14/12/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Isaías 35,1-6a.10
Salmo Responsorial 145(146)-R-Vinde, Senhor, para salvar o vosso povo!
2ª Leitura: Tiago 5,7-10
Evangelho de Mateus 11,2-11
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 2João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos para lhe perguntarem: 3“És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?” 4Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” 7Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. 9Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. 11Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no reino dos céus é maior do que ele”. – Palavra da salvação.
Mt 11,2-11
O Evangelho de hoje é o início da convergência de duas pessoas (João Batista e Jesus). Os dois convergem nas suas missões (a do precursor e a do Messias) e no destino no qual consumam a missão.
João Batista está na prisão. Foi encarcerado porque ele ousou denunciar Herodes Antipas de cometer adultério com a cunhada. Sabemos que, por causa do ódio de Herodíades e a venalidade de Herodes, João Batista será decapitado e sua cabeça será entregue num prato a Herodíades.
João tinha anunciado a vinda do Messias esperado. Mas o que ele ouve falar a respeito de Jesus é muito diferente do que imaginava sobre o Messias. Sabemos que João Batista era um homem austero e que pregava no deserto a conversão urgente e exigente. Ele mesmo tinha avisado: “o machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada ao fogo”. No entanto o modo de agir de Jesus não corresponde à figura de Messias que o Batista imaginava. É por isso que ele envia alguns discípulos para perguntar: “é tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”
A pergunta do Batista é importante para nós. Pois também nós podemos cair na ilusão de ter de Jesus uma imagem que não corresponde ao que Jesus é realmente. É uma tentação muito perigosa, aquela de nos considerarmos conhecedores de Jesus. João Batista teve a humildade de perguntar a Jesus: é tu? Se sim, sou eu que tenho que mudar de mentalidade? Sou eu que tenho que me converter?
Jesus não responde com palavras, mas descrevendo o que ele faz: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. É surpreendente! O que Jesus faz é o cumprimento de Is 35,5-6; 61,1. João Batista conhecia bem esta passagem profética: Jesus é realmente aquele que devia vir!
Jesus, porém, acrescenta: Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim! Muitos se escandalizam com a pregação e a vida de Jesus; escandalizam-se da humildade de Jesus. Gostariam de um Messias mais espetacular e midiático. Ser crucificado e morrer abandonado é um escândalo para os que nutrem sonhos de poder e de dominação.
Depois de se revelar a João, Jesus revela a identidade de João Batista. Ele não é um caniço agitado pelo vento. Era um homem íntegro que não cedeu às ameaças e se mostrou inflexível perante o pecado. Era um homem austero e pobre, porque não lhe importava o conforto, mas somente Deus. Por isso não se vestia com roupas fina, não era um “colarinho branco”. Ele é mais do que um profeta; é o maior de todos os nascidos neste mundo.
A grandeza de João Batista corresponde à sua pequenez: o menor no Reino dos Céus é maior do que ele! Para ser do Reino de Deus é absolutamente necessária uma intervenção de Deus, pois para entrar no Reino são necessários o novo nascimento e o novo ser. E isso ninguém, nem mesmo João Batista é capaz de alcançar somente com suas forças. A afirmação de que João Batista é menor, não tem a finalidade de rebaixá-lo, mas de mostrar a necessidade que todos temos do dom de Deus!
(Artigo publicado em 2019)
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo” (Mt 11,4)
O evangelho de Mateus nos apresenta a chamada “prova messiânica”. João Batista, a partir do cárcere, envia emissários para perguntar a Jesus se é Ele o esperado ou se devem esperar um outro. Jesus não responde com alguns argumentos teológicos, nem com citações bíblicas, ou com alguns dogmas e doutrinas, mas remete os discípulos de João aos puros fatos, que podem ser “vistos e ouvidos”: “os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”.
Estas “obras”, estas boas notícias, são a prova de identidade do Messias; e deverão ser a prova de identidade dos seus seguidores. Só quando nossa vida prolongar e atualizar estas mesmas obras, só quando formos “boa notícia para os pobres” é que estaremos sendo seguidores(as) daquele Messias.
Por que Jesus fala de cegos, surdos, coxos, inválidos, leprosos..., e muitos outros coletivos que continuam sendo marginalizados? O texto quer dizer que a chegada do Reino terá ressonâncias vitais para todos, mas sobretudo para os mais desfavorecidos, que tinham perdido a esperança; quer dizer que aquele que acolhe o Reino, sairá da dinâmica da morte e entrará na dinâmica da vida.
É interessante que, entre os sinais da presença do Messias não há referência a um só sinal “religioso”: nem culto, nem orações, nem sacrifícios, nem doutrinas. Isto nos deve fazer pensar. Nós cristãos, com frequência, nos esquecemos que, para Jesus, o primeiro é o ser humano, a prioridade é a vida.
As “obras” que Jesus realizava, desconcertaram o Batista porque este, em sua pregação junto ao Jordão, o que na realidade anunciava era a chegada de um Messias ameaçante e justiceiro. João Batista, portanto, falava à multidão da “perdição eterna”, na linha do juízo mais severo. Por isso, o Messias viria a este mundo para remediar o problema do “pecado”.
Ainda hoje na Igreja, em muitos ambientes mais fechados e conservadores, prevalece a figura de João Batista, com julgamentos, medos e ameaça do juízo final. Com isso, a religião e suas observâncias deixam de ser fonte de esperança e nos distanciam do compromisso com os “últimos e excluídos”.
Jesus corrige João. Ele não veio para impor medo e anunciar ameaças aos pecadores e às pessoas “perdidas”. Ele veio a este mundo para aliviar o “sofrimento humano”, para incluir quem estava excluído, para ativar a dignidade dos mais carentes, para abrir um horizonte de esperança a todos...
Dito isto, com facilidade compreendemos onde, em quê e como encontramos e vivemos o centro mesmo do Evangelho. O decisivo e determinante, na Igreja e na vida cristã, não é a doutrina, nem as práticas religiosas que alimentam a culpa doentia, nem o legalismo estéril, nem o ritualismo que afasta da vida... Há algo que é mais simples, mais claro e que está ao alcance de todos, a saber: o central e determinante da vida cristã é o compromisso contra todo tipo de sofrimento e contra tudo aquilo que exclui e gera desumanização.
Dito de outra maneira: seguir Jesus é contagiar vida plena e felicidade aos outros. Tanto mais, quanto mais limitadas e desamparadas são as pessoas com as quais convivemos. Somente o “projeto com vida”, que Jesus traçou em seu Evangelho, é a luz e a esperança que tanto aspiramos.
O Advento nos revela que a mística cristã é uma mística de olhos e ouvidos compassivamente abertos. Temos de aguçar a vista e afinar os ouvidos para sermos capazes de contemplar as obras de Deus em favor da vida, que se visibilizam na história da humanidade, sobretudo entre os mais pobres e excluídos.
Este tempo que vivemos e este lugar no qual estamos imersos, requer de nós novos olhos e novos ouvidos para facilitar a convivência, a transformação social e aceitar a nova visão da existência humana.
É preciso sair dos sentidos estreitos, autorreferentes e centrados em nós mesmos..., para os sentidos contemplativos, oblativos, capazes de nos deixar impactar pela realidade e entrar em sintonia com ela, vibrando e nos alegrando com as surpresas que daí brotam.
O tempo do Advento chega ao mais profundo, transforma nosso coração e nossos sentidos, e nos leva a um mundo novo de possibilidades inéditas, descobre e revela o melhor em cada um de nós. Quem se unifica e se dilata em seus sentidos, encontra seu verdadeiro rosto, porque a beleza do rosto é “epifania da pessoa”. O verdadeiro rosto deixa transparecer o coração quando este é carregado de compaixão.
O olhar de Jesus é reflexo do olhar do Pai, pois Ele se fixa sobretudo nas pessoas concretas e, com particular atenção, nos mais pobres e necessitados, aqueles que eram “invisíveis” para a sociedade de seu tempo: os enfermos, as viúvas, as crianças, o estrangeiro...
Estamos vivendo um tempo litúrgico privilegiado onde o trato íntimo com o Senhor nos transforma, nos inspira a assumir suas atitudes profundas e a “cristificar nossos sentidos”, para segui-Lo em sua encarnação no nosso mundo.
Através dos nossos sentidos, o modo de ser e de agir de Jesus entra em nossa intimidade e, por meio deles respondemos também à realidade de um modo novo.
A contemplação do mundo da dor e das sombras de nossa realidade implica uma compreensão responsável que olha, escuta, sente, se encarna e se encarrega das realidades de sofrimento. É uma contemplação que nos enraíza na realidade da exclusão para descobrir como o rosto ferido e maltratado de nosso Deus se transforma em narrações de resistência e esperança para seu povo.
O tempo do Advento também deixa transparecer um grande obstáculo, que acaba reforçando o impulso possessivo dos nossos sentidos: vivemos numa cultura de imagens artificiais, não escolhidas, arremessadas contra nós, com fins mercantilistas. Nossos olhos e ouvidos estão saturados, nossas retinas estão fatigadas, nossos tímpanos perderam sua vibração. Estar submetidos a tal impacto, visual e sonoro, nos faz perder a inocência, ou seja, a capacidade de estar simplesmente numa atitude receptiva e de acolhida; também esvazia a contemplação desinteressada e distendida, aquela que nos dispõe para sentir e captar a presença divina na realidade e nas pessoas.
Nossos sentidos estão se tornando filhos da necessidade ou do interesse, esvaziando-se de toda gratuidade e atitude receptiva. Sentidos petrificados e possessivos acabam por bloquear também o nosso interior. Dos sentidos petrificados brotam atitudes de julgamento, de intolerância, de violência, de preconceito..., nos distanciando daqueles que são “os preferidos de Deus”.
Nossa civilização, que já ultrapassou a era do trabalho escravo, ainda está na era dos “sentidos escravos”.
Estão comercializando com nossas pupilas e nossos tímpanos; nas publicidades comerciais, temos os olhos e ouvidos vendidos e não levamos nenhuma “comissãozinha”.
Só os sentidos contemplativos deixam de ser possessivos e devoradores, para se tornarem oblativos e abertos; e, quando são oblativos, eles nos unificam por dentro e nos movem a viver em profunda sintonia com a realidade, carregada de presenças.
O Advento é oportunidade única para recuperar a capacidade do assombro e da admiração, e assim, viver os sentidos de maneira agradecida, gerando comunhão. E a conversão começa pelos sentidos.
Texto bíblico: Mt 11,2-11
Na oração: Através dos “sentidos cristificados” alcançamos uma forma de olhar, escutar, sentir, apalpar, saborear... que nos abre à percepção da Presença divina e à revelação do sacramento do irmão.
- quê novos sinais e vozes você está captando no seu interior e na sua realidade cotidiana, manifestação da surpreendente ação de Deus em favor da vida?
- de quê maneira você prolonga as “obras” de Jesus no seu ambiente?
(Publicado em 2022)
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo” (Mt 11,4)
Na prisão de Maqueronte, onde está confinado por ordem de Herodes, João Batista recebe notícias de Jesus; e o que ele ouve o deixa desconcertado, pois Jesus não corresponde às suas expectativas. João espera um Messias que se imponha pela força terrível do juízo de Deus, salvando àqueles que acolheram seu batismo e condenando àqueles que o rejeitaram. Quem é Jesus?
Nem João, nem os rabinos, nem os sacerdotes, nem os apóstolos estavam capacitados para entender Jesus. Sua presença e atuação não se ajustavam ao que eles esperavam do Messias. Jesus rompe com todas as concepções e esquemas mentais, desmonta todas as expectativas, frustra uma visão...
A novidade de Jesus é muito maior do que aquilo que podiam esperar; além disso, o que Ele traz vai na direção contrária do que esperavam do Messias. Não vem com poder e força; não vem impor nada, senão propor uma dinâmica de serviço e desatar a vida travada. Jesus “tem um caso de amor com a vida”.
Para sair de suas dúvidas João envia dois discípulos que perguntam a Jesus sobre sua verdadeira identidade: “És tu, Aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro”?
A resposta de Jesus não é teórica, mas muito concreta e precisa: contai a João o que estais vendo e ouvindo. Eles perguntam a Jesus por sua identidade e este responde através de sua atuação terapêutica (curar e cuidar da vida); Ele se dá a conhecer através de ações concretas em favor da vida: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam...
O que o profeta Isaías anunciava como futuro, agora se faz presente em Jesus.
Jesus sabe que sua resposta pode decepcionar àqueles que sonhavam com um Messias poderoso. Por isso acrescenta: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”. Que ninguém espere outro Messias que realize outro tipo de “obras”; que ninguém invente outro Cristo a seu gosto, pois o Filho foi enviado para tornar a vida mais digna e ditosa para todos, até alcançar a plenitude na festa final do Pai.
Estes são os sinais da presença do Messias: alívio para quem sofre, acolhida para quem é excluído, vida para quem se sente morrer, visão para quem se encontra na penumbra, fortaleza para os joelhos frágeis... Feliz aquele que aceita que este é o Deus da Vida, Aquele que desce, se faz carne humana, para acolher em si a dor e o sofrimento de todos, sobretudo daqueles que são vítimas e estão excluídos.
O modo de agir de Jesus em favor da vida deve também inspirar o nosso modo de agir durante o Advento. Não tem sentido despertar nossa sintonia com Aquele que colocou a vida dos mais pobres e sofredores no centro de sua missão se não ativarmos nossa sensibilidade e nosso compromisso com aqueles que são vítimas das estruturas sociais e políticas injustas. Viver em “estado de Advento” não é se fixar no futuro, aguardando a vinda d’Aquele que já está sempre presente e que se faz visível nos rostos dessas vítimas.
“Ser Advento” implica “descer” junto à humanidade, recompondo vínculos quebrados, superando ódios e intolerâncias, mobilizando energias e criatividade para que a vida de todos possa ser desbloqueada e encontre espaço para se expressar em sua plenitude.
Portanto, Advento sem compromisso com a vida é Advento estéril, com cheiro de morte.
Para conhecer Jesus, o melhor é ver de quem Ele se aproxima e a que Ele se dedica. Para captar bem sua identidade não basta confessar teoricamente que Ele é o Messias, Filho de Deus. É preciso sintonizar-nos com seu modo de ser Messias, que não é outro senão o de aliviar o sofrimento humano, curar a vida ferida e abrir um horizonte de esperança aos pobres.
Os cegos, surdos, coxos, leprosos, pobres e muitos outros coletivos no mundo de hoje, continuam sendo símbolos da marginalização mais radical que afeta muitíssimos seres humanos. O texto do evangelho deste domingo quer ressaltar que a chegada do Reino terá consequências para todos, mas sobretudo para os mais excluídos, que tinham perdido toda esperança e o sentido do viver.
Como podemos perceber, entre os sinais da presença do Messias não há um só sinal “religioso”: nem culto, nem rezas, nem sacrifícios, nem doutrinas, nem leis... Isto nos deveria fazer pensar.
Nós cristãos, com frequência, esquecemos que, para Jesus, primeiramente vem a vida, depois o culto; em primeiro lugar, o compromisso em aliviar a dor humana, depois a religião.
Não são só os cegos, surdos, coxos, doentes que fazem presente o Reino, mas também aqueles que se preocupam com eles. Só as ações em benefício dos outros deixam transparecer a presença de Deus.
Entrar na dinâmica do Advento, significa estar dispostos a aproveitar qualquer ocasião para tornar presente o Reino, não frustrando aqueles que esperam de nós atitudes comprometidas com a vida.
Nas páginas dos Evangelhos não vemos um Jesus fixo no deserto ou no templo, mas caminhando por toda a Galileia; aproxima-se dos últimos e excluídos, vítimas do contexto social e religioso da época.
O centro da sua missão é aliviar todo sofrimento humano, restabelecendo a vida onde ela está ferida.
Quando se luta contra o sofrimento, quando se alivia a dor, quando se abre uma vida mais sadia... ali está atuando o Reino de Deus. O que Jesus fez, fundamentalmente, foi curar a vida.
Pode-se dizer que toda a atuação de Jesus está encaminhada a criar uma sociedade mais saudável, mais humana, mais respirável, mais leve... Recordemos a rebeldia de Jesus frente a tantos comportamentos patológicos de raiz religiosa; como Ele critica o rigorismo, o legalismo, o culto vazio de amor... Jesus quer sanar a religião; seu esforço visa criar uma sociedade mais justa e solidária; sua oferta de perdão gratuito é para todos; sua atitude acolhedora envolve a todos os maltratados pela vida ou pela injustiça dos homens...
Em tempos de fanatismos, intolerâncias e preconceitos, precisamos assumir uma atitude firme a partir do evangelho da Boa Nova de Jesus. Atitude que nos faça ter “os olhos fixos em Jesus” (Heb 12,2) para recriar a história a partir de seu sentir. Precisamos desprender-nos de nossas “catedrais simbólicas” e de nossos rituais estéreis que nos distanciam da realidade escandalosa da exclusão. “Não há cristianismo sem carne” (Pagola), sem vida e paixão pelos últimos e abandonados.
É preciso sair dos limites conhecidos, de nossas seguranças, para adentrar-nos no terreno do incerto, sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo...
É decisivo estarmos dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências... Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer...
A vida está cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições para aprendermos e que nos farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...
A periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida.
As fronteiras e as periferias constituem o espaço privilegiado onde nascem e crescem as alternativas, onde brota o emergente como possibilidade de Vida nova, que transcende todo sinal de morte.
Para meditar na oração:
Como cristãos, a que Messias seguimos hoje? Somos seguidores(as) de uma Pessoa que fez do compromisso com a vida o centro de sua missão ou seguidores de uma religião só preocupada com ritos, doutrinas, leis...?
Dedicamo-nos a fazer as “obras” que Jesus fazia? Que estamos realizando em meio a este mundo marcado por tantas violências e mortes? O que as pessoas estão “vendo e ouvindo” na Igreja de Jesus?
O que elas estão “vendo e ouvindo” em nossas vidas? Deixamos transparecer o “espírito do Advento” no nosso encontro com os outros?
Até a prisão de Maqueronte, onde está preso por Antipas, chegam ao Batista notícias de Jesus. O que ouve deixa-o desconcertado. Não corresponde às suas expectativas. Ele espera um Messias que se imponha com a força terrível do julgamento de Deus, salvando aqueles que receberam seu batismo e condenando aqueles que o rejeitaram. Quem é Jesus?
Para ficar sem dúvidas, encarrega dois discípulos que perguntem a Jesus sobre sua verdadeira identidade:
“És Tu o que deve vir ou temos que esperar por outro?” A questão era decisiva nos primeiros momentos do cristianismo.
A resposta de Jesus não é teórica, mas muito concreta e precisa: comuniquem a João “o que estão vendo e ouvindo”. Perguntam-lhe pela sua identidade, e Jesus responde-lhes com sua ação curativa ao serviço dos doentes, dos pobres e dos infelizes que encontra nas aldeias da Galileia, sem recursos nem esperança para uma vida melhor: “Os cegos veem e os inválidos andam; os leprosos estão limpos e os surdos ouvem; os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se a Boa Nova”.
Para conhecer Jesus, é melhor ver de quem se aproxima e a que se dedica. Para captar bem sua identidade, não basta confessar teoricamente que é Ele o Messias, Filho de Deus. É necessário sintonizar com o seu modo de ser Messias, que não é outro senão o de aliviar o sofrimento, curar a vida e abrir um horizonte de esperança para os pobres.
Jesus sabe que a sua resposta pode decepcionar aqueles que sonham com um Messias poderoso. Por isso acrescenta: “Bem-aventurado aquele que não se sente decepcionado comigo”. Que ninguém espere outro Messias que realize outro tipo de “obras”; que ninguém invente outro Cristo mais ao seu gosto, pois o Filho foi enviado para tornar a vida mais digna e bem-aventurada para todos, até atingir a sua plenitude na festa final do Pai.
Que Messias os cristãos seguem hoje? Dedicamo-nos a fazer “as obras” que fazia Jesus? E se não as fazemos, o que estamos a fazer no meio do mundo? O que estão “vendo” e “ouvindo” as pessoas na Igreja de Jesus? O que vê nas nossas vidas? Que escuta nas nossas palavras?
1a. Leitura (Is 35, 1-6a.10) O povo estava no cativeiro. Os inimigos tinham vazado os olhos de alguns, outros estavam mutilados, a sua terra estava abandonada. O profeta canta de maneira espetacular a volta do cativeiro. Para nós, será símbolo de uma esperança maior.
Salmo (146 [145], 7-10) Cantamos no Salmo o louvor de Deus, que protege o fraco e o oprimido.
2a. Leitura (Tg 5,7-10) Para uma comunidade de judeus cristãos, gente sofrida e cansada, o escrito de Tiago fala de esperança, paciência e resistência, citando conhecidos exemplos da Bíblia.
3a. L. Evangelho (Mt 11,2-11) João Batista sabe, já entendeu que Jesus é o Cristo, o Messias. A pergunta dele é apropriada. Pergunta para que a gente entenda quais são os verdadeiros sinais da chegada do Salvador.
A Realidade
Seria extremamente ridículo parar o carro em frente a um sinal verde de trânsito para admirar aquela cor. O resultado seria uma batida. E se, numa encruzilhada, a pessoa fosse examinar se a placa é de latão ou de madeira, se os símbolos ou as letras estão bem ou mal desenhados? O sinal não é para ser admirado, é para ser entendido e seguido.
Cometemos esse erro frequentemente frente às narrativas de milagres nos Evangelhos. Chegamos a pensar que Jesus fizesse curas e mandasse seus discípulos fazerem apenas como um benefício em favor dos que nele creem. Estamos cansados de ver “igrejas” que curam a torto e a direito, não se sabe bem por quais interesses.
A Palavra
No Evangelho de hoje reaparece a figura do Batista. Ele manda perguntar a Jesus se é ele o Messias esperado e recebe dele os maiores elogios.
Jesus responde com os sinais que estão acontecendo. Abrir os olhos aos cegos, soltar a língua dos mudos, abrir os ouvidos dos surdos, soltar os braços e as pernas dos entrevados, enfim, dar nova vida aos que já estão mortos é o núcleo da missão do Messias.
Não cremos em um curandeiro, cremos em um Messias que dá nova vida à multidão cega, muda, surda, inválida, morta. Isso se resume numa palavra: Evangelizar os pobres. Por que os pobres, se eles estão mais perto da fé do que os ricos? É que ‘evangelizar’ significa levar boa notícia. E que melhor notícia do que fazer com que os pobres e marginalizados possam ver, ouvir, agir, o que lhes é proibido na sua atual situação.
Na primeira Leitura a esperança de libertação do cativeiro da Babilônia faz que todos sejam videntes, ouvintes, falantes, caminhantes e agentes. Deixem de ser objetos, tornem-se sujeitos, senhores de si. Vivam!
Na segunda, a expectativa da vinda do Senhor, justo juiz, significa a certeza na vitória da justiça, por mais que demore e que a injustiça pareça prevalecer.
O Mistério
A grande novidade (Evangelho) para os pobres é a salvação depender de Jesus que se entrega livremente à morte de cruz, a fim de abrir os caminhos para a nova humanidade. Na Eucaristia celebramos a Boa Nova da aceitação livre da morte maldita e seu resultado, a plena comunhão, onde não há cegos, surdos, mudos, inválidos, excluídos.
O tempo de Advento continua a despertar nossa esperança e convida-nos a gerar essa esperança em nossos povos e sociedades, tão marcados neste último tempo pela desesperança e o desânimo. Preparar-se para viver o Natal leva-nos a caminhar unidos/as ao encontro do nosso Deus que veio morar em meio de nós.
Ser pessoas e comunidades que gerem pontes onde há divisão ou gretas, liberdade onde há escravidão, luz onde há somente trevas!
No evangelho de hoje lemos que João está na prisão. Havia sido encarcerado por Herodes porque a pregação do Batista denunciava seu agir hipócrita e altaneiro em desfavor e menosprezo dos rejeitados pela sociedade. Como os profetas que o precederam, seu estilo incomoda e molesta de modo que o melhor é afastá-lo e, se for possível, eliminá-lo.
Como denunciou o Papa Francisco na missa matutina da Residência Santa Marta: “Há a grande calamidade das guerras de hoje, onde a conta da festa é paga pelos mais fracos, os pobres, as crianças, os que não têm recursos para avançar”, denunciou o Bispo de Roma. “Existem problemas, as calamidades do mundo, os pobres, as crianças, os famintos, os perseguidos, os torturados, as pessoas morrem na guerra porque lançam bombas como se fossem caramelos”. Texto completo: “Há pessoas que morrem porque bombas são lançadas como caramelos”, denuncia Francisco.
João está no cárcere quando “Ouviu falar das obras do Messias, enviou a ele alguns discípulos, para lhe perguntarem: ‘És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?’.”
Possivelmente pelos seus seguidores, os que ainda continuam sendo fiéis a ele, João conhece o que está acontecendo com Jesus, os milagres, as pregações, as pessoas que o seguem. João havia exortado a conversão porque “O Reino do Céu está próximo”. Convidava a preparar o caminho do Senhor, seguindo as palavras do profeta Isaías (Cfr. Is 40,3). Nas suas palavras, tinha-se referido ao Messias como aquele que “terá na mão uma pá: vai limpar sua eira, e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga” (Mt 3,12).
Mas a atitude de Jesus desconcerta o Batista porque seu obrar é muito diferente. Nem se veste como ele e ainda menos age como foi predito. João precedeu-o no caminho, tinha-o anunciado, mas rejeitou batizá-lo: “Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3,14). Ele estava convencido de que Jesus é o Messias esperado, mas agora envia dois discípulos para perguntar-lhe se ele é o que ‘há de vir ou devem esperar outro?’. Jesus não corresponde a suas expectativas de um Deus que ia castigar, de um Deus que ia trazer justiça; ao contrário, Jesus come com os pecadores, se aproxima dos impuros e dos marginais, oferece a salvação para todos, perdoa, cura, não faz distinção de pessoas. É preciso esperar outro?
Diante dessa pergunta Jesus responde desde seu agir e testemunho. Diante da pergunta sobre sua identidade, a resposta de Jesus é fundamentada pelas suas obras.
Para entender melhor a resposta de Jesus, lembre-se do texto do profeta Isaías que se lê na primeira leitura. Isaías anuncia um Deus que iria libertar e conduzir o povo a uma nova terra de liberdade e alegria: “Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-nos”. Com essas palavras Isaías alimenta a esperança do povo que está exilado, porque Deus vai salvar Judá do cativeiro e vai conduzir seu povo para que possa regressar à sua terra. Não há lugar para o desânimo ou para baixar os braços: é preciso acrescentar a esperança e não desalentar diante das dificuldades que se apresentam no imediato. As consequências desse anúncio profético são que “o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria” e “Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos”.
Voltando ao texto, lemos que Jesus responde aos discípulos de João Batista dizendo: “Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia. E feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”
A obras em favor dos pobres e necessitados identificam Jesus como o Messias. Jesus anuncia o cumprimento da promessa pelas palavras e gestos libertadores, o Messias é reconhecido porque atenua o sofrimento dos pobres e está no meio deles. Em Jesus realiza-se esse anúncio de salvação. No tempo de Jesus e hoje também a Boa Notícia do Reino é anunciada a todas as pessoas e povos que sofrem as consequências de uma sociedade que marginaliza e descarta o que não se adapta a suas expectativas econômicas e do mercado. São os que devem migrar da sua terra em busca de alimento. Os milhões de crianças, de mulheres e anciãos que não têm onde morar e continuamente peregrinam pelo mundo à procura de alimento e paz.
Na sua resposta, Jesus convida-nos a continuar seu exemplo. O agir do Messias define sua identidade e assim convida a cada pessoa e comunidade que deseja segui-lo: continuar seu modo de obrar. Deus se faz presente no mundo pelo nosso testemunho de vida. Fazer visível e real o projeto libertador de Deus que não é indiferente diante da opressão e injustiça dos homens e mulheres da nossa terra.
Neste Terceiro Domingo somos chamados a acrescentar nossa sensibilidade para com tantas pessoas necessitadas e seguir seu caminho. Realizar suas obras leva consigo uma revelação que é o reconhecimento progressivo de Jesus como o Enviado do Pai, o Messias.
O texto de hoje nos chama a perguntar: quais são nossos sinais que, como Jesus, comunicamos a ação libertadora de Deus?
Quais são os nossos sinais diante dos que procuram ser surdos a tantas vozes que clamam ao céu, encontram em nós uma voz que os desperte e sacuda da sua passividade e os sensibilize a ouvir os gritos silenciosos que povoam nosso redor? E para os cegos que vivem deslumbrados pelos enganos de luzes artificiais e não querem abrir os olhos à luz verdadeira?
Também nos perguntamos se somos sinais para os que não podem caminhar com liberdade pelo medo de ser repatriados, pelas injustiças aos que estão submetidos, dos que são vítimas da escravidão no trabalho, da exploração humana e padecem contínuas ameaças, dos presos privados da liberdade e escondidos em refúgios nomeados centros de recuperação ou assentamentos provisórios.
Neste tempo de Advento, o Senhor nos convida a converter-nos e continuar o estilo de vida traçado por João, sendo profetas que denunciam e agem sem medo e com liberdade e honestidade.
Rezemos deixando ressoar as palavras do Papa Francisco: "Todos os dias encontramos famílias que são forçadas a abandonar suas terras para procurar meios de subsistência em outros lugares; órfãos que perderam seus pais ou que foram violentamente separados deles por causa da exploração brutal; jovens em busca de uma realização profissional a quem é negado o acesso ao trabalho por causa de políticas econômicas míopes; vítimas de tantas formas de violência, da prostituição às drogas, e humilhadas nas profundezas do seu ser". "Como podemos também esquecer os milhões de imigrantes que são vítimas de tantos interesses ocultos, tão frequentemente explorados para fins políticos, aos quais se nega solidariedade e igualdade? E quanto aos muitos marginalizados e desabrigados que vagam pelas ruas de nossas cidades?". Texto completo:
Oração
O buraco da agulha
Estreitou-se tanto minha existência
esmagada em um punho
de interesses alheios,
que deslizou com suavidade
pelo “buraco estreito da agulha”
até o teu encontro.
Fui tão despojado
do esplendor colado a minhas costas
como tesouro embusteiro,
que atravessei ágil
a “viela estreita”
que me conduziu
ao futuro novo de teu Reino.
Fui tão humilhado
pela desqualificação social
e por meu próprio limite
levado a todos os ouvidos
pelo vento sem amo
que curvei a cabeça
e entrei, irmão,
pela “porta pequena”
da casa comum
do verdadeiro nós.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
Normalmente as leituras da liturgia, próprias do tempo do Advento, reportam situações um tanto espantosas, mas mostram a possibilidade que existe de superação de todas as fraquezas e medos, apresentando uma mensagem de esperança e alegria para toda a humanidade. O propósito é o anúncio da vinda do Filho de Deus para construir o Reino de superação de todas as limitações humanas.
Celebrar mais um Natal de Jesus Cristo significa despertar nas pessoas a preocupação com uma vida nova, num clima de fraternidade e comprometimento com as realidades do cotidiano. Sem isto não há verdadeiro Natal, porque as práticas não condizem com os ensinamentos de Deus. Por isto, o medo e a insegurança tomam conta das pessoas, que ficam sem estímulo para viver.
Esse caminho proposto para a humanidade percorrer tem que estar apoiado e fundamentado na confiança depositada em Deus, de onde emana o que é necessário para a pessoa ser alegre e feliz. É um caminho de fé, de libertação, mas também de real segurança, ânimo e superação de todo tipo de opressão. Quem confia em Deus e se deixa cativar por Ele consegue ter vida livre e sem medo.
Com o acontecimento da Encarnação do Verbo de Deus, isto é, a vinda de Jesus Cristo no Natal, toda natureza se transforma e se torna instrumento messiânico de salvação. Há uma elevação do ser humano e de toda a humanidade, mesmo no meio das realidades de injustiças que ameaçam a vida. Ao ter fidelidade a Deus, muitas enfermidades, principalmente espirituais, podem ser sanadas.
Os critérios do Reino de Deus conduzem à liberdade, não ao medo e nem podem ser moldados conforme interesses egoístas. É o Reino da fraternidade e do compromisso com a vida das pessoas mais carentes e sofridas. Essa foi a meta e a conduta de Jesus, a quem somos convidados a seguir dentro da reflexão do Advento. O Menino nasce com a profecia de ser o Deus conosco, para salvar o mundo.
A alegria que a pessoa tem, por estar em sintonia com Deus, deve superar todas as dificuldades e todo tipo de medo que ameaçam a intimidade do ser humano. A vinda natalina de Jesus, que é manifestação da bondade e da ternura de Deus, deu oportunidade para uma ação libertadora. Jesus veio trazer uma Boa Notícia, convocando as pessoas para uma autêntica conduta de vida.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
Mateus 11,2-11
João se encontra na prisão, onde foi preso por Herodes, um poderoso deste mundo que não suporta as críticas que lhe são dirigidas pelo profeta sobre o seu vínculo ilícito com Herodíades, mulher de seu irmão (cf. Mt 4,12; 14,3-4).
O grande profeta, homem de palavra e autoridade, agora está reduzido ao silêncio e aguarde uma morte violenta (cf. Mt 14,5-12). Na sua situação de humilhação e sofrimento, “ouve falar das obras de Cristo”, o Messias Jesus. João, como todos os seus conterrâneos, esperava um Messias, tipo juiz forte e severo, que vai derrubar com o machado as árvores infrutíferas e queimar a palha do grão com um fogo inextinguível (cf. Mt 3,10-12). Mas ele fica sabendo que Jesus se senta à mesa com os pecadores, que sente compaixão pelas multidões, que parece anunciar apenas a misericórdia de Deus... Nada de juiz forte!!!
Na cadeia, nessa situação de fé atravessada pela dúvida, nessa escuridão, João encarrega os seus discípulos de fazerem a Jesus uma pergunta dramática, com a qual põe em discussão toda a sua vida: “És tu, aquele que há de vir”, o Profeta-Messias dos últimos tempos, “ou devemos esperar um outro?”.
A resposta de Jesus resume, mediante uma série de citações proféticas, tiradas principalmente de Isaías, o comportamento já relatado pelo evangelista (cf. Mt 8-9): “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. Esse é o cumprimento da Escritura, essas são as ações de Jesus, Messias “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), narração definitiva do amor de Deus por todos os homens e mulheres!
E Jesus ainda acrescenta mais uma palavra: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim”, ou seja, quem não tropeça diante de um Messias pobre e desarmado, um Messias que anuncia, sim, aos pobres a boa notícia, mas que não quer se servir da força para libertar os prisioneiros (cf. Is 61,1).
Na prisão, João acolhe essa última revelação de Jesus, acolhe-a com confiança pessoal e, assim, vai rumo a uma morte injusta com plena obediência, tornando-se precursor de Jesus também nesse fim. Às palavras que lhe são referidas, João responde com um amém silencioso, mas cheio de amor por Jesus, compreendendo a irrupção do Messias que, até aquele momento, ele somente havia intuído.
E, precisamente enquanto João sai de cena, Jesus manifesta com grande solenidade às multidões a identidade do Batista. Ele anuncia que João não é um caniço agitado pelo vento das modas, nem um poderoso que, envolto em roupas finas, está nos palácios do poder: ele é um profeta ou, melhor, “é mais do que profeta. É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’” (cf. Ml 3,1; Ex 23,20).
Sim, João é o novo Elias (cf. Mt 11,14); é o Elias que veio e não foi reconhecido, que, com a sua vida e a sua morte abriu e anunciou o Êxodo definitivo, a salvação trazida pelo Senhor Jesus.
Eis a chave para compreender bem as palavras conclusivas de Jesus: “De todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”: quem é o menor? É Jesus, e só ele pode sê-lo: o menor como discípulo de João, alguém que esteve atrás dele (cf. Mt 3,11), é ele o maior no reino de Deus, que não só inaugura, mas que o personifica.
Sim, nós cristãos só podemos conhecer Jesus Cristo passando por João Batista: ele foi o precursor de Cristo, aquele que o indicou e o revelou como Messias e Aquele que vem. Se não aceitarmos o seu testemunho, grande até mesmo ao manifestar a sua fé provada, não poderemos sequer crer em Jesus (cf. Mt 21,25-27).
(Se desejar, confira a tradução do Google com o texto original em espanhol logo depois da tradução)
TERCEIRO DOMINGO DO CICLO DO ADVENTO "A"
SER SURPREENDIDO – E NÃO CHOCADO – PELA MISERICÓRDIA DO SENHOR
Primeira Leitura (Is 35,1-6, 10):
Este texto faz parte da seção composta pelos capítulos 34 e 35 de Isaías, conhecida como o "Pequeno Apocalipse" devido ao tom e conteúdo de seus oráculos: promessas para o fim dos tempos e o retorno do exílio. Quanto à sua mensagem, "Isaías 34-35 infunde esperança no coração do crente, pois apresenta a derrota do mal e o triunfo do bem" [1]. Embora esses capítulos façam parte da primeira seção da profecia de Isaías (Isaías 1-39), sua mensagem é melhor compreendida no contexto do período do Segundo Isaías (Isaías 40-55), ou seja, durante o tempo do exílio de Israel na Babilônia.
O texto começa com o anúncio de uma situação futura de alegria e júbilo (35:1-2). Diante desse futuro promissor, onde a glória de Deus será vista, a atitude necessária é expressa por meio de verbos imperativos que nos ordenam fortalecer os fracos, firmar os desanimados e encorajar os desalentados (35:2-4). É precisamente o anúncio de que o Senhor está próximo, de que "Ele mesmo virá para salvá-los", que fornece a motivação para essa infusão de coragem e alegria.
Os efeitos, e portanto os sinais visíveis, desta vinda do Senhor são a visão dos cegos, a audição dos surdos, o andar dos coxos e o louvor dos mudos. Vale ressaltar que Deus primeiro cumpre o que ordena, visto que aqueles que sofrem de alguma deficiência são os que mais necessitam de ajuda e compaixão. A vinda do Senhor coloca todos em seu caminho, na marcha rumo à gloriosa Sião-Jerusalém. Isaías 35:10 descreve este retorno dos exilados em uma atmosfera repleta de alegria e júbilo.
Segunda Leitura (Tiago 5:7-10):
Neste trecho da Carta de Tiago, destaca-se a apresentação de uma verdadeira espiritualidade de espera. Diante da certeza da vinda do Senhor, o autor sugere as virtudes que os cristãos devem cultivar "enquanto isso"; no "já, mas ainda não".
Primeiramente, ele nos exorta a sermos pacientes (usando o verbo makroqume, que significa literalmente grandeza de alma, magnanimidade, e é repetido neste versículo e em 5:8, 11). Em seguida, ele dá o exemplo do agricultor que, após a semeadura, só pode esperar pacientemente pela chuva. A paciência deve ser acompanhada de coragem e tolerância para com os outros, deixando o julgamento para o Senhor que há de vir. Os profetas que falaram em nome do Senhor também foram pacientes em meio às provações e são exemplos de vida e esperança para os cristãos.
Evangelho (Mt 11,2-11):
A figura de João Batista volta a ser importante no evangelho deste terceiro domingo do Advento, pois começa por dizer que ele ouve na prisão comentários sobre as "obras de Cristo" e envia dois discípulos para perguntar a Jesus: "És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?"
Existem diversas opiniões sobre o significado desta questão, mas parece claro que, para João Batista, as ações de Jesus não se alinham com suas expectativas, com a proclamação de um Messias de juízo e condenação, feita enquanto pregava no deserto da Judeia antes do batismo de Jesus (cf. Mt 3,1-12). De fato, as palavras e ações de Jesus, conforme narradas por Mateus até então, não demonstram o juízo de Deus, mas sim a Sua misericórdia. Aliás, nas páginas que precedem o texto de hoje, Mateus relata os milagres de Jesus, como Ele se sentou para comer com pecadores e o envio dos Apóstolos para buscar a ovelha perdida. Ao ouvir falar desses feitos, João Batista questiona a identidade messiânica de Jesus (deveríamos esperar outra?).
Jesus, por sua vez, responde à pergunta dos discípulos de João, dizendo-lhes para irem e lhe contarem novamente quais eram as suas obras, o que tinham ouvido e visto. O que tinham ouvido se referia ao Sermão da Montanha (Mt 5-7) e o que tinham visto aos milagres e curas (Mt 8-9).
A resposta de Jesus alude claramente a vários textos do Antigo Testamento, particularmente do profeta Isaías, um dos quais ouvimos na primeira leitura de hoje. Aqui, a cura dos cegos, dos paralíticos e dos surdos aparece como um efeito simbólico da salvação de Deus para o seu povo. Os outros textos seriam Isaías 29:18-19; 42:7, 18; e Isaías 61:1. Este último descreve o profeta como ungido pelo Espírito e enviado para curar e proclamar a Boa Nova aos pobres. Além dos textos proféticos, U. Luz informa-nos [2] que “o judaísmo acalentava a esperança de que, na nova era messiânica, a doença e o mal em geral desapareceriam”. Ou seja, se tudo isso está acontecendo, é um sinal claro de que Deus chegou, se fez presente em Jesus. Portanto, Jesus é o Messias prometido pelo profeta Isaías; ele não é o Messias do julgamento e da condenação, mas da compaixão e da misericórdia para com os fracos e necessitados.
A cura dos cegos e a ressurreição dos mortos não são mencionadas nos textos de Isaías. Com isso, Jesus estaria insinuando que suas obras de misericórdia vão ainda mais longe do que o que foi predito pelos profetas.[3]
Em resumo, a intenção de Jesus é que João Batista, ao ouvir novamente sobre as "obras de Cristo", reconheça nelas o cumprimento do que o profeta Isaías predisse. João não se enganou ao identificar Jesus como o Cristo (Mt 3:11), e nEle Deus está cumprindo Suas promessas, mas com Sua própria novidade singular. E como essa novidade pode ser motivo de escândalo, Jesus oferece uma advertência no final: "Bem-aventurado aquele que não se escandaliza em mim!" (Mt 11:6).
O verbo "escandalizar" (skandalízomai), na voz ativa, significa ser ocasião de pecado, no sentido de causar escândalo (Mt 5,29-30). Na voz passiva, como em nosso texto, significa cair, ser enganado ou impedido, ficar irritado, ficar incomodado. Nos Evangelhos, é comum que as pessoas se escandalizem com Jesus (evskandali,zomai evn); por exemplo, o povo de Nazaré quando ele lhes prega (Mt 13,57); ou os fariseus diante do ensinamento de Jesus (Mt 15,12). Em São Paulo, trata-se principalmente do "escândalo da cruz" (1 Cor 1,23; Gl 5,11). Nesse caso, escandalizar-se com Jesus seria não aceitar a surpreendente novidade do Reino de Deus que Jesus torna presente, mostrando que Deus vem para perdoar, curar, libertar e proclamar a boa nova aos pobres.
Quando os discípulos se retiram, Jesus fala ao povo e resgata a pessoa e a missão de João Batista da confusão e da desilusão que sentiam (11:7-11). João Batista era um profeta, o maior entre eles; nele se cumpriu a profecia de Malaquias sobre a vinda de Elias como precursor do Messias. Mas, mesmo com toda a sua grandeza, João Batista ainda pertence ao Antigo Testamento. Ele anunciou a chegada do Reino, mas não pôde entrar nele, vê-lo presente e atuante na obra de Jesus. Portanto, o menor no Reino é maior do que ele. Sua missão como precursor era necessária para relembrar as promessas de Deus ao povo, mas o cumprimento delas superou em muito as expectativas. Algo novo está acontecendo, e não compreendê-lo pode causar escândalo.
ALGUMAS REFLEXÕES
É tradição que este domingo do Advento seja caracterizado pelo tema da alegria (Gaudete). Alegria que brota da certeza da esperança da vinda do Senhor. O Senhor está perto, o Natal está perto, a salvação está perto. E essa esperança em sua vinda gera alegria, júbilo no coração. Alegria que está no coração do Evangelho, como nos lembra o Papa Francisco: “A alegria do Evangelho preenche os corações e as vidas de todos os que encontram Jesus. Aqueles que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior e da solidão. Com Jesus Cristo, a alegria renasce constantemente” (Gaudium et Spes, n. 1).
O tema da alegria e do júbilo é particularmente proeminente na primeira leitura. A iminente vinda de Deus transformará a situação difícil do povo exilado em cânticos de alegria pelo seu regresso a Jerusalém. É a iminente intervenção de Deus na história que é a causa da alegria, porque “Deus toma o partido dos pobres e compromete-se a fazer-lhes justiça (retribuição), uma vez que reconhece o valor do seu sofrimento e distingue entre o bem e o mal (recompensa), conduzindo a humanidade à plenitude que tanto almeja: o reconhecimento da sua dignidade, a paz interior, a comunhão com Deus (salvação). A vinda de Deus capacita novamente a humanidade para a ação (mãos fracas), põe em movimento os incertos (joelhos trémulos) e imprime uma nova personalidade (o coração) capaz de tomar decisões corajosas. Um sinal particular de salvação será a cura dos necessitados. Qualquer categoria de desfavorecidos deixará de o ser quando reconhecer a presença de Deus” [4].
Essa alegria que provém da proximidade de Deus, e, portanto, da proximidade da salvação, pode coexistir com uma situação presente desfavorável, de injustiça e carência. Isso pode gerar ansiedade ou desânimo, porque a salvação definitiva e completa ainda não aconteceu. Nesse "enquanto isso", é necessário cultivar a virtude da paciência, ou magnanimidade, como recomendado na Carta de Tiago, na segunda leitura de hoje. Devemos aprender a esperar sem nos desanimarmos ou reclamarmos dos outros. Pelo contrário, devemos fortalecer e encorajar os outros a continuarem confiando, a continuarem esperando. Foi isso que fizeram os profetas que falaram em nome de Deus, e eles são apresentados como modelos dessa paciência ou magnanimidade.
O Evangelho também nos traz um motivo de alegria, pois deixa claro que Jesus veio trazer, antes de tudo, não o juízo de Deus (que permanece em vigor, mas será perdoado no fim dos tempos), mas misericórdia e perdão. E isso, como explica São Paulo em sua carta aos Romanos, é o próprio Evangelho, a Boa Nova que Jesus traz, que é Jesus. Deus revelou não a sua ira contra o pecador, mas a sua justiça. Mas dizer que a justiça de Deus foi revelada (Rm 1) é o mesmo que dizer: a bondade de Deus, o seu amor, a sua misericórdia foram revelados.
A respeito disso, o Papa Francisco disse em sua mensagem do Angelus, em 11 de dezembro de 2016: “Deus entrou na história para nos libertar da escravidão do pecado; armou sua tenda entre nós para compartilhar nossa existência, curar nossas feridas, aliviar nossas aflições e nos dar uma nova vida. A alegria é fruto dessa intervenção de salvação e amor de Deus. Hoje somos convidados a nos alegrar com a iminente chegada de nosso Redentor; e somos chamados a compartilhar essa alegria com os outros, dando consolo e esperança aos pobres, aos doentes, aos solitários e aos infelizes. Que a Virgem Maria, ‘serva do Senhor’, nos ajude a ouvir a voz de Deus na oração e a servi-lo com compaixão em nossos irmãos e irmãs, para que estejamos preparados para a chegada do Natal, preparando nossos corações para acolher Jesus.”
E quanto à conversão que João Batista nos pediu no último domingo para entrarmos no Reino? A conversão ainda é necessária, mas adquiriu um novo significado. O Padre Cantalamesa explica[5]: “Conversão e salvação trocaram de lugar. Não é mais: pecado-conversão-salvação (arrependa-se e você será salvo; arrependa-se e a salvação virá a você); mas sim: pecado-salvação-conversão (arrependa-se porque você está salvo; porque a salvação chegou a você). Primeiro vem a obra de Deus e depois a resposta do homem, e não o contrário.”
A conversão no Advento envolve purificar ou retificar o objeto de nossa esperança. O próprio João Batista teve que aceitar essa purificação porque esperava e proclamava um Messias de tipo diferente. H.U. von Balthasar[6] expressa isso de forma bela: "Ele esperava um homem poderoso, que batiza com o Espírito e fogo. E no Evangelho agora aparece um homem gentil que 'não apaga a mecha que ainda fumega'."
Portanto, a confusão de João Batista surgiu, fundamentalmente, porque suas expectativas não se alinhavam com a manifestação de Deus em Jesus; não se encaixavam em suas noções preconcebidas. Assim, a conversão é necessária no sentido etimológico de metanoia, uma mudança de mentalidade para compreender a lógica de Deus, que é a do amor: amor que primeiro salva, cura e perdoa; amor que se doa e se entrega completamente, aguardando nossa resposta sincera. Portanto, a conversão consiste sobretudo em aceitar o amor de Deus, sua vontade de nos salvar, e renunciar à noção equivocada de tentar nos salvar.
O oposto dessa verdade seria escandalizar-se com Jesus, o que acontece quando tentamos confinar Deus e sua obra às nossas estruturas mentais. Essa é uma forma muito sutil de idolatria, como explica muito bem R. Cantalamessa[7]: “Há uma forma de idolatria religiosa que não consiste em fazer um deus com representações ou imagens externas, como o bezerro de ouro, mas sim em fazê-lo com imagens internas, mentais e invisíveis, e em trocar essa imagem, que é a própria ideia de Deus, pelo Deus vivo e verdadeiro, e contentar-se com isso. Nessa forma, a idolatria não diminuiu ao longo dos séculos, mas, ao contrário, cresceu, atingindo seu ápice onde a fé em Deus foi substituída pela ideologia de Deus, isto é, um 'pensamento desvinculado da realidade e que se desenvolve abstratamente com base em seus próprios dados'. A ideologia é a forma moderna de ideolatria. Qual a diferença entre Deus e a ideia de Deus? É que a ideia não tem existência independente.” A ideia não existe, Deus existe! Uma diferença infinita!
Portanto, a escolha é entre se surpreender ou se escandalizar. Escandalizar-se aqui seria fechar-se na própria mentalidade, na própria ideia de Deus, numa moralidade baseada apenas no mérito, sem aceitar que “a salvação que Deus nos oferece é obra da sua misericórdia. Não há ações humanas, por melhores que sejam, que nos tornem dignos de tão grande dom. Deus, por pura graça, nos atrai a si. Ele envia o seu Espírito aos nossos corações para nos fazer seus filhos, para nos transformar e para nos tornar capazes de responder com a nossa vida a esse amor” (EG n. 112).
Precisamente por isso, Jesus declara bem-aventurados aqueles que não se escandalizam com Ele, porque estão abertos a Deus, permitindo que Ele tome a iniciativa, que nos surpreenda sempre com a sua ternura, com o seu amor manso que busca incansavelmente o nosso bem; que ignora o mal, chamando a todos à conversão por amor. Trata-se de ser surpreendido, de acolher e de viver esta pedagogia de Deus no trabalho pastoral. Como bem disse o Papa Francisco: “Jesus Cristo também pode romper com os padrões enfadonhos em que tentamos confiná-lo e surpreende-nos com a sua constante criatividade divina. Cada vez que procuramos voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho, surgem novos caminhos, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras carregadas de um significado renovado para o mundo de hoje. Na realidade, toda a autêntica ação evangelizadora é sempre ‘nova’” (EG n.º 11).
Como conclusão e propósito para esta terceira semana do Advento, podemos acolher o conselho do Papa Francisco aos participantes da 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, em 24 de outubro de 2016: “Rezem persistentemente por consolação. Podemos sempre dar um passo além na persistência em pedir consolação. Nas duas Exortações Apostólicas [Evangelii Gaudium e Amoris Laetitia] e na Encíclica Laudato Si’, quis enfatizar a alegria. Inácio, nos Exercícios Espirituais, nos leva a contemplar o ‘ofício de consolar’ de seus amigos, próprio de Cristo Ressuscitado (EE 224) […] Este ‘serviço de alegria e consolação espiritual’ está enraizado na oração. Consiste em encorajar a nós mesmos e a todos a ‘pedir persistentemente a Deus consolação’. Inácio o formula negativamente na 6ª regra da primeira semana, quando diz que ‘é muito benéfico mudar intensamente contra a própria desolação’, exortando-nos a…” Oração (EE 319). Aproveitem-na, pois na desolação somos muito “inúteis” (EE 324). Praticar e ensinar esta oração de pedir e suplicar por consolo é o principal serviço à alegria. Se alguém não se considera digno (o que é muito comum), insista ao menos em pedir este consolo por amor à mensagem, pois a alegria é constitutiva da mensagem do Evangelho, e peça-a também por amor aos outros, à sua família e ao mundo. As boas novas não podem ser transmitidas com um semblante triste. A alegria não é um mero enfeite; é uma clara indicação da graça: indica que o amor é ativo, operante, presente. Portanto, buscá-la não deve ser confundido com buscar “um efeito especial”, que a nossa época sabe produzir para consumo, mas sim buscá-la em sua dimensão existencial, que é a “durabilidade”: Inácio abre os olhos e desperta para o discernimento dos espíritos ao descobrir este valor diferente entre alegrias duradouras e alegrias passageiras (Autobiografia 8). O tempo será o que lhe dará a chave para "reconhecer a ação do Espírito".
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Senhor dos pequeninos
A missão da nossa vida, a razão da nossa existência.
Para se tornar outro Jesus, outro pobre entre os pobres.
Mais um pequenino entre os pequeninos.
Como será isso, Senhor? Conte-nos o que você pensa.
Queremos ser o caminho, unidos como rebentos de videira.
À verdadeira videira, ao Caminho Eterno.
Profetas como João, arautos do Reino?
Queremos ser vozes, a palavra para todos os tempos.
Pão que desceu do céu, alimento imperecível.
Prisioneiros deste mundo, queremos ser estrelas?
Guias para tantas almas perdidas, luzes na escuridão.
Feito homem por Deus, conquistador do mal.
Que seu espírito se lembre daquele momento de alegria.
Quando o Senhor se fez saúde e purificou o nosso rosto.
Deixando sua marca em todos nós.
Esperança! Pai Nosso! Filho Bendito que vem!
O tempo determinado para renovar a Terra está chegando!
Enche nossas almas de alegria e concede-nos a verdadeira paz. Amém.
[1] F. Ramis, Isaías (PPC; Madrid 2004) 91.
[2] O Evangelho segundo São Mateus Vol. II (Mt 8-17) (Sígueme, Salamanca 2001) 232.
[3] Cf. A. Levoratti, Evangelho segundo São Mateus (Guadalupe; Buenos Aires 1999) 196. Davies-Allison, O Evangelho segundo São Mateus, 243, pensa, por outro lado, que a ressurreição dos mortos seria uma provável alusão a Is 26, 19: “Os mortos viverão, os vossos cadáveres ressuscitarão”.
[4] G. Zevini- G. Cabra, Lectio divina para cada dia do ano 1 (Verbo Divino; Estella 2001) 159.
[5] R. Cantalamessa, La vida en Cristo (PPC; Madrid 1998) 64.
[6] A luz da palavra. Comentários sobre as leituras dominicais (Encuentro; Madrid 1998) 16.
[7] A subida do Monte Sinai (Lumen; Buenos Aires 1995) 119-120.
TERCER DOMINGO DE ADVIENTO CICLO "A"
SORPRENDERSE – NO ESCANCALIZARSE – DE LA MISERICORDIA DEL SEÑOR
Primera Lectura (Is 35,1-6.10):
Este texto forma parte de la sección compuesta por los capítulos 34 y 35 de Isaías que recibe el nombre de "pequeño Apocalipsis" dado el tono y el contenido de sus oráculos: promesas para el fin de los tiempos y de regreso del exilio. En cuanto al mensaje "Is 34-35 infunde esperanza en el corazón del creyente, pues presenta la derrota del mal y el triunfo del bien"[1]. Aunque estos capítulos integran la primera parte de la profecía de Isaías (Is 1-39), su mensaje se entiende mejor si lo ubicamos en el período del segundo Isaías (Is 40-55), o sea, en el tiempo del exilio de Israel en Babilonia.
El texto comienza con un anuncio futuro de una situación de gozo y alegría (35,1-2). Ante este futuro promisorio donde se verá la gloria de Dios, la actitud que se pide viene expresada por unos verbos en imperativo que ordenan fortalecer a los débiles, afianzar a los flojos, animar a los desalentados (35,2-4). Justamente el anuncio de que el Señor está próximo, que "Él mismo viene a salvarlos", da la motivación para esta infusión de ánimo y de alegría.
Los efectos y, por tanto, los signos visibles de esta venida del Señor son la vista de los ciegos, la audición de los sordos, el caminar de los tullidos, la alabanza de los mudos. Vale decir que Dios obra Él primero lo que manda ya que quienes padecen una discapacidad son los más necesitados de ayuda y compasión. La venida del Señor hace que todos se pongan en camino, en marcha hacia la gloriosa Sión-Jerusalén. En Is 35,10 se describe este retorno o vuelta de los desterrados en un clima lleno de gozo y alegría.
Segunda Lectura (Sant 5,7-10):
En este fragmento de la carta de Santiago es de resaltar la presentación de una verdadera espiritualidad de la espera. Ante la certeza de la venida del Señor, el autor sugiere las virtudes que deben ejercitar los cristianos "en el mientras tanto"; en el "ya pero todavía no".
En primer lugar, exhorta a tener paciencia (con el verbo makroqume,w que literalmente significa grandeza de alma, magnanimidad, y se repite otra vez en este versículo y en 5,8.11). Luego pone el ejemplo del agricultor, quien después de haber sembrado, sólo le queda esperar con paciencia la lluvia. La paciencia debe ir acompañada de la infusión de ánimo y de la tolerancia hacia los demás, dejando el juicio al Señor que viene. También los profetas que hablaron en nombre del Señor han sido pacientes en medio de las pruebas y son ejemplos de vida y esperanza para los cristianos.
Evangelio (Mt 11,2-11):
La figura de Juan el Bautista vuelve a ser importante en el evangelio de este tercer domingo de Adviento, pues comienza diciendo que Él escucha hablar en la cárcel de las "obras de Cristo" y manda dos discípulos a preguntarle a Jesús: "¿Eres tú el que ha de venir o debemos esperar a otro?".
Existen varias opiniones sobre el sentido de esta pregunta, pero parece claro que para Juan Bautista el obrar de Jesús no coincide con sus expectativas, con su anuncio de un Mesías de juicio y condenación que hizo predicando en el desierto de Judea antes del bautismo de Jesús (cf. Mt 3, 1-12). Es que el hablar y el obrar de Jesús tal como nos lo ha narrado Mateo hasta aquí no están haciendo presente el juicio de Dios sino su Misericordia. De hecho, en las páginas precedentes al texto de hoy Mateo nos narró los milagros de Jesús, su sentarse a comer con los pecadores y el envío de los Apóstoles para que busquen a las ovejas perdidas. Juan Bautista al oír sobre estas obras se cuestiona sobre la identidad mesiánica de Jesús (¿debemos esperar a otro?).
Jesús, por su parte, responde a la pregunta de los discípulos de Juan diciéndoles que vayan a contarle, otra vez, cuáles son sus obras, lo que oyen y ven. Lo que oyen se referiría al sermón del Monte (Mt 5-7) y lo que ven a los milagros y curaciones (Mt 8-9).
La respuesta de Jesús remite claramente a algunos textos del Antiguo Testamento, en particular del profeta Isaías, uno de los cuales hemos escuchado en la primera lectura de hoy. Aquí aparecen la curación de los ciegos, los paralíticos y los sordos como el efecto-signo de la venida salvadora de Dios a su pueblo. Los otros textos serían Is 29,18-19; 42,7.18 e Is 61,1. Este último describe al profeta como ungido por el Espíritu y enviado a sanar y anunciar la Buena Noticia a los pobres. Además de los textos proféticos, nos informa U. Luz[2] que “el judaísmo abrigó la esperanza de que en el nuevo eón o era mesiánica desaparecieran las enfermedades y el mal en general”. Vale decir que, si todo esto está sucediendo, es un signo claro de que Dios ha llegado, se ha hecho presente en Jesús. Por tanto, Jesús es el Mesías prometido por el profeta Isaías, no es el Mesías de juicio y condenación, sino de compasión y misericordia hacia los débiles y necesitados.
La curación de los ciegos y la resurrección de los muertos no aparecen mencionadas en los textos de Isaías. Con esto Jesús estaría dando a entender que las obras misericordiosas de Jesús van más allá todavía de lo anunciado por los profetas[3].
En síntesis, la intención de Jesús es que Juan Bautista al volver a escuchar hablar de las "obras de Cristo" reconozca ahora en ellas el cumplimiento de lo anunciado por el profeta Isaías. Juan no se ha equivocado en señalar a Jesús como el Cristo (Mt 3,11) y en Él Dios está cumpliendo sus promesas, pero con la novedad que le es propia. Y como esta novedad puede ser motivo de escándalo, Jesús hace una advertencia al final: "¡feliz aquel que no se escandalice de mí!" (Mt 11,6).
El verbo escandalizar (skandalízomai), en voz activa, significa ser ocasión de pecado en el sentido de provocar escándalo (Mt 5,29-30). En voz pasiva, como en nuestro texto, significa caer, ser engañado u obstaculizado, irritarse, contrariarse. En los evangelios es frecuente que las personas se escandalicen de Jesús (evskandali,zomai evn); por ejemplo los de Nazareth cuando les predica a ellos (Mt 13,57); o los fariseos ante la doctrina de Jesús (Mt 15,12). En San Pablo se trata principalmente del "escándalo de la cruz" (1Cor 1,23; Gal 5,11). En este caso escandalizarse de Jesús sería no aceptar la sorprendente novedad del Reino de Dios que hace presente Jesús mostrando que Dios viene a perdonar, a sanar, a liberar, a anunciar la buena noticia a los pobres.
Cuando se retiran los discípulos Juan, Jesús habla ahora a la gente y rescata la persona y misión del Bautista más allá de su confusión o desilusión (11,7-11). Juan Bautista fue un profeta y el mayor de ellos, en él se cumplió la profecía de Malaquías acerca de la venida de Elías como precursor del Mesías. Pero aún con toda su grandeza, Juan Bautista pertenece todavía al Antiguo Testamento, anunció la llegada del Reino, pero no pudo entrar en él, verlo presente y operante en el obrar de Jesús. Por ello el más pequeño en el Reino es más grande que él. Su misión de precursor fue necesaria para recordar las promesas de Dios, pero el cumplimiento de las mismas superó ampliamente las expectativas. Algo nuevo está sucediendo y el no comprenderlo puede generar escándalo.
ALGUNAS REFLEXIONES
Es tradición que este domingo de adviento se caracterice por el tema de la alegría (gaudete). Alegría que brota de la cierta esperanza en la venida del Señor. El Señor está cerca, la Navidad está cerca, la salvación está cerca. Y esta esperanza en su Venida engendra alegría, gozo en el corazón. Alegría que hace a la esencia del evangelio, tal como nos lo recuerda el Papa Francisco: "La alegría del Evangelio llena el corazón y la vida entera de los que se encuentran con Jesús. Quienes se dejan salvar por Él son liberados del pecado, de la tristeza, del vacío interior, del aislamiento. Con Jesucristo siempre nace y renace la alegría" (Evangelio Gaudium nº 1)
El tema de la alegría y del gozo está presente sobre todo en la primera lectura. La próxima venida de Dios transformará la desgraciada situación del pueblo exiliado en cantos de gozo por el regreso a Jerusalén. Es la cercana intervención de Dios en la historia la causa de la alegría porque "Dios se pone de parte del pobre y se compromete a hacerle justicia (el desquite) puesto que reconoce el valor de los sufrimientos padecidos y distingue entre el mal y el bien (la recompensa), llevando al hombre a la plenitud que ansía: el reconocimiento de su dignidad, la paz interior, la comunión con Dios (la salvación). La venida de Dios capacita de nuevo al hombre para la acción (las manos débiles), vuelve a poner en marcha a los inseguros (las rodillas vacilantes) e imprime una nueva personalidad (el corazón) capaz de decidirse con valentía. Un signo particular de la salvación será la curación de los necesitados. Cualquier categoría desafortunada ya no lo será cuando reconozca a Dios presente"[4].
Esta alegría que genera la cercanía de Dios y, por tanto, cercanía de la salvación, puede convivir con una situación presente desfavorable, de injusticia y de carencia. Y esto puede generar ansiedad o desaliento porque todavía no tiene lugar la salvación definitiva, plena. Es necesario en este "mientras tanto" cultivar la virtud de la paciencia o grandeza de alma, tal como recomienda la carta de Santiago en la segunda lectura de hoy. Hay que saber esperar sin desanimarse uno ni quejarse de los demás. Al contrario, hay que fortalecer y animar a los demás a seguir confiando, a seguir esperando. Esto es lo que han hecho los profetas que hablaron en nombre de Dios y que son presentados como modelos de esta paciencia o magnanimidad.
El evangelio nos trae también un motivo de alegría por cuanto deja en claro que Jesús ha venido a traer, en primer lugar, no el juicio de Dios (que sigue vigente pero pasa al fin de los tiempos) sino la misericordia y el perdón. Y esto es, según lo desarrolla San Pablo en la carta a los Romanos, el Evangelio mismo, la Buena Noticia que trae Jesús, que es Jesús. Dios ha revelado no su cólera contra el pecador sino su justicia. Pero decir que se ha manifestado la justicia de Dios (Rom 1) es lo mismo que decir: se ha manifestado la bondad de Dios, su amor, su misericordia.
Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 11 de diciembre de 2016: “Dios ha entrado en la historia para liberarnos de la esclavitud del pecado; ha puesto su tienda en medio de nosotros para compartir nuestra existencia, curar nuestras llagas, vendar nuestras heridas y donarnos la vida nueva. La alegría es el fruto de esta intervención de salvación y de amor de Dios. Hoy estamos invitados a alegrarnos por la llegada inminente de nuestro Redentor; y estamos llamados a compartir esta alegría con los demás, dando conforto y esperanza a los pobres, a los enfermos, a las personas solas e infelices. Que la Virgen María, la «sierva del Señor», nos ayude a escuchar la voz de Dios en la oración y a servirle con compasión en los hermanos, para llegar preparados a la cita con la Navidad, preparando nuestro corazón para acoger a Jesús”.
¿Y la conversión que nos pedía Juan el Bautista el domingo pasado para acceder al Reino dónde queda? La conversión sigue siendo necesaria, pero ha adquirido un sentido nuevo. Nos lo explica el P. Cantalamesa[5]: "Conversión y salvación se han cambiado de sitio. Ya no es: pecado-conversión-salvación (convertíos y estaréis salvados; convertíos y la salvación vendrá a vosotros); sino más bien: pecado-salvación-conversión (convertíos porque estáis salvados; porque la salvación ha venido a vosotros). Primero está la obra de Dios y después la respuesta del hombre, no viceversa".
La conversión en adviento implica purificar o rectificar el objeto de nuestra esperanza. El mismo Juan el Bautista tuvo que aceptar esta purificación pues esperaba y anunciaba un Mesías con otro estilo. H. U. von Balthasar[6] lo expresa bellamente: "El había esperado un hombre poderoso, que bautiza con Espíritu y fuego. Y en el evangelio aparece ahora un hombre dulce que «no apaga el pabilo vacilante»".
Por tanto, la confusión de Juan el Bautista surgió, en el fondo, porque sus expectativas no coincidían con la manifestación de Dios en Jesús, no entraba en sus esquemas previos. Entonces es necesaria aquí la conversión en el sentido etimológico de metánoia, cambio de mentalidad para entender la lógica de Dios que es la del amor, que salva, cura y perdona primero; que se dona y se entrega totalmente; esperando luego nuestra respuesta sincera. Entonces la conversión consiste ante todo en la aceptación del amor de Dios, de su voluntad de salvarnos; renunciando a la ilusa pretensión de querer salvarnos a nosotros mismos.
Lo contrario de esta verdad sería escandalizarse de Jesús, lo que sucede cuando queremos encerrar a Dios y su obrar en nuestros esquemas mentales, lo cual es una forma muy sutil de idolatría como lo explica muy bien R. Cantalamessa[7]: "Existe una forma de idolatría religiosa que no consiste en hacer un dios con representaciones o imágenes externas, como el becerro de oro, sino en hacerlo con imágenes internas, mentales e invisibles, y en cambiar esta imagen, que es la propia idea de Dios, por el Dios vivo y verdadero, y contentarse con ella. En esta forma la idolatría no ha ido disminuyendo a lo largo de los siglos, sino que, por el contrario, ha crecido, hasta alcanzar el colmo allí donde a la fe en Dios la ha reemplazado la ideología de Dios, es decir, un "pensamiento apartado de la realidad y que se desarrolla abstractamente sobre sus propios datos". La ideo-logia es la forma moderna de la ideo-latría. ¿Cuál es la diferencia entre Dios y la idea de Dios? Es que la idea no tiene existencia propia. ¡La idea no existe, Dios sí existe! ¡Una diferencia infinita!".
Por eso la opción es entre sorprenderse o escandalizarse. Escandalizarse sería aquí encerrarse en la propia mentalidad, en la propia idea de Dios, en una moral del sólo mérito, sin aceptar que "la salvación que Dios nos ofrece es obra de su misericordia. No hay acciones humanas, por más buenas que sean, que nos hagan merecer un don tan grande. Dios, por pura gracia, nos atrae para unirnos a sí. Él envía su Espíritu a nuestros corazones para hacernos sus hijos, para transformarnos y para volvernos capaces de responder con nuestra vida a ese amor" (EG nº 112).
Justamente por esto Jesús declara feliz al que no se escandaliza de él, porque está abierto a Dios, lo deja ser el que "primerea", el que nos sorprende una y otra vez con su ternura, con su delicado amor buscando incansablemente nuestro bien; no teniendo en cuenta el mal, llamando a todos a la conversión por amor. Se trata de sorprenderse, aceptar y vivir en la pastoral esta pedagogía de Dios. Como bien dice el Papa Francisco: "Jesucristo también puede romper los esquemas aburridos en los cuales pretendemos encerrarlo y nos sorprende con su constante creatividad divina. Cada vez que intentamos volver a la fuente y recuperar la frescura original del Evangelio, brotan nuevos caminos, métodos creativos, otras formas de expresión, signos más elocuentes, palabras cargadas de renovado significado para el mundo actual. En realidad, toda auténtica acción evangelizadora es siempre «nueva»." (EG nº 11).
Como conclusión y propósito para esta tercera semana de adviento podemos apropiarnos del consejo del Papa Francisco a los participantes en la 36 Congregación General de la Compañía de Jesús el 24 de octubre de 2016: “Pedir insistentemente la consolación. Siempre se puede dar un paso adelante en el pedir insistentemente la consolación. En las dos Exhortaciones Apostólicas [Evangelii gaudium y Amoris laetitia] y en la Encíclica Laudato si’ he querido insistir en la alegría. Ignacio, en los Ejercicios nos hace contemplar a sus amigos «el oficio de consolar», como propio de Cristo Resucitado (EE 224) […] Este «servicio de la alegría y de la consolación espiritual» arraiga en la oración. Consiste en animarnos y animar a todos a «pedir insistentemente la consolación a Dios». Ignacio lo formula de modo negativo en la 6ª regla de primera semana, cuando dice que «mucho aprovecha el intenso mudarse contra la misma desolación» instando en la oración (EE 319). Aprovecha porque en la desolación somos muy «para poco» (EE 324). Practicar y enseñar esta oración de pedir y suplicar la consolación, es el principal servicio a la alegría. Si alguno no se cree digno (cosa muy común en la práctica), al menos insista en pedir esta consolación por amor al mensaje, ya que la alegría es constitutiva del mensaje evangélico, y pídala también por amor a los demás, a su familia y al mundo. Una buena noticia no se puede dar con cara triste. La alegría no es un plus decorativo, es índice claro de la gracia: indica que el amor está activo, operante, presente. Por eso el buscarla no debe confundirse con buscar “un efecto especial”, que nuestra época sabe producir para consumo, sino que se la busca en su índice existencial que es la “durabilidad”: Ignacio abre los ojos y se despierta al discernimiento de los espíritus al descubrir esta distinta valencia entre alegrías duraderas y alegrías pasajeras (Autobiog 8). El tiempo será lo que le da la clave para reconocer la acción del Espíritu”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Señor de los pequeños
La misión de nuestra vida, el porqué de la existencia
Hacernos otro Jesús, otro pobre entre los pobres
Otro pequeño entre los pequeños.
¿Cómo será eso Señor, dinos tus pensamientos?
Camino queremos ser, unidos como sarmientos
A la vid verdadera, al Sendero Eterno.
¿Profetas como Juan, anunciadores del Reino?
Voces queremos ser, Palabra de todos los tiempos
Pan bajado del cielo, Alimento imperecedero.
¿Prisioneros de este mundo, estrellas queremos ser?
Guías de tantos perdidos, luces en la oscuridad
Del Dios hecho hombre, del vencedor del mal.
Venga tu Espíritu a rememorar, aquel momento gozoso
Cuando el Señor se hizo Salud, y limpió nuestro rostro
Dejando estampado el suyo, en todos nosotros.
¡Esperanza! ¡Padre Nuestro! ¡Hijo Bendito que llegas!
¡Se acerca la Hora señalada, para renovar toda la tierra!
Llena de Alegría el alma y danos la Paz verdadera. Amén
[1] F. Ramis, Isaías (PPC; Madrid 2004) 91.
[2] El Evangelio según san Mateo Vol. II (Mt 8-17) (Sígueme, Salamanca 2001) 232.
[3] Cf. A. Levoratti, Evangelio según San Mateo (Guadalupe; Buenos Aires 1999) 196. Davies-Allison, The Gospel according to Saint Matthew, 243, piensan, en cambio, que la resurrección de los muertos sería una probable alusión a Is 26, 19: "Revivirán los muertos, tus cadáveres resurgirán".
[4] G. Zevini- G. Cabra, Lectio divina para cada día del año 1 (Verbo Divino; Estella 2001) 159.
[5] R. Cantalamessa, La vida en Cristo (PPC; Madrid 1998) 64.
[6] La luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 16.
[7] La subida al monte Sinaí (Lumen; Buenos Aires 1995) 119-120.