04/05/2025
Primeira Leitura: Atos 5, 27b-32.40b-41
Salmo Responsorial: 29(30)-R- Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes.
Segunda leitura: Apocalipse 5,11-14
Evangelho: João 21, 1-19
Naquele tempo: 1Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades. A aparição foi assim: 2Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos de Jesus. 3Simão Pedro disse a eles: 'Eu vou pescar'. Eles disseram: 'Também vamos contigo'. Saíram e entraram na barca, mas não pescaram nada naquela noite. 4Já tinha amanhecido, e Jesus estava de pé na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus. 5Então Jesus disse: 'Moços, tendes alguma coisa para comer?' Responderam: 'Não'. 6Jesus disse-lhes: 'Lançai a rede à direita da barca, e achareis.' Lançaram pois a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes. 7Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: 'É o Senhor!' Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu sua roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar. 8Os outros discípulos vieram com a barca, arrastando a rede com os peixes. Na verdade, não estavam longe da terra, mas somente a cerca de cem metros. 9Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão. 10Jesus disse-lhes: 'Trazei alguns dos peixes que apanhastes'. 11Então Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a rede para a terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não se rompeu. 12Jesus disse-lhes: 'Vinde comer'. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. 13Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe. 14Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos. Jesus manifestou-se aos seus discípulos 15e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas”. 17Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas. 18Em verdade, em verdade te digo, quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir”. 19Jesus disse isso significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me”.
Jo 21,1-14
A aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos Pedro, Tomé, Natanael de Caná da Galiléia e os filhos de Zebedeu e outros dois se dá no contexto de uma pesca. Os sete discípulos nomeados eram na sua maioria pescadores. Tinham sido chamados para serem pescadores de homens e agora voltam ao antigo ofício.
A pesca é também o contexto das tarefas do cotidiano. Assim a aparição do ressuscitado ocorre no contexto das atividades do dia-a-dia da Igreja. Essa é uma característica importante da vida cristã: nosso encontro com o Ressuscitado se dá também no nosso cotidiano!
O relato da aparição à beira do lago de Tiberíades é repleto de simbolismos que precisamos prestar atenção. O apostolado é uma ação de pescar não peixes e sim homens, a noite de trabalho infrutífero está em oposição à manhã da aparição de Jesus. O número 7 parece também significativo.
A noite é o tempo apropriado para pescar, mas os pescadores não pegam peixe algum. É a noite das trevas, na qual Jesus está ausente. Os discípulos precisam experimentar mais uma vez que sem Jesus eles nada podem fazer.
A manhã é o tempo da graça na qual Jesus está vivo. Ele é o sol que ilumina. A sua luz é tal que os discípulos não o reconhecem. Jesus não é identificado não porque se esconda ou se faça confundir. São os olhos dos discípulos que não enxergam; é a pouca fé deles que os impedem de identificar a presença de Jesus. Ou é a luz esplendorosa do Ressuscitado que os ofusca.
Jesus pergunta se eles têm algo para comer. Aquele que veio para dar, inicialmente pede algo para comer. Como aconteceu com a Samaritana, aquele que dá, começa pedindo.
Jesus manda que os discípulos lancem as redes mais uma vez à direita do barco em que estão. A pesca milagrosa agora é possível porque Jesus está presente. Assim é o apostolado, a pesca de homens, só é fecunda em obediência à Palavra de Jesus. Quando cumprimos a Palavra de Jesus, o apostolado é fecundo.
O sinal milagroso da pesca é correta e rapidamente interpretado pelo discípulo amado: “é o Senhor”.
Ao ouvir isso, Pedro se lança à água. É um sinal de pressa em chegar até Jesus. Pedro tem pressa de ir até Jesus. Os discípulos seguem atrás arrastando as redes. No plano simbólico é a força de atração de Jesus que arrasta todos para Ele.
Os cento e cinquenta e três peixes indicam a abundância, e a rede que não se rompe é o símbolo da unidade da Igreja que não se rompe.
3º DomPáscoa – Jo 21, 1-19 – Ano C –
“Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão” (Jo 21,9)
O relato da última aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos tem uma cena belíssima. Novamente juntos, na praia e entre redes, como no começo; novamente diante de um trabalho cansativo e ineficaz, como tantas vezes; novamente a dureza de cada dia, em um cotidiano sem Jesus, como antigamente.
No relato deste domingo, a comunidade eclesial é representada por sete discípulos (Pedro, Tomé, Natanael, Tiago, João e mais dois discípulos anônimos). No pensamento semítico, sete é o número simbólico da plenitude. Nos sete discípulos está representada a plenitude do novo Povo de Deus, a Igreja. Mas, dos sete discípulos só cinco são nominados. Como no Evangelho de João, tudo é simbolicamente elaborado, também esse detalhe tem seu significado.
Podemos dizer que, nessa comunidade dos sete, nem todos encontraram a sua identidade. Estão em busca de um nome. Tudo ainda está aberto. Os discípulos anônimos também representam aqueles que mais tarde crerão em Cristo e farão parte da nova comunidade do Reino.
Os relatos das Aparições nos Evangelhos nos põem em contato com a situação de uma longa série de pessoas desoladas. O “golpe” da Sexta-feira Santa não pôde ser bem interpretado, de imediato, por aquele grupo de pescadores e que tinha convivido com Jesus. Todos “fizeram mudança” em tempo de desolação. As esperanças se perderam, a bondade de Deus parecia se esconder para sempre, a lembrança de Jesus fora reduzida a um cadáver a respeitar, e, quem sabe, uma bonita história a esquecer.
O vazio, o abandono, a solidão, a escuridão da noite, a rotina do trabalho corriqueiro domina a paisagem do relato da Aparição do Ressuscitado junto ao mar de Tiberíades. O que mudou na cotidianidade pós-pascal da comunidade? Aparentemente, tudo voltou à normalidade da vida corriqueira.
No entanto, a presença e o reconhecimento do Senhor dão ao trabalho profissional da pescaria uma nova dimensão. Não se trata mais de uma simples pescaria. Pescaria e pescadores tornam-se imagem da plenitude da vida e da unidade da missão. Pedro e João representam qualidades humanas que precisam ser integradas na vida de cada um e nas comunidades: ação e contemplação, liderança e amabilidade.
No retorno à praia, depois da abundante pesca, encontram algumas brasas, que recordam aquela fogueira em torno à qual, alguns dias antes, o velho pescador Pedro jurou não conhecer Jesus, negando-o três vezes. Agora, junto ao fogo irmão, Jesus lava com misericórdia a fraqueza de Pedro, transformando para sempre seu barro frágil em pedra fiel. A fidelidade e o amor de Jesus, sua graça sempre pronta, o humaniza de novo, reconstruindo sua vida e reativando em Pedro a liderança para o serviço. Sem ironia, sem indiretas, sem pagamento de dívidas atrasadas. Por pura graça, gratuitamente.
O Pedro que emerge das cinzas, atravessado pelo fogo terapêutico do amigo Jesus, é um Pedro corajoso, decidido, mas também muito mais amoroso, capaz de superar preconceitos antigos. Jesus percebe que por debaixo das cinzas da negação e da traição de Pedro está escondida a nobreza de um homem que precisa ser ativada.
O mundo e o contexto social e religioso no qual vivemos não é o mesmo dos primeiros discípulos. No entanto, se a vida cristã tem alguma coisa a dizer ao mundo atual, não pode se fixar nos velhos moldes de uma religião fria, arcaica, centrada no ritualismo e no legalismo, entupida de cinzas e carente de brasas vitais. A essência do cristianismo está na identificação com o Crucificado-Ressuscitado; somos seguidores(as) de uma Pessoa que pôs abaixo uma religião tóxica, que alimentava medo, culpa e angústia.
O que os cristãos precisam claramente, neste momento de desânimo e de abatimento, não é de resignação medrosa, mas de vida e vitalidade. Precisam da ardente fé para empreender novos caminhos, com entusiasmo renovado e sem temor.
A vida cristã não morrerá se ativarmos as brasas das bem-aventuranças em nosso interior. Esse é o fogo que nunca se apaga, deixado por Jesus. Segui-lo significa viver no calor de sua intimidade, de sua amizade.
Se o cristianismo sofre um esvaziamento no momento presente, talvez seja porque se rende com muita facilidade diante do perigo de extinção, sem se dar conta do que significa “manter as brasas e avivar o fogo”.
Onde deveria reinar a ousadia reina a resignação e a passividade; onde deveria estar presente o ardor, a criatividade, encontra-se a frieza, a indiferença, a petrificação da vida. A tentação consiste em fazer da sobrevivência a máxima aspiração, em vez de viver a vida plenamente, com toda profundidade e o entusiasmo que essa vocação cristã exige. Foi isso que o Ressuscitado fez ao encontrar-se com os seus amigos e amigas: reacendeu as brasas do amor, da compaixão, da amizade, da missão, do sonho do Reino...
A “vida ressuscitada”, mais que prudência, conformidade ou conservadorismo que pretendem preservar as coisas do passado em lugar de sua sabedoria, requer audácia, precisa de membros adultos que resistam ao envelhecimento da vida e de jovens que resistam ao envelhecimento da alma.
Somos já “seres ressuscitados” e esta certeza não justifica uma vida ancorada numa maneira tradicional de “pescar”. A capacidade de lançar as redes do outro lado do barco revela criatividade, ousadia e desejo de sair do túmulo do tradicional e da normose (normalidade doentia). A capacidade de arriscar é a virtude que faz a ponte entre a vida cristã atual e o novo que está para vir.
É preciso passar das “cinzas” dos conflitos, ódios, intolerâncias... às brasas da praia do mar da Galileia: brasas de vida, de amor, de encontro, de partilha, de amizade, de missão. Ali, as brasas são fogo, calor, alimento, eucaristia, páscoa, paz, comunidade... A comunidade cristã é novamente reconstruída pelo Ressuscitado em torno às brasas, e não em torno às leis frias, aos ritos vazios, às devoções estéreis... Estamos vivendo tempos de profundas mudanças, mas também emocionante e santo, para a Igreja.
Existem poderosas brasas debaixo das cinzas. O único que temos de fazer para avivar a chama é acolher o momento e vivê-lo com intensidade até suas últimas consequências.
Se não se pode agregar carvão ao fogo, então é preciso enterrar as brasas, levá-las a novos lugares para que possam arder de novo. Como manter o fogo neste momento? Agregar carvão e proteger as brasas são, simplesmente, diferentes partes do mesmo processo chamado vida em Deus, crescimento no compromisso, na espiritualidade, na santidade: “em sabedoria, idade e graça”.
No interior do Brasil, onde o fogão a lenha é ainda comum, as pessoas têm o hábito de enterrar, à noite, as brasas entre as cinzas, e assim manter vivo o fogo até a manhã seguinte. Em lugar de limpar completamente o fogão, conservam-se as brasas incandescentes debaixo de camadas de cinza para poder acender o fogo rapidamente no dia seguinte. A preocupação principal é, pois, não deixar que o fogo do dia anterior se apague completamente no fim da jornada. Pelo contrário, as brasas escondidas debaixo da cinza durante a longa e escura noite ficam bem protegidas para que o fogo possa voltar de novo à vida, com as primeiras luzes da manhã.
O velho fogo não morre, mas conserva o seu calor, a fim de estar preparado para acender o novo fogo. A verdadeira questão é se permanece ainda suficiente fogo debaixo das cinzas de nossa vida para suscitar a energia necessária a fim de tornar nossa vivência cristã mais autêntica e comprometida. O encontro com o Ressuscitado é confirmação da missão recebida: “Tu me amas? Apascenta...”.
Para meditar na oração:
Todos e cada um de nós, que vivemos hoje o seguimento do Ressuscitado, somos portadores do novo fogo. Cada um de nós é transparência de Sua Vida.
- Para vislumbrar o amanhã, o que temos de fazer é olhar para nós mesmos e nos perguntar: “brota uma energia profunda no meu coração? Percebe-se nele o desejo de um compromisso com o Evangelho? Aí há lugar para a audácia, a coragem, o fogo novo...? Ou se apagou o antigo fogo? É a vida agora simplesmente questão de suportar os dias e agir por inércia ou ela é lugar da criatividade, do calor humano, da energia inspiradora? Permanecem algumas brasas sob as cinzas da minha vida cristã?”
Neste terceiro domingo da Páscoa, a liturgia nos conta como Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades. Após os eventos que vivenciaram, eles retornaram à Galileia. O relato descreve que eles estavam juntos e que, em um determinado momento, Pedro diz: “Vou pescar” e os outros seguem sua decisão: "Também vamos contigo".
"Saíram e entraram na barca, mas não pescaram nada naquela noite”. Os sete discípulos descritos no texto agem juntos: eles saem e entram juntos no mesmo barco. Não há mais barcos individuais, mas uma barca na qual todos cabem. Podemos supor que cada um deles tenha sentimentos contraditórios, pois essa é a terceira aparição. Onde está Jesus? Eles tiveram a experiência de sua aparição quando estavam presos por medo dos judeus, e também sentiram com Tomé as feridas de suas feridas, mas o caminho a seguir não está claro. Eles tentam pescar, talvez da mesma forma como faziam antes, mas “não pescaram nada naquela noite”.
Um novo amanhecer se aproxima na vida desse grupo de pescadores: “Jesus estava de pé na margem” e disse-lhes: "Moços, tendes alguma coisa para comer?" Uma pergunta que recebe uma resposta categórica: “Não”. E depois de aceitarem a frustração de uma noite de pesca sem resultado, eles ouvem as palavras de Jesus, que lhes diz algo novo, diferente: "Lançai a rede à direita da barca, e achareis"
A autoridade de suas palavras não os faz duvidar, mas eles obedecem e ficam maravilhados com uma pesca totalmente nova e inesperada: “não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes”. Mais uma vez o discípulo “a quem Jesus amava” reconhece o Senhor ressuscitado e comunica isso a Pedro que, com grande ímpeto, se lança ao mar para ficar perto dele. O texto disse: “Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão.
Não há necessidade de perguntar o que já é conhecido internamente! Eles conhecem o Senhor e o reconhecem nesse momento! É Ele, o mesmo que esteve com eles em outras ocasiões, é o Senhor, que retorna para acompanhá-los em sua jornada. Três verbos descrevem esse novo encontro com Jesus: Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe.
Em primeiro lugar, Jesus se aproxima deles, está perto de cada um, não é necessário procurá-lo, ele está presente e, depois de se aproximar deles, pega o pão e o distribui a cada um. O primeiro diálogo em que ele pergunta se eles têm algo para comer e recebe um claro: não, a infertilidade de uma noite de pesca. Então, guiados por suas palavras, eles lançaram as redes novamente e pegaram uma pesca abundante e variada. Em um segundo momento, Jesus está esperando por eles na beira do mar com a comida preparada e os convida a compartilhar a mesa: "Vinde comer".
No começo, ele lhes pede algo para comer, pede-lhes o que têm, sua fragilidade, sua pobreza, sua infertilidade, para que, reconhecendo isso, possam ouvir novamente o convite para lançar as redes. Mas em um segundo momento, quando a pesca é abundante e eles poderiam se gabar de tudo o que têm para alimentá-lo, é o próprio Jesus que os chama para compartilhar a mesa com ele: ele os convida, aproxima-se de cada um deles e divide a comida entre eles.
Em seguida, Jesus dialoga com Pedro, fortalece-o no amor e lhe confia sua missão. Tendo em mente que estamos em um momento especial na Igreja, pois a Sé de Pedro está vaga devido à partida de nosso amado Papa Francisco, deixamos que estas palavras ressoem: Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir Palavras que se concretizaram na vida de Bergoglio, que foi ao conclave de 2013 com a certeza de que voltaria à sua cidade e ao seu país: "Ele estava se desfazendo das coisas, há um ano e meio, havia apresentado sua renúncia como arcebispo e esperava o nome do sucessor. Ele queria se retirar para a casa sacerdotal de Buenos Aires. Quando partiu para Roma, eu tentei lhe dizer: 'Sabe-se lá se iremos nos rever'. Ele me respondeu: 'Federico, vamos nos rever em breve'. Ele não pensava na possibilidade de ser eleito. Ele pensava em voltar ao seu povo e se aposentar" (cfr: Bergoglio antes de Francisco).
Deus o convidou a servir a sua Igreja e, deixando-se conduzir pelo Espírito e respondendo desde o amor apaixonado por Jesus, foi fonte de vida para toda a humanidade. Um sacerdote que visibilizou esse ser guiado e conduzido a lugares remotos e inimagináveis, onde já não era dono de seu tempo, nem de suas rotinas, porque cada um de seus gestos e atitudes tinha repercussões inimagináveis. Ao assumir o nome de Francisco, Jorge Bergoglio foi ousado diante do desafio que isso implicava, mas, movido pelo Espírito, levou-o adiante de tal forma que o impacto que ele teve e que nós vemos, emerge como grandes raios de luz no mundo inteiro. Sem dúvida, um dom do Espírito além de sua própria pessoa. Deus agiu por meio dele e nós somos testemunhas dessa ação.
Antes do início do Conclave que elegerá o novo Papa, pedimos ao Senhor que, como Igreja, saibamos receber o chamado de Jesus para compartilhar o pão, para renovar nosso amor por Jesus e nosso compromisso de segui-lo como Pedro!
A liturgia deste 3º Domingo do Tempo Pascal recorda-nos que a comunidade cristã tem por missão testemunhar e concretizar o projeto libertador que Jesus iniciou; e que Jesus, vivo e ressuscitado, acompanhará sempre a sua Igreja em missão, vivificando-a com a sua presença e orientando-a com a sua Palavra.
A primeira leitura apresenta-nos o testemunho que a comunidade de Jerusalém dá de Jesus ressuscitado. Embora o mundo se oponha ao projeto libertador de Jesus testemunhado pelos discípulos, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens.
A segunda leitura apresenta Jesus, o “cordeiro” imolado que venceu a morte e que trouxe aos homens a libertação definitiva; em contexto litúrgico, o autor põe a criação inteira a manifestar diante do “cordeiro” vitorioso a sua alegria e o seu louvor.
O Evangelho apresenta os discípulos em missão, continuando o projeto libertador de Jesus; mas avisa que a ação dos discípulos só será coroada de êxito se eles souberem reconhecer o Ressuscitado junto deles e se deixarem guiar pela sua Palavra.
Esta pergunta que o Ressuscitado dirige a Pedro lembra a todos nós que a vitalidade da fé não é uma questão de compreensão intelectual, mas de amor a Jesus Cristo. É o amor que permite a Pedro entrar numa relação viva com o Cristo ressuscitado e o que nos pode introduzir também no mistério cristão. Aquele que não ama, dificilmente pode entender algo sobre a fé cristã.
Não podemos esquecer que o amor brota em nós quando começamos a abrir-nos a outra pessoa numa atitude de confiança e entrega que vai sempre mais além de razões, provas e demonstrações. De certa forma, amar é sempre aventurar-se no outro.
Assim sucede também na fé cristã. Tenho razões que me convidam a acreditar em Jesus Cristo. Mas, se o amo, não é, em última análise, por causa dos dados que os investigadores me oferecem, nem pelas explicações que me oferecem os teólogos, mas porque ele desperta em mim uma confiança radical na sua pessoa.
Mas há algo mais. Quando amamos realmente uma pessoa concreta, pensamos nela, procuramo-la, ouvimo-la, sentimo-nos próximas dela. De alguma forma, toda a nossa vida fica tocada e transformada por ela, pela sua vida e pelo seu mistério.
A fé cristã é uma experiência de amor. Por isso, acreditar em Jesus Cristo é muito mais do que aceitar verdades sobre Ele. Acreditamos verdadeiramente quando ele se vai convertendo no centro do nosso pensamento, do nosso amor e do nosso viver. Um teólogo tão insuspeito de frivolidades como Karl Rahner não hesita em afirmar que só podemos acreditar em Jesus Cristo se queremos amá-lo e temos a coragem de abraçá-lo.
Este amor a Jesus não reprime nem destrói o nosso amor pelas pessoas. Pelo contrário, é precisamente ele que pode dar-lhe a sua verdadeira profundidade, libertando-o da mediocridade e da mentira. Quando vivemos em comunhão com Cristo é mais fácil descobrir que isso a que chamamos de amor é muitas vezes nada mais do que o egoísmo sensato e calculista daqueles que sabem comportar-se habilmente, sem nunca se arriscar a amar com total generosidade.
A experiência do amor por Cristo pode dar-nos força para amar, mesmo sem esperar sempre algum ganho, ou para renunciar a pequenas vantagens para servir melhor a quem precisa de nós. Talvez algo realmente novo se produziria nas nossas vidas se fossemos capazes de ouvir com sinceridade a pergunta do Ressuscitado: “Tu me amas?” Fonte: www.cebi.org.br
OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA
No texto de hoje, vamos meditar o último diálogo de Jesus com os discípulos. Foi um reencontro celebrativo, marcado pela ternura e pelo carinho. No fim, Jesus chamou Pedro e perguntou três vezes: "Você me ama?" Só depois de ter recebido, por três vezes a mesma resposta afirmativa é que Jesus deu a Pedro a missão de tomar conta das ovelhas. Para poder trabalhar na comunidade Jesus não pergunta se sabemos muito. O que ele pede é que tenhamos muito amor! Vamos conversar sobre isto.
SITUANDO
O capítulo 21 é um apêndice. A conclusão do capítulo anterior encerra tudo. O livro estava pronto. Mas havia muitos outros fatos sobre Jesus. Se fossem escritos, um por um, "o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam". Por isso, por ocasião da edição definitiva, alguns destes "muitos outros fatos" sobre Jesus foram selecionados e acrescentados, muito provavelmente, para clarear os novos problemas do fim do século I.
Eis a lista dos fatos acrescentados no apêndice:
1. Jo 21,1-3: A volta à pescaria: o difícil trabalho da evangelização
2. Jo 21,4-8: A pesca abundante: a palavra de Jesus faz crescer a comunidade
3. Jo 21,9-14: A celebração da ceia, presidida por Jesus que une a todos
4. Jo 21,15-17: O primado do amor no centro da missão
5. Jo 21,18-23: A discussão em torno da morte de Pedro e do Discípulo Amado
6. Jo 21,24-25: A nova conclusão do Quarto Evangelho.
Os outros evangelhos contêm episódios semelhantes a estes e foram conservados no apêndice do Evangelho de João. Mas eles os colocaram em outros momentos da vida de Jesus. Por exemplo, Lucas situa a pesca abundante bem no começo. Mateus coloca a missão de Pedro no fim da permanência na Galileia.
COMENTANDO
João 21,1-3: "Vamos pescar!" – retrato de um início difícil
Duas coisas chamam a atenção. A primeira é que os discípulos passaram a noite toda pescando e não apanharam nada. Isto significa que o começo do anúncio da Boa Nova, logo depois da morte e ressurreição de Jesus, não foi fácil. Muito trabalho e pouco resultado! Pouco peixe na rede. Mas eles continuaram tentando. Não desanimam. Têm perseverança. A segunda é que eles ainda não se dispersaram e continuam unidos, apesar das dificuldades. Então quase todos aí. Pedro, na frente, que toma a iniciativa. Junto dele Tomé, Natanael, Tiago e João, mais dois outros, cujos nomes não são revelados, e o discípulo a quem Jesus amava.
João 21,4-6: Nova ordem de lançar a rede
De manhã cedo, quando vêm voltando da pescaria frustrada, Jesus está na praia, mas eles não o reconhecem. Depois de ter constatado que não tinham pescado nada, Jesus manda lançar novamente a rede. Lançaram, e ela ficou tão cheia de peixes, que não deram conta de puxá-la. É a palavra de Jesus que faz crescer a comunidade! É a mesma abundância que já notamos quando Jesus mudou água em vinho e quando multiplicou os pães no deserto.
João 21,7-8: O amor é capaz de reconhecer Jesus
Vendo o resultado da pesca, o Discípulo Amado disse a Pedro: "É o Senhor!" O amor é capaz de reconhecer a presença de Jesus nas coisas que acontecem na vida. Ouvindo isso, Pedro, que estava nu, colocou uma roupa no corpo e pulou na água. É o Discípulo Amado que abriu os olhos de Pedro. Quando Pedro descobre a presença de Jesus, descobre também que ele mesmo está nu. Como diz a Carta aos Hebreus: diante de Jesus, a Palavra de Deus, "não há criatura oculta à sua presença, mas tudo está nu e descoberto" (Hb 4,13). Descobrindo Jesus, Pedro se reencontra consigo mesmo. Ele se refaz (coloca a roupa) e se torna capaz de enfrentar o mar. Estavam perto da margem. Os outros vêm atrás do barco, arrastando a rede cheia de peixes.
João 21,9-14: A celebração da ceia, presidida por Jesus que une a todos
Chegando à praia, descobrem que Jesus já tinha preparado uma refeição com pão e peixe assado nas brasas. Jesus manda trazer mais uns peixes dos que foram apanhados na rede. Pedro sobe no barco e arrasta a rede para a terra. Fazendo as contas, eram 153 peixes grandes, e, "apesar de serem tantos, a rede não se rompeu". Tudo isto tem um valor simbólico muito grande. A rede simboliza a Igreja. É Pedro que arrasta a rede, mas é o Discípulo Amado que reconhece Jesus. Alguns acham que tudo isto se refere a um fato que aconteceu no fim do século I. Diante das perseguições cada vez mais fortes contra os cristãos, as comunidades do Discípulo Amado com seus 153 membros uniram-se às outras comunidades coordenadas pelos outros apóstolos. E aí todos juntos fizeram uma grande celebração da unidade, em cujo centro estava o próprio Senhor Jesus, preparando a Ceia.
João 21,15-19: O amor no centro da missão
Terminada a refeição, Jesus chama Pedro e pergunta 3 vezes: "Você me ama?" Três vezes, porque foi três vezes que Pedro negou Jesus. Depois de três respostas afirmativas, Pedro recebe a ordem de tomar conta das ovelhas. Jesus não perguntou se Pedro tinha estudado exegese, teologia, moral ou direito canônico. Só perguntou: "Você me ama?" Foi nessa hora que Pedro se tornou também "Discípulo Amado". O amor em primeiro lugar. Para as comunidades do Discípulo Amado, o que sustenta o primado e mantém as comunidades unidades não é a doutrina, mas sim o amor.
Conheça o livro O avesso é o lado certo. Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas
Quase todas as traduções da Bíblia intitulam o capítulo 21 de João como “Apêndice” ou “Epílogo”. Realmente, em uma primeira edição, o evangelho terminava no capítulo 20. Mas, devido a uma situação nova nas comunidades, se tornou necessária a adição do último capítulo. Essa situação era a fusão de dois tipos de comunidades cristãs - as da tradição sinótica ou apostólica, e as da tradição da comunidade do Discípulo Amado. Essa fusão aconteceu pelo fim do primeiro século e é simbolizada nos versículos 15-18, onde Pedro recebe a primazia e a missão de pastor dos discípulos. Mas somente depois de ter afirmado três vezes que amava Jesus. A comunidade do Discípulo Amado aceita a função apostólica de Pedro, mas insiste que antes de ser apóstolo é mais fundamental ser discípulo - ou seja, amar Jesus.
A primeira parte do texto (vv. 1-14) tem grandes semelhanças com a história da “pesca milagrosa” de Lucas (Lc 5,1-11). Mas o contexto, pós-ressurrecional, é diferente. Como sempre no Quarto Evangelho devemos prestar atenção aos símbolos - sejam eles pessoas, eventos, ou números. Chama a atenção que - embora seja a terceira aparição de Jesus - os discípulos não o reconhecem. Isso demonstra que a presença de Jesus depois da Ressurreição, embora real, não é igual à sua presença durante a sua vida terrestre. Quem O reconhece primeiro é o Discípulo Amado - pois só quem vê com olhos de amor reconhece e vê além das aparências. Como foi o amor que o levou a correr mais depressa ao túmulo do que Pedro em Cap. 20, é o amor que faz com que ele seja o primeiro a reconhecer a presença de Jesus ressuscitado. Ele é o Discípulo Amado e que ama. Pedro o será somente depois da sua profissão de amor (vv. 15-17).
A pesca simboliza a missão dos discípulos. Segundo muitos estudiosos, embora existam outras hipóteses também, o número de 153 peixes se baseia no fato de que os zoólogos gregos da antiguidade achavam que existiam no mundo 153 espécies de peixe. Então, o Evangelho está dizendo que a Igreja (simbolizada pela rede) pode abraçar o universo inteiro - todos os povos e culturas. É interessante que - diferente da história em Lucas - a rede não se rompe! A diversidade de culturas, tradições e povos constitui uma riqueza para a Igreja e não deve levar a rompimento da unidade, sem que se imponha a uniformidade (a palavra grega que João usa para “romper” é “schisma”). Certamente essa visão deve desafiar e questionar tantas tendências de centralização e rigidez que ainda existem na Igreja hoje!
O nó da questão está na entrega da missão a Pedro. Ele deve ser o Bom Pastor das ovelhas e dos cordeiros - dos membros das comunidades. Mas, as ovelhas não pertencem a ele - ele é apenas o Pastor - as ovelhas pertencem ao Senhor! Aqui Pedro recebe esta grande missão que nos Sinóticos ele recebe na estrada de Cesaréia de Felipe. Mas mais importante do que a sua função é a sua vocação de discípulo - aquele que ama e segue o Senhor. Só quem ama Jesus profundamente poderá pastorear os seus seguidores. Se, no primeiro capítulo do Evangelho, Pedro veio a Jesus por mediação do seu irmão André (Jo 1, 40-42), agora recebe o convite do próprio Mestre: “Siga-me", pois no amor Ele fez a opção pelo discipulado.
Todos nós recebemos o mesmo convite: “Siga-me”. Seja qual for a nossa função e missão na Igreja, elas só terão sentido na medida em que realmente amarmos Jesus - um amor que só é autêntico se amarmos os outros, na luta comum em favor da construção de um mundo onde todos/as possam “ter vida e vida em abundância” (Jo 10,10), pois “se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4,11).
Fonte: CEBI Nacional
AMBIENTE
O último capítulo do Evangelho segundo João não faz parte da obra original (a obra original terminava com a conclusão de 20,30-31); é um texto acrescentado posteriormente, que apresenta diferenças de linguagem, de estilo e mesmo de teologia, em relação aos outros vinte capítulos. A sua origem não é clara; no entanto, a existência de alguns traços literários tipicamente joânicos poderia fazer-nos pensar num complemento redigido pelos discípulos do evangelista.
Neste capítulo, já não se referem notícias sobre a vida, a morte ou a ressurreição de Jesus. Os protagonistas são, agora, um grupo de discípulos, dedicados à atividade missionária. O autor descreve a relação que esta “comunidade em missão” tem com Jesus, reflete sobre o lugar de Jesus na atividade missionária da Igreja e assinala quais as condições para que a missão dê frutos.
MENSAGEM
O texto está claramente dividido em duas partes.
A primeira parte (vers. 1-14) é uma parábola sobre a missão da comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem carácter de “signo”.
Começa por apresentar os discípulos: são sete. Representam a totalidade (“sete”) da Igreja, empenhada na missão e aberta a todas as nações e a todos os povos.
Esta comunidade é apresentada a pescar: sob a imagem da pesca, os evangelhos sinópticos representam a missão que Jesus confia aos discípulos (cf. Mc 1,17; Mt 4,19; Lc 5,10): libertar todos os homens que vivem mergulhados no mar do sofrimento e da escravidão. Pedro preside à missão: é ele que toma a iniciativa; os outros seguem-no incondicionalmente. Aqui faz-se referência ao lugar proeminente que Pedro ocupava na animação da Igreja primitiva.
A pesca é feita durante a noite. A noite é o tempo das trevas, da escuridão: significa a ausência de Jesus (“enquanto é de dia, temos de trabalhar, realizando as obras daquele que Me enviou: aproxima-se a noite, quando ninguém pode trabalhar; enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo” – Jo 9,4-5). O resultado da ação dos discípulos (de noite, sem Jesus) é um fracasso rotundo (“sem Mim, nada podeis fazer” – Jo 15,5).
A chegada da manhã (da luz) coincide com a presença de Jesus (Ele é a luz do mundo). Jesus não está com eles no barco, mas sim em terra: Ele não acompanha os discípulos na pesca; a sua acção no mundo exerce-se por meio dos discípulos.
Concentrados no seu esforço inútil, os discípulos nem reconhecem Jesus quando Ele Se apresenta. O grupo está desorientado e decepcionado pelo fracasso, posto em evidência pela pergunta de Jesus (“tendes alguma coisa de comer?”). Mas Jesus dá-lhes indicações e as redes enchem-se de peixes: o fruto deve-se à docilidade com que os discípulos seguem as indicações de Jesus. Acentua-se que o êxito da missão não se deve ao esforço humano, mas sim à presença viva e à Palavra do Senhor ressuscitado.
O surpreendente resultado da pesca faz com que um discípulo o reconheça. Este discípulo – o discípulo amado – é aquele que está sempre próximo de Jesus, em sintonia com Jesus e que faz, de forma intensa, a experiência do amor de Jesus: só quem faz essa experiência é capaz de ler os sinais que identificam Jesus e perceber a sua presença por detrás da vida que brota da acção da comunidade em missão.
Os pães com que Jesus acolhe os discípulos em terra são um sinal do amor, do serviço, da solicitude de Jesus pela sua comunidade em missão no mundo: deve haver aqui uma alusão à Eucaristia, ao pão que Jesus oferece, à vida com que Ele continua a alimentar a comunidade em missão.
O número dos peixes apanhados na rede (153) é de difícil explicação. É um número triangular, que resulta da soma dos números um a dezessete. O número dezessete não é um número bíblico… Mas o dez e o sete são: ambos simbolizam a plenitude e a universalidade. Outra explicação é dada por S. Jerónimo… Segundo ele, os naturalistas antigos distinguiam 153 espécies de peixes: assim, o número faria alusão à totalidade da humanidade, reunida na mesma Igreja. Em qualquer caso, significa totalidade e universalidade.
Na segunda parte do texto (vers. 15-19), Pedro confessa por três vezes o seu amor a Jesus (durante a paixão, o mesmo discípulo negou Jesus por três vezes, recusando dessa forma “embarcar” com o “mestre” na aventura do amor que se faz dom). Pedro – recordemo-lo – foi o discípulo que, na última ceia, recusou que Jesus lhe lavasse os pés porque, para ele, o Messias devia ser um rei poderoso, dominador, e não um rei de serviço e de dom da vida. Nessa altura, ao raciocinar em termos de superioridade e de autoridade, Pedro mostrou que ainda não percebera que a lei suprema da comunidade de Jesus é o amor total, o amor que se faz serviço e que vai até à entrega da vida. Jesus disse claramente a Pedro que quem tem uma mentalidade de domínio e de autoridade não tem lugar na comunidade cristã (cf. Jo 13,6-9).
A tríplice confissão de amor pedida a Pedro por Jesus corresponde, portanto, a um convite a que ele mude definitivamente a mentalidade. Pedro é convidado a perceber que, na comunidade de Jesus, o valor fundamental é o amor; não existe verdadeira adesão a Jesus, se não se estiver disposto a seguir esse caminho de amor e de entrega da vida que Jesus percorreu. Só assim Pedro poderá “seguir” Jesus (cf. Jo 21,19).
Ao mesmo tempo, Jesus confia a Pedro a missão de presidir à comunidade e de a animar; mas convida-o também a perceber onde é que reside, na comunidade cristã, a verdadeira fonte da autoridade: só quem ama muito e aceita a lógica do serviço e da doação da vida poderá presidir à comunidade de Jesus.
ATUALIZAÇÃO
Considerar, para reflexão e atualização, as seguintes indicações:
• A mensagem fundamental que brota deste texto convida-nos a constatar a centralidade de Cristo, vivo e ressuscitado, na missão que nos foi confiada. Podemos esforçar-nos imenso e dedicar todas as horas do dia ao esforço de mudar o mundo; mas se Cristo não estiver presente, se não escutarmos a sua voz, se não ouvirmos as suas propostas, se não estivermos atentos à Palavra que Ele continuamente nos dirige, os nossos esforços não farão qualquer sentido e não terão qualquer êxito duradouro. É preciso ter a consciência nítida de que o êxito da missão cristã não depende do esforço humano, mas da presença viva do Senhor Jesus.
• É preciso ter, também, a consciência da solicitude e do amor do Senhor que, continuamente, acompanha os nossos esforços, os anima, os orienta e que connosco reparte o pão da vida. Quando o cansaço, o sofrimento, o desânimo tomarem posse de nós, Ele lá estará, dando-nos o alimento que nos fortalece. É necessário ter consciência da sua constante presença, amorosa e vivificadora ao nosso lado e celebrá-la na Eucaristia.
• A figura do “discípulo amado”, que reconhece o Senhor nos sinais de vitalidade que brotam da missão comunitária, convida-nos a ser sensíveis aos sinais de esperança e de vida nova que acontecem à nossa volta e a ler neles a presença salvadora e vivificadora do Ressuscitado. Ele está presente, vivo e ressuscitado, em qualquer lado onde houver amor, partilha, doação que geram vida nova.
• O diálogo final de Jesus com Pedro chama a atenção para uma dimensão essencial do discipulado: “seguir” o “mestre” é amá-lo muito e, portanto, ser capaz de, como Ele, percorrer o caminho do amor total e da doação da vida.
• Na comunidade cristã, o essencial não é a exibição da autoridade, mas o amor que se faz serviço, ao jeito de Jesus. As vestes de púrpura, os tronos, os privilégios, as dignidades, os sinais de poder favorecem e tornam mais visível o essencial (o amor que se faz serviço), ou afastam e assustam os pobres e os débeis?
(Traduzido pelo tradutor Google sem nossa correção. Se desejar, confira com o original, logo após a tradução)
TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA CICLO "C"
Primeira Leitura (Atos 5,27-32.40-41):
O texto que lemos hoje pressupõe a narrativa precedente (cf. At 5,17-26) onde os apóstolos estavam presos e, de noite, o anjo do Senhor os libertou; depois disso eles retornaram ao templo para ensinar. Lá, eles são presos novamente e levados perante o Sinédrio, onde são interrogados pelo Sumo Sacerdote. Aqui começa o texto de hoje.
A resposta de Pedro, em nome dos Apóstolos, é antes de tudo uma declaração de independência ou liberdade religiosa, pois ele argumenta que a obediência a Deus vem antes da obediência aos homens (aludindo à proibição da pregação). Segue-se uma breve proclamação do querigma cristológico primitivo (cf. At 2,22-36; 3,12-26; 4,8-12) com os seus elementos essenciais: crucificação e morte de Jesus pelas mãos dos judeus; ressurreição de Jesus por obra de Deus (Pai) que o exalta, colocando-o à sua direita; oferta de conversão e perdão de pecados para Israel; testemunho dos Apóstolos.
Por sua vez, nesta versão abreviada do querigma encontramos alguns elementos novos. Em primeiro lugar, a atribuição a Jesus ressuscitado dos títulos de Líder (arjegós) e Salvador (soter), que têm um claro alcance salvífico em favor de Israel: «para conceder a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados» (Act 5, 31). Como em Atos 2:33, a exaltação de Jesus Ressuscitado junto ao Pai o coloca em condições de oferecer a salvação aos homens. A outra novidade é que, ao lado do testemunho dos apóstolos, é introduzido “o Espírito Santo que Deus deu àqueles que lhe obedecem”. (Hb 5:32). E como Pedro começou dizendo que estava obedecendo a Deus antes que aos homens, está implicitamente declarado que Pedro fala movido pelo Espírito Santo que recebeu por sua obediência a Deus e que o transformou em uma testemunha.
Segunda leitura (Ap 5,11-14):
A figura do "cordeiro" é central no Apocalipse, onde o termo aparece cerca de 29 vezes. E está também no fragmento que lemos hoje, focado no louvor do “cordeiro”. U. Vanni 1 aponta que "a igreja-assembleia descobre no cordeiro o próprio Cristo, que mais uma vez assume a função sacrificial do cordeiro pascal do Êxodo e da entrega do servo de Javé, de quem fala Deutero-Isaías. Mas não basta. Fala-se da posição de Cristo-cordeiro, isto é, do Cristo ressuscitado."
Em suma, a imagem do cordeiro representa Cristo, morto e ressuscitado, que está na glória de Deus depois de ter sido sacrificado e, portanto, recebe louvor juntamente com o próprio Deus ("aquele que está sentado no trono"). Assim, o texto de hoje é o convite que toda a criação, tanto celeste quanto terrena, recebe para explodir em um hino de louvor e adoração a Cristo, morto e ressuscitado, ao Cordeiro. Nos versículos que precedem o texto que lemos hoje, a primeira ação do Cordeiro, Cristo Ressuscitado, foi apresentada como a abertura do livro inacessível que estava nas mãos de Deus (cf. Ap 5, 6-8). Isto significa que a partir de agora o plano de Deus para a história está nas mãos de Cristo; ou em outras palavras, que somente Cristo Ressuscitado pode nos revelar o verdadeiro sentido da vida e da história.
Evangelho (Jo 21,1-19):
Esta é a quarta história da ressurreição no Evangelho de João e para muitos estudiosos é uma adição ou apêndice feito por alguém da comunidade joanina, pois conhece muito bem a obra 2 . O tema predominante deste “acréscimo” é a primazia de Pedro, que percorre toda a narrativa (21:2, 3, 7, 11, 15, 16, 17, 20, 21), sendo protagonista, primeiro, da pesca milagrosa e, depois, do seu chamado ao pastoreio. Ao mesmo tempo, “a presença de Jesus ressuscitado é sublinhada na comunidade em missão em meio às hostilidades do mundo” 3 . O texto, embora mantendo sua unidade de significado, pode ser dividido em duas subseções:
a) a pesca milagrosa (21,1-14);
b) A missão de Pedro (21,15-19).
Depois das aparições de Jesus Ressuscitado em Jerusalém, sua manifestação continua nesta ocasião nas margens do Lago de Tiberíades ou no Mar da Galileia. No Quarto Evangelho, o Mar da Galileia é mencionado duas vezes como Tiberíades: no relato da multiplicação dos pães e neste relato da aparição de Cristo ressuscitado. Sete dos seus discípulos estão presentes aqui, dos quais cinco são identificados: Pedro, Tomé, Natanael e os filhos de Zebedeu (João e Tiago). Os outros dois discípulos não são nomeados. Os cinco citados fazem parte dos discípulos de Jesus desde a primeira hora, os primeiros a serem chamados e a segui-lo (cf. Jo 1, 35-51). Faltam neste grupo – e não sabemos por quê – André, irmão de Simão Pedro, e Filipe.
Pedro toma a iniciativa: Vou pescar; e os outros o seguiram. Depois da paixão os discípulos retornam à sua antiga região – a Galileia –; já sua atividade anterior – pesca –. A novidade desta história é que Jesus ressuscitado se faz presente na vida cotidiana dos discípulos.
"Mas naquela noite eles não pegaram nada." Eles se encontram em uma situação de fracasso, justamente naquilo que deveriam saber fazer bem, já que eram pescadores de profissão. X. León Dufour comenta 4 : “À primeira vista, o fracasso noturno deixa o campo aberto à intervenção milagrosa, mas o sentido que lhe é dado é bem claro: os trabalhadores apostólicos não podem obter nada se não estiverem unidos a Jesus, como ele havia dito usando a imagem dos ramos unidos à videira (15, 4-5).”
"Ao amanhecer, Jesus estava na praia." Essa referência pode nos lembrar da travessia do Mar Vermelho quando, ao amanhecer, o povo estava na outra margem e os egípcios jaziam mortos no meio do mar. Então Jesus lhes pede comida, mas suas mãos estão vazias porque não pegaram nada. Com este pedido ele os convida a reconhecer sua falta, sua pobreza.
Do mesmo modo, ele pediu à samaritana: “Dá-me de beber” (cf. Jo 4,7), para que ela reconhecesse sua carência, sua necessidade da água viva da revelação, da salvação.
"Lancem a rede para o lado direito do barco e vocês encontrarão alguns. Eles a jogaram, e ela ficou tão cheia de peixes que não conseguiram puxá-la." Eles praticam a obediência à Palavra de Jesus além do peso do fracasso por não terem pescado nada a noite toda, e o resultado é uma pesca milagrosa de comida abundante. Nesta narrativa da aparição, a primeira função do sinal é permitir o reconhecimento do Ressuscitado (cf. 21,7.12). Ao mesmo tempo, no contexto do simbolismo tradicional, onde a pesca prefigura a atividade dos "pescadores de homens", o narrador mostra que a tarefa evangelizadora é fruto da presença de Jesus, a única que torna eficaz a ação dos discípulos. Os obreiros apostólicos dão fruto quando permanecem unidos ao Filho vivo. Esta é uma sinergia entre Deus e os homens . 5
"O discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor!" (o` ku, rio, je vstin). Aquele que se sente amado, o discípulo amado, é aquele que o reconhece. É o mesmo que, diante do túmulo vazio e com as faixas arrumadas, «viu e creu» (Jo 20, 8). Na verdade, “quanto mais amado alguém se sente, mais depressa acredita” 6 . É a Fé Pascal que nasce da contemplação, do silêncio e da escuta. É a Fé capaz de ver Deus em todas as coisas, própria do contemplativo na ação.
Agora podemos ver como os discípulos reagem de forma diferente. Pedro, ativo e impulsivo, lança-se à água para encontrar o Senhor. O discípulo amado é contemplativo, reconhece o Senhor, mas não age. Pedro aproveita a capacidade contemplativa do discípulo amado para agir de maneira diferente e complementar. Os outros discípulos retornam à praia no barco arrastando a rede cheia de peixes. Há uma diversidade de carismas que se complementam na unidade da missão.
Quando chegam à praia, Jesus já tem um peixe assado na brasa e pão. O peixe e o pão, assim como o lugar às margens do lago de Tiberíades, remetem-nos à história da multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes (cf. Jo 6, 1-13).
Jesus pede que eles tragam alguns dos peixes que acabaram de pescar. Pedro vai imediatamente até o barco e puxa a rede para a praia cheia de peixes grandes. É Pedro quem apresenta a Jesus toda a pesca: 153 peixes. Esse número tem sido objeto de muitas interpretações, talvez a mais precisa seja que ele simboliza a universalidade da missão, já que 153 era o número de nações conhecidas naquela época; ou o número de tipos conhecidos de peixes. Para além do simbolismo do número 153, sempre hipotético, a verdade é que “apesar de serem tantos, a rede não se rompeu” (Jo 21, 11).
Nenhum dos discípulos ousou perguntar-lhe: 'Quem és tu?' porque sabiam que era o Senhor." Aqui é usada exatamente a mesma expressão que na exclamação do discípulo amado em 21:7: É o Senhor (o` ku,rio,j evstin). Portanto, agora todos os discípulos, estando com Jesus partilhando o pão, o reconhecem como o Senhor. Não é um reconhecimento externo, pois não diz que agora o “vêem”, mas sim uma certeza de fé que alcançam através dos vários sinais. É por isso que o texto diz que eles “sabem”, “reconhecem” (verbo grego oida) que é o Senhor. Este versículo contrasta com 21:4, no início da história, onde diz que os discípulos "não sabiam (oida) que era Jesus". E Jesus confirma este reconhecimento dos discípulos fazendo um gesto final praticamente idêntico ao da multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 11): «Tomou o pão e deu-lho, e fez o mesmo com os peixes». Devemos reconhecer aqui uma referência à Eucaristia e um certo paralelo entre esta história e a dos discípulos de Emaús.
As ações de Jesus Ressuscitado descritas neste capítulo final de João trazem à mente as ações que ele realizou durante seu ministério público. A intenção é ensinar que o Jesus que agora está com eles glorificado é o mesmo Jesus que eles conheceram antes.
Segundo R. Brown, seguido por F. Moloney 7 , os temas fundamentais desta história são: a universalidade da comunidade cristã, fruto da iniciativa de Jesus; a liderança de Pedro e do discípulo amado; e a participação dos discípulos.
Depois de comer, Jesus chama Pedro de lado para lhe fazer a mesma pergunta três vezes: "Simão, filho de João, você me ama?" A expressão “Simão, filho de João” nos lembra o primeiro encontro de Pedro com Jesus e seu primeiro chamado (cf. Jo 1,42). Na tripla pergunta de Jesus “você me ama?” dois verbos diferentes são usados para "amar". Nas duas primeiras perguntas o verbo agapáō (ἀγαπάω) é usado. Na terceira pergunta, o verbo philéō (φιλέω) é usado. Pedro sempre lhe responde com o verbo philéō. Para o evangelista essas duas formas do verbo amar são quase sinônimos. O amor de devoção – agapáō – está em completa harmonia com o amor de amizade – philéō -. De fato, ele os utiliza indistintamente em outras passagens do Evangelho (cf. Jo 5,20; 14,21). Jesus ama Pedro com o amor de ágape e o amor de philéō, como expressou no discurso da Última Ceia: “Ninguém tem maior amor – ágape – do que aquele que dá a vida pelos seus amigos – philos” (Jo 15,13).
“Alimente minhas ovelhas.” Jesus quer que o amor que Pedro lhe confessa seja demonstrado no pastoreio do rebanho do Senhor. Parece claro que esta tripla confissão de amor é uma reparação pela tripla negação do Senhor por parte de Pedro durante a Paixão. Como pano de fundo, temos que reconhecer o discurso do Bom Pastor (cf. 10, 1-18), pois usa a mesma metáfora e tem os mesmos acentos. Mas notemos que as ovelhas confiadas a Pedro não lhe pertencem, mas sim a Jesus, que em cada ocasião diz: “minhas ovelhas” 8 .
Após a terceira resposta de Pedro, finalmente aceita por Jesus, ele lhe anuncia "com que morte Pedro deveria glorificar a Deus". A frase de Jesus se refere ao fato de que quando alguém é jovem ele se controla e quando chega à velhice os outros o controlam. Com esta palavra, Jesus Ressuscitado mostra a Pedro que apascentar o rebanho significa identificar-se com Ele no dom da vida e assim glorificar a Deus. Pode-se ver aqui também, particularmente na expressão “estender as mãos”, uma prefiguração da futura crucificação de Pedro; isto é, ele terá uma morte de mártir. Então ele diz a ele “Você me segue” (σύ μοι ἀκολούθει). A tríplice confissão de amor é seguida pela renovação da vocação, do chamado. Isso nos lembra de outro diálogo entre Jesus e Pedro no final da Última Ceia: "Simão Pedro lhe perguntou: 'Senhor, para onde vais?' Jesus respondeu: "Para onde eu vou, tu não podes seguir-me agora; mais tarde, porém, me seguirás" (Jo 13,36).
Agora que Pedro aprendeu a reconhecer sua fragilidade, o Senhor o convida novamente a segui-lo pelo caminho do sofrimento e da humildade. Fica claro que Jesus confia novamente em Pedro e renova sua vocação e missão, que consiste em amar o Senhor apascentando seu rebanho até o ponto de dar a vida por Ele.
Algumas reflexões:
No Evangelho deste Domingo, como em todo o tempo pascal, procuramos responder ao que o Cardeal CM Martini chama de “o típico problema eclesial: como a presença do Verbo Encarnado continua a manifestar-se especificamente na vida da Igreja” 9 . Nesta perspectiva temos que ler as leituras deste domingo (e dos seguintes).
Em primeiro lugar, vemos que em todos os relatos das aparições de Jesus, ele entra na vida dos discípulos de forma simples e discreta; sem que eles percebam. Talvez o que o texto queira nos dizer com isso é que Jesus está presente, mesmo que não percebamos, e que ele se faz conhecer indiretamente, não direta e abertamente.
Como vimos, o retorno dos discípulos ao seu lugar de origem, a Galileia; Sua atividade diária, a pesca, nos convida a, antes de tudo, destacar a presença de Jesus em nossa vida cotidiana. Ele está lá, todos os dias, o tempo todo, conosco. Mas de uma forma discreta e simples. A este respeito, E. Leclerc 10 diz : "O retorno à Galileia assume aqui todo o seu significado. Ao revelar-se aos discípulos ali, onde se mostrara tão próximo deles, Jesus fazia-lhes saber que o seu senhorio e a sua entrada na glória do Pai não o distanciavam em nada da nossa humanidade, e que continuava muito presente entre eles, sempre tão próximo e compreensivo [...] Desta forma, indicava-lhes claramente que não deviam procurar a glória do Pai e o seu senhorio acima, mas com. Não consistem no domínio, mas na comunhão. Não consistem na distância, mas na Aliança. Porque a soberania de Deus é uma soberania de amor. E o amor encontra a sua perfeição, a sua soberania e a sua glória na comunhão mais profunda, mais universal e mais gratuita."
Portanto, alcançar uma verdadeira fé pascal implica um processo de purificação do olhar pela fé, para que possamos reconhecer a sua presença discreta na nossa vida quotidiana. Em segundo lugar, não podemos ignorar o valor simbólico do barco, com Pedro ao leme, e também da pesca abundante. É a Igreja, presidida por Pedro e seus sucessores, que é fecunda em sua ação evangelizadora, desde que o faça em obediência à Palavra de Jesus, pois Ele continua sendo seu Senhor. A noite pode ser longa e o trabalho muitas vezes cansativo e aparentemente infrutífero, mas o Senhor leva em consideração a perseverança dos discípulos em permanecerem unidos e sua confiança em suas instruções.
superando o peso do fracasso. E com estas condições ele se faz presente entre eles 11 . Portanto, a primeira parte da história do Evangelho tem esta mensagem fundamental: Jesus Ressuscitado é o Senhor; e está presente e ativo em sua Igreja.
Da mesma forma, na primeira leitura, Pedro anuncia que Jesus ressuscitado foi constituído por Deus como "Cabeça e Salvador" e nos mostra que a fé pascal nos convida a reconhecer Jesus como Senhor, Cabeça e Salvador, presente e ativo na Igreja, em nossas vidas e em nossa história. E é o mesmo Cristo, morto e ressuscitado, que o Apocalipse confessa como o Cordeiro digno de receber todo louvor e honra juntamente com Deus, que está sentado no trono. E “todas as criaturas do céu e da terra” o adoram como Deus e Senhor da história.
Quanto à segunda parte do Evangelho, no diálogo com Pedro, Jesus lhe pede que aceite duas coisas: pastorear o rebanho e estar pronto para o martírio (disponibilidade total). E tudo isso tendo como única motivação válida o amor a Jesus, que configura o apostolado cristão, como bem explica Santo Agostinho: “O que significam as palavras: ‘Tu me amas?’, ‘apascenta as minhas ovelhas?’ É como se, com eles, o Senhor dissesse: ‘Se me amais, não penseis em apascentar-vos a vós mesmos. Apascentai as minhas ovelhas, porque são minhas, não como vossas; procurai alimentar a minha glória, não a vossa; procurai estabelecer o meu Reino, não o vosso; cuidai dos meus interesses, não dos vossos, se não quereis estar entre aqueles que, nestes tempos difíceis, se amam a si mesmos e, por isso, caem em todos os outros pecados que nascem deste amor-próprio como se desde o seu princípio. Não amemos a nós mesmos, mas ao Senhor, e, ao apascentar as suas ovelhas, procuremos os seus interesses e não os nossos. O amor a Cristo deve crescer naquele que apascenta as suas ovelhas até atingir um ardor espiritual que o faça superar até mesmo aquele medo natural da morte, de modo que seja capaz de morrer precisamente porque quer viver em Cristo’ 12 .
Assim, este segundo chamado encontra Pedro mais maduro, mais humilde, consciente de sua fragilidade a ponto de ser capaz de aceitar que o ministério pastoral é um dom imerecido, cuja fecundidade depende, essencialmente, da docilidade à graça do Senhor. Como LH Rivas 13 corretamente aponta : "Neste capítulo, o ofício de Pedro é representado por duas imagens simbólicas. Pedro é apresentado como pescador no contexto da "pesca milagrosa" (v. 11), e no diálogo como "pastor das ovelhas". Em ambos os textos fica claro que Pedro obteve esses títulos apenas pela palavra de Jesus e não por qualquer habilidade pessoal. No primeiro, Pedro não conseguia pescar, mas obedecendo a uma ordem de Jesus, conseguiu pescar uma grande quantidade de peixes; no segundo, a tarefa de pastor foi dada ao fraco Pedro, que negou o Senhor três vezes."
Aplicando este Evangelho à nossa vida pessoal, o Papa Francisco disse: “Também pode acontecer a nós, por cansaço, desilusão, talvez preguiça, que nos esqueçamos do Senhor e negligenciemos as grandes escolhas que fizemos, para nos contentarmos com outra coisa. Por exemplo, não dedicamos tempo a conversar com a família, preferindo passatempos pessoais; esquecemos a oração, deixando-nos levar pelas necessidades; negligenciamos a caridade, com a desculpa da correria do dia a dia. Mas, ao fazer isso, sentimo-nos desiludidos: foi precisamente a desilusão que Pedro sentiu, com as redes vazias, como ele. É um caminho que nos faz recuar e não nos satisfaz.
O que Jesus faz com Pedro? Ele retorna novamente à margem do lago onde o havia escolhido, juntamente com André, Tiago e João, os quatro que ele havia escolhido ali. Ele não repreende — Jesus não repreende, toca sempre o coração — mas chama os seus discípulos com ternura: «Filhos» (v. 5). Então ele os exorta, pensando no passado, a lançar suas redes novamente com coragem. E mais uma vez as redes estão lotadas a ponto de ficar inacreditável.
Irmãos e irmãs, quando as redes da vida estão vazias, não é hora de sentir pena de nós mesmos, de nos divertir, de retornar aos velhos passatempos. É hora de partir com Jesus, é hora de encontrar a coragem para recomeçar, é hora de navegar nas profundezas com Jesus. Três verbos: recomeçar, começar de novo, zarpar novamente. Sempre, diante de uma decepção, ou quando uma vida perdeu um pouco do seu sentido — “hoje sinto que andei para trás…” —, recomece o caminho com Jesus, reinicie, navegue. Ele está esperando por você! E Ele pensa somente em você, em mim, em cada um de nós” (Regina Caeli de 1 de maio de 2022).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO): Apascenta as minhas ovelhas
Senhor,
Você, Pescador de homens
Pastor de pastores,
Acalme a fome dos seus servos
Com a vontade tentamos
Desate nós, derrube muros,
Fornecer soluções
Você é o dono da missão,
Providente ao extremo
Questionador delicado
Nós te amamos assim, Peter
Que ele te negou antes
E então ele se curvou rapidamente
E está se tornando uma luta difícil para nós.
Deixe de lado as paixões
Esconda as feridas
Você é o Filho de Deus
Você pode fazer tudo
E você quer que eu faça isso
Então venha assumir o comando
É seu barco, é seu peixe
É o seu rebanho, eles são seus cordeiros
Envia teu Espírito, Salvador
Pegue o que eu posso te dar
Encoraja teu povo, Senhor. Amém.
1 Apocalipsis (Verbo Divino; Estella 1994) 87.
2 En Jn 21,14 dice que esta es la tercera aparición de Jesús porque no tiene en cuenta la primera hecha a María Magdalena. El autor quiere referirse sólo a las apariciones de Jesús a los apóstoles o discípulos en grupo.
3 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 500.
4 Lectura del Evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV (Sígueme; Salamanca 1998) 225.
5 X. León Dufour, Lectura del Evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV (Sígueme; Salamanca 1998) 227.
6 J. J. Bartolomé, La resurrección de Jesús. El testimonio del Nuevo Testamento (CCS; Madrid 1994) 148.
7 El evangelio de Juan (Verbo Divino; Estella 2005) 531.
8 Cf. X. León Dufour, Lectura del Evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV (Sígueme; Salamanca 1998) 234.
9 El Evangelio según San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 147.
10 "Id a Galilea". Al encuentro del Cristo pascual (Sal Térrea; Santander 2006) 31.
11 Cf. C. M. Martini, El Evangelio según San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 149.
12 Comentario al evangelio de Juan, 123,5
13 El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 549.
TERCER DOMINGO DE PASCUA CICLO "C"
Primera lectura (He 5,27-32.40-41):
El texto que leemos hoy presupone la narración precedente (cf. He 5,17-26) dónde los apóstoles fueron encarcelados y, por la noche, el ángel del Señor los liberó; luego de lo cual volvieron al templo a enseñar. Allí los vuelven a apresar y los conducen ante el Sanedrín donde son interrogados por el Sumo Sacerdote. Aquí comienza el texto de hoy.
La respuesta de Pedro, en nombre de los Apóstoles, es en primer lugar una declaración de independencia o libertad religiosa por cuanto aduce que la obediencia a Dios está primero que la obediencia a los hombres (en alusión a la prohibición de predicar). Sigue luego una proclamación, breve, del kerigma cristológico primitivo (cf. He 2,22-36; 3,12-26; 4,8-12) con sus elementos esenciales: crucifixión y muerte de Jesús a manos de los judíos; resurrección de Jesús por obra de Dios (Padre) quien lo exalta colocándolo a su derecha; ofrecimiento de conversión y perdón de los pecados para Israel; testimonio de los Apóstoles.
Por su parte en esta versión abreviada del kerigma encontramos algunos elementos nuevos. En primer lugar, la atribución a Jesús resucitado de los títulos de Jefe (arjegós) y Salvador (sóter) que tienen un claro alcance salvífico en favor de Israel: “a fin de conceder a Israel la conversión y el perdón de los pecados” (He 5,31). Al igual que en He 2,33 la exaltación de Jesús Resucitado junto al Padre lo coloca en condición de ofrecer la salvación a los hombres. La otra novedad es que se introduce, junto al testimonio de los apóstoles, "el Espíritu Santo que ha dado Dios a los que le obedecen." (He 5,32). Y como Pedro comenzó diciendo que Él está obedeciendo a Dios antes que a los hombres, implícitamente se afirma que Pedro habla movido por el Espíritu Santo que ha recibido por su obediencia a Dios y que lo ha transformado en testigo.
Segunda lectura (Ap 5,11-14):
La figura del "cordero" es central en el Apocalipsis donde aparece el término unas 29 veces. Y también lo es en el fragmento que leemos hoy concentrado en la alabanza del “cordero”. Señala U. Vanni1 que "la iglesia-asamblea descubre en el cordero al propio Cristo, que vuelve a asumir la función sacrificial del cordero pascual del Éxodo y de la entrega de sí mismo del siervo de Yavé del que habla el Deuteroisaías. Pero no basta. Se habla de Cristo-cordero de pie, es decir, de Cristo resucitado".
En síntesis, la imagen del cordero representa a Cristo muerto y resucitado que está en la gloria de Dios luego de haber sido inmolado y, por ello, recibe la alabanza junto con el mismo Dios ("el que está sentado en el trono"). Así, el texto de hoy es la invitación que recibe toda la creación, lo celestial y lo terrestre, de explotar en un himno de alabanza y adoración a Cristo muerto y resucitado, al Cordero. En los versículos anteriores al texto que leemos hoy se ha presentado como primera acción del Cordero, de Cristo Resucitado, el abrir el libro inaccesible que estaba en manos de Dios (cf. Ap 5,6-8). Esto significa que en adelante el proyecto de Dios sobre la historia está en manos de Cristo; o en otros términos, que sólo Cristo Resucitado puede revelarnos el sentido verdadero de la vida y de la historia.
Evangelio (Jn 21,1-19):
Este es el cuarto relato de resurrección que trae el evangelio de Juan y para muchos estudiosos se trata de un añadido o apéndice hecho por alguien de la comunidad joánica, puesto que conoce muy bien la obra2. El tema predominante de este ‘añadido” es la primacía de Pedro, que recorre todo el relato (21,2.3.7.11.15.16.17.20.21) siendo protagonista, primero, en la pesca milagrosa y, luego, en su llamada al pastoreo. Al mismo tiempo “se subraya la presencia de Jesús resucitado en la comunidad que está en misión en medio de las hostilidades del mundo”3. El texto, conservando su unidad de sentido, se puede dividir en dos subsecciones:
a) la pesca milagrosa (21,1-14);
b) la misión de Pedro (21,15-19).
Después de las apariciones de Jesús Resucitado en Jerusalén sigue en esta ocasión su manifestación a la orilla del lago Tiberíades o mar de Galilea. En el cuarto evangelio dos veces se menciona el lago de Galilea con el nombre de Tiberíades: en el pasaje de la multiplicación de los panes y en este relato de aparición de Cristo resucitado. Están presentes aquí siete de sus discípulos, de los cuales se identifica a cinco de ellos: Pedro, Tomás, Natanael y los hijos de Zebedeo (Juan y Santiago). Los otros dos discípulos no son nombrados. Los cinco nombrados forman parte de los discípulos de Jesús de la primera hora, los primeros en ser llamados y seguirlo (cf. Jn 1,35-51). De este grupo faltan aquí – y no sabemos por qué – Andrés, el hermano de Simón Pedro, y Felipe.
Pedro toma la iniciativa: voy a pescar; y los demás lo siguieron. Después de la pasión los discípulos vuelven a su antigua región – Galilea –; y a su anterior actividad – la pesca –. La novedad de este relato es entonces que Jesús resucitado se hace presente en la vida cotidiana de los discípulos.
"Pero aquella noche no pescaron nada". Se encuentran en una situación de fracaso, justo en aquello que se supone que sabían hacer bien pues eran pescadores de oficio. Comenta X. León Dufour4: "En la superficie del texto, el fracaso nocturno deja el campo libre a la intervención milagrosa, pero el sentido que se le da está bien claro: los obreros apostólicos no pueden obtener nada si no están unidos con Jesús, como él había dicho utilizando la imagen de los sarmientos unidos a la vid (15, 4-5)."
"Al amanecer Jesús estaba en la orilla". Esta referencia puede recordarnos el paso del mar rojo cuando al amanecer el pueblo se encuentra en la otra orilla y los egipcios yacen muertos en medio del mar. Luego Jesús les pide de comer, pero ellos tienen las manos vacías pues no han pescado nada. Con este pedido los invita al reconocimiento de su carencia, de su pobreza.
De igual modo le pidió a la samaritana "dame de beber" (cf. Jn 4,7) para que ella reconozca su carencia, su necesidad del agua viva de la revelación, de la salvación.
"Tiren la red a la derecha de la barca y encontrarán. Ellos la tiraron y se llenó tanto de peces que no podían arrastrarla". Practican la obediencia a la Palabra de Jesús más allá del peso del fracaso por no haber pescado nada durante toda la noche y el resultado es una pesca milagrosa por lo abundante. "En este relato de aparición, la primera función del signo es permitir el reconocimiento del Resucitado (cf. 21, 7.12). Al mismo tiempo, en el trasfondo del simbolismo tradicional, donde la pesca prefigura la actividad de los «pescadores de hombres», el narrador muestra que la tarea evangelizadora es el resultado de la presencia de Jesús, la única que hace eficaz la acción de los discípulos. Los obreros apostólicos dan fruto cuando permanecen unidos al Hijo viviente. Se trata de la sinergia de Dios y de los hombres"5.
"El discípulo que Jesús amaba dijo a Pedro: ¡Es el Señor!" (o` ku,rio,j e vstin). El que se siente amado, el discípulo amado, es quien lo reconoce. Es el mismo que ante el sepulcro vacío con las vendas acomodadas "vió y creyó" (Jn 20,8). En verdad, "quien más amado se siente, más rápido cree"6. Es la Fe pascual que nace de la contemplación, del silencio y de la escucha. Es la Fe capaz de ver a Dios en todas las cosas, propia del contemplativo en la acción.
Podemos ver ahora cómo los discípulos reaccionan de modo diverso. Pedro, que es activo e impulsivo, se arroja al agua al encuentro del Señor. El discípulo amado es contemplativo, reconoce al Señor, pero no actúa. Pedro aprovecha la capacidad contemplativa del discípulo amado para actuar de forma distinta y complementaria. Los demás discípulos vuelven a la orilla en la barca arrastrando la red llena de peces. Hay una diversidad de carismas que se complementan en la unidad de la misión.
Cuando llegan a la orilla Jesús ya tiene preparado un pescado sobre las brasas y pan. El pescado y el pan nos remiten, al igual que la ubicación a orillas del lago de Tiberíades, a la narración de la multiplicación de los cinco panes y los dos pescados (cf. Jn 6, 1-13).
Jesús les pide que traigan algunos de los pescados que acaban de sacar. Pedro inmediatamente se dirige a la barca y saca la red a tierra llena de peces grandes. Es Pedro quien presenta a Jesús la totalidad de la pesca: 153 pescados. Este número ha sido objeto de muchas interpretaciones, tal vez la más acertada es que simboliza la universalidad de la misión pues 153 era el número de naciones conocidas en aquel tiempo; o el número de tipos de peces conocidos. Más allá del simbolismo del número 153, siempre hipotético, lo cierto es que "a pesar de ser tantos, la red no se rompió" (Jn 21,11).
"Ninguno de los discípulos se atrevía a preguntarle ¿quién eres?, puesto que sabían que es el Señor". Aquí se utiliza exactamente la misma expresión que en la exclamación del discípulo amado en 21,7: Es el Señor (o` ku,rio,j evstin). Por tanto, ahora todos los discípulos, al estar junto a Jesús compartiendo el pan, lo reconocen como el Señor. No se trata de un reconocimiento exterior pues no dice que ahora lo "ven", sino que se trata más bien de una certeza de fe a la que llegan a través de los distintos signos, por eso dice el texto que "saben", "reconocen" (verbo griego oida) que es el Señor. Este versículo está en contraste con 21,4, al inicio del relato, donde dice que los discípulos "no sabían (oida) que era Jesús". Y Jesús confirma este reconocimiento de los discípulos haciendo un último gesto prácticamente idéntico al de la multiplicación de los panes (cf. Jn 6,11): "tomó el pan y se lo dio, e hizo lo mismo con el pescado". Tenemos que reconocer aquí una referencia a la Eucaristía y un cierto paralelo de este relato con el de los discípulos de Emaús.
Las acciones de Jesús Resucitado descritas en este capítulo final de Juan nos traen a la memoria las acciones realizadas durante su ministerio público. La intención es enseñar que el Jesús que ahora está con ellos glorificado es el mismo Jesús que conocieron antes.
Según R. Brown, seguido por F. Moloney7, los temas fundamentales de este relato son: la universalidad de la comunidad cristiana, resultado de la iniciativa de Jesús; el liderazgo de Pedro y del discípulo amado; y la participación de los discípulos.
Después de comer, Jesús llama aparte a Pedro para hacerle, por tres veces, la misma pregunta: "Simón, hijo de Juan, ¿me amas?". La expresión "Simón, hijo de Juan" nos recuerda el primer encuentro de Pedro con Jesús y el primer llamado (cfr. Jn 1,42). En la triple pregunta de Jesús “¿me amas?” se utilizan dos verbos distintos para ‘amar’. En las dos primeras preguntas se utiliza el verbo agapáō (ἀγαπάω). En la tercera pregunta se utiliza el verbo philéō (φιλέω). Pedro le responde siempre con el verbo philéō. Para el evangelista estas dos formas del verbo amar son casi sinónimos. El amor de entrega – agapáō - está en plena consonancia con el amor de amistad – philéō -. De hecho, los emplea indistintamente en otros pasajes del evangelio (cf. Jn 5, 20; 14, 21). Jesús ama a Pedro con amor de agapáō y con amor de philéō, tal como lo expresó en el discurso de la última cena: “Nadie tiene mayor amor –agapē- que el que da su vida por sus amigos –philos” (Jn 15,13).
“Apacienta mis ovejas”. Jesús quiere que el amor hacia su persona que Pedro le confiesa se demuestre en el apacentar el rebaño del Señor. Parece claro que esta triple confesión de amor es una reparación por la triple negación que Pedro hizo del Señor durante la pasión. Como trasfondo tenemos que reconocer el discurso del buen Pastor (cf. 10, 1-18), ya que utiliza la misma metáfora y tiene sus mismos acentos. Pero notemos que las ovejas confiadas a Pedro no le pertenecen, sino que son las de Jesús, quien dice en cada ocasión «mis ovejas»8.
Luego de la tercera respuesta de Pedro, aceptada al fin por Jesús, le anuncia "con qué muerte Pedro debía glorificar a Dios". El dicho de Jesús hace referencia a que cuando uno es joven dispone de sí mismo y cuando llega a la ancianidad otros disponen de uno. Con este dicho Jesús Resucitado le hace ver a Pedro que apacentar el rebaño es identificarse con él en la donación de la vida y así glorificar a Dios. Podría verse también aquí, en particular en la expresión "extender las manos", un anticipo a la futura crucifixión de Pedro; o sea que tendrá una muerte martirial. Luego le dice “Tú sígueme” (σύ μοι ἀκολούθει). A la triple confesión de amor sigue la renovación de la vocación, de la llamada. Esto nos recuerda otro diálogo entre Jesús y Pedro al final de la última cena: "Simón Pedro le dijo: "Señor, ¿a dónde vas?". Jesús le respondió: "Adonde yo voy, tú no puedes seguirme ahora, pero más adelante me seguirás" (Jn 13,36).
Ahora que Pedro ha aprendido a reconocer su fragilidad, el Señor lo invita de nuevo a seguirlo por el camino del sufrimiento y de la humildad. Es claro que Jesús vuelve a confiar en Pedro y le renueva su vocación-misión que consiste en amar al Señor apacentando su rebaño hasta entregar la vida por Él.
Algunas reflexiones:
En el evangelio de este domingo, como en todo el tiempo pascual, se busca dar respuesta a lo que el Cardenal C. M. Martini llama "el típico problema eclesial: cómo la presencia del Verbo encarnado sigue manifestándose específicamente en la vida de la Iglesia"9. Desde esta perspectiva tenemos que leer las lecturas de este domingo (y de los siguientes).
En primer lugar vemos que en todos los relatos de aparición Jesús se introduce en la vida de los discípulos de un modo sencillo y discreto; sin que se den cuenta. Con esto, tal vez, quiera decirnos el texto que Jesús está presente, aunque no nos demos cuenta y que se da a conocer de manera indirecta, no directa y abiertamente.
Según vimos, la vuelta de los discípulos a su lugar de origen, Galilea; y a su actividad cotidiana, pescar, nos invita a señalar primeramente la presencia de Jesús en nuestra vida de todos los días. Él está allí, cada día, todo el tiempo, con nosotros. Pero de un modo discreto, sencillo. Al respecto dice E. Leclerc10: "La vuelta a Galilea asume aquí todo su sentido. Al manifestarse a los discípulos allí donde se había mostrado tan próximos a ellos, Jesús les hacía saber que su Señorío y su entrada en la gloria del Padre no lo alejaban para nada de nuestra humanidad, y que seguía haciéndose muy presente entre ellos, siempre tan próximo y comprensivo […] De este modo les indicaba claramente que no hay que buscar la gloria del Padre y su Señorío por encima de, sino con. No consisten en el dominio, sino en la comunión. No consisten en la distancia sino en la Alianza. Porque la soberanía de Dios es una soberanía de amor. Y el amor encuentra su perfección, su soberanía y su gloria en la comunión más profunda, más universal y más gratuita".
Por tanto, llegar a una verdadera fe pascual supone un proceso de purificación de la mirada por la fe para que podamos reconocer su discreta presencia en nuestra vida cotidiana. En segundo lugar, no podemos dejar pasar el valor simbólico de la barca, con Pedro a la cabeza, y también de la pesca abundante. Se trata de la Iglesia, presidida por Pedro y sus sucesores, que es fecunda en su acción evangelizadora siempre que la realice en obediencia a la Palabra de Jesús, pues Él sigue siendo Su Señor. La noche puede ser larga y la labor muchas veces fatigosa y aparentemente infructuosa, pero el Señor tiene en cuenta la constancia de los discípulos en permanecer unidos y la confianza a sus indicaciones
venciendo el peso del fracaso. Y con estas condiciones se hace presente en medio de ellos11. Por tanto, la primera parte del relato evangélico tiene este mensaje fundamental: Jesús Resucitado es el Señor; y está presente y operante en su Iglesia.
De modo semejante, en la primera lectura Pedro anuncia que Jesús resucitado ha sido constituido por Dios "Jefe y Salvador" y nos muestra que la fe pascual nos invita a reconocer a Jesús como Señor, Jefe y Salvador, presente y operante en la Iglesia, en nuestra vida y en nuestra historia. Y es el mismo Cristo, muerto y resucitado, a quien el Apocalipsis confiesa como el Cordero que es digno de recibir toda alabanza y honor junto con Dios, el que está sentado en el trono. Y “todas las creaturas del cielo y de la tierra” lo adoran como Dios y Señor de la historia.
En cuanto a la segunda parte del evangelio, en el diálogo con Pedro Jesús le pide que acepte dos cosas: apacentar el rebaño y estar dispuesto al martirio (disponibilidad total). Y todo esto con la única motivación válida que es el amor a Jesús, que da forma al apostolado cristiano como bien explica San Agustín: "¿Qué significan las palabras: "¿Me amas?", "apacienta mis ovejas?". Es como si, con ellas, dijera el Señor: "Si me amas, no pienses en apacentarte a ti mismo. Apacienta, más bien, a mis ovejas por ser mías, no como si fueran tuyas; busca apacentar mi gloria, no la tuya; busca establecer mi Reino, no el tuyo; preocúpate de mis intereses, no de los tuyos, si no quieres figurar entre los que, en estos tiempos difíciles, se aman a sí mismos y, por eso, caen en todos los otros pecados que de ese amor a sí mismos se derivan como de su principio. No nos amemos, pues, a nosotros mismos sino al Señor, y, al apacentar sus ovejas, busquemos su interés y no el nuestro. El amor a Cristo debe crecer en el que apacienta a sus ovejas hasta alcanzar un ardor espiritual que le haga vencer incluso ese temor natural a la muerte, de modo que sea capaz de morir precisamente porque quiere vivir en Cristo"12.
Así, este segundo llamado lo encuentra a Pedro más maduro, más humilde, consciente de su debilidad al punto de poder aceptar que el ministerio pastoral es un don no merecido cuya fecundidad depende, esencialmente, de la docilidad a la gracia del Señor. Como bien señala L. H. Rivas13: "En este capítulo el oficio de Pedro es representado por medio de dos imágenes simbólicas. Pedro fue presentado como pescador dentro del marco de la "pesca milagrosa" (v. 11), y en el diálogo como "pastor de las ovejas". En los dos textos se pone de manifiesto que Pedro obtiene estos títulos sólo por la palabra de Jesús y no por alguna capacidad personal. En el primero, Pedro había sido incapaz de pescar, pero obedeciendo a una orden de Jesús pudo arrastrar gran cantidad de peces; en el segundo, se otorgó la tarea de pastor al Pedro débil que negó tres veces al Señor".
Aplicando este evangelio a nuestra vida personal decía el Papa Francisco: “También a nosotros nos puede pasar que, por cansancio, desilusión, quizás por pereza, nos olvidemos del Señor y descuidemos las grandes opciones que hemos tomado, para contentarnos con otra cosa. Por ejemplo, no dedicamos tiempo a hablar en familia, y preferimos los pasatiempos personales; nos olvidamos de la oración, dejándonos arrebatar por nuestras necesidades; descuidamos la caridad, con la excusa de las prisas diarias. Pero al hacer esto nos sentimos desilusionados: era precisamente la desilusión que sentía Pedro, con las redes vacías, como él. Es un camino que te hace retroceder y no te satisface.
¿Qué hace Jesús con Pedro? Vuelve de nuevo a la orilla del lago donde lo había elegido a él, y a Andrés, Santiago y Juan, a los cuatro los había elegido allí. No hace reproches —Jesús no reprocha, toca el corazón, siempre—, sino que llama a sus discípulos con ternura: «Muchachos» (v. 5). Luego los exhorta, come en el pasado, a echar de nuevo las redes con valentía. Y una vez más las redes se llenan hasta lo inverosímil.
Hermanos y hermanas, cuando en la vida tenemos las redes vacías, no es el momento de autocompadecernos, de divertirnos, de volver a los viejos pasatiempos. Es el momento de ponerse en camino con Jesús, es el momento de hallar el valor de recomenzar, es el momento de navegar mar adentro con Jesús. Tres verbos: volver a empezar, recomenzar, zarpar de nuevo. Siempre, ante una desilusión, o ante una vida que ha perdido un poco su sentido —“hoy siento que he retrocedido...”—, ponte de nuevo en camino con Jesús, reinicia, navega mar adentro. ¡Está esperándote! Y Él piensa solo en ti, en mí, en cada uno de nosotros”, (Regina Coeli del 1° de mayo de 2022).
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE): Apacienta mis ovejas
Señor,
Tú, Pescador de hombres
Pastor de pastores,
Calma el hambre de tus servidores
Con la voluntad intentamos
Desatar nudos, derribar muros,
Aportar soluciones
Eres el dueño de la misión,
Providente hasta el extremo
Tierno cuestionador
Te amamos como aquel Pedro
Que antes te negó
Y luego se inclinó presto
Y se nos hace cuesta arriba
Dejar de lado las pasiones
Disimular las heridas
Eres el Hijo de Dios
Puedes hacerlo todo
Y quieres que lo haga yo
Pues ven a tomar el timón
Es tu Barca, son tus peces
Es tu Rebaño, son tus corderos
Envía tu Espíritu, Salvador
Toma lo que puedo darte
Anima a tu Pueblo, Señor. Amén.
1 Apocalipsis (Verbo Divino; Estella 1994) 87.
2 En Jn 21,14 dice que esta es la tercera aparición de Jesús porque no tiene en cuenta la primera hecha a María Magdalena. El autor quiere referirse sólo a las apariciones de Jesús a los apóstoles o discípulos en grupo.
3 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 500.
4 Lectura del Evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV (Sígueme; Salamanca 1998) 225.
5 X. León Dufour, Lectura del Evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV (Sígueme; Salamanca 1998) 227.
6 J. J. Bartolomé, La resurrección de Jesús. El testimonio del Nuevo Testamento (CCS; Madrid 1994) 148.
7 El evangelio de Juan (Verbo Divino; Estella 2005) 531.
8 Cf. X. León Dufour, Lectura del Evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV (Sígueme; Salamanca 1998) 234.
9 El Evangelio según San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 147.
10 "Id a Galilea". Al encuentro del Cristo pascual (Sal Térrea; Santander 2006) 31.
11 Cf. C. M. Martini, El Evangelio según San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 149.
12 Comentario al evangelio de Juan, 123,5
13 El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 549.