AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Jeremias 38,4-6.8-10
Salmo Responsorial 39(40) R- Socorrei-me, ó Senhor, vinde logo em meu auxílio!
2ª Leitura: Hebreus 12,1-4
Evangelho de Lucas 12,49-53
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 49“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso! 50Devo receber um batismo e como estou ansioso até que isso se cumpra! 51Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. 52Pois daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; 53ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. – Palavra da salvação
Lc 12,49-53
O tema central das leituras é o confronto. O anunciador da Palavra de Deus deve estar preparado a enfrentar muita oposição. Jeremias experimenta na própria pele que as pessoas não gostam de ouvir a verdade porque a verdade obriga a mudança de vida.
No coração das pessoas, no entanto, também daquelas mais pecadoras, ressoa a voz da consciência. É o caso do rei Sedecias: ele sabe que está perseguindo um inocente, um profeta enviado por Deus. É significativo que voz da consciência do rei se encarne nas palavras de um dos seus servos, um etíope (Ebed-Melec): “Ó rei, meu senhor, muito mal procederam esses homens em tudo o que fizeram contra o profeta Jeremias, lançando-o na cisterna para aí morrer de fome; não há mais pão na cidade”.
Jesus veio para trazer uma inquietude para a nossa vida, uma inquietude que queima o nosso coração. O cristianismo é fogo, desejo ardente de seguir a verdade que o Senhor nos indica, sem temor de ter que enfrentar dificuldades.
Seguir a voz da consciência significa muitas vezes ir contra a corrente, contra a tendência da maioria. Seguir a voz da consciência significa buscar o bem e a justiça do Evangelho, e isso pode até nos levar ao confronto com os mais íntimos: a família, os irmãos, os amigos. “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra! Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos”.
Seguir a voz da consciência pode significar proclamar a misericórdia e recordar que ninguém pode se erigir como juiz dos outros. O anúncio da misericórdia nem sempre é uma mensagem facilmente aceita no mundo de hoje.
O amor consiste, muitas vezes, em ser firme no meio de um ambiente hostil. Não consiste apenas em tolerar algumas coisas molestas, mas é algo mais amplo: uma resistência dinâmica e constante, capaz de superar qualquer desafio. É amor que apesar de tudo não desiste, mesmo que todo o contexto convide a outra coisa. Manifesta uma dose de heroísmo tenaz, de força contra qualquer corrente negativa, uma opção pelo bem que nada pode derrubar.
Martin Luther King reafirma a opção pelo amor fraterno, mesmo no meio das piores perseguições e humilhações:
A pessoa que mais te odeia, tem algo de bom nela; mesmo a nação que mais odeia, tem algo de bom nela; mesmo a raça que mais odeia, tem algo de bom nela. E, quando chegas ao ponto de fixar o rosto de cada ser humano e, bem no fundo dele, vês o que a religião chama a “imagem de Deus”, começas, não obstante tudo, a amá-lo. Não importa o que faça, lá vês a imagem de Deus. Há um elemento de bondade de que nunca poderás livrar-te. Outra forma de amares o teu inimigo é esta: quando surge a oportunidade de derrotares o teu inimigo, aquele é o momento em que deves decidir não o fazer. Quando te elevas ao nível do amor, da sua grande beleza e poder, a única coisa que procuras derrotar são os sistemas malignos. Às pessoas que caíram na armadilha deste sistema, ama-as tu, mas procura derrotar o sistema. Ódio por ódio só intensifica a existência do ódio e do mal no universo. Se eu te bato e tu me bates, e eu te devolvo a pancada e tu me devolves a pancada, e assim por diante…, obviamente continua-se até ao infinito; simplesmente nunca termina. Em algum ponto, alguém deve ter um pouco de bom senso, e esta é a pessoa forte. A pessoa forte é aquela que pode quebrar a cadeia do ódio, a cadeia do mal. Alguém deve ter bastante fé e moralidade para a quebrar e injetar dentro da própria estrutura do universo o elemento forte e poderoso do amor.
“Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49).
À primeira vista, o evangelho deste domingo pode provocar um certo mal-estar e nos deixar com um sabor amargo; dá a sensação de que Jesus veio para trazer fogo (um incêndio provocado) e divisão. Isto seria incoerente com seu modo de viver e sua mensagem.
Em primeiro lugar, é preciso nos conectar com o evangelho do domingo anterior onde Jesus afirmava que “foi do agrado do Pai nos confiar o Reino”. Se compreendemos bem tal afirmação, que implicações e exigências têm para nós, seus(suas) seguidores(as)?
Fazer caminho com Jesus não é para as pessoas “frias” ou “mornas” em seu modo de viver. Seguimento implica calor humano, paixão, emoção...; seguir é ser fogo, reavivar o fogo interior, iluminar, dar calor...
Jesus não veio provocar um incêndio destruidor. Ele nos fala da imagem do fogo como elemento que limpa e purifica, usado tanto pelos camponeses (“limpará completamente sua eira; recolherá seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” – Mt 3,12), como por aquele que busca purificar o ouro, “que é provado no fogo” (1 Pd 1,7). Em qualquer caso, a imagem do fogo era muito eloquente para os primeiros cristãos, também provados no fogo da perseguição, que deixava a descoberto a pureza e solidez de sua fé.
João Batista também fala de Jesus como aquele que “batizará com Espírito Santo e fogo” (Mt 3,11). E esta promessa se cumpre em Pentecostes: “Apareceram línguas como de fogo... Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2,3). Também os discípulos de Emaús sentiram arder seus corações quando escutavam as palavras do Ressuscitado, que caminhava junto deles.
S. Teresa de Jesus entendeu isso bem quando fala da “alma” como uma mariposa que se aproxima do Fogo, até ficar transformada, ela mesma, em fogo.
A imagem do “fogo” nos desafia a nos aproximar da pessoa de Jesus e viver o seguimento de maneira mais ardente e apaixonada. Pois seguir Jesus não é questão de razão, mas de afeto, de atração, de sedução...
O fogo que ardia no interior de Jesus era a paixão pelo Reinado do Pai e a compaixão pelos que sofriam. Jamais poderá ser desvelado esse amor insondável que o animava e o fazia arder em seu compromisso com a vida. O mistério de sua vida nunca poderá ficar contido em fórmulas dogmáticas nem em livros de sábios teólogos. Jesus atraia e queimava, perturbava e purificava. Ninguém podia segui-lo com o coração apagado ou com uma piedade estéril.
Sua palavra, sua liberdade, seu estilo de vida... fez arder os corações de todos aqueles que dele se aproximaram: revelou sua presença amistosa junto aos mais excluídos, despertou a esperança e a confiança nos pecadores mais desprezados, lutou contra tudo aquilo que violentava o ser humano, combateu os formalismos religiosos, os rigorismos desumanos e as interpretações estreitas da lei. Nada e nem ninguém podia bloquear sua liberdade e impedi-lo de fazer o bem.
Nunca poderemos segui-lo vivendo na rotina das práticas religiosas ou no convencionalismo do “politicamente correto”. Nenhuma religião nos protegerá de seu olhar provocante. Nenhuma doutrina nos livrará de seu desafio. Jesus está nos chamando a viver na verdade e amar sem reservas. Isso queima!
A maneira livre de Jesus viver, junto com a fidelidade à missão confiada pelo Pai, fez com que sua vida se tornasse questionadora, e inclusive provocativa, para aqueles que se encontravam instalados em posições de poder e que não estavam dispostos a modificar. Por este motivo, a atitude e o comportamento de Jesus sempre foi fonte de tensão, conflito ou divisão. E assim deve ser entendida toda sua vida.
Jesus, com o seu modo original de ser e viver, acendia os conflitos, não os apagava. Não veio trazer falsa tranquilidade, mas tensões, enfrentamentos e divisões. Na realidade, Ele introduziu o conflito no próprio coração do ser humano. E isso comprometia inclusive a vida e a unidade das famílias. Até ali chegou a radicalidade da mensagem de Jesus, pois Ele mesmo foi incompreendido pelos seus próprios familiares, foi desprezado, traído e crucificado pelo seu povo.
Há um traço na personalidade de Jesus que os Evangelhos destacam: Ele era um “transgressor”.
Sua transgressão decorria da percepção de situações extremamente injustas vigentes na sociedade e das quais as primeiras vítimas eram os excluídos. Jesus optou por ficar do lado das vítimas.
Jesus se tornou um sinal de contradição porque permaneceu absolutamente fiel a uma mensagem, a um modo de agir e a uma missão que havia recebido do Pai e que devia realizar com critérios e opções coerentes com o conteúdo do seu Evangelho.
Jesus não buscou o conflito (já que trazia uma mensagem de amor e fraternidade) mas conheceu uma das experiências conflitivas mais dramáticas da história humana.
Falar em conflito na missão de Jesus é o mesmo que falar da sua fidelidade.
O que tem valor em sua vida é seu Amor fiel, e não os conflitos em si mesmos. A dimensão conflitiva da fidelidade de Jesus é o resultado do confronto entre sua missão (que anuncia a justiça do Reino e as bem-aventuranças) e a realidade que não quer ouvir e rejeita a novidade do Reino.
A conflituosidade na vida de Jesus proveio do choque entre as exigências do Amor e a realidade injusta e pecadora. Jesus não cria conflitos; Ele os constata ao dar testemunho das exigências do Amor.
Evidentemente, as palavras e a vida de Jesus nos mostram que Ele foi portador de paz, mas não uma paz sem conflito. Muitas vezes, Ele nos recorda que trabalhar pelo Reino é um processo transformador que exige passar pela porta estreita, deixar-nos refazer até nascer de novo; neste caso, a paz não é comodidade, não é deixar as coisas como estão, mas viver um processo de transformação profunda, que costuma incluir despojamento e sofrimento.
O conflito também perpassa nossa vida pessoal, familiar e comunitária; não é acidente de percurso, é permanente: conflitos no interior da Igreja, no interior das comunidades; conflitos de origem social, cultural e político; conflitos gerados pela missão entre os pobres e pela defesa de seus direitos; conflitos de consciência, de lealdade; conflitos que se originam da missão profética da Igreja...
Mas, o que move a pessoa sábia não é o conflito por si mesmo, e sim o “fogo” interior que a habita. Um fogo que a torna firme e flexível ao mesmo tempo, respeitosa e apaixonada, amorosa e sagaz.
Esse “fogo” não é outra coisa que a expressão da Vida em nós. Se não lhe prestamos atenção e vivemos à margem dele, fica como apagado e morto. Nossa existência permanecerá marcada pela resignação e pelo conformismo. Quando, pelo contrário, mantemos a conexão consciente com a Vida que somos, o fogo se desperta até consumir-nos por completo. A partir daí, já não vive o eu, mas a Vida mesma em nós.
Para meditar na oração:
No contexto atual, a vivência cristã parece esvaziar-se, mas o fogo trazido por Jesus ao mundo continua ardendo debaixo das cinzas. Não podemos deixar que se apague. Sem fogo no coração não é possível segui-lo.
Assumir a causa de Jesus gera conflitos; mas o conflito é um “ensaio da esperança”, uma certeza de que o Espírito renova todas as coisas sobre a face da terra. O conflito é certeza da “novidade” que vem; por isso exige um discernimento permanente.
- Como crescer e amadurecer no conflito? Como viver o Evangelho no conflito? Como ser fiel à missão em meio aos conflitos?
Num estilo claramente profético, Jesus resume toda sua vida com umas palavras insólitas: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso!”. De que está a falar Jesus? O caráter enigmático da sua linguagem leva os exegetas a procurar a resposta em diferentes direções. De qualquer caso, a imagem do “fogo” convida-nos a nos aproximarmos do Seu mistério de forma mais ardente e apaixonada.
O fogo que arde no seu interior é a paixão por Deus e a compaixão pelos que sofrem. Jamais poderá ser revelado esse amor insondável que anima toda sua vida. Seu mistério nunca ficará encerrado em fórmulas dogmáticas nem em livros de sábios. Ninguém escreverá um livro definitivo sobre ele. Jesus atrai e queima, perturba e purifica. Ninguém poderá segui-lo com o coração apagado ou com piedade entediada.
Sua palavra faz arder os corações. Oferece-se amistosamente aos mais excluídos, desperta a esperança nas prostitutas e confia nos pecadores mais desprezados, luta contra tudo o que faz mal ao ser humano. Combate os formalismos religiosos, os rigores desumanos e as interpretações estreitas da lei. Nada nem ninguém podem acorrentar a sua liberdade para fazer o bem. Nunca poderemos segui-Lo, vivendo na rotina religiosa ou no convencionalismo “do correto”.
Jesus inflama conflitos, não os apaga. Não veio trazer falsa tranquilidade, mas tensões, confrontos e divisões. Na verdade, introduz o conflito no nosso próprio coração. Não podemos defender-nos da sua chamada por detrás do escudo dos ritos religiosos ou das práticas sociais. Nenhuma religião nos protegerá do seu olhar. Nenhum agnosticismo nos libertará de seu desafio. Jesus está a chamar-nos para viver em verdade e amar sem egoísmo.
Seu fogo não se extinguiu após mergulhar nas águas profundas da morte. Ressuscitado para uma vida nova, seu Espírito continua a arder ao longo da história. Os discípulos de Emaús sentem arder nos seus corações quando ouvem suas palavras enquanto caminham junto a eles.
Onde é possível sentir hoje esse fogo de Jesus? Onde podemos experimentar a força de sua liberdade criadora? Quando ardem os nossos corações ao acolher seu evangelho? Onde se vive de forma apaixonada seguindo seus passos? Embora a fé cristã parecesse extinguir-se hoje entre nós, o fogo trazido por Jesus ao mundo continua a arder sob as cinzas. Não podemos deixar que se apague. Sem fogo no coração, não é possível seguir Jesus.
padre da Diocese de Joliette, Canadá
Tradução André Langer.
Algumas formas de divisão são intoleráveis. Mas algumas pazes também, quando se trata de um silêncio cúmplice que evita decisões dolorosas que se impõem. O verbo latino que deu origem à nossa palavra decisão, significa cortar, dividir. Jesus não traz a paz no sentido de que a sua palavra, se nós a ouvimos verdadeiramente, nos obriga a decidir, a cortar a favor ou contra o que ela exige de nós.
Referências bíblicas:
Primeira leitura: Jr 38,4-6.8-10
Segunda leitura: Hb 12,1-4
Evangelho: Lc 12,49-53
Hoje, mais uma vez, somos convidados a seguir Cristo, como discípulos, mensageiros, portadores e portadoras da sua Palavra. Desde o 13º domingo, nós nos encontramos no caminho para Jerusalém, e, a cada semana, o Evangelho de Lucas nos ensina o que quer dizer seguir Cristo. Nas últimas semanas, aprendemos que para seguir Cristo é preciso estar livre, desfazer-se de tudo o que nos impede de prosseguir no caminho da vida, de olhar para frente, que a missão não nos pertence; estamos a serviço da missão, que é preciso nos tornar próximos dos outros, sem nenhuma discriminação, que em nossas celebrações a Palavra é primeira, que a oração nos torna responsáveis pelo que dizemos e pedimos, que devemos ser ricos de coração e não em celeiros, e que somos servos responsáveis. Essas são as exigências para sermos cristãos, e ainda não acabou... Hoje, as exigências nos levam ainda mais longe...
1. O fogo
“Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). O que isto quer dizer? Eu li comentários de exegetas que veem nesse fogo uma espécie de purificação, uma distinção entre o bem e o mal. Pessoalmente, não concordo com esta interpretação. Prefiro a interpretação da Bíblia TOB que explica, em uma nota de rodapé, que se trata do batismo do Espírito e do fogo inaugurado no Pentecostes. Lembrem-se desse relato de Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos, em que no dia do Pentecostes, línguas de fogo descem sobre todos os presentes... E o que esse fogo provocou neles? Tornou-os capazes de sair a público e falar uma linguagem que todos podiam compreender. É, portanto, a linguagem do Amor, porque é a única linguagem que podemos compreender em todas as línguas.
E este Amor se expressa, em primeiro lugar, na Palavra com “P” maiúsculo, e se torna um gesto, uma ação, na sequência. Não existe o ditado que diz que é preciso dar mãos à Palavra? Todo o Evangelho fala do Amor: um Amor incondicional e total da parte de um Deus que é reconhecido através do homem e da mulher e que se serviu de Jesus de Nazaré, que se tornou o Cristo e Senhor Ressuscitado. Recordemos as mensagens relatadas pelos evangelistas e que provêm do Cristo ressuscitado: a acolhida do outro, sobretudo dos mais fracos, o perdão em toda a sua gratuidade, a partilha com os mais pobres, trabalhar por mais justiça, mais igualdade, mais dignidade... Como discípulos, temos que espalhar esse Amor, esse fogo, e nós somos capazes disso, porque somos habitados pelo Espírito de Cristo desde o Pentecostes, e diria mesmo que desde a noite da Páscoa e mesmo desde a cruz da Sexta-feira Santa.
A própria Palavra é um fogo! Recordemo-nos do profeta Jeremias, não no trecho de hoje, mas no capítulo 20, versículos 7 a 9, onde Jeremias diz, em relação à Palavra que devia proclamar: “Quando eu pensava: ‘Não me lembrarei dele, já não falarei em seu Nome’, então isto era em meu coração como um fogo devorador... Estou cansado de suportar, não posso mais!”. Isso era mais forte que ele, o profeta devia proclamar a Palavra imperiosamente.
2. O batismo
“Devo receber um batismo, e como me angustio até que esteja consumado!” (Lc 12,50). O que também isso quer dizer? De que batismo o Jesus de Lucas , que é o Cristo da Páscoa, está falando? Do batismo que é um mergulho, mergulho na morte, não para ficar aí, mas para ressuscitar. É o mistério pascal que é evocado por Lucas, num momento da história em que as perseguições aos cristãos são moeda corrente.
É evidente que isso faz referência à morte e ressurreição de Jesus, porque é o mesmo sentido do batismo cristão. Não é apenas um batismo na água que purifica, mas também um batismo que é um mergulho na morte de Cristo para ressuscitar com ele. É esse batismo que nós recebemos como cristãos e é por esse batismo que nós devemos viver como discípulos de Cristo, como ressuscitados, como Cristos da Páscoa. Quer sejamos homens ou mulheres, brancos, amarelos ou negros, heterossexuais ou homossexuais ou transgêneros, pequenos ou grandes, somos todos e todas chamados a viver como Cristo, porque fomos mergulhados em sua morte e ressurreição com ele. São Paulo, na carta aos Gálatas, diz: “Pois todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,27-28).
E esse batismo dá todo o sentido ao resto do Evangelho de hoje.
3. A divisão e a decisão
“Pensais que vim para estabelecer a paz sobre a terra? Não, eu vos digo, mas a divisão” (Lc 12,51). Eu li um exegeta que dizia que esta Palavra o chocava muito. Como pode Jesus, que nos fala de paz e de amor, ao mesmo tempo dizer que veio semear a cizânia em nosso mundo? Mas não é isto que esta Palavra quer dizer. Gérard Sindt escreve: “Algumas formas de divisão são intoleráveis. Mas algumas pazes também, quando se trata de um silêncio cúmplice que evita decisões dolorosas que se impõem. O verbo latino que deu origem à nossa palavra decisão, significa cortar, dividir. Jesus não traz a paz no sentido de que a sua palavra, se nós a ouvimos verdadeiramente, nos obriga a decidir, a cortar a favor ou contra o que ela exige de nós”.
Na época em que Lucas escreve o seu evangelho, a decisão de ser cristão, de seguir Cristo, semeava a divisão, a controvérsia, a perseguição, inclusive nas famílias. Mais ainda hoje, na nossa Igreja, não há divisão no seio mesmo daqueles que dizem seguir Cristo? Há, certamente, divisões que persistem entre cristãos de diferentes denominações, mas esse não é meu objetivo; eu falo das divisões dentro da nossa Igreja católica romana. Há mais que diversidade; há ruptura entre a hierarquia e os fiéis. O que fazer para decidir e para cortar? Impor os dogmas contra vento e maré? Excluir todos aqueles e todas aquelas que não pensam como as autoridades romanas? Aplicar as regras com o rigor exigido?
É desta maneira que se agia antes da chegada do novo Papa, o Papa Francisco, e vemos no que isso dá: uma Igreja que se esvazia cada vez mais, uma Igreja a ponto de morrer, uma Igreja em fase terminal. Isso ocorreu por que não se tomou as decisões corretas? O que fazer então? Talvez retomando os evangelhos e aprendendo as mensagens de Cristo que os evangelhos nos ensinam, possamos reencontrar um sopro novo, uma lufada de ar fresco, uma brisa de esperança. É o que o Papa Francisco está fazendo: uma grande limpeza não apenas na Cúria romana, mas também na própria estrutura da nossa Igreja. Pela primeira vez, ele nos fala de pastoral. Ele não recorda a todo momento a doutrina; essa nós conhecemos... Ele nos diz como fazer pastoral, ali onde estamos com os dois pés. Pessoalmente, isso me faz muito bem, e não estou sozinho. Eu ouvi muitas pessoas que se afastaram da Igreja há um bom tempo e que me disseram que esse Papa os interpela profundamente. Faz bem ouvir isso.
Recordemos que nesse domingo em que se celebra o Orgulho Gay, não é normal, nem evangélico que se exclua esta parcela da população, simplesmente porque eles têm uma orientação sexual diferente da maioria, mas uma orientação que eles não escolheram e que eles procuram assumir da melhor maneira possível, sempre guardando a fé e a esperança cristã. “Quem sou eu para julgar os homossexuais?”, disse o Papa Francisco, no avião que o levava de volta para Roma após a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. É evidente que os homossexuais, assim como os heterossexuais não são perfeitos... Mas uns e outros são convidados a amar na fidelidade e no respeito da dignidade de uns e outros. O que está acontecendo na Rússia e em muitos países, e mesmo aqui em Quebec e no Canadá, onde se dá provas de discriminação, violência, desprezo e exclusão em relação aos homossexuais, é inaceitável e isso deve ser denunciado por toda a população, inclusive pelos cristãos. Temos de dizer não à homofobia. Para mim é uma decisão que vai semear a divisão, escusado será dizer, mas é uma decisão que o evangelho me inspira. Será também uma prova de fidelidade aos ensinamentos de Jesus.
Uma proposta diferente
A liturgia oferece-nos estas palavras de Jesus do Evangelho de Lucas. No início do texto, Jesus fala de um grande desejo que ainda não está cumprido: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso”!
De que fogo está falando?
Assim como acontece em outras passagens, Jesus fala por meio de expressões enigmáticas! Podemos pensar que não se refere a um fogo destruidor como o que foi anunciado por João Batista, ou a algum outro tipo de fogo que aparece no Antigo Testamento.
No AT, o fogo representa diferentes realidades. Por exemplo, o fogo expressa a revelação de Deus como acontece na sarça ardente para Moisés (Ex 3,2), ou quando desce ao monte Sinai entre relâmpagos e chamas e também há um fogo que, muitas vezes, representa a ira de Deus contra seu povo infiel ou um fogo que destrói os inimigos como no profeta Amós (1,4.6.7.12), ou como aparece em muitos outros livros.
Mas, possivelmente, Jesus está falando de um fogo diferente. Um fogo que seja purificador e que ofereça uma renovação pessoal e comunitária.
Há calor, luz, vida na medida em que outros elementos são queimados e transformados. Somente dessa forma aparece uma nova realidade.
Jesus continua falando de um batismo, que ele sabe que vai acontecer na sua vida e anseia que se realize: “Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra”.
O batismo é ser submergido nas águas, símbolo de morrer a um tipo de vida, seus costumes e seus desejos de renascer a uma vida nova, diferente. Nela depositamos nossa confiança em Deus, nosso Pai, que nos cuida e nos ama como filhos e filhas únicos/as.
Para ter uma vida nova onde reine a paz, o amor, a liberdade, é indispensável morrer. Como disse Jesus aos discípulos: ”Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna” (Jo 12, 24-25).
Por isso, esta vida nova acontece só na medida em que há um desprendimento, uma renúncia aos costumes e práticas que não levam a nada. Morrer a um modo de vida! Unicamente assim é possível dar espaço a uma vida nova.
Lembremos que Jesus caminha para Jerusalém onde será condenado e morto.
E nesta passagem manifesta seus desejos, sua missão, e os sentimentos que o acompanham. Expressa a missão que ele veio realizar junto com o desejo de ser batizado e a angústia até que isso seja cumprido.
Será que o “fogo” aceso, depois de passar pelo batismo da morte, ninguém conseguirá apagá-lo?
Como disse Paulo na carta aos Romanos: “Sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. Cristo morreu de uma vez por todas para o pecado; vivendo, ele vive para Deus” (Rom 6, 9-10).
Neste domingo, Jesus nos convida a nos aproximarmos do seu calor e assim perceber seus desejos para deixar-nos transformar até ansiar um batismo similar ao seu.
Mas, para isso é fundamental abrir nossa vida, desejos, debilidades e fragilidades, assim como também daquilo que nos temos aferrado, para colocá-lo nas suas mãos, nos desapegando de tudo.
Nestas últimas semanas, recebemos continuamente notícias dos indígenas que ficam sem terra, despossuídos do seu único bem. Inumeráveis pessoas que morrem afogadas quando tentam atravessar o mar, porque fogem de suas terras à procura de uma possibilidade de vida.
Todas estas pessoas devem desprender-se daquilo que tinham e procurar uma vida nova. Nós, como cristãos não podemos ficar indiferentes e continuar aferrados ao nosso bem-estar ou comodidade.
Como escreve Paulo aos Filipenses, hoje somos convocados a "Conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos".
E continua: "Não que eu já tenha conquistado o prêmio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo." (Flp 3, 10-12)
Junto com a Igreja dispersa pelo mundo rezemos juntos esta oração.
Oração
Batiza-me Jesus
Batiza-me Jesus
com o sol e a brisa
de tua graça cotidiana,
discreta criação
escorrendo por minha fronte
Submerge meu corpo
na bondade do povo
que corre pelo leito
de seus caminhos fundos,
abertos com seus pés
de trabalho e encontro.
Veste-me de branco
ao emergir das águas
respiração contida,
e acolhe-me em teu peito
com o abraço comunitário
de mil braços abertos.
Unge-me a fronte
com tua cruz de sofrimento,
e unge-me o peito
com a dor do povo.
Carregarei até o calvário
a cruz de teu mistério.
Gonzalez Buelta, Benjamin
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
(Para conferir, veja o original em espanhol logo após a tradução em português feita pelo Tradutor Google sem nossa correção)
XX DOMINGO DO ANO – CICLO “C” - versão 2025
1ª Leitura (Jr 38,4-6.8-10):
Para compreender este fragmento da profecia de Jeremias, devemos lembrar que Jerusalém estava sob iminente ameaça de ser conquistada pelos babilônios. O rei Zedequias defendia a resistência, aguardando a ajuda do Egito. Jeremias, por outro lado, clamava pela rendição para salvar a cidade da destruição total. Este sermão do profeta irritou as autoridades, que prenderam Jeremias, alegando que suas palavras desmoralizaram os soldados. Não satisfeitos com isso, quiseram matá-lo, como lemos no texto deste domingo. Por isso, jogaram-no numa cisterna para morrer ali. Mais tarde, um servo do rei interveio e intercedeu por sua libertação.
Este texto nos apresenta a perseguição real e concreta que Jeremias sofreu por sua fidelidade na proclamação da Palavra de Deus . Ele não buscou bajular seus ouvintes com palavras que sabia que seriam bem recebidas; ao contrário, foi fiel à Palavra que recebera de Deus. E sofreu as consequências: rejeição, prisão e até tentativa de homicídio. Com exceção de alguns momentos, a maior parte da vida de Jeremias foi vivida como sinal de contradição .
Suas dolorosas "confissões" sobreviveram, nas quais ele abre a alma e nos conta a dor que sente pela rejeição de seu próprio povo e até mesmo de sua própria família. Alguns estudiosos, como L. Alonso Schökel, acreditam que, quando Jeremias estava afundando na lama no fundo do poço, ele pode muito bem ter proferido a última de suas confissões (Jr 20:7-14), uma oração de queixa e súplica, e, ao ser libertado, acrescentou os três últimos versos como agradecimento a Deus.
A atualidade de Jeremias é evidente, como nos recorda o Cardeal Martini: «Jeremias é uma figura moderna porque é o profeta da solidão apostólica, um profeta que fala numa sociedade que não escuta, uma sociedade como a nossa» 1 .
Evangelho (Lc 12, 49-53):
"Eu vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Tenho um batismo para ser batizado, e estou angustiado até que ele se cumpra!" (Lucas 12:49-50). Jesus está claramente ciente de ser enviado pelo Pai, de ter uma missão a cumprir ("Eu vim"). Ele descreve essa missão com as metáforas do fogo e do batismo . A imagem do fogo é a mais complexa, e as interpretações são muito variadas, todas com fundamento bíblico. A escolha é difícil, mas necessária para interpretar corretamente a missão de Jesus. A maioria das referências do Antigo Testamento insiste no fogo como imagem do julgamento de Deus, seja como punição ou purificação. Por sua vez, em Lucas, o fogo aparece ligado ao batismo para descrever a missão de Jesus por meio de João Batista: "Eu os batizo com água, mas vem alguém mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de desatar a correia das sandálias; ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Lucas 3:16). Aqui, a conexão do fogo com o Espírito Santo refere-se ao Pentecostes (Atos 2:3-4), onde o Espírito se manifesta como línguas de fogo. No entanto, isso não exclui o elemento de julgamento, como aparece em 3:17. As outras duas referências ao fogo são claramente de julgamento: Lucas 9:54: "Quando os seus discípulos Tiago e João viram isso, perguntaram-lhe: 'Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu e os consumir?'"; e Lucas 17:29: "No dia em que Ló saiu de Sodoma, caiu do céu uma chuva de fogo e enxofre, e os matou a todos."
F. Bovon 2 , embora mantendo a referência ao julgamento como válida, pensa que se trata do fogo da Boa Nova e do Espírito Santo. L. Rivas pensa de forma semelhante, para quem "as duas frases sobre o fogo e sobre o batismo significam a mesma coisa: Jesus veio inundar o mundo com o fogo do Espírito Santo, e está cheio de ansiedade aguardando o momento em que isso será plenamente realizado" 3 . L. Sabourin 4 , por outro lado, entende que a missão de Jesus é acender um fogo para que ele queime com a dupla função de julgamento e iluminação . C. Evans 5 considera que os dois aspectos, o do fogo como julgamento e o do Espírito Santo, estão unidos.
A. Rodríguez Carmona 6 vê a dimensão purificadora do fogo como um significado metafórico e, portanto, diz que Jesus "veio para purificar e deseja ardentemente que tudo seja purificado". Creio que o que se segue do texto nos guiará na escolha de uma resposta.
A missão de Jesus também é apresentada como "um batismo com o qual eu devo ser batizado" (12:50 βάπτισμα δὲ ἔχω βαπτισθῆναι). Aqui, refere-se ao fato de que ele próprio deve ser imerso (sentido etimológico do grego "batizar": βαπτίζω), enquanto em Lc 3:16 Jesus se apresenta como aquele que vem para "imergir" os homens no Espírito e no fogo. Esse "derramamento do Espírito" é realizado por Jesus para todos os homens após sua morte, ressurreição e ascensão, pois, tendo sido glorificado com o Pai, ele derrama o Espírito sobre todos no dia de Pentecostes (cf. At 2:32-36). Ora, a glorificação de Jesus por Deus constitui um julgamento divino que confirma sua missão. Por isso, Jesus anseia ardentemente por sua paixão e glorificação, pois somente então poderá derramar o Espírito sobre os homens. Mas já no presente, as palavras e ações de Jesus entre os homens antecipam o juízo de Deus, uma vez que os colocam em posição de escolher . Diante dessa manifestação definitiva de Deus em Cristo, não pode haver indiferença nem tibieza. Devemos escolher por Ele ou contra Ele. O velho Simeão já havia dito isso a Maria quando ela levou Jesus ao Templo: "Este menino fará muitos em Israel tropeçar e se levantar. Ele será um sinal de contradição, e uma espada traspassará o seu coração. E os pensamentos de muitos serão revelados" (Lucas 2:34-35).
Jesus então faz uma observação que nunca deixa de nos surpreender: “Vocês pensam que eu vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo, eu vim trazer divisão.” Essa observação contradiz muitas outras no Evangelho, onde Jesus afirma que sua missão é trazer a paz de Deus à humanidade. Desde o cântico dos anjos antes do seu nascimento (Lucas 2:14), à missão dada aos apóstolos (10:5-6), até sua aparição a eles após a ressurreição (Lucas 24:36).
À luz do Antigo Testamento, a contradição se revela apenas como aparente, visto que a distinção entre paz verdadeira e falsa é um lugar-comum entre os profetas. Vejamos apenas um exemplo entre muitos possíveis: "Pois eles ( os falsos profetas ) enganaram o meu povo, anunciando: 'Paz!', quando na realidade não havia paz; e, enquanto o meu povo construía para si um muro frágil, eles o cobriram com cal" (Ez 13:10).
Ou seja, nem toda paz é a paz de Deus . Jesus não veio proclamar uma falsa paz, baseada no engano e no desejo de agradar a todos. Ele veio proclamar a Verdade sobre Deus e sobre a humanidade, o que exige uma escolha que envolve muitas lutas e sofrimentos, mas que nos permite alcançar a verdadeira paz .
Em suma: "A paz autêntica surgirá após o julgamento (fogo). Paradoxalmente, trabalha-se pela paz (autêntica) enquanto se luta contra os critérios do mal. Não é a paz de Jesus que nos faz viver em paz com um mundo pecador" 7 .
O texto de hoje nos fala sobre as divisões que ocorrerão dentro de uma única família por causa de Jesus. Não se trata de Jesus instigar a divisão ou a dissolução de famílias; em vez disso, ele pede que a escolha por ele seja tão radical que priorize até mesmo os laços familiares; portanto, como consequência dessa escolha, eles podem até se separar. Esta é uma consequência não intencional e indesejada, mas às vezes inevitável. Este seria o significado do fogo como julgamento, pois traz à tona a escolha de cada um diante de Jesus .
ALGUMAS REFLEXÕES:
Nos dois domingos anteriores, os Evangelhos se referiam ao julgamento de Deus no fim da vida de cada pessoa. Como diz o Catecismo nº 682: " Cristo glorioso, vindo no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos, revelará a disposição secreta dos corações e recompensará cada um segundo as suas obras e segundo a sua aceitação ou rejeição da graça", com clara referência a Lucas 12:1-
3. Ora, o Catecismo 1041 também nos diz: “A mensagem do Juízo Final exige a conversão, enquanto Deus ainda dá aos homens ‘o tempo aceitável, o tempo da salvação’ (2 Cor 6,2)”. Em certo sentido, como nos diz João 3,17-21 e o Evangelho de hoje sugere, o juízo de Deus já está em ação entre os homens; já começou porque Jesus o tornou presente através da proclamação do Evangelho e da sua Paixão-Morte-Ressurreição; que nos convida a decidir e a comprometer-nos agora, agora mesmo. E juízo significa separação, seleção, divisão, separação. Portanto, Jesus anunciou e tornou presente o Reino de Deus entre os homens:
➢ Aqueles que o aceitam e creem nele serão purificados pelo fogo, receberão as primícias do Espírito Santo e o dom da verdadeira paz.
➢ Aqueles que a rejeitam correm o sério risco de viver em si mesmos, escravizados pelos seus pecados. E, para silenciar as exigências da sua consciência, procurarão convencer-se de que está tudo bem, que tudo é relativo, que não é grande coisa, que não há necessidade de exageros. Esta é a falsa paz pregada pelos falsos profetas. Mas, mais cedo ou mais tarde, a verdade continuará a incomodar-nos. Isso pode gerar um mecanismo de defesa chamado "projeção", que "constitui uma forma muito primitiva de se libertar da própria culpa, transferindo-a para os outros". 8 Assim, essas pessoas podem tornar-se muito críticas e intolerantes com os outros, especialmente com aqueles que levam o Evangelho a sério e se esforçam para ser bons cristãos. Surgem então divisões dentro da comunidade. Eis como HU von Balthasar o explica : “O fogo que, segundo o Evangelho, Jesus veio acender no mundo é o fogo do amor divino que deve alcançar todos os homens. Da cruz, do seu terrível batismo, ele começará a arder. Mas nem todos se deixarão inflamar pela exigência absoluta e incondicional deste fogo, de modo que esse amor, que levaria e poderia levar os homens à unidade, os divide por causa da sua resistência.”
Jesus levou sua missão muito a sério e, portanto, desejou ardentemente cumpri-la, mesmo que isso significasse passar pela cruz. Seguir Jesus neste caminho exige uma atitude de conversão sustentada, como a entende J. Ratzinger: "Conversão significa aceitar os sofrimentos da verdade. A conversão exige que a verdade, a fé e o amor se tornem mais importantes do que a nossa vida biológica, do que o bem-estar, o sucesso, o prestígio e a tranquilidade da nossa existência; e isso não apenas de forma abstrata, mas na nossa realidade cotidiana e nas coisas mais insignificantes . " 10
Portanto, é bom que a Palavra de Deus nos "queime" um pouco, nos perturbe e nos desafie. Como discípulos de Jesus, devemos aprender a não brincar com a missão, a ser fiéis e criativos com a Palavra que nos foi confiada; a vencer a tentação de diluir o Evangelho para ganhar aceitação. A este respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 14 de agosto de 2022 que Jesus: “está nos dizendo que o Evangelho é como um fogo, porque é uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios da vida, nos desafia a deixar o individualismo para trás, nos desafia a superar o egoísmo, nos desafia a passar da escravidão do pecado e da morte para a vida nova do Ressuscitado, de Jesus Ressuscitado. Em outras palavras, o Evangelho não deixa as coisas como estão; quando o Evangelho passa e é ouvido e acolhido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho incita à mudança e convida à conversão. Não concede uma falsa paz íntima, mas acende uma inquietação que nos põe a caminho, nos impele a nos abrir a Deus e aos irmãos. É exatamente como o fogo: enquanto nos aquece com o amor de Deus, quer queimar o nosso egoísmo, iluminar os lados obscuros da vida ―todos nós os temos, hein!―, consumir os falsos ídolos que escravizam-nos […] Então, podemos perguntar-nos: Sou apaixonado pelo Evangelho? Leio o Evangelho com frequência? Levo-o comigo? A fé que professo e celebro coloca-me numa feliz tranquilidade ou acende em mim o fogo do testemunho? Podemos também perguntar-nos como Igreja: nas nossas comunidades, arde o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou deixamo-nos arrastar pelo cansaço e pelos costumes, com o rosto apagado, o lamento nos lábios e as fofocas de cada dia? Irmãos e irmãs, examinemos isto, para que também nós possamos dizer como Jesus: Somos inflamados pelo fogo do amor de Deus e queremos "lançá-lo" ao mundo, levá-lo a todos, para que cada um descubra a ternura do Pai e experimente a alegria de Jesus, que dilata o coração — e Jesus dilata o coração! — e torna a vida bela.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Faça tudo por mim
Só Tu Senhor és a força
Você tem o poder
E não podemos fazer nada sem você.
Você é o fogo para o calor do nosso frio
Água para a sede das almas
Venha! Envie sua ajuda rapidamente.
Esta peregrinação às vezes
É uma luta difícil para nós
E a cruz nos pesa
As curvas para trás
Nossas pernas cedem e caímos.
É caro levantar-se
Mas se você fizer do seu desejo o nosso
e você ilumina nosso espírito
a força dos teus sacramentos
A divisão será o desafio para a ação
para carregar seus mistérios
com toda a nossa paixão
Nós nos lembraremos do seu, do seu tempo
E a tua promessa se cumpriu no terceiro dia,
Quando a ressurreição
Ele selou a reconciliação com o Pai
A Aliança de Amor
Isso salvaria o mundo. Amém.
1 CM Martini, Uma voz profética na cidade (PPC; Madrid 1995) 123.
2 Evangelho segundo São Lucas II , 428.
3 Jesus fala ao seu povo. Domingos ao longo do ano. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 136. 4 L' Évangile de Luc (PUG; Roma 1992) 255.
5 São Lucas (NTC; Londres 1990) 539.
6 Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 250.
7 Sociedade Argentina de Teologia (ed.), Religião, Justiça e Paz (San Benito; Buenos Aires 2003) 67.
8 A. Cencini, Vivendo Reconciliados (Paulinas; Buenos Aires 1997) 23.
9 A Luz da Palavra. Comentário às Leituras Dominicais (Encuentro, Madri, 1998) 277. 10 J. Ratzinger, Caminho Pascal , BAC, Madri 1990, 25-28.
DOMINGO XX DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Jer 38,4-6.8-10):
Para entender este fragmento de la profecía de Jeremías hay que recordar que Jerusalén se encontraba bajo la inminente amenaza de ser conquistada por los babilonios. El rey Sedecías estaba a favor de la resistencia, a la espera de la ayuda de Egipto. En cambio, Jeremías invitaba a la rendición para salvar la ciudad de su destrucción total. Esta prédica del profeta molestó a las autoridades, quienes lo ponen a Jeremías bajo custodia aludiendo que sus palabras desmoralizaban a los soldados. No contentos con esto, quieren matarlo, como leemos en el texto de este domingo. Por ello lo arrojan en una cisterna para que muera allí. Después interviene un servidor del rey quien intercede para que lo liberen.
Este texto nos presenta la persecución real y concreta que sufre Jeremías por su fidelidad en el anuncio de la Palabra de Dios. No buscó alagar los oídos de sus oyentes con palabras que sabía que caerían bien; sino que fue fiel a la Palabra recibida de parte de Dios. Y sufrió las consecuencias: el rechazo, la prisión y hasta la tentativa de asesinato. Salvo algunos momentos, la mayor parte de la vida de Jeremías transcurrió siendo un signo de contradicción.
Nos han quedado sus dolorosas "confesiones" donde abre su alma y nos cuenta el dolor que siente ante el rechazo de su propio pueblo y hasta de su propia familia. Justamente algunos estudiosos, como L. Alonso Schökel, consideran que cuando Jeremías se hundía en el barro del fondo del pozo es muy posible que haya dicho la última de sus confesiones (Jer 20,7-14), oración de queja y súplica y, al verse liberado, añadió los últimos tres versículos como agradecimiento a Dios.
La actualidad de Jeremías es patente, como nos lo recuerda el Card. Martini: "Jeremías es una figura moderna porque es el profeta de la soledad apostólica, un profeta que habla en una sociedad que no escucha, una sociedad como la nuestra"1.
Evangelio (Lc 12, 49-53):
"Yo he venido a traer fuego sobre la tierra, ¡y cómo desearía que ya estuviera ardiendo! Tengo que recibir un bautismo, ¡y qué angustia siento hasta que esto se cumpla plenamente!" (Lc 12,49-50). Jesús tiene clara conciencia de ser enviado por el Padre, de tener una misión que cumplir ("Yo he venido"). Esta misión la describe con las metáforas del fuego y del bautismo. La imagen del fuego es la más complicada y las interpretaciones son muy variadas y todas con fundamento bíblico. La opción es difícil pero necesaria para interpretar correctamente la misión de Jesús. En su mayoría las referencias del Antiguo Testamento insisten en el fuego como imagen del juicio de Dios, sea como castigo, sea como purificación. Por su parte en Lucas el fuego aparece unido al bautismo para describir la misión de Jesús en boca de Juan el Bautista: "Yo los bautizo con agua, pero viene uno que es más poderoso que yo, y yo ni siquiera soy digno de desatar la correa de sus sandalias; él los bautizará en el Espíritu Santo y en el fuego" (Lc 3,16). Aquí la vinculación del fuego al Espíritu Santo remite a Pentecostés (He 2,3-4) donde el Espíritu se manifiesta como lenguas de fuego. Sin embargo, no excluye el elemento de juicio tal como aparece en 3,17. Las otras dos referencias al fuego son claramente de juicio: Lc 9,54: «Cuando sus discípulos Santiago y Juan vieron esto, le dijeron: "Señor, ¿quieres que mandemos caer fuego del cielo para consumirlos?"»; y Lc 17,29: “Pero el día en que Lot salió de Sodoma, cayó del cielo una lluvia de fuego y de azufre que los hizo morir a todos”.
F. Bovon2, aún reteniendo cómo válida la referencia al juicio, piensa que se trata del fuego de la Buena Noticia y del Espíritu Santo. De modo semejante piensa L. Rivas para quien "las dos frases sobre el fuego y sobre el bautismo significan la misma cosa: Jesús ha venido para inundar el mundo con el fuego del Espíritu Santo, y está lleno de ansiedad esperando el momento en que esto esté plenamente cumplido"3. L. Sabourin4, por su parte, entiende que la misión de Jesús es encender un fuego para que arda con la doble función de juicio e iluminación. C. Evans5 considera que están unidos los dos aspectos, el del fuego como juicio y como Espíritu Santo.
A. Rodríguez Carmona6ve como sentido metafórico del fuego su dimensión purificadora y por ello dice que Jesús “ha venido a purificar y desea ardientemente que ya esté todo purificado”. Pienso que lo que sigue del texto nos orientará en la elección de una respuesta.
También la misión de Jesús es presentada como “un bautismo con el que tengo que ser bautizado” (12,50 βάπτισμα δὲ ἔχω βαπτισθῆναι). Aquí se refiere a que él mismo debe ser sumergido (sentido etimológico del griego bautizar: βαπτίζω) mientras que en Lc 3,16 Jesús se presenta como quien viene a "sumergir” a los hombres en el Espíritu y el fuego. Esta "efusión del Espíritu" la alcanza Jesús para todos los hombres después de su muerte, resurrección y ascensión, pues estando ya glorificado junto al Padre derrama el Espíritu sobre todos en el día de Pentecostés (cf. He 2,32-36). Ahora bien, la glorificación de Jesús por parte de Dios constituyó un juicio divino que confirmó su misión. Por tanto, Jesús anhela vivamente su pasión y glorificación porque sólo entonces estará en condiciones de derramar el Espíritu a los hombres. Pero ya en el presente la palabra y la acción de Jesús entre los hombres anticipa el juicio de Dios por cuanto los pone en situación de optar. Ante esta definitiva manifestación de Dios en Cristo no puede haber indiferencia ni tibieza. Hay que elegir por él o contra él. Ya se lo había dicho el anciano Simeón a María cuando llevó a Jesús al templo: "Este niño será causa de caída y de elevación para muchos en Israel; será signo de contradicción, y a ti misma una espada te atravesará el corazón. Así se manifestarán claramente los pensamientos íntimos de muchos" (Lc 2,34-35).
A continuación Jesús tiene una expresión que no deja de sorprendernos: “¿Piensan ustedes que he venido a traer la paz a la tierra? No, les digo que he venido a traer la división”. Este dicho contradice otros muchos del evangelio donde Jesús afirma que su misión es traer la paz de Dios a los hombres. Desde el canto de los ángeles ante su nacimiento (Lc 2,14), pasando por la misión dada a los apóstoles (10,5-6) hasta su aparición a los mismos ya resucitado (Lc 24,36).
A la luz del Antiguo Testamento la contradicción se revela sólo como aparente pues es un lugar común entre los profetas la distinción entre la verdadera y la falsa paz. Veamos sólo un ejemplo entre muchos posibles: "Porque ellos (los falsos profetas) extraviaron a mi pueblo, anunciando: "¡Paz!", cuando en realidad no había paz, y mientras mi pueblo se construía una pared inconsistente, ellos la recubrían con cal” (Ez 13,10).
Es decir, no cualquier paz es la paz de Dios. Jesús no vino a anunciar una falsa paz que se apoya en el engaño y en el deseo de quedar bien con todos. Vino para anunciar la Verdad sobre Dios y sobre el hombre, lo que exige una opción que conlleva muchas luchas y sufrimientos, pero que nos permite alcanzar la verdadera paz.
En síntesis: "La paz auténtica aparecerá después del juicio (fuego). Paradójicamente se trabaja por la paz (auténtica) estando en lucha con los criterios del mal. No es la paz de Jesús la que nos hace vivir en paz con un mundo pecador"7.
Luego el texto de hoy nos refiere las divisiones que en el seno de una misma familia se producirán a causa de Jesús. No se trata en absoluto que Jesús instigue a la división o ruptura de las familias; pero pide que la opción por él sea tan radical que anteponga incluso a los vínculos familiares; por eso como consecuencia de esta opción pueden llegar a romperse. Se trata de una consecuencia no buscada ni querida, pero a veces inevitable. Este sería el sentido del fuego como juicio en cuanto saca a la luz la opción de cada persona ante Jesús.
ALGUNAS REFLEXIONES:
En los dos domingos precedentes los evangelios hacían referencia al juicio de Dios al final de la vida de cada persona. Como dice el Catecismo n° 682: “Cristo glorioso, al venir al final de los tiempos a juzgar a vivos y muertos, revelará la disposición secreta de los corazones y retribuirá a cada hombre según sus obras y según su aceptación o su rechazo de la gracia”, con clara referencia a Lc 12,1-
3. Ahora bien, también nos dice el Catecismo n° 1041: “El mensaje del Juicio final llama a la conversión mientras Dios da a los hombres todavía "el tiempo favorable, el tiempo de salvación" (2 Co 6, 2)”. En cierto modo, como nos dice Jn 3,17-21 y nos sugiere el evangelio de hoy, el juicio de Dios ya está obrando entre los hombres, ya ha comenzado porque Jesús lo ha hecho presente mediante el anuncio del Evangelio y su pasión-muerte-resurrección; que nos invitan a decidirnos y comprometernos ahora, ya. Y juicio significa separación, selección, división, poner aparte. Por tanto, Jesús anunció e hizo presente el Reino de Dios entre los hombres:
➢ Quienes lo aceptan y creen en él serán purificados por el fuego, recibirán las primicias del Espíritu Santo y el don de la verdadera paz.
➢ Quienes lo rechazan corren el serio riesgo de vivir replegados sobre sí mismos y esclavos de sus pecados. Y para acallar los reclamos de la conciencia, buscarán autoconvencerse de que todo está bien, que todo es relativo, que no es para tanto, que no hay que exagerar. Esta es la falsa paz que predican los falsos profetas. Pero antes o después la verdad va a seguir molestando. Esto puede generar como mecanismo de defensa la "proyección", que "constituye un modo muy primitivo de liberarse de la propia culpa cargándola sobre los demás"8. Así, estas personas pueden volverse muy crítica e intolerante con los demás, en especial con los que toman en serio el evangelio y tratan de ser buenos cristianos. Surgen entonces las divisiones en la comunidad. Así lo explica H. U. von Balthasar9: “El fuego que según el evangelio Jesús ha venido a prender en el mundo, es el fuego del amor divino que debe alcanzar a todos los hombres. A partir de la cruz, su terrible bautismo, comenzará a arder. Pero no todos se dejarán inflamar por la exigencia absoluta e incondicional de este fuego, de manera que aquel amor, que querría y podría conducir a los hombres a la unidad, los divide a causa de su resistencia”.
Jesús tomó muy en serio su misión y por eso deseaba ardientemente cumplirla, aunque implique el paso por la cruz. Seguir a Jesús por este camino requiere una actitud de conversión sostenida, como la entiende J. Ratzinger: "Convertirse quiere decir: aceptar los sufrimientos de la verdad. La conversión exige que la verdad, la fe y el amor lleguen a ser más importantes que nuestra vida biológica, que el bienestar, el éxito, el prestigio y la tranquilidad de nuestra existencia; y esto no sólo de una manera abstracta, sino en nuestra realidad cotidiana y en las cosas más insignificantes"10.
Por tanto, es bueno que la Palabra de Dios nos "queme" un poco, nos inquiete y cuestione. Los discípulos de Jesús debemos aprender a no jugar con la misión, a ser fieles y creativos con la Palabra encomendada; a vencer la tentación de diluir el evangelio para tener aceptación. Al respecto el Papa Francisco en el Ángelus del 14 de agosto de 2022 decía que Jesús: “nos está diciendo que el Evangelio es como un fuego, porque es un mensaje que, cuando irrumpe en la historia, quema los viejos equilibrios de la vida, nos desafía a salir del individualismo, nos desafía a superar el egoísmo, nos desafía a pasar de la esclavitud del pecado y de la muerte a la vida nueva del Resucitado, de Jesús Resucitado. En otras palabras, el Evangelio no deja las cosas como están; cuando pasa el Evangelio, y es escuchado y acogido, las cosas no se quedan como están. El Evangelio incita al cambio e invita a la conversión. No concede una falsa paz intimista, sino que enciende una inquietud que nos pone en camino, nos impulsa a abrirnos a Dios y a los hermanos. Es exactamente como el fuego: mientras nos calienta con el amor de Dios, quiere quemar nuestros egoísmos, iluminar los lados oscuros de la vida ―¡todos los tenemos, eh!―, consumir los falsos ídolos que nos hacen esclavos […] Entonces podemos preguntarnos: ¿Soy un apasionado por el Evangelio? ¿Yo leo a menudo el Evangelio? ¿Lo llevo conmigo? La fe que profeso y celebro, ¿me sitúa en una tranquilidad feliz o enciende en mí el fuego del testimonio? También podemos preguntarnos como Iglesia: en nuestras comunidades, ¿arde el fuego del Espíritu, la pasión por la oración y la caridad, la alegría de la fe, o nos dejamos arrastrar por el cansancio y las costumbres, con el rostro apagado y el lamento en los labios y los chismes de cada día? Hermanos y hermanas, revisemos esto, para que también nosotros podamos decir como Jesús: Estamos inflamados por el fuego del amor de Dios y queremos “lanzarlo” al mundo, llevarlo a todos, para que cada uno descubra la ternura del Padre y experimente la alegría de Jesús, que ensancha el corazón ―¡y Jesús ensancha el corazón!― y hace bella la vida”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE): Hazlo todo por mí
Solo Tú Señor eres la fuerza
Tú tienes el poder
Y nada sin ti podemos hacer.
Eres el fuego para el calor de nuestros fríos
El agua para la sed de las almas
Ven! Envía pronto tu auxilio
Este peregrinar a veces
Se nos hace cuesta arriba
Y la cruz nos va pesando
La espalda se doblega
Se aflojan las piernas y caemos
Costoso es levantarnos
Pero si haces de tu Deseo el nuestro
y enciendes en nuestro espíritu
la fuerza de tus sacramentos
la división será el desafío para la acción
para llevar tus misterios
con toda nuestra pasión
Recordaremos la tuya, tu hora
Y tu promesa cumplida al tercer día,
Cuando la resurrección
Selló la reconciliación con el Padre
La Alianza de amor
Que al mundo salvaría. Amén.
1 C. M. Martini, Una voz profética en la ciudad (PPC; Madrid 1995) 123.
2 El evangelio según san Lucas II, 428.
3Jesús habla a su pueblo. Domingos durante el año. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 136. 4 L' Évangile de Luc (PUG; Roma 1992) 255.
5 Saint Luke (NTC; London 1990) 539.
6 Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 250.
7 Sociedad Argentina de Teología (ed.), Religión, justicia y paz (San Benito; Buenos Aires 2003) 67.
8 A. Cencini, Vivir reconciliados (Paulinas; Buenos Aires 1997) 23.
9 La luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro, Madrid, 1998) 277. 10 J. Ratzinger, El camino pascual, BAC, Madrid 1990, 25-28.