01 DE JANEIRO
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª leitura: Números 6,22-27
Salmo 66 (67)R- Que Deus nos dê sua graça e sua bênção.
2ª leitura: Gálatas 4,4-7
Evangelho: Lucas 2,16-21
Naquele tempo: 16Os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura. 17Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. 18E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam. 19Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração. 20Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. 21Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido. Palavra da Salvação.
Lc 2,16-21
Maria não é somente mãe do homem Jesus: ela é verdadeiramente Mãe de Deus porque o que dela nasceu é verdadeiro Deus! Jesus é o Filho de Deus e de Maria. Isto coloca Maria em um patamar altíssimo. Ao mesmo tempo, isto coloca Maria muito próxima de nós a ponto de ela ser nossa mãe e a mãe da Igreja, pois Jesus nos aceitou como irmãos. A filiação divina de Jesus foi comunicada a nós por meio do seu nascimento de Maria!
Nós amamos Maria, porque ela nos deu Jesus, porque com Jesus recebemos tudo de Deus; recebemos o grande presente de amor do Pai: o de sermos chamados filhos de Deus e nós o somos!
Deus assumiu o que é próprio nosso (nasceu de mulher) para que nós pudéssemos receber o que é próprio de Jesus (a filiação divina). No natal, o Filho de Deus se tornou Filho do Homem para que nós nos tornássemos filhos de Deus; no natal o Filho se tornou servo, para que nós, servos, nós tornemos filhos. É admirável essa troca de presentes entre o céu e a terra. E o lugar em que ocorre essa troca de presentes é Maria! Nós amamos Maria porque nela ocorreu essa admirável permuta entre Deus e a humanidade.
No Evangelho escutamos que “Maria guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração”. O natal foi para Maria algo que ela guardou no coração, que ela meditou longamente e ao longo da vida toda.
Imaginemos quantas vezes Maria voltou com o pensamento e o coração aos acontecimentos do Natal. Quantas vezes esses acontecimentos meditados no coração foram para Maria consolo nas horas de tristeza, força nos momentos de cansaço, esperança nos momentos de sofrimento. O natal foi para Maria uma escola de fé.
Façamos como Maria. Guardemos o evento do natal do Senhor no coração e o meditemos todos os dias, em todas as ocasiões. Seja o natal do Senhor fonte de alegria, de consolo e de esperança até o fim de nossa existência, até nosso último suspiro, até nosso último pensamento desta vida.
O que podemos, Senhor Jesus, Vos oferecer em troca?
O que podemos oferecer a Vós, Senhor Jesus Cristo na festa do Natal?
Cada criatura Vos apresenta o sinal do seu reconhecimento e da sua homenagem.
Os anjos Vos oferecem em troca os seus mais belos cantos.
Os céus Vos oferecem em troca miríades de estrelas.
O deserto Vos oferece em troca o presépio.
A terra Vos oferece em troca a gruta para Vos acolher.
Os animais Vos oferecem em troca a manjedoura para ser o altar de Vosso sacrifício.
E nós? O que podemos Vos oferecer em troca?
Nós vos oferecemos uma Virgem Mãe;
nós Vos oferecemos Maria;
nós Vos oferecemos a mais bela criatura para ser a Vossa mãe;
nós Vos oferecemos Aquela que Vós, ao morrer na cruz,
nos devolvestes como nossa Mãe!
(Inspirado no Idiomelon, Liturgia Bizantina, Vésperas do Natal)
Lucas 2,16-22 – A - 01-01-2023
Santa Maria, Mãe de Deus
No início era a bênção!
I. Introdução geral
No início de um novo ano muitas vezes somos relembrados de que devemos adequar ou, até mesmo, readequar nossas expectativas; o ideal, dizem, é que tenhamos nossos corações e mentes tomados pela plenitude da esperança. Não há como discordar dessas palavras. No entanto, faz-se necessário refletir que não existimos sozinhos. Nossas esperanças e expectativas não devem ser pensadas e construídas sem a presença do outro que nos acompanha na história de nossas vidas. Todo ano-novo também deveria ser um novo ano para a comunidade da qual fazemos parte. Quando nos pensamos de forma plural, estamos dizendo aos outros que também eles fazem parte das nossas esperanças e expectativas e que o novo ano que se apresenta não poderá ser construído sem ou até mesmo contra eles. Pensar nos outros é sair de nós mesmos e romper as estruturas que criamos ao nosso redor e que nos impedem de conhecer novas pessoas e com elas interagir. Quando caminhamos em direção aos outros, não somente conhecemos novas pessoas, mas, principalmente, passamos a conhecer melhor a nós mesmos.
II.Comentários aos textos bíblicos
1. I leitura: Nm 6,22-27
Todo ano-novo deveria ser iniciado sob os auspícios de uma bênção. Mas devemos sempre pensar a bênção sob dois aspectos que estão extremamente ligados entre si, ou seja, devemos pensar a bênção de forma individual e comunitária. Somos indivíduos e, por isso, trazemos dentro de nós anseios profundos. Porém, somos também comunitários – vivemos em comunidades – e, assim, a bênção deve ser partilhada dentro do grupo. Nela não há espaço para projetos individualistas.
A beleza da primeira leitura reside no fato de que a bênção é partilhada – “vocês abençoarão” – de maneira gratuita. Quem abençoa, nesse sentido, não se aproxima das outras pessoas fazendo cálculos do que poderia ganhar. O abençoador não transforma a bênção em mercadoria. Infelizmente vivemos imersos numa cultura capitalista que estimula o consumo e, por conta disso, costumamos colocar etiquetas em tudo, até mesmo no sagrado. Muitos, hoje, compreendem Deus como se fosse um grande shopping center que oferece produtos a preços vantajosos!
Aquele que abençoa tem o privilégio de ser um instrumento que o aproxima das outras pessoas, ajudando a tecer a bênção com três fios de ouro: a bênção do abrigo e da proteção, a bênção da misericórdia de Deus e a bênção da paz. Nessa perspectiva, Deus nos chama a olhar primeiramente para as pessoas que nos rodeiam e, dessa forma, trazer uma pergunta no coração, que se faz constante: como poderia eu ser bênção de Deus na vida dos meus irmãos e irmãs?
2. II leitura: Gl 4,4-7
Todos aqueles que creem em Cristo vivem uma novidade de vida. As coisas velhas ficaram para trás e tudo se fez completamente novo. Em Jesus se insere a certeza da construção de um novo programa de vida, ou seja, de um novo modo de viver. Por causa de Jesus, somos chamados a viver outro estilo de vida. Nele também se apresenta o Espírito do Filho que clama em nós com a linguagem carinhosa da criança: “Abba, Pai”. Trata-se de uma relação especial com Deus. Somente aqueles que se relacionam com Deus podem chamá-lo de Pai. E por causa dessa nova relação é que podemos estabelecer novas formas de relacionamento.
Em Jesus todas as relações são renovadas: de escravos para filhos; de subjugados pela lei para vida em liberdade; de desprovidos de qualquer valor para herdeiros. As coisas velhas já se passaram e tudo vai se fazendo novo. Uma nova realidade se instala na vida dos fiéis que se refletirá na própria maneira de ser e de viver. O que Jesus fez por nós jamais outra pessoa poderia fazer. Nele e por causa dele somos transformados e alcançamos a plenitude do ser humano. É importante e salutar recordar que a posição que alcançamos em Jesus não é para nos tornar Super-Homens e Mulheres Maravilhas, e sim para que a vida de Cristo reflita novas formas de relacionamento social por meio das quais nos relacionamos com os outros da mesma forma que Cristo se relacionou conosco. Cristo não nos liberta para que sejamos supercristãos, e sim para que nos humanizemos a cada dia. Na verdade, não existe essa categoria de supercristãos. O que de fato existe é aquele/a que, ao aderir a Jesus Cristo, se torna servo/a a fim de viver o discipulado e ser missionário/a do Reino.
3. Evangelho: Lc 2,16-21
A profundidade da espiritualidade de Maria é impressionante. Ela não somente possui imensa preocupação consigo própria, mas também com o menino Jesus. Por isso, leva-o a Jerusalém para apresentá-lo a Deus. Ela é a primeira e a maior de todas as catequistas. Mas, para ela, a catequese tem início na própria casa. De nada adianta a preocupação com tudo aquilo que é externo quando deixamos de lado aquilo que está próximo e não lhe damos a devida atenção. Há uma igreja doméstica na casa de Maria e, com a consciência de que tudo começa na própria casa, ela pode caminhar em direção à casa de Deus. Aqui se encontra a chave da questão: o ponto de partida é que se faz vital. Maria somente podia olhar para o templo depois que lançasse seu olhar para a sua própria casa. De que adiantaria ter um altar na casa de Deus e não edificar um altar na própria casa? Maria não é displicente. Ela é sabedora de que o relacionamento com Deus tem início muito antes de chegar ao templo. Quantas e quantas vezes desejamos catequizar os outros e nos esquecemos de nossas próprias casas.
No entanto, Maria também conhece o caminho que leva ao templo. Ela não resume sua vida espiritual aos espaços de sua casa. Reconhece tal importância, é claro. Mas tem consciência de que é preciso algo mais. Por isso, sai de sua casa e caminha em direção a Jerusalém. Ela não se esquece do templo. Provavelmente muitos cristãos hoje se esquecem de Jerusalém e percorrem outros caminhos. E ao se esquecerem do caminho que leva à Igreja, também deixam de construir parte importante de sua espiritualidade e de seu compromisso com o discipulado de Jesus, No entanto, para Maria, não havia outro caminho além daquele que levava para a casa de Deus. A experiência de Maria é contundente: devemos pegar o caminho que leva à casa de Deus e aí nos apresentar a Deus e apresentar a ele todos os que nos acompanham.
Possivelmente, hoje, Maria ficaria com o coração entristecido ao nos ver trilhando por tantos caminhos que não nos aproximam da casa de Deus e até, quem sabe, nos afastam. Para ela não devia haver, naquele momento, nada mais emocionante e maravilhoso do que trilhar o caminho que levava de sua casa ao templo de Jerusalém. E, mais do que isso, um caminho que ela trilhava acompanhada. Maria não tinha um projeto pessoal. Era um projeto familiar e integrador. A unidade da família sagrada também acontecia pelo caminho, ou seja, quando juntos buscavam a Deus.
Pelo caminho ia toda a sagrada família. Unidos faziam o mesmo trajeto, comungavam do mesmo ideal e da mesma espiritualidade. Para ela, não era possível iniciar a vida sem Deus nem continuar a vida negando a Deus. Por isso, juntos percorriam o caminho que levava ao encontro do Deus da vida. Há unidade na diversidade. Maria, José e Jesus. Tão diferentes e tão iguais. Tão diferentes e buscadores do mesmo alicerce que fundamentava aquilo que eram: uma família.
O comportamento de Maria é exemplar. Não mede esforços para indicar a seu filho que o único caminho verdadeiro é aquele que nos conduz ao coração do Pai. Nada mais belo do que ver uma mãe ensinando a seu filho o caminho que leva à fonte de toda sabedoria, vida e salvação. Maria é a guia e a catequista de seu filho. Nela, ele encontra não somente a mãe, mas também a educadora que o conduz para o interior do próprio Deus. É interessante observar que Maria é guia que de fato cumpre o papel de guia, isto é, ela vai junto! Não é muito difícil encontrar pais que desejam fortemente que seus filhos frequentem a Igreja, desde que percorram o caminho sozinhos. Nesse caso os pais não agem como guias, e sim como antiguias e, por que não dizer, antipais.
III. Pistas para reflexão
– A cultura contemporânea muitas vezes e insistentemente nos leva a viver uma espiritualidade desvinculada da comunidade. Nessa espiritualidade reina o individualismo e a busca incessante do sucesso pessoal, mesmo que tal sucesso signifique prejuízo para outras pessoas. De que vale o sucesso construído sobre o fracasso de outros? Seria possível viver o evangelho sem a comunidade? Como ser cristão e negar tantos irmãos e irmãs que formam o Corpo de Cristo?
– Vivemos tempos diferentes. Em muitos momentos até mesmo parece que o evangelho foi falsificado e/ou transformado em qualquer outra coisa que não o evangelho gratuito de Jesus. Numa sociedade em que o valor econômico determina o preço de todas as coisas, até mesmo a bênção de Deus passa a ser vendida como se fosse produto que pode ser adquirido nas prateleiras de um supermercado. Seria, por acaso, possível colocar uma etiqueta com preço nos atos graciosos de Deus?
Luiz Alexandre Solano Rossi
Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), pós-doutor em História Antiga pela Unicamp e em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (Califórnia, EUA). É professor no Programa de Mestrado e Doutorado em Teologia da PUC-PR. Publicou diversos livros, a maioria pela PAULUS, entre os quais: A falsa religião e a amizade enganadora: o livro de Jó e Deus se revela em gestos de solidariedade. E-mail: luizalexandrerossi@yahoo.com.br
“O Senhor volte para ti o seu rosto e de dê a paz!” (Nm 6,26)
O relato do Nascimento de Jesus nos desafia a superar a rotina acostumada e romper as estreitezas da vida para poder acolher a admirável profundidade que se esconde e se revela na simplicidade da cena, que em seu nível mais profundo ou espiritual, fala de todos nós. Ali fala-se de alguns pastores, de um presépio, de um recém-nascido, de uma mulher que “guarda” um segredo, de um homem silencioso... Toda a cena quer introduzir-nos em um Silêncio admirado e agradecido, pleno de luz, de paz e de gratidão.
A simplicidade do relato nos convida a mergulhar no Mistério que aí se expressa. Tudo está aí. E, da mesma maneira, tudo é agora. Pastores, presépio, recém-nascido, um casal silencioso...: quando sabemos olhar, descobrimos que tudo está cheio da Presença que pacifica.
A Presença ou o Mistério não é uma realidade separada da nossa vida, nem à margem da realidade e da criação. Por esse motivo, os personagens presentes na Gruta de Belém representam a realidade inteira: somos nós mesmos, é tudo o que nos rodeia neste preciso momento, são todos os seres.
E diante dessa manifestação, o que nos resta? A atitude de Maria: acolher todas as coisas, “guardá-las”, “meditando-as no coração”. Ir mais além dos conceitos e das palavras e, desse modo, descansar – admirados, agradecidos, irmanados, pacificados – no Mistério e deixar-nos conduzir por Ele.
“Meditar as coisas no coração” significa ativar o “olhar contemplativo” que se encontra em todos nós e que se manifesta quando cessamos nosso palavreado crônico. Serenados interiormente, somos presenteados com o dom de permanecer no presente, onde tudo está bem, onde tudo flui mansamente e na santa paz.
Este é o desafio diante do Novo Ano que se inicia: devemos primar por construir “ambientes de paz”: paz que vem do alto, que aquece nossos corações, plenifica nossas relações e se expande, tal como perfume, em todas as direções.
Paz é aspiração congênita do ser humano. Nosso coração humano foi feito para a paz e anseia a convivência harmoniosa com Deus, com o cosmos, com os nossos semelhantes. É processo interminável.
Na raiz bíblica do termo “shalom”, (em latim “pax”) está a ideia de “algo completo, inteiro”. A paz pertence à plenitude, à completude, enquanto a violência está do lado da falta, da carência, do incompleto.
Paz reflete harmonia consigo, boas relações com os outros, aliança com Deus, enquanto a violência infecciona os relacionamentos, contamina a convivência, rompe os vínculos, exclui os mais fracos...
Paz: há milênios esta palavra ressoa e ecoa na história dos povos. Inúmeros homens e mulheres a cultivam secretamente no coração. Todos a invocam. Muitos dão a vida, defendendo-a...
A paz autêntica contém densidade humana. É paz de consciência inocente dos justos que fazem o bem, dos profetas que se arriscam em favor dos outros. Paz é humanidade alegre, espontânea, confiante.
Paz não é sossego, não é alienação, nem cumplicidade.
Paz requer bravura. Somente o ser humano amante da paz é realmente “perigoso”, não o violento.
Mas, a paz ainda não encontrou espaço para ser a companheira de estrada em nosso cotidiano. O contexto social-político-religioso no qual vivemos está carregado de profundas divisões, ódios, intolerâncias, mentiras, preconceitos, violências... Há um “cheiro de morte” que nos paralisa e nos impede viver relações mais sadias e respeitosas para com os outros.
No entanto, permanece a promessa profética de que ela habitará na nossa terra. Assim, o sonho impossível, que reina desde sempre no coração do Senhor, amante da Paz, se realizará, graças àquelas pessoas revolucionárias, que acreditam, desejam e realizam a paz. Na Gruta de Belém tudo exala paz e o encontro com Aquele que é o “príncipe da paz” nos inspira a sermos presenças pacificadoras.
Paz “solidária” que abraça os excluídos; paz “resistência” que não se acovarda; paz “audácia” que não se amedronta; paz “limpa” que não corrompe a ética; paz “profética” que encarna a justiça; paz “rebelada” que não se dobra; paz “estética” que revela a face bela da nova humanidade... (cf. Juvenal Arduini).
Na carta de S. Paulo aos Efésios, Cristo é chamado “a nossa paz”(Ef. 2,14).
A paz é característica do reino messiânico que Jesus inaugurou. Ele revela que a paz é um trabalho muito paciente, de artesanato. Ele era um artesão, um carpinteiro.
Ele sabia que para ser mestre na arte de fazer móveis era preciso saber aplainar muito bem. A paz começa nesta arte de aplainar o que em cada um de nós é áspero e duro; há divisões e conflitos em nosso interior..., mas nós podemos, pacientemente, construir a paz do coração.
Quem tem paz irradia luz; quem vive na luz constrói a paz. Paz expansiva, paz que é respiração da vida, paz marcada pela esperança.
“Que a Paz de Cristo reine em vossos corações” (Col. 3,15)
No início deste Novo ano confessamos: apareceu um Menino; fizeram-se visíveis a ternura, a paz e a doçura do Deus que salva.
A ternura pobre do presépio ajuda a dizer “sim” ao que importa e a recuperar nosso centro em Deus.
Por isso, a paz é carregada de ternura. Só a ternura de uma criança pode nos tirar de nossos lugares atrofiados. A ternura de Deus continua fazendo-se alternativa original. Quando expandimos nosso espaço interior e a acolhemos, a ternura nos move a fazer visitas inesperadas a enfermos, presentear tempo e não objetos, investir a “fundo perdido” em quietude, oração e reconciliação e substituir as felicitações impessoais dos celulares por palavras de vida, que ajudem a curar feridas do caminho.
A ternura alternativa acolhe solidões, sofrimentos familiares e enfrenta os contratempos da vida tal como aparecem, anunciando que Deus nasce para todas e cada uma de nossas histórias. Depende de nós abrir-lhe a porta e deixar que ela faça morada em nós.
Na Gruta de Belém todos são acolhidos e a paz brota da hospitalidade. Se queremos a paz, preparemos as boas-vindas, aprendamos a ver os outros não como inimigos, mas como seres humanos, cujos rostos nos convidam a expandir nossas fronteiras para encontrar-nos neles, em diálogo e comunhão com suas necessidades, sorrindo com eles e recebendo-os em nossas casas. A hospitalidade é a chave para construir um mundo humano, sem fronteiras, onde todas as pessoas possam viver juntas e em paz.
A paz, por si mesma, é expansiva; por isso, encontrar-nos com Deus na própria morada interna não é fechar-nos num intimismo estéril; implica ampliar o espaço do coração para acolher o outro que pensa, sente e ama de maneira diferente, porque também ele é morada da Criança de Belém.
Para meditar na oração:
- A paz é um dos dons que se faz visível no rosto do Deus-Menino e, como seus (suas) seguidores(as), somos desafiados(as) a uma visão mais aprofundada, pessoal e coletiva, sobre o sentido e a força mobilizadora da verdadeira paz.
- Como exercer o "ministério da pacificação" no seu ambiente cotidiano? Como reconstruir os vínculos que foram rompidos por questões políticas, religiosas...?
Neste dia, a liturgia coloca-nos diante de evocações diversas, ainda que todas importantes. Celebra-se, em primeiro lugar, a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus: somos convidados a contemplar a figura de Maria, aquela mulher que, com o seu "sim" ao projeto de Deus, nos ofereceu Jesus, o nosso libertador.
Celebra-se, em segundo lugar, o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI propôs aos homens de boa vontade que, neste dia, se rezasse pela paz no mundo. Celebra-se, finalmente, o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada percorrida de mãos dadas com esse Deus que nos ama, que em cada dia nos cumula da sua bênção e nos oferece a vida em plenitude.
As leituras que hoje nos são propostas exploram, portanto, estas diversas coordenadas. Elas evocam esta multiplicidade de temas e de celebrações.
Na primeira leitura, sublinha-se a dimensão da presença contínua de Deus na nossa caminhada e recorda-se que a sua bênção nos proporciona a vida em plenitude.
Na segunda leitura, a liturgia evoca, outra vez, o amor de Deus, que enviou o seu Filho ao encontro dos homens para os libertar da escravidão da Lei e para os tornar seus "filhos". É nessa situação privilegiada de "filhos" livres e amados que podemos dirigir-nos a Deus e chamar-Lhe "abbá" ("papá").
O Evangelho mostra como a chegada do projeto libertador de Deus (que se tornou realidade plena no nosso mundo através de Jesus) provoca alegria e felicidade naqueles que não têm outra possibilidade de acesso à salvação: os pobres e os marginalizados. Convida-nos, também, a louvar a Deus pelo seu amor e a testemunhar o desígnio libertador de Deus no meio dos homens.
Maria, a mulher que proporcionou o nosso encontro com Jesus, é o modelo do crente que é sensível aos projetos de Deus, que sabe ler os seus sinais na história, que aceita acolher a proposta de Deus no coração e que colabora com Deus na concretização do projeto divino de salvação para o mundo.
AMBIENTE
O nosso texto situa-nos no Sinai, frente à montanha onde se celebrou a aliança entre Deus e o seu Povo... No contexto das últimas instruções de Jahwéh a Moisés, antes de Israel levantar o acampamento e iniciar a caminhada em direção à Terra Prometida, é apresentada uma fórmula de bênção, que os "filhos de Aarão" (sacerdotes) deviam pronunciar sobre a comunidade.
Provavelmente, trata-se de uma fórmula litúrgica utilizada no Templo de Jerusalém para abençoar a comunidade, no final das celebrações litúrgicas, antes de o Povo regressar a suas casas... Essa bênção é aqui apresentada como um dom de Deus, no Sinai.
A "bênção" ("beraka") é concebida, no universo dos povos semitas, como uma comunicação de vida, real e eficaz, que atinge o "abençoado" e que lhe transmite vigor, força, êxito, felicidade. É um dom que, uma vez pronunciado, não pode ser retirado nem anulado. Aqui, essa comunicação de vida - fruto da generosidade e do amor de Deus - derrama-se sobre os membros da comunidade por intermédio dos sacerdotes (no Antigo Testamento, os intermediários entre o mundo de Jahwéh e a comunidade israelita).
MENSAGEM
Esta "bênção" apresenta-se numa tríplice fórmula, sempre em crescendo (no texto hebraico, a primeira afirmação tem três palavras; a segunda, cinco; a terceira, sete). Em cada uma das fórmulas, é pronunciado o nome de Jahwéh... Ora, pronunciar três vezes o nome do Deus da aliança é dar uma nova atualidade à aliança, às suas promessas e às suas exigências; é lembrar aos israelitas que é do Deus da aliança que recebem a vida nas suas múltiplas manifestações e que tudo é um dom de Deus.
A cada uma das invocações, correspondem dois pedidos de bênção: "que Jahwéh te abençoe (isto é, que te comunique a sua vida) e te proteja"; "que Jahwéh faça brilhar sobre ti a sua face (hebraísmo que se pode traduzir como 'que te mostre um rosto sorridente e favorável') e te conceda a sua graça"; que Jahwéh dirija para ti o seu olhar (hebraísmo que significa 'olhar para ti com benevolência', 'acolher-te') e te conceda a paz" (em hebraico: 'shalom' - no sentido de bem-estar, harmonia, felicidade plena).
Este texto lembra ao israelita que tudo é um dom do amor de Jahwéh e que o Deus da aliança está ao lado do seu Povo em cada dia do ano, oferecendo-lhe a vida plena e a felicidade em abundância.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes dados:
• Em primeiro lugar, somos convidados a tomar consciência da generosidade do nosso Deus, que nunca nos abandona, mas que continua a sua tarefa criadora derramando sobre nós, continuamente, a vida em plenitude.
• É de Deus que tudo recebemos: vida, saúde, força, amor e aquelas mil e uma pequeninas coisas que enchem a nossa vida e que nos dão instantes plenos. Tendo consciência dessa presença contínua de Deus ao nosso lado, do seu amor e do seu cuidado, somos gratos por isso? No nosso diálogo com Ele, sentimos a necessidade de O louvar e de Lhe agradecer por tudo o que Ele nos oferece? Agradecemos todos os dons que Ele derramou sobre nós no ano que acaba de terminar?
É preciso ter consciência de que a "bênção" de Deus não cai do céu como uma chuva mágica que nos molha, quer queiramos, quer não (magia e Deus não combinam); mas a vida de Deus, derramada sobre nós continuamente, tem de ser acolhida com amor e gratidão e, depois, transformada em gestos concretos de amor e de paz. É preciso que o nosso coração diga "sim", para que a vida de Deus nos atinja e nos transforme.
AMBIENTE
Entre as comunidades cristãs do norte da Galácia manifestou-se, pelos anos 55/56, uma grave crise... À região gálata chegaram pregadores cristãos de origem judaica, que punham em causa a validade e a legitimidade do Evangelho anunciado por Paulo. Este era acusado de pregar um Evangelho mutilado, distante do Evangelho pregado pelos apóstolos de Jerusalém... Para estes pregadores ("judaízantes"), a fé em Cristo devia ser complementada pelo cumprimento rigoroso da Lei de Moisés, nomeadamente pelo rito da circuncisão.
Paulo foi avisado da situação quando estava em Éfeso. Não o preocupava que a sua pessoa fosse posta em causa; preocupava-o o dano que este tipo de discurso podia trazer às comunidades cristãs... Paulo estava convencido que o movimento religioso iniciado por Jesus de Nazaré não era uma religião formalista e ritual, uma religião de práticas exteriores, como o judaísmo farisaico do seu tempo, que se preocupava com questões formais e secundárias; além disso, estava convencido de que a salvação não tinha a ver com conquistas humanas (como se a salvação fosse conseguida à custa dos atos heróicos do homem), mas era um dom de Deus.
Alarmado pela gravidade da situação, Paulo escreveu aos gálatas. Com alguma dureza (justificada pela gravidade do problema), Paulo diz aos gálatas que o cristianismo é liberdade e que a ação de Cristo libertou os homens da escravidão da Lei... Os gálatas devem, portanto, fazer a sua escolha: pela escravidão, ou pela liberdade; no entanto - não deixa de observar Paulo - é uma estupidez ter experimentado a liberdade e querer voltar à escravidão...No texto que nos é proposto, Paulo recorda aos gálatas a incarnação de Cristo e o objetivo da sua vinda ao mundo: fazer dos que a Ele aderem "filhos de Deus" livres.
MENSAGEM
Paulo recorda aqui aos gálatas algo de fundamental: Cristo veio a este mundo para libertá-los, definitivamente, do jugo da Lei; a consequência da ação redentora de Cristo é que os homens deixaram de ser escravos e passaram a ser "filhos" que partilham a vida de Deus.
A palavra-chave é, aqui, a palavra "filho", aplicada tanto a Cristo como aos cristãos. Cristo, o "Filho", foi enviado ao mundo pelo Pai com uma missão concreta: libertar os homens de uma religião de ritos estéreis e inúteis, que não potenciava o encontro entre Deus e os homens; e Cristo, identificando os homens com Ele, levou-os a um novo tipo de relacionamento com Deus e fê-los "filhos" de Deus. Por ação de Cristo, os homens deixaram de ser escravos (que cumprem obrigatoriamente regras e leis) e passaram a relacionar-se com Deus como "filhos" livres e amados, herdeiros com Cristo da vida eterna. Depois desta "promoção", fará algum sentido querer voltar a ser escravo da religião das leis e dos ritos?
A nova situação dos homens dá-lhes o direito de chamar a Deus "abbá" ("papá"). Paulo utiliza esta palavra aqui (bem como na Carta aos Romanos), apesar de os judeus nunca designarem Deus desta forma. Ela expressa uma relação muito próxima, muito íntima, do género daquela que uma criança tem com o seu pai: exprime a confiança absoluta, a entrega total, o amor sem limites. A insistência de Paulo nesta palavra deve ter a ver com o Jesus histórico: Jesus adotou-a para expressar a sua confiança filial em Deus e a sua entrega total à sua causa. Ora, é este tipo de relação que os cristãos, identificados com Cristo, são convidados a estabelecer com Deus.
Gal 4,4 é o único lugar em que Paulo se refere à mãe de Jesus ("Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher"); no entanto, Paulo não parece interessado, aqui, em falar de Nossa Senhora, mas em sublinhar a solidariedade de Cristo com o género humano.
SANTA MARÍA, MADRE DE DIOS (SOLEMNIDAD)
Primera Lectura (Nm 6,22-27):
Este texto conserva una antigua bendición que los sacerdotes del Antiguo Testamento realizaban sobre el pueblo en las vísperas de las fiestas litúrgicas, particularmente del año nuevo o Ros – ha saná. Es interesante su contenido. En primer lugar, se pide la bendición de Dios. Sabemos que en el Antiguo Testamento el contenido fundamental que encierra toda bendición divina es una larga vida y el ser fecundo (cf. Gn 1-2; 12). Se pide luego la guarda, custodia o protección de parte de Dios para con su pueblo. Por tanto, aquí la bendición se refiere a los valores fundamentales y básicos del pueblo y de las personas: salud, descendencia, protección del mal.
En un segundo bloque se pide recibir realidades espirituales, pero no por ello menos reales. Que el Señor le muestre su rostro. La Biblia habla con frecuencia del "rostro de Dios". Utiliza esta expresión para referirse a Dios en cuanto se vincula con el hombre, se vuelve hacia él. Que Dios muestre su rostro al hombre o lo haga brillar ante él significa que le concede su paz y la salvación. Por último, se pide que Dios conceda la Paz (shalom), concepto que encierra todos los bienes que el corazón del hombre puede desear de parte de Dios. Es el don fundamental.
Segunda Lectura (Gal 4,4-7):
Es interesante considerar la estructura interna de este texto para captar su profundo mensaje:
Pero, al llegar la plenitud de los tiempos,
envió Dios a su Hijo, nacido de mujer, nacido bajo la ley,
para rescatar a los que se hallaban bajo la ley,
y para que recibiéramos la filiación adoptiva.
La prueba de que son hijos es que
Dios ha enviado a nuestros corazones el Espíritu de su Hijo que clama: ¡Abbá, Padre!
De modo que ya no eres esclavo, sino hijo;
y si hijo, también heredero por voluntad de Dios (Gal 4,4-7).
Así como Jesús es el único camino para ir al Padre; de igual modo por medio de él llegan a nosotros el amor y todos los dones del Padre, que se pueden reunir en uno sólo: la filiación divina, es decir, la gracia de ser sus hijos. De modo específico, Dios es Padre de los creyentes porque les comunica, por medio de su Hijo Jesucristo, la vida divina. En San Pablo encontramos frecuentemente esta idea pues en sus cartas considera siempre la obra de Dios “desde nosotros y para nosotros” y, por ello, la revelación del Padre en el Hijo se orienta a la filiación de los creyentes en Cristo. El Padre de nuestro Señor Jesucristo es también el Padre de los cristianos, tal como lo refiere en el saludo inicial de casi todas sus cartas. Para el Apóstol los cristianos son hijos de Dios como fruto de la redención obrada por el Hijo, quien les otorga una participación en su espíritu filial.
Justamente en la carta a los Gálatas san Pablo compara los dos momentos de la Historia de la Salvación, la sumisión a la Ley o Torá y la libertad filial, con dos edades de la vida humana: la de la infancia que supone el sometimiento al pedagogo que es la ley; y la mayoría de edad en la cual el heredero goza de la libertad. Pues bien, con Cristo ha llegado a los hombres esta mayoría de edad pues El viene a liberarnos de la esclavitud de la Ley y a transformarnos en hijos adoptivos. Podemos reconocer detrás de esta expresión paulina la manifestación de la paternidad de Dios a través del éxodo, pero aquí el rescate y la filiación adoptiva alcanzan su pleno sentido por medio del Hijo. La prueba y la experiencia de esta condición de libertad se encuentran en el envío del Espíritu de Cristo -espíritu filial- al corazón de los fieles que los mueve a llamar a Dios como lo llamaba Jesús: Abbá - Padre. Esta condición de hijos, al igual que en Jesús, se pone de manifiesto en la oración.
Evangelio (Lc 2,16-21):
Este evangelio fue elegido para esta solemnidad porque nos dice que ocho días después de su nacimiento Jesús fue llevado por María y José para cumplir con lo mandado por la ley de Dios: debía ser circuncidado al octavo día. Allí mismo se le pone el nombre de Jesús. Nos encontramos al octavo día después de Navidad, del Nacimiento de Jesús, pero más allá de las lecturas la atención de la liturgia está puesta totalmente en María como Madre de Dios, cuya solemnidad celebramos.
Es interesante lo que dicen G. Zevini – P. G. Cabra : “Hay, pues, diversas actitudes que se pueden asumir ante el Cristo: la búsqueda pronta y gozosa de los pastores, el asombro y la alabanza de aquellos que intervienen en el hecho, el relato a otros de la experiencia vivida. Para el evangelista sólo María adopta la postura del verdadero creyente, porque ella sabe guardar con sencillez lo que escucha y meditar con fe lo que ve, para ponerlo todo en su corazón y transformar en plegaria la salvación que Dios le ofrece.”
Algunas reflexiones:
Tenemos en esta solemnidad tres temas principales sobre los cuales habrá que reflexionar: la Maternidad Divina de María; la jornada mundial de oración por la paz y el fin-comienzo del año.
1. María, Madre de Dios
La confesión de María como Madre de Dios es el dogma mariano fundamental. "Madre de Dios", Theotokos, es el título que se atribuyó oficialmente a María en el siglo V, exactamente en el concilio de Éfeso, del año 431, pero que ya se había consolidado en la devoción del pueblo cristiano desde el siglo III, en el contexto de las fuertes disputas de ese período sobre la persona de Cristo. Con ese título se subrayaba que Cristo es Dios y que realmente nació como hombre de María. Así se preservaba su unidad de verdadero Dios y de verdadero hombre […] El título de Madre de Dios, tan profundamente vinculado a las festividades navideñas, es, por consiguiente, el apelativo fundamental con que la comunidad de los creyentes honra, podríamos decir, desde siempre a la Virgen santísima. Expresa muy bien la misión de María en la historia de la salvación. Todos los demás títulos atribuidos a la Virgen se fundamentan en su vocación de Madre del Redentor, la criatura humana elegida por Dios para realizar el plan de la salvación, centrado en el gran misterio de la encarnación del Verbo divino." (Benedicto XVI, 2 de enero de 2008).
Por tanto, la confesión de María como Madre de Dios se deriva de la confesión de Jesucristo como Hijo de Dios. Por eso con esta fiesta mariana reafirmamos nuestra fe en la Encarnación del Hijo de Dios en el seno de María Virgen. Ahora bien, como dice R. Cantalamessa : "El título Madre de Dios proclama que Jesús es Dios y hombre en una misma persona. Este es el propósito por el que los Padres en el Concilio de Éfeso adoptaron este título. El mismo nos habla de la unidad profunda entre Dios y el hombre realizada en Jesús; de cómo Dios se ha unido al hombre y se unió en la unidad más profunda que existe en el mundo, que es la unidad de la persona. Los padres decían que el seno de María fue el tálamo en el cual tuvieron lugar las bodas de Dios con la humanidad, el “telar”, en el cual fue tejida la túnica de la unión, el laboratorio en el cual se obró la unión de Dios y del hombre”.
2. Jornada Mundial de la Paz 2023: «Nadie puede salvarse solo. Recomenzar desde el COVID-19 para trazar juntos caminos de paz».
El Papa Francisco comienza su mensaje para la jornada mundial de la paz de 2023 haciendo memoria de los efectos nocivos que ha tenido la pandemia del Covid-19 sobre la humidad toda y sobre cada persona singular. Entonces, nos dice que: “Transcurridos tres años, ha llegado el momento de tomarnos un tiempo para cuestionarnos, aprender, crecer y dejarnos transformar —de forma personal y comunitaria—; un tiempo privilegiado para prepararnos al “día del Señor”. Ya he dicho varias veces que de los momentos de crisis nunca se sale igual: de ellos salimos mejores o peores. Hoy estamos llamados a preguntarnos: ¿qué hemos aprendido de esta situación pandémica? ¿Qué nuevos caminos debemos emprender para liberarnos de las cadenas de nuestros viejos hábitos, para estar mejor preparados, para atrevernos con lo nuevo? ¿Qué señales de vida y esperanza podemos aprovechar para seguir adelante e intentar hacer de nuestro mundo un lugar mejor?”.
Según el Papa Francisco “podemos decir que la mayor lección que nos deja en herencia el COVID-19 es la conciencia de que todos nos necesitamos; de que nuestro mayor tesoro, aunque también el más frágil, es la fraternidad humana, fundada en nuestra filiación divina común, y de que nadie puede salvarse solo. Por tanto, es urgente que busquemos y promovamos juntos los valores universales que trazan el camino de esta fraternidad humana. También hemos aprendido que la fe depositada en el progreso, la tecnología y los efectos de la globalización no sólo ha sido excesiva, sino que se ha convertido en una intoxicación individualista e idolátrica […] De esta experiencia ha surgido una conciencia más fuerte que invita a todos, pueblos y naciones, a volver a poner la palabra “juntos” en el centro. En efecto, es juntos, en la fraternidad y la solidaridad, que podemos construir la paz, garantizar la justicia y superar los acontecimientos más dolorosos. De hecho, las respuestas más eficaces a la pandemia han sido aquellas en las que grupos sociales, instituciones públicas y privadas y organizaciones internacionales se unieron para hacer frente al desafío, dejando de lado intereses particulares. Sólo la paz que nace del amor fraterno y desinteresado puede ayudarnos a superar las crisis personales, sociales y mundiales”.
Luego el Papa hace referencia al estallido de la guerra en Ucrania que cambió mucho el escenario de la post-pandemia notando que: “Aunque se ha encontrado una vacuna contra el COVID-19, aún no se han hallado soluciones eficaces para poner fin a la guerra. En efecto, el virus de la guerra es más difícil de vencer que los que afectan al organismo, porque no procede del exterior, sino del interior del corazón humano, corrompido por el pecado (cf. Evangelio según san Marcos 7,17-23)”.
Cierra su mensaje el Papa con una invitación a la acción, o mejor, a la conversión: “¿Qué se nos pide, entonces, que hagamos? En primer lugar, dejarnos cambiar el corazón por la emergencia que hemos vivido, es decir, permitir que Dios transforme nuestros criterios habituales de interpretación del mundo y de la realidad a través de este momento histórico. Ya no podemos pensar sólo en preservar el espacio de nuestros intereses personales o nacionales, sino que debemos concebirnos a la luz del bien común, con un sentido comunitario, es decir, como un “nosotros” abierto a la fraternidad universal. No podemos buscar sólo protegernos a nosotros mismos; es hora de que todos nos comprometamos con la sanación de nuestra sociedad y nuestro planeta, creando las bases para un mundo más justo y pacífico, que se involucre con seriedad en la búsqueda de un bien que sea verdaderamente común”.
3. Fin y comienzo del año
El Papa Francisco, en su homilía del 1° de enero de 2022, nos presentó a María Madre de Dios como modelo y ejemplo por su actitud de conservar y meditar en su corazón todas las cosas que iban sucediendo en su vida, lo cual es lo mejor que podemos hacer nosotros al terminar un año y comenzar uno nuevo.
En cuanto a lo vivido, sin lugar a dudas sentiremos cierta desazón al comparar lo que soñamos al inicio del 2022 y lo que hemos podido realizar en los concreto. Siempre sentiremos cierta molestia por la distancia entre los ideales pensados y la realidad vivida. María también pasó por esto porque de las promesas del ángel que le decían que el Niño se sentaría en el trono de David ahora se encuentra en un pobre pesebre. A esto el Papa lo llama “el escándalo del pesebre” y no ofrece un camino de superación del mismo: “Me pregunto, hermanos y hermanas, ¿cómo realizar este paso?, ¿cómo superar el choque entre lo ideal y lo real? Actuando, precisamente, como María: conservando y meditando. María, en primer lugar, conserva, es decir, no desperdiga. No rechaza lo que ocurre. Conserva en el corazón cada cosa, todo lo que ha visto y oído. Las cosas hermosas, como lo que le había dicho el ángel y lo que le habían contado los pastores. Pero también las cosas difíciles de aceptar, como el peligro que corrió por quedar embarazada antes del matrimonio y, ahora, la angustia desoladora del establo donde tuvo que dar a luz. Esto es lo que hace María: no selecciona, sino que conserva. Acoge la realidad como llega, no trata de camuflar, de maquillar la vida, conserva en el corazón”.
Aquí sería bueno añadir las palabras del Papa Francisco en su discurso a la curia romana del 2 de diciembre de 2022: “es importante tener claro que cuando se examina la propia existencia o el tiempo transcurrido, siempre es necesario tener como punto de partida la memoria del bien. En efecto, sólo cuando somos conscientes del bien que el Señor ha hecho por nosotros somos también capaces de dar un nombre al mal que hemos vivido o sufrido. Ser conscientes de nuestra pobreza sin serlo también del amor de Dios, nos aplastaría. En este sentido, la actitud interior a la que habríamos de dar más importancia es la gratitud […] Muchas cosas sucedieron en este último año y, en primer lugar, queremos decir gracias al Señor por todos los beneficios que nos ha concedido. Pero entre todos estos beneficios esperamos que esté también nuestra conversión, que nunca es un discurso acabado. Lo peor que nos podría pasar es pensar que ya no necesitamos conversión, sea a nivel personal o comunitario. Convertirse es aprender a tomar cada vez más en serio el mensaje del Evangelio e intentar ponerlo en práctica en nuestra vida. No se trata sencillamente de tomar distancia del mal, sino de poner en práctica todo el bien posible: esto es convertirse. Ante el Evangelio seguimos siendo siempre como niños que necesitan aprender. Creer que hemos aprendido todo nos hace caer en la soberbia espiritual […] Lo contrario a la conversión es el fijismo, es decir, la convicción oculta de no necesitar ninguna comprensión mayor del Evangelio. Es el error de querer cristalizar el mensaje de Jesús en una única forma válida siempre. En cambio, la forma debe poder cambiar para que la sustancia siga siendo siempre la misma. La herejía verdadera no consiste sólo en predicar otro Evangelio (cf. Ga 1,9), como nos recuerda Pablo, sino también en dejar de traducirlo a los lenguajes y modos actuales, que es lo que precisamente hizo el Apóstol de las gentes. Conservar significa mantener vivo y no aprisionar el mensaje de Cristo”.
Retomamos la homilía del 1° de enero de 2022: “Le sigue una segunda actitud. ¿Cómo conserva María? Conserva meditando. El verbo empleado por el Evangelio evoca el entramado de las cosas. María compara experiencias distintas, encontrando los hilos escondidos que las unen. En su corazón, en su oración, realiza este proceso extraordinario, une las cosas hermosas con las feas; no las tiene separadas, sino que las une. Y por esto María es la Madre de la catolicidad. Podemos, forzando el lenguaje, decir que por esto María es católica, porque une, no separa. Y así capta el sentido pleno, la perspectiva de Dios. En su corazón de madre comprende que la gloria del Altísimo pasa por la humildad; ella acepta el plan de salvación, por el cual Dios debía ser recostado en un pesebre. Contempla al Niño divino, frágil y tiritando, y acoge el maravilloso entramado divino entre grandeza y pequeñez. De ese modo conserva María, meditando.
Esta mirada inclusiva, que supera las tensiones conservando y meditando en el corazón, es la mirada de las madres, que en las tensiones no dividen, ellas las conservan y así crece la vida. Es la mirada con la que muchas madres abrazan las situaciones de los hijos. Es una mirada concreta, que no se desanima, que no se paraliza ante los problemas, sino que los coloca en un horizonte más amplio. Y María va de ese modo, hasta el calvario, meditando y conservando, conserva y medita”.
En cuanto a lo que viviremos en este año que comienza, nos recuerda el Papa Francisco que: “El nuevo año inicia bajo el signo de la Santa Madre de Dios, en el signo de la Madre. La mirada materna es el camino para renacer y crecer. Las madres, las mujeres, no miran el mundo para explotarlo, sino para que tenga vida. Mirando con el corazón, logran mantener unidos los sueños y lo concreto, evitando las desviaciones del pragmatismo aséptico y de la abstracción. Y la Iglesia es madre, es madre de este modo, la Iglesia es mujer, es mujer de este modo. Por eso no podemos encontrar el lugar de la mujer en la Iglesia sin verla reflejada en este corazón de mujer-madre. Este es el puesto de la mujer en la Iglesia, el gran lugar, del que derivan otros más concretos, más secundarios. Pero la Iglesia es madre, la Iglesia es mujer. Y mientras las madres dan la vida y las mujeres conservan el mundo, trabajemos todos para promover a las madres y proteger a las mujeres. Cuánta violencia hay contra las mujeres. Basta. Herir a una mujer es ultrajar a Dios, que tomó la humanidad de una mujer, no de un ángel, no directamente, sino de una mujer. Y como de una mujer, de la Iglesia mujer, toma la humanidad de los hijos.
Al inicio del nuevo año pongámonos bajo la protección de esta mujer, la Santa Madre de Dios que es nuestra madre. Que nos ayude a conservar y a meditar todas las cosas, sin tener miedo a las pruebas, con la alegre certeza de que el Señor es fiel y sabe transformar las cruces en resurrecciones”.
PARA LA ORACIÓN (resonancias del evangelio en una orante):
María
María Señora y Niña
Maravilla de las manos del Padre
Custodia de recién Nacido
Reina Madre
En el Arca de la Alianza
Se guardaba la Palabra y era Dios
En tu vientre se acunó
El Mesías, el Señor
Adulta por mandato
Supiste cuidar del Niño, sin vacilar
Al amparo de José
Abrazada por su paz
Se admiraba el corazón sencillo
De una escena repetida
Pero al tiempo: sin igual
Hazme Pastorcito, Señor de lo imposible
Para asomarme a la escena
Y en silencio contemplar. Amén