1ª Leitura: Miquéias 5,1-4a
Salmo Responsorial 79(80)R- Iluminai a vossa face sobe nós, convertei-nos para que sejamos salvos!
2ª Leitura: Hebreus 10,5-10
Evangelho de Lucas 1,39-45
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. – Palavra da salvação.
Lc 1,39-45
Maria vai apressadamente para visitar sua prima Isabel que, como tinha anunciado o anjo, estava grávida. Maria aceitou ser mãe do salvador e sua primeira reação é a de partir com pressa para visitar sua parente. O amor não tolera delongas. Maria tem a pressa do evangelizador. Ela nos ensina a ter pressa nas coisas de Deus.
Desde o início, Jesus e João Batista estão unidos! Ao receber a visita de Jesus já concebido no coração e no seio de Maria, João Batista se alegra no seio de sua mãe. A alegria do menino no ventre da mãe sintetiza toda alegria do Povo da Aliança que exulta com a vinda do Messias esperado e prometido. Também o encontro das mães acontece com o mesmo significado: o Antigo Testamento recebe o Novo Testamento; a Promessa chega ao seu Cumprimento.
Nesse encontro das mães e dos seus filhos está presente toda a história de Israel e da Igreja. Isabel exalta a grandeza de Maria.
Isabel experimentou que a concepção de João Batista é dom de Deus. Deus interveio a fim de superar a infecundidade humana. Ela conhece em seu próprio corpo que o poder de Deus pode tudo. Isabel sabe melhor do que ninguém que para Deus nada é impossível, fazendo nascer uma criança de pais idosos e estéreis. Ao elogiar Maria, Isabel reconhece que o fruto do ventre de Maria é ainda mais precioso. João Batista é, no fim das contas, fruto humano. Já a concepção de Jesus é diferente: a concepção é autenticamente divina, pois é o Espírito que age na concepção. Aquele que nasce de Maria é verdadeiramente Filho de Deus.
O louvor de Isabel exalta a fé de Maria: ela é bem-aventurada porque acreditou, isto é, permitiu que o Espírito Santo pudesse agir na sua vida. Ela é bendita entre as mulheres porque nela a fecundidade de toda a nossa história chega ao seu ápice na maternidade dessa mulher. Ela é bendita entre as mulheres, porque essa mulher é realmente “mãe do meu Senhor”, porque o que nasce dela é o Verbo de Deus encarnado.
Por isso, Isabel proclama: “bendito é o fruto do teu ventre”. Aqui começa o mundo novo, nascido pela graça de Deus.
“Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43)
O relato evangélico deste 4º Domingo de Advento nos revela o verdadeiro sentido do “visitar” e ser “visitado(a)”. Logo após a “anunciação”, Maria fecha a porta de sua pequena casa em Nazaré e inicia apressadamente o caminho para as montanhas, a um povoado de Judá, onde vivia Isabel. O impulso de seu coração movia velozmente seus pés.
Vamos nos deixar conduzir por Maria e vamos com ela “de visita” à casa de Isabel.
O Sublime se digna visitar o pequeno; o “Emmanuel” se manifesta nos sinais mais simples: duas mulheres, uma casa, um encontro, uma saudação... O AT e o NT se encontram e se acolhem, fora dos espaços sagrados da religião oficial. A partir de agora, devemos encontrar Deus no cotidiano, na vida. Jesus, já desde o ventre de sua mãe, começa sua missão de levar aos outros a salvação e a alegria. Tudo quer indicar que a verdadeira salvação sempre repercutirá em benefício dos demais; quando alguém a descobre, imediatamente quer comunicá-la. A visita comunica alegria (o Espírito), também à criança que Isabel carregava em seu ventre.
Aquelas mulheres grávidas, esperançadas e cheias de fé, envolvidas no silêncio da promessa de Deus, se encontram e, no mesmo instante do abraço, a palavra se faz presente com a intensidade da compreensão, da alegria e da intimidade compartilhada.
Elas estavam felizes. Isabel gritou de júbilo e “a criança saltou de alegria em seu ventre”. E Maria proclamou exultante a oração de louvor e agradecimento ao Deus da Vida. O “Magnificat” recolhe o louvor da orante que se descobre, a partir de sua humildade, fecundada pelo seu Senhor, dentro da História da Salvação.
“Visitar” implica mover-se, para perto ou longe, sair, colocar-se em marcha, abandonar o espaço de conforto, adentrar-se na realidade da outra pessoa. Por outro lado, a pessoa visitada abre a porta de seu espaço vital e acolhe aquela que vem “de visita”.
“Visitar” exige irremediavelmente investir tempo: quem tem tempo hoje para presenteá-lo desinteressadamente? A visita começa a dar frutos desde o primeiro instante, se há uma boa predisposição. A atitude de quem visita e de quem é visitada é elemento primordial.
Maria permaneceu em casa de Isabel durante três meses e depois voltou para sua casa. Deslocou-se, investiu seu tempo e podemos imaginar o quão maravilhosos foram os três meses que elas passaram juntas, acolhendo-se mutuamente, vendo como a vida crescia dentro delas, cuidando-se, compartilhando...
No contexto social em que vivemos, cada vez mais fragmentado e individualizado, as relações vão se tornando líquidas em manifestações muito superficiais; reduzidas a um mero contato tecnológico através das redes sociais, Whatsapp, Instagram, etc., nos perguntamos se ainda tem significado o fato de visitar, para além de um contato comercial, de captação de clientes, ou do médico quando o paciente não pode se mover da cama.
Depois de empapar-nos do evangelho deste domingo é preciso nos perguntar: a que nos impulsiona o “movimento” de Maria visitando Isabel. E, se realmente, o fato de visitar tem um significado em nossa vida.
Há uma infinidade de pessoas, aí fora, esperando uma visita, um encontro de pessoa a pessoa.
Há muita necessidade de abraços e de afeto, que não se solucionam com “emojis” e fotos com preciosos textos de boas intenções no celular.
Há uma sede de presença física, de escuta, nas alegrias e nas dores de muitas pessoas; há enfermos crônicos que aguardam o consolo de uma visita gratuita e alegre que quebre a sua solidão.
Há muitos idosos que vivem sozinhos, cuja porta da casa nunca se abre para receber, porque ninguém se aproxima para ser recebido. Há muitos imigrantes que ultrapassam fronteiras, fugindo de seus lugares de origem e que precisam ser escutados, recebidos, alentados etc.
No contexto rural de nosso país ainda se conserva o bom hábito de “fazer visitas” e a casa torna-se espaço humano de partilha, convivência, festa, ajuda mútua...
Por outro lado, sobretudo nos grandes centros, as casas estão cercadas por uma parafernália eletrônica de segurança, com entrada rigorosamente controlada, alarmes contra invasores..., impedindo o acesso até dos mais próximos (parentes, amigos...). Com os familiares e amigos trocam-se frias mensagens eletrônicas em vez de visitas; com os desconhecidos, contato virtual descompromissado.
Além disso, há uma doença que afeta praticamente todas as casas: nelas, há muito mais espelhos que isolam as pessoas do que janelas que se abrem para a realidade externa.
As janelas abertas permitem ampliar nosso horizonte. Através delas purifica-se o ar denso, pouco respirável que geramos quando nos fechados em nós mesmos. Elas nos abrem à comunhão com a natureza, com os outros, com a realidade que nos cerca. Elas nos humanizam, pois servem para nos revelar quem somos para os outros e, assim, poder passar da janela à porta que se abre para que eles entrem em nossa vida. Outros rostos precisamos descobrir: rostos feridos, excluídos, carentes de proximidade e abraço.
Dentre as “obras de misericórdia”, citadas no juízo final (Mateus), duas delas fazem referência ao ato de “visitar”: visitar os enfermos e os presos.
Visitar é uma atitude humanizadora; requer um empenho pessoal, um estar atento aos detalhes da vida próxima, do entorno. Visitar não conta nas estatísticas. É uma ação muito silenciosa que não requer estruturas organizativas, nem contratuais. Sua essência está no reconhecimento e na acolhida mútua.
Este “reconhecimento” presente nas duas futuras mães – Maria e Isabel - se prolonga nos nossos “reconhecimentos cotidianos”; no reconhecimento está o “nascimento”, e viver o reconhecimento é, então, nascer a uma nova relação com o outro, numa comunhão profunda. Reconhecer-nos unidos, na diferença.
Na Visitação, as duas protagonistas, também, põem em destaque três importantes ações que Jesus depois vai potencializar na sua missão: acolher, animar e acompanhar a vida.
Segundo o Cardeal Martini, Maria, mulher do discernimento, depois da Anunciação, busca a confirmação de sua missão de ser a mãe do Messias. Sabemos que é a consolação que confirma determinada opção.
Na Visitação, Maria encontra três confirmações, através de uma tríplice alegria (três consolações).
Em primeiro lugar, a alegria de João Batista no ventre da mãe; em segundo lugar, a alegria de Isabel que estava grávida em sua velhice e reconhece em Maria a ação de Deus (através de seu canto); em terceiro, a alegria da própria Maria que se expressa no Magnificat.
A saudação na Visitação se transforma em um encontro no qual as duas protagonistas ficam confirmadas em seu afeto, sua fé e admiração. O encontro se converte em comunicação. O espírito de fecundidade que ambas, Maria e Isabel reconhecem como graça em sua carne, se tornou naquele momento graça de comunicação transparente.
E o clima festivo da Visitação se prolonga na história humana das visitas. E o primeiro “Visitador” é o próprio Deus.
Para meditar na oração:
Deus não é distância e solidão. Ele é comunicação, presença, libertação, visita providente.
Ele está perto. Sua proximidade nos causa espanto: Deus possibilita cada um “entrar” em sua casa e captar em profundidade a sua realidade, perceber a raiz do seu ideal de vida (cada vez mais atraente-convincente-exigente), como também suas contradições, ilusões, medos...
Neste “mergulho” interno, cada um pode construir uma espécie de mapa da própria casa, com as regiões fortes e fracas, vulneráveis e criativas, transparentes e ainda misteriosas...
- Como me sinto em minha casa? Preciso abri-la, arejá-la? Modificá-la? Iluminá-la? É acolhedora? Humanizadora?... Tem mais espelhos ou janelas?
- Como está minha casa interior? Preparada para acolher o Senhor que me visita constantemente?
- Há um “lugar sagrado” para Ele? há espaço para os outros?
Estamos a viver uns tempos em que cada vez mais o único modo de poder acreditar verdadeiramente vai ser, para muitos, aprender a acreditar de outra forma. Já o grande convertido John Henry Newman anunciou esta situação quando advertia que uma fé passiva, herdada e não repensada acabaria entre pessoas educadas em "indiferença", e entre pessoas simples em "superstição". É bom lembrar alguns aspectos essenciais da fé.
A fé é sempre uma experiência pessoal. Não basta acreditar no que os outros nos pregam sobre Deus. Cada um só acredita, em suma, no que realmente acredita no fundo do seu coração ante Deus, e não no que ouve dizer a outros. Para acreditar em Deus é necessário passar de uma fé passiva, infantil e herdada para uma fé mais responsável e pessoal. Esta é a primeira pergunta: acredito em Deus ou naqueles que me falam dele?
Na fé, nem tudo é igual. Temos de saber diferenciar o que é essencial e o que é acessório, e, depois de vinte séculos, há muito de acessório no nosso cristianismo. A fé daquele que confia em Deus está para além das palavras, das discussões teológicas e das normas eclesiásticas. O que define um cristão não é ser virtuoso ou cumpridor, mas viver confiando num Deus próximo pelo que se sente amado sem condições. Esta pode ser a segunda questão: confio em Deus ou fico preso noutras questões secundárias?
Na fé, o importante não é afirmar que se acredita em Deus, mas sim saber em que Deus se acredita. Nada é mais decisivo do que a ideia que cada um faz de Deus. Se acredito num Deus autoritário e justiceiro, acabarei por tentar dominar e julgar todos. Se acredito num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando. Esta pode ser a pergunta: em que Deus acredito? Num Deus que responde às minhas ambições e interesses ou no Deus vivo revelado em Jesus?
A fé, por outro lado, não é uma espécie de "capital" que recebemos no batismo e de que podemos dispor para o resto das nossas vidas. A fé é uma atitude viva que nos mantém atentos a Deus, abertos todos os dias ao seu mistério de proximidade e amor por cada ser humano.
Maria é o melhor modelo desta fé viva e confiada. A mulher que sabe ouvir Deus no fundo do seu coração e vive aberta aos seus desígnios de salvação. A sua prima Isabel louva-a com estas palavras memoráveis: "Bem-aventurada és tu, porque acreditaste!" Feliz também és tu se aprenderes a acreditar. É o melhor que te pode acontecer na vida.
O texto de hoje nos fala da visita de Maria a sua prima Isabel. As duas eram conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste encontro elas descobrem, uma na outra, o mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria
SITUANDO
Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é, para ele, o modelo da comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como aquelas comunidades devem fazer para transformar o Natal em serviço aos irmãos e irmãs.
COMENTANDO
Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel
Lucas acentua a prontidão de Maria em atender as exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta e sai de casa para ir ajudar uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem. Ela deixa o lugar onde estava e vai mais de quatro dias de viagem, para ajudar sua prima Isabel. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.
Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel
Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O AT acolhe o NT com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro entre as duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel.
A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: É nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado - a Ave Maria.
Lucas 1,45: O elogio que Isabel faz a Maria
Vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar, não pela sua maternidade, mas pela sua fé. Aqui, Maria é principalmente modelo de fé. “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer”. É o recado de Lucas às comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, o seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.
ALARGANDO
1. Maria, modelo de comunidade
Lucas não fala muito sobre Maria, mas aquilo que fala tem grande profundidade. Quando fala de Maria, ele pensa nas comunidades. Apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades.
É na maneira de ela relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer.
3. Maria, a Arca da Aliança
O Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?” (2 Samuel 6,9). Ele mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família” (2 Samuel 6,11).
Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no AT, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família são abençoadas por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.
4. Maria, modelo de feh e de luta
Na boca de Isabel, encontramos as seguintes expressões: “Ave Maria” (1,28), “Cheia de graça” (1,28), “O Senhor é contigo” (1,28), “Bendita és ti entre as mulheres” (1,42); “Bendito o fruto do teu ventre” (1,42).
Junto com Isabel, saibamos honrar Maria, a mãe do Senhor, modelo de fé para todos nós! Mas, a fé de Maria, como sempre é na Bíblia, não foi uma adesão somente intelectual a Deus. Era o assumir do projeto de Deus, justiça, libertação, solidariedade e salvação integral.
CONCLUINDO
Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Se Ela estivesse entre nós hoje, sem dúvida, como também Jesus, estaria nos movimentos e pastorais sociais, lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no Deus de Justiça, Libertação e Salvação.
A Palavra de Deus Iluminando a nossa vida
Ler de forma pausada o texto de Lucas 1,39-45. O evangelista Lucas deseja apresentar uma “acurada investigação de tudo desde sua origem (…) uma exposição em ordem” (Lc 1,3). O Evangelho de Lucas, por isso, traz mais detalhes sobre a vida de Jesus, inclusive, antes do seu nascimento, falando de encontros, visitas e dos preparativos para a sua chegada. O texto de Lucas 1,39-45 narra a disposição de Maria, grávida, de ir ao encontro de Isabel que também está grávida. O ambiente onde se desenrola a narrativa é o da casa de Zacarias e Isabel. Maria entra na casa de Zacarias, mas saúda Isabel (Lc1,40). O contexto imediato do texto lembra-nos de que Zacarias e Isabel são um casal de idosos (Lc 1,5-7). Zacarias ainda encontra-se mudo, pois não acreditou no anúncio do anjo (Lc 1,20). “Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João” (Lc 1,13).
O texto de Lucas 1,39-45 narra o encontro de duas mulheres grávidas, duas futuras mamães. Isabel é mais velha, mas também está vivenciando pela primeira vez, a experiência de estar grávida. Ela já se encontra no sexto mês de gravidez (Lc 1,36). Maria é mulher jovem e encontra-se no começo da gravidez. Encontrar-se, abraçar-se, alegrar-se com o encontro, compartilhar as experiências de gravidez é o que leva, provavelmente, Maria a visitar a sua parenta Isabel. A experiência de estar grávida também traz perguntas, dúvidas. Nada melhor do que conversar com alguém que está vivenciando a mesma experiência.
O contexto do texto também nos conta que Maria recebeu a visita do anjo (Lc 1,26-38). Maria dialoga com o anjo sem intermediários. Percebe-se, no contexto, a presença de duas regiões e duas tradições: Zacarias é sacerdote de Jerusalém, morador das montanhas de Judá. Isabel encontra-se em idade avançada (idosa), estéril. Maria é mulher, jovem, virgem, natural da região fértil da Galiléia. O anjo anuncia que assim como Isabel concebeu um filho na velhice, assim também Maria engravidará, “porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1,36). O contexto todo fala de visitas: visita de Deus através do anjo. Deus vem ao encontro do seu povo, como na história do Êxodo.
O texto apresenta duas mulheres, duas histórias de vida, duas regiões e duas tradições que representam os grupos explorados, oprimidos e discriminados por sua classe social, por seu gênero, por sua diferença geracional. Maria e Isabel, com suas histórias diferentes, no entanto, são as escolhidas para a visita de Deus. Essa visita necessita ser compartilhada. Maria se coloca a caminho e vai visitar a sua amiga Isabel, que é mais velha. A idade não importa. É no compartilhar das experiências entre diferentes gerações de mulheres que se aprende e se constrói um novo mundo baseado na cooperação e no respeito à diversidade, rompendo-se com a sociedade patriarcal que promove a competição entre as mulheres.
Isabel recebe a visita de Maria com alegria e com exclamações.
Assim que Maria saúda Isabel, acontece algo que só uma mulher grávida pode sentir: “A criança lhe estremece no ventre” (v. 41). A criança vinda no ventre também fica feliz com o encontro. Isabel, então, possuída pelo Espírito Santo, exclama em alta voz, interpretando aquele momento de visita e encontro “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” (v. 42). É interessante perceber que é Isabel, a mais velha, aquela que não podia ter filhos (estéril) que fica possuída do Espírito Santo e bendiz a sua amiga Maria.
O encontro entre Maria e Isabel nos fala da importância das relações de ajuda entre mulheres. Maria, saindo de sua casa e indo ao encontro de Isabel, coloca-se como aprendiz. É na visita, no encontro, na troca de experiências, no processo que vão se gestando possibilidades de um novo mundo, rompendo-se com aquilo que separa, com o mundo patriarcal que prende e aprisiona. Duas barrigas grávidas de vida que se estremecem quando se cumprimentam. A vida pulsa para além da vida das mamães grávidas.
Elas anunciam a alegria do novo. Como é bom se encontrar! Como é bom se visitar! Como é bom se abraçar! Como é bom demonstrar a alegria dos sentimentos! Como é bom preparar a chegada das crianças – da novidade de vida na certeza de que “um outro mundo é possível”.
O texto termina com mais uma fala de Isabel: “Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor”. Jesus retoma essa fala no capítulo 11,27-28 do Evangelho de Lucas, quando uma mulher se levanta no meio da multidão e exclama: “Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te amamentaram”. E Jesus lhe responde: “Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!”.
Maria saiu de sua casa e colocou-se a caminho, indo visitar Isabel. A criança no ventre de Isabel estremece de alegria quando ouve a saudação de Maria. Isabel tem uma atitude profética. Ela interpreta o momento que as duas vivenciam. Não há ninguém entre elas. Nenhum intermediário. A alegria do encontro se dá no estar face a face. É no espaço da casa que a palavra é dita ao mundo. Elas se assumem como protagonistas da história. A visita de Maria a Isabel é nomeada como uma experiência de profundo significado para as duas mulheres. Elas se ouvem, se alegram, se saúdam, se abraçam, compartilham experiências e exclamam (falam) sem nenhum intermediário. A amizade sincera entre Maria e Isabel possibilita o ouvir e o falar. A interpretação dessa relação dita por Isabel a Maria (bem-aventurada a que creu) faz com que Maria cante o Magnificat (Lc 1,46-56): a possibilidade de uma nova história.
Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, mesmo que haja também continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança.
A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João. A segunda está nos relatos ao redor do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada, deu o que era para dar. Os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa; Zacarias, sacerdote que duvida do anúncio do anjo; e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a jovem virgem de Nazaré que acredita, e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo (Lc 2,25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2,29).
Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse essa, não teria colocado o versículo 56, que mostra ela deixando Isabel antes do nascimento de João: “Maria ficou três meses com Isabel e depois voltou para casa”. É só depois que Lucas trata do nascimento de João.
Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galileia à Judeia! A intenção de Lucas é teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.
O fato de que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no ventre dela, de acordo com a Septuaginta, a tradução grega da Bíblia hebraica (cf. Gênesis 25,22). O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João: é porque Maria está carregando o Senhor em seu útero.
As palavras referentes a Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo: Jael (Juízes 5,24) e Judite (Judite 13,18). Aqui, Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.
Finalmente, vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar, não pela sua maternidade, mas pela fé, em contraste com Zacarias, que duvidou. Aqui, Maria é principalmente modelo de fé.
Na boca de Isabel, encontramos as seguintes expressões: “Ave Maria” (1,28), “Cheia de graça” (1,28), “O Senhor é contigo” (1,28), “Bendita és ti entre as mulheres” (1,42); “Bendito o fruto do teu ventre” (1,42). Junto com Isabel, saibamos honrar Maria, a mãe do Senhor, modelo de fé para todos nós! Mas, a fé de Maria, como, aliás, sempre é na Bíblia, não foi uma adesão somente intelectual a Deus. Era o assumir do projeto de Deus, justiça, libertação, solidariedade e salvação integral. Por isso, Lucas põe na boca de Maria o grande Cântico do Magnificat, atualizando o Canto de Ana, (1 Samuel 2,1-10), cantando a grandeza do nosso Deus, que se põe ao lado dos humilhados e sofridos, e derruba os poderosos e prepotentes.
O texto de hoje lembra-nos que Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Se Ela estivesse entre nós hoje, sem dúvida, como também Jesus, estaria nos movimentos e pastorais sociais, lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no Deus de Justiça, Libertação e Salvação.
No quarto domingo de Advento, a comunidade cristã já está próxima de celebrar o Natal. A pessoa de Maria aparece hoje com todo seu esplendor, com toda sua beleza e ternura. Depois de aceitar ser Mãe do Messias Esperado, Maria sai para visitar e ajudar sua prima Isabel que está grávida: “Aquela que era considerada estéril já faz seis meses que está grávida” (Lc 1,36b).
Ser Mãe é um sinal da benção de Deus, e Maria recebe a Promessa do Messias no seu ventre, mas também escuta a boa notícia de sua prima que já faz seis meses que está grávida.
O texto de hoje fala da visita de Maria a sua prima Isabel. Duas pessoas conhecidas e queridas, mas as duas levam no seu interior um mistério que ainda não conheciam e que as enche de alegria! Receberam o presente do Deus da vida, que as abençoou favorecendo-as com o nascimento de um filho. Isabel, mãe de João Batista que é o anunciador do Messias, e Maria, Mãe de Jesus o Salvador! Deus as bendiz com sua ternura e misericórdia.
Neste domingo meditamos o texto do primeiro encontro dessas duas mulheres grávidas. Tão logo Maria recebe a notícia da gravidez de sua prima, vai visitá-la. “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judeia.” Maria parte para a região montanhosa e deve percorrer mais de cem quilômetros. Ela não duvida um instante: Isabel precisa dela e ela dirige-se ao seu encontro. Sua gravidez não é um impedimento!
Lembremos que, quando Lucas fala de Maria, pensa também nas comunidades, e através das atitudes de Maria oferece um ensino para as comunidades cristãs repartidas ao longo do vasto império Romano, nas suas cidades. Maria não fica olhando para si mesma, sozinha com a Vida Nova que cresce nela. Ela “partiu”.
Ela vai comunicar a riqueza e sua vida às pessoas conhecidas e queridas que estejam necessitando dela. Seu olhar não é autocompassivo, senão o contrário: a vida engendrada nela deve ser comunicada, e assim transforma a visita de Deus na sua vida em serviço às irmãs e aos irmãos. Além das dificuldades do caminho, que sem dúvida era extenso, não há contratempo, não há contrariedade que impossibilite ou frustre sua vontade de visitar Isabel, a qual, apesar da sua idade, tinha ficado grávida.
“Entrou na casa de Zacarias, e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”
Neste momento do encontro, Isabel representa o Antigo Testamento que termina e Maria, o novo Testamento que começa. Maria entra na casa de Zacarias e, nesse preciso momento, Isabel fica cheia do Espírito Santo. Para Maria não há limites! A presença da Vida que leva no seu ventre enche do Espírito todas as pessoas que ouvem seu chamado e abrem sua porta para que entre na sua morada. Isabel acolhe Maria com gratidão, sentindo-se indigna, mas alegre pela visita. E assim a novidade do Espírito Santo habita no seu interior!
“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu.”
O elogio de Isabel a Maria é um profundo reconhecimento de sua fé e confiança no Senhor: ela acreditou que ia acontecer o que foi prometido!! E por isso é bem-aventurada. Isabel louva sua fé porque ela que acreditou na Palavra criadora.
Neste último domingo de Advento, próximo ao Natal, somos convidados/as a acreditar na Palavra de Deus, mas para isso devemos reconhecê-la e acolhê-la na vida de nossas comunidades. Que a novidade do Espírito seja sempre notícia!
Preparamo-nos para celebrar o Natal e somos convidados como comunidade cristã a acreditar na Palavra de Deus como Palavra Criadora.
Como disse o Pe. Adroaldo Palaoro: “O evangelista Lucas nos apresenta uma visitainesperada: a visita daquela que não permanece fechada nem ensimesmada em seu mistério; a visita daquela que se sente impulsionada a sair de si mesma para colocar-se a serviço daquela que está necessitada de ajuda. Uma visita alegre, espontânea e gratuita, porque cheia da experiência de Deus; Maria que faz Isabel sentir a alegria de uma maternidade não esperada e Isabel que faz Maria sentir as maravilhas que Deus realizou nela. Uma visita que se expressa em dois cantos de louvor e ação de graças: “Bendita és tu que acreditaste” e “Minha alma engrandece o Senhor”.
A Palavra de Deus chama-nos a perguntar-nos onde está nascendo a Vida ao nosso redor? Onde o Espírito Santo gera uma vida nova, quase inesperada, mas desejada profundamente!
Há muitas realidades que no seu interior levam uma esperança de vida, pessoas que saem de suas terras na busca de melhores condições de vida, que procuram condições dignas para sua família. Pessoas que não têm medo de passar por adversidades porque seu objetivo é acompanhar aquelas situações de necessidade, de injustiça, de dor.
Há uma vida que se gera no segredo e é preciso estar capacitado e capacitada para escutá-la e percebê-la. A única condição é acreditar na Palavra de Deus que é criadora e confiar nela como Maria! Recebemos assim o louvor de Isabel a Maria: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu”.
Peçamos ao Senhor que nos ensine a deixar-nos guiar pelo Espírito de uma Vida que continuamente está brotando como a nascente de um rio.
Oração
Lógica de Deus
Onde acaba a cidade
e começa o medo,
onde terminam os caminhos
e começam as perguntas,
perto dos pastores
e longe dos senhores,
no calor de Maria
e no frio do inverno,
vindo da eternidade
e gestando-se no tempo,
salvação poderosa para todos
atado a um edito do império,
rebaixado em um presépio de animais
aquele que a todos nos eleva até os céus,
nasceu o Filho do Pai,
Jesus, o filho de Maria.
Só abaixo está o senhor do mundo
que nós sonhamos no alto.
Aqui se vê a grandeza de Deus
contemplando a humildade deste pequenino
Aqui está a lógica de Deus,
rompendo o discurso dos sábios.
Aqui já está toda a salvação de Deus
que plenificará todos os povos e os séculos.
Benjamin González Buelta SJ
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
SITUANDO
O profeta Miqueias – 700 anos antes de jesus - originário de um meio rural conhece bem os problemas dos pequenos agricultores, vítimas de latifundiários sem escrúpulos. Por outro lado, a sua terra natal (Moreset Gat) está rodeada de fortalezas militares, com seus funcionários que fazem com que os habitantes dessa região conheçam um quadro de violência, roubo, impostos excessivos, e trabalhos forçados.
Mais grave ainda é que os opressores consideram que Deus está do seu lado e invocam as grandes tradições religiosas de Israel para justificar a opressão.
O livro descreve (cap. 1-3) as infidelidades do Povo de Deus e seus pecados sociais, dizendo que tudo é resultado da infidelidade aos compromissos assumidos com Javé na “aliança”.
O nosso trecho de hoje faz parte de um conjunto de oráculos de salvação, que procuram a animar a esperança do Povo (cap. 4-5).
COMENTANDO
O texto retoma a promessa messiânica. Diante da situação de injustiça e sofrimento, frustração e desânimo, o profeta anuncia a chegada de um alguém, no futuro, que reinará sobre o Povo de Deus. Esse alguém, enviado por Deus, será da descendência de Davi, e vai restaurar o tempo de paz, de justiça e de abundância que o Povo de Deus havia conhecido na época do rei David. A última frase desta leitura (“Ele será a Paz”) define o conteúdo concreto desta esperança: a palavra paz ou “shalom” significa tranquilidade, ausência de violência, e nada de conflito, mas incluindo bem-estar, abundância de vida, numa palavra, felicidade plena.
ATUALIZANDO
Essa promessa de Deus pronunciado por Miqueias é visto como uma referência a pessoa de Jesus, o descendente de David, nascido em Belém. Jesus não vai restaurar o trono político de David. Este tipo de reino sempre implica força, violência, jogadas políticas e diplomáticas. A proposta de Jesus é um reino de paz, partilha e cooperação.
Os seguidores de Jesus aceitam o convite de viver desse jeito, partilhando de acordo com a necessidade de cada grupo, família e pessoa, e não acumular. Os seguidores se comprometem com a causa da paz, eliminando tudo que destrói a vida ou a dignidade de qualquer homem ou qualquer mulher. Seguindo o espirito profético dos antepassados – principalmente Jesus -, as comunidades proféticas denunciam injustiças, arbitrariedades, sofrimento, miséria, e anunciam o “reino” de Jesus.
A nossa fé garante a presença libertadora de Deus na história humana, Apesar do egoísmo e do pecado dos homens, Deus se preocupa conosco.
(Traduzido automaticamente pelo Tradutor da Google sem nossa correção)
Quarto Domingo do Advento ciclo C
“Espere com, como e de Maria pelo Senhor”
Primeira Leitura (Miq 5,1-4):
Este oráculo pertence à seção dos capítulos 4 e 5 de Miquéias que começa anunciando que "no fim dos tempos" Jerusalém/Sião, o monte da casa do Senhor, se elevará acima de todos os montes e as nações se reunirão para ela (cf. 4:1-2 que segue Is 2:2-4). Ora, esta situação gloriosa de Jerusalém/Sião só virá depois do exílio, quando o Senhor resgatar as ovelhas mancas, perdidas ou maltratadas (cf. 3,6-8). Portanto, o contexto anterior da profecia de Mq 5,1-4 é a humilhação de Jerusalém/Sião pelo exército babilônico, acontecimento que leva as nações pagãs a pensar que Jerusalém/Sião desaparece da história (cf. 4,11).
Mas Miquéias afirma que as nações não conhecem os pensamentos e planos do Senhor (cf. 4:12) porque os sofrimentos de Jerusalém/Sião não representam o fim, mas são como os de uma mulher em trabalho de parto e, quando chega a hora vier para ela dar à luz, Deus a resgatará de seus inimigos (cf. 4:10; 5:2). Depois, depois de apresentar uma situação angustiante como a de uma cidade sitiada (cf. 4,14), surge o famoso oráculo onde a salvação é anunciada através do nascimento em Belém de um futuro governante com características messiânicas. Alguns interpretam isso como uma rejeição da Jerusalém corrupta (3:9-12) em favor da humilde Belém. Outros pensam que se trata antes de um regresso às origens da dinastia davídica, ao mesmo tempo um rei ideal com a menção da sua pátria Belém e que seria então assimilado a Is 11,1-5. As duas opiniões são compatíveis na medida em que o regresso às origens é também um regresso à simplicidade, à escolha de David, o filho mais novo que nem sequer foi levado em conta segundo a narrativa de 1Sm 16,4-13.
Em 5:1-3 este futuro Messias é descrito com um aspecto político e religioso ao mesmo tempo, pois ele ampliará os domínios, salvará o povo e trará todos os tipos de bênçãos, entre elas a ligação íntima do povo com Deus que irá transbordar em uma situação de paz. [1] Então em 5:4 ele conclui afirmando que: “E o mesmo será a Paz”. O prometido Messias Salvador não será apenas o instrumento através do qual se estabelecerá na terra a paz como conjunto de todos os bens, mas ele próprio é identificado com o nome da Paz ( šālôm ).
Desta forma estamos preparados para a novidade do evangelho, porque enquanto Miquéias se concentra na vitória de Jerusalém/Sião através de um líder nascido em Belém (é também assim que Mt 2,6 o interpreta), Lucas desvia a atenção para Belém. Em 2:4.11 Lucas chamará Belém de “cidade de Davi”, que em outros lugares é a expressão típica usada para designar Jerusalém [2] .
Salmo Responsorial (Sal 79):
Dada a promessa de salvação na primeira leitura, o salmo convida-nos a pedir a visita restauradora do Senhor, verdadeiro e definitivo Pastor de Israel.
Segunda Leitura (Hb 10,5-10):
Não é fácil relacionar esta leitura com as outras duas. O próprio texto revela-nos o significado da Encarnação: Cristo assumiu um corpo, tornou-se homem, para oferecer o seu corpo-vida através da obediência à vontade do Pai . No contexto do Advento, pode servir de antídoto a uma concepção talvez demasiado “melíflua” ou “romântica” do Natal, que esquece que este Menino nasceu para morrer por todos nós.
Evangelho (Lucas 1:39-45):
Depois de Lucas ter narrado as duas anunciações da gravidez (de João e de Jesus), esta secção termina com o encontro das duas mães grávidas. Com efeito, Maria, depois de ter recebido a visita de Deus na Anunciação , corre para visitar a sua parente Isabel . “A pressa de Maria é um reflexo da sua obediência ao plano que lhe foi revelado pelo anjo, um plano que incluía a gravidez de Isabel (1,36-37)”[3].
María entra em casa e cumprimenta Isabel. Como salienta S. Muñoz Iglesias[4]: “A saudação de Maria a Isabel foi, sem dúvida, a clássica saudação ritual hebraica (“Paz contigo”) e o beijo na testa. : é o conjunto de bens que pode tornar feliz o destinatário da saudação. Num contexto messiânico, como o atual, dar a paz é desejar ou oferecer ao ouvinte os bens que o Messias traz à Humanidade. e o primeiro de tudo, a sua presença, que deveria fazer o anúncio profético: Deus será chamado conosco. Por isso a saudação cristã acabou sendo: “O Senhor esteja convosco”.
Esta saudação provoca uma catarata de reações. A criança no ventre salta de alegria e Isabel fica cheia do Espírito Santo. Para R. Brown, a presença do Espírito constitui João como profeta e este salto no ventre é um gesto profético através do qual ele recebe com alegria o advento da era messiânica[5]. A vinda de Jesus traz a plenitude do Espírito e a alegria . A visitação é uma confirmação disso. Jesus, desde o ventre de Maria, pode agora comunicar alegria ao menino que está no ventre de Isabel (cf. 1,44).
A exclamação inspirada de Isabel ensina-nos, antes de tudo, que Maria é bem-aventurada porque bendito é o fruto do seu ventre. Ela é abençoada e portadora da bênção de Deus , como Abraão (cf. Gn 12, 2-4).
Segue-se então a expressão “quem sou eu para que a Mãe do meu Senhor venha me visitar?” (1.43). Alguns vêem este texto como uma reatualização da frase de David em 2Sm 6,9, na história da transferência da Arca da Aliança para a casa de Obedebom[6]. Não se pode negar uma certa semelhança de vocabulário nem o paralelo entre os três meses de permanência da Arca na casa de Obedebom e a permanência de Maria na casa de Isabel (cf. 2Sm 6,11 e Lc 2,56). Segundo esta interpretação, Maria aparece então como a nova Arca da Aliança, carregando no seu ventre o próprio Filho de Deus . Por sua vez, outros autores [7] preferem relacioná-lo com Sl 109,1 porque ali encontramos a expressão “meu Senhor”; que Lucas o aplica aqui a Jesus através de sua Mãe para se referir ao descendente de David, com um sentido real-messiânico (cf. os oráculos messiânicos de Is 7,14; 9,6 aos quais alude Lc 1, 31,33). Mas há um aspecto de novidade no facto de no AT a expressão “meu Senhor” aparecer referida várias vezes ao rei (por exemplo, em 2Sm 13,32.33; 24,21), mas nunca ao Messias enquanto tal. Portanto, é Lucas quem estabelece esta conexão citando o Salmo 109:1 para atribuir a Jesus um tipo diferente e superior de soberania .
A exclamação de Isabel termina com uma declaração de bem-aventurança (μακαρία) de Maria pela sua fé. A visita de Maria à casa de Zacarias e Isabel é motivada pela sua fé na Palavra do Senhor, pois ali vai verificar o sinal da promessa, que é a gravidez de Isabel (cf. 1,36), porque acredita que Deus salva na história. Esta fé no cumprimento das palavras do Senhor merece a bem-aventurança e contrasta fortemente com a falta de fé do marido de Isabel, Zacarias, que não acreditou nas palavras do Senhor e por isso permaneceu mudo até ao nascimento de João Baptista (1,20). [8].
Maria acreditou no incrível, que seria uma virgem mãe do Filho de Deus, do Senhor. E ela está Feliz, Abençoada, por ter acreditado e espalhado essa felicidade. Ela é uma verdadeira missionária. Ela é tão cheia de Cristo que evangeliza com a sua presença e com a sua simples saudação .
MEDITAÇÃO:
No quarto domingo do Advento a liturgia nos apresenta a grávida Mãe do Senhor, dando um forte realismo à expectativa do nascimento do Salvador. Como escreveu São João Paulo II: “A Igreja, confortada pela presença do Senhor, caminha no tempo rumo à consumação dos séculos e vai ao encontro do Senhor que chega. Mas neste caminho prossegue, refazendo o itinerário feito pelo Virgem Maria”(Mãe do Redentor nº 2).
A liturgia apresenta-nos então María como modelo - exemplo de fé e esperançapor ter acreditado que o que lhe foi anunciado da parte do Senhor se cumprirá", nos convida a espere como Maria. Toda a espera milenar de Israel está concentrada e resumida em Maria. Mas ao mesmo tempo a transcende porque o cumprimento em Jesus superará a promessa, confirmando que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos (o inédito acontecerá!). Maria acreditou na Promessa de Deus, aceitou o inédito, a surpresa de Deus e nos ensina a esperar pelo Senhor Jesus com seu exemplo:
✓ Maria nos ensina a acreditar que o Senhor virá para nos salvar e a esperá-lo com alegria. ✓ Maria nos ensina a esperar a surpresa de Deus e a recebê-la com fé.
✓ Maria nos ensina a procurar e encontrar Deus no pequeno, no simples, no cotidiano.. Como diz lindamente o Papa Francisco: “Maria é quem sabe transformar uma caverna de animais na casa de Jesus, com algumas fraldas pobres e uma montanha de ternura” (EG n° 286).
✓ Maria nos ensina a ter esperança, apesar da pobreza de méritos, para receber o SenhorR: “Nosso Deus...já que nos faltam méritos próprios, ajuda-nos com a tua misericórdia”(oração coletiva para o 2º Domingo do Advento).
✓ Maria nos ensina a abrir-nos à ação fecunda do Espírito Santo em nós. Maria viveu a Encarnação de forma única e suprema e, através da sua fé, entregou-se à ação do Espírito Santo e tornou-se templo de Deus. Se toda a Igreja é a nova Jerusalém onde Deus vem habitar no seu meio, Maria o é de uma forma excelente. A atitude de Maria na anunciação é o modelo perfeito de como devemos receber Jesus; e fazê-lo para que esse acolhimento se torne uma entrega aos outros. Tudo isto é verdade, mas sem esquecer que o grande protagonista da Encarnação, e também da visitação, é o Espírito Santo. Como observa HU von Balthasar8: "Não foi Maria quem revelou a Isabel que está grávida – nem sequer contou a José – mas o Espírito Santo, que é quem faz “saltar de alegria” o filho que Isabel traz no ventre.".
✓ Maria ensina-nos a ser testemunhas e missionários, levando Jesus no coração e comunicando-o com gestos e palavras simples.. Ela recebeu Jesus, o Verbo de Deus que se fez carne, e o torna presente através da sua presença servil. Maria, depois de conceber Jesus por obra do Espírito Santo, sentiu um grande desejo de levá-lo aos outros. Imediatamente foi visitar sua prima Isabel. A mera presença de Jesus no ventre de Maria purificou e santificou João Batista antes de nascer. Assim Jesus, através da mediação de Maria, pôde começar a cumprir a sua missão salvífica. Este encontro das duas “mães grávidas” é modelo de todo encontro de fé e evangelização, obra do Espírito Santo nelas. Com efeito, "Maria e Isabel têm isto em comum, do qual podemos tirar vantagem hoje: sabem dialogar sobre o que Deus faz nelas. Nenhum deles fala de si, mas do outro, ou do que Deus fez, até ao culminar do Magnificat."9.
Cada comunidade e cada cristão contempla Maria e vê nela a plena realização da promessa de Deus de habitar no meio de nós. É por isso que é um modelo-ideal ao qual tender, ao qual aspirar com um desejo que envolve as fibras mais íntimas do nosso coração. Que a Palavra de Deus nos habite, nos encha da sua presença, como encheu o coração e a vida de Maria. É a realização do nosso Natal pessoal e comunitário.
A este respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 19 de dezembro de 2021: “Ele se levantou e saiu. No último trecho do caminho do Advento, deixemo-nos guiar por estes dois verbos. Levantar-se e caminhar rapidamente: estes são os dois movimentos que Maria fez e que ela também nos convida a fazer em vista do Natal […] Aprendamos com a Virgem esta forma de reagir: levantar-nos, especialmente quando as dificuldades ameaçam esmagar-nos . Levante-se, para não se atolar em problemas, afundando-se na autopiedade ou caindo numa tristeza que nos paralisa. Mas por que levantar? Porque Deus é grande e está pronto para nos elevar se o procurarmos. Então, joguemos Nele os pensamentos negativos, os medos que bloqueiam todo impulso e nos impedem de seguir em frente. E então façamos como Maria: olhemos ao nosso redor e procuremos alguém a quem possamos ajudar! Tem algum idoso que eu conheço que eu possa ajudar um pouco, fazer companhia? Deixe todos pensarem sobre isso. Ou fazer um serviço para uma pessoa, um favor, uma ligação? Mas quem posso ajudar? Eu me levanto e ajudo. Ao ajudar os outros, ajudar-nos-emos a superar as dificuldades...
O segundo movimento é andar rapidamente. Não significa prosseguir com agitação, de forma sufocada, não, não significa isso. Trata-se antes de conduzir os nossos dias com um passo alegre, olhando para a frente com confiança, sem nos arrastarmos com relutância, escravos das lamentações - estas queixas arruínam muitas vidas, porque se começa a lamentar e a lamentar e a vida desce. As reclamações levam você a sempre procurar alguém para culpar. Indo em direção à casa de Isabel, Maria avança com o passo rápido de quem tem o coração e a vida cheios de Deus, cheios da sua alegria. Então perguntemo-nos, para nosso benefício: como é o meu “passo”? Tenho propósito ou permaneço na melancolia, na tristeza? Sigo em frente com esperança ou paro para simpatizar? Se prosseguirmos com o passo cansado da rabugice ou da fofoca, não levaremos Deus a ninguém, só levaremos amarguras, coisas obscuras...
Que a Mãe de Deus nos tome pela mão, nos ajude a levantar e caminhar rapidamente rumo ao Natal!”.
“Maria, você foi proclamada feliz por Isabel porque disse sim (cf. Lc 1,45). Este sim, a tua resposta à Palavra, tornou-se imediatamente uma comunicação silenciosa daquela Palavra aos outros, uma comunicação que gerou a alegria da salvação em João, o Precursor, e em Isabel, cheia do Espírito Santo (cf. Lc 1,41). ).
Ajuda-nos a viver a fecundidade da nossa resposta. Queremos sempre dizer sim às exigências de Deus. Queremos viver numa atitude de desapego e de pobreza, numa atitude de contemplação fecunda e de esperança firme e serena, para dar aos nossos irmãos a alegria da tua presença porque tu... faz-nos viver a alegria da missão apostólica . Amém", Beato Cardeal Eduardo Pirônio.-
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Dançando nas barrigas
Meu Senhor e meu Deus
Agradecemos por esperar por María e Isabel
A maternidade da mulher ampliada
Tempo feliz da vida na vida
Oração elevada ao novo amanhecer
O Senhor quis no ventre de sua Mãe
Santifique a casa de Zacarias
A sagrada família o acolheu
E sua mãe diligente e atenciosa
Com alegria e ternura ele serviu
Exemplo inesquecível em nosso tempo
O Kairos gravou a imagem latente
João e Jesus cheios de alegria
Precursor e Messias
Dançando nas barrigas
Oh canções inspiradas de Elizabeth e Mary
Orações que o Espírito Santo
Ele deixou minha Igreja como herança
Encha seus corações com essas palavras
Cante sua doce melodia. Amém
[1] Cf. J. L. Sicre, De David al Mesías, Estella, Verbo Divino 1995; 296-302.
[2] Cf. R. E. Brown, El nacimiento del Mesías. Comentario a los Relatos de la Infancia, Madrid 1982, 442.
[3] R. E. Brown, El nacimiento del Mesías. Comentario a los Relatos de la Infancia, Madrid 1982, 345.
[4] Un niño nos ha nacido, EDE, Madrid 1995, 39.
[5] Cf. R. E. Brown, El nacimiento del Mesías, 355.
[6] Cf. L. H. Rivas, La obra de Lucas I. El Evangelio (Ágape; Buenos Aires 2012) 32-33. Para este autor el mensaje de este evangelio es presentar a Jesús como la Nueva Alianza de Dios con la humanidad y a María como nueva arca que lleva en su seno a Jesús.
[7]Acerca de la identificación entre María y el Arca de la Alianza a la que nos conduce la primera interpretación vista, Salvador Muñoz Iglesias sostiene: "Aparte de que esta singular identificación sería exclusiva de nuestro pasaje - nunca más repetido por Lucas ni en el resto del NT- otros motivos muy serios nos hacen considerarla dudosa y poco probable". Véase S. Muñoz Iglesias, Los Evangelios de la Infancia (Madrid 1986), II, 236. Para este autor la designación de "mi señor" no parece superar el título mesiánico del esperado descendiente de David llamado así por el Sl 109,1. Por su parte J. Fitzmyer piensa que "tal vez esta interpretación peque de demasiado sutil", en El Evangelio según Lucas (Madrid 1986), II, 147.
[8] Cf. R. E. Brown, El nacimiento del Mesías, 358.
[9] Luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 216.
[10] G. Zevini – P. G. Cabra, Lectio divina para cada día del año 1. (Verbo Divino; Estella 2001) 233.