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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Amós 8,4-7
Salmo Responsorial 112(113)R- Louvai o Senhor, que eleva os pobres!
1 Timóteo 2,1-8
Evangelho Lucas 16, 1-13
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – [Naquele tempo, 1Jesus dizia aos discípulos:] “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. 2Ele o chamou e lhe disse: ‘Que é isso que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’. 3O administrador então começou a refletir: ‘O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. 4Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração’. 5Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu patrão?’ 6Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo!’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te depressa e escreve cinquenta!’ 7Depois ele perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve oitenta’. 8E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. 9E eu vos digo, usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. [10Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. 11Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? 12E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? 13Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.] – Palavra da salvação.
Lc 16,1-13
“O senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza” (Lc 16,8)
Não é Jesus quem elogia o administrador desonesto; é o senhor da parábola que faz esse elogio.
Além disso, o elogio não exalta a desonestidade, mas o administrador que agiu com rapidez e esperteza. Ele percebeu que não tinha forças para cavar; julgou a mendicância como uma vergonha pessoal. Agiu com rapidez, lucidez e esperteza.
Não insistiu em cobrar os devedores, preferiu perdoar dívidas a fim de ganhar quem o ajudasse. Julgou mais vantajoso a benevolência das pessoas do que o recebimento das dívidas.
Jesus conclui: “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”.
Se a criatividade é usada para desviar dinheiro, com mais razão ainda devemos emprega a imaginação para usá-lo bem.
Se a Inteligência é utilizada para enganar, defraudar, extorquir; muito mais deve ser empregada para promover o bem comum.
Se o tempo, as energias, as qualidades podem ser aproveitadas para malefícios, muito mais devem ser concentradas na prática da caridade, na promoção da paz.
Se o mal é maquinado com engenho, por que o bem deveria ser improvisado? Se a sonegação de impostos só acontece por causa de uma inteligência pervertida, por que usar os recursos com incompetência? Se o que é danoso é planejado com cuidado, por que o benéfico não deveria ser revestido de excelência?
Não assistamos passivos aos mensalões.
Vençamos o suborno, a fraude, a propina com a prática do bem; bem que seja planejado com inteligência, realizado com criatividade, levado a cabo com perseverança e determinação.
Caro irmão, cara irmã, Deus te inspire o bem, sustente-o em ti, e o conduza à sua plena realização.
Os pobres são os assessores do Reino Eterno (S. Inacio de Loyola)
“Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9)
A parábola do evangelho deste domingo não pretende se referir em absoluto à corrupção e ao roubo, mas ela está centrada numa questão radical: “Os filhos das trevas são mais astutos que os filhos da luz”.
Jesus, na parábola, não louva o mal administrador por sua péssima administração e roubos. O que Jesus quer destacar é sua “inteligência” e “esperteza” para garantir seu futuro, a astúcia com que atua para atrair a benevolência dos credores de seu amo.
Não devemos imitá-lo na sua injustiça, mas na sua previdência. O administrador infiel é um filho deste mundo; deixa-se guiar pelo cuidado de sua existência terrena. Com esperteza, com decisão e sem escrúpulos, aproveita o que lhe pode proporcionar vantagem para garantir sua vida futura.
Quando o dinheiro se converte no “deus” a quem adorar, o ser humano se deprecia: direitos humanos em liquidação, a educação, a saúde, a moradia..., tudo é deixado de lado – Adroaldo Palaoro
E é aqui onde encontramos a chave de compreensão do relato: como “filhos da luz” precisamos agir de um modo inteligente e com esperteza, utilizando todos os recursos em favor da vida.
Jesus reconhece a astúcia dos “filhos deste mundo” utilizada para cometer delitos, enganar, roubar ou levar uma vida corrupta; para aqueles que o seguem, Jesus revela a necessidade de serem astutos para fazer o bem e lutar pela justiça; quer que os “filhos da luz” sejam astutos positivamente: estejam atentos, sejam hábeis e permaneçam despertos diante dos mecanismos do mal e usem da criatividade para o bem do Reino.
O administrador astuto, quando foi denunciado por desvios dos bens do patrão, agiu pensando exclusivamente nele, procurando abrir para si um caminho no futuro imediato, para continuar fazer o que sempre fazia: roubar.
Quando o dinheiro se converte no “deus” a quem adorar, o ser humano se deprecia: direitos humanos em liquidação, a educação, a saúde, a moradia..., tudo é deixado de lado.
O dinheiro, como meio, tem sua importância, mas é preciso estar atento aos sinais de alerta antes de atravessar essa sutil fronteira que leva à ambição, à cobiça e à avareza, até transformar a pessoa num ser que já não sabe valorizar o que acontece por dentro, sente-se diferente e distante do resto da humanidade.
Em cada um de nós convivem a luz e as trevas. A parábola deste domingo parece conter uma profunda ironia, ao confrontar-nos conosco mesmo e perguntar-nos de que maneira procedemos nos assuntos que concernem às “trevas” (ego) e naqueles que potencializam a luz que somos.
A experiência nos diz que quando é nosso ego que toma iniciativa, ele ativa meios, recursos, táticas, estratagemas..., com a finalidade de sobressair vaidoso e assegurar sua sobrevivência (como faz o empregado da parábola, que representa, justamente, o nosso próprio ego e seu mundo de interesses).
O que ocorre com a luz, que é a nossa verdadeira identidade? Que fazemos com o melhor de nós mesmos? Se investíssemos tanta motivação e tantos meios para que nossa verdadeira identidade se manifestasse e deixasse sua marca, nosso mundo seria bem diferente.
A parábola e as sentenças de Jesus trazem à tona a questão da riqueza no caminho espiritual, com um destaque fundamental: diante do risco de absolutizá-la (endeusá-la), requer-se lucidez (astúcia) para usá-la como instrumento a serviço da vida.
“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Estas palavras de Jesus não podem ser esquecidas nestes momentos por nós que nos sentimos seus seguidores, pois contém a advertência mais grave que Jesus deixou à sua comunidade. O dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é o grande inimigo que impede a construção de um mundo mais justo e fraterno, querido por Deus.
Infelizmente, a riqueza se converteu, no nosso mundo globalizado, em um ídolo de imenso poder que, para sobreviver, exige cada vez mais vítimas, desumaniza e empobrece cada vez mais a história humana; assim nos encontramos enredados por uma crise gerada, em grande parte, pela ânsia de acumular.
Praticamente tudo se organiza, se move e se dinamiza a partir dessa lógica: buscar mais produtividade, mais consumo, mais bem-estar, mais prestígio, mais poder sobre os outros... Esta lógica é destruidora; se não a estancarmos, pode colocar em perigo o ser humano e destruir a Casa comum.
O dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é o grande inimigo que impede a construção de um mundo mais justo e fraterno, querido por Deus – Adroaldo Palaoro
Jesus nos alerta que, a primeira coisa a fazer, é tomar consciência daquilo que está acontecendo. Esta não é só uma crise econômica. O apego aos “bens” apresenta-se como uma das tentações mais poderosas para todo seguidor de Jesus. A busca da própria segurança é a base da tentação pelo dinheiro.
De fato, nossa relação com o dinheiro nunca é mera e exclusivamente funcional, econômica, monetária, de valor de troca. Sempre há um “algo mais” em nossa vinculação com ele.
Provavelmente, poucas relações com o mundo material de objetos estão tão “carregadas” afetivamente como esta do dinheiro. A atração, o apego, a dificuldade para desprender-nos dele... e, muitas vezes, uma forte ambivalência, ou seja, uma polaridade de sentimentos e afetos contrários em relação com esse objeto que progressivamente vai se fazendo tão determinante em nossa existência. Compreender as vinculações íntimas que todos mantemos na relação com o dinheiro nos ajudará a compreender, sem dúvida, a lógica perversa que pode ser desencadeada na relação conosco, com o outro e com a criação.
Nos relatos do Evangelho, o “dinheiro” é designado pelo termo “mamón”, que só aparece quatro vezes no Novo Testamento e sempre na boca de Jesus. Trata-se de um termo que provém da raiz aramaica “aman” e significa qualquer riqueza sobre a qual o indivíduo apoia sua existência.
Além de uma evidente e fundamental função de valor de troca que possui, são múltiplas e variadas as significações que o dinheiro pode chegar a desempenhar para cada um: meio com o qual ganhar afeto, um suporte de prestígio e segurança pessoal ou um instrumento poderosíssimo de poder sobre os demais, um meio de defesa e inclusive de ataque sobre os outros, um acréscimo de valia pessoal, tendências perversas de exibição e ostentação frente os outros, corrupção...
“Usai o dinheiro injusto para fazer amigos”: é um apelo a investir tudo o que temos a serviço daquilo que vale verdadeiramente: nosso verdadeiro ser, alimentar comunhão com os outros, viver a partilha...
Utilizamos com sabedoria o “dinheiro injusto”, quando compartilhamos com aquele que passa necessidade.
Nunca poderemos atuar como donos absolutos daquilo que possuímos. Somos simples administradores. A única coisa que se conserva é a que é partilhada. O que não se partilha, se perde.
No fundo, Jesus nos quer dizer assim: “Empregai vossa riqueza injusta para ajudar os pobres; ganhai sua amizade compartilhando com eles vossos bens. Eles serão vossos amigos e, quando na hora da morte o dinheiro já não sirva para mais nada, eles os acolherão na casa do Pai”.
Dito com outras palavras: a melhor forma de “lavar” o dinheiro injusto diante de Deus é dividi-lo com seus filhos mais pobres.
Para meditar na oração:
Traço característico, que define a qualidade de vida de uma pessoa que segue Jesus Cristo, é a simplicidade de vida, entendida no sentido de um nível econômico simples e despojado.
- Como testemunhar que se pode ser feliz vivendo uma cultura da gratuidade, da moderação, da solidariedade, possibilitando uma partilha dos bens de maneira mais igualitária e justa para todos os seres humanos e que favoreça melhores condições de realização humana?
- A quem sirvo? Quem é o “senhor” que comanda o meu coração?
- Deus pôs em minhas mãos tantos dons, tantas possibilidades... E que estou eu fazendo com tanta “riqueza” que o Senhor me confiou? Sou um(a) administrador(a) fiel e solícito(a), ou vou desperdiçando pela vida os “bens” (talentos e oportunidades) que o Senhor me deu e continua me cumulando?
Jesus já era adulto quando Antipas colocou em circulação as moedas cunhadas em Tiberíades. Sem dúvida, a monetização representou um progresso no desenvolvimento da Galileia, mas não conseguiu promover uma sociedade mais justa e equitativa. Foi o contrário.
Os ricos das cidades agora podiam administrar seus negócios com mais eficiência. A monetização permitiu que eles "acumulassem" moedas de ouro e prata que lhes proporcionavam segurança, honra e poder. Por isso, chamavam esse tesouro de "mammona", dinheiro "que dá segurança".
Enquanto isso, os camponeses mal conseguiam juntar algumas moedas de bronze ou cobre de pouco valor. Era impensável acumular mamona em uma aldeia. Eles tinham o suficiente para sobreviver trocando seus modestos produtos entre si.
Como quase sempre acontece, o progresso deu mais poder aos ricos e empurrou os pobres ainda mais para baixo. Assim, era impossível abraçar o reino de Deus e sua justiça. Jesus não se calou: "Nenhum servo pode servir a dois senhores, pois se dedicará a um e desprezará o outro... Não se pode servir a Deus e ao dinheiro (mammona)". Você tem que escolher. Não há alternativa.
A lógica de Jesus é avassaladora. Se alguém vive subjugado pelo dinheiro, pensando apenas em acumular bens, não pode servir a Deus que deseja uma vida mais justa e digna para todos, começando pelos mais humildes.
Algo está errado na Igreja de Jesus quando, em vez de gritar com nossas palavras e nossas vidas que a fidelidade a Deus e a adoração às riquezas não são possíveis, contribuímos para embalar as consciências desenvolvendo uma religião burguesa e tranquilizadora.
Para pertencer a Deus, não basta fazer parte do povo escolhido ou adorar no templo. É preciso permanecer livre do dinheiro e atender ao seu chamado para trabalhar por um mundo mais humano.
Há algo de errado com o cristianismo nos países ricos quando nos esforçamos para aumentar nosso bem-estar sem nos sentirmos desafiados pela mensagem de Jesus e pelo sofrimento dos pobres do mundo. Há algo de errado quando tentamos viver o impossível: a adoração a Deus e a adoração ao Bem-Estar.
Algo está errado na Igreja de Jesus quando, em vez de gritar com nossas palavras e nossas vidas que a fidelidade a Deus e a adoração às riquezas não são possíveis, contribuímos para embalar as consciências desenvolvendo uma religião burguesa e tranquilizadora.
Neste domingo, a liturgia nos oferece um texto do evangelho de Lucas que, ao longo da história, gerou certos problemas para compreender algumas afirmações da boca de Jesus. Em uma leitura rápida, podemos nos perguntar: Jesus elogia a atitude dos corruptos e os coloca como modelo de comportamento? Ou o que Jesus está destacando neste administrador?
No relato prévio a este texto, lemos a parábola do filho que sai da casa do pai depois de pedir sua herança. Ele desperdiça todos os seus bens materiais com prostitutas e, quando volta para a casa do pai, junto com a alegria do abraço e da festa, aparece o filho mais velho reclamando que não recebeu nem um cabrito.
Essa parábola, junto com outras questões, nos faz refletir sobre a nossa postura em relação aos bens materiais que Deus nos concede. Uma dúvida que surge é: como podemos usá-los de forma correta, sem nos acharmos merecedores de tudo o que recebemos? Vamos explorar o texto mais a fundo para tentar encontrar uma resposta para essa pergunta e entender melhor a mensagem que Jesus quer passar com essa parábola.
Jesus está ensinando aos discípulos através de uma parábola que começa dizendo: "Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens". Quando o administrador soube que será demitido por dilapidar os bens, procura astutamente organizar o futuro que terá que enfrentar. No texto descreve-se a ação do administrador, que começa a refletir para agir em consequência. Ele não tem forças para o trabalho físico, não quer mendigar porque tem vergonha, por isso faz cálculos “para que alguém o receba em sua casa”.
Jesus está ensinando como ser seus seguidores, como compartilhar a novidade do Reino de uma forma que se adapte às diferentes situações que aparecem – Ana Casarotti
Por isso, ele chama cada um dos devedores, com quem provavelmente não tinha uma boa relação, para negociar a redução da dívida — que talvez fosse sua fonte de renda — e assim conquistar a amizade deles. Ele sabe que vai ser demitido porque desperdiçava os bens, não era um bom gestor, e talvez, neste momento, comece a administrar esses bens com mais justiça. São bens que não lhe pertencem, mas por causa de suas ações, recebe elogios do senhor, que até elogia o administrador desonesto por ter agido com esperteza. Talvez ele tenha aberto mão de seus próprios ganhos, do dinheiro que não era dele, para ganhar amigos no futuro. Dessa forma, ele chama um por um os devedores e reduz a dívida sem ter o aval do “senhor”, que de qualquer forma o elogia por ter agido com inteligência.
“Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”
Jesus está ensinando como ser seus seguidores, como compartilhar a novidade do Reino de uma forma que se adapte às diferentes situações que aparecem, e também como agir com inteligência e esperteza. Os cristãos se chamavam de “filhos da luz”, mas Jesus os repreende por não serem suficientemente astutos, rápidos e espertos para navegar nesse mundo. Ele os convida a agir com prontidão, a ficarem atentos para responder aos caminhos que a dinâmica do Reino deve seguir na sociedade. A humildade e a simplicidade são importantes, mas também é preciso ter sagacidade e vivacidade para perceber a presença do Espírito — não podemos ser ingênuos! Jesus sempre observava o que acontecia ao seu redor, com as pessoas que o seguiam, seus discípulos, as autoridades religiosas e políticas, e agia de acordo com isso.
E continua dizendo: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas”.
A partir desta afirmação, podemos questionar-nos: existe um dinheiro "justo"? Jesus mesmo responde a esta questão ao afirmar: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Os bens que recebemos, seja material ou não, são dados. A tarefa fundamental é administrá-los! Esses bens tornar-se-ão injustos quando o ser humano se apropriar deles e os acumular para si, agindo como seu "dono" sem reconhecer que são um dom entregue para ser administrado. Não existe dinheiro justo ou injusto; tudo o que consideramos "nosso" ou "merecido" pode levar à ganância e à acumulação de dinheiro, como se pudéssemos organizar o futuro com ele ou determinar nosso destino em função dele.
Esses bens tornar-se-ão injustos quando o ser humano se apropriar deles e os acumular para si, agindo como seu "dono" sem reconhecer que são um dom entregue para ser administrado – Ana Casarotti
Jesus diferencia claramente servir a Deus ou servir ao dinheiro. O significado de servir está relacionado com “servus”, que significa escravo, estar a serviço, e também está relacionado com atender, custodiar, proteger. O que significa servir ao dinheiro? Em poucas palavras, podemos dizer que é viver escravo do dinheiro, que acaba se tornando o centro da vida, “um deus”, e Deus, nosso pai, que nos deu a vida e nos torna irmãos, fica deslocado. Não se pode viver a fraternidade sem compartilhar o pão com quem está ao meu lado. Não se pode louvar a Deus e ter uma atitude de gratidão no coração pela vida que nos deu se não reconhecermos que tudo recebemos dele e somos simples administradores de seus bens. Se acreditamos em Deus que é Pai, acolheremos o outro como irmão, sem filtros nem exceções. Jesus adverte sobre a avareza que o dinheiro traz, que leva ao egoísmo e à injustiça e ao desperdício dos bens recebidos segundo critérios de egoísmo e ganância.
Neste domingo, Jesus convida-nos a ser astutos, a não ser ingénuos, a não ser cristãos onde prevalece uma espiritualidade desligada da profunda mensagem de igualdade e justiça que a Boa Nova traz consigo. Talvez em muitos momentos da história tenha prevalecido uma espiritualidade sem compromisso com o que acontecia à nosso redor, mas neste domingo Jesus apresenta-nos o desafio de sermos astutos para responder aos desafios que se nos apresentam.
Lembramos as palavras do Papa Francisco na homilia da Missa em Santa Marta, no dia 20 de setembro de 2013: “É o dinheiro que faz você se desviar da fé", e "até mesmo acaba com a sua fé". É ele que semeia no mundo "invejas, brigas, calúnias e suspeitas malignas. Se você escolher o caminho do dinheiro", "o dinheiro torna-se ídolo e você vai adorá-lo e se tornar corrupto". O próprio Jesus fala claramente sobre isso, de maneira "bastante forte": “’Não podeis servir a Deus e ao dinheiro’. Você não pode: é um ou o outro! E isso não é comunismo, não! Isso é puro Evangelho! Estas são as palavras de Jesus!" ("A Pope Francis Lexicon": quando o dinheiro se torna um ídolo).
Um primeiro sentimento em relação a esta parábola é de certa indignação. Afinal, ao nos contar a parábola, Jesus parece elogiar o compor- tamento de uma pessoa corrupta e desonesta. Por isso esta parábola nos incomoda. Vamos entender a proposta de Jesus:
1.Lucas 16,1-2: Jesus descreve uma situação muito comum na Palestina daquela época. As terras são de um proprietário que mora distante. A administração
destas terras foi confiada a um capataz que desvia os bens e o dinheiro do patrão em proveito próprio e submete os trabalhadores a duros encargos para garantir não apenas o lucro do patrão, mas também, o dinheiro desviado por ele. Este comportamento foi denunciado ao patrão que resolve despedir o capataz.
2. Lucas 16,3-4: O capataz reflete como continuar tendo seu alto nível de vida sem ter que se esforçar.
Neste seu raciocínio ele conta as duas maneiras legítimas de ganhar dinheiro: trabalhar ou mendigar. Ele rejeita as duas: uma por preguiça e a outra por vergonha. Busca então uma terceira maneira: continuar roubando o patrão.
3. Lucas 16,5-7: O administrador resolve alterar as contas das dívidas que os comerciantes tinham com o patrão, tornando-as menores e aumentando o lucro destes comerciantes.
Dessa forma, ele ganha os favores e o reconhecimentos dos comerciantes, mantendo a possibilidade de garantir seu nível de vida quando fosse despedido.
4. Lucas 16,8: Jesus conclui dizendo que o patrão elogiou não o comportamento desonesto do capataz, mas sim a sua criatividade em encontrar um caminho que o permitisse continuar vivendo dos produtos de seus roubos mesmo depois de despedido, ganhando dinheiro sem trabalhar. O que Jesus apresenta e quer que pensemos, não é a maneira desonesta do capataz, mas sim se temos ou não o mesmo empenho e criativida- de no nosso esforço em construir o Reino de Deus.
5.Lucas 16,9-13: Por isso mesmo, a conclusão do ensinamento desta parábola e que dá sentido a ela, está nos versículos seguintes (Lc 16,9-13). Lucas escreve para comunidades em ambiente urbano onde é impossível viver sem o uso do dinheiro. Mas Lucas também sabe que o uso do dinheiro traz a marca das injustiças sociais, tais como ele mostra na parábola do rico e de Lázaro (Lc 16,19-31). Numa cidade, quem mais ganha dinheiro é quem menos precisa dele. Jesus nos ensina a usar o “dinheiro injusto”. Para ele, o dinheiro traz a marca da injustiça, já que é um instrumento de acúmulo e de opressão. Um cristão não deveria entrar na lógica do acúmulo de dinheiro. Pelo contrário, deveria ser tão criativo na partilha quanto é o capataz na sua busca em acumular dinheiro e em manter seu alto nível de vida. Deveria saber criar iniciativas novas de convivência, tanto na sociedade como na igreja. Aqui e acolá, já aparecem algumas iniciativas novas: economia alternativa, orçamento participativo. Na igreja surge a iniciativa de comunidades eclesiais de base.
CEBI
Este texto faz parte de um capítulo aparentemente fragmentado, mas que realmente tem como tema unificador o uso dos bens materiais em benefício dos outros, especialmente dos mais necessitados. Divide-se em quatro segmentos inter-relacionados: vv. 1-8a; vv. 8b- 13; vv. 14-18; vv. 19-31. Três destes trechos serão usados hoje e nos próximos dois domingos.
A interpretação popular da primeira parte, a história do “Administrador Injusto”, traz muitos problemas para os pregadores. Pois, aparentemente, Jesus está elogiando quem agisse de maneira desonesta. Tal interpretação é moralmente inaceitável. Por isso, temos que olhar bem a história – os estudiosos não estão de acordo se trata-se de uma parábola, ou uma “história-exemplo”, que Lucas também usa muito (10, 29-37; 12, 16-21; 16, 19-31;18, 9-14).
Para que entendamos melhor o contexto da história, é bom saber que os documentos da época atestam que frequentemente se usava o sistema aqui relatado. Como a cobrança de juros era proibida pela Lei, o administrador embutiu o ágio na “nota promissória”. Por exemplo, uma pessoa talvez tivesse emprestado 200 litros de azeite, mas por causa dos juros de 100%, a sua conta acusava 400 litros. Então, na história de Lucas, o administrador, enfrentando a demissão, resolve na mesma hora vingar-se do seu patrão – reduzindo as contas devidas ao seu valor real, e assim perdendo para ele os juros – e fazer amigos para ele mesmo, entre os devedores.
O “patrão” ou “Senhor” a que se refere o v. 8a não é Jesus, mas o “homem rico” do v.1. Ele “elogiou” o administrador desonesto, por sua esperteza! A palavra grega aqui traduzida por “esperteza” significa uma estratégia prática visando alcançar um fim determinado. Tem nada a ver com a virtude, no sentido mais geral de agir com justiça. Assim embora possa parecer, à primeira vista, que Lucas esteja elogiando a desonestidade, a interpretação mais exegética diz que o que devemos imitar não é a desonestidade, mas o bom senso na administração dos bens materiais.
Para os que entendem o trecho como uma verdadeira parábola, há duas explicações possíveis; uma diz que o que Jesus quer ensinar é que os seus discípulos, quando confrontados com a decisão de segui-Lo ou não, devem agir de maneira decisiva, como fez o administrador quando confrontado com a sua situação de crise, e não vacilar.
Outra interpretação vai na direção do “contraste”: o sentido normal de justiça não condiz com a atitude condizente do patrão em v.8. Assim, se faz contraste entre a maneira de agir dos homens e de Deus. Este ponto de vista corresponde com outros ensinamentos em Lucas sobre a nova justiça, a justiça do Reino e a dos homens – os critérios da “justiça do Reino de Deus” não são os da sociedade, mas exigem o perdão e o relacionamento com os inimigos.
A segunda parte do trecho – vv. 8b – 13 – são aplicações práticas de como os discípulos devem usar os bens materiais. Indica o entusiasmo dos “que pertencem a este mundo” como exemplo para os discípulos que muitas vezes são insossos no seu seguimento de Jesus. “O dinheiro injusto”, que pertence a um mundo com princípios de exploração, pode até servir aos discípulos quando usado para a partilha com os necessitados, que se converterão em “amigos” que “vão receber vocês nas moradas eternas” (v.9).
Outro ponto destacado é a necessidade de fidelidade diária. Se nós partilhamos os nossos bens na convivência quotidiana, ganharemos os verdadeiros bens imperecíveis como prêmio eterno. Mas isso exige fidelidade e lealdade total a Deus – a alternativa é sucumbir às tentações da injustiça que escraviza, – e a gente fica leal a este Deus através da partilha dos bens, especialmente com os mais necessitados.
Embora possamos discutir e debater sobre interpretações minuciosas do trecho, uma coisa é inegável – Jesus quer advertir os seus seguidores sobre a tentação de escravizar-se com o dinheiro, e na mesma hora, exigir que a partilha material seja ponto marcante da vivência dos seus discípulos!
(Confira, se desejar, com o texto original em espanhol, que está logo após a tradução feita pelo Tradutor Google)
XXV DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Am 8,4-7):
A pregação profética é a Palavra de Deus dirigida a uma situação histórica específica, por isso é necessário entender o contexto em que foi proclamada para melhor compreendê-la. No caso do profeta Amós, nos encontramos na primeira metade do século VIII a.C., quando Israel vivia um período de expansão territorial e segurança acompanhado de grande prosperidade econômica . A arqueologia confirma as palavras de Amós sobre o luxo e o bem-estar de um certo estrato da população (cf. Amós 3:13-15). Observamos uma maior densidade populacional, edifícios esplêndidos e luxuosos, um aumento dos recursos agrícolas e progresso nas indústrias têxtil e de tinturaria. No entanto, esse bem-estar econômico esconde uma grave desagregação social . Há um forte contraste entre ricos e pobres.
Pessoas poderosas que oprimem e abusam dos pobres e fracos . Junto com isso, encontramos um certo grau de corrupção religiosa . O sincretismo contaminou a pureza da religião israelita e criou uma falsa sensação de segurança baseada em um culto ritualístico que pressupõe uma imagem distorcida de Deus. A aliança com Deus havia se tornado letra morta.
É justamente nessa situação específica que a voz do profeta ressoa, lembrando ao seu povo que o caráter distintivo da religião de Israel é a relação Deus-próximo baseada na Aliança , e que, segundo esta, o povo só pode manter um verdadeiro relacionamento com Deus quando observa uma conduta justa para com todos os seus membros. Portanto, denunciar as injustiças que violam essa ordem social diz respeito a Deus e ao seu profeta. Assim, Amós ataca fortemente os ricos e poderosos que oprimem e enriquecem à custa dos pobres e fracos (cf. 2:7; 4:1; 5:7, 11, 24; 8:4-6 ). Sua ambição por riqueza é tão grande que aguardam ansiosamente o fim das festas litúrgicas (Lua Nova e Sábado) para continuar lucrando injustamente. Não há dúvida de que, para eles, o dinheiro ocupa o lugar que pertence a Deus, e por isso são duramente condenados pelo profeta, o porta-voz do verdadeiro Deus.
Como os tempos mudam muito, mas as pessoas não, acreditamos que esta mensagem também é válida hoje, convidando-nos a não separar a fé da vida, nem o culto à caridade que supera a justiça.
Evangelho (Lc 16, 1-13):
O Evangelho deste domingo inclui uma parábola (Lucas 16:1-9) seguida de alguns ditos de Jesus que ampliam o tema da parábola (Lucas 16:10-13).
A introdução da passagem deixa claro que se trata de um ensinamento dado por Jesus aos seus discípulos (16:1), no mesmo contexto dos anteriores no capítulo 15 (cf. 16:14 onde ele menciona os fariseus como amigos do dinheiro e sua reação à parábola).
A parábola começa apresentando os dois personagens principais: um homem rico e seu administrador, que é acusado de "esbanjar" os bens de seu senhor. Observe que o mesmo verbo diaskorpi, zw, é usado em Lucas 15:13 para descrever o que o filho mais novo fez com a herança que recebeu de seu pai. A reação do homem rico a essa acusação é pedir ao administrador um "relatório administrativo" ou "prestação de contas", pois ele não exercerá mais seu cargo.
A partir daí, o gerente embarcou em uma grande atividade (mental), buscando acima de tudo garantir seu futuro (ser recebido na casa de seus clientes). Ciente de suas limitações (não tinha forças para cavar e tinha vergonha de pedir dinheiro), decidiu telefonar para cada um dos devedores e conceder-lhes um desconto em suas dívidas para obter favores. No final, o dono ou dono acabou elogiando a astúcia do gerente .
A interpretação desta parábola não é nada simples e tem sido alvo de diversas opiniões. O mais confuso é o dono ou chefe elogiando o gerente corrupto por encontrar uma solução para garantir seu futuro.
Uma tentativa de superar essa dificuldade é supor que o administrador simplesmente renunciou à porcentagem que lhe era devida por seu trabalho em favor dos devedores. Ou seja, alguns argumentam que o lucro do administrador estava incluído na dívida, então ele astutamente renunciou à sua parte na tentativa de obter favores dos devedores de seu senhor. De fato, existem documentos antigos que corroboram essa interpretação, demonstrando a existência dessa forma de acordo econômico entre um senhorio ou proprietário e seu administrador .
Outros estudiosos optam por aceitar que o administrador cometeu um novo ato de corrupção ao falsificar os documentos ou “notas promissórias ” e, assim, reduzir a dívida com a intenção de ganhar o favor dos devedores no futuro 2 .
B. Malina 3 , por sua vez, embora reconhecendo que era comum na época que ricos proprietários de terras contratassem os serviços de um administrador, a quem davam autoridade para alugar propriedades, fazer empréstimos e liquidar dívidas em seu nome, afirma que "não há nada que justifique a ideia comum, com base neste texto, de que um agente poderia exigir uma comissão de 50% do valor do contrato. Se esse tivesse sido o caso, o proprietário logo teria descoberto o descontentamento dos camponeses e teria evitado qualquer relacionamento posterior entre o agente e os devedores nos termos pretendidos pelo agente. Caso contrário, se o proprietário tivesse consentido, teria sido implicado em extorsão. Este não é o caso em nossa história". Em outras palavras, esse especialista em cultura mediterrânea do século I considera as reduções da dívida altas demais para presumir que essa era sua parte da comissão. A opção por um novo ato de corrupção permanece.
Além dessa diversidade de opiniões, creio que o ponto central da parábola é a engenhosidade e a rapidez do administrador em tomar decisões com base em um futuro incerto . E é precisamente isso que o proprietário elogia. Isso não é uma aprovação absoluta de suas ações, visto que ele é chamado de "administrador desonesto ou injusto" (τὸν οἰκονόμον τῆς ἀδικίας v. 8), usando o mesmo termo adikía (avdiki, a) que em Lc 13:27 descreve aqueles que permaneceram de fora e não entraram pela porta estreita. Portanto, sua sagacidade ou inteligência em sair de uma situação complicada e garantir seu futuro é elogiada; mas sua desonestidade não .
O termo usado para descrever a atitude engenhosa ou astuta é fronimo (froni, mwj), que é a forma adverbial do adjetivo que é repetido no mesmo versículo 8 para qualificar os filhos deste mundo como mais astutos (φρονιμώτεροιs) do que os filhos da luz. Este mesmo adjetivo qualifica o homem prudente que constrói sua casa sobre a rocha em Mt 7,28; os discípulos que, quando enviados, devem ser prudentes como serpentes (Mt 10,16); o administrador fiel e prudente que distribui a ração no tempo devido (Lc 12,42; Mt 24,45) e as cinco virgens prudentes que forneceram óleo (Mt 25,2.4.8.9).
Como se pode ver nestes exemplos, esta é uma atitude positiva, muito valorizada por Jesus no Evangelho. Consiste em pensar cuidadosamente nas coisas que se vai fazer, ser previdente quanto ao futuro e cumprir responsavelmente o que lhe foi confiado . Embora no nosso texto seja traduzido como astuto , a tradução mais comum é prudente . Os dicionários gregos falam de sensato, prudente, judicioso, inteligente, astuto . Trata-se, portanto, de uma questão de sabedoria prática. A prudência é a virtude que nos faz escolher os meios mais adequados para atingir o fim . Neste contexto, podemos dizer que o administrador agiu mal porque agiu desonestamente, sem dúvida; mas devemos reconhecer que ele foi prudente porque escolheu rapidamente os meios a fim de atingir o seu fim, que era assegurar um futuro de bem-estar .
Esta é a atitude valorizada pelo dono da parábola ; e também por Jesus, que a reconheceu na maneira como as crianças deste mundo conseguem habilmente buscar o próprio benefício e bem-estar.
Ora, Jesus gostaria que seus discípulos tivessem essa capacidade de tomar decisões rápidas e criativas quando se trata das coisas do Reino, que são definitivas e próprias. Se o objetivo é entrar no Reino, ser acolhidos nas moradas eternas (16:9), devemos agir com a mesma sagacidade e engenhosidade com que o administrador foi acolhido nas casas dos devedores (16:4).
Para dissipar qualquer dúvida sobre a interpretação da parábola como condescendente com a desonestidade ou infidelidade do administrador, acrescentam-se alguns ditados que exortam à fidelidade, mesmo em pequenas questões. Aqui, "fiel" (pisto, j) aparece em contraste com "injusto", "desonesto" ou "corrupto" (a;diko, j), que é o termo dado ao administrador na parábola.
Segue-se um aviso sobre o perigo de se deixar levar pelo dinheiro, a ponto de se tornar idolatria, ou seja, servir a um deus falso. De fato, o texto original em 16:11 usa o termo "Mamon" (a vdi,kw| mamwna/|), o nome de uma divindade pagã, para descrever "dinheiro injusto". Daí o aviso em 16:13 para os discípulos: não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro (mamwna/|).
ALGUMAS REFLEXÕES:
Como sempre, acolhemos a sugestão do Padre Tena que nos convida a ter em conta, na pregação, as leituras do próximo domingo (outro texto de Amós e a parábola do rico e do pobre Lázaro) e assim evitar repetições nas homilias 4 .
A parábola de hoje, com a exortação imediata e consequente de Jesus, nos diz que devemos aprender com os homens do mundo, com os empresários, como tomar decisões rápidas e inteligentes para atingir o objetivo da vida cristã.
É um convite a recuperar a virtude da prudência no seu sentido humano e cristão original.
Segundo Aristóteles, a prudência é uma virtude intelectual; é a disposição que permite discernir corretamente o que é bom ou mau para o homem e agir em conformidade . 5 Para Cícero, prudentia deriva de providere, que significa tanto prever quanto prover. É a virtude que sabe escolher, diante de um futuro incerto, no momento certo e oportuno. Para Santo Agostinho, a prudência é um amor que escolhe com sagacidade. Não escolhe o objeto, mas os meios para alcançá-lo.
Santo Tomás de Aquino ensina que, das quatro virtudes cardeais, a prudência é a que deve guiar as demais. Sem ela, a temperança, a fortaleza e a justiça não saberiam o que fazer nem como; seriam virtudes cegas e indeterminadas. A prudência se coloca a serviço de fins que não são seus e se preocupa, por si só, apenas com a escolha dos meios.
Voltando ao tema do Evangelho, vemos que o fim é claro: entrar no Reino de Deus pela porta estreita . Isso significa colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas e reordenar tudo de acordo com essa escolha fundamental. E então, ser fiel nas pequenas coisas, que com o tempo se tornam grandes coisas. Então, a “riqueza injusta”, os bens materiais, podem até se tornar um bom meio para o fim, se soubermos compartilhá-los e ser generosos com os pobres. Em um sentido positivo, podemos dizer que “Jesus quer inspirar em nós com esta parábola uma certa emulação. Ele quer nos dizer: Essas pessoas não se deixam desanimar pelas circunstâncias; elas encontram soluções. Portanto, vocês, que são meus discípulos, devem também se mostrar astutos, engenhosos, buscando soluções, mesmo as inesperadas ” . 6
Mas também é verdade que um perigo real seria perder de vista o verdadeiro propósito da vida, o que acontece quando o desejo por riqueza toma conta de nós e acabamos nos orientando para o dinheiro como nosso deus, tornando-o o nosso sentido último na vida. Então, o meio se torna o fim da vida.
A esse respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 18 de setembro de 2022: “Na história, vemos como esse administrador corrupto acaba em apuros porque se aproveitou dos bens de seu senhor; agora ele terá que responder e perder o emprego. Mas ele não desiste, não se resigna ao seu destino e não se faz de vítima; pelo contrário, age imediatamente com astúcia, busca uma solução, é engenhoso. Jesus se baseia nessa história para nos lançar uma provocação inicial: “Os filhos deste mundo”, diz ele, “são mais astutos com a sua geração do que os filhos da luz” (v. 8). Acontece que aqueles que se movem nas trevas segundo certos critérios mundanos sabem como progredir mesmo em meio aos problemas, sabem ser mais astutos do que os outros; por outro lado, os discípulos de Jesus, isto é, nós, às vezes somos adormecidos, ou ingênuos, não sabemos tomar a iniciativa de buscar soluções nas dificuldades (cf. Evangelii gaudium, 24). Por exemplo, eu Pense em momentos de crise pessoal, social e eclesial: às vezes, nos deixamos levar pelo desânimo, ou caímos na queixa e na vitimização. Em vez disso, diz Jesus, podemos também ser astutos, segundo o Evangelho, despertos e atentos para discernir a realidade e criativos na busca de boas soluções, para nós e para os outros.
Creio que este ensinamento de Jesus se aplica também à evangelização, convidando-nos a ser inteligentes e criativos na transmissão da nossa fé. Sem dúvida, a graça de Deus é primeira e fundamental; mas o Senhor também quer usar a nossa engenhosidade e sagacidade para alcançar os outros. Coloquemos, pois, os nossos talentos a serviço da evangelização, como nos pede o Documento de Aparecida em diversas ocasiões: "A renovação missionária das paróquias é essencial tanto para a evangelização das grandes cidades como para o mundo rural do nosso continente, que exige imaginação e criatividade para alcançar as multidões que anseiam pelo Evangelho de Jesus Cristo. Particularmente no mundo urbano, considera-se a criação de novas estruturas pastorais, visto que muitas delas nasceram em outros tempos para responder às necessidades das zonas rurais" (n. 173).
O Papa Francisco, na EG 33, também nos convida à audácia evangelizadora e à criatividade pastoral que brotam do Evangelho para alcançar a necessária conversão pastoral: “A pastoral na chave da missão visa abandonar o confortável critério pastoral do ‘sempre se fez assim’. Convido todos a serem audaciosos e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das próprias comunidades. Uma postulação de fins sem uma adequada busca comunitária dos meios para alcançá-los está condenada a se tornar mera fantasia. Exorto todos a aplicar as diretrizes deste documento com generosidade e coragem, sem proibições nem medos. O importante é não caminhar sozinhos, contando sempre com os irmãos e, especialmente, com a orientação dos bispos, num discernimento pastoral sábio e realista.”
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
O servidor
Senhor,
Quem pode ser justo na tua presença?
Você encontrará no coração de cada um
O lucro obtido no momento certo
A vantagem sobre os outros para ganhar uma volta
A resistência à perda, à desistência do triunfo
E você verá que o que foi conquistado, até mesmo em lei
Sempre será injusto conosco.
Porque só Tu és Justo e nada mais
Temos que procurar a astúcia em nós mesmos
Trabalhar sob a Luz e a Verdade
A filiação conquistada na tua Cruz para cada um
Ela mesma, diante dos olhos do Pai, nos julgará.
E teremos mãos vazias ou cheias de “ dar”
Haverá desculpas e reclamações, mas elas não serão ouvidas.
O Noivo fechará a porta e não a abrirá
Então me livre da ingenuidade
Dos altos e baixos deste mundo e do seu mal
Oculto, o inimigo nos oprime
E andamos dispersos em ansiedade
Você tem tempo limitado e não vai demorar muito.
É hora de prestar contas de nós mesmos
Mas também de recomeçar
Porque você está atento às nossas orações
E tu és a Palavra que anima e alerta
Você guia nosso caminho.
Vem Senhor, não demores, vem!
Vigiai e guardai a nossa peregrinação
Nosso verdadeiro desejo é chegar até você
E lá encontrarei descanso
Por toda a eternidade. Amém.
1 Nesta linha se encontra o comentário sobre este Evangelho em Um Deus Rico em Misericórdia. Orientações para as Homilias do 21º ao 27º Domingo do Ano (CEA; Buenos Aires 1998) 78. A. Rodríguez Carmona, Evangelho Segundo São Lucas (BAC; Madri, 2014) 282-284, compartilha da mesma opinião : “O proprietário das fazendas costumava pagar ao administrador concedendo-lhe os juros com os quais a dívida era cobrada, normalmente exagerados [...] ele reduzia significativamente a dívida renunciando aos seus juros... Isso explica por que o senhor elogiou o comportamento do administrador pela astúcia que ele demonstrou para o futuro, mesmo que isso tivesse significado perdas para o administrador.”
2 Esta é a opinião de F. Bovon, El Evangelio según San Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 103; L. Sabourin, L'Evangile de Luc , 281 e L.H. Rivas, Jesús habla a su pueblo 7 , 177 e La obra de Lucas. I. Evangelio (Ágape; Buenos Aires 2012) 155-156: "Por meio desta parábola do administrador astuto , o Senhor mostra a astúcia e a astúcia que as pessoas neste mundo usam quando tentam garantir seu bem-estar. O administrador injusto não é louvado porque se comporta desonestamente (16:8), mas porque age astutamente."
3 Os Evangelhos Sinóticos e a cultura mediterrânica do primeiro século (Verbo Divino; Estella 1996) 284.
4 Pere Tena, O Lecionário de Lucas. Guia homilético para o Ciclo C , 122.
5 Esta referência e as que se seguem foram retiradas de A. Comte-Sponville, Pequeno Tratado sobre as Grandes Virtudes (Andrés Bello; Buenos Aires 2003) 37-43.
6 A. Vanhoye, Leituras Bíblicas para Domingos e Festas. Ciclo C (Mensageiro; Bilbao 2009) 288.
DOMINGO XXV DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Am 8,4-7):
La predicación profética es una Palabra de Dios dirigida a una situación histórica concreta, por eso es necesario conocer el contexto en que fue proclamada para poder comprenderla mejor. En el caso del profeta Amós nos encontramos en la primera mitad del siglo VIII a.C., cuando Israel vive un período de expansión y seguridad territorial acompañado por una gran prosperidad económica. La arqueología confirma los dichos de Amós acerca del lujo y el bienestar de cierto estrato de la población (cf. Am 3,13-15). Se observa una mayor densidad de población, edificios espléndidos y lujosos, aumento de los recursos agrícolas, progreso de la industria textil y del tinte. Ahora bien, este bienestar económico oculta una seria descomposición social. Hay un fuerte contraste entre ricos
poderosos que oprimen y se abusan de los pobres-débiles. Junto a esto encontramos un cierto grado de corrupción religiosa. El sincretismo ha contaminado la pureza de la religión israelita y una falsa seguridad basada en un culto ritualista que presupone una desfigurada imagen de Dios. La alianza con Dios se había vuelto letra muerta.
Justamente en esta situación concreta resuena la voz del profeta para recordar a su pueblo que el carácter distintivo de la religión de Israel es la relación Dios-prójimo en base a la Alianza y, según esta, el pueblo sólo puede mantenerse en una verdadera relación con Dios cuando observa una conducta justa para con todos sus miembros. Por esto, la denuncia de las injusticias que violan este orden social atañe a Dios y a su profeta. Así, Amós ataca fuertemente a los ricos y poderosos que oprimen y se enriquecen a costa de los pobres y débiles (cf. 2,7; 4,1; 5,7.11.24; 8,4-6). Es tan grande la ambición de riqueza que esperan ansiosos la finalización de las fiestas litúrgicas (novilunio y sábado) para seguir lucrando injustamente. No caben dudas de que el dinero ocupa para ellos el lugar que corresponde a Dios, por ello son condenados duramente por el profeta, portavoz del Dios verdadero.
Dado que los tiempos cambian mucho, pero los hombres no tanto, pensamos que este mensaje es válido también hoy, invitándonos a no separar la fe de la vida ni el culto de la caridad que supera la justicia.
Evangelio (Lc 16, 1-13):
El evangelio de este domingo incluye una parábola (Lc 16,1-9) seguida de unos dichos de Jesús que prolongan el tema de la misma (Lc 16,10-13).
La introducción de la perícopa deja en claro que se trata de una enseñanza dada por Jesús a sus discípulos (16,1), en el mismo contexto que las anteriores del capítulo 15 (cf. 16,14 donde menciona a los fariseos como amigos del dinero y su reacción ante la parábola).
La parábola comienza presentando a los dos personajes principales: un hombre rico y su administrador, quien es acusado de "despilfarrar" los bienes de su señor. Notemos que se utiliza el mismo verbo diaskorpi,zw que se usó en Lc 15,13 para describir lo que hizo el hijo menor con la herencia que recibió de su padre. La reacción del hombre rico ante esta acusación es pedirle al administrador un “informe de gestión” o “rendición de las cuentas” porque no seguirá más en el cargo.
A partir de entonces el administrador entra en una gran actividad (mental) buscando ante todo asegurarse el futuro (ser recibido en la casa de sus clientes). Consciente de sus limitaciones (no tiene fuerzas para cavar y le da vergüenza pedir) decide llamar a cada uno de los deudores y hacerles una quita en la deuda para ganarse el favor de ellos. Al final, el señor o dueño termina por alabar la astucia con que obró el administrador.
La interpretación de esta parábola no es nada sencilla y se ha prestado a múltiples opiniones. Lo que más confunde es que el dueño o patrón alabe al administrador corrupto por la manera en que encontró una solución para asegurarse el futuro.
Un intento de superar esta dificultad es suponer que el administrador no hizo más que renunciar en favor de los deudores al porcentaje que le correspondía por su trabajo. Es decir, algunos sostienen que la ganancia del administrador estaba incluida en la deuda, por tanto éste renuncia astutamente a su parte buscando ganarse el favor de los deudores de su señor. De hecho hay documentos antiguos que avalarían esta interpretación al demostrar la existencia de esta forma de arreglo económico entre un dueño o propietario y su administrador1.
Otros estudiosos optan por aceptar que el administrador cometió un nuevo acto de corrupción falsificando los documentos o “pagarés” y reduciendo así la deuda con la intención de ganarse para el futuro el favor de los deudores2.
B. Malina3, por su parte, si bien reconoce que era común en aquel tiempo que los propietarios ricos contraten los servicios de un administrador al que daban autoridad para alquilar propiedades, hacer préstamos y liquidar deudas en nombre del dueño; afirma que “no hay nada que justifique la frecuente idea, basada en este texto, de que un agente podía exigir como comisión el 50 por ciento del valor del contrato. Si éste hubiera sido el caso, el propietario pronto se habría enterado del malestar de los campesinos y habría evitado cualquier ulterior relación entre agente y deudores en los términos que aquél pretendía. De otro modo, si el propietario lo consentía, se habría visto implicado en la extorsión. No es éste el caso de nuestra historia”. Es decir, este especialista en la cultura mediterránea del siglo I considera que las reducciones que hace a las deudas son demasiado altas para suponer que es la parte que le tocaba como comisión. Queda entonces la opción de un nuevo acto de corrupción.
Más allá de esta diversidad de opiniones creo que el punto central de la parábola es el ingenio y rapidez del administrador en la toma de decisiones en función de un futuro incierto. Y esto es propiamente lo que alaba el dueño o propietario. No se trata de una aprobación absoluta de su obrar, pues lo llama "administrador deshonesto o injusto" (τὸν οἰκονόμον τῆς ἀδικίας v. 8), utilizando el mismo término adikía (avdiki ,a) que en Lc 13,27 calificaba a los que quedaron fuera y no entraron por la puerta estrecha. Por tanto, se alaba su sagacidad o inteligencia para salir de una situación complicada y asegurarse el futuro; pero no se alaba su deshonestidad.
El término utilizado para describir la actitud ingeniosa o astuta es fronímos (froni ,mwj) que es la forma adverbial del adjetivo que se repite en el mismo versículo 8 para calificar a los hijos de este mundo como más astutos (φρονιμώτεροιs) que los hijos de la luz. Este mismo adjetivo califica al hombre prudente que construye su casa sobre roca en Mt 7,28; a los discípulos que al ser enviados deben ser prudentes como serpientes (Mt 10,16); al administrador fiel y prudente que reparte la ración a su tiempo (Lc 12, 42; Mt 24,45) y a las cinco vírgenes prudentes que hicieron provisión de aceite (Mt 25,2.4.8.9).
Como puede verse en estos ejemplos se trata de una actitud positiva y muy valorada por Jesús en el evangelio y que consiste en pensar bien las cosas que se van a hacer, siendo previsor de cara al futuro y cumpliendo responsablemente con lo encomendado. Si bien en nuestro texto se traduce por astuto, la traducción más común es prudente. Los diccionarios griegos hablan de sensato, prudente, juicioso, inteligente, sagaz. Se trata por tanto de sabiduría práctica. La prudencia es la virtud que nos hace elegir los medios más aptos para alcanzar el fin. En este contexto podemos decir que el administrador obró mal porque obró deshonestamente, sin lugar a dudas; pero debemos reconocerle que fue prudente por cuanto eligió rápidamente los medios en orden a su fin que era asegurarse un futuro de bienestar.
Esta es la actitud valorada por el propietario de la parábola; y también por Jesús al reconocerla en la manera cómo los hijos de este mundo se manejan con habilidad buscando su propio provecho y bienestar.
Ahora bien, Jesús quisiera que sus discípulos tengan esta capacidad para tomar decisiones rápidas y creativas cuando se trata de las cosas del Reino, que son las definitivas y las propias de ellos. Si el fin es entrar en el Reino, ser recibidos en las moradas eternas (16,9), hay que obrar con la misma sagacidad e ingenio que utilizó el administrador para ser recibido en las casas de los deudores (16,4).
Todavía, para despejar cualquier duda sobre la interpretación de la parábola en el sentido de aprobación de la deshonestidad o infidelidad del administrador, se añaden unos dichos exhortando a la fidelidad, incluso en las cosas pequeñas. Aquí fiel (pisto,j) aparece en contraposición de injusto, deshonesto o corrupto (a ;diko,j), que es la calificación que recibió el administrador de la parábola.
Sigue luego una advertencia sobre el peligro que tiene la atracción por el dinero, al punto de poder convertirse en idolatría, o sea un falso dios a quien se sirve. De hecho, el texto original en 16,11 para decir "dinero injusto" utiliza el término "Mamona" (a vdi,kw| mamwna/|) que es el nombre de una divinidad pagana. De aquí la llamada de atención en 16,13 para los discípulos: no se puede servir a dos señores, a Dios y al dinero (mamwna /|).
ALGUNAS REFLEXIONES:
Como siempre, aceptamos la sugerencia de Pere Tena quien nos invita a tener en cuenta, a la hora de predicar, las lecturas del próximo domingo (otro texto de Amós y la parábola del rico epulón y el pobre Lázaro) y así evitar repeticiones en las homilías4.
La parábola de hoy, con la consiguiente e inmediata exhortación de Jesús, nos dice que debemos aprender de los hombres de mundo, de los hombres de negocios, a saber tomar decisiones rápidas e ingeniosas para alcanzar el fin de la vida cristiana.
Es una invitación a recuperar la virtud de la prudencia en su original sentido humano y cristiano.
Según Aristóteles la prudencia es una virtud intelectual, es la disposición que permite discernir correctamente lo que es bueno o malo para el hombre y actuar en consecuencia5. Para Cicerón prudentia deriva de providere que significa tanto prever como proveer. Es la virtud que sabe elegir ante un porvenir incierto en el momento justo y oportuno. Para San Agustín la prudencia es un amor que elige con sagacidad. No elige el objeto sino los medios para alcanzarlo.
Santo Tomás de Aquino enseña que, de las cuatro virtudes cardinales, la prudencia es la que debe dirigir a las demás. Sin ella, la templanza, la fortaleza y la justicia no sabrían qué hacer ni cómo; serían virtudes ciegas e indeterminadas. La prudencia se pone al servicio de fines que no son los suyos y sólo se ocupa, por sí misma, de la elección de los medios.
Volviendo al tema del evangelio, vemos que el fin es claro: entrar al Reino de Dios por la puerta estrecha. Esto supone poner a Dios en primer lugar en nuestra vida y reordenar todo en función de esta opción fundamental. Y luego, ser fiel en las cosas pequeñas, que con el tiempo se vuelven grandes. Entonces la “riqueza injusta”, los bienes materiales, pueden incluso volverse un buen medio para alcanzar el fin si se sabe compartirlo y ser generoso con los pobres. En sentido positivo podemos decir que “Jesús quiere suscitar en nosotros con esta parábola cierta emulación, quiere decirnos: Estas personas no se dejan desanimar por las circunstancias; encuentran soluciones. Así pues, ustedes, que son discípulos míos, también deben mostrarse astutos, ingeniosos, buscar soluciones, incluso inesperadas”6.
Pero también es cierto que un peligro real sería perder de vista el verdadero fin de la vida, cosa que sucede cuando el afán de riqueza se adueña de nosotros y terminamos orientándonos hacia el dinero como a nuestro dios, haciendo del mismo nuestro sentido último de la vida. Entonces el medio se vuelve el fin de la vida.
Al respecto decía El Papa Francisco en el ángelus del 18 de setiembre de 2022: “En la historia vemos que este administrador corrupto termina con problemas porque se ha aprovechado de los bienes de su amo; ahora tendrá que rendir cuentas y perderá su trabajo. Pero él no se da por vencido, no se resigna a su destino y no se hace la víctima; al contrario, actúa en seguida con astucia, busca una solución, es ingenioso. Jesús se inspira en esta historia para lanzarnos una primera provocación: «Los hijos de este mundo —dice— son más astutos con los de su generación que los hijos de la luz» (v. 8). Sucede que, quien se mueve en las tinieblas según ciertos criterios mundanos, sabe salir adelante incluso en medio de los problemas, sabe ser más astuto que los demás; en cambio, los discípulos de Jesús, es decir, nosotros, a veces estamos dormidos, o somos ingenuos, no sabemos tomar la iniciativa para buscar salidas en las dificultades (cf. Evangelii gaudium, 24). Por ejemplo, pienso en los momentos de crisis personal, social, pero también eclesial: a veces nos dejamos vencer por el desánimo, o caemos en la queja y en el victimismo. En cambio —dice Jesús— podríamos también ser astutos según el Evangelio, estar despiertos y atentos para discernir la realidad, ser creativos para buscar soluciones buenas, para nosotros y para los demás”.
Pienso que esta enseñanza de Jesús es aplicable también a la evangelización invitándonos a ser inteligentes y creativos en la transmisión de nuestra fe. Sin duda que la Gracia de Dios es lo primero y fundamental; pero el Señor quiere valerse también de nuestro ingenio y sagacidad para llegar a los demás. Pongamos, entonces, nuestros talentos al servicio de la evangelización tal como nos lo pide, en varias oportunidades, el Documento de Aparecida: "La renovación misionera de las parroquias se impone tanto en la evangelización de las grandes ciudades como del mundo rural de nuestro continente, que nos está exigiendo imaginación y creatividad para llegar a las multitudes que anhelan el Evangelio de Jesucristo. Particularmente en el mundo urbano se plantea la creación de nuevas estructuras pastorales, puesto que muchas de ellas nacieron en otras épocas para responder a las necesidades del ámbito rural" (nº 173).
También el Papa Francisco en EG 33 invita a la audacia evangelizadora y a la creatividad pastoral que brotan del evangelio para llegar a la necesaria conversión pastoral: “La pastoral en clave de misión pretende abandonar el cómodo criterio pastoral del «siempre se ha hecho así». Invito a todos a ser audaces y creativos en esta tarea de repensar los objetivos, las estructuras, el estilo y los métodos evangelizadores de las propias comunidades. Una postulación de los fines sin una adecuada búsqueda comunitaria de los medios para alcanzarlos está condenada a convertirse en mera fantasía. Exhorto a todos a aplicar con generosidad y valentía las orientaciones de este documento, sin prohibiciones ni miedos. Lo importante es no caminar solos, contar siempre con los hermanos y especialmente con la guía de los obispos, en un sabio y realista discernimiento pastoral”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
El servidor
Señor,
Quién puede ser justo ante tu Presencia?
Encontrarás en el corazón de cada uno
El provecho sacado en el momento oportuno
La ventaja sobre otros para ganar un turno
La resistencia a perder, a renunciar al triunfo
Y verás que lo ganado aunque en ley
Siempre será para nosotros: injusto
Porque solo Tú eres Justo y así no más
Nos queda buscar en ti mismo la astucia
Para trabajar bajo la Luz y la Verdad
La filiación ganada en tu Cruz para cada uno
Ella misma ante la mirada del Padre, nos juzgará
Y tendremos vacías las manos o llenas del “dar”
Habrá escusas y lamentos, pero no se escucharán
El Novio cerrará la puerta y no la abrirá
Por eso guárdame de la ingenuidad
De los vaivenes de este mundo y su maldad
Escondido, el enemigo nos oprime
Y vamos andando dispersos en la ansiedad
El tiempo lo tienes contado y no tardarás
Es momento de rendir cuentas
Pero también de volver a empezar
Porque estás atento a nuestros ruegos
Y eres Palabra que anima y alerta
Conduces nuestro andar.
Ven Señor no tardes, ven!
Vigila y guarda nuestro peregrinar
El verdadero deseo nuestro es llegar a ti
Y allí encontrar el descanso
Por toda la eternidad. Amén.
1 En esta línea va el comentario de este evangelio en Un Dios rico en Misericordia. Orientaciones para las homilías desde el domingo XXI hasta el domingo XXVII durante el año (CEA; Buenos Aires 1998) 78. De la misma opinión es A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid, 2014) 282-284: “El dueño de las fincas solía pagar al administrador cediéndole los intereses con que se cargaba la deuda, normalmente exagerados […] les rebaja sensiblemente la deuda a base de renunciar a sus intereses…Esto explica que el amo alabe el comportamiento del administrador por la astucia que manifiesta de cara al futuro, aunque esto haya supuesto pérdidas al administrador”.
2 Es la opinión por la que optan F. Bovon, El Evangelio según San Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 103; L. Sabourin, L'Evangile de Luc, 281 y L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo 7, 177 y La obra de Lucas. I. Evangelio (Ágape; Buenos Aires 2012) 155-156: "Mediante esta parábola del administrador astuto, el Señor muestra la picardía y astucia que utiliza la gente de este mundo cuando trata de asegurarse el bienestar. El administrador injusto no es elogiado porque se comporta de manera deshonesta (16,8), sino porque actúa con astucia".
3 Los Evangelios Sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 284.
4 Pere Tena, El Leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C, 122.
5 Esta referencia y las que siguen están tomadas de A. Comte-Sponville, Pequeño tratado de las grandes virtudes (Andrés Bello; Buenos Aires 2003) 37- 43.
6 A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 288.