14/12/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Isaías 35,1-6a.10
Salmo Responsorial 145(146)-R-Vinde, Senhor, para salvar o vosso povo!
2ª Leitura: Tiago 5,7-10
Evangelho de Mateus 11,2-11
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 2João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos para lhe perguntarem: 3“És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?” 4Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” 7Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. 9Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. 11Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no reino dos céus é maior do que ele”. – Palavra da salvação.
Mt 11,2-11
O Evangelho de hoje é o início da convergência de duas pessoas (João Batista e Jesus). Os dois convergem nas suas missões (a do precursor e a do Messias) e no destino no qual consumam a missão.
João Batista está na prisão. Foi encarcerado porque ele ousou denunciar Herodes Antipas de cometer adultério com a cunhada. Sabemos que, por causa do ódio de Herodíades e a venalidade de Herodes, João Batista será decapitado e sua cabeça será entregue num prato a Herodíades.
João tinha anunciado a vinda do Messias esperado. Mas o que ele ouve falar a respeito de Jesus é muito diferente do que imaginava sobre o Messias. Sabemos que João Batista era um homem austero e que pregava no deserto a conversão urgente e exigente. Ele mesmo tinha avisado: “o machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada ao fogo”. No entanto o modo de agir de Jesus não corresponde à figura de Messias que o Batista imaginava. É por isso que ele envia alguns discípulos para perguntar: “é tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”
A pergunta do Batista é importante para nós. Pois também nós podemos cair na ilusão de ter de Jesus uma imagem que não corresponde ao que Jesus é realmente. É uma tentação muito perigosa, aquela de nos considerarmos conhecedores de Jesus. João Batista teve a humildade de perguntar a Jesus: é tu? Se sim, sou eu que tenho que mudar de mentalidade? Sou eu que tenho que me converter?
Jesus não responde com palavras, mas descrevendo o que ele faz: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. É surpreendente! O que Jesus faz é o cumprimento de Is 35,5-6; 61,1. João Batista conhecia bem esta passagem profética: Jesus é realmente aquele que devia vir!
Jesus, porém, acrescenta: Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim! Muitos se escandalizam com a pregação e a vida de Jesus; escandalizam-se da humildade de Jesus. Gostariam de um Messias mais espetacular e midiático. Ser crucificado e morrer abandonado é um escândalo para os que nutrem sonhos de poder e de dominação.
Depois de se revelar a João, Jesus revela a identidade de João Batista. Ele não é um caniço agitado pelo vento. Era um homem íntegro que não cedeu às ameaças e se mostrou inflexível perante o pecado. Era um homem austero e pobre, porque não lhe importava o conforto, mas somente Deus. Por isso não se vestia com roupas fina, não era um “colarinho branco”. Ele é mais do que um profeta; é o maior de todos os nascidos neste mundo.
A grandeza de João Batista corresponde à sua pequenez: o menor no Reino dos Céus é maior do que ele! Para ser do Reino de Deus é absolutamente necessária uma intervenção de Deus, pois para entrar no Reino são necessários o novo nascimento e o novo ser. E isso ninguém, nem mesmo João Batista é capaz de alcançar somente com suas forças. A afirmação de que João Batista é menor, não tem a finalidade de rebaixá-lo, mas de mostrar a necessidade que todos temos do dom de Deus!
Tempo de Advento: O despertar dos sentidos
Pe Adroaldo Paloro
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo...” (Mt 11,4)
Hoje precisamos ativar uma nova sensibilidade contemplativa para perceber a misteriosa ação de Deus em nosso mundo, marcado pela injustiça, pela violência, pela cultura da indiferença, do preconceito e da intolerância. Encontrar Deus numa realidade de profunda desumanização foi e será sempre um desafio.
Jesus, movido por uma sensibilidade oblativa, manda dizer a João Batista e a nós para que abramos nossos sentidos à realidade, ao novo. Não nos diz, como em outras ocasiões, “recordem”, “façam memória”, “pensem”, “reflitam”, “ponderem” ..., mas, sim, “olhem”, “escutem”, “abram bem os sentidos, percebam a realidade de outra maneira, tirem de suas vidas as formatações que lhes travam o olhar e entopem os ouvidos, sacudam para fora de vocês a escuridão e o frio do inverno que os tem congelados, percebam os brotos, o germinal que rompe as cascas endurecidas e os terrenos petrificados que lhes querem silenciar; descubram o novo que Deus realiza em cada momento”.
Jesus revela uma sensibilidade diferente. Em seu coração arde a certeza de que a criatividade de Deus não pode ser bloqueada e, portanto, é preciso estar sempre atento, acordado, olhando a realidade com olhos contemplativos, porque a qualquer momento pode brotar algo inesperado e surpreendente. A fidelidade de Deus é como uma semente que permanece aberta à vida debaixo da terra completamente seca e desolada. Basta uma chuva para que brotem as folhas verdes e pintem de esperança a paisagem sem vida.
Encontrar Deus numa realidade de profunda desumanização foi e será sempre um desafio – Adroaldo Palaoro
É preciso estar olhando sempre o horizonte da história para ver se aparece um ponto pequeno, insignificante, que balança e cresce ao aproximar-se como novidade salvadora. É preciso estar olhando sempre o silêncio dos corações para ver se Deus faz surgir algo novo, uma intuição pequena que cruze o firmamento interior como uma estrela fugaz, algum sonho que abra a vida a novas possibilidades.
O Advento revela-se como um itinerário espiritual que vai nos transformando desde a “cegueira” e “surdez”, que pode levar-nos à perdição e morte, até a possibilidade de ver Deus presente em tudo, sem exclusão nenhuma, trabalhando sem descanso, para que possamos contemplá-lo em tudo, unindo-nos a Ele e à Sua atividade que tudo recria.
Nossa sensibilidade, cada vez mais petrificada pelo excesso de imagens e sons, tem maior dificuldade em perceber os detalhes mais finos da vida. Assim, esta mesma vida vai se banalizando, de tal maneira que vemos mortes, miséria e violência sem nos alterarmos, sem distinguirmos se é uma notícia ou um filme a mais que compete pela audiência, alimentando as atrocidades mais explícitas.
Por outro lado, a contemplação das “margens da dor e da injustiça” nos faz mergulhar no Mistério profundo de Deus. A experiência cristã nas margens da história é “mistério e contradição”, superabundância e sequidão, mística e vazio... Por isso é necessário reacender a “mistagogia do olhar” para poder compreender, ou ao menos vislumbrar, a “faísca de luz” que reluz nos contextos de exclusão.
“Tudo é segundo a dor com que se olha” (Benedetti). Ver a vida a partir da tela de um computador, ou auscultar os lamentos a partir de um celular, ou experimentar a vida a partir de um belo “PowerPoint” carregado de música emotiva e imagens impactantes, não nos capacita para “ver o novo nas margens da história”. João Batista pede um sinal porque teme por sua vida e quer deixar uma boa herança para seus seguidores. Envia uma delegação e Jesus lhes responde citando Isaías: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”.
Nossa sensibilidade, cada vez mais petrificada pelo excesso de imagens e sons, tem maior dificuldade em perceber os detalhes mais finos da vida. Assim, esta mesma vida vai se banalizando, de tal maneira que vemos mortes, miséria e violência sem nos alterarmos – Adroaldo Palaoro
Jesus não veio impor nada, nem complicar a vida com mais leis e ritos, mas estabelecer um movimento de vida centrado no serviço e no cuidado. Sua atividade de não violência, seu ministério terapêutico, seu anúncio da Boa Notícia, sua liberdade diante da lei e das tradições religiosas, escandalizou a todos.
Não podemos imaginar Jesus pregando a conversão pelos povoados e oferecendo penitência aos pecadores. Ele quebrou as distâncias, aproximou-se dos enfermos e dos sofredores de tal maneira que, poderíamos dizer, Jesus introduziu uma revolução religiosa de caráter curativo, uma religião terapêutica que não tinha precedentes na tradição judaica. Ele anunciou a salvação curando; isto foi tremendamente novo.
Jesus revelou que o maior pecado é praticar a injustiça, causar sofrimento ou tolerar a exclusão, dando as costas aos preferidos de Deus. Para Ele, o pecado não é uma simples transgressão de leis, mas quebra de relação, indiferença diante dos excluídos ou daqueles que são vítimas de uma estrutura social e religiosa. O pecado revela seu rosto desumanizador encarnado naquelas pessoas que estão sofrendo, vítimas da dureza de coração de muitos e que estão sendo esquecidas por todos. Começou, então, a curar...
Jesus curou não de maneira arbitrária ou por sensacionalismo, mas movido pela compaixão; revelou que os sofredores são os primeiros a experimentarem, em sua própria carne, o que é a bondade de Deus; os mais excluídos, os mais desesperançados, os mais quebrados, os que já não tem nem rosto humano..., são aqueles que devemos colocar no centro de nosso coração, porque são o centro do coração do Pai.
A grande revolução de Jesus, portanto, foi nos mostrar que Deus é de todos, que o encontro com Ele vai além dos templos magníficos, das vestimentas ostentosas, dos ritos sofisticados, dos sacerdotes que não “sentem o cheiro das ovelhas”. Os sábios, os entendidos, os moralistas e legalistas não eram os seus preferidos; mais ainda, se nos deixamos inspirar por aquilo que vemos em Jesus, percebemos que Seu coração sempre se inclinou para os marginalizados, os impuros, os excluídos, os enfermos... Poderíamos dizer que o Deus de Jesus não é “justo”, mas “compassivamente parcial” em favor dos mais necessitados.
Os sentidos, cristificados, nos impulsionam em direção ao outro e nos fazem acreditar na beleza e dignidade escondidas na fragilidade da condição humana – Adroaldo Palaoro
Jesus viu o Pai criando a vida nova e inimaginável, soltando todas as amarras que, precisamente por razões religiosas e por má interpretação do sábado e de Deus, paralisavam e mantinham seus filhos na escravidão. Esse é o dinamismo do Amor de Deus que se faz ternura e abraço acolhedor de todo ser humano.
Há um modo contemplativo de estar no mundo que nos capacita para perceber a Deus como Presença primeira e constitutiva da Realidade, pulsando em todas as coisas. Porque, em definitiva, o que nossos olhos querem ver, o que nossos ouvidos querem ouvir, é o Rosto-mais-além-dos-rostos que se manifesta através da realidade.
Revelar a beleza de alguém é revelar o seu valor e dignidade, dedicando-lhe tempo, atenção e ternura.
Amar não é apenas fazer algo pelo outro, mas revelar ao outro sua própria originalidade, comunicando-lhe, assim, que ele é especial e digno de atenção.
Podemos expressar essa revelação por meio da nossa presença aberta e gentil, pela maneira como olhamos e escutamos uma pessoa, pelo modo como falamos com ela e cuidamos dela.
Os sentidos, cristificados, nos impulsionam em direção ao outro e nos fazem acreditar na beleza e dignidade escondidas na fragilidade da condição humana.
Mergulhar na realidade que nos cerca, por meio dos sentidos bem abertos e evangelizados, é deixar estremecer de vida divina a fragilidade de nossa condição humana.
Uma comunidade de seguidores(as) Jesus não é só um lugar de iniciação à fé, nem só um espaço de celebração. Deve ser, de muitas maneiras, fonte de vida mais sadia, lugar de acolhida e casa para quem necessita de um lar.
Uma comunidade que segue o “Amigo da Vida” deve se constituir como “comunidade curadora”: mais próxima daqueles que sofrem, mais atenta aos doentes desassistidos, mais acolhedora daqueles que precisam ser escutados e consolados, mais presente nas situações dolorosas das pessoas...
Para meditar na oração:
Se alguém nos pergunta se somos seguidores do Messias Jesus: que obras em favor da vida podemos lhes mostrar? Que mensagem libertadora eles podem escutar de nós?
- Quais são as marcas características que não podem faltar em uma comunidade de seguidores(as) de Jesus?
- Sua comunidade cristã é “curadora” e “cuidadora”? É aberta à vida ou só se preocupa com ritualismos e moralismos? É “comunidade em saída” ou autocentrada?
Nestes tempos de crise religiosa e turbulência interior, é importante lembrar que Jesus Cristo não é propriedade exclusiva das Igrejas. Ele pertence a todos. Aqueles que o confessam como Filho de Deus podem se aproximar dele, assim como aqueles que buscam um sentido mais humano para suas vidas.
Há alguns anos, o renomado pensador Roger Garaudy, um marxista convicto na época, clamou aos cristãos: "Vocês reuniram e preservaram esta esperança que é Jesus Cristo. Devolvam-na a nós, pois ela pertence ao mundo inteiro".
Por volta da mesma época, Jean Onimus publicou seu fascinante e incomum livro sobre Jesus com o título provocativo de Le Perturbateur (O Perturbador). Dirigindo-se a Jesus, o escritor francês disse: "Por que deverias permanecer propriedade privada de pregadores, doutores e certos eruditos, tu que disseste coisas tão simples, palavras diretas, palavras que permanecem para a humanidade, palavras de vida eterna?"
Por isso, poucas coisas me trazem mais alegria do que saber que homens e mulheres distantes da prática religiosa tradicional buscam encontrar Jesus em meus escritos. Estou convencido de que ele pode ser, para muitos, o melhor caminho para encontrar Deus como um Amigo e dar às suas vidas um significado mais esperançoso.
Jesus não deixa ninguém indiferente a quem se aproxima. Finalmente encontramos alguém que vive na verdade, alguém que sabe por que devemos viver e por que vale a pena morrer. Percebemos que essa maneira de viver, tão "semelhante à de Jesus", é a forma mais adequada e humana de encarar a vida e a morte.
Jesus cura. Sua paixão pela vida expõe nossa superficialidade e convencionalismo. Seu amor pelos indefesos desmascara nosso egoísmo e nossa mediocridade. Sua verdade revela nossos autoenganos. Mas, acima de tudo, sua fé incondicional no Pai nos convida a abandonar a incredulidade e confiar em Deus.
Aqueles que hoje abandonam a Igreja por se sentirem desconfortáveis nela, ou por discordarem de algumas de suas ações ou diretrizes específicas, ou porque a liturgia cristã simplesmente perdeu todo o seu interesse vital para eles, não devem, portanto, abandonar Jesus automaticamente.
Quando alguém perde outros pontos de referência e sente que "algo" está morrendo em sua consciência, pode ser crucial não perder o contato com Jesus Cristo. O texto do Evangelho nos lembra de suas palavras: "Bem-aventurado aquele que não se envergonha de mim!" Bem-aventurado aquele que compreende tudo o que Cristo pode significar em sua vida.
Neste domingo, a liturgia nos convida a meditar sobre quem é Jesus através da pergunta que João Batista lhe faz, enviando alguns de seus discípulos para perguntar: "És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?" João está na prisão, porque suas palavras incomodaram aqueles que detinham o poder e tentaram silenciá-lo. Mas, embora estivesse preso, ele não se calou. Ele ouve falar das obras do Messias e, por isso, envia alguns dos discípulos que permaneciam perto dele com essa pergunta. No contexto evangélico, João expressa a dúvida que paira sobre alguns judeus que não se incorporavam à comunidade cristã porque Jesus não correspondia às expectativas que eles tinham do Messias. Mesmo na prisão, João continua com sua missão de anunciar o Messias, de apresentá-lo, de encorajar aqueles que estão ao seu lado a seguirem Jesus: ele é o Messias esperado, nele se cumprem as promessas do Senhor.
Jesus respondeu-lhes: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados".
Jesus não responde com teorias sobre quem é ou qual é sua missão; ele aponta para os sinais concretos que estão diante deles, aquilo que podem ouvir e ver. Sua identidade como Messias se revela na prática libertadora, voltada especialmente aos pobres e excluídos. Não se trata de um messianismo de glória ou triunfo, mas de um compromisso radical com os necessitados, que são os primeiros destinatários da Boa Nova.
Jesus não responde com teorias sobre quem é ou qual é sua missão; ele aponta para os sinais concretos que estão diante deles, aquilo que podem ouvir e ver – Ana Casarotti
Jesus destaca que os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Aquilo que antes era visto como castigo divino — doença, privação, limitação ou deficiência — torna-se precisamente o espaço onde Deus se manifesta. É nesse lugar de fragilidade que o Reino de Deus se revela, tendo os marginalizados como protagonistas e herdeiros da promessa. São eles os destinatários do Reino de Deus.
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo”. Jesus não lhes entrega uma explicação abstrata; ao contrário, convida-os a despertar os ouvidos e a abrir os olhos. As obras já lhes eram conhecidas, pois, como João, tinham ouvido falar delas. Mas agora, Jesus os chama a contemplar diretamente, a escutar de modo renovado, para que a resposta a João brote da própria experiência deles. Não são meros portadores de uma mensagem teórica ou conceitual: são convocados a participar do Reino, a tornar-se testemunhas vivas da Boa Nova, da presença libertadora de Deus que se revela junto aos que estão marginalizados no caminho.
Mais uma vez, Jesus nos convida, assim como aos discípulos de João, a “ver”, a ouvir, a nos deixarmos tocar pelos milagres que estão ao nosso lado, mas que não vemos! Mas, para isso, é necessário entrar nesse espaço de cegueira, de paralisia, de “morte” e, a partir daí, perceber os sinais da presença viva de Deus, onde a vida renasce, os cegos veem, os surdos ouvem. Lembramos as palavras do Papa Francisco quando pedia insistentemente: "paremos de tornar invisíveis" os que estão à margem da sociedade, seja por motivos de pobreza, seja por motivos de dependência, doença mental ou deficiência.[...] Como é que deixamos que a 'cultura do descarte', na qual milhões de homens e mulheres não valem nada em relação aos benefícios econômicos, como é que deixamos que esta cultura domine as nossas vidas, as nossas cidades, o nosso modo de vida?"
Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!
A prática de Jesus, voltada aos mais pobres e vulneráveis, não passa despercebida: ela escandaliza, incomoda e perturba. Ele não corresponde ao messias triunfante que muitos judeus esperavam; ao contrário, desestabiliza uma sociedade que escraviza e descarta os que não servem ao império dominante, e desafia uma religiosidade distante da vida concreta e cotidiana.
Reconhecê-lo como Messias exige atravessar a muralha erguida pela dúvida, construída com tijolos de conceitos falsos, palavras vazias e questionamentos estéreis. É preciso derrubar essa barreira para enxergar o caminho e aproximar-se dos cegos e surdos que agora veem e ouvem; para caminhar junto àquele que antes estava paralisado.
A prática de Jesus, voltada aos mais pobres e vulneráveis, não passa despercebida: ela escandaliza, incomoda e perturba – Ana Casarotti
Jesus nos chama a uma experiência viva e transformadora com Ele — uma experiência que se espalha e se comunica como a água que jorra da fonte, renovando e dando vida.
Neste tempo de preparação para o Natal, Jesus continua a nos chamar à sensibilidade diante daqueles que vivem ao nosso lado: os que não ouvem, os que não enxergam, os que não podem caminhar, ou mesmo os que já foram considerados “mortos” pela sociedade. É somente a partir dessa abertura do coração que podemos reconhecer sua ação libertadora, capaz de devolver vida, abrir os olhos, ressuscitar e fazer brotar, mesmo no mais profundo da dor, uma nova esperança.
Não se trata de teoria, hipótese ou especulação: é a presença real do Messias que caminha conosco, atraindo-nos e convidando-nos a olhar com seus olhos, a sentir com sua sensibilidade. Somente assim podemos perceber sua força libertadora, que transforma e renova.
Futuro tão presente
Já não perguntarei mais,
quando chegará teu dia
mas sim por onde atravessas o presente,
por que existe o malvado
mas sim de que maneira o salvas agora,
quando se curará minha ferida
mas sim como a curas neste instante,
quando acabarão as guerras,
mas sim onde constróis a justiça,
quando seremos numerosas
mas sim onde está hoje a gruta de Belém,
quando acabará a opressão
mas sim como passar pelas brechas do sistema,
quando te revelarás, mas sim onde te escondes.
Porque teu futuro é agora,
é este instante universal
onde todo o criado dá um passo
dentro de teu mistério partilhado.
Benjamin Gonzalez Buelta
1a. Leitura (Is 35, 1-6a.10) O povo estava no cativeiro. Os inimigos tinham vazado os olhos de alguns, outros estavam mutilados, a sua terra estava abandonada. O profeta canta de maneira espetacular a volta do cativeiro. Para nós, será símbolo de uma esperança maior.
Salmo (146 [145], 7-10) Cantamos no Salmo o louvor de Deus, que protege o fraco e o oprimido.
2a. Leitura (Tg 5,7-10) Para uma comunidade de judeus cristãos, gente sofrida e cansada, o escrito de Tiago fala de esperança, paciência e resistência, citando conhecidos exemplos da Bíblia.
3a. L. Evangelho (Mt 11,2-11) João Batista sabe, já entendeu que Jesus é o Cristo, o Messias. A pergunta dele é apropriada. Pergunta para que a gente entenda quais são os verdadeiros sinais da chegada do Salvador.
A Realidade
Seria extremamente ridículo parar o carro em frente a um sinal verde de trânsito para admirar aquela cor. O resultado seria uma batida. E se, numa encruzilhada, a pessoa fosse examinar se a placa é de latão ou de madeira, se os símbolos ou as letras estão bem ou mal desenhados? O sinal não é para ser admirado, é para ser entendido e seguido.
Cometemos esse erro frequentemente frente às narrativas de milagres nos Evangelhos. Chegamos a pensar que Jesus fizesse curas e mandasse seus discípulos fazerem apenas como um benefício em favor dos que nele creem. Estamos cansados de ver “igrejas” que curam a torto e a direito, não se sabe bem por quais interesses.
A Palavra
No Evangelho de hoje reaparece a figura do Batista. Ele manda perguntar a Jesus se é ele o Messias esperado e recebe dele os maiores elogios.
Jesus responde com os sinais que estão acontecendo. Abrir os olhos aos cegos, soltar a língua dos mudos, abrir os ouvidos dos surdos, soltar os braços e as pernas dos entrevados, enfim, dar nova vida aos que já estão mortos é o núcleo da missão do Messias.
Não cremos em um curandeiro, cremos em um Messias que dá nova vida à multidão cega, muda, surda, inválida, morta. Isso se resume numa palavra: Evangelizar os pobres. Por que os pobres, se eles estão mais perto da fé do que os ricos? É que ‘evangelizar’ significa levar boa notícia. E que melhor notícia do que fazer com que os pobres e marginalizados possam ver, ouvir, agir, o que lhes é proibido na sua atual situação.
Na primeira Leitura a esperança de libertação do cativeiro da Babilônia faz que todos sejam videntes, ouvintes, falantes, caminhantes e agentes. Deixem de ser objetos, tornem-se sujeitos, senhores de si. Vivam!
Na segunda, a expectativa da vinda do Senhor, justo juiz, significa a certeza na vitória da justiça, por mais que demore e que a injustiça pareça prevalecer.
O Mistério
A grande novidade (Evangelho) para os pobres é a salvação depender de Jesus que se entrega livremente à morte de cruz, a fim de abrir os caminhos para a nova humanidade. Na Eucaristia celebramos a Boa Nova da aceitação livre da morte maldita e seu resultado, a plena comunhão, onde não há cegos, surdos, mudos, inválidos, excluídos.
Nos evangelhos João, o batista, é o profeta que anuncia, prepara e até antecipa a missão de Jesus. No domingo passado vimos o Batista pregando e batizando no deserto, às margens do rio Jordão. Hoje o Mateus nos apresenta João encarcerado e próximo de ser decapitado, e cheio de dúvidas. A pergunta de João sobre a identidade de Jesus não revela apenas uma dúvida, mas uma verdadeira crise – “O senhor é aquele que ia chegar ou devemos esperar outro”?
A forma de Jesus viver e agir não correspondia com as expectativas criadas a seu respeito pela pregação do Batista. João, como muitos de seu tempo, esperava um messias conforme a tradição: um rei poderoso, um guerreiro forte, um juiz rigoroso, recompensando os bons e castigando os maus. Aparentemente, ele também, esperava um messias mais para o lado de condenar do que para salvar. O messias severo foi substituído pelo messias misericordioso.
Analisando o trecho
V. 2. “João Batista estava na quando ouviu falar do que Cristo fazia” (v. 2). A prisão de João é uma confirmação da sua identidade e missão como profeta. João foi preso por causa da sua pregação, sobretudo pela denúncia pública à relação imoral e ilegítima de Herodes com sua cunhada Herodíades, esposa de seu irmão Filipe. A perseguição sempre marcou a vida dos profetas de Israel, principalmente quando desmascaravam os poderosos.
Parece que houve uma inquietação nele, “tendo ouvido falar das obras do Cristo” (v. 2b). De fato, “as obras do Cristo”, isto é, o agir e o ensinar de Jesus, eram preocupantes para quem tinha idealizado nele o messias, esperado pelas antigas tradições judaicas. Ao invés de condenação, Jesus cumpria somente obras de salvação - curar doentes, inclusive leprosos, libertar de demônios, e o pior: ao invés de condenar os pecadores, Jesus gostava era de misturar-se com eles, comendo e bebendo em companhia deles. Portanto, o comportamento de Jesus revelava um messias às avessas, e isso preocupava João. Além de não cumprir certos ritos e práticas devocionais dos fariseus Jesus ainda incentivava seus discípulos a fazerem o mesmo. E, se as obras de Jesus deixaram João embaraçado, muito mais ainda deve ter ficado com as palavras dele.
V. 3. João “mandou que alguns dos seus discípulos fossem perguntar a ele: ‘O senhor é aquele que ia chegar ou devemos esperar outro’” (v. 3). Pela pergunta, percebe-se claramente que havia dúvidas e preocupação em João sobre a messianidade de Jesus. Portanto, com essa pergunta, João visava verificar a messianidade de Jesus. E, pelo comportamento de Jesus, as informações que chegavam até João não poderiam animá-lo. Ao invés do rigorismo predito pelo Batista, Jesus apresentou-se cheio de amor e misericórdia, não aplicando os terríveis castigos aos pecadores, como esperava João. Portanto, a crise do Batista tornou-se inevitável.
Vv. 4-5. João não foi o primeiro e nem o último a se decepcionar com o nazareno. Por isso, a resposta de Jesus foi muito serena, mas cheia de vida e de convicção, deixando até que os fatos falassem por si: “Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo. Digam a ele que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e os pobres recebem o evangelho.” (vv. 4-5). Com estas categorias de pessoas sendo reabilitadas, Jesus está afirmando que o seu messianismo consiste em restaurar, resgatar o que parecia perdido, ao invés de destruir com o fogo, como tinha anunciado o Batista (cf. Mt 3,10.12). A resposta de Jesus mostra as primícias do Reino. É a partir das situações transformadas que o Reino começa a se manifestar no mundo. Assim revela-se uma clara opção pelos pobres, os últimos, os marginalizados de todos os tempos, mostrando o quanto o Reino é inclusivo, ao invés de seletivo, como João imaginava.
V. 6. Na resposta de Jesus está a certeza de que o Reino que estava próximo, segundo o próprio João (cf. Mt 3,2), tinha, finalmente, chegado. E, esse Reino é de inclusão e vida nova. Diante disso, Jesus proclama uma bem-aventurança: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (v. 6).
Vv 7-9. Jesus faz um grande elogio a João Batista, quando seus discípulos já tinham ido embora levando a resposta: “Quando os discípulos de João foram embora, Jesus começou a dizer ao povo o seguinte a respeito de João: O que vocês foram ver no deserto? Um caniço sacudido pelo vento? O que foram ver? Um homem bem-vestido? Ora, os que se vestem bem moram nos palácios! Então me digam: o que esperavam ver? Um profeta? Sim. E eu afirmo que vocês viram muito mais do que um profeta. (vv. 7-9). Nesse testemunho elogioso a respeito do Batista, Jesus exalta suas qualidades de profeta, ressaltando seu testemunho, integridade, honestidade e austeridade. Para Jesus, João foi até maior do que todos os antigos profetas. Nisso, se percebe o afeto que unia os dois, apesar da inegável crise e divergência na maneira de conceber o Reino de Deus. Se houve um pouco de angústia em Jesus ao receber o “ultimato” dos discípulos de João, muito mais deve ter tido o próprio João, pois, encarcerado, não podia ver o que Jesus fazia, apenas ouvia falar a seu respeito e, certamente, com distorções.
V. 10. Jesus reconheceu a importância de João Batista, interpretando-o, inclusive, à luz de profeta Malaquias nas Escrituras (cf. Ml 3,1): “É dele que está escrito: ‘eis que envio o meu mensageiro à tua frente…” (v. 10). Com isso, Jesus reforça que havia continuidade entre os dois, não obstante as diferenças que se transformaram em rupturas.
V. 11. Fez-lhe um elogio tão grande, a ponto de considerá-lo o maior dos seres humanos até então: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: de todos os homens que já nasceram, João Batista é o maior” (v. 11a). No entanto, João pertence a uma ordem agora antiga, ultrapassada, cujos esquemas não coincidem com a nova ordem que Jesus veio inaugurar, o Reino dos céus. Esse Reino é uma sociedade alternativa, incompatível com todas as formas de organização social até então experimentadas. Para entrar nesse Reino, não contam os títulos de honra e grandeza, mas apenas a adesão livre ao projeto libertador de Jesus, cujo critério principal de pertença é a capacidade de fazer-se pequeno (cf. Mt 18,3; 19,14). Por isso, “Porém quem é menor no Reino do Céu é maior do que ele” (v. 11b). Não se trata de uma desvalorização do Batista, mas de evidenciar que Jesus inaugura uma nova humanidade em todos os sentidos.
Concluindo
1.Com o exemplo de João Batista, o evangelho de hoje ensina que não devemos ter medo de duvidar e questionar. É a partir das dúvidas que a fé cresce, se tornando autêntica e sólida.
2. Por causa do seu questionamento, João teve a oportunidade de confrontar suas convicções com a verdadeira natureza da messianidade de Jesus. Por ter tido a coragem de questionar, ele aprendeu que o messias autêntico veio para incluir, para renovar o que a religião e a sociedade tinham descartado: os pobres, marginalizados e pecadores.
3. Que este tempo do advento nos ajude a discernir sobre a verdadeira identidade de Jesus, o messias de todos, mas principalmente dos pobres, das pessoas mais necessitadas. Precisamos nos precaver para não esperar o messias errado.
(Se desejar, confira a tradução do Google com o texto original em espanhol logo depois da tradução)
TERCEIRO DOMINGO DO CICLO DO ADVENTO "A"
MARAVILHAR-SE COM A MISERICÓRDIA DO SENHOR
Primeira Leitura (Is 35,1-6, 10):
Este texto faz parte da seção composta pelos capítulos 34 e 35 de Isaías, conhecida como o "Pequeno Apocalipse" devido ao tom e conteúdo de seus oráculos: promessas para o fim dos tempos e o retorno do exílio. Quanto à mensagem, "Isaías 34-35 infunde esperança no coração do crente, pois apresenta a derrota do mal e o triunfo do bem." ¹ Embora esses capítulos façam parte da primeira parte da profecia de Isaías (Isaías 1-39), sua mensagem é melhor compreendida quando situada no período do Segundo Isaías (Isaías 40-55), ou seja, durante o tempo do exílio de Israel na Babilônia.
O texto começa com o anúncio de uma situação futura de alegria e júbilo (35:1-2). Diante desse futuro promissor, onde a glória de Deus será vista, a atitude necessária é expressa por meio de verbos imperativos que nos ordenam fortalecer os fracos, firmar os desanimados e encorajar os desalentados (35:2-4). É precisamente o anúncio de que o Senhor está próximo, de que "Ele mesmo virá para salvá-los", que fornece a motivação para essa infusão de coragem e alegria.
Os efeitos, e portanto os sinais visíveis, desta vinda do Senhor são a visão dos cegos, a audição dos surdos, o andar dos coxos e o louvor dos mudos . Vale ressaltar que Deus primeiro cumpre o que ordena, visto que aqueles que sofrem de alguma deficiência são os que mais necessitam de ajuda e compaixão. A vinda do Senhor coloca todos em seu caminho, na marcha rumo à gloriosa Sião-Jerusalém. Isaías 35:10 descreve este retorno dos exilados em uma atmosfera repleta de alegria e júbilo .
Segunda Leitura (Tiago 5:7-10):
Neste trecho da Carta de Tiago, destaca-se a apresentação de uma verdadeira espiritualidade de espera . Diante da certeza da vinda do Senhor, o autor sugere as virtudes que os cristãos devem cultivar "enquanto isso"; no "já, mas ainda não".
Primeiramente, ele nos exorta a sermos pacientes (usando o verbo makroqume, que significa literalmente grandeza de alma, magnanimidade, e é repetido neste versículo e em 5:8, 11). Em seguida, ele dá o exemplo do agricultor que, após a semeadura, só pode esperar pacientemente pela chuva. A paciência deve ser acompanhada de coragem e tolerância para com os outros, deixando o julgamento para o Senhor que há de vir. Os profetas que falaram em nome do Senhor também foram pacientes em meio às provações e são exemplos de vida e esperança para os cristãos.
Evangelho (Mt 11,2-11):
A figura de João Batista volta a ser importante no evangelho deste terceiro domingo do Advento, pois começa por dizer que ele ouve na prisão comentários sobre as "obras de Cristo" e envia dois discípulos para perguntar a Jesus: "És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?"
Existem diversas opiniões sobre o significado desta questão, mas parece claro que, para João Batista, as ações de Jesus não se alinham com suas expectativas messiânicas, com a proclamação de um Messias de juízo e condenação, feita enquanto pregava no deserto da Judeia antes do batismo de Jesus (cf. Mt 3,1-12) . De fato, as palavras e ações de Jesus, conforme narradas por Mateus até este ponto, não demonstram o juízo de Deus, mas sim a Sua misericórdia . Aliás, nas páginas que precedem o texto de hoje, Mateus relata os milagres de Jesus, como Ele se sentou para comer com pecadores e o envio dos Apóstolos para buscar a ovelha perdida. Ao ouvir falar desses feitos, João Batista questiona a identidade messiânica de Jesus (deveríamos esperar outra? ) .
Jesus, por sua vez, responde à pergunta dos discípulos de João dizendo-lhes para irem e lhe contarem novamente quais eram as suas obras, o que tinham ouvido e visto . O que eles ouviam se referia ao Sermão da Montanha (Mt 5-7) e o que eles viam aos milagres e curas (Mt 8-9).
A resposta de Jesus alude claramente a vários textos do Antigo Testamento, particularmente do profeta Isaías, um dos quais ouvimos na primeira leitura de hoje. Aqui, a cura dos cegos, dos paralíticos e dos surdos aparece como o efeito simbólico da salvação de Deus para o seu povo . Os outros textos seriam Isaías 29:18-19; 42:7, 18; e Isaías 61:1. Este último descreve o profeta como ungido pelo Espírito e enviado para curar e proclamar a Boa Nova aos pobres. Além dos textos proféticos, U. Luz 2 nos informa que "o judaísmo acalentava a esperança de que, na nova era messiânica, a doença e o mal em geral desapareceriam". Ou seja, se tudo isso está acontecendo, é um sinal claro de que Deus chegou, se fez presente em Jesus. Portanto, Jesus é o Messias prometido pelo profeta Isaías; ele não é o Messias do julgamento e da condenação, mas da compaixão e da misericórdia para com os fracos e necessitados .
A cura dos cegos e a ressurreição dos mortos não são mencionadas nos textos de Isaías. Com isso, Jesus estaria insinuando que suas obras de misericórdia vão ainda mais longe do que o que foi predito pelos profetas .
Em resumo, a intenção de Jesus é que João Batista, ao ouvir novamente sobre as "obras de Cristo", reconheça nelas o cumprimento do que o profeta Isaías predisse. João não se enganou ao identificar Jesus como o Cristo (cf. Mt 3,11), e nEle Deus cumpre Suas promessas, mas com Sua própria novidade singular. E como essa novidade pode ser motivo de escândalo, Jesus oferece uma advertência no final: "Bem-aventurado aquele que não se escandaliza em mim!" (Mt 11,6).
O verbo "escandalizar " ( skandalízomai ), na voz ativa , significa ser ocasião de pecado, no sentido de causar escândalo (cf. Mt 5,29-30). Na voz passiva , como em nosso texto, significa cair, ser enganado ou impedido, ficar irritado, ficar incomodado . Nos Evangelhos, é comum que as pessoas se escandalizem com Jesus (e vskandali,zomai e vn); por exemplo, o povo de Nazaré quando ele lhes prega (cf. Mt 13,57); ou os fariseus diante do ensinamento de Jesus (cf. Mt 15,12). Em São Paulo, trata-se principalmente do "escândalo da cruz" (cf. 1 Cor 1,23; Gl 5,11). Em nosso texto, "escandalizar-se com Jesus" significaria não aceitar a surpreendente novidade do Reino de Deus que Jesus torna presente ao mostrar que Deus vem para perdoar, curar, libertar e proclamar as boas novas aos pobres.
Quando os discípulos se retiram, Jesus dirige-se ao povo e resgata a pessoa e a missão de João Batista da confusão e desilusão que os envolviam (cf. 11,7-11). João Batista era um profeta, e o maior entre eles; nele se cumpriu a profecia de Malaquias sobre a vinda de Elias como precursor do Messias. Mas, mesmo com toda a sua grandeza, João Batista ainda pertence ao Antigo Testamento. Ele anunciou a chegada do Reino, mas não pôde entrar nele, vê-lo presente e atuante na obra de Jesus. Portanto, o menor no Reino é maior do que ele. Sua missão como precursor era necessária para relembrar as promessas de Deus ao povo, mas o cumprimento delas superou em muito as expectativas. Algo novo está acontecendo, e não compreendê-lo pode causar escândalo; e o caminho para superá-lo é purificando a fé.
ALGUMAS REFLEXÕES:
É tradição que este domingo do Advento seja caracterizado pelo tema da alegria (Gaudete) . Alegria que brota da certeza da esperança da vinda do Senhor. O Senhor está perto, o Natal está perto, a salvação está perto. E essa esperança em sua vinda gera alegria, júbilo no coração . Alegria que está no coração do Evangelho, como nos lembra o Papa Francisco: “A alegria do Evangelho preenche os corações e as vidas de todos os que encontram Jesus. Aqueles que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior e da solidão. Com Jesus Cristo, a alegria renasce constantemente” ( Gaudium et Spes, n. 1).
O tema da alegria e do júbilo é particularmente proeminente na primeira leitura. O iminente retorno de Deus transformará a situação difícil do povo exilado em cânticos de alegria pelo seu retorno a Jerusalém.
Essa alegria que provém da proximidade de Deus, e, portanto, da proximidade da salvação, pode coexistir com uma situação presente de dificuldades, injustiças e carências. Isso pode gerar ansiedade ou desânimo, porque a salvação definitiva e completa ainda não chegou. Nesse "enquanto isso", é necessário cultivar a virtude da paciência, ou magnanimidade , como recomendado na Carta de Tiago, na segunda leitura de hoje. Devemos aprender a esperar sem nos desanimarmos ou reclamarmos dos outros . Pelo contrário, devemos fortalecer e encorajar os outros a continuarem confiando, a continuarem esperando. Foi isso que fizeram os profetas que falaram em nome de Deus, e eles são apresentados como modelos dessa paciência ou magnanimidade .
O Evangelho também nos traz um motivo de alegria, pois deixa claro que Jesus veio trazer, antes de tudo, não o juízo de Deus (que permanece em vigor, mas será perdoado no fim dos tempos), mas misericórdia e perdão. E isso, como explica São Paulo em sua carta aos Romanos, é o próprio Evangelho, a Boa Nova que Jesus traz, que é Jesus. Deus revelou não a sua ira contra o pecador, mas a sua justiça. Mas dizer que a justiça de Deus foi revelada (Rm 1) é o mesmo que dizer: a bondade de Deus, o seu amor, a sua misericórdia foram revelados.
E quanto à conversão que João Batista nos pediu no último domingo para entrarmos no Reino? A conversão ainda é necessária, mas adquiriu um novo significado. O Padre Cantalamesa explica : "Conversão e salvação trocaram de lugar. Não é mais: pecado-conversão-salvação (arrependa-se e você será salvo; arrependa-se e a salvação virá a você); mas sim: pecado-salvação-conversão (arrependa-se porque você está salvo; porque a salvação chegou a você). Primeiro vem a obra de Deus e depois a resposta do homem, e não o contrário."
A conversão no Advento envolve purificar ou retificar o objeto de nossa esperança . O próprio João Batista teve que aceitar essa purificação porque esperava e proclamava um Messias de natureza diferente. H.U. von Balthasar expressa isso de forma belíssima: "Ele esperava um homem poderoso, que batiza com o Espírito e com fogo. E no Evangelho aparece agora um homem manso que 'não apaga a chama que ainda fumega'."
Portanto, a confusão de João Batista surgiu, fundamentalmente, porque suas expectativas não se alinhavam com a manifestação de Deus em Jesus; não se encaixavam em suas noções preconcebidas. Assim, a conversão é necessária no sentido etimológico de metanoia , uma mudança de mentalidade para compreender a lógica de Deus, que é a do amor: amor que primeiro salva, cura e perdoa; amor que se doa e se entrega completamente, aguardando nossa resposta sincera. Portanto, a conversão consiste sobretudo em aceitar o amor de Deus, sua vontade de nos salvar, e renunciar à noção equivocada de tentar nos salvar.
A respeito disso, o Papa Francisco disse no Angelus de 11 de dezembro de 2022: “O texto enfatiza que João está na prisão, e isso, além do lugar físico, nos faz pensar na situação interior que ele está vivenciando: na prisão há trevas, falta a possibilidade de ver com clareza e de enxergar além… Irmãos e irmãs, nós também podemos, às vezes, nos encontrar em sua situação, em uma prisão interior, incapazes de reconhecer a novidade do Senhor, talvez aprisionados pela presunção de já saber tudo sobre Ele.”
Queridos irmãos e irmãs, jamais saberemos tudo sobre Deus, jamais! Talvez tenhamos em mente um Deus poderoso que faz o que quer, em vez do Deus de humilde mansidão, o Deus de misericórdia e amor, que sempre intervém respeitando nossa liberdade e nossas escolhas.
Talvez também nós sejamos levados a perguntar-Lhe: “És Tu, tão humilde, verdadeiramente o Deus que vem nos salvar?” O Advento, portanto, é um tempo de mudança de perspectivas, um tempo para nos maravilharmos com a grandeza da misericórdia de Deus.
Maravilha: Deus sempre inspira admiração. Deus é sempre quem desperta a admiração dentro de você. O Advento é um tempo em que, ao prepararmos o presépio para o Menino Jesus, aprendemos novamente quem é o nosso Senhor; um tempo para nos libertarmos de certas ideias preconcebidas e preconceitos em relação a Deus e aos nossos irmãos e irmãs.
O Advento é um tempo em que, em vez de pensarmos em presentes para nós mesmos, podemos oferecer palavras e gestos de consolo àqueles que estão sofrendo, como Jesus fez com os cegos, os surdos e os paralíticos.”
O oposto dessa verdade seria escandalizar-se com Jesus, o que acontece quando tentamos confinar Deus e sua obra às nossas estruturas mentais. Essa é uma forma muito sutil de idolatria, como explica muito bem o Rabino Cantalamessa : "Há uma forma de idolatria religiosa que não consiste em criar um deus com representações ou imagens externas, como o bezerro de ouro, mas sim em criá-lo com imagens internas, mentais e invisíveis, e em trocar essa imagem, que é a própria ideia de Deus, pelo Deus vivo e verdadeiro, e contentar-se com isso. Nessa forma, a idolatria não diminuiu ao longo dos séculos, mas, ao contrário, cresceu, atingindo seu ápice onde a fé em Deus foi substituída pela ideologia de Deus, isto é, um 'pensamento desvinculado da realidade e que se desenvolve abstratamente com base em seus próprios dados'. A ideologia é a forma moderna de ideolatria. Qual a diferença entre Deus e a ideia de Deus? É que a ideia não tem existência independente. A ideia 'Ele não existe, Deus existe!'" Uma diferença infinita!"
Portanto, a escolha é entre se surpreender ou se escandalizar . Escandalizar-se aqui seria fechar-se na própria mentalidade, na própria ideia de Deus, numa moralidade baseada apenas no mérito, sem aceitar que “a salvação que Deus nos oferece é obra da sua misericórdia. Não há ações humanas, por melhores que sejam, que nos tornem dignos de tão grande dom. Deus, por pura graça, nos atrai a si. Ele envia o seu Espírito aos nossos corações para nos fazer seus filhos, para nos transformar e para nos tornar capazes de responder com a nossa vida a esse amor” (EG n. 112).
Precisamente por isso, Jesus declara bem-aventurados aqueles que não se escandalizam com Ele, porque estão abertos a Deus, permitindo que Ele tome a iniciativa, que nos surpreenda sempre com a sua ternura, com o seu amor manso que busca incansavelmente o nosso bem; que ignora o mal, chamando a todos à conversão por amor. Trata-se de ser surpreendido, de acolher e de viver esta pedagogia de Deus no trabalho pastoral. Como bem disse o Papa Francisco: “Jesus Cristo também pode romper com os padrões enfadonhos em que tentamos confiná-lo e surpreende-nos com a sua constante criatividade divina. Cada vez que procuramos voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho, surgem novos caminhos, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras carregadas de um significado renovado para o mundo de hoje. Na realidade, toda a autêntica ação evangelizadora é sempre ‘nova’” (EG n.º 11).
Como conclusão e propósito para esta terceira semana do Advento, podemos acolher o conselho do Papa Francisco aos participantes da 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, em 24 de outubro de 2016: “Rezem persistentemente por consolação. Inácio, nos Exercícios Espirituais, nos leva a contemplar seus amigos ‘o ofício de consolar’, próprio de Cristo Ressuscitado (EE 224) [...] Este ‘serviço de alegria e consolação espiritual’ está enraizado na oração. Consiste em encorajar a nós mesmos e a todos os outros a ‘rezar persistentemente por consolação de Deus’. Inácio o formula negativamente na 6ª regra da primeira semana, quando diz que ‘é muito benéfico resistir ativamente à própria desolação’, incentivando a oração (EE 319). É benéfico porque na desolação somos muito ‘pouco’ (EE 324). Praticar e ensinar esta oração de pedir e suplicar por consolação é o principal serviço à alegria. Se alguém não se considera digno (uma prática muito comum), Ao menos insista em pedir essa consolação por amor à mensagem, pois a alegria é constitutiva da mensagem do Evangelho, e peça-a também por amor aos outros, à sua família e ao mundo. As boas novas não podem ser transmitidas com um semblante triste. A alegria não é um mero adorno; é uma clara indicação da graça: indica que o amor é ativo, operante, presente. Portanto, buscá-la não deve ser confundido com buscar um “efeito especial”, que nossa época sabe produzir para consumo, mas sim buscá-la em sua dimensão existencial, que é a “durabilidade”. Inácio abre os olhos e desperta para o discernimento dos espíritos ao descobrir esse valor distinto entre alegrias duradouras e alegrias passageiras (Autobiografia 8). O tempo lhe dará a chave para reconhecer a ação do Espírito.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Nenhum maior, nenhum pequeno
Nenhum homem jamais nasceu maior que John.
Ele vivia no deserto comendo gafanhotos.
Com pouco abrigo e sem cabana.
Dizia-se dele que era um profeta dos grandes.
Por laços de parentesco, eu compartilharia seu sangue.
E ela se desfez disso por você, sem ser defendida por ninguém.
Assim, mais um mártir foi semeado nesta terra.
Um caminho glorioso para o Reino
O tesouro escondido, a promessa
Senhor, teu coração estava cheio de tristeza.
Ele partiu deste mundo, tendo seu precursor sido assassinado.
E você os questionou, assim como faz hoje.
Porque ele será uma criança indefesa, nascida em uma manjedoura.
Aquele que finalmente vem para iluminar os nossos dias.
Mensageiro da paz e ele próprio uma mensagem de vida.
Senhorzinho, faça-nos pequenos.
Outros nos seguirão até seus braços ternos.
Nós, pastores, ficaremos maravilhados. Amém.
1 F. Ramis, Isaías (PPC; Madrid 2004) 91.
2 O Evangelho segundo São Mateus Vol. II (Mt 8-17) (Sígueme, Salamanca 2001) 232.
3 Cf. A. Levoratti, Evangelho segundo São Mateus (Guadalupe; Buenos Aires 1999) 196. Davies-Allison, O Evangelho segundo São Mateus , 243, pensa, por outro lado, que a ressurreição dos mortos seria uma provável alusão a Is 26, 19: “Os mortos viverão, os vossos cadáveres ressuscitarão”.
4 R. Cantalamessa, La vida en Cristo (PPC; Madrid 1998) 64.
5 A luz da palavra. Comentários sobre as leituras dominicais (Encuentro; Madrid 1998) 16.
6 A Ascensão do Monte Sinai (Lumen; Buenos Aires 1995) 119-120.
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TERCER DOMINGO DE ADVIENTO CICLO "A"
SORPRENDERSE DE LA MISERICORDIA DEL SEÑOR
Primera Lectura (Is 35,1-6.10):
Este texto forma parte de la sección compuesta por los capítulos 34 y 35 de Isaías que recibe el nombre de "pequeño Apocalipsis" dado el tono y el contenido de sus oráculos: promesas para el fin de los tiempos y de regreso del exilio. En cuanto al mensaje "Is 34-35 infunde esperanza en el corazón del creyente, pues presenta la derrota del mal y el triunfo del bien"1. Aunque estos capítulos integran la primera parte de la profecía de Isaías (Is 1-39), su mensaje se entiende mejor si lo ubicamos en el período del segundo Isaías (Is 40-55), o sea, en el tiempo del exilio de Israel en Babilonia.
El texto comienza con un anuncio futuro de una situación de gozo y alegría (35,1-2). Ante este futuro promisorio donde se verá la gloria de Dios, la actitud que se pide viene expresada por unos verbos en imperativo que ordenan fortalecer a los débiles, afianzar a los flojos, animar a los desalentados (35,2-4). Justamente el anuncio de que el Señor está próximo, que "Él mismo viene a salvarlos", da la motivación para esta infusión de ánimo y de alegría.
Los efectos y, por tanto, los signos visibles de esta venida del Señor son la vista de los ciegos, la audición de los sordos, el caminar de los tullidos, la alabanza de los mudos. Vale decir que Dios obra Él primero lo que manda ya que quienes padecen una discapacidad son los más necesitados de ayuda y compasión. La venida del Señor hace que todos se pongan en camino, en marcha hacia la gloriosa Sión-Jerusalén. En Is 35,10 se describe este retorno o vuelta de los desterrados en un clima lleno de gozo y alegría.
Segunda Lectura (Sant 5,7-10):
En este fragmento de la carta de Santiago es de resaltar la presentación de una verdadera espiritualidad de la espera. Ante la certeza de la venida del Señor, el autor sugiere las virtudes que deben ejercitar los cristianos "en el mientras tanto"; en el "ya pero todavía no".
En primer lugar, exhorta a tener paciencia (con el verbo makroqume,w que literalmente significa grandeza de alma, magnanimidad, y se repite otra vez en este versículo y en 5,8.11). Luego pone el ejemplo del agricultor, quien después de haber sembrado, sólo le queda esperar con paciencia la lluvia. La paciencia debe ir acompañada de la infusión de ánimo y de la tolerancia hacia los demás, dejando el juicio al Señor que viene. También los profetas que hablaron en nombre del Señor han sido pacientes en medio de las pruebas y son ejemplos de vida y esperanza para los cristianos.
Evangelio (Mt 11,2-11):
La figura de Juan el Bautista vuelve a ser importante en el evangelio de este tercer domingo de Adviento, pues comienza diciendo que Él escucha hablar en la cárcel de las "obras de Cristo" y manda dos discípulos a preguntarle a Jesús: "¿Eres tú el que ha de venir o debemos esperar a otro?".
Existen varias opiniones sobre el sentido de esta pregunta, pero parece claro que para Juan Bautista el obrar de Jesús no coincide con sus expectativas mesiánicas, con su anuncio de un Mesías de juicio y condenación que hizo predicando en el desierto de Judea antes del bautismo de Jesús (cf. Mt 3, 1-12). Es que el hablar y el obrar de Jesús tal como nos lo ha narrado Mateo hasta aquí no están haciendo presente el juicio de Dios sino su Misericordia. De hecho, en las páginas precedentes al texto de hoy Mateo nos narró los milagros de Jesús, su sentarse a comer con los pecadores y el envío de los Apóstoles para que busquen a las ovejas perdidas. Juan Bautista, al oír sobre estas obras, se cuestiona sobre la identidad mesiánica de Jesús (¿debemos esperar a otro?).
Jesús, por su parte, responde a la pregunta de los discípulos de Juan diciéndoles que vayan a contarle, otra vez, cuáles son sus obras, lo que oyen y ven. Lo que oyen se referiría al sermón del Monte (Mt 5-7) y lo que ven a los milagros y curaciones (Mt 8-9).
La respuesta de Jesús remite claramente a algunos textos del Antiguo Testamento, en particular del profeta Isaías, uno de los cuales hemos escuchado en la primera lectura de hoy. Aquí aparecen la curación de los ciegos, los paralíticos y los sordos como el efecto-signo de la venida salvadora de Dios a su pueblo. Los otros textos serían Is 29,18-19; 42,7.18 e Is 61,1. Este último describe al profeta como ungido por el Espíritu y enviado a sanar y anunciar la Buena Noticia a los pobres. Además de los textos proféticos, nos informa U. Luz2que “el judaísmo abrigó la esperanza de que en el nuevo eón o era mesiánica desaparecieran las enfermedades y el mal en general”. Vale decir que, si todo esto está sucediendo, es un signo claro de que Dios ha llegado, se ha hecho presente en Jesús. Por tanto, Jesús es el Mesías prometido por el profeta Isaías, no es el Mesías de juicio y condenación, sino de compasión y misericordia hacia los débiles y necesitados.
La curación de los ciegos y la resurrección de los muertos no aparecen mencionadas en los textos de Isaías. Con esto Jesús estaría dando a entender que las obras misericordiosas de Jesús van más allá todavía de lo anunciado por los profetas3.
En síntesis, la intención de Jesús es que Juan Bautista al volver a escuchar hablar de las "obras de Cristo" reconozca ahora en ellas el cumplimiento de lo anunciado por el profeta Isaías. Juan no se ha equivocado en señalar a Jesús como el Cristo (cf. Mt 3,11) y en Él Dios está cumpliendo sus promesas, pero con la novedad que le es propia. Y como esta novedad puede ser motivo de escándalo, Jesús hace una advertencia al final: "¡feliz aquel que no se escandalice de mí!" (Mt 11,6).
El verbo escandalizar (skandalízomai), en voz activa, significa ser ocasión de pecado en el sentido de provocar escándalo (cf. Mt 5,29-30). En voz pasiva, como en nuestro texto, significa caer, ser engañado u obstaculizado, irritarse, contrariarse. En los evangelios es frecuente que las personas se escandalicen de Jesús (e vskandali,zomai e vn); por ejemplo los de Nazareth cuando les predica a ellos (cf. Mt 13,57); o los fariseos ante la doctrina de Jesús (cf. Mt 15,12). En San Pablo se trata principalmente del "escándalo de la cruz" (cf. 1Cor 1,23; Gal 5,11). En nuestro texto “escandalizarse de Jesús” sería no aceptar la sorprendente novedad del Reino de Dios que hace presente Jesús mostrando que Dios viene a perdonar, a sanar, a liberar, a anunciar la buena noticia a los pobres.
Cuando se retiran los discípulos Juan, Jesús habla ahora a la gente y rescata la persona y misión del Bautista más allá de su confusión o desilusión (cf. 11,7-11). Juan Bautista fue un profeta y el mayor de ellos, en él se cumplió la profecía de Malaquías acerca de la venida de Elías como precursor del Mesías. Pero aún con toda su grandeza, Juan Bautista pertenece todavía al Antiguo Testamento, anunció la llegada del Reino, pero no pudo entrar en él, verlo presente y operante en el obrar de Jesús. Por ello el más pequeño en el Reino es más grande que él. Su misión de precursor fue necesaria para recordar las promesas de Dios, pero el cumplimiento de las mismas superó ampliamente las expectativas. Algo nuevo está sucediendo y el no comprenderlo puede generar escándalo; y la manera de superarlo es purificando la fe.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Es tradición que este domingo de adviento se caracterice por el tema de la alegría (gaudete). Alegría que brota de la cierta esperanza en la venida del Señor. El Señor está cerca, la Navidad está cerca, la salvación está cerca. Y esta esperanza en su Venida engendra alegría, gozo en el corazón. Alegría que hace a la esencia del evangelio, tal como nos lo recuerda el Papa Francisco: "La alegría del Evangelio llena el corazón y la vida entera de los que se encuentran con Jesús. Quienes se dejan salvar por Él son liberados del pecado, de la tristeza, del vacío interior, del aislamiento. Con Jesucristo siempre nace y renace la alegría" (Evangelio Gaudium nº 1)
El tema de la alegría y del gozo está presente sobre todo en la primera lectura. La próxima venida de Dios transformará la desgraciada situación del pueblo exiliado en cantos de gozo por el regreso a Jerusalén.
Esta alegría que genera la cercanía de Dios y, por tanto, cercanía de la salvación, puede convivir con una situación presente desfavorable, de injusticia y de carencia. Y esto puede generar ansiedad o desaliento porque todavía no tiene lugar la salvación definitiva, plena. Es necesario en este "mientras tanto" cultivar la virtud de la paciencia o grandeza de alma, tal como recomienda la carta de Santiago en la segunda lectura de hoy. Hay que saber esperar sin desanimarse uno ni quejarse de los demás. Al contrario, hay que fortalecer y animar a los demás a seguir confiando, a seguir esperando. Esto es lo que han hecho los profetas que hablaron en nombre de Dios y que son presentados como modelos de esta paciencia o magnanimidad.
El evangelio nos trae también un motivo de alegría por cuanto deja en claro que Jesús ha venido a traer, en primer lugar, no el juicio de Dios (que sigue vigente pero pasa al fin de los tiempos) sino la misericordia y el perdón. Y esto es, según lo desarrolla San Pablo en la carta a los Romanos, el Evangelio mismo, la Buena Noticia que trae Jesús, que es Jesús. Dios ha revelado no su cólera contra el pecador sino su justicia. Pero decir que se ha manifestado la justicia de Dios (Rom 1) es lo mismo que decir: se ha manifestado la bondad de Dios, su amor, su misericordia.
¿Y la conversión que nos pedía Juan el Bautista el domingo pasado para acceder al Reino dónde queda? La conversión sigue siendo necesaria, pero ha adquirido un sentido nuevo. Nos lo explica el P. Cantalamesa4: "Conversión y salvación se han cambiado de sitio. Ya no es: pecado-conversión salvación (convertíos y estaréis salvados; convertíos y la salvación vendrá a vosotros); sino más bien: pecado salvación-conversión (convertíos porque estáis salvados; porque la salvación ha venido a vosotros). Primero está la obra de Dios y después la respuesta del hombre, no viceversa".
La conversión en adviento implica purificar o rectificar el objeto de nuestra esperanza. El mismo Juan el Bautista tuvo que aceptar esta purificación pues esperaba y anunciaba un Mesías con otro estilo. H. U. von Balthasar5lo expresa bellamente: "El había esperado un hombre poderoso, que bautiza con Espíritu y fuego. Y en el evangelio aparece ahora un hombre dulce que «no apaga el pabilo vacilante»".
Por tanto, la confusión de Juan el Bautista surgió, en el fondo, porque sus expectativas no coincidían con la manifestación de Dios en Jesús, no entraba en sus esquemas previos. Entonces es necesaria aquí la conversión en el sentido etimológico de metánoia, cambio de mentalidad para entender la lógica de Dios que es la del amor, que salva, cura y perdona primero; que se dona y se entrega totalmente; esperando luego nuestra respuesta sincera. Entonces la conversión consiste ante todo en la aceptación del amor de Dios, de su voluntad de salvarnos; renunciando a la ilusa pretensión de querer salvarnos a nosotros mismos.
Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 11 de diciembre de 2022: “El texto subraya que Juan se encuentra en la cárcel, y esto, además del lugar físico, hace pensar en la situación interior que está viviendo: en la cárcel hay oscuridad, falta la posibilidad de ver claro y ver más allá…Hermanos y hermanas, también nosotros a veces podemos encontrarnos en su situación, en una cárcel interior, incapaces de reconocer la novedad del Señor, que quizá tenemos prisionero de la presunción de saber ya todo sobre Él.
Queridos hermanos y hermanas, nunca se sabe todo sobre Dios, ¡nunca! Quizá tenemos en la cabeza un Dios poderoso que hace lo que quiere, en vez del Dios de humilde mansedumbre, el Dios de la misericordia y del amor, que interviene siempre respetando nuestra libertad y nuestras elecciones.
Quizá nos surge también a nosotros decirle: “¿Eres realmente Tú, tan humilde, el Dios que viene a salvarnos?”. El Adviento, entonces, es un tiempo de inversión de perspectivas, donde dejarnos asombrar por la grandeza de la misericordia de Dios.
El asombro: Dios siempre asombra. Dios siempre es Aquel que suscita en ti el asombro. Un tiempo —el Adviento— en el que, preparando el belén para el Niño Jesús, aprendemos de nuevo quién es nuestro Señor; un tiempo en el que salir de ciertos esquemas, de ciertos prejuicios hacia Dios y los hermanos.
El Adviento es un tiempo en el que, en vez de pensar en regalos para nosotros, podemos donar palabras y gestos de consolación a quién está herido, como hizo Jesús con los ciegos, los sordos y los paralíticos”.
Lo contrario de esta verdad sería escandalizarse de Jesús, lo que sucede cuando queremos encerrar a Dios y su obrar en nuestros esquemas mentales, lo cual es una forma muy sutil de idolatría como lo explica muy bien R. Cantalamessa6: "Existe una forma de idolatría religiosa que no consiste en hacer un dios con representaciones o imágenes externas, como el becerro de oro, sino en hacerlo con imágenes internas, mentales e invisibles, y en cambiar esta imagen, que es la propia idea de Dios, por el Dios vivo y verdadero, y contentarse con ella. En esta forma la idolatría no ha ido disminuyendo a lo largo de los siglos, sino que, por el contrario, ha crecido, hasta alcanzar el colmo allí donde a la fe en Dios la ha reemplazado la ideología de Dios, es decir, un "pensamiento apartado de la realidad y que se desarrolla abstractamente sobre sus propios datos". La ideologia es la forma moderna de la ideo-latría. ¿Cuál es la diferencia entre Dios y la idea de Dios? Es que la idea no tiene existencia propia. ¡La idea no existe, Dios sí existe! ¡Una diferencia infinita!".
Por eso la opción es entre sorprenderse o escandalizarse. Escandalizarse sería aquí encerrarse en la propia mentalidad, en la propia idea de Dios, en una moral del sólo mérito, sin aceptar que "la salvación que Dios nos ofrece es obra de su misericordia. No hay acciones humanas, por más buenas que sean, que nos hagan merecer un don tan grande. Dios, por pura gracia, nos atrae para unirnos a sí. Él envía su Espíritu a nuestros corazones para hacernos sus hijos, para transformarnos y para volvernos capaces de responder con nuestra vida a ese amor" (EG nº 112).
Justamente por esto Jesús declara feliz al que no se escandaliza de él, porque está abierto a Dios, lo deja ser el que "primerea", el que nos sorprende una y otra vez con su ternura, con su delicado amor buscando incansablemente nuestro bien; no teniendo en cuenta el mal, llamando a todos a la conversión por amor. Se trata de sorprenderse, aceptar y vivir en la pastoral esta pedagogía de Dios. Como bien dice el Papa Francisco: "Jesucristo también puede romper los esquemas aburridos en los cuales pretendemos encerrarlo y nos sorprende con su constante creatividad divina. Cada vez que intentamos volver a la fuente y recuperar la frescura original del Evangelio, brotan nuevos caminos, métodos creativos, otras formas de expresión, signos más elocuentes, palabras cargadas de renovado significado para el mundo actual. En realidad, toda auténtica acción evangelizadora es siempre «nueva»." (EG nº 11).
Como conclusión y propósito para esta tercera semana de adviento podemos apropiarnos del consejo del Papa Francisco a los participantes en la 36 Congregación General de la Compañía de Jesús el 24 de octubre de 2016: “Pedir insistentemente la consolación. Ignacio, en los Ejercicios nos hace contemplar a sus amigos «el oficio de consolar», como propio de Cristo Resucitado (EE 224) […] Este «servicio de la alegría y de la consolación espiritual» arraiga en la oración. Consiste en animarnos y animar a todos a «pedir insistentemente la consolación a Dios». Ignacio lo formula de modo negativo en la 6ª regla de primera semana, cuando dice que «mucho aprovecha el intenso mudarse contra la misma desolación» instando en la oración (EE 319). Aprovecha porque en la desolación somos muy «para poco» (EE 324). Practicar y enseñar esta oración de pedir y suplicar la consolación, es el principal servicio a la alegría. Si alguno no se cree digno (cosa muy común en la práctica), al menos insista en pedir esta consolación por amor al mensaje, ya que la alegría es constitutiva del mensaje evangélico, y pídala también por amor a los demás, a su familia y al mundo. Una buena noticia no se puede dar con cara triste. La alegría no es un plus decorativo, es índice claro de la gracia: indica que el amor está activo, operante, presente. Por eso el buscarla no debe confundirse con buscar “un efecto especial”, que nuestra época sabe producir para consumo, sino que se la busca en su índice existencial que es la “durabilidad”: Ignacio abre los ojos y se despierta al discernimiento de los espíritus al descubrir esta distinta valencia entre alegrías duraderas y alegrías pasajeras (Autobiog 8). El tiempo será lo que le da la clave para reconocer la acción del Espíritu”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Ninguno más grande, pequeños
Ningún hombre ha nacido más grande que Juan
Él vivió en el desierto comiendo langostas
Con poco abrigo y sin choza
Se dijo de él que era un profeta de los grandes
Por parentesco llevaría tu misma sangre
Y la derramó por ti, defendido por nadie
Así otro mártir sembró en esta tierra
Un camino glorioso hacia el Reino
El tesoro escondido, la Promesa
Tu corazón Señor, se llenó de tristeza
Partía de este mundo, asesinado el precursor
Y tú los cuestionabas como lo haces hoy
Porque será un niño indefenso, nacido en un pesebre
Quien viene por fin a iluminar nuestros días
Mensajero de paz y él mismo mensaje de Vida
Pequeños Señor, haznos pequeños
Otros nos seguirán hasta tus brazos tiernos
Pastorcitos asombrados seremos. Amén.
1 F. Ramis, Isaías (PPC; Madrid 2004) 91.
2 El Evangelio según san Mateo Vol. II (Mt 8-17) (Sígueme, Salamanca 2001) 232.
3 Cf. A. Levoratti, Evangelio según San Mateo (Guadalupe; Buenos Aires 1999) 196. Davies-Allison, The Gospel according to Saint Matthew, 243, piensan, en cambio, que la resurrección de los muertos sería una probable alusión a Is 26, 19: "Revivirán los muertos, tus cadáveres resurgirán".
4 R. Cantalamessa, La vida en Cristo (PPC; Madrid 1998) 64.
5 La luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 16.
6 La subida al monte Sinaí (Lumen; Buenos Aires 1995) 119-120.