμματέων). Este é o nome dado àqueles que se dedicaram ao estudo das Escrituras, interpretando-as à luz das tradições dos seus antepassados e adaptando as regras à vida prática. Também eram chamados de doutores da lei, sábios ou mestres (rabinos) porque ensinavam nas escolas e no Templo; e costumavam ser homenageados pelo povo e receber posições de honra na sinagoga (cf. Marcos 12,38-39). A maioria dos escribas pertencia ao grupo dos fariseus e eram muito influentes entre eles.
A seguir, Jesus descreve a conduta dos escribas, que devemos ter o cuidado de não seguir ou imitar. Especificamente, apresenta cinco ações dos escribas que de alguma forma são uma caricatura deles: 1) andar com longas vestes; 2) ser cumprimentado nas praças; 3) ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes[2]; 4) devoram os bens das viúvas; 5) fingem fazer frases longas[3].
Se formos à atitude subjacente, em quatro das ações (1; 2; 3 e 5) é clara a sua opção pela aparência, pelo que é meramente externo com a intenção de obter a aprovação ou o reconhecimento dos outros. Na outra (4), “devorar os bens das viúvas”, parece que se trata mais de uma atitude de aproveitadores ou manipuladores motivados pela ganância. Ou seja, os escribas, aproveitando-se do seu estatuto e reputação como homens religiosos, apropriavam-se dos bens das viúvas.
Nos escritos rabínicos da época, como nos informa J. Gnilka[4], a exploração sob pretexto devoto também é severamente condenada: “Eles devoram os bens dos pobres e afirmam que o fazem por justiça. Na realidade, eles perecem” (AscMos 7, 3-10).
Em suma, a religiosidade dos escribas é falsa porque é motivada pela vanglória e pela ganância. Jesus nos alerta sobre esses dois perigos.
O ensino termina com a ameaça de um julgamento mais severo para os escribas. É sem dúvida o julgamento escatológico ou final de Deus.
A segunda parte começa indicando que “Jesus sentou-se diante da arca do tesouro (γαζοφυλάκιον) e observou enquanto o povo colocava moedas na arca do tesouro” (12:41). Na área interna do Templo de Jerusalém ficava a sala da tesouraria onde existiam cofrinhos em forma de trombeta, um dos quais destinado a doações voluntárias. Quando as pessoas depositavam ali suas oferendas, faziam um barulho proporcional à quantidade de moedas depositadas.
Então Jesus percebe que muitos ricos investem muito. De repente aparece uma viúva “pobre” (πτωχὴ) e deposita apenas duas leptas, que são as menores moedas de cobre e equivaliam a um oitavo da ração que era distribuída diariamente aos pobres de Roma. Então Jesus “chama seus discípulos” e lhes dá um ensinamento solene (“em verdade eu digo” ἀμὴν λέγω ὑμῖν): “esta viúva pobre deu mais do que qualquer um dos outros, porque todos deram o que lhes restava, mas Ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía, tudo o que tinha para viver" (Marcos 12:43-44).
Se levarmos em conta apenas o valor, o contraste entre o rico que investiu muito e a viúva é claro quem doa muito pouco e a posterior avaliação positiva de quem dá mais. Mas a avaliação que Jesus faz como ensinamento aos seus discípulos leva em conta outro aspecto e é, portanto, diferente. do que os homens ricos que doaram muito. E isso porque Jesus não olha para a quantia, mas para o compromisso de cada pessoa com a sua oferta. teve, ela deu a sua vida, ela se entregou a Deus na sua pobre oferta.
ALGUNS PENSAMENTOS:
Este evangelho nos convida a meditar sobre a diferença entre a visão dos homens e a visão de Jesus, entre a valorização dos homens e a valorização de Jesus. Na verdade, enquanto os homens procuram, olham e valorizam apenas as aparências, Jesus, como Deus no Antigo Testamento, olha para o coração e não para a aparência. Lembremo-nos da frase de Deus a Samuel quando teve que ungir um dos filhos de Jessé: “Deus não olha como o homem olha; porque o homem vê as aparências, mas Deus vê o coração” (1Sm 16,7). E este olhar profundo e verdadeiro de Deus é o fundamento do seu julgamento justo.
Devido à sua aparência, os escribas eram homens muito piedosos aos olhos do povo; mas Jesus vê que o seu coração está cheio de vanglória e ganância. Aos olhos dos homens, isto é, na aparência, o rico dá muito mais do que a viúva pobre; Mas aos olhos de Jesus a viúva deu muito mais porque deu tudo o que tinha para viver.
Portanto, um primeiro tema que o evangelho de hoje nos sugere como um todo é o da aparência e da realidade. Aparência é o que vemos e com base na qual muitas vezes fazemos nossas avaliações. A realidade é o que Deus vê, e é verdadeira e definitiva. E sabemos que esta verdade virá à luz claramente no julgamento de Deus. Na verdade, como lemos em Is 11,3: “Ele não julgará pelas aparências, nem decidirá pelo que ouve ser dito”.
Mas o ensinamento de Jesus é para que a partir de agora vivamos e atuemos nesta luz. Por isso nos alerta para o perigo da vanglória ou da hipocrisia que procura se destacar, estar nas primeiras posições, ganhar fama de ser “espiritual” com orações visíveis a todos.
Especificamente, o evangelho de hoje apresenta-nos um antimodelo a não seguir, a atitude dos escribas; e um modelo a imitar, o da viúva pobre.
A condenação dos escribas lembra-nos a dos fariseus em Mt 6, 1-18 onde o seu comportamento é apresentado em franco contraste com aquilo que o discípulo de Jesus deve ter, que é trabalhar em segredo ou escondido para ser visto apenas para o Pai, que o recompensará. O hipócrita, fariseu ou escriba, não trabalha buscando o olhar de Deus, mas sim o dos homens e por isso procura “mostrar-se” nos seus atos de piedade.
Pelo contrário, a viúva age apenas aos olhos de Deus, pois só Ele (e Jesus nos revela isso) sabe o que significavam para ela as duas moedas de cobre. Podemos muito bem dizer que, ao dar tudo o que tinha para viver, ele entregou toda a sua vida a Deus. É um testemunho eloquente, porque como salienta HU von Balthasar[5]: «A viúva do evangelho de hoje não abre a boca, nem troca algumas palavras com Jesus, mas Jesus dá-lhe o exemplo no final de todos os seus ensinamentos: ela é, talvez sem saber, aquela que melhor compreendeu o que ele quis dizer em todos os seus discursos. E, ao contrário de Elias, Jesus não dirá uma palavra sobre uma eventual recompensa: a ação da mulher é. tão brilhante que ela tem o poder em si."
O juízo avaliativo que Jesus faz dos fariseus e da viúva «instrui-nos sobre os critérios utilizados no Reino de Deus. O Senhor não está interessado na quantidade ou na eficácia dos nossos dons, mas sim na disponibilidade total do nosso coração [… ] A viúva pobre do evangelho revela-nos que o reino está num coração totalmente aberto ao outro, dando tudo o que tem, até o necessário para viver, mesmo que isso seja muito pouco aos olhos dos outros»[ 6].
Santo Agostinho disse sobre isso:8: “Diga o pobre: 'Meu Deus'; O homem rico diz: 'Meu Deus.' Aquele que tem menos, o outro tem mais; mas falamos de dinheiro, não de Deus. Para chegar a Deus, o rico Zaqueu deu metade dos seus bens (cf. Lc 19,8); Pedro, para lá chegar, deixou as redes e o barco (cf. Mt 4,22); Para o conseguir, aquela viúva deu duas pequenas moedas (cf. Marcos 12,42; Lucas 21,2); Para alcançá-lo, aquele que é ainda mais pobre oferece um copo de água fresca (cf. Mt 20,42) e outro, absolutamente pobre e desprovido de bens, oferece apenas a sua boa vontade para alcançá-lo. Eles deram coisas de valores diferentes, mas chegaram ao mesmo, porque não amavam coisas diferentes nele. Assim também vocês, homens, ovelhas de Deus, ovelhas do rebanho de Deus, não se deixem perturbar pelas suas diferenças temporais. Alguns ocupam cargos de honra, outros são privados de honras; alguns têm dinheiro, outros não; alguns têm um corpo bonito, outros são menos bonitos; alguns estão exaustos pela idade, enquanto outros são jovens ou crianças; alguns são homens, outros mulheres. Mas Deus está presente em todos igualmente. Ao lado dele, quem contribui com maior quantia, não de dinheiro, mas de fé, tem mais espaço […] Verdadeiramente ele nos possui e nós o possuímos”.
Outro detalhe a notar é que a viúva não tinha vergonha da sua pobreza, não se julgava pela sua aparência ou condição. Neste sentido, ela convida-nos, como também faz Santa Teresinha, a amar a nossa pobreza – que é a nossa verdadeira realidade – e a dá-la com amor a Deus. Suas palavras são: "O que agrada a Deus é ver-me amar a minha pequenez e a minha pobreza, é a esperança cega que tenho na sua misericórdia... Este é o meu único tesouro” (carta de 17/09/1896).
Para concluir, recordemos o que disse o Papa Francisco: “Jesus olha para as duas cenas. E é precisamente este verbo – “olhar” – que resume o seu ensinamento: para quem vive a fé com duplicidade, como aqueles escribas, “devemos olhar” para não sermos como eles; enquanto devemos “olhar” para a viúva para tomá-la como modelo. Paremos com isto: cuidado com os hipócritas e olhe para a viúva pobre.
Acima de tudo, tenha cuidado com os hipócritas, isto é, tenha cuidado para não basear a sua vida no culto da aparência, da exterioridade, no cuidado exagerado da própria imagem. E, acima de tudo, tenhamos cuidado para não submeter a fé aos nossos interesses. Esses escribas encobriram, com o nome de Deus, a sua própria vanglória e, pior ainda, usaram a religião para cuidar dos seus negócios, abusando da sua autoridade e explorando os pobres. Aqui vemos aquela atitude feia que também vemos hoje em muitos cargos, em muitos lugares, o clericalismo, estar acima dos humildes, explorá-los, espancá-los, sentir-se perfeito. Este é o mal do clericalismo. É um aviso para todas as épocas e para todos, Igreja e sociedade: nunca aproveitar o próprio papel para esmagar os outros, nunca vencer os mais fracos! E esteja alerta, para não cair na vaidade, para não ficar obcecado pelas aparências, perdendo substância e vivendo na superficialidade. Perguntemo-nos, isso nos ajudará: naquilo que dizemos e fazemos, queremos ser apreciados e gratificados ou prestar um serviço a Deus e aos nossos próximos, especialmente aos mais débeis? Estejamos atentos às falsidades do coração, à hipocrisia, que é uma doença perigosa da alma! É um duplo pensar, um duplo julgar, como a própria palavra diz: “julgar abaixo”, aparecer de uma forma e “soluçar”, abaixo, ter outro pensamento. Duplas, pessoas de alma dupla, alma dupla.
E para curar desta doença, Jesus convida-nos a olhar para a viúva pobre […] Jesus elogia o facto desta viúva dar ao Tesouro tudo o que tem. Ele não tem mais nada, mas encontra tudo em Deus. Ela não tem medo de perder o pouco que tem, porque confia tanto em Deus, e que o tanto de Deus multiplica a alegria de quem doa [...] Desta forma, Jesus a propõe como professora de fé, esta senhora: não frequenta o Templo para ter a consciência tranquila, não reza para ser visto, não ostenta a sua fé, mas doa-se com o coração, com generosidade e gratuidade. As suas moedas têm um som mais bonito do que as grandes ofertas dos ricos, porque expressam uma vida dedicada a Deus com sinceridade, uma fé que não vive de aparências, mas de confiança incondicional. Aprendamos com ela: uma fé sem adornos externos, mas sincera internamente; uma fé feita de amor humilde a Deus e aos irmãos.
E agora dirijamo-nos à Virgem Maria, que com um coração humilde e transparente fez de toda a sua vida um dom para Deus e o seu povo.”(Angelus de domingo, 7 de novembro de 2021).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Da minha pobreza
Da minha pobreza Senhor, eu te dou tudo
Você é minha herança
Afetos, empregos, bens,
Você me deu sua herança e eu fui pródigo
Agora vazio de tudo, na escuridão do momento
Procuro em meus bolsos e encontro
Apenas alguns centavos
Do qual, pelo seu amor, não me envergonho
Você olha atentamente meus passos, venho de tão longe:
À sua presença.
Não me atrevo a levantar a cabeça
Rasgado, vim até você, sei que você me dará forças
Quando a sua Palavra é falada, sobre mim
Você decidirá aceitar minha oferta
Sua alegria por mim, me ensine
Na sua misericórdia espero entrar na festa
Sempre evite que eu me sinta satisfeito
Acomodado ao prazer
Confiante em mim mesmo
Vire as costas para aqueles que lamentam
O que tenho para viver, eu te dou sem reservas
Se dar contará no final,
Passe pela porta estreita,
Que só a sua Glória se abrirá. Amém
[1] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 203.
[2] “Las primeras sillas en las sinagogas: es refiere a los asientos más prominentes, los de mayor importancia, que se encontraban en el frente del recinto, junto al arca que contenía los rollos de la ley, de cara a la congregación. Los primeros asientos en las cenas: se refiere a los lugares de mayor honor, los cuales se encontraban cerca del anfitrión”, O. Vena, Evangelio de Marcos (SBU; Miami 2008) 279.
[3] Algunas traducciones (por ejemplo Biblia de Jerusalén y Biblia del Peregrino) vinculan esta última acción de fingir (expresada con el sustantivo prófasis) largas oraciones con la de devorar los bienes de las viudas, pero la presencia de la conjunción kai (y) más el contexto invitan a traducir el sustantivo griego prófasis como “fingir o aparentar” más que como "pretexto". Si bien tiene este último sentido en Jn 15,22; He 27,30 y 1Tes 2,5; nos inclinamos por aparentar o fingir, es decir como actitud no verdadera sino falsa según Flp 1,18: "Pero ¿y qué? Al fin y al cabo, hipócrita o sinceramente, Cristo es anunciado, y esto me alegra y seguirá alegrándome."
[4] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 204.
[5] La luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 204.
[6] L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo. Domingos durante el año. Ciclo B (CEA; Buenos Aires 2002) 253.
[7] Tu coroni l'anno con la tua grazia, Milán 1990, 177.