19/05/2024
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Atos 2,1-11
Salmo Responsorial 103(104)R- Enviai o vosso Espírito, Senhor, / e da terra toda a face renovai.
Segunda Leitura: 1 Coríntios 12,3b-7.12-13
(ou Gálatas 5,16-25
Evangelho: João 20,19-23
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo João (20,19-23) – 19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. – Palavra da salvação.
Jo 20,19-23
Alguns pensadores afirmam que a violência é a alavanca da história humana, pois não há mudança profunda que não tenha sido arrancada por guerra, revolução e derramamento de sangue. É uma constatação tão triste quanto terrível da história da humanidade.
Hoje nós somos postos diante e dentro de uma outra história: a história da salvação. Nela os protagonistas são Deus e o ser humano. É claro que eles não são protagonistas no mesmo nível de liberdade e de responsabilidade. Além dos protagonistas desiguais, a alavanca da história da salvação não é a violência, mas o Espírito Santo. O Espírito é a força e a ternura, o poder e a suavidade do amor.
Em cada salto de qualidade na realização da história da salvação, ocorre uma intervenção especial do Espírito Santo. Percorramos juntos essa história, ainda que de maneira muito breve.
“No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra era sem forma e vazia, e sobre o abismo havia trevas”. Reinava o caos, mas eis que “o espírito de Deus pairou sobre as águas”. A partir dessa ação de pairar sobre o caos, foi possível o surgimento da luz, a separação entre noite e dia, a ordem e a harmonia do universo. As coisas vão se constituindo e começam a ocupar o seu lugar no Cosmos: as águas se juntam no mar, as ervas e as sementes germinam na terra, os astros começam a brilhar no céu. A cada movimento e ser, “Deus viu que era bom”.
O mundo ficou pronto em seis dias, ou na linguagem científica de hoje, em bilhões de anos. E num momento da evolução do mundo, Deus disse: “Façamos um ser humano, à nossa imagem e segundo a nossa semelhança”. Ele plasmou o ser humano do barro da terra. É a maneira bíblica de falar que Deus preparou, com as leis da evolução que Ele mesmo tinha posto na matéria, um animal diferente de todos os outros, o ser humano. Era um animal diferente, mas sempre animal, guiado por instintos. E foi nesse momento que o mesmo espírito que pairava sobre as águas foi insuflado no ser humano. Aquele hominídeo, em dado momento, dá um salto evolutivo e é tornado um ser espiritual, dotado de inteligência e vontade, razão e liberdade. Com a intervenção do espírito de Deus, aquele ser foi tornado um ser capaz de dialogar com o seu Criador, ser seu amigo, mas também com a possibilidade de se revoltar contra Ele.
A escolha do ser humano pendeu, infelizmente, para essa segunda possibilidade. Em vez de acolher a vocação de ser amigo de Deus, de ser Deus em comunhão com Deus, preferiu buscar ser deus contra e sem Deus. Aconteceu um rompimento tão profundo que o ser humano não podia nem queria se comunicar com Deus.
Deus, porém, não se deixou vencer pelo pecado. Em sua misericórdia, Ele decidiu recriar a sua obra, não destruindo a primeira, mas resgatando-a do pecado e do mal em que caíra. Para essa nova criação, Deus decidiu tomar um novo tronco genealógico, um novo Adão, seu próprio Filho Jesus Cristo. Tirou o Novo Adão do seio da Virgem Maria, da mesma maneira como tinha tirado o primeiro Adão do seio da terra. A nova criação se realizou por obra do Espírito Santo. O Espírito Santo marca o início de uma nova fase da história da salvação.
Toda a vida de Jesus na terra se desenrola sob a ação do Espírito Santo. Ele guia as escolhas de Jesus; por sua virtude é que Jesus realiza os milagres, as curas e os exorcismos. De fato, no batismo no Jordão, Jesus é consagrado com o Espírito Santo e com o poder (At 10,38) para evangelizar os pobres.
Após o batismo, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto. E Jesus começa a revelar por suas palavras que o Espírito não é uma força anônima de Deus, mas uma pessoa em Deus. Jesus promete aos discípulos que o Espírito será um outro Consolador, que conduzirá os discípulos à verdade plena, que dará testemunho de Jesus neles.
Concluída a sua obra na terra, Jesus é glorificado à direita do Pai. Na terra Jesus deixou a Igreja, formada de onze apóstolos amedrontados. A sua Igreja parece ainda com o corpo inanimado e inerte daquele primeiro homem modelado da terra. E eis que em Pentecostes, o Espírito é soprado neste corpo inanimado, e a Igreja se torna Corpo vivente de Cristo. Pentecoste é o natal da Igreja, como o natal tinha sido o Pentecostes de Jesus! A presença de Maria no Cenáculo serve exatamente para lembrar a ligação estreita entre o natal de Jesus e o natal da Igreja.
O milagre de Pentecostes continua se renovando aqui e neste tempo. Hoje a Igreja continua falando todas as línguas de todos os povos. Ela compreende e valoriza a cultura e o patrimônio de cada povo e de cada etnia, e cada povo compreende seu anúncio de salvação como algo destinado a si.
Supliquemos hoje com fé e com alegria: “Vinde, Espírito Santo! Enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”.
Solenidade de Pentecostes – Jo 20,19-23- Ano B – 19-05-2024.
Sem o “sopro” direto de Deus, só pode existir o caos; se desaparece a Ruah, o universo morre, perde seu impulso de vida, se destrói. Só o alento de Deus oferece vida e ordem em meio ao “caos” presente na realidade.“Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22)
A Bíblia é um livro repleto de Ventos e de Caminhos. Assim são as narrativas de Pentecostes, repletas de caminhos que partem de Jerusalém e plenos de Vento, leve como uma brisa e impetuoso como um furacão.
Por seu sentido etimológico, “espírito” (Ruah, feminino na bíblia hebraica), se refere ao vento, ao ar que impulsiona, ao alento ou à respiração que mantém a vitalidade dinâmica do ser humano. A “Santa Ruah” é um modo de descrever a presença divina que perpassa tudo, energiza toda a Criação, desperta o melhor em cada ser humano; como impulso, dinamismo, força, não pode ser contido nem retido, pois, assim como o vento, não sabemos de onde vem e nem para onde vai.
Desta maneira, a Sagrada Escritura ensina sobre a força, energia e ação vital do Espírito de Deus que é, por essa razão, “santo” e que se derrama sobre a humanidade para que se realize o plano de Deus na história.
O testemunho da revelação bíblica nos fala, portanto, da ação do Espírito num tríplice contexto: o Espírito é “atmosfera de Deus”, onde Deus pode ser encontrado e conhecido; “herança de Jesus”, memória de suas palavras e sinal de sua ação; e “ambiente de realização do ser humano”, porque n’Ele a vida adquire profundidade, consistência, criatividade...
Já no início do Gênesis (1,1), o Deus bíblico se revela “saindo de si”, por pura gratuidade, porque “a Ruah de Deus pairava sobre a superfície das águas”. Derramado sobre a Criação toda, o Espírito Santo permeia tudo que faz parte da realidade, dos eventos históricos e da vida de todos. É o oxigênio do coração.
É o Sopro poderoso de Deus que respira (aspira, inspira, conspira) na vida da humanidade e da Criação.
Sem o “sopro” direto de Deus, só pode existir o caos; se desaparece a Ruah, o universo morre, perde seu impulso de vida, se destrói. Só o alento de Deus oferece vida e ordem em meio ao “caos” presente na realidade. A obra do Espírito não é um ato do passado, própria do Deus antigo que por sua palavra e vontade quis fixar o mundo, mas é uma presença permanente, atravessando toda a realidade e constituindo o “cosmos” (beleza, harmonia, sinfonia).
O mundo fechado em si mesmo carece de ser, perde sua identidade. Existe, mas é distinto de Deus; só pode manter-se e ser em relação com Deus, porque Sua “Ruah” está presente e faz com que o mundo seja habitável e ofereça caminho de vida para o ser humano. Isso significa que, em sentido bíblico, as criaturas do mundo, por si mesmas, carecem de identidade e consistência; elas são, se desenvolvem e existem por força e impulso do Alento de Deus que as sustenta; elas são o que são só por “graça”, por presença pessoal divina.
Tudo se mantém vivo por meio d’Ele. É esse Espírito integrador que harmoniza todo o universo e todo o nosso ser, dando um novo sentido ao nosso existir no mundo, na comunidade cristã.
A festa de Pentecostes vem nos revelar que “Ruah” é fundamental e essencialmente energia pessoal, comunitária e cósmica. É energia de vida (força vital), energia de mudança (força de transformação) e luz para o discernimento.
Como energia vital, o Espírito é o princípio de criação; Espírito é invenção, é fonte de criatividade, de autêntica novidade. Em relação ao velho mundo, a “Ruah” é força que emerge como “renovadora” de todas as coisas.
Por isso o Espírito é origem de surpresa e maravilhamento. Ele realmente opera maravilhas na história humana. É fonte de novas possibilidades dentro do mundo, energia inaugural de novas auroras.
E essa ação do Espírito se manifestou de modo universal e gratuito, suscitou, ao longo da história, pessoas ousadas, palavras desafiantes, caminhos ainda não percorridos, imagens novas. O Espírito insuflou vida em todas as etapas do universo, na evolução dinâmica para o novo.
Como energia de mudança, o Espírito é o grande transformador e revolucionário. Ele faz os ossos secos voltarem à vida (Ez. 37). Ele faz o deserto florescer no direito, na justiça e na paz (Is. 32,15-20). Ele é Aquele que quebra todas as amarras e desbloqueia todos os impasses.
Como luz para o discernimento: dos sete dons prometidos ao Rei messiânico, mais da metade se referem à inteligência (sabedoria, ciência, entendimento e conselho). Pois o Espírito revela o conhecimento profundo do Mistério de Deus e de seu Plano no mundo (1Cor. 2,10-16). Ele dá aquela intuição profunda que permite descobrir os caminhos corretos dentro das ambiguidades da história.
Precisamos do Espírito; d’Ele precisa o nosso pequeno e estagnado mundo; d’Ele precisa a Igreja para que seja guardiã de liberdade e de esperança. O Espírito com os seus dons dá a cada cristão uma genialidade que lhe é própria. E temos extrema necessidade de discípulos(as) de gênio. Ou seja, precisamos que cada um acredite no seu próprio dom, nos próprios recursos, e que coloque a sua própria criatividade e coragem a serviço da vida. A Igreja, como Pentecostes contínuo, é coragem ousada, é inventividade, é poesia criativa, é saída solidária...
Pentecostes se revela também como momento privilegiado para ativar uma diferente perspectiva de visão e de sensibilidade. Há muita carência desse dom da sensibilidade nesse contexto marcado por profundas divisões, ódios, intolerâncias, mentiras... Somente aqueles “que vivem no Espírito” serão capazes de perceber Sua ação original e inspiradora, presente em tantos carismas que tornam a humanidade tão bela, tão interessante, tão divertida, tão inesperada.
Agora é o momento de acabar com todos os medos e inseguranças para viver centrados na confiança. A Igreja inteira é chamada a abrir todas as suas portas e janelas para que o Espírito que recebeu se faça extensivo para todo o mundo e toda a Criação. Tocados pelas “línguas de fogo” do Espírito, os cristãos discernem o que o Pai quer deste mundo e se fazem presentes nele como fermento, como sal, como grão de mostarda, como grão de trigo, para serem Igreja em missão, em saída, compassiva, generosa, portadora de perdão e cura, de força para os fracos e denúncia para os injustos.
Nós, movidos pelo Espírito que atuava em Jesus, fazendo-nos seus segui-dores(as), precisamos estar vigilantes se não quisermos cair na tentação da indiferença.
Costumeiramente, tendemos ao conformismo. A cultura da indiferença é fortalecida toda vez que deixamos de acreditar que a realidade pode e deve ser diferente. Não podemos nos dar por vencidos acreditando que estamos no fim, que nossas forças já se esgotaram, que não há mais esperança e sentido para lutar.
“Não apagueis o Espírito”, nos diz S. Paulo (1Tes 5,19), ou seja, não extingais a Divina Energia que faz crer, criar e ressuscitar. Cada vez que, ao longo da história, apagamos o fogo do Espírito, é preciso reavivar o braseiro da espiritualidade para além das religiões. Jesus traz o fogo que não destrói, mas que renova: força vivificadora e, ao mesmo tempo, “des-mascaradora” e “dis-cernidora” dos poderes de morte que tentam nos sufocar.
Para meditar na oração:
Depois de ter criado cada ser humano, Deus quebra o molde e lança-o fora. O Espírito nos faz únicos(as) na nossa maneira de amar, na nossa maneira de alimentar esperança; únicos(as) na maneira de consolar e viver os encontros; únicos(as) na maneira de desfrutar a doçura das coisas e a beleza das pessoas...
Esta é precisamente a obra do Espírito: guiar-nos para a “nobre verdade”, escondida no mais profundo de nós mesmos. Ninguém sabe cuidar como cada um(a) sabe; ninguém tem essa alegria de viver como cada um(a) tem; ninguém tem o dom de compreender os fatos como cada um(a) os compreende...
- Certamente, todos temos “Ruah”, alento e vida próprios. Mas nosso alento é vacilante, nossa vida é curta, nossa essência é deficiente, ameaçada pelas limitações e pela morte. Por isso, só somos “Ruah” de verdade, só existimos de maneira profunda, esperançada e criativa quando nos deixamos possuir e transformar pelo Espírito divino.
- Com que intensidade poderemos “dançar e voar”, conduzidos(as) pelo sopro da Ruah?
Pouco a pouco estamos a aprender a viver sem interioridade. Já não necessitamos de estar em contato com o melhor que há dentro de nós. Basta-nos viver ocupados. Contentamo-nos com funcionar sem alma e nos alimentarmos só de bem-estar. Não queremos expor-nos a procurar a verdade. Vem, Espírito Santo, e liberta-nos do vazio interior.
Temos aprendido a viver sem raízes e sem metas. Basta-nos deixarmos programar de fora. Movemo-nos e agitamo-nos sem cessar, mas não sabemos o que queremos nem para onde vamos. Estamos cada vez mais bem informados, mas sentimo-nos mais perdidos que nunca. Vem, Espírito Santo, e liberta-nos da desorientação.
Já só nos interessam as grandes questões da existência. Não nos preocupa ficarmos sem luz para enfrentarmos a vida. Fizemo-nos mais céticos, mas também mais frágeis e inseguros. Queremos ser inteligentes e lúcidos. Mas não encontramos sossego nem paz. Vem, Espírito Santo, e liberta-nos da obscuridade e da confusão interior.
Queremos viver mais, viver melhor, viver mais tempo, mas viver o quê?Queremos sentir-nos bem, sentir-nos melhor, mas sentir o quê? Procuramos desfrutar intensamente da vida, tirar o máximo sumo, mas não nos contentamos só com passar bem. Fazemos o que nos apetece. Não há proibições nem terrenos vedados. Por que queremos algo diferente? Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a viver.
Queremos ser livres e independentes e nos encontramos cada vez mais sós.Necessitamos de viver e nos encerramos no nosso pequeno mundo, por vezes tão aborrecido. Necessitamos de nos sentir queridos e não sabemos criar contatos vivos e amistosos. Ao sexo chamamos «amor», e ao prazer, «felicidade», mas quem saciará a nossa sede? Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a amar.
Na nossa vida já não há sítio para Deus. A Sua presença ficou reprimida ou atrofiada dentro de nós. Cheio de ruídos por dentro já não pode escutar a Sua voz. Focados em mil desejos e sensações, não chegamos a perceber a sua proximidade. Sabemos falar com todos menos com Ele. Temos aprendido a viver de costas ao Mistério. Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a acreditar.
Crentes e não crentes, pouco crentes e maus crentes, assim peregrinamos muitas vezes pela vida. Na festa cristã do Espírito Santo, a todos nos diz Jesus o que um dia disse aos Seus discípulos, exalando sobre eles o Seu alento: «Recebei o Espírito Santo». Esse Espírito que sustém as nossas pobres vidas e alenta a nossa débil fé pode penetrar em nós e reavivar a nossa existência por caminhos que só Ele conhece.
Comentando
1. João 20,19-20: A experiência da ressurreição Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim. Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: “A paz esteja com vocês!” Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado. O Jesus que está conosco na comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com nossa vida. Mas é o mesmo Jesus que viveu nesta terra, e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.
2. João 20,21: O envio: “Como o Pai me enviou, eu envio vocês!” É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: “A paz esteja com vocês!” Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, convivendo felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
3. João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito Santo Jesus soprou e disse: “Recebei o Espírito Santo.” É só mesmo com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Páscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento. Sobre a ação do Espírito, veja o Alargando do 5º Círculo.
4. João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: “Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverem serão retidos!” Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). No Evangelho de Mateus, é dado também a Pedro (Mt 16,19). Aqui se percebe a enorme responsabilidade da comunidade. O texto deixa claro que uma comunidade sem perdão nem reconciliação já não é comunidade cristã.
Alargando – Shalom: a construção da paz
O primeiro encontro entre Jesus ressuscitado e seus discípulos é marcado pela saudação feita por ele: “A paz esteja com vocês!” Por duas vezes Jesus deseja a paz a seus amigos. Esta saudação é muito comum entre os judeus e na Bíblia. Ela aparece quando surge um mensageiro da parte de Deus (Jz 6,23; Tb 12,17). Logo em seguida, Jesus os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Paz, Missão e Espírito! Os três estão juntos. Afinal, construir a paz é a missão dos discípulos e das discípulas de Jesus (Mt 10,13; Lc 10,5). O Reino de Deus, pregado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz (Lc 1,79; 2,14). O Evangelho de João mostra que esta paz, para ser verdadeira, deve ser a paz trazida por Jesus (Jo 14,27). Uma paz diferente da paz construída pelo Império Romano.
Paz na Bíblia (em hebraico é shalom) é uma palavra muito rica, significando uma série de atitudes e desejos do ser humano.
Paz significa integridade da pessoa diante de Deus e dos outros. Significa também uma vida plena, feliz, abundante (Jo 10,10).
Paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da paz” (Jz 6, 24; Rm 15,33). As tribulações promovidas pelo Império Romano vão tentar matar a paz de Deus (Jo 16,33).
É preciso confiar, lutar, trabalhar, perseverar no Espírito para que um dia a paz de Deus triunfe. Neste dia, “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 85,11). Então, como ensina Paulo, “o Reino será justiça, paz e alegria como fruto do Espírito Santo” (Rm 14,17), e “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28)
Mensagem
Que mensagens podemos tirar dessa passagem bíblica?
1. O medo: os discípulos têm medo, eles são fracos, eles se sentem abandonados. As portas estão trancadas. Apesar disso, Jesus se apresenta a eles (v. 19). É, portanto, na humanidade dos discípulos que Cristo se faz presente.
2. A Paz: duas vezes Cristo oferece a sua paz (vv. 19.21). Mas, por que esta insistência? O sentido bíblico da palavra paz não é a ausência de guerra ou de conflitos; é a plenitude de vida que lembra a presença do Ressuscitado (cf. TOB, Lc 1,79 nota J). É, portanto, a sua Vida de Ressuscitado que Cristo dá aos seus discípulos. É uma promessa de Ressurreição também para eles.
3. A Alegria: João sublinha que o Ressuscitado da Páscoa é o Crucificado da Sexta-Feira Santa: “mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20,20a). O evangelista não quer dizer que se trata do cadáver de Jesus reanimado; o Ressuscitado se apresenta como aquele que fica para sempre marcado por sua humanidade, aquele que, pela cruz, testemunhou o Amor infinito de Deus. Do seu lado aberto nasceu a Igreja, ápice do sangue da Vida nova e da água viva do Espírito. Esta é a Alegria pascal experimentada pelos discípulos reunidos na noite da Páscoa.
4. O perdão: o sopro do Cristo sobre os seus discípulos nos remete ao sopro de Deus no Gênesis, sopro que dá a vida ao ser humano. Aqui, o sopro de Cristo significa a Vida nova dada aos discípulos, pelo dom do Espírito Santo, para que advenha um mundo novo. Entretanto, uma coisa é essencial para que nasça esse mundo novo: é o perdão. Deus deve, em primeiro lugar, apagar a nossa história passada, derramando sobre nós o sopro do perdão dos pecados: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,23). Cabe a nós, portanto, fazer nascer esse mundo novo e é com toda a liberdade que nós podemos fazê-lo ou recusá-lo. Que responsabilidade!
"Neste dia, celebramos a festa de Pentecostes. O texto do Evangelho de João nos dá uma descrição desse momento que representa um marco na vida das comunidades do primeiro século. Era o primeiro dia da semana. Uma nova semana começa, um novo tempo começa para a vida da igreja nascente."
Neste dia, celebramos a festa de Pentecostes. O texto do Evangelho de João nos dá uma descrição desse momento que representa um marco na vida das comunidades do primeiro século. Era o primeiro dia da semana. Uma nova semana começa, um novo tempo começa para a vida da igreja nascente. Lembre-se de que o evangelho de João destaca várias semanas: a primeira semana que culmina com o casamento em Caná, a última semana da vida de Jesus com o relato da unção em Betânia, seis dias antes da Páscoa. O capítulo 20 abre uma nova semana, quando Maria Madalena vai ao sepulcro e, a partir desse momento, é o momento de reconhecer Jesus ressuscitado, que aparece à comunidade de diferentes maneiras. Maria Madalena é a protagonista no reconhecimento da presença do Mestre, que a chama pelo nome e corre para anunciar o fato aos discípulos. E então, progressivamente, os discípulos e a comunidade o verão e o reconhecerão, pois estavam com medo, sofrendo com sua ausência e sua perda.
Hoje, o texto nos coloca no fim do "primeiro dia da semana". A comunidade está reunida com as portas fechadas por medo das autoridades judaicas e ali Jesus se faz presente: Jesus entrou. Ele está no meio deles e lhes oferece sua paz. Ele não os abandonou! Ele ainda está no meio deles e o texto nos diz que ele lhes mostra suas mãos e seu lado para confirmar que é ele, o mesmo que foi crucificado e agora está vivo. Ao reconhecê-lo, os discípulos "ficaram contentes por ver o Senhor".
A presença de Jesus Ressuscitado é sempre acompanhada de uma profunda alegria, podemos dizer uma alegria que consola a alma e afasta os medos e a tristeza. Uma vez que ele lhes oferece a sua Paz, acompanhada do envio, o convite a sair para comunicar a novidade de sua presença em nosso meio. Ele lhes dá sua paz, que é uma paz que os consola e os fortalece nas dificuldades pelas quais estão passando.
Jesus soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo”.
No diálogo com Nicodemos, no capítulo - João 3 - Jesus disse: "o vento sopra onde quer e vocês ouvem a sua voz, mas não sabem de onde ele vem nem para onde vai". Nesse momento, Jesus sopra sobre a comunidade reunida e acompanha esse fato dizendo a eles: recebam o Espírito Santo. O envio de Jesus é acompanhado pela presença do Espírito Santo, que os encorajará e sustentará em todos os momentos. Embora, no calendário litúrgico, hoje celebremos a vinda do Espírito Santo, a solenidade de Pentecostes, esse momento marca o início de uma nova realidade que é a consolidação de uma comunidade reunida em torno do Ressuscitado e continuamente animada por seu Espírito. Nessa igreja nascente, o vento soprará, ouviremos sua voz e ele nos levará por caminhos que descobriremos ao caminhar.
Neste momento, no povo do Rio Grande do Sul, é palpitante a dor de tantas famílias que tiveram que deixar suas casas, seus lares construídos com esforço e carinho, deixando para trás grande parte de sua história, de sua vida, de cada pedra construída com esforço. É uma perda difícil de mensurar, ainda mais quando o tempo continua ameaçador. Apesar do clima inclemente, o povo gaúcho está unido, está junto, assim como os discípulos segundo o evangelho. Também como eles, com o medo do futuro e a insegurança que isso traz, em luto pelo que acabaram de perder, a incerteza do futuro, a necessidade de recomeçar... não será a mesma coisa, mas não é possível ficar "dentro", com as portas fechadas. É necessário sair, olhar para frente e começar de novo.
Neste domingo de Pentecostes, Jesus Ressuscitado sopra sobre todos e cada um dos que estão nos abrigos, aqueles que dedicam seu tempo e recursos para ajudar, fortalecer e reconstruir as casas, vilas e cidades que foram devastadas. O conforto de Deus está soprando para encorajar, fortalecer e incentivar a nova vida que está surgindo. No Pentecostes, aqueles que seguiram Jesus estavam unidos, possivelmente apoiando uns aos outros e unindo forças para ver os melhores caminhos a seguir. Da mesma forma, o povo gaúcho, acostumado a se levantar e recomeçar mil vezes, hoje está unido e apoiando uns aos outros, recebendo a força do Espírito que os encoraja a não desistir. Esse vento que sopra como um consolo interior que enche de uma nova paz, que é capaz de despertar a alegria onde parece que só abundam a tristeza e o desânimo. Hoje o Espírito sopra para confortar, fortalecer e encorajar a vida de cada um dos milhares de gaúchos que se unem para reconstruir, ajudando uns aos outros.
Em meio a essa nova comunidade criada pelas enchentes, Jesus Ressuscitado está presente e dá sua paz e seu sopro de vida. Recebemos as palavras do Papa Francisco que diz: “Quero assegurar-lhes minha oração pelo povo do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, atingido por grandes enchentes. Que o Senhor acolha os defuntos e console seus familiares e aqueles que tiveram que deixar suas casas” (cf. Em telefonema a Dom Jaime Spengler, Francisco mostra sua solidariedade diante das enchentes no Brasil).
Pedimos ao Espírito que nos encha de sua graça, que encoraje nossa vida para que também possamos nos alegrar, como diz Francisco na Evangelii Gaudium: "Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria".
Oração
Oração
Ó, vinde, Espírito Criador,
as nossas almas visitai
e enchei os nossos corações
com vossos dons celestiais.
Vós sois chamado o Intercessor
do Deus excelso o dom sem par,
A fonte viva, o fogo, o amor,
A unção divina e salutar.
Sois doador dos sete dons,
e sois poder na mão do Pai,
por Ele prometido a nós,
por nós seus feitos proclamai.
A nossa mente iluminai,
os corações enchei de amor,
nossa fraqueza encorajai,
qual força eterna e protetor.
Nosso inimigo repeli,
e concedei-nos vossa paz;
se pela graça nos guiais,
o mal deixamos para trás.
Ao Pai e ao Filho Salvador
por vós possamos conhecer.
Que procedeis do seu amor
fazei-nos sempre firmes crer.
(Hino da Liturgia das Horas)
Pe Diocese de Joliette, Canadá,
Tradução André Langer.
Domingo de Pentecostes –O Pentecostes é uma festa pascal; ela é o desenvolvimento do mistério da Páscoa. Não é uma festa independente do Espírito Santo; é a festa do Senhor ressuscitado que dá aos discípulos o seu Espírito, que é o Espírito de Deus Pai. É por isso que esta festa se situa, ao mesmo tempo, na noite da Páscoa no evangelho de São João, e 50 dias depois da Páscoa no livro dos Atos dos Apóstolos, inclusive na cruz da Sexta-Feira Santa em todos os evangelistas.
O Pentecostes é uma festa pascal; ela é o desenvolvimento do mistério da Páscoa. Não é uma festa independente do Espírito Santo; é a festa do Senhor ressuscitado que dá aos discípulos o seu Espírito, que é o Espírito de Deus Pai. É por isso que esta festa se situa, ao mesmo tempo, na noite da Páscoa no evangelho de São João, e 50 dias depois da Páscoa no livro dos Atos dos Apóstolos, inclusive na cruz da Sexta-Feira Santa em todos os evangelistas, em particular em João: “Tudo está realizado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19,30).
No mistério pascal, todos os elementos desse mistério – a Morte, a Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes – são tão importantes que os primeiros cristãos fizeram deles acontecimentos distintos separados no tempo: três dias para a Ressurreição, 40 dias para a Ascensão e 50 dias para o Pentecostes. Mas, na realidade, trata-se de um mesmo e único acontecimento teológico que nos fala simultaneamente de Deus, do homem, de Cristo e da Igreja. Não há, portanto, contradições entre os escritos e seus autores; encontramos simplesmente maneiras diferentes de descrever a riqueza do mistério cristão.
Desde o início do tempo pascal, nós lemos os relatos da Páscoa e da Ascensão. Hoje, celebramos o Pentecostes, a festa do Espírito de Cristo, o Espírito de Deus, a festa da Igreja. O que nos dizem os textos bíblicos que a Igreja nos propõe hoje?
Atos dos Apóstolos 2,1-11
Neste texto de Lucas, sobre o dom do Espírito Santo dado aos apóstolos reunidos, o autor não procura descrever um acontecimento material e histórico que aconteceu num dado momento da história da Igreja nascente. O fato de que Lucas tenha escolhido compor seu relato por meio de uma série de alusões ao Antigo Testamento, pode desviar a nossa atenção para uma leitura de tipo histórico, que procurasse determinar como as coisas se passaram. Devemos, ao contrário, compreender as mensagens que Lucas quer dar à sua comunidade sobre o papel e a força do Espírito:
1) O Pentecostes judaico celebrava o dom da Lei ao Povo de Israel, o povo da antiga Aliança. O Pentecostes cristão celebra o dom do Espírito ao novo Povo de Deus, a Igreja, o povo da nova Aliança.
2) Assim como Moisés subiu ao Sinai para dar ao povo a Lei de Deus, Cristo subiu ao céu para derramar o Espírito de Deus, o Espírito da nova Aliança.
3) Assim como para Moisés o barulho do trovão e o fogo das luzes acompanham o dom da Lei de Deus, aqui o barulho, o vento e o fogo acompanham a vinda do Espírito Santo.
4) No Sinai, de acordo com tradições judaicas, Deus propôs os mandamentos nas diversas línguas do mundo, mas apenas Israel os aceitou. No livro dos Atos dos Apóstolos, Deus repara esse fracasso: todas as nações compreendem a linguagem do Espírito: “Cheios de espanto e de admiração, diziam: ‘Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?’” (At 2,7-8)
5) No Antigo Testamento, as 12 tribos de Israel estão reunidas para ouvir Moisés. Aqui, os 12 povos são chamados para ouvir os 12 apóstolos investidos pelo Espírito do Cristo, proclamar as maravilhas de Deus: “todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2,11b)
Em suma, este relato de Lucas é o inverso de Babel, é a abertura à universalidade e o sopro do Espírito da nova Aliança que abole as fronteiras; não há mais exclusão nem rejeição.
1 Cor 12,3b-7.12-13
Os coríntios acreditavam que o dom do Espírito Santo estava reservado a uma elite. Eles só reconheciam sua presença no sensacional, nos cristãos que tinham o dom de falar em línguas e, particularmente, naqueles que eram eloquentes na animação das assembleias. Paulo quer, aqui, restabelecer a realidade do Espírito Santo:
1) Todo fiel que proclamar que “Jesus é o Senhor” (1 Cor 12,3), é habitado pelo Espírito Santo. Portanto, o mais humilde e o menor dos batizados também recebeu o Espírito Santo.
2) O Espírito, o Senhor e Deus são inseparáveis. Sem mesmo chamá-lo pelo nome, Paulo nos fala da Trindade que se dispensa em carismas: dons da graça, mas o Espírito é o mesmo (v. 4), dons dos serviços na Igreja, mas o Senhor é o mesmo (v. 5) e dons das atividades, mas é o mesmo Deus que as realiza (v. 6). O Espírito põe, portanto, todos os fiéis a agir, cada um segundo seus carismas, em vista do bem de todos (v. 7).
3) Esta unidade na diversidade Paulo a exprime através de uma fábula, conhecida na sua época, sobre o corpo e seus membros, para significar que todos os cristãos, em sua diversidade, pertencem ao mesmo corpo, o Corpo do Cristo ressuscitado. Esta pertença transcende as clivagens étnicas: “De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12,13).
João 20,19-23
Para João, é na noite da Páscoa que o Espírito Santo é dado aos discípulos reunidos. Que mensagens podemos tirar dessa passagem bíblica?
1) O medo: os discípulos têm medo, eles são fracos, eles se sentem abandonados. As portas estão trancadas. Apesar disso, Jesus se apresenta a eles (v. 19). É, portanto, na humanidade dos discípulos que Cristo se faz presente.
2) A Paz: duas vezes Cristo oferece a sua paz (vv. 19.21). Mas, por que esta insistência? O sentido bíblico da palavra paz não é a ausência de guerra ou de conflitos; é a plenitude de vida que lembra a presença do Ressuscitado (cf. TOB, Lc 1,79 nota J). É, portanto, a sua Vida de Ressuscitado que Cristo dá aos seus discípulos. É uma promessa de Ressurreição também para eles.
3) A Alegria: João sublinha que o Ressuscitado da Páscoa é o Crucificado da Sexta-Feira Santa: “mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20,20a). O evangelista não quer dizer que se trata do cadáver de Jesus reanimado; o Ressuscitado se apresenta como aquele que fica para sempre marcado por sua humanidade, aquele que, pela cruz, testemunhou o Amor infinito de Deus. Do seu lado aberto nasceu a Igreja, ápice do sangue da Vida nova e da água viva do Espírito. Esta é a Alegria pascal experimentada pelos discípulos reunidos na noite da Páscoa.
4) O perdão: o sopro do Cristo sobre os seus discípulos nos remete ao sopro de Deus no Gênesis, sopro que dá a vida ao ser humano. Aqui, o sopro de Cristo significa a Vida nova dada aos discípulos, pelo dom do Espírito Santo, para que advenha um mundo novo. Entretanto, uma coisa é essencial para que nasça esse mundo novo: é o perdão. Deus deve, em primeiro lugar, apagar a nossa história passada, derramando sobre nós o sopro do perdão dos pecados: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,23). Cabe a nós, portanto, fazer nascer esse mundo novo e é com toda a liberdade que nós podemos fazê-lo ou recusá-lo. Que responsabilidade!
Para terminar, é uma missão que nos é confiada: nós temos a responsabilidade de fazer nascer o mundo novo desejado pelo Cristo da Páscoa. Esta missão é confiada a todos os cristãos em geral e, em particular, aos padres no ministério do perdão.
É, portanto, pela nossa abertura ao outro, pela nossa acolhida da sua diferença que nós testemunhamos o Cristo ressuscitado e que nós trabalhamos para fazer nascer esse mundo novo.
O Espírito que nos habita não é um Espírito de medo que recusaria a novidade; é um Espírito que nos torna capazes de inventar, criar, decifrar, abrir novos caminhos, a fim de permitir às mulheres e aos homens de hoje encontrar e reconhecer o Cristo sempre vivo através dos seus discípulos.
O perdão é fundamental para a recriação do mundo, e o Espírito nos dá a possibilidade de dá-lo ao outro e de recebê-lo do outro, a fim de que nasça esse mundo novo desejado pelo Cristo da Páscoa.
SOLENIDADE DO CICLO DE PENTECOSTES “B”
Primeira leitura (Hb 2,1-11):
A narrativa começa com uma referência ao dia de Pentecostes. É o quinquagésimo dia depois da Páscoa. Um primeiro facto importante a recordar é que a festa de Pentecostes, tanto para a tradição judaica como para a cristã, está intimamente ligada à Páscoa, é o seu ápice ou coroação.
O Antigo Testamento refere-se ao Pentecostes como a Festa das Semanas ou Savuot (cf. Êx 23,16; Lv 23,15-22; Dt 16,9-12), que é celebrada sete semanas ou cinquenta dias após a Páscoa nesta ocasião. da última colheita do ano, a colheita do trigo. Savuot ou Pentecostes fazia parte dos três festivais de peregrinação a Jerusalém junto com a Páscoa e as Tendas ( sucot ). Mais tarde, a liturgia judaica ligou esta festa de Pentecostes ou Savuot à memória da dádiva da Torá ou Lei no Sinai , chamando-a precisamente de festa da "presente da Torá", e durante ela o relato da promulgação do decálogo. foi lido (Ex 19-20) [1] .
Alguns Padres da Igreja desenharam como consequência desta relação entre o Pentecostes judaico e cristão que o Espírito Santo agora se torna a Nova Lei para os cristãos, dando-lhes o conhecimento interior da vontade de Deus e a capacidade de cumpri-la . Est. Tomás de Aquino é desta opinião: “O principal da Lei do Novo Testamento e na qual está toda a sua virtude é a graça do Espírito Santo, que é dada pela fé em Cristo” (ST I-II, q. 106 , a.
O texto diz que todos estavam reunidos num só lugar . Quem são esses “todos” e onde estavam? Temos a resposta em Atos 1,13-14, onde ele nomeia os onze apóstolos e outros discípulos, incluindo Maria, a Mãe de Jesus, que constituiu a primeira comunidade cristã. O «lugar» é o Cenáculo, a «grande sala do andar superior» (cf. Marcos 14, 15) onde Jesus celebrou a Última Ceia com os seus discípulos e onde lhes apareceu depois da sua ressurreição. Agora, o texto, mais do que insistir no lugar físico, quer realçar a atitude interior dos discípulos: intimamente unidos e em oração .
Neste texto, para descrever a presença do Espírito Santo, são utilizadas duas imagens: a tempestade e o fogo . É evidente que São Lucas tem em mente a teofania do Sinai, narrada nos livros do Êxodo ( Ex 19, 16-19) e do Deuteronômio ( Dt 4, 10-12, 36).
A imagem do vento forte deriva da palavra hebraica para Espírito ( ruah ), que significa, precisamente, “vento impetuoso” e nos faz pensar naquilo que move e empurra; além de alterar o ar que você respira.
A outra imagem do Espírito Santo que encontramos é o fogo : “As línguas apareceram-lhes como de fogo (…) e todos ficaram cheios do Espírito Santo” (Hb 2, 3-4). Já no Antigo Testamento, na experiência fundamental do povo do deserto, o fogo representa a santidade divina no seu duplo aspecto, atraente e temível. Mas aqui em Hebreus 2 o fogo do céu que desceu sobre os discípulos reunidos realiza o batismo “no Espírito Santo e no fogo” (Lucas 3:16). Desta forma realiza-se também aquilo que o próprio Jesus anunciou como finalidade de toda a sua missão na terra. Com efeito, ao subir a Jerusalém, declarou aos seus discípulos: «Vim lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso!» ( Lc 12, 49). O Cristo Ressuscitado trouxe o fogo do Espírito Santo à terra.
O que se segue da narração dos Atos, em particular o fenómeno da compreensão apesar da diversidade das línguas, tem como pano de fundo a narrativa da torre de Babel (cf. Gn 11). No caso de Babel, o orgulho dos homens, o seu amor próprio, a sua busca pela fama e pela glória levaram à divisão das línguas com a consequente confusão e falta de comunicação entre os homens e os povos. Por outro lado, o acontecimento de Pentecostes demonstra como, através da obra do Espírito Santo, é possível manter a unidade respeitando a diversidade . Com efeito, ao dizer: «todos os ouvimos proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus» (Hb 2,11), faz-se referência àquela união superior, em Deus, que é fruto do Espírito e nos permite compreender e comunicar-se além das diferenças legítimas.
Como atualização deste texto, é interessante o que diz sobre ele R. Cantalamessa [2] : “Assim entendemos em que consiste a transformação radical que ocorre no Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo. No coração dos apóstolos, Deus tomou o lugar de si mesmo, destruiu a vanglória das suas obras e dos seus projetos e os impeliu a gloriar-se apenas nela e não em si mesmo. Assim o interpretou Santo Agostinho quando disse que Babel. é a cidade construída sobre o amor próprio, enquanto Jerusalém, ou seja, a Igreja, ou a cidade de Deus, é a cidade construída sobre o amor de Deus […] A passagem de Babel ao Pentecostes, ocorrida historicamente de uma vez por todas. e é narrado em Hb 2, deve realizar-se espiritualmente, todos os dias, na nossa vida. Devemos passar continuamente de Babel ao Pentecostes, da mesma forma que é necessário passar continuamente do velho ao novo homem.
Segunda Leitura: 1Cor 12, 3b-7.12-13
São Paulo inicia esta seção com uma afirmação clara: toda confissão de fé no Senhor Jesus é fruto da ação do Espírito . Através desta declaração ele demonstra que a ação do Espírito Santo causa unidade na fé dos crentes . A seguir, procura - mantendo esta unidade na origem - ter em conta a diversidade ao nível dos carismas . Para confirmar esta coexistência da unidade com a diversidade, ele cita dois exemplos: os múltiplos serviços ou ministérios em relação ao único Senhor (v. 5) e as diversas atividades com um só Deus, “que tudo realiza em todos” (v. 6). . Assim, antes de tudo, especifica que os dons visíveis ou manifestos são aqueles que são dados a cada cristão em particular (há dons interiores do Espírito, como a fé e a caridade, que são dados a todos ). Depois diz que a sua finalidade é a utilidade comum , portanto os mesmos carismas tendem então à unidade : “A cada um é dada a manifestação ( phanerosis ) do Espírito para a utilidade comum ( pros to sympheron )” (12,7).
Para exemplificar este ensinamento sobre unidade e diversidade, ele utiliza a comparação do corpo e de seus membros . Esta referência à imagem do corpo para explicar a unidade e a diversidade entre os membros de uma sociedade foi muito difundida no helenismo e, por isso, pensa-se que São Paulo a tirou daí para aplicá-la à Igreja. Esta comparação é válida em relação ao funcionamento da Igreja como corpo social visível. Mas no que segue Paulo deixa claro que a razão da unidade na Igreja se deve a Cristo e ao Espírito Santo. Com efeito, no final do versículo 12 diz: “assim acontece com Cristo”, a quem se aplica então a comparação do corpo. Como diz L. Rivas [3] : “Neste ponto se destaca um ensinamento surpreendente de São Paulo: os cristãos não formam uma unidade apenas porque estão unidos entre si formando uma sociedade, uma comunidade à qual o nome de Igreja ( ekklesía ) . Os cristãos constituem um corpo porque estão unidos a uma pessoa viva, que é o Cristo glorificado. Então, em 12:13, ele explica que todos os cristãos foram batizados ( literalmente “imersos” ) em um Espírito para formar um corpo. Deixa claro que o batismo tem uma conotação eclesial característica : é o sacramento que nos une num único corpo . Não é uma experiência exclusivamente individual do cristão, pois através do batismo se estabelece um vínculo especial entre todos os cristãos que formam um único corpo .
Em suma, a unidade , respeitando a diversidade de carismas e serviços, mantém-se na Igreja graças a uma dupla referência teológica: a sua origem no mesmo Espírito Santo e a sua finalidade ou orientação para o bem comum do único corpo de Cristo.
Evangelho: Jo 20,19-23
Na sua primeira aparição, Jesus Ressuscitado saúda os discípulos dizendo: “A paz esteja convosco!” Mais do que um presságio ou um desejo, trata-se da doação efetiva da paz , de uma presença real da paz como dom escatológico, tal como Jesus havia indicado no seu discurso de despedida: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz, mas não como o mundo o dá” (Jo 14,27).
Esta paz, segundo o pano de fundo do Antigo Testamento ( Shalom ), inclui todos os bens necessários para a vida presente e a plenitude de bens na vida futura. De modo particular, no AT a presença de Deus entre o seu povo é considerada o bem supremo da paz (cf. Lv 26,12; Ez 37,26). Assim, o que no Antigo Testamento era uma promessa, através da morte e ressurreição de Cristo, torna-se realidade, pois para o evangelista João a presença de Jesus ressuscitado entre o seu povo é a fonte e a realidade da paz que está presente. E esta paz não está ligada à sua presença corporal, mas à sua realidade de ser ressuscitado, vitorioso sobre a morte e, portanto, ele lhes dá, junto com a sua paz, o Espírito Santo e o poder de perdoar pecados (20:22-23) . [4]
F. Moloney sustenta que, como falta o verbo na expressão eirênê hymin (“que a paz esteja convosco”), ele deveria ser traduzido como “a paz esteja convosco” no sentido em que Jesus declara que a paz já está presente entre os discípulos. [5] E isto acontece precisamente porque Jesus ressuscitado está presente entre eles. Em suma, agora Jesus ressuscitado, com a plenitude de vida que recebeu do Pai, pode dar ao seu povo a paz que vem do Pai e que lhe permite viver em comunhão com Deus e com os irmãos.
Depois, Jesus mostra-lhes as suas chagas para lhes provar que é o Crucificado que ressuscitou; que é Ele mesmo, mas em um estado diferente.
Em seguida, dê-lhes paz novamente e diga as palavras de envio enquanto faz o gesto de soprar sobre eles. O tema da missão, com diferentes formulações, aparece como constante nas histórias da aparição de Jesus nos evangelhos. Em São João destaca-se que se trata de uma única e mesma missão, que tem origem no Pai que envia o seu Filho Jesus, que agora faz com que os seus discípulos participem dela. Também é comum nos evangelhos unir a missão ao dom do Espírito Santo; mas em São João a doação é feita pessoalmente através do gesto de soprar sobre eles [6] . A respeito deste gesto, alguns estudiosos vêem aqui uma referência ao gesto primordial de Deus na criação do homem (cf. Gn 2,7) [7] . Então o sopro de Jesus é o sinal da nova criação: Jesus glorificado comunica o Espírito que faz renascer o homem (cf. Jo 3, 3-8), permitindo-lhe partilhar a comunhão divina. Além disso, segundo X. León Dufour [8] , aqui está o cumprimento do que foi anunciado por João Batista de que Jesus “devia batizar no Espírito Santo” (Jo 1,32-33); e da aliança definitiva anunciada pelos profetas e caracterizada pela efusão do Espírito (cf. Jr 31,33).
Com este dom do Espírito Santo aos Apóstolos é-lhes também comunicado o poder de perdoar ou reter os pecados e, desta forma, são agora transmissores de vida nova. Além disso, este seria o objetivo da missão: o perdão dos pecados, a misericórdia. A este respeito, I. de la Potterie comenta [9] : «O trabalho que os discípulos deverão realizar será uma continuação do seu próprio. Pois bem, Ele é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1,29), o Filho de Deus que com o seu sangue “nos purifica de todo pecado” (1Jo 1,7). Agora compreende-se ainda melhor a alusão explícita à cruz na nossa perícope: a palavra de Jesus sobre o poder de perdoar os pecados acompanha o gesto com que Ele mostrou as chagas da sua paixão. É como se quisesse fazer compreender aos discípulos que o seu ministério de perdão será a actualização do sacrifício de Cristo e do seu significado soteriológico, uma vez que Jesus, o bom Pastor, “dá a sua vida pelas ovelhas” (cf. 10,15). ).
Algumas reflexões:
P Y Congar[10] apresenta três ideias teológicas fundamentais para o mistério de Pentecostes e que consideramos adequadas para meditar e celebrar esta festa.
Em primeiro lugar , a sua relação com a Páscoa de Jesus: “Jesus Cristo é aquele que nos conquistou o dom do Espírito Santo, através da sua morte e ressurreição. O Pentecostes é fruto da Páscoa”.
A referência cronológica da primeira leitura ao quinquagésimo dia depois da Páscoa, como vimos, confirma esta estreita relação com a Páscoa. O mesmo se pode dizer do Evangelho de João deste domingo onde apresenta a unidade indissolúvel entre a Ressurreição de Jesus e a doação do Espírito Santo aos apóstolos.
Portanto, o Espírito Santo é o Dom dos dons de Jesus Ressuscitado porque com Ele recebemos a paz, a missão, a nova criação, a misericórdia e o perdão dos pecados.
Em segundo lugar , devemos considerar que no Pentecostes tanto o cristão como toda a Igreja recebem a sua lei e a sua alma. O Espírito Santo é a nova Lei entendida como o princípio interno das ações .
Com efeito, quantas vezes nos perguntamos o que é mais decisivo ou importante na vida, o que acontece dentro de nós ou fora de nós. É inegável que o homem é um ser social e comunitário; e vive em um ambiente específico ao qual está necessariamente vinculado. E é saudável que nos conectemos com a realidade que nos rodeia. Mas o motor da nossa vida está dentro de nós; o essencial da nossa vida passa pelo nosso coração ; incluindo a maneira como nos conectamos com a realidade externa. E isso é fundamental porque muitas vezes não conseguiremos mudar a realidade externa, como a pandemia; Mas podemos mudar a nossa atitude interior em relação a esta realidade. E muitas vezes este é o primeiro passo para começar a mudar ou transformar a realidade; ou pelo menos superá-lo.
E este mesmo é o caminho que Deus escolheu para a nossa vida pessoal e eclesial, pois no evangelho o Espírito Santo nos é apresentado como uma fonte de água viva que brota do interior do crente (cf. Jo 7,37- 39); como início de vida nova, de vida interior; como Mestre Interior que virá habitar em nós (cf. Jo 14,23); conduzir-nos-á à verdade plena (cf. Jo 16,13); e nos ensinará e lembrará tudo o que Jesus disse (cf. Jo 14,26). "A presença dele é interior, invisível, mas permanente."
Pensemos na imagem de uma fonte da qual jorra água, enchendo tudo por dentro e transbordando para fora, para compreender a forma como Deus trabalha em nós através do Espírito Santo.
O Espírito Santo é o “doce hóspede da alma” que pode transformar toda a nossa vida. Mas ele faz isso à sua maneira e no seu tempo; "no escuro e em segurança", secretamente. Podemos muito bem dizer que toda a vida do cristão está centrada em apoiar as moções interiores do Espírito Santo, que devem ser discernidas. Ele é o arquiteto da nossa vida cristã.
Agora, para trabalhar, o Espírito Santo precisa que abramos nossos corações para Ele através do desejo; mas existe um risco real de o fecharmos por medo. Como diz R. Cantalamessa: “A primeira condição para receber o Espírito Santo não são os méritos ou as virtudes, mas o desejo, a necessidade vital, a sede. O problema prático, no que diz respeito ao Espírito Santo, está precisamente aqui: temos sede do Espírito Santo , ou temos, pelo contrário, medo dele. Sentimos que, se o Espírito Santo vier, Ele não pode deixar tudo como o encontra na nossa existência.
Diante disso, lembremos que o Espírito Santo vence o medo, substitui o medo pelo amor que nos torna testemunhas.
Em terceiro lugar , no Pentecostes a Igreja inicia a sua marcha missionária . É a partir da transformação interior que o Espírito Santo opera em nós que os cristãos se tornam uma comunidade missionária. Neste sentido é a alma da Igreja onde atua, distribuindo os diversos carismas e serviços; e manter a sua unidade, orientando-os para a busca do bem comum. Pentecostes é, de certo modo, o nascimento da Igreja, que nasce neste dia e é na sua essência missionária. E o Espírito Santo continua a operar esta mesma coisa hoje: “Em todos os batizados, do primeiro ao último, atua a força santificadora do Espírito, impelindo-nos a evangelizar”. (EG 119).
É importante também colocar a acção do Espírito Santo no próprio centro da vida cristã. Certamente tive a experiência de verificar que os meus objectivos e os meus ideais de vida cristã eram demasiado elevados e inatingíveis; Não consegui cumpri-los e desabei, abandonei-os depois de ter lutado um pouco por eles. Ou tendo sentido que as exigências do evangelho excedem em muito as minhas forças, que nem sempre posso amar a todos como Jesus me pede; ou perdoe aqueles que me ofendem setenta vezes sete. E quantas vezes, diante das ameaças da sociedade ou do meu ambiente, o medo me dominou e acabei me trancando, voltando-me amargamente para mim mesmo, virando as costas para tudo e para todos.
Pois bem, este é o resultado irremediável de uma vida cristã vivida sem o Espírito Santo; o que é o mesmo que ter um carro, um carro, sem combustível; ou um relógio sem bateria: não funciona.
Pelo contrário, como disse o Papa Francisco na homilia de 20 de maio de 2018, o Espírito Santo «entra nas situações e transforma-as, muda os corações e muda os acontecimentos .
Mude os corações . Jesus disse aos seus apóstolos: “Recebereis a força do Espírito Santo [...] e sereis minhas testemunhas” ( Atos 1,8). E aconteceu precisamente assim: os discípulos, que no início estavam cheios de medo, barricados com as portas fechadas mesmo depois da ressurreição do Mestre, são transformados pelo Espírito e, como Jesus anuncia no Evangelho de hoje, «dão testemunho de ele." ” (cf. Jo 15,27). Da hesitação tornam-se corajosos e, saindo de Jerusalém, vão até aos confins do mundo. Cheios de medo quando Jesus estava com eles; Eles são corajosos sem ele, porque o Espírito mudou seus corações.
O Espírito liberta os corações fechados pelo medo. Supere a resistência. Para aqueles que se contentam com meias medidas, oferece um impulso à dedicação. Amplie corações estreitos. Incentiva servir aqueles que se acomodam no conforto. Faz andar quem acredita já ter chegado. Faz sonhar aqueles que caem na tibieza. Aqui está a mudança de coração. Muitos prometem períodos de mudança, novos começos, renovações portentosas, mas a experiência ensina que nenhum esforço terreno para mudar as coisas satisfaz plenamente o coração do homem. A mudança do Espírito é diferente: não revoluciona a vida que nos rodeia, mas muda o nosso coração; Não nos liberta repentinamente dos problemas, mas nos liberta interiormente para enfrentá-los; Ele não nos dá tudo de imediato, mas faz-nos caminhar com confiança, garantindo que nunca nos cansamos da vida. O Espírito mantém o coração jovem – aquela juventude renovada. A juventude, apesar de todos os esforços para prolongá-la, mais cedo ou mais tarde passa; Já o Espírito é quem previne o único envelhecimento insalubre, o interno. Como se faz? Renovando o coração, transformando-o de pecador em perdoado. Esta é a grande mudança: de culpados ele nos torna justos e, assim, tudo muda, porque de escravos do pecado nos tornamos livres, de servos a filhos, de descartados a valiosos, de decepcionados a esperançosos. Desta forma, o Espírito Santo faz renascer a alegria, fazer florescer a paz no coração”.
Resumindo: “O Espírito Santo é a melhor de todas as coisas boas. O Espírito Santo é a plenitude daquilo que Deus pode nos dar. O Espírito Santo é a plenitude daquilo que Cristo pode nos dar. O Espírito Santo santifica, fortalece e conforta. Nos encoraja quando estamos apáticos, nos ajuda, nos cura e nos cura. Flexibiliza o que ficou rígido, purifica, ilumina o que está escuro” (P. van Breemen). Portanto, rezemos com todo o coração ardendo de sede por Ele: Vem Espírito Santo!
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Quando o Paráclito vier
Do Pai…
Venha a força do alto
Encoraje nossos corações!
Esvaziar-nos de tudo sem a sua ajuda
Para te dar espaço dentro
É impossível para nós:
Venha nos conhecer!
As promessas do Senhor
Eles são sempre uma estrada aberta,
Conduza-nos suavemente
Compreender é difícil,
O curso foi definido pela Cruz
A ressurreição é esperança
E o objetivo é o céu.
Anuncie-nos a Glória do Senhor
Grave com seu Fogo
Faça nossas palavras ternas
Para anunciar o Evangelho.
Neste mundo tão machucado
Seu hálito saudável chegou
Para fazer tudo novo
E para todo o sempre te louvar. Amém.
[1] Cf. A.-C. Avril-D. La Maisonneuve, Las fiestas judías (Verbo Divino; Estella 1996) 37-46.
[2] El misterio de Pentecostés (Edicep; Valencia 1998) 27-28.
[3] San Pablo y la Iglesia. Ensayo sobre "las eclesiologías" Paulinas (Claretiana; Buenos Aires 2008) 91.
[4] Cf. X. León-Dufour, "Paz" en X. León-Dufour, Vocabulario de Teología Bíblica, Barcelona, 1978; 659.
[5] Cf. F. Moloney, El evangelio de Juan, Estella, Verbo Divino 2005; 516.
[6] Cf. G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 490.
[7] Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan. Introducción. Teología. Comentario (Buenos Aires 2005) 530.
[8] Cf. Lectura del evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV, Salamanca, Sígueme 1998; 193.
[9] Genesi della fede pasquale secondo Giovanni 20, 206; citado en G. Zevini, Evangelio según san Juan, 491.
[10] Y. –M. Congar, Pentecostés (Estela; Barcelona 1966).