02/02/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Malaquias 3,1-4
Salmo 23(24) R-O Rei da glória é o Senhor onipotente!
2ª Leitura: Hebreus 2,14-18
Evangelho de Lucas 2, 22-40
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – [22 Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor, 23 conforme está escrito na lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24 Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos –, como está ordenado na lei do Senhor. 25 Em Jerusalém havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele 26 e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27 Movido pelo Espírito, Simeão veio ao templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a lei ordenava, 28 Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29“Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30 porque meus olhos viram a tua salvação, 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”]. 33 O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34 Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35 Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. 36 Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. 37 Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39 Depois de cumprirem tudo, conforme a lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele. – Palavra da salvação.
Celebramos hoje a festa da oferta, a festa da luz, a festa do encontro.
É a festa da luz exatamente porque é a festa da oferta: Jesus é apresentado a Deus para ser consumado na chama da oferta, para que a luz que brilha no seu sacrifício.
As velas que hoje benzemos e levamos em procissão são um símbolo belíssimo dessa oferta para ser luz. A vela está, por assim dizer, totalmente disponível para a chama; ela se consuma na chama e assim faz brilhar a sua luz; a vela é luz na medida que se oferece na chama.
Nesse sentido, a vida de Cristo é luz. Ele está totalmente disponível para o fogo do amor. O amor no qual Jesus se consome vem do Pai, e é amor do Pai e do Filho. Jesus se oferece e se consuma totalmente nesse fogo do amor. Assim a humanidade que ele assumiu na encarnação se transforma em luz e em glória na oferta sacrifical. Em todos os momentos da vida, Jesus ofereceu a vida em sacrifício de amor e nesse fogo Ele fez brilhar a luz. Assim Jesus se torna a luz do mundo no sacrifício da cruz: é nesse momento que a luz é posta no candeeiro para iluminar o mundo; é nesse momento que Jesus é glorificado e é elevado para atrair todos a si, como luz do amor que se doa.
A festa de hoje é prenúncio e antecipação do mistério pascal. A procissão que hoje fizemos é uma antecipação da procissão da Vigília Pascal, quando seguimos Cristo Luz do Mundo, simbolizado no círio pascal. As palavras de Simeão revelam veladamente a paixão e morte de Cristo: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. A profecia de Simeão proclama que o mistério de Cristo se torna luz do mundo e de Israel através do sacrifício pascal de Jesus.
Hoje celebramos a festa do encontro. Nós vamos ao encontro da luz para que nos transformemos nós mesmos “luz”. São Paulo proclama que nós somos filhos da luz. Jesus afirma que nós somos “luz do mundo”. São Paulo nos exorta a nos apresentar ao Pai como oferenda viva: “oferecei os vossos corpos como sacrifício vivo”. A festa de hoje nos convida a consumar a nossa vida no fogo do amor para que sejamos luz, graças ao Espírito Santo.
Alegremo-nos neste dia da luz, pensando que seremos transformados pelo fogo divino em luz que ilumina não somente a nossa casa, mas também o mundo inteiro.
Festa da Apresentação de Jesus no Templo -Lc 2,22-40 – Ano A – 02-02-20
Evangelho (Lucas 2, 22-40) - Lectio Divina
Reflexão
* Os primeiros dois capítulos do Evangelho de Lucas, escrito na metade dos anos 80, não são história no sentido em que nós hoje entendemos a história. Funcionam muito mais como espelho, onde os cristãos convertidos do paganismo descobriam que Jesus tinha vindo realizar as profecias do Antigo Testamento e atender às mais profundas aspirações do coração humano. São também símbolo e espelho do que estava acontecendo entre os cristãos do tempo de Lucas. As comunidades vindas do paganismo tinham nascido das comunidades dos judeus convertidos, mas eram diferentes. O Novo não correspondia ao que o Antigo imaginava e esperava. Era "sinal de contradição" (Lc 2,34), causava tensões e era fonte de muita dor. Na atitude de Maria, imagem do Povo de Deus, Lucas apresenta um modelo de como perseverar no Novo, sem ser infiel ao Antigo.
* Nestes dois primeiros capítulos do evangelho de Lucas tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta, pois, finalmente, a misericórdia de Deus se revelou e, em Jesus, ele cumpriu as promessas feitas aos pais. E Deus as cumpriu em favor dos pobres, dos anawim, como Isabel e Zacarias, Maria e José, Ana e Simeão, os pastores. Estes souberam esperar pela sua vinda.
* A insistência de Lucas em dizer que Maria e José cumpriram tudo aquilo que a Lei prescreve evoca o que Paulo escreveu na carta aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gal 4,4-5).
* A história do velho Simeão ensina que a esperança, mesmo demorada, um dia se realiza. Ela não se frustra nem se desfaz. Mas a forma de ela realizar-se nem sempre corresponde à maneira como a imaginamos. Simeão esperava o Messias glorioso de Israel. Chegando ao templo, no meio de tantos casais que trazem seus meninos ao templo, ele vê um casal pobre lá de Nazaré. É neste casal pobre com seu menino ele vê a realização da sua esperança e da esperança do povo: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel."
* No texto do evangelho deste dia, aparecem os temas preferidos de Lucas, a saber, uma grande insistência na ação do Espírito Santo, na oração e no ambiente orante, uma atenção contínua à ação e à participação das mulheres, e uma preocupação constante com os pobres e com a mensagem a ser dada aos pobres.
O relato do nascimento de Jesus é desconcertante. Segundo Lucas, Jesus nasce numa terra onde não há lugar para acolhê-lo. Os pastores tiveram de procurá-lo por toda Belém até que o encontraram num lugar afastado, deitado numa manjedoura, sem outras testemunhas que seus pais.
Aparentemente, Lucas sente necessidade de construir um segundo relato em que a criança é resgatada do anonimato para ser apresentada publicamente. Que lugar mais apropriado que o Templo de Jerusalém para Jesus ser acolhido solenemente como o Messias enviado por Deus ao seu povo?
Mas, de novo, o relato de Lucas vai ser desconcertante. Quando os pais se aproximam do Templo com a criança, não saem ao seu encontro os sumos sacerdotes nem os outros líderes religiosos. Dentro de uns anos, eles serão aqueles que o entregarão para ser crucificado. Jesus não encontra acolhimento nessa religião segura de si mesma e esquecida do sofrimento dos pobres.
Tampouco vêm a recebê-lo os mestres da Lei que predicam as suas «tradições humanas» nos átrios daquele Templo. Anos mais tarde rejeitarão Jesus por curar os doentes violando a lei do sábado. Jesus não encontra acolhimento em doutrinas e tradições religiosas que não ajudam a viver uma vida mais digna e saudável.
Quem acolhe Jesus e o reconhece como Enviado de Deus são dois anciãos de fé simples e de coração aberto, que viveram as suas longas vidas esperando a salvação de Deus. Os seus nomes parecem sugerir que são personagens simbólicos. O ancião chama-se Simeão («o Senhor ouviu»), a anciã chama-se Ana («oferenda»). Eles representam tantas pessoas de fé simples que, em todos os povos de todos os tempos, vivem com a sua confiança colocada em Deus.
Os dois pertencem aos ambientes mais saudáveis de Israel. São conhecidos como o «Grupo dos Pobres do Senhor». São pessoas que não têm nada, apenas a sua fé em Deus. Não pensam na sua fortuna nem no seu bem-estar. Só esperam de Deus a «consolação» que o seu povo necessita, a «libertação» que seguem procurando geração após geração, a «luz» que ilumine as trevas em que vivem os povos da terra. Agora sentem que as suas esperanças se cumprem em Jesus.
Esta fé simples que espera de Deus a salvação definitiva é a fé da maioria. Uma fé pouco cultivada, que se concretiza quase sempre em orações lentas e distraídas, que se formula em expressões pouco ortodoxas, que se desperta sobretudo em momentos difíceis. Uma fé que Deus não tem nenhum problema em entender e acolher.
“Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus” (Lc 2,28)
Neste ano, o 4º. dom. do Tempo Comum coincide com 02 de fevereiro, um dia de festa de Jesus e de sua mãe Maria; festa que é conhecida com vários nomes:
- Apresentação de Jesus no Templo, para ser oferecido a seu Deus; a humanidade, representada por Maria e José, “presenteiam” a Deus o maior dom que possuem, seu filho primogênito, a Luz das Nações;
- Purificação da mãe Maria, a quem Simeão revela seu destino sofredor e ativo de Mãe. Esta é a festa das sete dores que purificam e iluminam, quando são assumidas a serviço dos outros;
- Festa da Luz, dia das Candeias. Quarenta dias depois do nascimento de Jesus (fechando o ciclo do Natal), os cristãos (especialmente as mulheres) iam às igrejas com velas/candeias, dando graças pela vida.
Todos nós sabemos e experimentamos que o modo de agir Deus é discreto, silencioso. Ele se deixa encontrar no cotidiano e nas histórias simples. O mundo está cheio de mistérios grandiosos que cobrimos com a rotina e as pressas. Falta-nos capacidade de assombro e pureza no olhar para captar o mistério do simples. Quando a realidade é vista tão somente com os olhos estreitos e interessados, perdemos a oportunidade de contemplar o rosto d’Aquele que se deixa encontrar em tudo e em todos.
Todo o relato da Apresentação de Jesus no Templo está atravessado de cotidianidade, com a marca da simplicidade e dos olhares contemplativos. Aqui se faz visível uma festa de promessas cumpridas.
Simeão e Ana tiveram o privilégio de contemplar o Salvador, porque souberam esperar e permanecer. E porque souberam contemplar, viram na vulnerabilidade de um menino, o esperado de Israel.
Podemos imaginar os rostos irradiantes e os olhos cheios de luz destes dois anciãos diante do Menino que lhes abre o futuro e alarga os seus sonhos!...
O Nascimento de Jesus parece despertar os anciãos: Zacarias, o idoso que põe em dúvida a promessa de Deus; Isabel, aquela que concebe na velhice; José, aquele que não compreende o que está acontecendo, mas confia na palavra de Deus; Simeão, o homem que envelhece com a esperança de ver o Messias antes que a morte feche seus olhos; Ana, a profetisa, aquela que dá graças ao Senhor e proclama a todos o nascimento do Messias.
Nos relatos de Lucas, não são os sacerdotes do templo, nem os mestres da lei, nem os legitimados pela religião ou pelo poder social que falam ou reconhecem. Falam os pequenos, os pobres e os simples. Aqueles que não costumam ter palavra – pastores, ilegais, pagãos – são os que veem mais além, maravilham-se, reconhecem e confessam o Menino de Belém.
É com eles que devemos estar, se queremos também reconhecer Jesus.
Alguém poderia perguntar: por que tantos idosos(as) no Nascimento de Jesus?
Infelizmente, não vivemos tempos favoráveis aos idosos; considerados “improdutivos” são “descartados”; para muitos, são só um estorvo.
E, no entanto, são eles(as) as testemunhas da esperança messiânica, as testemunhas das promessas do Espírito Santo, as testemunhas do futuro e do novo, as testemunhas da fé, as testemunhas de um caloroso entardecer da vida. Os anciãos e anciãs são aqueles(as) que mantém viva a memória de seu povo, mantém viva a continuidade da história; são eles e elas que sustentam em seus braços o novo que começa; são eles e elas que esquecem a nostalgia do passado, sorriem e cantam o nascimento do novo. Mesmo com sua visão limitada, são capazes de ver e reconhecer as surpresas e as maravilhas de Deus.
Simeão é o ancião que soube esperar. Recebeu a promessa de não morrer sem ver o Messias. E hoje o vemos com o Menino Jesus em seus braços; ele sente sua vida realizada, reconhece o sentido de tudo o que viveu e agora pode soltar-se e abandonar-se em paz; a promessa foi realizada: “viu o Senhor”.
Numa sociedade como a nossa, em constante tensão pelo “conflito de gerações”, a figura de Simeão torna-se curiosa e até simpática. Seus braços unem e abraçam o velho e o novo; seus braços apertam o passado e o presente; seus braços são o encontro entre o ontem e o hoje; seus braços, estreitando o menino, são a harmonia entre o que se vai e o que vem.
Simeão não tem nada e, ao mesmo tempo, tem tudo: tem a promessa que alimentou sua vida de esperança até o final; tem os braços calorosos para acolher Deus neles e embalá-lo; e tem a alegria e o prazer de uma ancianidade feliz, realizada e cumprida.
Ao ler-escutar o Evangelho deste domingo, também somos convidados a nos fixar em uma pessoa que passa quase desapercebida: Ana, a profetisa. Ela pode nos ensinar a ser profetas e profetisas dos buscadores da Vida em um mundo tão desafiante como o nosso, onde, muitas vezes, nos sentimos pequenos, incapazes, pobres..., mas também afortunados, livres, discípulos e discípulas d’Aquele que sabe quem somos e por isso nos elege, nos chama, nos convoca a fazer caminho com Ele.
Ana revela uma presença muito discreta, no templo; mas está atenta a tudo o que ali acontece. Ela não faz ruído, passa longas horas em silêncio, sua vida não tem maior relevância social e religiosa...
Lucas só dedica três versículos para revelar o perfil de Ana, e neles somos informados que era “profetisa”, “anciã” e possuidora de um nome significativo: “Ana” vem do verbo “hanan” que em hebraico significa “agraciar”, “favorecer”, e aparece vinculada a um passado marcado por nomes benditos: “Fanuel” significa “rosto de Deus” e “Aser” significa “feliz” ou “afortunado”; mas, o fato de ser viúva desde jovem a associa irremediavelmente a uma situação de perda, vazio e carência. E aqui, aparece vinculada ao templo e dedicada assiduamente ao serviço de Deus.
Mas, de uma maneira imprevista, sua vida deu um grande salto ao aproximar-se de outro ancião, Simeão, precisamente no momento em que este tinha tomado nos braços um menino, filho de uns pobres e desconhecidos galileus, chamando-o salvador, luz e glória. Junto aos pastores de Belém, Ana recebe as primícias da presença de Jesus, e seu nome de “Agraciada”, que possuía só como promessa, se faz realidade nela; e a partir desse momento, com todo seu ser reverdecido e os olhos cheios de luzes (candeias), dava “graças a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
A liturgia deste domingo apresenta-se como ocasião privilegiada para nos recordar que a velhice é uma etapa da vida, com suas limitações e problemas, mas também com suas grandes possibilidades. Não podemos negar o desgaste e os problemas que o passar dos anos traz consigo, mas, ao mesmo tempo, inspirados nos idosos Simeão e Ana, somos motivados a não esquecer que a velhice é a etapa que nos oferece a possibilidade de coroar nossa vida.
O decisivo é adotar uma postura aberta e positiva diante da última etapa da vida. “Vivê-la positivamente como a culminação da vida, como a etapa sem a qual a vida ficaria inacabada, inconclusa” (L. Diez).
Segundo o Papa Francisco, a pessoa idosa pode viver com mais sabedoria e sensatez, para relativizar, inclusive com humor, muitas coisas que antes dava tanta importância; a ancianidade é tempo para recordar (visitar de novo com o coração) o essencial; o tempo para a quietude e a contemplação; é o tempo para viver mais devagar, sem pressas, encontrando-se consigo mesmo com mais profundidade; é o tempo de desfrutar de maneira mais sossegada cada experiência, cada pessoa, cada encontro.
Frente a uma vida fragmentada e dispersa, o ancião e a anciã estão em melhores condições de unificar e integrar sua existência. Esta última etapa da vida se converte em tempo de graça e salvação pois pode contar sempre com a presença e o auxílio amoroso d’Aquele que é o Senhor dos tempos.
Texto bíblico: Lc 2,22-40
Na oração: Precisamos de homens como Simeão e mulheres como Ana, da tribo dos que estão reconciliados com sua própria vida; pessoas com uma presença benevolente e carinhosa para tudo o que lhes rodeia. Com olhos expandidos por dentro, eles puderam perceber a salvação de um modo muito diferente do que haviam imaginado.
- O gesto de Simeão nos é proposto a todos, e todos os dias: bendizer a vida nova nos outros.
- Seu cotidiano, no Templo da vida, tem a marca do bem-dizer ou do mal-dizer, da gratidão ou da queixa...?
Hoje se celebra a Festa da Apresentação de Jesus no Templo e a purificação da sua Mãe. Segundo a Lei de Moises todo primogénito devia ser apresentado no Templo como oferenda da sua vida a Deus, dono da vida. Foram também para oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, conforme ordena a Lei do Senhor.
A mãe que deu a luz devia ser purificada e por isso no livro do Levítico pede esta oferenda como ato de purificação. É a oferenda dos pobres, dos que não “tem meios para comprar um cordeiro” (Lev 12,8). Pode-se pensar assim em José e Maria que se dirigem a Jerusalém, entram no Templo para cumprir assim com suas obrigações religiosas. Humildemente levam Jesus para apresenta-lo a Deus e oferecem o que pedia a lei judaica.
Continua o relato com a descrição de um homem chamado Simeão que “era justo e piedoso” e “esperava a consolação de Israel” e “o Espírito Santo estava com ele”. Simeão representa assim a Antiga Aliança: Israel. Ele espera a consolação de Israel, como o povo aguarda a vinda do Messias que ia liberar o povo de uma situação de escravidão a uma realidade de liberdade e vida nova. Simeão, um homem justo e religioso, movido pelo Espírito Santo realiza esta passagem reconhecendo em Jesus o Salvador.
A espera do Messias está se cumprindo e a partir deste momento sua pessoa que representa a esperança de todo o povo, pode “descansar em paz”! Deus cumpre sua promessa: “Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel” (Lc 2,29). É um ancião, uma pessoa simples que reconhece em Jesus o Enviado de Deus.
Como profeta Simeão revela que Jesus será luz das nações. Uma luz que iluminara a todos e todas sem distinção, que não pode ficar escondida, nem “debaixo de uma vasilha” senão que deve ser colocada no candeeiro “onde ela brilha para todos” (cfr Mt 5).
Na imagem da luz se apoia a festa de hoje que é tradicionalmente acompanhado com a processão das candelas: a Candelária.
“Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada”. Lucas descreve algumas características significativas de esta mulher: em primeiro lugar é uma profetisa e não era comum que no Templo houve mulheres profetas. Diante da pessoa de Jesus não há distinção entre o atuar do homem ou da mulher dentro dos espaços religiosos. É uma mulher viúva que não se afasta do Templo e simboliza assim tantas pessoas que no silencio e desde sua simplicidade rezam e servem a Deus e as pessoas na sua necessidade o dia todo. Possivelmente passam despercebidas, mas sabem reconhecer o agir de Deus nos acontecimentos do dia a dia.
Neste domingo somos convidados e convidadas a deixar-nos surpreender pelo agir de Deus nas irmãs e nos irmãos que estão ao nosso lado. Peçamos ser habitados pelo Espírito Santo como Simeão para ter palavras de sabedoria e reconhecimento da presença de Deus.
Oração
«Agora, Senhor, conforme a tua promessa,
podes deixar o teu servo partir em paz.
Porque meus olhos viram a tua salvação,
que preparaste diante de todos os povos:
luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel.»
Hoje, 02 de fevereiro, a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo, com um texto do Evangelho de Lucas. Embora o texto seja bem conhecido, para aprofundar o pensamento de Lucas é bom não somente fixarmos nos eventos relatados, mas ver neles uma releitura de textos importantes do Antigo Testamento. Como Lucas adaptou o Cântico de Ana (I Sm 2, 1-10) para construir o Magnificat, o Canto de Maria (Lc 1, 46-55), aqui ele usou como fonte a narrativa de Elcana e Ana em I Sm 1-2. Naquela narrativa o sacerdote idoso Eli aceita a dedicação do filho feita pelo casal no santuário de Silo e abençoe os pais de Samuel. Lucas expande e aprofunda essas tradições com temas caros a ele: realização de promessa, templo, universalismo, rejeição, testemunho e o papel das mulheres. O centro teológico do texto se acha em 2,29-32, o Canto de Simeão.
A estrutura do texto é assim: vv. 21-24 formam o contexto para o testemunho duplo de Simeão e Ana em vv. 25-38 e os vv. 39-40 formam a conclusão.
A meta de Lucas é enfatizar a fidelidade dos pais de Jesus à Lei mosaica. A nova manifestação da salvação de Deus vem dentro dessa fidelidade. A lei da purificação se encontra em Lv 12, 2-8 (indica-se Lv 12,6 em 2,22 e Lv 12,8 em 2,24). A Lei referente à consagração do primogênito acha-se em Ex 13,1-2. Mas em lugar de mencionar a norma que pedia o resgate da criança pelo pagamento de cinco siclos (Nm 3, 47-48. 18, 15-16), Lucas introduz a apresentação de Jesus, o que não era exigência do Antigo Testamento. Com esse relato ele quer enfatizar o zelo dos pais em assumir a tarefa que Deus lhes confiou. Vale notar que eles oferecem duas rolas, o que era a oferta permitida aos pobres para a purificação da mãe (Lv 12, 8). Mais uma vez notamos aqui um dos temas preferidos de Lucas, cujo Evangelho é muitas vezes chamado “O Evangelho dos pobres e excluídos”, situando a família de Jesus entre o povo pobre da Palestina.
É também importante notar que, no Canto de Simeão, vv. 29-32, a salvação dos pagãos é anunciada pela primeira vez em Lc. Ela só será claramente apresentada a partir da revelação pascal em Lc 24,47.
Não é fácil entender o trecho um tanto enigmático de vv. 34 -35, especialmente no que se refere à frase dirigida à Maria “Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma” (v35a). Frequentemente se explica essas palavras como referentes à dor da Maria em testemunhar o sofrimento de Jesus na cruz, (“a mãe dolorosa”) mas, na verdade, o Evangelho de Lucas não fala que Maria estava presente na morte de Jesus (esse relato só que encontra em Jo 19, 25-27). Provavelmente Lucas quer enfatizar que a missão de Jesus age como uma espada que faz corte radical entre as opções da vida, a semelhança da ação da Palavra de Deus em Hebreus (Hb 4, 12-13), e até Maria tem que fazer essa opção radical por Jesus. De fato, em Lucas ela é apresentada como discípula-missionária do Senhor!
Então o texto também nos convida para que façamos uma opção definitiva e radical pelo seguimento de Jesus, pois todos nós, desde o nosso batismo, recebemos a vocação de sermos discípulos/as-missionários/as de Jesus.
Evangelho de São Lucas 2, 22-40
No “Dia da Vida Consagrada”, a liturgia celebra a “Apresentação do Senhor” no Templo de Jerusalém. Esse ícone – que expressa a entrega total de Cristo, desde os primeiros momentos da sua existência terrena, nas mãos do Pai – convida todos os consagrados e consagradas a renovar a sua entrega nas mãos de Deus e a fazer da própria existência um dom de amor, um testemunho comprometido da realidade do Reino, ao serviço do projeto salvador de Deus para os homens e para o mundo.
O Evangelho da Festa da Sagrada Família, é tirado dos primeiros capítulos de Lucas. Mais uma vez, encontramos um tema muito importante para esse Evangelho – o encontro entre a Antiga e a Nova Aliança. Durante Advento, Lucas fazia paralelo entre Isabel, Zacarias e João Batista, e Maria, José e Jesus. No texto de hoje, os justos da Antiga Aliança são representados pelas figuras de Simeão e Ana, profeta e profetisa. Outros dois temas de Lucas também se destacam nesse relato – o Espírito Santo e a opção pelos pobres.
Lucas destaca que os pais de Jesus foram ao Templo conforme a Lei (cf. Lv 12,8), para oferecer o sacrifício de dois pombinhos pela purificação. Na Lei, esse sacrifício era permitido aos pobres. Mais uma vez, continuando a lição da manjedoura e dos pastores, Lucas sublinha o amor especial de Deus pelos pobres. Deixa bem claro que Maria, José e Jesus eram contados entre eles como, aliás, era toda a população do Nazaré de então.
Simeão e Ana representam, quase nos mesmos termos de Zacarias e Isabel, os justos que esperavam a salvação de Deus – o grupo conhecido no Antigo Testamento como os anawim, ou “pobres de Javé”. É de notar que, no seu canto, Simeão proclama que ele pode “ir em paz”, simbolizando que as esperanças dos justos da Antiga Aliança agora estavam se realizando em Jesus. Tal como, na visitação, a idosa Isabel, símbolo também dos justos, acolhia com alegria a chegada de Maria com Jesus, agora Simeão e Ana recebem com a mesma alegria a novidade da Nova Aliança, concretizada em Jesus. Mais uma vez, Lucas coloca juntos homem e mulher, um tema comum nos seus escritos (cf. Lc 4,25-28; 4,31-39; 7,1-17; 7,36-50; 23,55–24,35; At 16,13-34). Assim, Lucas insiste que mulher e homem se colocam juntos diante de Deus. São iguais em dignidade e graça, recebem os mesmos dons e têm as mesmas responsabilidades.
Como já fez em Lc 2,19 e fará de novo em Lc 2,50, novamente o evangelista frisa que os seus pais ainda não entenderam plenamente o alcance do mistério de Jesus. O v. 33 insiste que “o pai e a mãe do menino estavam admirados do que se dizia dele”. Mais uma vez, apresenta-nos José e, especialmente, Maria como modelos de fé. Apesar de qualquer revelação que tivessem, José e Maria também caminharam na escuridão da fé, descobrindo, passo a passo, o que significava ser discípulo de Jesus.
Jesus “crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e o favor de Deus estava com ele”. Como acontece com todos nós, esse crescimento foi gradual, e a sua família tinha um papel importantíssimo no seu crescimento. Se, como adulto, ele podia revelar-nos a imagem de Deus como o amoroso Pai – tema tão caro a Lucas – era porque também aprendeu isso através da experiência com José. Se cresceu na espiritualidade dos anawim, era porque aprendeu isso desde o berço, junto com os seus pais. Se foi fiel na busca da vontade de Deus, era porque assim aprendeu no ambiente familiar.
Nossa sociedade desvaloriza a vida familiar, especialmente por seu consumismo desenfreado e seu materialismo. Diante disso o texto de hoje anima-nos e desafia-nos, tal como Maria e José, na claridade ou na escuridão da caminhada, a que criemos um ambiente onde o amor possa florescer e onde a nossa juventude possa aprender a importância do amor nutrido em uma fé viva.
Ninguém ignora que hoje a família tradicional enfrenta enormes dificuldades. Diante dos problemas, respostas fáceis não servem. Nem sempre é óbvio o caminho a seguir. Novas dificuldades e novas perguntas exigem um novo olhar da parte das Igrejas. Nesse sentido, há pouco, presenciamos algo inédito na Igreja Católica em Roma: a realização de um sínodo sobre a família onde todos os participantes foram convidados pelo Papa a expressarem as suas opiniões abertamente e sem medo. Houve divergências, obviamente, pois nem tudo está claro. Há quem prefere ignorar a realidade, fechar os olhos diante de problemas reais que causam, muitas vezes, sofrimento no seio das famílias, e refugiar-se em chavões legalistas em lugar de procurar descobrir o que Jesus faria em tais situações. O Espírito Santo ilumina as Igrejas e as famílias que realmente buscam juntas as maneiras evangélicas de como responder aos novos desafios.
Rezemos pelas famílias, pelas que estão bem firmes e pelas desestruturadas. Rezemos também pelas lideranças de nossas Igrejas, para que tenham força e saúde, a fim de testemunharem, nos nossos tempos, a missão de Jesus compassivo e misericordioso.
Tendo passados os quarenta dias após as festividades de Natal, para cumprir as prescrições exigidas pela Lei, José e Maria, conforme o costume levaram o menino Jesus e o apresentaram no Templo. É a chamada festa da Apresentação, celebrada também como “festa do Encontro”. Ali no Templo, Jesus é reconhecido na sua identidade divina pelo velho Simeão e pela idosa Ana.
No templo de Jerusalém, aos doze anos de vida, Jesus faz um encontro com os doutores da lei. Todos eles ficaram admirados com o nível de sua sabedoria e entenderam que Ele não era um adolescente qualquer. Suas perguntas e respostas eram intrigantes e provocadoras de madura reflexão. Com isso Jesus revela seu papel missionário, de dar publicidade para a Palavra do Pai.
Na convivência diuturna, as pessoas estão naturalmente realizando encontros, fraternos ou não, que podem revelar o tipo de conduta ética que cada uma tem, se é adequada ou não. Existem encontros que ajudam a comunidade na construção do bem coletivo. Por outro lado, há encontros que maquinam maldades e destroem a paz entre as pessoas, porque ocasionam práticas de injustiça.
O cenário de encontros e reuniões que são realizados na cultura moderna é alarmante. A dignidade da pessoa humana está sendo substituída por valores que degradam e acabam matando quem mais deveria ser defendido. O nível de injustiça praticada por certas pessoas e empresas clama aos céus. O dinheiro e as riquezas materiais levam muitos agentes à perda da própria dignidade.
Estamos assistindo pela mídia a descoberta de tratativas de irresponsabilidade no caso dos rejeitos de Mariana e Brumadinho. Como se vê, foram muitos encontros realizados para esconder da população a realidade referente à insegurança em diversas barragens das mineradoras, principalmente em Minas Gerais. É lamentável que a pessoa humana seja colocada em planos aquém do mercado.
A Palavra de Deus provoca encontros de reflexão para um verdadeiro confronto da fé com a vida. É palavra que abomina a injustiça e provoca gestos de fraternidade, porque a vida humana é um dom de Deus. Ela ilumina a mente das pessoas para realizar encontros que privilegiam a justiça e a solidariedade para com os mais necessitados. O dinheiro não pode ser alvo destruidor.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
(Traduzido pelo Tradutor Google sem nossa correção, Português falado em Portugal)
FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Primeira leitura (Mal 3,1-4)
O contexto deste oráculo é a situação de “nojo” que o povo de Israel vive ao regressar do exílio devido à decadência moral existente; e sem a intervenção de Deus, pelo menos da forma e no momento que eles esperavam. Exatamente o versículo anterior ao nosso texto diz: “Vocês cansam o Senhor com suas palavras e dizem: 'Como podemos cansá-lo?' isso" ou também: "Onde está o Deus da justiça?" (Mal 2,17). A injustiça é vivida e Deus, por enquanto, não intervém.
Neste contexto vital o profeta anuncia a “visita”, primeiro do mensageiro (mal'ac); e depois do próprio Senhor ou Messias: “Envio o meu mensageiro para preparar o caminho diante de mim. E imediatamente o Senhor a quem vós buscais entrará no seu Templo; "(3:1). Vale destacar os títulos daquele que virá pela segunda vez: Senhor (adon) e anjo-mensageiro (mal'ac) da aliança. E notemos também que se trata daquele que “busca” e “deseja” o povo [1] .
Esta vinda do “dia do Senhor” terá caráter judicial, expresso com a imagem do fogo como instrumento de julgamento divino, comum em diversos textos proféticos. Ou seja, “o julgamento é comparado, comparado, à purificação dos metais preciosos, como o ouro e a prata, através da sua fusão e posterior purificação, eles mostram e fazem brilhar a sua verdadeira e preciosa natureza, uma vez separados do ganga; no mesmo através do julgamento de Deus todas as nossas impurezas serão eliminadas e o culto e o Templo do Senhor serão mais uma vez mostrados em todo o seu esplendor… O profeta concentra sua atenção na renovação do culto: com a entrada do Mensageiro de o A aliança entre o Templo e os sacerdotes será renovada, e a oferta da própria vida agradará a Deus” (Max Alexander).
Nos versículos seguintes é descrita a missão/ação do mensageiro da aliança, o esperado, que será a purificação ou santificação dos ministros (filhos de Levi) e do culto; e assim a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor Deus.
Segunda leitura (Hb 2,14-18)
O tema principal da carta aos Hebreus é o sacerdócio de Cristo. Pois bem, da condição sacerdotal de Cristo o autor destaca primeiro o aspecto da sua proximidade com os homens: “Como os filhos têm o mesmo sangue e a mesma carne, Ele também teve que participar dessa condição…” (2, 14). “Ele deveria ter se tornado em tudo como seus irmãos...” (2:17). Neste aspecto o autor entra em conflito com a concepção do sacerdócio de Israel, uma vez que a legislação do Antigo Testamento exige que os sumos sacerdotes permaneçam separados do povo.
Esta proximidade do Filho de Deus e Sumo Sacerdote chega ao extremo de se tornar um homem, em tudo semelhante aos seus irmãos. A razão da “encarnação” está na redenção, pois através do diabo a morte entrou no mundo e tem poder sobre os homens (Sabedoria 2:14); então “ele também teve que participar daquela condição, para reduzir à impotência, através de sua morte, aquele que tinha o domínio da morte, isto é, o diabo” (2,14).
Depois o sacerdócio de Cristo distingue-se com duas características: “misericordioso e fiel” (2,17), que reflectem os atributos do Deus da aliança (cf. Ex 34,6). O Sumo Sacerdote do Novo Testamento é misericordioso como o Pai e por fidelidade ao próprio Deus toma o lado dos homens, entrega-se como vítima e intercede por todos. A qualidade de “fiel”, entendida neste caso como “digno de fé, credenciado diante de Deus”, indica a situação especial do Filho com Deus. Ele é o único que pode ser chamado a apresentar a causa dos homens diante de Deus.
Evangelho (Lucas 2:22-40)
Este texto pode ser subdividido em quatro partes:
1. v. 22-24: Quadro jurídico em que Maria e José levam o Menino ao Templo.
2. v. 25-35: Recepção do Menino por Simeão e duplo oráculo sobre o seu destino.
3. v. 36-38: Recepção do Menino pela profetisa Ana.
4. v. 39-40: Conclusão, com o regresso a Nazaré e o crescimento do Menino
1. A história começa apresentando a Sagrada Família que, para cumprir a lei de Moisés, leva o Menino Jesus ao Templo de Jerusalém: «Quando chegou o dia estabelecido pela Lei de Moisés para a purificação, levaram o Menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, 23 como está escrito na Lei: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. 24 Também deveriam oferecer como sacrifício um par de rolas ou pombinhos, como ordena a Lei do Senhor. (Lc 2,22-24).
A primeira prescrição da lei foi a consagração do filho primogênito ao Senhor conforme estipulado em Êx 13:1.11. Este rito recorda a preservação dos primogênitos dos israelitas quando a décima praga matou os primogênitos dos egípcios. A segunda prescrição é a purificação da mãe quarenta dias após o parto, conforme estabelecido em Lv 12,1-8, que era feita através da oferta de um cordeiro ou, se fossem pobres, como neste caso, com um par de pombos. .
Mas Lucas diz aqui que a intenção principal da viagem a Jerusalém era “apresentá-lo ao Senhor”, ou seja, a entrega ou oferta de Jesus a Deus. Como no resto das histórias da infância de Lucas, os estudiosos reconhecem que também aqui o pano de fundo é a narrativa de 1 Sam 1-3, onde Ana leva o menino Samuel ao santuário de Siló e o consagra ao Senhor para o resto da vida. Pois bem, mas esta apresentação ou entrega do Menino Jesus é “um acto de culto no sentido mais profundo da palavra” como salienta J. Ratzinger: “Obviamente, significa: esta criança não foi resgatada e não voltou a pertencer a seus pais, mas muito pelo contrário: foi entregue pessoalmente a Deus no templo, designado como sua propriedade. A palavra paristanai, aqui traduzida como “presente”, também significa “oferecer”, referindo-se ao que acontece com os sacrifícios em. o templo. Aqui ressoa o elemento do sacrifício e do sacerdócio […] Aqui, no lugar do encontro entre Deus e o seu povo, em vez do ato de recuperar o primogênito, acontece a oferta pública de Jesus a Deus, ao seu Pai”. [2] .
Ora, chamou a atenção que Lucas não narra a cerimônia do resgate do primogênito nem da purificação da mãe; e toda a história está localizada na entrada do Templo. Segundo LH Rivas, isto pode ser entendido pela sua relação com a profecia de Malaquias (Ml 3,1-4; primeira leitura de hoje) “que anuncia que o Senhor virá ao seu Templo e então os sacerdotes e os sacrifícios serão purificados Se prestarmos atenção a esta profecia, entendemos que o autor do Evangelho fez toda a história mencionando a introdução do Menino Jesus no templo de Jerusalém com a intenção de mostrar que com este evento a esperada purificação do sacerdócio. e de os ritos do Antigo Testamento […] No ato de levar o Menino Jesus ao templo para consagrá-lo a Deus, o autor do Evangelho vê resumido todo o mistério da vinda de Cristo a este mundo. . Sacrifício verdadeiramente digno e puro, que atingirá o seu ápice no momento da cruz" [3] .
2. Uma vez esclarecida a razão da presença da Sagrada Família em Jerusalém, surge em cena o idoso Simeão. Ele é apresentado como “um homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel”. Como pano de fundo desta última expressão – consolação de Israel – ressoam vários textos do profeta Isaías, como Is 40,1. 52,9; 66,12-13. Desta forma, Simeão encarna as autênticas expectativas messiânicas de Israel, pois tem dentro de si a presença do Espírito Santo e deixa-se guiar por Ele: “Poderíamos dizer que é um homem espiritual e, portanto, sensível aos apelos de Deus. Deus, à sua presença. É por isso que ele fala agora como profeta” [4] .
Quanto ao seu primeiro oráculo ou canto de louvor a Deus (conhecido como Nunc Dimittis pelas suas primeiras palavras em latim), também é possível reconhecer aqui como pano de fundo vários textos de Isaías (Is 52,9-10; 49,6; 46 , 13; 42,6; 40,5), como observa R. Brown: “Ver a salvação, à vista de todas as nações, a luz para os gentios e a glória para Israel são temas que Eles aparecem no Nunc Dimitis e constituem quase uma pavimentação de passagens Isaías" [5] .
Simeão começa afirmando que pode acabar com a sua vida porque Deus cumpriu a sua Palavra, a sua Promessa. Ele descobre esta realização, movido pelo Espírito, no Menino Jesus, que confessa como “luz para iluminar as nações pagãs e glória do teu povo Israel”. Primeiro, observemos que o texto grego diz “luz para revelar” ou “luz de revelação” (fw/j eivj avpoka,luyin) para os pagãos; trata-se de tornar o próprio Deus conhecido aos não-judeus. Devemos notar também que nesta afirmação há um universalismo que vai além do que foi anunciado por Isaías e que encontrará a sua realização no livro dos Atos dos Apóstolos quando o evangelho for pregado aos pagãos, reconhecendo as mesmas possibilidades de salvação como os israelitas (cf. Hb 15:14; 28:28).
O segundo oráculo, palavra profética dirigida a Maria, aprofunda a missão do Menino e a forma como nela envolve a sua mãe. R. Brown explica muito bem [6] : “Os olhos de Simeão olharam para longe e viram a salvação que esta criança trará aos gentios, assim como Israel; mas, como um verdadeiro profeta, ele também vê a rejeição e a catástrofe e a sua segunda visão, em tom de tragédia, é dirigida à mãe da criança, a primeira a quem chegou a boa notícia de Jesus, porque foi ela a primeira a ouvir a palavra e aceitá-la, ela deve. encontre em sua própria alma o desafio da palavra e da tragédia; da sua rejeição por parte de muitos pertencentes a Israel, aos quais Jesus queria ajudar (1,54a)”.
A leitura teológica deste oráculo leva-nos a reconhecer que “a teologia da glória está indissociavelmente ligada à teologia da cruz. O servo de Deus tem a grande missão de ser o portador da luz de Deus para o mundo. precisamente nas trevas da cruz […] A profecia da luz e a palavra sobre a cruz andam juntas” [7] .
3. De repente, aparece a viúva Ana, profetisa, que começa a agradecer a Deus pelo dom do Menino e o anuncia a «todos aqueles que esperavam a redenção de Israel». Com a intervenção de Ana, o evangelista qualifica um pouco o caráter negativo do segundo oráculo de Simeão e antecipa que o Espírito moverá os justos a anunciar primeiro a redenção a Israel.
4. A conclusão, que narra o regresso à Galileia e o crescimento do Menino, encerra toda esta unidade e prepara a aparição de Jesus de Nazaré pregando uma mensagem cheia de sabedoria e manifestando a graça de Deus. O paralelo com a infância de Samuel é claro.
Algumas reflexões:
Até 1969, a antiga festa do 2 de fevereiro, de origem oriental, recebia no Ocidente o título de “Purificação da Virgem Maria”, e encerrava com ele, quarenta dias depois do Natal, o ciclo natalino. Mas no Oriente bizantino, onde teve origem (é conhecida em Jerusalém desde o século IV), a festa centra-se no mistério do Hypapánte, ou seja, no encontro do Salvador com aqueles que veio salvar, representada nas pessoas de Simeão e Ana, segundo as palavras do Nunc dimittis (Lc 2,29-32), incessantemente retomadas nos cantos litúrgicos da festa: «Luz para iluminar os povos e glória dos teus povo de Israel." O novo calendário litúrgico, instituído na sequência da reforma do Vaticano II, regressou às origens e volta a considerar esta solenidade como festa do Senhor, como festa da Apresentação do Senhor, e por isso tem precedência sobre a Domingo de tempo durante o ano.
A festa do dia 2 de fevereiro mantém um caráter popular com especial atenção à figura de Maria. No entanto, é necessário que responda verdadeiramente ao significado autêntico da festa. Não seria apropriado que a piedade popular, ao celebrar a Apresentação do Senhor, esquecesse o conteúdo cristológico, que é fundamental, para permanecer quase exclusivamente nos aspectos mariológicos; O facto de que deva “ser considerada... como memória simultânea do Filho e da Mãe” não autoriza tal mudança de perspectiva; As velas, guardadas nas casas, devem ser para os fiéis um sinal de Cristo “luz do mundo” e, portanto, um motivo para expressar a fé [8] .
O festival de Apresentação celebra uma chegada e dois encontros; a chegada do tão esperado e desejado Salvador; e o encontro com dois representantes do povo de Israel, Simeão e Ana, ícones dos pobres de Javé, daqueles que só confiam em Deus.
E mais ainda, historicamente “a vinda de Jesus ao templo indica o momento do encontro entre a Lei e o Evangelho, entre a velha e a nova aliança, entre o antigo e o novo templo [...] O tempo da profecia encerra-se e inaugura-se o tempo do cumprimento [...] Com todas as referências aos profetas e com as palavras “glória do seu povo Israel”, Jesus apresenta-se ao mundo, por um lado, como ponto de encontro e lugar de passagem entre o Antigo e o Novo Testamento; por outro lado, com as palavras “luz para iluminar o; Gentios", ele é apresentado como ponto de encontro entre Israel e o resto da humanidade, como aquele que derrubará o muro de separação e fará "dos dois povos um" (cf. Ef 2,14). , a passagem não apenas do velho para o novo, mas também do particular para o universal, de um povo para todos os povos" [9] .
A apresentação ou oferenda que Maria e José fazem do Menino Jesus revela-nos uma nova forma de nos ligarmos a Deus, de nos oferecermos e de nos encontrarmos com Ele. Não só a oferenda, o culto, muda; A mediação sacerdotal que o realiza também muda. A primeira e a segunda leituras de hoje guiam-nos nesta linha. Malaquias fala de uma purificação do culto e dos levitas que tornarão as ofertas agradáveis a Deus. A Carta aos Hebreus, por sua vez, apresenta-nos Cristo, o mediador que une Deus e o homem, superando distâncias, eliminando toda divisão e derrubando todo muro de separação. Cristo vem como um novo “sumo sacerdote compassivo e fiel no que diz respeito a Deus, e assim expiar os pecados do povo” (Hb 2,17). Assim, notamos que a mediação com Deus já não se realiza na santidade-separação do antigo sacerdócio, mas na solidariedade libertadora com os homens. Portanto, o novo sacerdócio de Cristo é existencial e caracteriza-se pela proximidade a todos os homens, pela misericórdia e pela confiabilidade.
Pois bem, no Baptismo Cristo tornou-nos participantes do seu sacerdócio, todos nós que somos baptizados temos o sacerdócio comum ou real, pelo qual somos convidados a apresentar-nos-a oferecer-nos a Deus com a certeza de que a nossa oferta será agradável. Não pelos nossos méritos, mas pela sua misericórdia que nos permite participar na oferta de Jesus ao seu Pai. (“Meu único mérito é a misericórdia do Senhor. Não serei pobre de méritos, enquanto ele não for pobre de misericórdia. E porque a misericórdia do Senhor é muitas, meus méritos também são muitos”, disse São Bernardo de Claraval). É o mesmo convite que São Paulo fez aos cristãos de Roma: «Irmãos, exorto-vos, pela misericórdia de Deus, a oferecer-vos como vítima viva, santa e agradável a Deus: este é o culto espiritual que deveis oferecer. Não tomem este mundo como modelo. Pelo contrário, transformem-se interiormente, renovando a sua mentalidade, para que possam discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,1). - 2).
Portanto, junto com o novo sacerdócio há um novo culto, espiritual e existencial, de doação da própria vida em todos os seus momentos e situações. Consagramos ao Senhor tudo o que somos e tudo o que fazemos, procurando sempre discernir e cumprir a sua vontade. Esta é a oferta agradável ao Pai, pois a fazemos por meio de Cristo, com Cristo e em Cristo. Cada Eucaristia é fonte e ápice da entrega total da nossa vida ao Senhor. É o que pedimos hoje na oração colectiva desta Missa: “Deus Todo-poderoso e eterno, pedimos humildemente que, assim como o teu Filho único, feito homem, foi apresentado no templo, também nós nos apresentemos diante de Ti espiritualmente renovados”.
E temos também a dimensão profundamente mariana desta festa, pois a Virgem percorreu pela primeira vez este caminho de entrega total à vontade de Deus pelo exemplo e pela comunhão com o seu Filho; e nos aponta isso e nos ajuda a segui-lo. Com efeito, «a primeira pessoa que se associa a Cristo no caminho da obediência, da fé comprovada e da dor partilhada, é a sua mãe, Maria. O texto evangélico mostra-nos ela no acto de oferecer o seu Filho: uma oferta incondicional que envolve ela pessoalmente, Maria é Mãe d’Aquele que é “glória do seu povo Israel” e “luz para iluminar as nações”, mas também “sinal de contradição” (cf. Lc 2, 32). 34) E a espada da dor trespassará a sua alma imaculada, mostrando assim que o seu papel na história da salvação não termina no mistério da Encarnação, mas se completa com a participação amorosa e dolorosa na morte e ressurreição do seu Filho. Ao levar o seu Filho a Jerusalém, a Virgem Mãe oferece-o a Deus como verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo, coloca-o nas mãos de Simeão e de Ana como anúncio de redenção e apresenta-o a todos como luz; ; para avançar o caminho seguro da verdade e do amor" (Bento XVI, Homilia de 2 de fevereiro de 2006).
O encontro com o Senhor, princípio e fundamento, prolonga-se com o encontro entre irmãos e entre gerações, como destacou o Papa Francisco na homilia da Festa da Apresentação de 2014: “A Festa da Apresentação de Jesus no Templo é também chamada de Festa do Encontro: na liturgia, diz-se no início que Jesus vai ao encontro do seu povo, é o encontro entre Jesus e o seu povo; Quando Maria e José levaram o seu filho ao Templo de Jerusalém, aconteceu o primeiro encontro entre Jesus e o seu povo, representado pelos dois anciãos Simeão e Ana. Foi um encontro no centro da história do povo, um encontro entre os dois anciãos. os jovens e os velhos: os jovens eram Maria e José, com o seu recém-nascido; e os mais velhos eram Simeão e Ana, dois personagens que sempre frequentavam o Templo. Aqui está o encontro entre a Sagrada Família e estes dois representantes do povo santo de Deus. No centro está Jesus. É Ele quem move a todos, quem atrai uns e outros ao Templo, que é a casa do seu Pai. É um encontro entre jovens cheios de alegria no cumprimento da Lei do Senhor e idosos cheios de alegria na ação do Espírito Santo. É um encontro único entre observância e profecia, onde os jovens são os observadores e os idosos são os proféticos. Na realidade, se refletirmos bem, a observância da Lei é animada pelo próprio Espírito, e a profecia segue o caminho traçado pela Lei. Quem é mais cheio do Espírito Santo do que Maria? Quem é mais dócil à sua ação do que ela?”
Por fim, seria bom esclarecer o significado das velas que hoje abençoamos. São um símbolo da luz de Cristo que dissipa as trevas do pecado e da morte; e que os participantes levem consigo à luz quando quiserem orar. Por fim, que Deus Bom Pai nos conceda viver o que pedimos no belo prefácio desta festa: “Hoje é o dia em que Jesus foi apresentado ao templo para cumprir externamente a lei de Moisés, mas sobretudo, para cumprir o povo crente, impulsionados pelo Espírito Santo, os santos anciãos Simeão e Ana chegaram ao templo e, iluminados pelo mesmo Espírito, conheceram o Senhor e o anunciaram com alegria da mesma forma que nós, reunidos numa só família pelo Espírito Santo. , Vamos à casa de Deus, ao encontro de Cristo. Nós O encontraremos e os reconheceremos no partir do pão, até que Ele volte revestido de glória.” “Vamos em paz ao encontro do Senhor”.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
uma criança
Meu pai, venho até você como uma criança
Quero entrar na sua casa nos braços da minha Mãe
E então, eu te imploro, deixe-me permanecer
Descanse no seu conforto durante a minha estadia
Saber que estou totalmente protegido nele.
Um homem sábio diria, ao me ver, que fui salvo,
Pediria para morrer em paz quando me visse realizado.
Seu sonho viu, de um infinito além
E a certeza de voltar àquele lugar…
Onde você nos prometeu habitar eternamente.
O louvor subirá como incenso
E eu me oferecerei pequeno e vulnerável
Vou imaginar seu sorriso satisfeito, pai,
E você se oferecerá em seu Filho feito Pão
Para aplacar minha fome.
Vou tropeçar e cair tantas vezes
Você certamente estará lá para me ajudar
Encha-me com sua força e me eleve.
Dê-me sua sabedoria e sua graça
Faça-me capaz de doar para mim mesmo.
A tua lei seja a nossa lei e a lei de nossos pais.
Aliança selada por Jesus, o Senhor.
Feito Filho e Templo da Família Trinitária
Que ele nos leve até você, nos ensine a te adorar,
E agradecer aos céus pela sua Redenção. Amém
[1] Cf. Alonso Schökel, L.- Sicre, J. L., Profetas II, Cristiandad, Madrid, 1980, 1216-1217.
[2] La infancia de Jesús, Planeta, Buenos Aires, 2012, 89-90.
[3] Jesús habla a su pueblo 1. Solemnidades y Fiestas; CEA, Buenos Aires, 2000, 10-11.
[4] J. Ratzinger, La infancia de Jesús, Planeta, Buenos Aires, 2012, 90.
[5] R. Brown, El Nacimiento del Mesías. Comentario a los Relatos de la Infancia (Cristiandad; Madrid 1982) 479.
[6] El Nacimiento del Mesías. Comentario a los Relatos de la Infancia (Cristiandad; Madrid 1982) 481.
[7] J. Ratzinger, La infancia de Jesús, Planeta, Buenos Aires, 2012, 92-93.
[8] Cf. Congregación para el Culto Divino y la disciplina de los Sacramentos, Directorio sobre piedad popular y Liturgia. Principios y orientaciones, CEA, Buenos Aires, 2002, nros. 120-123.
[9] R. Cantalamessa, Los misterios de Cristo en la vida de la Iglesia. El Misterio de Navidad, EDICEP; Valencia 1996, 55-57.