31/08/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Eclesiástico 3,19-21.30-31
Salmo Responsorial 67(68) R- Com carinho preparastes uma mesa para o pobre
2ª Leitura: Hebreus 12,18-19.22-24a
Evangelho de Lucas 14,1.7-14
Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8“Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. 10 Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor!’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. 11 Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”.12 e disse também ao chefe dos fariseus que o tinha convidado: “Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isso já seria a tua recompensa. 13Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. – Palavra da salvação.
Quando Jesus entrou na casa do fariseu, Lucas diz que as pessoas estavam observando com atenção o seu comportamento. Na realidade é Jesus que observa atentamente as pessoas e escruta os seus corações.
Jesus é o “convidado” mais importante do mundo. Ele “desceu do céu”, esvaziou-se de sua igualdade com Deus e nasceu da Virgem Maria num estábulo de animais porque não havia lugar para ele na hospedaria. Depois de pregar o Reino, foi morto na cruz, abandonado pelos seus. Terminou seus dias aqui na terra como um amaldiçoado por Deus. Jesus foi exaltado na ressurreição. Assim Deus faz do último o primeiro. De fato, Jesus ocupou o último lugar aqui na terra: ele serviu e não foi servido, entregou a sua vida aos mais pobres, sacrificou a sua vida pela nossa salvação. Porque ocupou o último lugar, Jesus foi exaltado e se tornou o primeiro de muitos irmãos.
Jesus nos ensina que ocupar o último lugar é ser humilde diante de Deus; nele confiar a vida, nele ter o tesouro, nele confiar o presente e o futuro.
Ocupar o último lugar significa também viver a fraternidade, não ser indiferente aos seus sofrimentos, intuir as suas necessidades e cuidar dos mais necessitados. Ocupar o último lugar consiste em gastar a vida ao serviço dos outros.
Jesus observou como os convidados disputam os primeiros lugares no banquete. Ele aproveita para propor a nós um outro comportamento. Trata-se de um comportamento de vida e não um comportamento de boas maneiras ou de cálculo.
Jesus, depois, se dirige ao dono da casa. Agora ele não fala mais a partir do ponto de vista de quem é convidado, mas de quem convida. De novo ele propõe um novo comportamento fundado no comportamento de Deus. Há um comportamento interesseiro: convidar quem pode retribuir. Há um comportamento generoso como o de Deus: convidar os pobres que não podem retribuir. A conclusão é surpreendente: aquele que não busca recompensa é o que receberá a maior recompensa. De novo, não se trata de cálculo, mas de se comportar como Deus, de amar gratuitamente.
Se desejamos que o nosso amor seja semelhante ao de Deus, seja realmente cristão, devemos verificar se amamos os pobres e os inimigos. É o amor aos pobres – que não podem retribuir – e aos inimigos – que não querem retribuir – que certificam a autenticidade cristã do amor.
22°DomTComum – Lucas 14,1.7-14 – Ano C –
“Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz!”
Com sua presença provocativa numa refeição, “na casa de um dos chefes dos fariseus”, Jesus denuncia um “pecado de raiz” que, em grau maior ou menor, está presente em todos nós: a vaidade.
“A vaidade é a osteoporose da alma”, afirmou o Papa Francisco; os ossos parecem bons, a partir de fora; mas, por dentro estão todos corroídos. A vaidade nos infla, nos engana, mas não tem longa vida, porque é como uma bolha de sabão.
Este “pecado de raiz” se visibiliza na busca pelos “lugares” de destaque, de prestígio, de honra...
A busca dos primeiros lugares se enraíza numa profunda carência pessoal: a necessidade de se sentir reconhecido. A isso se somam outras necessidades como a de “ser visto”, “ser único” ou “ser especial”.
A vaidade é mascarar a própria vida para aparecer, para fingir, para impressionar...
A busca dos primeiros lugares se enraíza numa profunda carência pessoal: a necessidade de se sentir reconhecido – Adroaldo Palaoro
No evangelho deste domingo, Jesus desmascara a cultura da aparência e da vaidade; no fundo, Jesus desvela a cultura da superficialidade, da mentira e da falsidade existencial. Para a chamada “cultura da imagem” parece que tudo vale, contanto que a imagem pessoal saia beneficiada.
O ego busca afirmar-se porque unicamente desse modo pode sentir-se “existente”. Entre os modos de autoafirmação se destacam aquela que podemos considerar como pulsão básica: aparecer, chamar atenção sobre si, ser reconhecido... Como se torna impossível fundamentar-se em si mesmo, de uma maneira sadia, devido à sua natureza vazia, precisa “roubar energia” para alimentar-se. Trata-se, portanto, de um parasita que vive do que é tirado dos outros: o elogio, o reconhecimento, a bajulação...
O resultado de tudo esse processo, na medida em que a pessoa se deixa enredar por ele, é um ego escravo da vaidade e da busca de prestígio. Escravidão que corre de mãos dadas com a ignorância acerca daquilo que realmente a pessoa é. O ego se move sempre a partir de suas necessidades e seus medos, que são os que lhe dão uma sensação de existir; e a pessoa egoica cada vez se sente mais frustrada e desconectada de quem verdadeiramente ela é.
As tradições sapienciais sempre insistiram no cultivo de atitudes alternativas, como fica destacado com força na mensagem do próprio Jesus. Este é o caminho da sabedoria e da libertação do sofrimento. E só o crescimento nesta consciência tornará possível a transformação pessoal e coletiva.
A plenitude humana se revela naquilo que a pessoa é, a sua essência, e não naquilo que aparenta. Uma pessoa, vazia de ego, tem acesso à verdadeira sabedoria e deixa transparecer uma profunda gratidão pelo simples fato de existir. Só quando tem acesso à sua verdadeira identidade, a pessoa será transformada e poderá viver numa atitude de gratuidade e gratidão.
A plenitude humana se revela naquilo que a pessoa é, a sua essência, e não naquilo que aparenta – Adroaldo Palaoro
E assim, descentrada de si mesma, vive uma atitude de acolhida e partilha na relação com os outros; a ratuidade só pode ser vivida quando a identificação com o ego farisaico cai. Então emerge uma nova consciência na qual os outros são percebidos como “parte” de si mesmo; partilhar com os outros é doar-se a si mesmo; causar dano aos outros é danificar a si mesmo.
Podemos imaginar a expressão de susto e surpresa daquele fariseu que convidara Jesus à sua mesa. É que Jesus tem sempre algo “novo” que rompe com “o de sempre”. Contra todo formalismo autocentrado, a Jesus lhe ocorre dizer ao fariseu: “Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir”.
A “novidade” da Boa Notícia de Jesus vai sempre contra os “velhos costumes” do “eu te convido para que me convides” (e, se possível, com juros). À lei da “reciprocidade comercial” Jesus contrapõe a “generosidade gratuita”.
Para Jesus, adquire a verdadeira honra quem não se exalta a si mesmo sobre os outro, mas quem “desce” voluntariamente, colocando-se juntos aos últimos e servindo-os. A generosidade é compartilhada com os pobres que não podem pagar com a mesma moeda, porque não tem nada. Honra e vergonha adquirem, na boca de Jesus, um conteúdo diferente: a honra consiste em servir ocupando os últimos lugares e isto não é motivo de vergonha, mas sinal verdadeiro de quem já está dentro do grupo dos verdadeiros seguidores do próprio Jesus que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em favor de muitos”.
Jesus nos convida e nos deslocar para o “último lugar”, pois Ele se fez “último”; Ele entrou na história a partir de baixo, dos últimos, dos excluídos, e não pelo lugar do poder, da riqueza, da força...
As grandes mudanças e transformações, em todos os níveis da condição humana, começam por baixo. Não há mudança que vem de cima.
Poderíamos dizer que a denúncia de Jesus, junto à mesa de quem o convidara, alarga o sentido da amizade.
O Para Francisco fala da “amizade social” e colocou esta expressão no centro da encíclica “Fratelli Tutti”; tal expressão pode parecer algo estranha, e por isso reagimos com surpresa. Todos nós estamos acostumados a utilizar a “amizade” como atributo pessoal e privado; para falar das relações na sociedade, recorremos a termos mais amplos como respeito, solidariedade, civismo, cidadania, etc. Reservamos a palavra “amizade” ao círculo íntimo de nossos afetos.
Vivemos um contexto social e religioso onde nos sentimos mais distantes e sozinhos, mais desarticulados e vulneráveis, limitados à condição de espectadores e consumidores; a globalização nos fez vizinhos, mas não irmãos. Claramente, nossas sociedades mostram dificuldades para se constituírem como um projeto que abarque a todos. Obviamente, não nos sentimos companheiros no mesmo barco e inquilinos da mesma casa comum. São inumeráveis os excluídos da mesa da refeição.
Vivemos um contexto social e religioso onde nos sentimos mais distantes e sozinhos, mais desarticulados e vulneráveis, limitados à condição de espectadores e consumidores; a globalização nos fez vizinhos, mas não irmãos – Adroaldo Palaoro
A “amizade social” é uma tentativa de reverter esta situação. Seu ponto de partida é o reconhecimento básico do que vale um ser humano, sempre e em qualquer circunstância, considerando-o precioso e digno de todo cuidado. Só exercendo esta visão da vida, realizaremos uma fraternidade aberta a todos.
No entanto, para isso precisamos cruzar as cômodas fronteiras que nos separam.
O desafio é “ir mais além”, tomando consciência, por exemplo, de que a amizade não é um clube exclusivo, mas uma escola onde ativamos habilidades para serem aplicadas universalmente. Os amigos que só se ocupam de seus amigos reduzem o horizonte da amizade. E, da mesma maneira, quando as famílias só se preocupam pelo bem-estar dos seus, e esgotam sua responsabilidade neles, algo decisivo fica por fazer.
A experiência da amizade e do amor deve servir para abrir o coração àqueles que estão excluídos, fazendo-nos sensíveis a esta realidade, envolvendo-nos numa atitude ética de acolhida, dotando-nos de generosidade para sair de nós mesmos e cuidar de todos. Não existimos em um vazio, mas em um contexto amplo e diferente de relações das quais somos corresponsáveis.
Nesse sentido, viver o seguimento de Jesus implica em “sair do próprio amor, querer e interesse” (S. Inácio) e abrir-nos ao encontro com o outro, sobretudo o “outro” que é vítima de estruturas sociais e políticas injustas, que é excluído, que é marginalizado. “Converter-nos” ao Deus da Vida é “converter-nos” ao compromisso com os prediletos d’Ele, os mais pobres e sofredores; é abrir nossas casas e oferecer nossas mesas.
Fazer caminho com Jesus desperta em nós uma profunda sensibilidade que nos impulsiona a uma presença inspiradora naqueles “lugares” onde já está presente Aquele que continuamente se desloca para o mais baixo, para que nenhuma pessoa, para que nenhuma situação humana, fique fora do “movimento de vida” e de “retorno” de tudo para o Pai.
O seguimento de Jesus implica em “sair do próprio amor, querer e interesse” (S. Inácio) e abrir-nos ao encontro com o outro, sobretudo o “outro” que é vítima de estruturas sociais e políticas injustas, que é excluído, que é marginalizado – Adroaldo Palaoro
Para meditar na oração:
É na espiritualidade da mesa e da refeição que nós cristãos, devemos alimentar a nossa espiritualidade cotidiana. Mas, para isso, precisamos resgatar a mesa como espaço do sagrado, do encontro com o outro e conosco mesmo.
É urgente sermos criativos o suficiente para superarmos os desafios, na esperança de que venha o despertar da nova mesa, com gosto de pão, de vida fraterna, de compromisso.
Mesa criativa, solo de onde brota o alimento material, emocional, psíquico e espiritual em suas múltiplas formas, cores, aromas e sabores do Reino do Pão e da Festa da Vida.
- Que lugar tem a mesa da refeição no cotidiano de sua vida familiar, comunitária, eclesial...?
O texto deste domingo nos relata um momento da vida de Jesus que é um almoço compartilhado na casa de um dos chefes dos fariseus.
Em primeiro lugar, destacamos a total abertura de Jesus, que vai almoçar na casa de um fariseu, apesar de discordar de muitas das atitudes desse grupo.
Lembremos que os fariseus são um grupo heterogêneo de sacerdotes e leigos, onde há pessoas influentes e pessoas humildes, com diferentes níveis culturais, mas que têm em comum a valorização da Lei, seja escrita ou oral. Lembremos que os fariseus são um grupo heterogêneo de sacerdotes e leigos, onde há pessoas influentes e pessoas humildes, com diferentes níveis culturais, mas que têm em comum a valorização da Lei, seja ela escrita ou transmitida oralmente.
Eles buscam a santidade no cumprimento estrito das normas de pureza, no pagamento do dízimo e em viver de acordo com todas as prescrições da Lei. Sua atitude de estrita observância da Lei os levou a colocar esse cumprimento acima de tudo, até mesmo da pessoa. No texto do evangelho, destacamos que Jesus não recusa o convite para almoçar na casa do chefe dos fariseus, embora ele não compartilhe muitas de suas atitudes e formas de conceber a pessoa e sua relação com Deus. Jesus senta-se à mesa com todos e, possivelmente, isso também gera problemas ou murmúrios entre aqueles que estavam com ele ou entre outros fariseus, ou talvez também entre aqueles que sofreram com as atitudes de alguns fariseus.
E eles o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.
O texto relata duas atitudes semelhantes, mas muito diferentes: os fariseus observam e Jesus “percebe”, porque está atento às atitudes das pessoas. Os fariseus observam Jesus para ver o que ele faz, como age, o que diz. É sábado e eles o observam como uma espécie de controle, talvez com malícia, para verificar se ele cumpre todas as normas de pureza ritual. Antes de nossa narrativa, há a cura de um hidrópico que foi colocado diante de Jesus. O texto relata o diálogo de Jesus com os fariseus, ele pergunta: “é possível curar no sábado ou não?” Ninguém ousa dar uma resposta: “eles ficaram em silêncio”. Podemos imaginar uma certa tensão no ambiente porque, ao curá-lo no sábado, fica claro que toda pessoa está acima do cumprimento da Lei. Então Jesus lhes diz: “suponhamos que um de vocês tenha um filho ou um boi que caia em um poço, não o tiraria imediatamente no sábado? ” A resposta é novamente o silêncio: “Não podiam responder-lhe”.
Jesus também está atento e “notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares”.
Ele olha, observa, mas não com malícia, e sim para iluminar a partir da vida, para transformar atitudes em um ensinamento. A proclamação do Reino, a comunicação da boa nova, é feita por meio de parábolas, relatos, frases, que estão fundamentadas na vida cotidiana das pessoas, camponeses, agricultores, artesãos, pastores, cozinheiras, donas de casa, grupos familiares, amigos, chefes e empregados.
Hoje em dia, esses primeiros lugares poderiam ser traduzidos como “tentar fazer contatos” para obter algum benefício: seja trabalho, possíveis viagens, etc – Ana Casarotti
A cena nos descreve Jesus observando como as pessoas tentam ocupar os primeiros lugares. Atualmente, em uma festa, os lugares já estão designados e talvez a única preocupação seja saber se conhecemos alguém daquela mesa. Mas, na época de Jesus, nos primeiros lugares era servida uma comida melhor e, a partir daí, entende-se essa busca quase desesperada por ocupar esses lugares. Junto com a honra e a fama que isso implicava, está sem dúvida esta realidade: comer bem! Hoje em dia, esses primeiros lugares poderiam ser traduzidos como “tentar fazer contatos” para obter algum benefício: seja trabalho, possíveis viagens, etc.
Destacamos assim dois ensinamentos de Jesus: um sobre a humildade sincera, que se traduz em ocupar os últimos lugares, “porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”; e, por outro lado, abrir a mesa a todas as pessoas, não apenas aos amigos ou conhecidos, mas a todos! Jesus volta mais uma vez o seu olhar para os “últimos”, aqueles que ficam para trás, os que estão na última posição, e convida-nos a colocar-nos ao seu lado, a estar ali, de verdade, sem fingimentos. Como disse São Paulo na carta aos Filipenses: “Não façais nada por ambição ou vaidade, mas com humildade considerai os outros superiores a vós mesmos” (Flp 2,2). Somos chamados a viver e sentir como Jesus, que se fez humilde e sempre ocupou o último lugar!
“Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz!”
Recordamos as palavras do Papa Francisco na JMJ em Lisboa: "Na Igreja cabem todos, todos, todos". É “Um barco aberto a todos. Sem filtros. Com as portas e rampas sempre abertas. Para entrar nele não se pede a ninguém cartão nem credenciais nem ficha de serviço nem méritos acumulados. É para todos, sem distinções de qualquer espécie. Porque a Igreja do Nazareno não é nem pode ser uma alfândega. Na Igreja de Jesus não há sócios. E, claro, não há parceiros preferenciais. Ninguém pode, portanto, passar pela vida de crente distribuindo cartões de mais ou menos (melhores ou piores) crentes. (Cf. O grito inclusivo do Papa: “Todos, todos, todos”.)
Pedimos ao Senhor que nos conceda viver como Ele. Suas palavras estão fundamentadas em suas atitudes, ele fala de um reino para todos e o prega com sua vida e suas obras.
Estar entre os últimos não é uma estratégia social, nem política, e muito menos religiosa. É viver e sentir no estilo de Jesus.
Oração
Um pobre assim, um Deus assim
Pobre daquele que descobriu
a dor do mundo
como dor de Deus,
a injustiça dos povos
como rejeição de Deus,
a exclusão dos fracos
como batalha contra Deus!
Já tem a cruz assegurada!
Feliz o que descobriu
no protesto do pobre
a ruptura do sepulcro,
na comunidade marginal
o porvir de Jesus,
nos últimos que nos acolhem
o regaço materno de Deus!
Já começou a ressuscitar!
Pobre do que se encontrou
com um pobre assim,
com um Deus assim!
Feliz dele!
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
Jesus participa num banquete convidado por um dos principais fariseus da região. É uma refeição especial de sábado, preparada desde a véspera com todo cuidado. Como habitual, os convidados são amigos do anfitrião, fariseus de grande prestígio, doutores da lei, modelo de vida religiosa para todo o povo.
Aparentemente, Jesus não se sente cômodo. Sente a falta dos seus amigos, os pobres. Aquelas pessoas que encontra mendigando nas estradas. Os que nunca são convidados por ninguém. Os que não contam: excluídos da convivência, esquecidos pela religião, desprezados por quase todos.
Antes de se despedir, Jesus dirige-se ao que o convidou. Não para agradecer o banquete, mas para sacudir a sua consciência e convidá-lo a viver com um estilo de vida menos convencional e mais humano: «não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos, porque eles corresponderão convidando-te... Convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; feliz tu porque não te podem pagar; pagarão quando ressuscitem os justos».
Mais uma vez, Jesus esforça-se por humanizar a vida, quebrando, se necessário, esquemas e critérios de atuação que nos podem parecer muito respeitáveis, mas que, no fundo, mostram a nossa resistência em construir esse mundo mais humano e fraterno, querido por Deus.
Normalmente, vivemos instalados num círculo de relações familiares, sociais, políticas ou religiosas com as quais nos ajudamos mutuamente a cuidar dos nossos interesses, deixando de fora aqueles que não nos podem dar nada. Convidamos aqueles que, por sua vez, nos podem convidar.
Escravos de relações interesseiras, não somos conscientes de que o nosso bem-estar só é sustentado pela exclusão daqueles que mais precisam da nossa solidariedade gratuita para poder viver. Temos de escutar os gritos evangélicos do papa Francisco na pequena ilha de Lampedusa: «A cultura do bem-estar torna-nos insensíveis aos gritos dos outros». «Caímos na globalização da indiferença». «Perdemos o sentido de responsabilidade».
Os seguidores de Jesus têm de recordar-se que abrir caminhos para o reino de Deus não consiste em construir uma sociedade mais religiosa ou promover um sistema político alternativo a outros, mas acima de tudo, em gerar e desenvolver relações mais humanas que tornem possível condições de vida que sejam dignas para todos, começando pelos últimos.
A liturgia deste domingo propõe-nos uma reflexão sobre alguns valores que acompanham o desafio do "Reino": a humildade, a gratuidade, o amor desinteressado.
O Evangelho coloca-nos no ambiente de um banquete em casa de um fariseu. O enquadramento é o pretexto para Jesus falar do "banquete do Reino". A todos os que quiserem participar desse "banquete", Ele recomenda a humildade; ao mesmo tempo, denuncia a atitude daqueles que conduzem as suas vidas numa lógica de ambição, de luta pelo poder e pelo reconhecimento, de superioridade em relação aos outros... Jesus sugere, também, que para o "banquete do Reino" todos os homens são convidados; e que a gratuidade e o amor desinteressado devem caracterizar as relações estabelecidas entre todos os participantes do "banquete".
Na primeira leitura, um sábio dos inícios do séc. II a.C. aconselha a humildade como caminho para ser agradável a Deus e aos homens, para ter êxito e ser feliz. É a reiteração da mensagem fundamental que a Palavra de Deus hoje nos apresenta.
A segunda leitura convida os crentes instalados numa fé cómoda e sem grandes exigências, a redescobrir a novidade e a exigência do cristianismo; insiste em que o encontro com Deus é uma experiência de comunhão, de proximidade, de amor, de intimidade, que dá sentido à caminhada do cristão. Aparentemente, esta questão não tem muito a ver com o tema principal da liturgia deste domingo; no entanto, podemos ligar a reflexão desta leitura com o tema central da liturgia de hoje - a humildade, a gratuidade, o amor desinteressado - através do tema da exigência: a vida cristã - essa vida que brota do encontro com o amor de Deus - é uma vida que exige de nós determinados valores e atitudes, entre os quais avultam a humildade, a simplicidade, o amor que se faz dom.
Convidar para espiar..
Parece que os convites que Jesus recebe para tomar refeição sempre têm uma intenção e que nem sempre é por amizade. Neste texto, a intenção é evidente: querem espiá-lo.
A intenção de vigiá-lo, talvez seja por sua liberdade frente à lei, questionando profundamente o legalismo farisaico. Assim fora na casa do fariseu Simão (Lucas 7,36ss) e na casa de outro fariseu, quando se sentou à mesa sem antes lavar as mãos (Lucas 11,37ss). Na primeira vez, ele comparou o fariseu com a pecadora, e o fariseu saiu perdendo. Parece que Simão não sabia amar com a mesma intensidade daquela mulher. A outra vez, vendo o olhar espantado do fariseu, provocou uma discussão danada sobre a hipocrisia com que era praticada a lei. Referindo-se a fariseus, Jesus até usou esta expressão: “sois túmulos disfarçados, sobre os quais se pode transitar, sem o saber!” Será que, ao escutar por cinco vezes “ai de vós”, a comida ainda continuou a descer saborosa por seu esôfago, ou ficou presa na garganta?
Diante disso, pergunto-me: por que o convidavam? Por que o Evangelho de Lucas faz tanta questão de apresentar-nos Jesus aceitando convites para comer?
No Primeiro Testamento, o banquete é sinal de que os tempos messiânicos do Reinado de Deus teriam chegado. Assim escreve o profeta Isaías: “Iahweh dos Exércitos prepara, sobre esta montanha, um banquete para todos os povos…” (Isaías 25,6).
Talvez seja a partir desta memória profética que o Jesus das comunidades lucanas esteja sempre a caminho, entrando nas casas, sentando à mesa para refeições. Assim, estas comunidades guardam-nos seu projeto de discipulado: o Caminho de Jesus é o Caminho da comunidade. A Casa é a comunidade que vai se formando ao longo do caminho. A Mesa torna-se o lugar para apreender e viver a proposta de relações novas com Jesus.
A mesa nos ensina a superar a ambição pelo primeiro lugar (Lucas 14,7-11)
Antes de continuar minha reflexão, convido você a fazer um exercício. Visualize, em sua memória, os banquetes das comemorações de sua cidade, de sua comunidade, de suas festas, de suas quermesses. A quem é enviado o convite para participar do banquete? Quem senta à mesa? Qual a lógica da organização das mesas? Em qual das mesas há lugares com nome reservado? Quem cozinha? Quem serve à mesa? Quem fica espiando pela janela ou com disfarce em meio aos convidados para o banquete? Você mesmo poderá se fazer outras perguntas…
Agora, continuando nossa reflexão, voltamos à mesa onde Jesus está sentado e o escutamos contar uma parábola: “quando alguém te convidar não sente no primeiro lugar…” (Lucas 14,8). Parece que Jesus está continuando uma conversa que já havia começado, sentado à outra mesa: “ai de vós, fariseus, que apreciais o primeiro lugar nas sinagogas e as saudações nas praças públicas …” (Lucas 11,43).
Jesus nos convida a não buscar lugares de honra, a não entrar no jogo da competição. É que essa atitude revela o desejo de ser mais, de exercer o poder do privilégio sobre outras pessoas. A competição gera divisões, ciúmes, invejas. Ao contrário, faz parte do seu projeto do Reino quem viver como irmã e como irmão, em relações de parceria.
A mesa nos ensina a gratuidade da solidariedade (Lucas 14,12-14)
E, depois, Jesus se dirige diretamente para quem o convidara: “ao dares um almoço, não convides teus amigos… Antes, convida os pobres que não têm como te recompensar…” (cf. Lucas 14,12-14).
Esta narrativa de Lucas leva-me a recordar o que escutei num encontro bíblico: fizemos da casa uma igreja; fizemos da mesa um altar; fizemos da partilha um sacrifício; fizemos de Jesus um sacerdote. Ao lembrar-me desta reflexão, vem-me este pensar: a Boa Notícia da inclusão tornou-se má notícia da exclusão.
Mais uma vez, convido você a visualizar cenas de sua vida em que a lei e a tradição, a moral e a teologia geraram exclusão do banquete, impediram de sentar-se à mesa.
“O amor é benigno, o amor não procura os próprios interesses, não se orgulha, não se alegra com a injustiça…” (1Coríntios 13,4-7). O amor é gratuito.
Por que convidar Jesus para uma refeição? Para espiar ou apreender a incluir?
A mesa é o lugar onde é colocada em cheque a nossa fidelidade ao caminho do discipulado. A mesa é o lugar que denuncia as estruturas excludentes da casa-comunidade-igreja. A mesa nos desafia a retomar e a praticar as palavras do Cântico de Maria (Lucas 1,46-55), bem como as palavras que Jesus proclamou na sinagoga de Nazaré (Lucas 4,18-19).
Caminho, Casa, Mesa de Jesus… Ainda hoje, o Caminho, a Casa e a Mesa continuam nos desafiando para fazer acontecer o Banquete do Reino…
(Se desejar, confira a tradução feita pelo Tradutor Google com o original em espanhol, logo após o texto em português)
XXII DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Eclo 3,17-18.20.28-29):
O Livro de Eclesiástico, ou Sirácida, é muito próximo do Novo Testamento, tanto em sua data de composição (acredita-se que seja o século II a.C.) quanto em alguns de seus ensinamentos. O texto deste domingo é marcante em sua conexão espiritual com o Evangelho. O autor assume o papel de mestre ou sábio e transmite sua sabedoria aos seus discípulos como um pai que transmite seu legado aos filhos. Por isso, seu tom é muito pessoal e afetuoso: "Meu filho". Seu primeiro conselho é agir sempre com modéstia, gentileza e mansidão . De fato, ele usa o termo grego prautes (prau?/thj), que possui todos esses significados e vem da mesma raiz de praeis (praei/j), que significa os mansos da terceira (ou segunda) bem-aventurança (Mt 5,4 ou 5) e do Salmo 37. A motivação para esse comportamento reside na recompensa recebida, mas é um pouco diferente do Evangelho, pois enquanto Sirácida o recompensa com o amor ou o respeito daqueles que agradam a Deus, Jesus promete herdar a terra, símbolo do Reino futuro. Como nas Bem-aventuranças, é impossível separar mansidão ou modéstia da humildade. É por isso que o sábio insiste que quanto maior alguém for, mais deve "humilhar-se" (uma tradução literal de tapei, nou seauto, n). Aqui, a motivação é puramente teológica: "obter o favor de Deus e glorificá-lo".
Mais tarde, este sábio retornará ao assunto em Eclesiástico 10:28: "Meu filho, glorie-se da modéstia e considere-se conforme o seu verdadeiro valor." Neste texto, o conselho soa mais equilibrado, apropriado para situações normais. Mas quando a situação envolve grandeza ou elevação, como na leitura de hoje, é apropriado que um sábio se humilhe, pois o perigo ou a tentação do orgulho é muito maior.
Precisamente, como um bom professor, o sábio também ensina com exemplos negativos, com o outro lado da moeda. Em contraste com todos os benefícios que acompanham uma atitude modesta e humilde, existe o mal incurável do orgulhoso (ὑπερήφανος). Uma planta maligna criou raízes em seu coração, e todos os seus frutos serão malignos. Portanto, o diagnóstico é contundente: não há cura, não há remédio.
Como é melhor prevenir do que remediar, ele conclui apontando que o caminho para a modéstia e a humildade, o caminho para um coração sensato e sábio, não é outro senão ter um ouvido atento, um ouvido que ouça.
Evangelho (Lc 14, 1.7-14):
Jesus continua seu caminho para Jerusalém e aproveita todas as oportunidades para ensinar seus discípulos. Neste caso, a ocasião é uma refeição na casa de um dos principais fariseus. Eles olham para Jesus com desconfiança, mas ele também observa o comportamento deles e observa como buscam os melhores lugares à mesa . Essa observação lhe dá a oportunidade de contar duas parábolas (παραβολή), no sentido amplo de "um relato em linguagem figurada ou indireta".
A primeira parábola é dirigida a todos os convidados. Nela, ele sugere que é mais sensato não escolher os primeiros e melhores lugares, mas sentar-se no fundo . A motivação que Jesus então apresenta pode parecer pouco espiritual para nós, mas não nos esqueçamos de que este é um exemplo simples que se baseia na sabedoria humana e tem um significado figurado ou indireto; em outras palavras, a mensagem mais profunda está além disso. Como diz L. Sabourin : "Ao expor um aspecto da sabedoria mundana, estes versículos preparam o público para o verdadeiro ensinamento: a verdadeira posição do homem é aquela que ele tem diante de Deus, não aquela que ele pode conquistar por meio de seus esforços de autopromoção." Portanto, esta não é apenas uma lição de protocolo ou bom comportamento social. Em vez disso, é uma maneira gráfica de descrever o princípio evangélico com o qual ele encerra os exemplos: "Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado" (ὅτι πᾶς ὁ ὑψῶν ἑαυτὸν ταπεινωθήσεται, καὶ ὁ ταπεινῶν ἑαυτὸν ὑψωθήσεται). Como os segundos verbos de cada membro estão na voz passiva, alguns os interpretam como “passivos teológicos”, ou seja, têm Deus como sujeito e a tradução de acordo com seu significado seria: “Deus humilhará todo aquele que exalta-se a si mesmo, e exaltará aquele que se humilha” (BIA) 2 .
Além disso, no contexto do Evangelho, fica claro que o banquete de casamento é uma representação do Reino de Deus e que uma atitude de humilhação ou humildade é a porta estreita para entrar nele . De fato, Lucas nos conta que foi assim que pelo menos um dos convidados o entendeu, o qual, ao final do discurso de Jesus, exclamou: "Bem-aventurado aquele que está à mesa no Reino de Deus!" (em Lucas 14:15, o versículo seguinte ao texto deste domingo, mas não lido hoje).
O ensinamento de Jesus é que todo verdadeiro discípulo deve seguir o caminho da humildade. De fato, o discípulo deve refletir os ensinamentos do Mestre com sua vida. Um verdadeiro discípulo de Jesus não pode almejar o primeiro lugar, como os escribas e fariseus frequentemente faziam. Mais tarde, Jesus condena diretamente essa atitude de "ascensão social", pedindo aos seus discípulos que se precavessem contra ela: "Cuidado com os escribas, que gostam de andar com vestes compridas e de ser cumprimentados nas praças, de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes" (Lucas 20:46).
Ora, trilhar o caminho da humildade não é algo que nos vem espontaneamente; ao contrário, nos sentiremos atraídos pelo oposto. Mas não devemos ter medo de sentir essa "inclinação para o alto, para a honra". Os apóstolos, movidos por sua tendência natural — a mesma que todos nós temos — buscaram os primeiros lugares ou posições. E o Senhor lhes disse claramente: "Mas entre vocês não será assim. Antes, o maior seja como o menor, e o que governa como quem serve. Pois quem é maior: quem está à mesa ou quem serve? Não é quem está à mesa? Contudo, eu estou entre vocês como aquele que serve" (Lucas 22:26).
A segunda parábola não se dirige mais aos convidados, mas a quem convida, o anfitrião, e o que ela diz é um tanto desconcertante: ao dar um banquete, não se deve convidar parentes, amigos ou vizinhos ricos; mas sim os pobres, os aleijados, os deficientes e os cegos. Para compreender plenamente esta frase de Jesus, devemos ter em mente que sua ênfase está na recompensa e na motivação para as boas obras que fazemos. Como observa L. Rivas 3 : "Por meio desta parábola, o Senhor ensina a seus discípulos que eles devem ser altruístas e que nunca devem fazer o bem com vistas à recompensa que esperam receber. Aquele que compartilha seus bens sem buscar recompensa neste mundo a receberá das mãos de Deus, que é infinitamente generoso." Portanto, aquele que convida também deve escolher a humildade e a generosidade altruísta , neste caso, tornando-se amigo dos pobres e esperando recompensa somente de Deus.
Em resumo, consideramos muito bom o comentário final do Cardeal A. Vanhoye : "Todos temos sede de honra e glória, mas se queremos obtê-las para nós mesmos, assumimos uma atitude egoísta, orgulhosa, que nos rebaixa. Jesus quer, antes, que assumamos uma atitude humilde, porque a humildade manifesta uma disposição de alma muito bonita, uma disposição que nos abre ao amor. Os piores obstáculos ao amor são precisamente o orgulho e a arrogância, que querem honras para si. A humildade, por outro lado, ajuda-nos muito a progredir no amor. Jesus convida-nos, portanto, a renunciar à busca direta de honras, porque essa busca manifesta uma atitude possessiva, negativa. Quem busca honras diretamente não as merece. Por outro lado, quem se contenta com o último lugar, ou com um lugar modesto, manifesta uma atitude positiva de generosidade, de abertura ao verdadeiro amor."
ALGUMAS REFLEXÕES:
Com o Evangelho deste Domingo, iniciamos os esclarecimentos sobre a porta estreita que nos permite entrar no Reino de Deus como discípulos de Jesus . Pois bem, hoje nos é dito que esta porta, além de estreita, é baixa ; e somente os pequenos, os humildes, entrarão por ela . Aqueles que se consideram grandes não podem entrar por ela. Pelo contrário, passarão pela porta larga e espaçosa que conduz à perdição (cf. Mt 7,14-15). A esse respeito, o Papa Francisco disse em sua homilia de 28 de agosto de 2022: “No espírito do mundo, dominado pela soberba, a Palavra de Deus hoje nos convida a nos tornarmos humildes e mansos. A humildade não consiste em desvalorizar-se, mas naquele realismo sadio que nos faz reconhecer nossas potencialidades, bem como nossas misérias. A partir justamente de nossas misérias, a humildade nos faz desviar o olhar de nós mesmos e dirigi-lo a Deus […] A força dos humildes é o Senhor, não as estratégias, os meios humanos, a lógica deste mundo, os cálculos… Não, é o Senhor.”
Podemos dizer, então, que a primeira condição para ser discípulo de Cristo é a humildade . É paradoxal que esta virtude fundamental, enquanto húmus da vida cristã, seja tão pouco compreendida e vivida. A este respeito, H. U. von Balthasar comenta : "É difícil definir a humildade como uma virtude. Na realidade, não se deve aspirar a ela, porque então se desejaria ser algo; não se pode exercê-la, porque então se desejaria alcançar algo. Aqueles que a possuem não podem saber ou verificar que a possuem. Pode-se simplesmente dizer negativamente: o homem não deve reivindicar nada para si."
Mas esse paradoxo tem sua razão de ser. É uma virtude, em certo sentido exclusivamente cristã ou religiosa, na medida em que é a consciência da própria realidade à luz de Deus . É olhar para si mesmo da perspectiva de Deus . Por isso, pode coexistir com firmeza de caráter e um espírito de liderança forte. Um bom exemplo é Moisés, o líder incontestável e, ainda assim, muito humilde: "Moisés era um homem muito humilde (prau>j), mais do que qualquer homem sobre a face da terra" (Números 12:3). O próprio Livro do Eclesiástico reconhece essa atitude em Moisés: "Por sua fidelidade e humildade (prau?/thj), ele o santificou, escolhendo-o entre todos os viventes" (Eclesiástico 45:4).
No Novo Testamento, a Santíssima Virgem brilha por sua humildade. Ela não tem medo de afirmar que Deus fez grandes coisas nela, que recebeu de Deus uma missão incrível. Mas ela não se afasta, por isso, narcisicamente desses grandes dons; naturalmente, atribui tudo ao Senhor, que contemplava a humilhação de sua serva. Esta é a verdadeira humildade.
Como já dissemos, o caminho da humildade foi o caminho de Jesus neste mundo, em quem temos o modelo perfeito. Basta citar o hino da Carta aos Filipenses, que o descreve com duas ações: " esvaziou-se a si mesmo " e " humilhou-se a si mesmo ", isto é, o supremo esvaziamento de si mesmo daquele que, sendo igual a Deus, assumiu a condição de servo (cf. Fl 2,6-11).
O Beato Carlos de Foucault costumava repetir a frase: “Jesus ocupou de tal modo o último lugar que ninguém jamais pôde tirá-lo”.
Poderíamos até falar da humildade de Deus, como fez São Francisco de Assis: “Vede, irmãos, a humildade de Deus e derramai diante dele os vossos corações (Sl 61,9); humilhai-vos para que nele sejais exaltados (cf. 1 Pd 5,6; Tg 4,10)” 6 . Ou talvez fosse melhor falar da “discrição de Deus”, como faz o teólogo Bernard Rey 7 .
Este é o caminho da humildade. É único; não há outro que nos leve a Deus. Voltando a nós mesmos, é importante perceber que todos gostamos de ser reconhecidos; que consciente ou inconscientemente aspiramos aos primeiros lugares. O grande problema é que a honra e o poder têm sobre nós um efeito semelhante ao das drogas: nos tiram da realidade. Assim, fugimos do que realmente somos e do que valemos, pois nosso verdadeiro valor e nossa realidade profunda é o que somos diante de Deus. Este é o significado da conhecida frase de Santa Teresa de Jesus: "Humildade é andar na verdade". Portanto, a humildade nos mantém ancorados na realidade. Isso implica não negar tudo o que é bom e valioso que somos e temos, mas sempre relacioná-lo à sua origem e fonte: Deus . São Paulo nos ensina isso claramente: "Pois quem te distingue? O que tens que não tenhas recebido? E se recebeste, por que te glorias como se não tivesses recebido?" (1 Cor 4,7).
A segunda parábola de hoje deve nos ajudar a purificar nossas motivações quando se trata de fazer o bem aos outros. Jesus nos convida a ajudar aqueles que não podem retribuir o favor, ou seja, a ser altruístas e esperar recompensa somente de Deus. Aqui vemos a opção preferencial pelos pobres que Francisco nos lembrou na EG n.º 1. 48: “Se toda a Igreja assume este dinamismo missionário, deve estender a mão a todos, sem exceção. Mas a quem deve dar prioridade? Quando se lê o Evangelho, depara-se com uma forte orientação: não tanto para os amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo para os pobres e os doentes, aqueles que são frequentemente desprezados e esquecidos, aqueles que ‘não têm com que retribuir’ ( Lc 14,14). Não deve haver lugar para dúvidas, nem para explicações que enfraqueçam esta mensagem tão clara. Hoje e sempre, ‘os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho’, e a evangelização gratuita dirigida a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. É preciso dizer sem hesitação que existe um vínculo inseparável entre a nossa fé e os pobres. Nunca os deixemos sozinhos.”
E concluamos apontando a conexão entre os dois temas principais das parábolas de hoje: humildade e serviço altruísta . Somente os humildes, os altruístas, têm espaço em seus corações para amar e servir abnegadamente os necessitados. Eles fazem o bem não por ostentação, mas por compaixão; e com o coração repleto da recompensa que o próprio Senhor lhes deu e que desejam compartilhar com os outros.
PARA A ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
O Banquete
Senhor, faz-me ansiar por esse momento
Quando você celebra o Banquete do seu Amor
No meio do teu povo
Aí está você presente dia após dia
E você oferece ao último e ao primeiro
A verdadeira e própria iguaria
O que importa onde?
Seja longe ou perto do altar
Faz-me desejar os teus átrios, a tua casa, o teu Pão
Ven a morar, Maranatha
E me ensina a esperar
Ouvindo meu nome sendo pronunciado
Senhor, faz-me ansiar por esse momento
Para convidar outros,
Vá ao seu encontro.
E anuncie a todos, sem demora
As bodas do Cordeiro, Santa Oferta
Do Filho ao Pai Eterno. Amém.
1 O Evangelho de Lucas (PUG; Roma 1992) 268.
2 A. Rodríguez Carmona, Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 266, também partilha desta opinião .
3 A Obra de Lucas. I. O Evangelho (Ágape; Buenos Aires 2012) 142.
4 Leituras Bíblicas para Domingos e Festas. Ciclo C (Mensageiro; Bilbao 2009) 272.
5 Luz da Palavra. Comentários às Leituras Dominicais (Encuentro; Madri 1998) 280.
6 Carta a toda a Ordem, n.º 28.
7 A discrição de Deus (Sal Térrea; Santander 1998).
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DOMINGO XXII DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Eclo 3,17-18.20.28-29):
El libro del Eclesiástico o Sirácide es muy cercano al Nuevo Testamento, tanto por su fecha de composición (se piensa en el S. II a.C.) como por algunas de sus enseñanzas. Justamente el texto de este domingo sorprende por su parentesco espiritual con el Evangelio. El autor asume el rol de maestro o sabio y transmite su sabiduría a sus discípulos como un padre que da su legado a sus hijos. Por ello su tono es muy personal y afectivo: "Hijo mío". Su primer consejo es obrar siempre con modestia, dulzura o mansedumbre. De hecho utiliza el término griego prautes (prau?/thj) que tiene todos estos sentidos y proviene de la misma raíz que praeis (praei/j) que son los mansos de la tercera (o segunda) bienaventuranza (Mt 5,4 ó 5) y del Sal 37. La motivación de esta conducta está en la recompensa que se recibe, pero es algo diversa al evangelio pues mientras el Eclesiástico la premia con el amor o respeto de los que agradan a Dios, Jesús promete heredar la tierra, figura del Reino futuro. Al igual que en las bienaventuranzas, no es posible separar la mansedumbre o modestia de la humildad. Por eso el sabio insiste en que cuando más grande sea uno, más debe "humillarse a sí mismo" (traducción literal del tapei,nou seauto,n). Aquí la motivación es puramente teológica: "obtener el favor de Dios y glorificarlo".
Más adelante este sabio volverá sobre el tema en Eclo 10,28: "Hijo mío, gloríate con la debida modestia (prau?/thj) y estímate según tu justo valor". En este texto el consejo suena más equilibrado, propio para situaciones normales. Pero cuando la situación es de grandeza o elevación, como en la lectura de hoy, lo propio del sabio es abajarse y humillarse porque el peligro o tentación de la soberbia es mucho mayor.
Justamente, como buen maestro, el sabio enseña también con los ejemplos negativos, con la otra cara de la moneda. En contraposición a todos los bienes que siguen a una actitud modesta y humilde; está el mal sin remedio del orgulloso (ὑπερήφανος). Ha echado raíces en su corazón una planta maligna y malos serán todos sus frutos. Por ello, el diagnóstico es lapidario: no tiene cura, no hay remedio.
Como mejor es prevenir que curar, termina señalando que el camino para la modestia y la humildad, el camino para el corazón sensato y sabio, no es otro que el de tener un oído que escuche, un oído atento.
Evangelio (Lc 14, 1.7-14):
Jesús sigue de camino a Jerusalén y aprovecha toda ocasión para enseñar a sus discípulos. En este caso, la ocasión es una comida en casa de uno de los jefes de los fariseos. Estos miran con suspicacia a Jesús, pero él también observa su comportamiento y nota cómo buscan los primeros puestos en la mesa. Esta observación le da pie para contar dos parábolas (παραβολή), en el sentido amplio de “relato en lenguaje figurado o indirecto”.
La primera parábola va dirigida a todos los invitados. En ella sugiere que es más prudente no elegir los primeros y mejores lugares, sino ubicarse en los últimos. La motivación que da luego Jesús podrá parecernos poco espiritual, pero no nos olvidemos que se trata de un simple ejemplo que hace recurso de la sabiduría humana y que tiene un sentido figurado o indirecto; o sea que el mensaje profundo está más allá de esto. Como dice L. Sabourin1: "Exponiendo un aspecto de la sabiduría mundana, estos versículos preparan al auditorio para la verdadera enseñanza: la verdadera situación del hombre es aquella que tiene ante Dios y no aquella que él puede ganarse por sus esfuerzos de autopromoción". Por tanto, no se trata sólo de una lección de protocolo o de buen comportamiento en sociedad. Más bien es una manera gráfica de describir el principio evangélico con que cierra los ejemplos: "Porque todo el que se eleva a sí mismo será humillado, y el que se humilla a sí mismo será elevado" (ὅτι πᾶς ὁ ὑψῶν ἑαυτὸν ταπεινωθήσεται, καὶ ὁ ταπεινῶν ἑαυτὸν ὑψωθήσεται. 14,11). Dado que los segundos verbos de cada miembro están en voz pasiva, algunos los interpretan como “pasivos teológicos”, es decir, tienen a Dios como sujeto y la traducción según su sentido sería: “Dios humillará a todo el que se engrandece a sí mismo, y engrandecerá al que se humilla” (BIA)2.
Además, en el contexto del evangelio, es claro que el banquete de bodas es figura del Reino de Dios y que la actitud de abajamiento o humildad es la puerta estrecha para entrar en él. De hecho, nos dice Lucas que así lo entendió al menos uno de los invitados quien al final del discurso de Jesús exclamo: "¡Feliz el que se siente a la mesa en el Reino de Dios!" (en Lc 14,15 versículo siguiente al texto de este domingo pero que no se lee hoy).
La enseñanza de Jesús es que todo verdadero discípulo debe seguir el camino de la humildad. En efecto, el discípulo debe reflejar con su vida las enseñanzas del Maestro. Un auténtico discípulo de Jesús no puede estar luchando por los primeros puestos como solían hacer los escribas y fariseos. Más adelante Jesús condenará ya directamente esta actitud “arribista” pidiendo a sus discípulos que se guarden o cuiden de la misma: "Guardaos de los escribas, que gustan pasear con amplio ropaje y quieren ser saludados en las plazas, ocupar los primeros asientos en las sinagogas y los primeros puestos en los banquetes” (Lc 20,46).
Ahora bien, recorrer el camino de la humildad no es algo que nos salga espontáneamente; más bien sentiremos atracción por lo contrario. Pero no debemos asustarnos de sentir esta "inclinación hacia arriba, hacia el honor". Los apóstoles, llevados por su tendencia natural – la misma que tenemos todos nosotros – buscaron los primeros puestos o lugares. Y el Señor claramente les dijo: "Pero entre ustedes no debe ser así. Al contrario, el que es más grande, que se comporte como el menor, y el que gobierna, como un servidor. Porque, ¿quién es más grande, el que está a la mesa o el que sirve? ¿No es acaso el que está a la mesa? Y sin embargo, yo estoy entre ustedes como el que sirve." (Lc 22,26).
La segunda parábola ya no se dirige a los invitados, sino al que invita, al anfitrión, y lo que dice es algo desconcertante: al dar un banquete no hay que invitar a familiares ni amigos ni vecinos ricos; sino a los pobres, lisiados, inválidos y ciegos. Para entender bien este dicho de Jesús debemos tener en cuenta que el acento del mismo está puesto en la recompensa y en la motivación de las buenas obras que hacemos. Como nota L. Rivas3: "Por medio de esta parábola el Señor enseña a sus discípulos que deben ser desinteresados y que jamás deben hacer el bien con la mirada puesta en la retribución que esperan recibir. El que comparte lo suyo sin buscar recompensa en este mundo, la recibirá de manos de Dios, quien es generoso en grado infinito". Por tanto, también el que invita debe optar por la humildad y por la generosidad desinteresada, en su caso, haciéndose amigo de los pobres y esperando la recompensa sólo de Dios.
En síntesis, nos parece muy bueno el comentario final del Cardenal A. Vanhoye4: "Todos tenemos sed de honor y de gloria, pero, si queremos obtenerlos por nosotros mismos, asumimos una actitud egoísta, soberbia, que nos rebaja. Jesús quiere que asumamos, más bien, una actitud humilde, porque la humildad manifiesta una disposición de ánimo muy hermosa, una disposición que nos abre al amor. Los peores obstáculos para el amor son precisamente la soberbia y el orgullo, que quieren tener los honores para sí. La humildad, en cambio, nos ayuda muchísimo a progresar en el amor. Jesús nos invita, por tanto, a renunciar a la búsqueda directa de los honores, porque esta búsqueda manifiesta una actitud posesiva, negativa. El que busca directamente los honores, no los merece. En cambio, el que se contenta con el último lugar, o con un lugar modesto, manifiesta una actitud positiva de generosidad, de apertura al verdadero amor".
ALGUNAS REFLEXIONES:
Con el evangelio de este domingo comienzan las precisiones sobre la puerta estrecha que nos permite entrar en el Reino de Dios como discípulos de Jesús. Pues bien, hoy se nos dice que esta puerta, además de estrecha, es baja; y por ella sólo entrarán los pequeños, los humildes. Los que se creen grandes no pueden entrar por ella. Al contrario, irán por la puerta amplia y espaciosa que lleva a la perdición (cf. Mt 7,14-15). Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 28 de agosto de 2022: “En el espíritu del mundo, que está dominado por el orgullo, la Palabra de Dios de hoy nos invita a hacernos humildes y mansos. La humildad no consiste en la desvalorización de uno mismo, sino en ese sano realismo que nos hace reconocer nuestras potencialidades y también nuestras miserias. A partir precisamente de nuestras miserias, la humildad nos hace apartar la mirada de nosotros mismos para dirigirla a Dios […] La fuerza de los humildes es el Señor, no las estrategias, los medios humanos, las lógicas de este mundo, los cálculos… No, es el Señor”.
Podemos decir, entonces, que la primera condición para ser discípulo de Cristo es la humildad. Es paradójico que esta virtud tan fundamental, por cuanto es el humus de la vida cristiana, sea tan poco bien comprendida y vivida. Al respecto comenta H. U. von Balthasar5: "Es difícil definir la humildad como virtud. En realidad no se debe aspirar a ella, porque entonces se querría ser algo; no se la puede ejercitar, porque entonces se querría llegar a algo. Los que la poseen no pueden saber ni constatar que la tienen. Simplemente se puede decir negativamente: el hombre no debe pretender nada para sí mismo".
Pero esta paradoja tiene su razón de ser. Se trata de una virtud, en cierto modo exclusivamente cristiana o religiosa, por cuanto es la conciencia de la propia realidad a la luz de Dios. Es la mirada sobre uno mismo desde la mirada de Dios. Por esto puede coexistir con la firmeza de carácter y con un espíritu de fuerte liderazgo. Un buen ejemplo lo tenemos en Moisés, líder indiscutible y, sin embargo, muy humilde: "Moisés era un hombre muy humilde (prau>j), más que hombre alguno sobre la faz de la tierra" (Nm 12,3). El mismo libro del Eclesiástico le reconoce esta actitud a Moisés: "Por su fidelidad y humildad (prau?/thj) lo santificó, lo eligió de entre todos los vivientes" (Eclo 45,4).
En el Nuevo Testamento brilla por su humildad la Santísima Virgen. Ella no teme afirmar que Dios obró cosas grandes en ella, que recibió una misión increíble de parte de Dios. Pero no por ello se repliega de modo narcisista sobre estos grandes dones, todo lo refería naturalmente al Señor, quien miró la humillación de su esclava. Esta es la verdadera humildad.
Como ya dijimos, el camino de la humildad ha sido el camino de Jesús en este mundo, en quien tenemos el modelo perfecto. Baste citar el himno de la carta a los Filipenses que nos lo describe con dos acciones: ‘se vació de sí mismo’ y ‘se humilló’, es decir, el anonadamiento supremo de quien siendo igual a Dios tomó la condición de esclavo (cf. Flp 2,6-11).
El beato Charles De Foucault solía repetir la frase: “Jesús ha tomado de tal manera el ultimo lugar que nunca nadie se lo ha podido arrebatar”.
Podríamos, incluso, hablar de la humildad de Dios, como hacía San Francisco de Asís: “Ved, hermanos, la humildad de Dios y derramad ante él vuestros corazones (Sal 61,9); humillaos también vosotros para que seáis ensalzados por él (cf. 1 Pe 5,6; Sant 4,10)”6. O, tal vez, sea mejor hablar de la "discreción de Dios" como hace el teólogo Bernard Rey7.
Este es el camino de la humildad. Es único, no hay otro que nos lleve hasta Dios. Volviendo a nosotros, es importante tomar conciencia de que a todos nos gusta que nos reconozcan; que consciente o inconscientemente aspiramos a los primeros puestos. El gran problema es que el honor y el poder ejercen en nosotros un efecto semejante al de las drogas: nos sacan de la realidad. Así, nos evadimos de lo que verdaderamente somos y valemos ya que nuestro verdadero valor y nuestra realidad profunda es lo que somos ante Dios. Este es el sentido de la conocida frase de Sta. Teresa de Jesús: "humildad es andar en verdad". Por eso la humildad nos mantiene en la realidad. Lo cual implica no negar todo lo bueno y valioso que somos y tenemos, sino referirlo siempre a su origen y fuente: Dios. Nos lo enseña con claridad San Pablo: "Porque ¿quién te distingue? ¿Qué tienes que no recibiste? Y si lo recibiste, ¿por qué te jactas como si no lo hubieras recibido?" (1Cor 4,7).
Por su parte, la segunda parábola de hoy debe ayudarnos a purificar nuestras motivaciones a la hora de hacer el bien a los demás. Jesús nos invita a ayudar a los que no pueden devolvernos el favor, o sea a ser desinteresados y esperar la recompensa sólo de Dios. Vemos aquí la opción preferencial por los pobres que nos ha recordado Francisco en EG n° 48: “Si la Iglesia entera asume este dinamismo misionero, debe llegar a todos, sin excepciones. Pero ¿a quiénes debería privilegiar? Cuando uno lee el Evangelio, se encuentra con una orientación contundente: no tanto a los amigos y vecinos ricos sino sobre todo a los pobres y enfermos, a esos que suelen ser despreciados y olvidados, a aquellos que «no tienen con qué recompensarte» (Lc 14,14). No deben quedar dudas ni caben explicaciones que debiliten este mensaje tan claro. Hoy y siempre, «los pobres son los destinatarios privilegiados del Evangelio», y la evangelización dirigida gratuitamente a ellos es signo del Reino que Jesús vino a traer. Hay que decir sin vueltas que existe un vínculo inseparable entre nuestra fe y los pobres. Nunca los dejemos solos”.
Y terminemos señalando la conexión entre los dos temas principales de las parábolas de hoy: la humildad y el servicio desinteresado. Sólo el humilde, el que no se busca a sí mismo, tiene lugar en su corazón para amar y servir desinteresadamente al necesitado. No hace el bien para figurar, sino por compasión; y con el corazón lleno por la recompensa que el mismo Señor le ha dado y que quiere compartir con los demás.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
El Banquete
Señor, hazme desear ese momento
Cuando celebras el Banquete de tu Amor
En medio de tu Pueblo
Allí te haces presente día a día
Y ofreces a los últimos y a los primeros
El manjar mismo y verdadero
Qué más da el lugar
Si lejos o cerca del altar
Dame desear tus atrios, tu casa, tu Pan
Ven a morar, Maranatha
Y enséñame a esperar
Oír mi nombre pronunciar
Señor, hazme desear ese momento
Para invitar a otros,
Salir a su encuentro.
Y anunciar a todos, sin demora
Las bodas del Cordero, ofrenda Santa
Del Hijo al Padre Eterno. Amén.
1 L' Évangile de Luc (PUG; Roma 1992) 268.
2 De esta opinión es también A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 266.
3 La obra de Lucas. I. El Evangelio (Ágape; Buenos Aires 2012) 142.
4 Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 272.
5 Luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 280.
6 Carta a toda la Orden, nº 28.
7 La discreción de Dios (Sal Térrea; Santander 1998).