11/05/2025
Primeira Leitura: Atos 13, 14.43-52
Salmo Responsorial: 99(100)-R- Sabei que o Senhor, só ele, é Deus, nós somos seu povo e seu rebanho.
Segunda Leitura: Apocalipse 7,9.14b-17
Evangelho: João 10,27-30
Naquele tempo, disse Jesus:
27As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. 29Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos um.' Palavra da Salvação.
Jo 10,27-30
Jesus revela a sua verdadeira identidade. Há muito tempo os adversários de Jesus queriam uma resposta clara: Ele é ou não o Messias?
Os adversários de Jesus têm finalmente a oportunidade de por Jesus contra a parede para exigir com a máxima clareza a resposta decisiva: “Até quando nos deixarás em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente” (10,24).
Sabemos que Jesus é de fato o Messias, mas uma resposta semelhante poderia ser mal-entendida. A figura do Messias estava muito contaminada com elementos políticos que contradiziam a própria identidade de Jesus.
Jesus responde que já respondeu a essa pergunta. Já respondeu claramente tanto através das palavras quanto das suas obras. Ele é, de fato, o Messias; um Messias não conforme as pessoas imaginam. Jesus é muito mais do que as pessoas pensam sobre o Messias. Por isso, para acolher o mistério da missão e da identidade de Jesus é preciso a abertura da fé. Sem abertura da fé é impossível entender quem é Jesus e, mais ainda, aceitar a salvação que Ele traz.
Os adversários reclamam que Jesus os deixa em suspenso. O problema, porém, não está nas declarações e naquilo que Jesus afirma de si mesmo. O verdadeiro problema está nos adversários, que não querem acreditar. E não querem acreditar porque não pertencem a Jesus, porque não são seus, porque não pertencem às suas ovelhas.
Ao contrário, quando pertencemos a Jesus pela fé, nós podemos ouvir a sua voz: “As minhas ovelhas escutam a minha voz”. Ninguém pode compreender outra pessoa se não tiver por ela alguma simpatia. Para entender o universo das coisas, a suspeita é o método mais seguro: “não acredite em nada até que seja provado e comprovado”. Toda ideia é culpada até que se prove o contrário. Para conhecer as pessoas, porém, o caminho é o oposto: confiança, abertura, fé (uma espécie de demissão da razão). É impossível qualquer relação pessoal sem que tenhamos essas disposições. Se partimos da suspeita sistemática nunca chegaremos a entrar no coração do outro.
É isso o que Jesus nos ensina: todo aquele que busca conhecer Jesus acaba por acreditar e aderir ao testemunho que Ele dá de si mesmo. Sem o mínimo de simpatia inicial, não é possível relacionamento pessoal algum. Sem uma abertura inicial de busca, a fé não é acolhida. Se permanecemos apegados aos nossos preconceitos e aos nossos pressupostos excludentes, não poderemos conhecer realmente Jesus.
A partir dessa abertura inicial de fé, Jesus propõe a nós que façamos análise pormenorizada das suas obras para descobrirmos a unidade entre Jesus e o Pai. “Eu e o Pai somos um”. A unidade do Pai e do Filho é uma unidade de amor e de obediência. Descobrimos isso observando as obras de Jesus. O Pai dá ao Filho as ovelhas, e o Filho não permite que ninguém as tire de suas mãos da mesma maneira que ninguém pode arrebatar as ovelhas das mãos do Pai. Mais ainda: o Filho dá a vida eterna às ovelhas, por isso, elas jamais se perderão.
A mão indica a força, o poder, a capacidade de agir. A mão de Jesus – que é a mesma do Pai – defende as ovelhas, as liberta e lhes dá a vida que nada e ninguém fora dele pode dar: a vida eterna.
As mãos de Jesus foram pregadas na cruz. As marcas dos pregos são eternizadas no corpo glorioso! Não são mãos impotentes: são onipotentes no amor.
Eu e o Pai somos um. O plural “somos” mantém a distinção das pessoas, enquanto o singular “um” afirma a unidade das pessoas. Temos aqui o cume da revelação de Jesus. Pai e Filho são plena comunhão de amor, um único ser, um único agir, um único amor.
“As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27)
Todo quarto domingo de Páscoa é dedicado ao tema do “Bom Pastor”; embora não tenhamos mais relatos que falem de “aparições do Ressuscitado”, o evangelho deste dia deixa ressoar a voz d’Aquele que vive: “Eu lhes dou a vida eterna”. O tempo pascal é fonte de vida e vida em crescente amplitude.
Nesse sentido, a experiência pascal é uma verdadeira “escola de vida”, cuja aprendizagem nos conduz ao centro de nosso ser, para enraizar nossa vida no coração do Ressuscitado, dele haurir a seiva da vida divina e deixar-nos plenificar pela graça transbordante de Deus. Tomamos consciência de uma dimensão profunda que nos permite experimentar uma outra vida, que supera tudo o que vivemos até então.
A vida, desde o mais íntimo de cada ser humano, deseja ser despertada e vivenciada em plenitude. Vida plena prometida por Jesus.
Enquanto “experiência profunda”, o tempo pascal visa despertar nossa vida interior, redescobrindo nossa verdadeira riqueza; ao mesmo tempo, ensina-nos a gerar vida, a partir do “eu profundo”, fazendo-nos viver extasiados diante da gratuidade do amor divino, revelado na Ressurreição de Jesus.
A imagem do Pastor e das ovelhas nem sempre foi bem compreendida; em primeiro lugar, nossa cultura urbana está muito distante da cultura pastoril daquele tempo; em segundo lugar, há uma resistência velada quando se fala de “ovelha” e “pastor”, pois dá a impressão de negar a autonomia e autoria da própria vida.
Além disso, esta imagem tem sido aproveitada por muitas “autoridades religiosas” para justificar o poder religioso, controlar e manipular consciências, gerando, na vida cristã, submissão, subserviência, infantilismo e atrofia da própria autonomia. Ser “pastor” não significa “ter poder”, domínio ou imposição sobre os outros. O próprio Jesus se esvaziou de todo poder e combateu com rigor a tendência dos seus discípulos de aspirar poder e prestígio. Ele fundou uma comunidade de amigos e amigas, centrada na vida d’Ele, e entre amigos não há poder ou controle. Na Igreja não pode haver “pastores” que dominem sobre o rebanho, mas líderes servidores, pessoas que animem e deem testemunho, que impulsionem e abram caminhos, buscadores da verdade, fomentadores da vida. O decisivo é pastorear amando.
No centro da vida cristã está Aquele que se revela como o verdadeiro Pastor, porque desperta e ativa a vida dos seus seguidores e seguidoras. Inspirados pela vida oblativa do Pastor Ressuscitado, todos nós devemos deixar emergir a força do amor e do cuidado na relação com todas as pessoas. Nada mais contrário à imagem do Bom Pastor do que hierarquias petrificadas, busca de poder e prestígio que desumanizam, atitudes egocentradas que matam o espírito de iniciativa das comunidades cristãs.
Por isso, o evangelho deste domingo insiste na atitude que deve ser comum a todos, independente dos diferentes ministérios na Igreja: “As minhas ovelhas escutam a minha voz”.
Segundo os antigos, “fides ex auditu”, a fé vem pelo ouvido e, por isso, Jesus nos convida a aguçar a nossa escuta: “Quem tem ouvidos para ouvir que ouça!”.
Na Sagrada Escritura, o exercício do ouvido, a escuta, é prerrogativa tanto de Deus como do ser humano.
O próprio Deus deixa-se perceber pelo ouvido; faz-se “audível” para o ser humano. É Deus mesmo que abre cada manhã os ouvidos dos seus filhos e filhas e os torna atentos(as) para a escuta. Em toda Palavra de Deus existe sempre um dinamismo que nos desnuda e nos traz à nossa verdade original.
Nós cristãos esquecemos que o dever de escutar nos foi dado por Aquele que é o “ouvinte” por excelência, em cuja obra nós somos chamados a colaborar. A escuta é a ocasião para não viver do passado, porque quem escuta de verdade recebe toda palavra como nova e toda música como recém-nascida.
Falamos, falamos demais, mas escutamos e nos escutamos muito pouco. No entanto, temos dois ouvidos e uma só boca, indicando-nos que deveríamos escutar o dobro do que falamos.
A escuta do “Bom Pastor” consiste, em primeiro lugar, escutar-nos a nós mesmos, isto é, o mais profundo e autêntico de nós, fruto da iniciativa criadora e amorosa do Senhor; trata-se daquele lugar e daquela dimensão profunda de nossa vida pessoal onde ressoa aquela Voz inconfundível do Pastor Vivente,
Por isso, não só precisamos aprender a escutar, mas também escutar-nos. Escutar nosso silêncio para poder dialogar com nosso eu profundo, para ver o que há por detrás de nossas palavras, de nossos sentimentos, de nossas atitudes e intenções, de nosso comportamento e vida. É preciso escutar-nos para tentar ir ao coração de nossa verdade, pois, com frequência, repetimos fórmulas vazias, frases ocas, expressões estéreis. Para cultivar o silêncio é imprescindível aprender a calar-nos.
Só poderemos escutar o outro diferente quando nos calamos.
A partir do interior, a atitude de escuta do Mestre se expressa numa atitude de escuta atenta dos outros; a voz do Bom Pastor chega até nós através da voz das pessoas, da criação, da história...
Francesc Torralba assim expressa: “Escutar é um ato de hospitalidade. Consiste em proporcionar um lugar ao outro, em ceder-lhe espaço e um tempo mental e cordial. Escutar é acolher, dar tempo e espaço ao outro, fazer um vazio para que ele permaneça”.
Escutar é um ato de amor, de esvaziamento das próprias ideias e interesses, mas de valorização do outro. Negar a palavra ou a escuta a alguém é ignorá-lo. Saber escutar é o melhor remédio contra a solidão e contra as tensões e conflitos. A melhor atitude para motivar e ajudar uma pessoa é escutá-la. Quando alguém é escutado, ele se sente considerado como pessoa.
Quem não sabe escutar com tempo e paciência, falará sem verdadeiramente “tocar” o outro, sem convencer a si mesmo... Quem crê que seu tempo é muito precioso para ser perdido na “escuta”, não terá tempo para Deus e para o irmão, mas sempre e somente para si mesmo, para suas próprias palavras e preocupações...
No meio da gritaria ensurdecedora do mundo moderno como sintonizar na onda da Voz do Bom Pastor? Como distinguir, no meio de tantas vozes, aquela voz verdadeira que não fala aos ouvidos, e sim aos nossos corações? Jesus não nos pede que sejamos cordeirinhos, mas pessoas adultas e responsáveis por nós mesmos e pelos outros.
Nossa atitude de escuta deve estar antenada na realidade ou nos reduzimos a um mero “ouvir”, sem maiores compromissos. Como ativar uma atitude de escuta, deixando ressoar em nós os clamores que chegam de todos os lados? São diferentes expressões da “voz do Bom Pastor”: o grito da terra e da ecologia, os movimentos de libertação das minorias marginalizadas, as lutas antirracistas, as iniciativas por outra economia e organização social possíveis e que tenha no centro a preocupação pela vida e nas quais as pessoas e o cuidado da Casa Comum estejam em primeiro lugar... A nossa qualidade de escuta está na disponibilidade em fazer do mundo um lugar habitável, sem primeiros nem últimos, segundo o modo de agir de Jesus.
Para meditar na oração:
O Divino Pastor, continuamente vem ao seu encontro e o(a) arranca sua vida dos limites estreitos e atrofiados, expandindo-o(a) em direção a horizontes inspiradores.
Inimiga número um da escuta é a “nomofobia” (dependência excessiva dos meios eletrônicos) que impede a escuta e a comunicação sadia com os outros.
A voz do Pastor não se dirige à multidão anônima, mas é chamado pessoal: cada um tem rosto e nome.
- Que voz você está seguindo?
Outros Comentários do Evangelho
Ministério da palavra na voz das Mulheres
Era inverno, Jesus caminhava pelo pórtico de Salomão, uma das galerias ao ar livre, que rodeava a grande esplanada do Templo. Este pórtico, em particular, era um lugar frequentado por pessoas, pois, aparentemente, estava protegido contra o vento por uma muralha.
Logo, um grupo de judeus corre ao redor de Jesus. O diálogo é tenso. Os judeus perseguem-no com suas perguntas. Jesus critica-os porque eles não aceitam sua mensagem nem sua ação. Em concreto, diz-lhes: “Vós não acreditais porque não sois das minhas ovelhas”. O que significa essa metáfora?
Jesus é muito claro: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz e Eu as conheço; elas me seguem e eu lhes dou a vida eterna”. Jesus não força ninguém. Ele apenas chama. A decisão de segui-lo depende de cada um de nós. Só se o ouvirmos e o seguirmos, estabelecemos com Jesus essa relação que leva à vida eterna.
Nada é tão decisivo para ser cristão como tomar a decisão de viver como seguidor ou seguidora de Jesus. O grande risco dos cristãos foi sempre o de pretender ser, sem seguir a Jesus. De fato, muitos dos que se foram afastando das nossas comunidades são pessoas que ninguém ajudou a tomar a decisão de viver seguindo seus passos.
No entanto, essa é a primeira decisão de um cristão. A decisão que muda tudo, porque é começar a viver de uma nova forma a adesão a Cristo e pertencer à Igreja: encontrar, finalmente, o caminho, a verdade, o sentido e a razão da fé cristã.
E o primeiro para tomar essa decisão é escutar sua chamada. Ninguém se põe a caminho nos passos de Jesus seguindo somente sua própria intuição ou seu desejo de viver um ideal. Começamos a segui-lo quando nos sentimos atraídos e chamados por Cristo. Por isso, a fé não consiste primordialmente em acreditar em algo sobre Jesus, mas em acreditar Nele.
Quando falta o seguimento a Jesus, cuidado e reafirmado uma e outra vez no seu próprio coração e na comunidade crente, nossa fé corre o risco de ficar reduzida a uma aceitação de crenças, uma prática de obrigações religiosas e uma obediência à disciplina da Igreja.
É fácil, então, estabelecer-se na prática religiosa, sem nos deixarmos questionar pelas chamadas que Jesus nos faz desde o Evangelho que escutamos cada domingo. Jesus está dentro dessa religião, mas não nos arrasta para trás dos seus passos. Sem darmos conta, habituamo-nos a viver de forma rotineira e repetitiva. Falta-nos a criatividade, a renovação e a alegria daqueles que vivem esforçando-se por seguir Jesus.
“Naquele tempo, 22Em Jerusalém celebrava-se a festa da Dedicação. Era inverno. 23Jesus andava pelo templo, no pórtico de Salomão. 24Os judeus, então, o rodearam e disseram-lhe: “Até quando nos deixarás em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente!” 25Jesus respondeu: “Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu pai dão testemunho de mim. 26Vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. 27As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28Eu lhes dou a vida eterna. Por isso, elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão. 29Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior do que todos, e ninguém pode arrancá-las da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos um””.
3) Reflexão
Os capítulos 1 a 12 do evangelho de João são chamados “O Livro dos Sinais”. Neles acontece a revelação progressiva do Mistério de Deus em Jesus. Na mesma medida em que Jesus vai fazendo a revelação, crescem a adesão e a oposição a ele de acordo com a visão com que cada um espera a chegada do Messias. Esta maneira de descrever a atividade de Jesus não é só para informar como a adesão a Jesus acontecia naquele tempo, mas também e sobretudo como ela deve acontecer hoje em nós, seus leitores e suas leitoras. Naquele tempo, todos esperavam a chegada do Messias e tinham os seus critérios para poder reconhecê-lo. Queriam que ele fosse do jeito que eles o imaginavam. Mas Jesus não se submete a esta exigência. Ele revela o Pai do jeito que o Pai é e não do jeito que o auditório o gostaria. Ele pede conversão no modo de pensar e de agir. Hoje também, cada um de nós tem os seus gostos e preferências. Às vezes, lemos o evangelho para ver se encontramos nele a confirmação dos nossos desejos. O evangelho de hoje traz uma luz a este respeito.
João 10,22-24: Os Judeus interpelam Jesus. Era frio. Mês de outubro. Festa da dedicação que celebrava a purificação do templo feita por Judas Macabeu (2Mc 4,36.59). Era uma festa bem popular de muitas luzes. Jesus anda na esplanada do Templo, no Pórtico de Salomão. Os judeus o questionam: "Até quando nos irás deixar em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente". Eles querem que Jesus se defina e que eles possam verificar, a partir dos critérios deles, se Jesus é ou não é o Messias. Querem provas. É a atitude de quem se sente dono da situação. Os novatos devem apresentar suas credenciais. Do contrário não terão direito de falar e de atuar.
João 10,25-26: Resposta de Jesus: as obras que faço dão testemunho de mim. A resposta de Jesus é sempre a mesma: "Eu já disse, mas vocês não acreditam em mim. As obras que eu faço em nome do meu Pai, dão testemunho de mim; vocês, porém, não querem acreditar, porque vocês não são minhas ovelhas”. Não se trata de dar provas. Nem adiantaria. Quando uma pessoa não quer aceitar o testemunho de alguém, não há prova que o leve a pensar diferente. O problema de fundo é a abertura desinteressada da pessoa para Deus e para a verdade. Onde houver esta abertura, Jesus é reconhecido pelas suas ovelhas. “Quem é pela verdade escuta minha voz” dirá Jesus mais adiante a Pilatos (Jo 18,37). Esta abertura estava faltando nos fariseus.
João 10,27-28: As minhas ovelhas conhecem minha voz. Jesus retoma a parábola do Bom Pastor que conhece suas ovelhas e é conhecido por elas. Este mútuo entendimento - entre Jesus que vem em nome do Pai e as pessoas que se abrem para a verdade - é fonte de vida eterna. Esta união entre o criador e a criatura através de Jesus supera a ameaça da morte: “Elas jamais perecerão e ninguém as arrebatará de minha mão!” Estão seguras e salvas e, por isso mesmo, em paz e com plena liberdade.
João 10,29-30: Eu e o Pai somos um. Estes dois versículos abordam o mistério da unidade entre Jesus e o Pai: “Meu Pai, que tudo entregou a mim, é maior do que todos. Ninguém pode arrancar coisa alguma da mão do Pai. O Pai e eu somos um”. Esta e várias outras frases nos deixam entrever algo deste mistério maior: “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14,9). “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 10,38). Esta unidade entre Jesus e o Pai não é automática, mas é fruto da obediência: “Eu sempre faço o que o Pai me mostra que é para fazer” (Jo 8,29; 6,38; 17,4). “Meu alimento é fazer a vontade do Pai (Jo 4,34; 5,30). A carta aos hebreus diz que Jesus teve que aprender, através do sofrimento, o que é ser obediente (Hb 5,8). “Ele foi obediente até à morte, e morte de Cruz” (Fl 2,8). A obediência de Jesus não é disciplinar, mas é profética. Ele obedece para ser total transparência e, assim, ser revelação do Pai. Por isso, ele podia dizer: “Eu e o pai somos um!” Foi um longo processo de obediência e de encarnação que durou 33 anos. Começou com o Sim de Maria (Lc 1,38) e terminou com “Tudo está consumado!” (Jo 19,30).
4) Para um confronto pessoal
1) Minha obediência a Deus é disciplinar ou profética? Revelo algo de Deus ou só me preocupa com a minha própria salvação?
2) Jesus não se submeteu às exigências dos que queriam verificar se ele era mesmo o messias. Existe em mim algo desta atitude dominadora e inquisidora dos adversários de Jesus?
Celebramos neste 4º Domingo da Páscoa o Dia do Bom Pastor. Em 1963, ainda em pleno Concílio Vaticano II, Paulo VI institui neste mesmo Domingo o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. São João 10, 27-30
Naquele tempo, disse Jesus: 27«As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-me. 28Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. 29Meu Pai, que me deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos um só»
OLHANDO O CONTEXTO
O texto sobre o qual vamos refletir hoje faz parte do conhecido complexo que trata da relação entre o pastor e o seu rebanho (Jo 10). Busca-se, nesse capítulo, responder à questão: quais são os fundamentos da relação entre Jesus e sua comunidade? O trecho em foco, João 10,27-30, nasce, como tantos outros, do confronto entre Jesus e um grupo de judeus. Discute-se, aqui, como se pode estabelecer uma relação autêntica e duradoura com Deus. Para alguns judeus, o templo é a base desse relacionamento.
O confronto se deu quando Jesus estava no templo por ocasião da Festa da Dedicação ou da Purificação. Essa festa lembrava a purificação do Templo de Jerusalém, na época dos macabeus, três anos após o altar do templo ter sido profanado, ou seja, ter sido usado para oferecer sacrifícios ao Deus maior dos gregos, Zeus. A festa representava, portanto, a expulsão dos elementos estrangeiros do centro religioso da comunidade e a recuperação da identidade judaica baseada na pureza ritual e no exclusivismo étnico e religioso.
O templo era, sem dúvida, um dos mais importantes elementos de agregação da comunidade judaica e, por isso, da preservação da sua identidade. Mas essa identidade estava sendo ameaçada com as afirmações que Jesus fazia sobre si, sobre Deus e sobre a natureza da relação com Deus. Jesus propunha uma relação com Deus, na qual a fé e a confiança são determinantes. Fé e confiança como base de uma relação de amizade sustentável com Deus e entre as pessoas costumam dispensar normas de pureza e ritos estipulados pela Lei. As pessoas que aderiam a essa proposta de Jesus passaram a desconsiderar as tradicionais normas de vida estabelecidas pela centralidade do templo. Isso podia ser entendido como ameaça à identidade de diversos grupos no judaísmo.
Nessa controvérsia acerca dessas duas propostas de viver a fé, o evangelho de João vai insistir que identidade e coesão da comunidade somente são possíveis em torno do projeto e da pessoa de Jesus. A pessoa de Jesus representa, no evangelho, essa nova maneira de construir a relação com Deus baseada na confiança e na amizade e, assim, de criar uma nova identidade que não mais depende das exigências de pureza do templo nem de restrições étnicas e religiosas do judaísmo.
DEGUSTANDO O TEXTO
V. 27: As minhas ovelhas conhecem a minha voz, eu as conheço, e elas me seguem. Conhecer e seguir: esses dois verbos indicam a profundidade da relação entre Jesus e as pessoas que em torno dele se congregam. Conhecer não é apenas algo racional e teórico, mas expressa uma relação existencial, profunda, íntima. Conhecer Jesus significa ter experimentado a presença do Deus que liberta e dá vida plena. Conhecimento baseado na experiência: é isso que dá segurança às pessoas e as impulsiona ao seguimento. Seguir a Jesus significa aderir a seus ensinamentos e suas propostas e ser cúmplice de seu projeto. Aderir a essa proposta de relação de confiança com Deus implica vivê-la. É, portanto, uma decisão pelo discipulado.
V. 28: Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão. Em meio a um ambiente hostil, onde diversas vozes se levantavam para destruir a comunidade que começa a se formar, a pessoa de Jesus oferece segurança. As “ovelhas” ameaçadas pelos que querem dispersá-las podem ter a certeza de que não irão ao “matadouro”, pois Jesus já as conquistou com a sua vida para uma vida em abundância (Jo 10,10). Sua promessa para quem ouvir sua voz e seguir sua proposta é de vida eterna. Num ambiente hostil, a confiança e a fé tornam-se os elementos aglutinadores para os seguidores de Jesus. Fé, confiança e vida solidária dão as forças necessárias para a comunidade continuar resistindo.
V. 29: Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Todas as pessoas que estão coesas e comprometidas em torno de Jesus podem ficar tranquilas e seguras, pois é Ele quem nos protege contra a ameaça de cair em mãos inescrupulosas e escravizadoras. A verdadeira comunidade que segue os princípios de Cristo não poderá ser arrebatada ou destruída, porque Deus é mais forte do que tudo e todos. Outra versão também é possível: Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo. Nesse caso, pensa-se normalmente na autoridade concedida pelo Pai ao filho. Mas talvez seja possível pensar também na comunidade como o maior bem que Jesus recebeu de Deus. Esse bem precioso ficará bem guardado sob a proteção de Deus.
V. 30: Eu e o Pai somos um. Esta é a afirmação que causa grande escândalo entre os judeus e que faz do cristianismo uma fé singular: é na humanidade de Jesus de Nazaré que encontramos Deus em sua concretude e humildade. É na vida, nos ensinamentos, nas ações, no comportamento, na paixão, na morte e na ressurreição de Jesus que Deus se revela aos seres humanos. Em e através de Jesus, Deus se fez presente e se revelou a toda humanidade. Na comunhão dos que buscam uma vida que se assenta na confiança em Deus e na solidariedade entre as pessoas, ele continua a manifestar-se ainda hoje.
AMPLIANDO A MENSAGEM
Ouvir, conhecer, confiar e seguir são atitudes fundamentais para o discipulado. Jesus não é um senhor de escravos, que domina, coloca o cabresto ou prende suas “ovelhas” dentro do curral. Em sua vida mostrou-se como quem está a serviço dos que o seguem, que se interessa pelo bem estar de suas ovelhas, que caminha junto com elas e as conduz “para fora” (Jo 10,3), as conduz em e para a liberdade. A sua relação com as pessoas está baseada na confiança e não na troca de favores ou na manipulação de pessoas em benefício próprio. Em Jesus, o Deus da vida, da misericórdia e da justiça se manifesta e nos convida a segui-lo.
A metáfora das ovelhas representa a vivência coletiva, já que elas não andam sozinhas, mas em grupo. A imagem nos desperta para olharmos para o outro e para a outra. Ela nos convida a romper com o individualismo que nos escraviza. Ela nos chama para a atuação em comunidade, estabelecendo relações de familiaridade, solidariedade e serviço.
Crer é aderir à proposta de Cristo. Isso implica seguimento e compromisso. Talvez a nossa decisão pelo projeto de Jesus possa redundar em conflitos com mentes prontas e tradições estruturadas. Mas para essas pessoas existe a promessa de que não serão afastadas da comunhão com Deus porque estão guardadas em suas mãos.
Minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas me seguem. Eu dou a elas vida eterna, e elas nunca morrerão. Ninguém vai arrancá-las da minha mão. O Pai, que tudo entregou a mim, é maior do que todos. Ninguém pode arrancar coisa alguma da mão do Pai. O Pai e eu somos um.
A festa da Páscoa, sob cuja luz ainda vivemos, prolonga seus ecos para dentro deste domingo, conhecido como o domingo do Bom Pastor, figura na qual se apresenta o Ressuscitado. Para compreender a riqueza do pequeno texto do evangelho de hoje, temos que situá-lo no contexto do capítulo 10 de João.
O evangelista apresenta Jesus passeando pelo templo (23), na festa de sua consagração, quando é abordado pelas autoridades dos judeus, querendo saber se ele é verdadeiramente o Messias. Para responder a essa pergunta, o evangelista volta a usar a alegoria do Bom Pastor com a qual tinha iniciado o capítulo.
Esta vez o que ressalta é a estreita relação entre o Pastor e as ovelhas, entre Jesus e seus discípulos e discípulas: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas me seguem”. O que está na origem é a palavra de Jesus, quem a acolhe, quem experimenta seu amor incondicional, se converte em seu amigo, amiga, seu seguidor/a.
Essa experiência de comunhão que os discípulos vivem com Jesus, desencadeia no seguimento dele, e é nesse seguimento que cresce a amizade e a intimidade com seu Mestre. Como nós podemos viver essa relação com Jesus de Nazaré? O homem de carne e osso, com quem fisicamente se podia falar e a quem se podia escutar, a quem se podia ver e tocar, com quem se podia comer, já não existe; morreu há mais de dois mil anos! No entanto, é possível viver uma relação real hoje, porque assim como é verdade que Jesus morreu, também é certo que ressuscitou. Está vivo!
O bom Pastor é o Ressuscitado: “O Deus da Paz, que ressuscitou a Jesus nosso Senhor, que é o pastor supremo das ovelhas...” (Hb 13, 20) continua fazendo ouvir sua voz, conhecendo por amor a cada um/a, através da ação do Espírito.
Como os primeiros amigos e amigas, cada cristão/ã de hoje e de todos os tempos pode viver uma relação direta, de intercâmbio pessoal, de conhecimento vivo de amor e amizade com Jesus (cfr.Jo 14, 13-15). Não vemos nem escutamos Cristo, mas na fé, sabemos que mais do que nunca está conosco! Iluminados pela sua ressurreição, somos convidados/as a viver como viveu Jesus antes de sua morte, sentindo-O como companhia viva, com quem convivemos e quem nos impulsiona a seguir seus passos no mundo de hoje. Por isso, o seguimento de Jesus não é imitação, senão um estilo de vida que está interiormente impregnado dos sentimentos, pensamentos, atitudes de Jesus.
Essa é a obra do Espírito, que continua cobrindo com sua sombra a história para que homens e mulheres de todos os tempos façam presente, na sua fragilidade, o Emanuel, Deus conosco! Essa é a vida eterna, que o Bom Pastor promete dar a seus amigos/as. É participar, já nesta terra, da comunhão com Ele e com seu Pai, porque aqueles que acolhem sua palavra serão morada do Pai, do Filho e do Espírito!
E essa vida de comunhão é mais forte que qualquer sofrimento, poder, e até da própria morte, como canta o apóstolo em sua carta aos romanos: “quem nos poderá separar do Amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” (Rom 8,35). Cientes desta certeza, os seguidores de Jesus sabiam também, que assumir a causa do Mestre como própria, colocaria em risco sua vida, (Jo 15,18).
E assim, ao longo da história, surgiram diferentes “lobos” para roubar, matar, destruir, e foram milhões as ovelhas que se converteram em pastores porque deram livremente sua vida em fidelidade ao Pai e ao seu projeto, alcançando, assim, para sempre a vida eterna, da qual tinham recebido as primícias nesta terra!
Por isso, não deixa de chamar a atenção que uma das primeiras pinturas cristãs, de que se tem notícia, e que se encontra numa catacumba romana, representa Jesus como o Pastor que carrega sobre seus ombros a ovelha sã e salva. A imagem expressa uma segurança e é garantia de uma alegria que nada, nem as perseguições, nem as maiores calamidades podem afetar.
Cada um/a de nós somos convidados/as a viver esta experiência de comunhão de Jesus com o Pai, a vida eterna. Desse modo, elevemos nosso olhar para Jesus Bom Pastor e deixemos que ele nos carregue sobre seus ombros. Só assim teremos forças para oferecer nossos ombros, nossa vida aos nossos irmãos e irmãs. Só assim seremos pastores como Jesus.
Oração
Renovando nosso seguimento a Jesus rezemos o salmo do Bom Pastor
Salmo 23
O Senhor é o meu pastor. Nada me falta.
Em verdes pastagens me faz repousar;
para fontes tranqüilas me conduz,
restaura minhas forças
Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome.
Embora eu caminhe por um vale tenebroso,
nenhum mal temerei, pois junto a mim estás;
teu bastão e teu cajado me deixam tranqüilo.
Diante de mim preparas a mesa, à frente dos meus opressores;
unges minha cabeça com óleo, e minha taça transborda.
ima felicidade e amor me acompanham todos os dias da minha vida.
Minha morada é a casa do Senhor, por dias sem fim.
AMBIENTE
O capítulo 10 do 4º Evangelho é dedicado à catequese do Bom Pastor. O autor utiliza esta imagem para apresentar uma catequese sobre a missão de Jesus: a obra do “Messias” consiste em conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota a vida em plenitude.
A imagem do Bom Pastor não foi inventada pelo autor do 4º Evangelho. Literariamente falando, este discurso simbólico está construído com materiais provenientes do Antigo Testamento. Em especial, este discurso tem presente Ez 34 onde se encontra a chave para compreender a metáfora do pastor e do rebanho. Falando aos exilados na Babilónia, Ezequiel constata que os líderes de Israel foram, ao longo da história, falsos pastores que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas – diz Ezequiel – o próprio Deus vai, agora, assumir a condução do seu Povo; Ele porá à frente do seu Povo um Bom Pastor (Messias), que o livrará da escravidão e o conduzirá à vida.
A catequese que o 4º Evangelho nos oferece do Bom Pastor sugere que a promessa de Deus afirmada por Ezequiel se cumpre em Jesus.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto acentua, sobretudo, a relação estabelecida entre o Pastor (Cristo) e as ovelhas (os seus discípulos).
A missão desse Pastor (Cristo) é dar vida às ovelhas. Ao longo do Evangelho, João descreve, precisamente, a acção de Jesus como uma recriação e revivificação do homem, no sentido de fazer nascer o Homem Novo (cfr. Jo 3,3.5-6), o homem da vida em plenitude, o homem total, o homem que, seguindo Jesus, se torna “filho de Deus” (cf. Jo 1,12) e que é capaz de oferecer a vida por amor. Os que aceitam a proposta de vida que Jesus lhes faz não se perderão nunca (“nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão” – Jo 10,28), pois a qualidade de vida que Jesus lhes comunica supera a própria morte (cf. Jo 3,16;8,51). O próprio Jesus está disposto a defender os seus até dar a própria vida por eles (cf. Jo 10,11), a fim de que nada nem ninguém (os dirigentes, os que estão interessados em perpetuar mecanismos de egoísmo, de injustiça, de escravidão) possa privar os discípulos dessa vida plena.
As ovelhas (os discípulos), por sua vez, têm de escutar a voz do Pastor e segui-l’O (cf. Jo 10,27). Isto significa que fazer parte do rebanho de Jesus é aderir a Ele, escutar as suas propostas, comprometer-se com Ele e, como Ele, entregar-se sem reservas numa vida de amor e de doação ao Pai e aos homens.
O texto termina com uma referência à identificação plena entre o projeto do Pai e o projeto de Jesus: para ambos, o objetivo é fazer nascer uma nova humanidade. Em Jesus está presente e manifesta-se o plano salvador do Pai de dar vida eterna (vida plena) ao homem; através da ação de Jesus, a obra criadora de Deus atinge o seu ponto culminante.
ATUALIZAÇÃO
Considerar, na atualização da Palavra, os seguintes elementos:
• Na nossa cultura urbana, a imagem do pastor é uma parábola de outras eras, que pouco diz à nossa sensibilidade; em contrapartida, conhecemos bem a figura do líder, do presidente, do chefe: não raras vezes, é alguém que se impõe, que manipula, que arrasta, que exige… Mas o Evangelho que hoje nos é proposto convida-nos a descobrir a figura bíblica do Pastor: uma figura que evoca doação, simplicidade, serviço, dedicação total, amor gratuito. É alguém que é capaz de dar a própria vida para defender das garras das feras as ovelhas que lhe foram confiadas.
• Para os cristãos, o Pastor é Cristo: só Ele nos conduz para as “pastagens verdadeiras”, onde encontramos vida em plenitude. Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que eles receberam essa missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições; mas convém igualmente ter presente que o nosso único Pastor, aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem condições, é Cristo.
• As “ovelhas” do rebanho de Jesus têm de “escutar a voz” do Pastor e segui-lo… Isso significa, concretamente, percorrer o mesmo caminho de Jesus, numa entrega total aos projetos de Deus e numa doação total, de amor e de serviço aos irmãos.
• Como distinguimos a “voz” de Jesus, o nosso Pastor, de outros apelos, de propostas enganadoras, de “cantos de sereia” que não conduzem à vida plena? Através de um confronto permanente com a sua Palavra, através da participação nos sacramentos onde se nos comunica a vida que o Pastor nos oferece e num permanente diálogo íntimo com Ele.
O texto de hoje situa-se no contexto de uma polêmica nos arredores do Templo, entre Jesus a as autoridades judaicas, na ocasião da Festa da Dedicação do Templo. Nos versículos anteriores, as autoridades desafiaram Jesus para que se declarasse abertamente o Messias. Ele respondeu que já tinha mostrado isso muitas vezes, através das suas obras, mas que eles não queriam acreditar, pois não eram as suas ovelhas.
Assim, fica claro que as ovelhas são os discípulos, pois o verdadeiro discípulo ouve a palavra do Senhor e o segue. São conhecidos por Ele - e aqui cumpre lembrar que na linguagem bíblica, a palavra “conhecer” tem conotações mais profundas do que no nosso uso comum. Significa não tanto um saber intelectual, mas uma intimidade profunda do amor. Assim, a bíblia muitas vezes até usa o verbo “conhecer” para significar relação sexual. Assim, Maria questiona o anjo, pois Ela “não conhece” homem (Lc 1, 34). O verdadeiro discípulo é aquele ou aquela que realmente tem um relacionamento de intimidade com Deus e que põe em prática a sua palavra. E quem conhece Jesus, conhece o Pai, pois “o Pai e eu somos um”, como diz Jesus no nosso texto.
O versículo 28 afirma que Jesus dá a vida eterna aos seus seguidores. Esse é um tema típico de João; e, outros textos do evangelho podem nos ajudar a aprofundá-lo. No Último Discurso, Jesus explica em quê consiste a vida eterna: “A vida eterna é esta: que eles conhecem a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17, 3). Mais uma vez, liga o conceito da vida eterna com O de “conhecer”.
Mas em que consiste “conhecer” a Deus?
O profeta Jeremias pode nos esclarecer. Em um trecho onde ele enfrenta o Rei Joaquim e o condena por não pagar os salários dos seus operários na construção do seu palácio, Jeremias diz o seguinte, referindo-se ao falecido rei justo Josias: “Ele julgava com justiça a causa do pobre e do indigente; e tudo corria bem para ele! Isso não é conhecer-me? - oráculo de Javé” (Jr 22, 16). Conhecer Deus não é em primeiro lugar um exercício intelectual, mas uma atitude de vida - a prática da justiça, especialmente em favor do oprimido e fraco. Segundo João, então, a vida eterna é o prêmio de quem pratica a justiça de Deus - proposta dos discípulos de Jesus - e não dos que “sabem” muita coisa sobre Deus, mas que não praticam a justiça - representados no texto de hoje pelas autoridades do templo.O nosso texto nos traz motivo de muita coragem, pois, afirma que ninguém vai arrancar o verdadeiro discípulo da mão de Jesus (v. 28). Mas, também nos desafia para que verifiquemos se somos realmente discípulos verdadeiros, se conhecemos Jesus e o Pai, isto é, se praticamos a justiça do seu projeto. Pois, a prova de ser verdadeiro discípulo está na prática das obras do Pai, e não no conhecimento teórico de religi
1. Introdução
A ligação com o Salmo 23 é fácil, pois até a linguagem apresenta semelhanças (pastor, ovelha). É necessário que tenhamos bem presente o específico do texto da homilia. As analogias não nos devem seduzir. Conhecemos a realidade das comunidades do Apocalipse: perseguição e morte; testemunho vivo da fé em Jesus Cristo. Essa situação traz riscos à fé. Um deles é o fechamento das comunidades sobre si mesmas. A consequência é o autoisolamento, que poderá promover o egoísmo da salvação. A confissão de fé que não buscar transformações na sociedade torna-se irrelevante para a missão de Deus.
O Apocalipse revela uma vivência comunitária aberta e de acolhimento. As comunidades sabem que não são as únicas a resistir contra o Império. Há muitas comunidades que resistem aos poderes ameaçadores da fé em Jesus Cristo. As testemunhas de Jesus Cristo não são proprietárias do agir de Deus no mundo. A marca na testa revela uma opção de vida numa realidade histórica determinada.
O bom pastor conhece suas comunidades. Elas caminham na certeza de que Deus as aceitou como sua propriedade: marca na fronte e a certeza de que nada será capaz de arrancá-las da mão do Bom Pastor. Vejo que as duas comunidades (a do Apocalipse e a do Evangelho de João) são abertas e acolhedoras. Não são monopolizadoras do agir de Deus.
2. Exegese
V. 22 e 23 – Em João 8.59, lemos que Jesus deixou o templo depois da festa dos tabernáculos. Em 10.22-23, encontramos Jesus novamente na região do templo. Veio para participar da festa da reconsagração do templo. Essa festa chama-se egkainia (renovação), em hebraico chanukka = consagração, dedicação. Desde os macabeus, é a festa da purificação e reinauguração do templo em Jerusalém por Judas, o Macabeu, em 164 a.C. Após três anos de profanação por Antíoco IV – Epífanes – (175-164 a.C.), o templo foi rededicado, e a comunidade judaica celebra a festa anualmente no inverno.
V. 24 – Os opositores não permitem nenhuma trégua a Jesus. Exigiam seu posicionamento transparente quanto à sua messianidade. Jesus respondeu com uma descrição de seu relacionamento com o Pai, apontando para o pastor e as ovelhas. A discussão gira em torno da expressão “Filho do Homem”. Levanta-se uma pesada acusação contra Jesus: sua fuga diante da autorrevelação cristológica. Jesus é responsabilizado pelo aumento da tensão entre ele e seus interlocutores.
V. 25 – A comunidade do discípulo amado apresenta-nos o rosto de Jesus com nuanças peculiares. Os redatores de João empregam o verbo apokrinomai (responder) para falar de revelação (3.5; 4.13; 5.17,19) e dos debates com opositores (6.26,29; 10.25).
Jesus afirma que já declarou a sua identidade. Havia, entre o povo, muitas opiniões divergentes a respeito do Messias. Relembremos algumas: alguns esperavam um erudito, profundo conhecedor da lei (Torá); outros esperavam um sumo sacerdote; para outros ainda, um rei, um juiz severo ou um general guerreiro para combater e expulsar os romanos do país. Com a vinda de Jesus nenhuma expectativa se confirmou. Um messias humilde e servidor não fazia parte das expectativas.
A palavra grega Cristo é tradução da palavra hebraica Messias (ungido). Na Bíblia Hebraica e no judaísmo, o Messias é esperado como rei, que trará libertação. Quando isso acontecer, está se corroborando a sua messianidade. A compreensão de Jesus como rei é problemática. Não consigo enxergar em Jesus nenhum vestígio de rei. Reavaliemos esse e outros conceitos que adotamos em nossa caminhada eclesial e pastoral quando nos referimos a Jesus. A ideologia que alimenta as caracterizações das funções de governantes choca-se, frontalmente, com a opção de Deus, concretizada em Jesus Cristo. Conheço os argumentos que defendem títulos para Jesus, que caracterizam a sociedade hierárquica com sua estrutura piramidal. Ressalta-se que Jesus é um rei diferente, inigualável aos reis deste mundo. Introduz-se um jeitinho, não plenamente convincente, para salvar os títulos honoríficos para Jesus. Nossas liturgias e hinos estão carregados com aclamações, derivadas de um contexto sociopolítico, econômico e cultural imperial.
Jesus é o que veio de Deus (v. 28). O Jesus joanino sempre fala do Pai como aquele que o enviara. Ele é o enviado do Pai.
Desde 5.19, Jesus declara, diante dos observadores atentos, que é o Filho (6.40; 8.36) ou o Filho do Homem (6.27,53,62; 8.28). Fala de si mesmo aos judeus com as palavras “Eu sou” (6.28).
O Jesus da comunidade joanina aborda, diante dos opositores, quem ele é: o Messias. Esse testemunho não convenceu seus interlocutores. Não acreditaram que fosse o enviado, o Cristo.
A palavra “obras” abarca todas as facetas do agir de Jesus. O testemunho de Jesus é confrontado com a falta de fé. Essa fé não aceita, não assume e muito menos o reconhece como “Cristo”, o prometido e enviado de Deus. A identificação das obras de Jesus com as de Deus está alicerçada num único fundamento: na unidade do Pai com o Filho (v. 30).
Jesus tem consciência de que sua maneira de ser e agir é uma interpretação de suas obras. Seu trabalho responde por ele: “As obras que faço em nome de meu Pai dão testemunho de mim” (10.25; 10.32; 10.37-38). O evangelho ressalta duas facetas inseparáveis: os sinais e as palavras. Os sinais promovem a abertura de um caminho para a fé. Aqueles que estagnarem sobre os sinais transformam-nos em obstáculos à fé. O procedimento dos fariseus transformou as Escrituras em obstáculos. Da mesma forma, os sinais podem impedir a formação da fé autêntica, confessante no cotidiano da vida.
A segunda faceta do trabalho de Jesus são as palavras. As falas de Jesus são argumentos que querem persuadir os interlocutores. Nas atividades de Jesus, o discurso admoestador e consolador teve um espaço preponderante (17.8; 17.14). Jesus faz uma retrospectiva avaliadora e conclusiva (17.8,14).
V. 26 – Levanta-se aqui a problemática da predestinação. Há ovelhas que não são de Jesus. Elas não podem crer, como também a sua fé não se desenvolve. Estamos diante de uma genuína constatação joanina: o não crente é responsável por sua falta de fé. Ele, no entanto, não consegue fazer sua fé se desenvolver (8.43b; 12.39). Alega-se que essa constatação esteja arraigada em 8.23. Quem é “de baixo” corrobora o poder de baixo. Seu pensar e fazer são inspirados pelo “embaixo”. Aqueles que assim vivem optaram em organizar sua vida em conformidade com a ideologia que prioriza o individualismo, o carreirismo, o egoísmo, a formação piramidal da sociedade... Essa linguagem dualista está a serviço dos defensores da predestinação (17.6-13).
V. 27-29 – Somos incentivados a pensar nas pessoas que irradiam sinais visíveis e identifi cáveis de uma clara opção de fé. As ovelhas escutam a voz de seu pastor (v. 27) e seguem-no (v. 4). O pastor conhece as ovelhas (v. 14 e 29). Ninguém as arrebatará de sua mão (v. 28). A certeza de que ninguém poderá arrebatar as ovelhas da mão do pastor faz-nos enxergar que os v. 28-29 transcendem o conteúdo dos v. 1-18.
V. 28-29 – O v. 28 encerra a mais dinâmica e solidária manifestação de confiança do Evangelho de João. O v. 29 coloca diante de nós um problema de crítica textual. Não vamos resolvê-lo nesta reflexão. A decisão a ser tomada deverá considerar o contexto da comunidade joanina. Aconselho a tradução conhecida. Variantes: “Meu Pai, o que (aquilo que) ele me deu é maior que tudo” ou “Meu Pai, que as deu a mim é maior que tudo”. Esse versículo fundamenta a ilimitada promessa protetora do v. 28. Vejamos facetas específicas quanto ao emprego do verbo didomi (dar). No evangelho e nas cartas, esse verbo revela um conteúdo teológico central. O dar é uma faceta do agir de Deus. A iniciativa é exclusiva de Deus. O Pai doa “tudo” ao Filho. O Filho exemplifica essa opção divina ao mundo (pessoas, humanidade), sobretudo no que tange à “vida” (João 4 e 6). O acento recai sobre a doação do Filho (Jo 3.16). O ser humano é totalmente dependente do doar de Deus (3.27). O verbo didomi é um conceito da comunidade joanina que destaca o “somente a graça”.
V. 30 – Este versículo pode finalizar os v. 26-29 como também os v. 22-25. O v. 30 não é uma formulação isolada. Encontramo-la em todo o Evangelho de João. No Evangelho, aparecem outras formulações, que expressam essa unidade (12.45; 14.9).
3. Meditação
a – Na comunidade do discípulo amado, havia vários conflitos: com o mundo, os judeus, a sinagoga, os discípulos de João(Batista) e outros. Na tradição joanina, o mundo gera conflitos com a comunidade. Concentra-se em si mesmo e, por isso, busca a sua salvação. Às vezes, é identificado com os judeus. É a incompatibilidade entre o enviado do Pai e o mundo. As discussões de Jesus com os judeus revelam um conflito da comunidade joanina depois do ano 70 d.C. O judaísmo aparece no quarto evangelho como um bloco homogêneo. Os sinóticos mostram que antes de 70 o judaísmo era formado por vários grupos: fariseus, saduceus, herodianos, escribas, sacerdotes e outros. A uniformidade caracteriza o judaísmo rabínico.
Nas comunidades de hoje, não há, muitas vezes, clareza quanto ao significado de “mundo” em João. Muitas discussões infrutíferas acontecem por falta de conhecimento. Considero importante clarear esse conceito na comunidade.
b – Caracterizar e destacar algumas facetas do agir de Jesus. A abordagem das obras tem de deixar muito claro que sinais e palavras são inseparáveis. A atuação de Jesus abrange sinais (diaconia) e palavras (pregação, missão). Na atividade de Jesus, o discurso admoestador/questionador, consolador/motivador teve um espaço preponderante.
c – Os sinais promovem a abertura de um caminho para a fé. Podem também ser um obstáculo à fé se ficarmos marcando passo sobre os sinais. Confessamos que a fé é uma dádiva de Deus mediante a ação do Espírito Santo. Dádiva quer ser transformada em ação. O objetivo da fé é sua vivência, sua prática. Confissões de fé que não transformam o status quoservem para o contentamento pessoal. A fé sem prática torna-se irrelevante para o crescimento do reino de Deus.
d – Proponho refletir agora sobre a figura do pastor e das ovelhas. As ovelhas escutam a voz de seu pastor (v. 27). Seguem-no (v. 4). Sugiro fazer uma referência ao shemá – “Ouve, Israel” (Dt 6.4). A LXX emprega o mesmo verbo akouein (ouvir), que também os redatores de João adotaram. Arrisco afirmar que estamos diante da teologia do êxodo. O ouvir de Deus, um convite desafiador para também ouvi-lo. O ouvir significa crer, aceitar e comprometer-se com o projeto de libertação e salvação da humanidade.
O pastor conhece suas ovelhas. Ninguém as arrebatará de sua mão. Sinto-me motivado a sugerir uma avaliação da imagem da comunidade/rebanho de ovelhas. Essa imagem motiva o engajamento da comunidade de Jesus Cristo na realidade em que estamos inseridos? Fazer uma acareação entre as comunidades do Apocalipse e a que é identificada como um rebanho de ovelhas. O povo de Deus, liberto de todas as escravizações, é transformado num rebanho dócil e submisso, sem iniciativa e sem decisão. Não precisa ser assim, mas vejo que a figura do bom pastor e das ovelhas gira em torno de uma concepção idílica de comunidade.
e – O versículo 29 fundamenta a ilimitada promessa protetora do v. 28. Com que direito Jesus tem esse poder abrangente de preservação/proteção? A resposta engloba quatro passos:
– As ovelhas são do Pai. Ele as doou a Jesus. Às ovelhas é facultado, outorgado o direito de vivenciar essa opção do Pai.
– O Pai é maior do que “tudo”. É evidente que se pensa no relacionamento do Pai com o Filho. As ovelhas (comunidade) jamais serão arrancadas da mão protetora do Pai (exemplifi car e concretizar).
– A mão do Pai torna-se concreta e perceptível mediante o agir de Jesus. Percebe-se essa mão protetora no cotidiano da vida (exemplificar e concretizar).
– Ser bom pastor conforme o Bom Pastor é “dar a vida” pelo rebanho. Que significa essa atitude na prática da fé no dia a dia? Engajar-se para que o povo tenha condições dignas de viver. Deus não deseja colher sacrifícios. Portanto sejamos sóbrios quando pregarmos sobre a atitude do bom pastor para não defender, de peito inflado, que o bom pastor entrega sua vida em favor do rebanho/povo.
Deus não quer vidas sacrificadas por ser o Deus apaixonado pela vida. A partir dessa perspectiva, vejo que o pastoreio evangélico é um desafio ao engajamento:
– estímulo à dignidade humana;
– engajamento pela saúde integral;
– convite à vivência da liberdade;
– desafio à participação;
– assumir a própria identidade;
– participar da alegria de um povo.
(se desejar confira com o original em espanhol logo após o texto em português)
QUARTO DOMINGO DO CICLO DE PÁSCOA “C”
Primeira leitura (Hb 13,14.43-52):
Este texto conta-nos alguns acontecimentos da primeira viagem missionária que São Paulo fez na companhia de Barnabé. Estes apóstolos trabalham segundo um “plano pastoral” que responde aos desígnios de Deus e, pelo qual, devem dirigir-se primeiro aos judeus locais no dia do seu encontro, sábado. A eles, em primeiro lugar, é dirigida a Palavra de Deus. Sendo amplamente rejeitados pelos judeus, Paulo e Barnabé recorrem aos pagãos, que aceitam com alegria a Palavra de Deus. Desta forma o Evangelho realiza o seu destino universal, porque o mandato dos Apóstolos é "trazer a salvação até os confins da terra"(Hb 13,47). Este "plano pastoral" baseia-se numa ideia teológica que Paulo desenvolverá na sua carta aos Romanos: "Pois não me envergonho do Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro o judeu e também o grego." (Rm 1,16).
É para notar a centralidade que a Palavra de Deus ou do Senhor tem Nesta narrativa, é falado quatro vezes e duas vezes é apontado que a aceitação da Palavra de Deus pela fé concede “vida eterna”. Portanto "É-nos mostrado que o homem não é salvo automaticamente. Devemos aceitar a palavra de Deus e da Igreja"1.
Segunda leitura (Ap 7,9.14-17):
O texto de hoje, como o do domingo passado, coloca-nos diante da visão da liturgia celeste, com “uma multidão enorme, impossível de contar, composta por pessoas de todas as nações, famílias, povos e línguas. Eles estavam diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos com vestes brancas; eles tinham palmas nas mãos"(7,9). Encontram-se "aquele que está sentado no trono", que é Deus Pai; e o Cordeiro, o Cristo morto e ressuscitado, cujo sangue derramado purificou os eleitos, a multidão dos santos mártires.
A grande notícia está em 7:17 onde diz que o Cordeiro é também o Pastor que conduz às fontes de água da vida e que consola os que sofreram.. Isto não deveria nos surpreender porque a figura do Cordeiro no Apocalipse, que como vimos simboliza o Cristo morto e ressuscitado, tem grande atividade. Na verdade, ele faz a guerra e sai vitorioso (17:14); Ele vai à frente do povo dos eleitos (14,1), é outro Moisés (15,3); recebe a soberania sobre o mundo e o livro dos decretos divinos (5,6-7); exerce julgamento (6:16; 14:10); Ele é rei dos reis e senhor dos senhores (17:14; 19:16); celebrará o banquete de casamento (19:9) e reinará com Deus na nova Jerusalém (22:1-2)2. Aqui Cristo,Venha em carne, ele é o pastor dos redimidos para sempre, aquele que os conduz à fonte da vida, isto é, à intimidade com o Pai, à alegria infinita.”3.
Notemos também que Jesus é apresentado ao mesmo tempo como Cordeiro triunfante e vencedor da morte; e como o verdadeiro pastor do rebanho dos crentes. Creio que podemos muito bem dizer que precisamente porque foi um Cordeiro obediente até ao sacrifício da própria vida, agora ressuscitado ele se torna o verdadeiro Pastor do rebanho.
Evangelho (Jo 10, 27-30):
Os especialistas dividem esta seção do capítulo 10 do evangelho de São João em quatro partes: um discurso sobre o pastor, a porta do curral e as ovelhas (1-6); seguido de três desenvolvimentos do mesmo: por cima da porta (7-10); sobre o pastor (11-18) e sobre as ovelhas. Portanto, os versículos que lemos neste domingo fazem parte do terceiro desenvolvimento em torno do tema ovelhas.
Nos versículos imediatamente anteriores aos que lemos hoje, os judeus pedem a Jesus que diga abertamente se ele é o Messias (cf. 10,24). Jesus responde-lhes que eles não acreditam, embora vejam as obras que ele faz em nome de seu Pai, porque Eles não são suas ovelhas (cf. 10:25-26). Assim, o texto de hoje começa com a descrição de quais são suas ovelhas e como eles se relacionam com Jesus, seu Pastor e Pai.
As ovelhas de Jesus são aquelas que eles ouvem a voz dele (φωνή). Esta característica foi repetida três vezes ao longo deste capítulo (cf. 10.3.4.5.16). Existe uma relação ou vínculo que se estabelece entre o Pastor e as ovelhas através da “voz”. Ele os chama e eles respondem seguindo-o: conhecem a voz do Bom Pastor e o seguem; Eles não irão atrás dos outros porque não reconhecem a sua voz (cf. 10:5). De acordo com F. Moloney4Esta imagem das ovelhas que ouvem a voz do Pastor e o seguem evoca a melhor descrição do verdadeiro crente.
Por sua vez, O Bom Pastor conhece cada uma das suas ovelhas, cuida delas pessoalmente e até dá a vida por elas.. Entre o Pastor e as ovelhas estabelece-se uma relação de conhecimento mútuo comparável ao conhecimento entre o Pai e o Filho.
Ele então diz que o Pastor, Jesus, dá às suas ovelhas a “vida eterna”. Isto está intimamente relacionado com o acima, pois Para o evangelho de João, a vida eterna está no conhecimento do Pai e de seu mensageiro Jesus Cristo (cf. Jo 17,3). Portanto, as ovelhas ao ouvirem a voz de Jesus e segui-lo, ou seja, ao acredite nele, receba pela fé a vida eterna, isto é, o conhecimento do Pai e do Filho. É importante esclarecer que esse conhecimento não é algo meramente intelectual, mas uma participação na comunhão de Amor entre o Pai e o Filho. Jesus, com a sua morte e ressurreição, deu a vida pelas ovelhas; e graças a esta dedicação ele pode dar também a vida eterna às suas ovelhas. Para comunicar esta vida eterna o Verbo de Deus veio ao mundo e, para isso, passou pela morte. Assim, o dom da vida eterna é fruto da Páscoa de Jesus e do amor do Pai: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho único para que todo aquele que nele crê não morresse, mas tivesse a vida eterna." (Jo 3,16).
Por outro lado, observemos, como aponta L. H. Rivas5, que o texto está no presente: "Eu lhes dou a vida eterna" (Eu lhes dou a vida eterna) e deve ser entendido como uma dádiva atual e contínua: “Eu estou te dando a vida eterna“Assim, as ovelhas que estão recebendo esta vida eterna de Jesus nunca perecerão, ou seja, vencerão a morte como o próprio Jesus a conquistou com sua ressurreição.
Resumindo: "Pela fé nos tornamos participantes da vida eterna, ou seja, de uma vida que nunca acaba, que a morte não anula, mas supera todos os obstáculos. Já temos essa vida eterna de agora em diante"6.
Depois o evangelho acrescenta que as ovelhas estão nas mãos de Jesus, sinal de pertencimento que dá segurança: ninguém pode arrancá-los de suas mãos. O versículo seguinte introduz o Pai na relação que Jesus, bom Pastor, tem com as suas ovelhas. O texto afirma que foi o Pai quem os colocou nas mãos de seu Filho (cf. Jo 3,35: “O Pai ama o Filho e colocou tudo em suas mãos"), e que estão ao mesmo tempo nas mãos do Pai, reforçando a pertença a Deus Todo-Poderoso que proporciona total segurança. Pois bem, mas Estamos nas mãos do Pai ou do Filho? Na frase seguinte (10,30) Jesus esclarece que não há contradição porque diz: “Eu e o Pai somos um" (Eu e o pai somos um). Esta expressão resume uma ideia constante do evangelho de João: a unidade de amor e ação entre o Pai e Jesus (cf. 5,17.19.30; 6,38; 8,16.18.26.28; 10,18). Pela fé as ovelhas participam da comunhão entre o Pai e o Filho Jesus, portanto, pertencer a Jesus é pertencer ao Pai.
Algumas reflexões:
O evangelho deste domingo nos apresenta a comunhão íntima e imediata que existe entre o pastor e as ovelhas, entre Jesus e os cristãos. E para descrever essa relação ele usa três verbos: ouvir, conhecer, seguir. A este respeito, o Papa Francisco disse em Rainha do Céu de 8 de maio de 2022: “Primeiro as ovelhas eles ouvem a voz do pastor. A iniciativa vem sempre do Senhor; tudo parte da sua graça: é Ele quem nos chama à comunhão com Ele. Mas esta comunhão nasce se nos abrirmos à escuta; Se permanecermos surdos, ele não poderá nos dar esta comunhão. Aberto à escuta porque ouvir significa disponibilidade, significa docilidade, significa tempo dedicado ao diálogo […] Quanto custa ouvir a si mesmo! Escutem-se até o fim, deixem o outro se expressar, ouçam-se em família, ouçam-se na escola, ouçam-se no trabalho e até na Igreja! Mas para o Senhor acima de tudo é preciso escutar. Ele é a Palavra do Pai e o cristão é filho de ouvir, chamados a viver com a Palavra de Deus ao nosso alcance. Perguntemo-nos hoje se somos filhos da escuta, se encontramos tempo para a Palavra de Deus, se damos espaço e atenção aos nossos irmãos...
A escuta de Jesus torna-se assim o caminho para descobrir que Ele nos conhece. Este é o segundo verbo, que se refere ao bom pastor: Ele saber às suas ovelhas. Mas isto não significa apenas que Ele sabe muitas coisas sobre nós: conhecer no sentido bíblico significa também amar. Significa que o Senhor, ao mesmo tempo que “nos lê por dentro”, nos ama, não nos condena. Se o ouvirmos, descobrimos isto: que o Senhor nos ama. A maneira de descobrir o amor do Senhor é ouvi-lo. Então o relacionamento com Ele não será mais impessoal, frio ou de fachada. Jesus procura uma amizade calorosa, uma confiança, uma intimidade. Ele quer nos dar um conhecimento novo e maravilhoso: o de saber que somos sempre amados por Ele e, portanto, nunca deixados sozinhos. Estando com o bom pastor vive-se a experiência de que fala o Salmo: “Ainda que eu passe por um vale escuro, não temerei mal algum, porque tu vais comigo” (Podemos 23.4). Acima de tudo no sofrimento, no cansaço, nas crises que são trevas: Ele nos sustenta passando por elas conosco. E assim, precisamente nas situações difíceis, podemos descobrir que somos conhecidos e amados pelo Senhor. Perguntemo-nos então: deixo-me conhecer pelo Senhor? Abro espaço para ele em minha vida, levo para ele aquilo pelo que vivo? E, depois de muitas vezes em que experimentei a sua proximidade, a sua compaixão, a sua ternura, que ideia tenho do Senhor? O Senhor está perto, o Senhor é um bom pastor.
Finalmente, o terceiro verbo. As ovelhas que ouvem e sabem que são conhecidas eles continuam: escutam, sentem-se conhecidos pelo Senhor e seguem o Senhor, que é o seu pastor. E quem segue a Cristo, o que faz? Vai aonde Ele vai, pelo mesmo caminho, na mesma direção. Ele vai procurar os que estão perdidos (cf. Lc 15,4), interessa-se por quem está longe, leva a sério as situações de quem sofre, sabe chorar com quem chora, estende a mão ao próximo, carrega-o nos ombros. Eu também? Deixo-me amar por Jesus e, deixando-me amar, passo a amá-lo, a imitá-lo? Que a Virgem Santa nos ajude a ouvir Cristo, a conhecê-lo cada vez mais e a segui-lo no caminho do serviço. Ouça, conheça e siga.
Este é o caminho do cristão, peregrino de fé, amor e esperança. Para o fe entramos em um relacionamento amor com Jesus Cristo e, por Ele, Nele e com Ele, com Deus Pai. De fato, "O que a pessoa de Cristo traz à nossa fé é a presença de Deus sem intermediário. Através Dele, o mistério de Deus opera imediatamente […] Não há dúvida de que para São João, aquela presença divina, de poder e transcendência prodigiosa, escondida, escondida sob a humanidade de Cristo, dá à fé a sua dimensão definitiva, a sua profundidade insondável, tornando-a um mistério adorável e vivificante. Deus prodigiosamente escondido em Cristo e prodigiosamente presente em Cristo: diante deste mistério, a fé de João torna-se luminosa, mas ele também se sente invadido pelo amor... Vá e ame: viva..."7.
E esta relação com Deus começa já nesta vida, mas nunca terminará porque “o seu amor é eterno”. E à fé e ao amor se acrescenta ter esperança cujo objeto é a vida eterna, que Jesus, o Bom Pastor, já nos deu no Batismo, mas que ainda não vivemos em plenitude.
Não é fácil compreender a “vida eterna” de tal forma que seja algo que já vivemos, mas ao mesmo tempo desejamos. O Papa Bento XVI pode ajudar-nos a conseguir isso com a sua encíclica sobre a Esperança: "Quem foi tocado pelo amor começa a intuir o que seria de fato a “vida”. Comecem a compreender o que significa a palavra esperança que encontramos no rito do Batismo: da fé se espera a “vida eterna”, a vida verdadeira que, totalmente e sem ameaças, é simplesmente vida em toda a sua plenitude. Jesus, que disse de si mesmo que veio para que tenhamos vida e a tenhamos em plenitude, em abundância (cf. Jo 10,10), explicou-nos também o que significa «vida»: «Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e o teu mensageiro, Jesus Cristo» (Jo 17,3). A vida no seu verdadeiro sentido não é só para si, nem só para si: é uma relação. E toda a vida é uma relação com quem é a fonte da vida. Se estivermos em relação com Aquele que não morre, que é a própria Vida e o próprio Amor, então estamos na vida. Então nós "vivemos"" (A esperança está salva nº 27). Portanto, A fé nos abre à esperança no amor eterno; A fé em Cristo morto e ressuscitado nos dá a certeza deste amor absoluto e eterno de Deus por nós e nos faz prefigurar a vida eterna.
O Papa Bento XVI também fala aqui de “vida sem ameaças” como vida em plenitude. Nós, pela nossa parte, sentimos que as nossas vidas estão constantemente ameaçadas, hoje mais do que nunca. Neste contexto, é muito consoladora a afirmação que Jesus faz no evangelho de hoje: estamos nas mãos dele, estamos nas mãos do Pai; e de
aqui ninguém pode nos levar embora. É precisamente aqui, nas mãos do Pai e do Filho, que o baptizado encontra a sua pertença definitiva, a sua segurança vital, a sua morada definitiva. Por isso, o evangelho de hoje também nos convida a experimentar a grande paz e serenidade diante da vida que advém de nos conhecermos nas mãos do Pai. Estamos nas suas mãos, não temos nada a temer e nada nos pode faltar. Fé é antes de tudo confiar no abandono em Suas Mãos Divinas.
Se agora nos colocarmos no contexto litúrgico do tempo pascal que nos convida a procurar com fé os “lugares” da presença de Jesus Ressuscitado, devemos afirmar que o nosso Bom Pastor Ressuscitado escolheu e escolhe alguns homens para serem sinais pessoais seus. Esta é a essência da vocação ao sacerdócio ministerial: tornar Jesus Bom Pastor sacramentalmente presente no meio do seu povo. Além disso, ser testemunhas do pastoreio do bom Pastor na própria vida; e encorajar e acompanhar a ação pastoral de Jesus na vida dos demais fiéis.
E, de certa forma, podemos dizer que o próprio Senhor colocou as suas ovelhas nas mãos dos seus pastores para alimentá-las e cuidar delas. Portanto, todos os verbos que descrevem a ação do bom Pastor Ressuscitado – fala, conhece, dá a vida eterna, mantém – deveriam ser as ações dos pastores da Igreja.
Hoje comemoramos o 62º. Dia Mundial de Oração pelas Vocações na qual pedimos ao Senhor esta graça: que os pastores sejam e vivam segundo o seu Coração de Bom Pastor. Sabemos muito bem que o testemunho de uma vida pobre e dedicada ao rebanho, à imagem de Jesus Bom Pastor, é e será sempre a melhor “propaganda” vocacional.
O Papa Francisco escreveu a mensagem para este dia enquanto estava internado no Hospital e deu-a como lema: “Peregrinos da esperança: o dom da vida"E ele nos diz:"Cada vocação, quando percebida profundamente no coração, produz a resposta como um impulso interior em direção ao amor e ao serviço; como fonte de esperança e de caridade, e não como busca de autoafirmação. A vocação e a esperança, portanto, estão entrelaçadas no projeto divino para a alegria de cada homem e de cada mulher, porque todos somos chamados a oferecer a nossa vida pelos outros […]
Cada vocação é animada pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o cristão, a espera é muito mais do que um simples otimismo humano: é sobretudo uma certeza baseada na fé em Deus, que atua na história de cada pessoa. E assim a vocação amadurece na fidelidade quotidiana ao Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço [...]
A Igreja precisa de pastores, religiosos, missionários e casais que saibam dizer “sim” ao Senhor com confiança e esperança. A vocação nunca é um tesouro que fica trancado no coração, mas cresce e se fortalece na comunidade que acredita, ama e espera. E como ninguém pode responder sozinho ao chamado de Deus, todos precisamos da oração e do apoio dos irmãos e irmãs.
Queridos amigos, a Igreja é viva e fecunda quando gera novas vocações. E o mundo, muitas vezes sem o saber, procura testemunhas de esperança, que anunciam com a vida que seguir Cristo é fonte de alegria. Por isso, não nos cansemos de pedir ao Senhor novos trabalhadores para a sua colheita, com a certeza de que Ele continua a chamar com amor.”.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO): eles são
O cordeirinho encontra seu pastor
Caminhe com segurança por planícies e montanhas
Siga seus passos, ouça sua voz
O Pastor que sigo é meu Dono e Senhor
Cordeiro veio primeiro, antes de você e eu
Ele nos chama pelo nome que ele mesmo nos deu
Ele nos alimenta e nos alimenta, ele nos conforta na dor
Ele conhece as nossas fraquezas, amou-nos ao extremo.
Suas ovelhas buscam seu abrigo e calor
Ele os abraça contra o peito.
Eles são acalmados pela batida do seu coração
É assim que ele espera por cada um ao entardecer
Em seu templo ele os reúne e os atrai
Ele lhes mostrou a face do Pai
Ninguém além dele o conhecia
Eles são UM e trinos em seu Espírito de Amor. Amém
CUARTO DOMINGO DE PASCUA CICLO "C"
Primera lectura (He 13,14.43-52):
Este texto nos narra algunos sucesos del primer viaje misionero que San Pablo realiza en compañía de Bernabé. Estos apóstoles obran de acuerdo a un "plan pastoral" que responde a los designios de Dios y, por el cual, deben dirigirse en primer lugar a los judíos del lugar en el día de su reunión, el sábado. A ellos, en primer lugar, es dirigida la Palabra de Dios. Al ser rechazados mayoritariamente por los judíos, Pablo y Bernabé se dirigen a los paganos, quienes aceptan gozosamente la Palabra de Dios. De este modo el Evangelio realiza su destinación universal, por cuanto el mandato de los Apóstoles es "llevar la salvación hasta los confines de la tierra"(He 13,47). Este "plan pastoral" se fundamenta en una idea teológica que Pablo desarrollará en su carta a los Romanos: "Pues no me avergüenzo del Evangelio, que es fuerza de Dios para la salvación de todo el que cree: del judío primeramente y también del griego" (Rom 1,16).
Es para notar la centralidad que tiene la Palabra de Dios o del Señor en esta narración pues se habla de ella cuatro veces y por dos veces se señala que la aceptación de la Palabra de Dios por la fe concede la "vida eterna". Por tanto "se nos muestra que el hombre no se salva automáticamente. Hay que aceptar la palabra de Dios y de la Iglesia"1.
Segunda lectura (Ap 7,9.14-17):
El texto de hoy, al igual que el del domingo pasado, nos coloca ante la visión de la liturgia celestial, con “una enorme muchedumbre, imposible de contar, formada por gente de todas las naciones, familias, pueblos y lenguas. Estaban de pie ante el trono y delante del Cordero, vestidos con túnicas blancas; llevaban palmas en la mano” (7,9). Allí se encuentran "el que está sentado en el trono" que es Dios Padre; y el Cordero, Cristo muerto y resucitado, cuya sangre derramada ha purificado a los elegidos, a la multitud de los santos mártires.
La gran novedad está en 7,17 donde dice que el Cordero es también el Pastor que conduce a las fuentes de agua vida y que consuela a los que sufrieron. Esto no debe sorprendernos porque la figura del Cordero en el Apocalipsis, que como vimos simboliza a Cristo muerto y resucitado, tiene una gran actividad. En efecto, hace la guerra y sale vencedor (17,14); va a la cabeza del pueblo de los elegidos (14,1), es otro Moisés (15,3); recibe la soberanía sobre el mundo y el libro de los decretos divinos (5,6-7); ejerce el juicio (6,16; 14,10); es rey de reyes y señor de señores (17,14; 19,16); celebrará el banquete nupcial (19,9) y reinará con Dios en la nueva Jerusalén (22,1-2)2. Aquí Cristo, “venido en la carne, es el pastor de los redimidos para siempre, el que los conduce a la fuente de la vida, esto es, a la intimidad con el Padre, alegría infinita”3.
Notemos también que Jesús es presentado al mismo tiempo como el Cordero triunfante y vencedor de la muerte; y como el verdadero Pastor del rebaño de los creyentes. Creo que bien podemos decir que justamente porque fue Cordero Obediente hasta el sacrificio de la propia vida, ahora resucitado se convierte en el verdadero Pastor del rebaño.
Evangelio (Jn 10, 27-30):
Los especialistas dividen esta sección del capítulo 10 del evangelio de san Juan en cuatro partes: un discurso sobre el pastor, la puerta del corral y las ovejas (1-6); seguido por tres desarrollos del mismo: sobre la puerta (7-10); sobre el Pastor (11-18) y sobre las ovejas. Por tanto, los versículos que leemos este domingo forman parte del tercer desarrollo en torno al tema de las ovejas.
En los versículos inmediatamente anteriores a los que leemos hoy los judíos le piden a Jesús que diga abiertamente si es el Mesías (cf. 10,24). Jesús les responde que ellos no creen, aunque ven las obras que hace en nombre de su Padre, porque no son de sus ovejas (cf. 10,25- 26). Así, el texto de hoy comienza con la descripción de cuáles son sus ovejas y cómo se relacionan ellas con Jesús, su Pastor, y con el Padre.
Las ovejas de Jesús son las que escuchan su voz (φωνή). Esta característica ha sido repetida tres veces a lo largo de este capítulo (cf. 10,3.4.5.16). Hay una relación o vínculo que se establece entre el Pastor y las ovejas a través de la "voz". Él las llama y ellas le responden con el seguimiento: conocen la voz del Pastor Bueno y van detrás de él; no irán detrás de otros porque no reconocen su voz (cf. 10,5). Según F. Moloney4esta imagen de las ovejas que escuchan la voz del Pastor y lo siguen evoca la mejor descripción del auténtico creyente.
Por su parte, el Pastor Bueno conoce a cada una de sus ovejas, las cuida personalmente y hasta entrega la vida por ellas. Se establece entre Pastor y ovejas una relación de mutuo conocimiento comparable al conocimiento entre el Padre y el Hijo.
Luego dice que el Pastor, Jesús, les da a sus ovejas "vida eterna". Esto está íntimamente relacionado con lo anterior por cuanto para el evangelio de Juan la vida eterna está en el conocimiento del Padre y su enviado Jesucristo (cf. Jn 17,3). Por tanto, las ovejas al escuchar la voz de Jesús y seguirlo, esto es, al creer en Él, reciben por la fe la vida eterna, esto es, el conocimiento del Padre y del Hijo. Importa aclarar que este conocimiento no es algo meramente intelectual, sino una participación en la comunión de Amor entre el Padre y el Hijo. Jesús, con su muerte y resurrección, ha dado su vida por las ovejas; y gracias a esta entrega puede dar también la vida eterna a sus ovejas. Para comunicar esta vida eterna ha venido al mundo el Verbo de Dios y, para ello, ha pasado por la muerte. Así, el don de la vida eterna es fruto de la Pascua de Jesús y del amor del Padre: "Dios amó tanto al mundo, que entregó a su Hijo único para que todo el que cree en él no muera, sino que tenga Vida eterna" (Jn 3,16).
Por otra parte, notemos como bien señala L. H. Rivas5, que el texto está en tiempo presente: "Yo les doy vida eterna" (δίδωμι αὐτοῖς ζωὴν αἰώνιον) y debe entenderse como un don actual y continuo: "yo les estoy dando vida eterna". Así, las ovejas que están recibiendo de Jesús esta vida eterna no perecerán jamás, es decir, vencerán la muerte como Jesús mismo la ha vencido con su resurrección.
En síntesis: "por medio de la fe nos hacemos partícipes de la vida eterna, es decir, de una vida que no acaba nunca, que la muerte no anula, sino que supera todo obstáculo. Esta vida eterna la tenemos ya desde ahora"6.
Luego el evangelio añade que las ovejas están en las manos de Jesús, signo de pertenencia que brinda seguridad: nadie las podrá arrebatar de sus manos. El versículo siguiente introduce al Padre en la relación que Jesús, buen Pastor, tiene con sus ovejas. El texto afirma que es el Padre quien las ha puesto en manos de su Hijo (cf. Jn 3,35: "El Padre ama al Hijo y ha puesto todo en su mano"), y que las mismas están al mismo tiempo en las manos del Padre, reforzando la pertenencia a Dios Todopoderoso que brinda una seguridad total. Bueno, pero ¿estamos en las manos del Padre o del Hijo? En la frase siguiente (10,30) Jesús aclara que no hay contradicción alguna por cuanto dice: "Yo y el Padre somos uno" (ἐγὼ καὶ ὁ πατὴρ ἕν ἐσμεν). Esta expresión resume una idea constante del evangelio de Juan: la unidad de amor y de acción entre el Padre y Jesús (cf. 5,17.19.30; 6,38; 8,16.18.26.28; 10,18). Por la fe las ovejas participan de la comunión entre el Padre y el Hijo Jesús, por tanto, pertenecer a Jesús es pertenecer al Padre.
Algunas reflexiones:
El evangelio de este domingo nos presenta la íntima e inmediata comunión que existe entre el pastor y las ovejas, entre Jesús y los cristianos. Y para describir esta relación utiliza tres verbos: escuchar, conocer, seguir. Al respecto decía el Papa Francisco en el Regina Coeli del 8 de mayo de 2022: “En primer lugar las ovejas escuchan la voz del pastor. La iniciativa viene siempre del Señor; todo parte de su gracia: es Él que nos llama a la comunión con Él. Pero esta comunión nace si nosotros nos abrimos a la escucha; si permanecemos sordos no nos puede dar esta comunión. Abrirse a la escucha porque escuchar significa disponibilidad, significa docilidad, significa tiempo dedicado al diálogo […] ¡Cuánto cuesta escucharse! ¡Escucharse hasta el final, dejar que el otro se exprese, escucharse en familia, escucharse en la escuela, escucharse en el trabajo, e incluso en la Iglesia! Pero para el Señor sobre todo es necesario escuchar. Él es la Palabra del Padre y el cristiano es hijo de la escucha, llamado a vivir con la Palabra de Dios al alcance de la mano. Preguntémonos hoy si somos hijos de la escucha, si encontramos tiempo para la Palabra de Dios, si damos espacio y atención a los hermanos y a las hermanas…
Escuchar a Jesús se convierte así en el camino para descubrir que Él nos conoce. Este es el segundo verbo, que se refiere al buen pastor: Él conoce a sus ovejas. Pero esto no significa solo que sabe muchas cosas sobre nosotros: conocer en sentido bíblico quiere decir también amar. Quiere decir que el Señor, mientras “nos lee dentro”, nos quiere, no nos condena. Si le escuchamos, descubrimos esto, que el Señor nos ama. El camino para descubrir el amor del Señor es escucharlo. Entonces la relación con Él ya no será impersonal, fría o de fachada. Jesús busca una cálida amistad, una confidencia, una intimidad. Quiere donarnos un conocimiento nuevo y maravilloso: el de sabernos siempre amados por Él y por tanto nunca dejados solos a nosotros mismos. Estando con el buen pastor se vive la experiencia de la que habla el Salmo: «Aunque pase por valle tenebroso, ningún mal temeré, porque tú vas conmigo» (Sal 23,4). Sobre todo en los sufrimientos, en las fatigas, en las crisis que son la oscuridad: Él nos sostiene atravesándolas con nosotros. Y así, precisamente en las situaciones difíciles, podemos descubrir que somos conocidos y amados por el Señor. Preguntémonos entonces: ¿yo me dejo conocer por el Señor? ¿Le hago espacio en mi vida, le llevo eso que vivo? Y, después de muchas veces en las que he experimentado su cercanía, su compasión, su ternura, ¿qué idea tengo yo del Señor? El Señor es cercano, el Señor es buen pastor.
Finalmente, el tercer verbo. Las ovejas que escuchan y saben que son conocidas siguen: escuchan, se sienten conocidas por el Señor y siguen al Señor, que es su pastor. Y quien sigue a Cristo, ¿qué hace? Va donde va Él, por el mismo camino, en la misma dirección. Va a buscar a quien está perdido (cfr. Lc 15,4), se interesa por quien está lejos, se toma en serio las situaciones de quien sufre, sabe llorar con quien llora, tiende la mano al prójimo, se lo carga sobre los hombros. ¿Y yo? ¿Me dejo solo amar por Jesús y del dejarse amar paso a amarlo, a imitarlo? Que la Virgen Santa nos ayude a escuchar a Cristo, a conocerlo cada vez más y a seguirlo en el camino del servicio. Escuchar, conocerlo y seguirlo”.
Este es el camino del cristiano, peregrino de la fe, del amor y de la esperanza. Por la fe entramos en una relación de amor con Jesucristo y, por Él, en Él y con Él, con Dios Padre. En efecto, "lo que la persona de Cristo aporta a nuestra fe es la presencia de Dios sin intermediario. A través de Él, el misterio de Dios obra de manera inmediata […] Es indudable que para San Juan, esa divina presencia, de un poder y una trascendencia prodigiosa, oculta, encubierta bajo la humanidad de Cristo, confiere a la fe su dimensión definitiva, su insondable profundidad, haciendo de ella un adorable y vivificante misterio. Dios prodigiosamente oculto en Cristo y prodigiosamente presente en Cristo: ante este misterio, la fe de Juan se hace luminosa, pero además se siente invadida por el amor…Ve y ama: vive…"7.
Y esta relación con Dios comienza ya en esta vida, pero no terminará jamás porque "es eterno su amor". Y a la fe y al amor se suma la esperanza cuyo objeto es la vida eterna, que Jesús Buen Pastor nos ha dado ya en el Bautismo, pero que no vivimos todavía en plenitud.
No es fácil comprender la “vida eterna” de modo que sea algo que ya vivimos pero al mismo tiempo deseamos. A lograr esto puede ayudarnos el Papa Benedicto XVI con su encíclica sobre la Esperanza: "Quien ha sido tocado por el amor empieza a intuir lo que sería propiamente «vida». Empieza a intuir qué quiere decir la palabra esperanza que hemos encontrado en el rito del Bautismo: de la fe se espera la «vida eterna», la vida verdadera que, totalmente y sin amenazas, es sencillamente vida en toda su plenitud. Jesús que dijo de sí mismo que había venido para que nosotros tengamos la vida y la tengamos en plenitud, en abundancia (cf. Jn 10,10), nos explicó también qué significa «vida»: «Ésta es la vida eterna: que te conozcan a ti, único Dios verdadero, y a tu enviado, Jesucristo» (Jn 17,3). La vida en su verdadero sentido no la tiene uno solamente para sí, ni tampoco sólo por sí mismo: es una relación. Y la vida entera es relación con quien es la fuente de la vida. Si estamos en relación con Aquel que no muere, que es la Vida misma y el Amor mismo, entonces estamos en la vida. Entonces «vivimos»" (Spes Salvi nº 27). Por tanto, la fe nos abre a la esperanza en un amor eterno; la fe en Cristo muerto y resucitado nos da la certeza de este amor absoluto y eterno de Dios por nosotros y nos hace pregustar la vida eterna.
El Papa Benedicto XVI habla también aquí de "vida sin amenazas" como la vida en plenitud. Nosotros, por nuestra parte, sentimos que nuestra vida está constantemente amenazada, hoy más que nunca. En este contexto es muy consoladora la afirmación que hace Jesús en el evangelio de hoy: estamos en Sus manos, estamos en las manos del Padre; y de
aquí nadie nos puede arrebatar. Es justamente aquí, en las manos del Padre y del Hijo, donde el bautizado encuentra su pertenencia definitiva, su seguridad vital, su definitivo hogar. Por tanto, el evangelio de hoy nos invita también a experimentar la gran paz y serenidad ante la vida que nos viene de sabernos en las manos del Padre. Estamos en sus manos, nada debemos temer y nada nos puede faltar. La fe es ante todo abandono confiado en sus Divinas Manos.
Si ahora nos ubicamos en el contexto litúrgico del tiempo pascual que nos invita a buscar en la fe los "lugares" de la presencia de Jesús Resucitado, hay que afirmar que nuestro Buen Pastor Resucitado ha elegido y elije algunos hombres para que sean signos personales suyos. Esta es la esencia de la vocación al sacerdocio ministerial: hacer presente sacramentalmente a Jesús Buen Pastor en medio de su pueblo. Más aún, ser testigos del pastoreo del buen Pastor en la propia vida; y fomentar y acompañar la acción pastoral de Jesús en la vida los demás fieles.
Y, en cierto modo, podemos decir que el mismo Señor a puesto en manos de sus pastores a sus propias ovejas para que las apacienten y cuiden. Por eso, todos los verbos que describen la acción del buen Pastor Resucitado – habla, conoce, da la vida eterna, custodia – deberían ser las acciones propias de los pastores de la Iglesia.
Hoy celebramos la 62ª. Jornada Mundial de Oración por las Vocaciones en la cual pedimos al Señor esta gracia: que los pastores sean y vivan según su Corazón de Buen Pastor. Sabemos muy bien que el testimonio de una vida pobre y entregada por el rebaño, a imagen de Jesús Buen Pastor, es y será siempre la mejor “propaganda” vocacional.
El mensaje para esta jornada el Papa Francisco lo escribió estando internado en el Hospital y le puso como lema: “Peregrinos de esperanza: el don de la vida”. Y nos dice: “Toda vocación, cuando se percibe profundamente en el corazón, hace surgir la respuesta como un impulso interior hacia el amor y el servicio; como fuente de esperanza y caridad, y no como una búsqueda de autoafirmación. Vocación y esperanza, por lo tanto, están entrelazadas en el proyecto divino para la alegría de cada hombre y de cada mujer, porque todos estamos llamados a ofrecer nuestra vida por los demás […]
Toda vocación está animada por la esperanza, que se traduce como confianza en la Providencia. En efecto, para el cristiano, esperar es mucho más que un simple optimismo humano: es ante todo una certeza basada en la fe en Dios, que actúa en la historia de cada persona. Y así, la vocación madura en la fidelidad diaria al Evangelio, en la oración, en el discernimiento y en el servicio [...]
La Iglesia necesita pastores, religiosos, misioneros y matrimonios que sepan decir “sí” al Señor con confianza y esperanza. La vocación nunca es un tesoro que se queda encerrado en el corazón, sino que crece y se fortalece en la comunidad que cree, ama y espera. Y dado que nadie puede responder solo a la llamada de Dios, todos necesitamos la oración y el apoyo de los hermanos y hermanas.
Queridos amigos, la Iglesia está viva y es fecunda cuando genera nuevas vocaciones. Y el mundo, muchas veces sin saberlo, busca testigos de esperanza, que anuncien con su vida que seguir a Cristo es fuente de alegría. Por lo tanto, no nos cansemos de pedir al Señor nuevos obreros para su mies, con la certeza de que Él sigue llamando con amor”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE): Ellos son
El pequeño cordero conoce a su Pastor
Anda seguro por llanuras y montes
Sigue sus pasos, escucha su voz
El Pastor que yo sigo es mi Dueño y Señor
Fue primero Cordero, antes que tú y yo
Nos llama por el nombre que él mismo nos dio
Nos apacienta y alimenta, nos consuela en el dolor
Sabe de nuestras flaquezas, hasta el extremo nos amó.
Sus ovejas buscan su abrigo y su calor
El las estrecha contra su pecho
Las calma el latido de su Corazón
Así espera a cada una al caer la tarde
En su templo las reúne y las atrae
Les ha mostrado el rostro del Padre
Nadie más que Él, lo conoció
Ellos son UNO y trino en su Espíritu de Amor. Amén
1 H. U. von Balthasar, Luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 246.
2 Cf. J. Comblin, Cristo en el Apocalipsis (Herder; Barcelona 1966) 57-60.
3 G. Zevini – P. G. Cabra (eds.), Lectio Divina para cada día del año. Vol. 4 (Verbo Divino; Navarra 2002) 214.
4 El evangelio de Juan (Verbo Divino; Estella 2005) 306.
5 Cf. El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 312.
6 Cardenal A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 137.
7 Paul-Marie de la Croix, Testimonio espiritual del evangelio de san Juan (Rialp; Madrid 1966) 336.