23/11/2025
1ª Leitura: 2 Samuel 5,1-3
Salmo Responsorial 121(122)-R- Quanta alegria e felicidade! Vamos à casa do Senhor!
2ª Leitura: Colossenses 1,12-20
Evangelho de Lucas 23,35-43
35 O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Eleito!” 36 Os soldados também zombavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre 37 e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!” 38 Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”.39 Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”40 Mas o outro o repreendeu: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena?41 Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”.42 E acrescentou:“ Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar”.43 Ele lhe respondeu: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”.
Lc 23,35-43
Celebramos a solenidade de Cristo Rei. Não estamos diante de qualquer Rei. O nosso amado e glorioso Rei é Jesus Crucificado! E não só. Estamos diante de Jesus Rei Crucificado que salva o malfeitor arrependido. Trata-se do Evangelho dentro do Evangelho. É o mistério da cruz que resgata a primeira ovelha perdida, que perdoa o pecador. É o filho pródigo abraçado pela Misericórdia divina. Esse é o mistério do Reino de Deus em ação!
Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus. Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23,38-42).
Jesus está suspenso na cruz. Matamos o inocente, odiamos quem nos ama, retribuímos o bem com o mal. Pior ainda. Além de praticar o mal, nos alegramos por tê-lo cometido sem que tenhamos sido pegos nem castigados. Sim. É isso o que acontece toda vez que nos alegramos com o mal que cometemos... é como zombar de Jesus pregado na cruz. “Desce da cruz”! “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!”
De novo somos confrontados com a palavra que brota do coração de Jesus. Como ele responde a essa zombaria maligna, ao escárnio irônico e prepotente?
Jesus suspenso no madeiro e escarnecido pelos inimigos é o documento da nossa condenação. A condenação de Cristo é a nossa condenação, porque essa condenação é fruto da nossa injustiça mais vergonhosa: a condenação do inocente. Mas Jesus não quis ser a causa de nossa condenação. Com ele termina o círculo vicioso da ofensa e da vingança. À ofensa feita a Deus caberia a vingança divina: fogo, raio, inferno. Bem merecíamos tudo isso. Mas Jesus rompeu essa cadeia interminável de ofensa e de vingança. Por isso Jesus rezou pelos seus inimigos.
Diante dessa reação de Jesus, um dos condenados é tocado no mais profundo do coração e suplica: Lembra-te de mim quando tiveres entrado no teu Reino!
A oração de Jesus produziu o seu primeiro fruto visível. No momento de desespero, no último momento de uma vida desperdiçada no crime, com suas últimas forças, recorrendo à sua ultima respiração, um dos malfeitores se dirige a Jesus e lhe pede para se recordar dele. “Lembra-te de mim”!
A resposta de Jesus é surpreendente:
“Hoje”: não será preciso esperar. Não haverá investigação ou processo. Jesus não salva depois de um longo processo de investigação. Ele salva hoje. Agora. Imediatamente.
Nós chamamos esse condenado de “bom ladrão” porque no último momento, diante de Jesus, ele reconhece que é um pecador. Ele é bom não porque teve uma vida santa e perfeita. Ele mesmo reconheceu que merecia a condenação e punição mais dura. Ele é chamado de “bom” porque ele olhou para Jesus, porque ele pediu a Jesus e suplicou que lembrasse dele. Olhar para Jesus, pedir a Ele... quando fazemos isso com sinceridade de coração, a salvação nos é dada imediatamente.
Mais importante ainda é o que se segue: “estarás comigo”. Além de revelar que a salvação é imediata, Jesus acrescenta que a salvação, no fim das contas, é “estar com ele”. O paraíso não é externo ou extrínseco a Jesus. Estar com Ele é estar no paraíso. Isto é o paraíso: é estar com ele.
Jesus não está mais sozinho. Com ele, partilhando do mesmo sofrimento atroz e morrendo pelo mesmo suplício está o bom ladrão. Estão também com Jesus todos os perdidos desta terra que tendo perdido a esperança em si mesmos olham para Jesus e pedem: Lembra-te de mim, Jesus!
A solenidade de Cristo Rei nos fala da realeza de Jesus. Do seu trono, a cruz, o nosso Rei pronuncia o julgamento de Deus sobre os inimigos: perdoa a doa o Reino aos malfeitores. Jesus é o Rei que exerce o seu poder servindo e dando a vida. Ele é o rei cujo único poder é amar e até a morte. É o Rei que não sabe e não pode amar a não ser infinitamente o pecador. Ele reina neste mundo, mas o seu Reino não é deste mundo. A salvação que Ele traz supera e não se limita à salvação que esperamos. É a salvação de Deus que assume sobre si a nossa condenação e o nosso merecido castigo para estar conosco e assim nos levar ao paraíso que outra coisa não é do que estar com Ele.
“Acima dele havia um letreiro: ‘Este é o rei dos judeus’” (Lc 23,38).
Ao longo do ano litúrgico fizemos um percurso catequético e espiritual da história da salvação, vivendo e celebrando os momentos mais significativos da vida e missão de Jesus Cristo: encarnação, nascimento, vida pública, anúncio da boa-notícia, paixão-morte-ressurreição-ascensão...
Agora, no fim deste tempo litúrgico nos encontramos com a festa de Cristo Rei, cume do caminho percorrido, de nossa vida pessoal, da história e da missão da Igreja. Ele é o horizonte.
Rei: não há outra palavra menos apropriada para Jesus.
Jesus, rei atípico. Os reis deste mundo vivem às custas de seus súditos.
Jesus crucificado é um estranho rei: seu reinado não se dá de forma impositiva, violenta ou cruel. N’Ele descobrimos um Rei que não se apoia na força e no poder, mas na fragilidade e no escândalo da Cruz; seu trono é o madeiro da cruz: sinal de fracasso; sua coroa é a de espinhos; seu cetro é a toalha para lavar os pés: sinal de serviço; não tem manto, está desnudo; até os seus seguidores o abandonaram.
Lucas nos diz onde e como Jesus ganha este título de rei: na entrega de sua vida até a morte. Seu senhorio é de amor incondicional, de compromisso com os pobres, de liberdade e justiça, de solidariedade e de misericórdia. Jesus reina perdoando, amando e comunicando vida a partir de uma situação de humilhação e impotência extremas. Um rei crucificado é uma contradição e um escândalo.
Seu senhorio é de amor incondicional, de compromisso com os pobres, de liberdade e justiça, de solidariedade e de misericórdia. Jesus reina perdoando, amando e comunicando vida a partir de uma situação de humilhação e impotência extremas – Adroaldo Palaoro
Usamos, ainda hoje, sobretudo na linguagem religiosa, imagens que nasceram em outro tempo e em outro contexto cultural. Que reações provoca o título de “rei” numa sociedade na qual os reis já são tão pouco estimados e menos amados? A realeza atribuída a Jesus necessita de uma oportuna iluminação.
O título de Cristo Rei corre o risco de ser utilizado de uma forma pagã, como uma pura imitação dos reis deste mundo. O triunfalismo religioso e político tem utilizado este título para defender ideias conservadoras, concepções triunfalistas e dominadoras, poderes vazios...
Se continuarmos escondendo Jesus debaixo de vestes suntuosas e trono de ouro, tão distantes do que Ele foi na realidade, o reduziremos a uma entidade quase mítica que só pode interessar às pessoas esotéricas, supersticiosas e saudosas do passado.
Este é o maior paradoxo da história humana: o Crucificado é esperança dos pobres, dos pecadores e de todos os sofredores. Jesus é Rei desta forma e não da forma triunfalista como querem os cristãos “triunfalistas”. Um rei que toca leprosos, que prefere a companhia dos excluídos e não dos poderosos deste mundo. Seu reinado passa pela dinâmica do serviço, do perdão e da disponibilidade, da acolhida, da misericórdia e da proximidade.
Um rei que lava os pés dos seus, um rei que não tem riquezas e que não pode defender-se, pois não tem exército... Um rei sem trono, sem palácio, sem poder. Pobre rei!
Por isso, para poder aplicar a Jesus o título de “rei”, devemos despojá-lo de toda conotação de poder, força ou dominação. Jesus sempre se manifestou contrário a todo tipo de poder. E não só condenou aqueles que que se impõem sobre os outros, como também condenou, com a mesma veemência, aqueles que se deixam submeter e se fazem subservientes.
Jesus quer seres humanos completos, isto é, livres. Ele quer pessoas ungidas pelo Espírito de Deus, que sejam capazes de manifestar o divino através de sua humanidade. Tanto o que escraviza como o que se deixa escravizar, deixa de ser humano e se afasta do divino.
Para poder aplicar a Jesus o título de “rei”, devemos despojá-lo de toda conotação de poder. Jesus sempre se manifestou contrário a todo tipo de poder. E não só condenou aqueles que que se impõem sobre os outros, como também condenoun aqueles que se deixam submeter – Adroaldo Palaoro
Jesus quer que todos sejamos “reis”, ou seja, que não nos deixemos escravizar por nada nem por ninguém. Quando responde a Pilatos, não diz “sou o rei”, mas “sou rei”; com isso, está demonstrando que não é o único, que qualquer um pode descobrir seu verdadeiro ser e agir segundo esta exigência.
Há uma nobreza e uma realeza presentes em nosso interior e que são ativadas no encontro com o outro, através da compaixão, do serviço, do amor solidário...
Devemos estar conscientes de que o sentido que queremos dar a esta festa não é aquele dado pelo papa Pio XI que, em 1926, num momento delicado para a Igreja diante da perda de seu prestígio e de seu poder, quis ressaltar o “poder espiritual” de Cristo como rei da história e do mundo; ao mesmo tempo, quis reafirmar, frente aos poderes deste mundo, o poder de Cristo como origem de toda autoridade real ou política e, sobretudo, como fundamento do poder da própria Igreja.
Uma leitura mais repousada do Evangelho e do Concílio Vaticano II nos convida a reler de novo esta festa para despojá-la, como fizeram com Jesus, de suas roupagens políticas, dos adereços dos poderosos e influentes. A Igreja não deve e não pode ser um poder real no mundo, mas uma presença inspiradora de transformação do coração e das estruturas que excluem o ser humano e o esvaziam de sua dignidade.
Devemos, sim, conservar o título, mas mudar a maneira de entendê-lo, ou seja, com o Evangelho na mão podemos continuar falando de “Jesus Cristo, rei do universo”.
Jesus será “Rei do Universo” quando a paz, o amor e a justiça reinarem em todos os rincões da terra, quando todos sejamos testemunhos da verdade, quando em todos os ambientes a mesa do Reino se tornar mesa de inclusão e de acolhida... Jesus será Rei quando estivermos dispostos a fazer descer da Cruz aqueles que hoje estão dependurados nela.
A Igreja não deve e não pode ser um poder real no mundo, mas uma presença inspiradora de transformação do coração e das estruturas que excluem o ser humano e o esvaziam de sua dignidade – Adroaldo Palaoro
O Evangelho da festa de hoje faz parte da narração da Paixão de Jesus. Ele nos relata a investidura do rei Jesus de Nazaré, que se dá na Cruz, em meio a zombarias, açoites e blasfêmias. Fixemos nosso olhar nos personagens que assistiam ao tremendo espetáculo da crucifixão. O povo estava ali olhando. Não era a multidão que habitualmente O seguia, mas pessoas que assistiam com curiosidade zombadora.
Os chefes, as autoridades religiosas escarneciam de Jesus. Eles conservavam a ideia de um Messias triunfal. Tinham um Deus feito à medida de seus interesses. A mensagem de Jesus não os afetou. Julgavam-se em posse da verdade.
Os soldados também lhe zombavam. Aproximavam-se dele para dar-lhe vinagre. Os executores da violência do poder romano não podiam entender um rei que não fazia nada para defender-se. O letreiro também indicava ironia: “Este é o rei dos judeus”.
Um dos ladrões o insultava: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”.
Ninguém pareceu ter entendido Sua vida e Sua mensagem. Ninguém compreendeu seu perdão aos algozes. Ninguém viu em seu rosto o olhar compassivo do pai. Ninguém percebeu que, pendente da Cruz, Jesus se unia para sempre a todos os crucificados e sofredores da história.
A resposta de Jesus diante dos insultos foi o silêncio carregado de mistério. Silêncio que poderia ser interpretado como impotência resignada ou reconhecimento do fracasso. No entanto, Ele transformou a onda de insultos em manifestação de misericórdia e salvação.
Ninguém pareceu ter entendido Sua vida e Sua mensagem. Ninguém compreendeu seu perdão aos algozes. Ninguém viu em seu rosto o olhar compassivo do pai. Ninguém percebeu que, pendente da Cruz, Jesus se unia para sempre a todos os crucificados e sofredores da história – Adroaldo Palaoro
Ele só respondeu ao bom ladrão com a força de suas palavras salvadoras: “ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. Em sua entrega cumpre a vontade do Pai.
O título da Cruz, registrado pelos quatro evangelhos, provavelmente é uma chave muito completa para interpretar a impressão que Jesus causou às autoridades: “este é o rei dos judeus”.
O crucificado era um rei que colocava em questão os poderes deste mundo. E que, além disso, questionava os valores que regiam a sociedade bem pensante de então e de agora. Dizia que tinha vindo para chamar os pecadores e não os justos.
Deus está mais interessado pelos que se sabem pecadores que pelos que acreditam serem piedosos. As palavras e a maneira de agir de Jesus são uma denúncia para aqueles a quem o poder lhes encanta e para aqueles que se dedicam a condenar os que não pensam ou atuam como eles.
Um denunciante assim só pode acabar expulso, marginalizado, rejeitado.
Para meditar na oração:
Quando levantamos nossos olhos até o rosto do Crucificado, contemplamos o Amor insondável de Deus; se O contemplamos mais atentamente, logo descobriremos nesse Rosto o rosto de tantos outros crucificados, longe ou perto de nós, clamando por nosso amor solidário e compassivo.
- Diante do Crucificado, trazer à memória os crucificados de hoje: isto o(a) afeta? o(a) deixa inquieto(a)? o(a) incomoda?
Hoje se celebra a Festa de Cristo Rei. A palavra de Deus convida-nos a meditar sobre a realeza de Jesus. Que significa que Jesus seja Rei hoje? Vivemos num mundo carregado de dificuldades, de problemas sociais, políticos, de desigualdades, de pessoas que morrem vítimas da desigualdade, da injustiça e dos interesses econômicos de um pequeno grupo que se autoconsidera possuidor e senhor do mundo. Como é possível ver e ainda celebrar esta realeza neste momento histórico? Verdadeiramente, Jesus é o Rei?
O Evangelho de Lucas convida-nos a dirigir nossa mirada a Jesus Crucificado. Há vários grupos de pessoas que aparecem diante de Jesus Crucificado.
O texto começa dizendo que “o povo permanecia aí, olhando”. Quem são as pessoas que fazem parte deste povo? Pensemos no grupo que vem caminhando junto dele, sejam os doentes, aqueles que o procuram para conhecer melhor sua mensagem, seus seguidores, discípulos e discípulas, os pobres, necessitados, as pessoas que vivem em Jerusalém e estão aí porque escutaram falar dele e desejam conhecê-lo, vê-lo... Lucas fala do povo em geral, incluindo os diferentes interesses e ou necessidades de cada uma das pessoas que estão aí olhando para Jesus Crucificado. O que veem? Seu olhar dirige-se a uma pessoa condenada, possivelmente nem sabem porque, com uma coroa de espinhos na cabeça, com feridas no corpo e junto dele, algum homem e duas ou três mulheres que sofrem sua condenação.
No olhar deste "povo", podemos imaginar diferentes tipos de sentimentos. Qual é o sentir desse povo? Possivelmente, está consternado, triste e abrumado mirando Jesus na cruz. Não compreende o que está acontecendo, sofre a condena do seu Mestre, daquele que o curou das feridas da alma e do corpo. Jesus lhe ensinou a amar com um amor sincero, a não desprezar ninguém. Mas ele está aí, na cruz, sem fazer nada!!!
Continua nomeando outro grupo:"Os chefes" que "zombavam de Jesus". Os mandantes, os que se consideram os principais, os que estavam molestos pela pregação de Jesus, porque os questionava, zombam de Jesus: “A outros ele salvou. Que salve a si mesmo se é de fato o Messias de Deus, o Escolhido!”. Eles mandaram condená-lo por ter se proclamado o Messias, o Salvador, e disfrutam da sua vitória. Agora Jesus está na cruz, condenado pelas autoridades, vai morrer como um usurpador de um poder e um envio de Deus que eles nunca souberam ver nem reconhecer. Dirigem-se a Jesus, nomeando-o ironicamente como salvador, zombando de seus milagres e das curas que as pessoas receberam pela fé e confiança em Jesus: daqueles que foram salvos! Para este grupo dos "chefes", a morte de Jesus dessa forma é um desprestigio e uma evidência da sua falsidade diante de povo. Os mandantes gozam do possível descrédito e da vergonha das pessoas que o seguiram durante sua vida: "Ele", seu Mestre, não pode nem salvar-se a sim mesmo!!
O terceiro grupo, "os soldados também caçoavam dele". "Aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre". Os soldados são os representantes dos romanos, eles obedecem o que lhes é solicitado: neste momento, crucificar três condenados que são considerados perigosos para o povo. No seu evangelho, Lucas deixa claro a injustiça cometida contra Jesus: nem Pilatos nem Herodes veem nele uma causa importante para morrer, mas diante da pressão dos judeus, Pilatos manda crucificá-lo. Os soldados levam a cabo esta crucificação. Eles zombam das pretensões de Jesus e do cartel que Pilatos tinha colocado acima dele: “Este é o Rei dos judeus”. Consideram uma ironia estas palavras e por isso as usam como desprezo e burla de Jesus Crucificado.
Junto com Jesus há dois "criminosos crucificados" que têm duas reações totalmente diferentes. Um deles, "o insultava, dizendo: “Não és tu o Messias? Salva a ti mesmo e a nós também!”. Deseja ser liberado da dor e da morte próxima. Mas o outro condenado tem uma atitude totalmente contrária. Num primeiro momento, censura as palavras do crucificado, dizendo: “Nem você teme a Deus, sofrendo a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”.
Escutemos suas palavras com atenção. Sofre uma condenação que ele considera merecida, mas eleva seu olhar temeroso a Deus. Ele sabe que fez mal, porém não fica no seu erro e procura sua própria salvação. Ele mira Jesus e percebe a injustiça de sua condenação. Possivelmente, as atitudes de Jesus, sua confiança no Pai, seu olhar compassivo, levam-no a perceber quem é Jesus! Jesus não fez nada de mal! Ele vê na pessoa de Jesus a injustiça e as atrocidades cometidas pelos que se consideram donos do poder, sejam religiosos ou políticos. Dessa realidade, ele dirige a Jesus um pedido: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino”. Possivelmente, sente-se atraído por Jesus e acolhe sua mensagem, suas palavras e, fundamentalmente, sua atitude diante do Pai: confia nele!
Diante de tantas situações de injustiça e dominação que acontecem ao nosso redor, como reagimos? Continuamente recebemos informações de situações de injustiça, de dominação dos que alardeiam de seu poder e se vangloriam de aparentes logros. Podemos ser atores passivos que simplesmente deixam transcorrer os acontecimentos ou ser profetas, sendo responsáveis pela vida e a justiça dos nossos irmãos e irmãs. Como consideramos que devemos reagir neste momento de sofrimentos injustos e de tantos povos oprimidos? Como reagimos? Como reagimos enquanto povo? Olhando sem saber muito o que fazer, mas deixando que "as coisas" passem?
Ou somos como o grupo dos chefes que consideramos que os crucificados do mundo são responsáveis pelo sua dor e sofrimento? Achamos que isso lhes é merecido e eles devem "salvar-se a si mesmos", procurar seu próprio caminho de vida e liberdade? Dirigimo-nos a eles com sarcasmo e até com ironia, pensando que seu sofrimento é justo por causa da sua vida? Responsabilizaremos-os e culparemos-os?
Somos como os soldados que riem da dor e do sofrimento dos pobres, dos marginalizados, dos crucificados da história pelas suas crenças, atitudes, pela sua luta na defesa dos interesses dos excluídos pelos sistemas econômicos e políticos que nos rodeiam?
Junto com os que sofrem diferentes tipos de doença, podemos ter duas atitudes. Manter certa distância deles e dirigir-nos simplesmente procurando nosso próprio bem-estar ou deixar que sua dor chegue ao nosso coração e à nossa vida. Dialogamos com eles desde a experiência da vida e na procura de construir um mundo mais humano e justo.
Como disse o Papa Francisco, “ainda que infelizmente, com frequência, é notícia o mal, o ódio, a divisão, há um oceano de bem escondido, que cresce e nos faz esperar no diálogo, no conhecimento mútuo, na possibilidade de construir, junto com os crentes de outras religiões e todos os homens e mulheres de boa vontade, um mundo de fraternidade e de paz”. Texto completo: “O diálogo nos permitirá construir um mundo de fraternidade e de paz”, afirma o papa Francisco.
A vida de Jesus se caracterizou pelo serviço, pelo amor e a entrega aos mais pobres e necessitados. Não há nele nenhuma intensão de dominar; pelo contrario, ele escolhe o caminho que nos revela um Deus compassivo e misericordioso, que ouve o clamor de seus filhos/as ao ponto dele mesmo assumir em sua carne esse grito para assim abraçá-los/as em seu amor misericordioso: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23, 34).
Neste dia, somos chamados a colocar-nos “no lugar”, junto com nossos/as irmãos/ãs mais necessitados/as, para ali, com eles/as, viver suas lutas e sofrimentos, deixando que a compaixão e a misericórdia iluminem nossa inteligência, motivem nossas relações e conduzam nossos passos para que o “hoje” do reinado de Deus continue acontecendo.
Oração - Tua alegria insubornável
Concede-nos, Senhor
tua alegria insubornável.
A diversão tem preço e propaganda
e seus mercadores são peritos.
Aluga-se a evasão fugaz
com suas rotas exóticas e vãs
bebe-se o gozo com cartões de crédito
e se espreme como um copo descartável
mas tua alegria não tem preço,
nem podemos seduzi-la.
É um dom para ser acolhido e oferecido.
Concede-nos, Senhor, tua alegria surpreendente
mais unida ao perdão recebido
que à perfeição farisaica das leis.
Encontrada na perseguição pelo reino,
mais que no aplauso dos chefes.
Cresce na partilha do que é meu com os outros
e morre ao acumular o dos outros como meu.
Aprofunda-se ao servir aos escravos da história,
mais que ao ser servidos como mestres e senhores.
Multiplica-se ao descer com Jesus ao abismo humano
e se dilui ao subir sobre corpos despojados.
Renova-se ao apostar pelo futuro inédito
Esgota-se ao apoderar-se das colheitas do passado.
Tua alegria é humilde e paciente
e caminha de mãos dadas com os pobres.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
Segundo o relato de Lucas, Jesus agonizou em meio às zombarias e ao desprezo daqueles que o rodeavam. Ninguém parece ter entendido sua vida. Ninguém parece ter captado sua entrega aos que sofrem, nem seu perdão aos culpáveis. Ninguém viu no seu rosto o olhar compassivo de Deus. Neste momento, ninguém parece perceber naquela morte nenhum mistério.
As autoridades religiosas caçoam dele com gestos depreciativos: “A outros ele salvou. Que salve agora a si mesmo. Se é de fato o Messias de Deus, ‘o Escolhido!’, Deus virá em sua defesa”.
Também os soldados aderem às zombarias. Eles não acreditam em nenhum Enviado de Deus. Eles riem do letreiro que Pilatos mandou colocar na cruz: “Este é o Rei dos judeus”. É absurdo que alguém possa reinar sem poder. Ele deve demonstrar sua força salvando-se a si mesmo.
Jesus permanece calado, porém não desce da cruz. Que faríamos nós se o Enviado de Deus procurasse sua própria salvação fugindo da cruz que o une para sempre a todos os crucificados da história? Como poderíamos acreditar num Deus que nos abandonasse para sempre à nossa sorte?
De repente, em meio a tantas zombarias e desprezo, acontece uma surpreendente invocação: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares em teu Reino”. Não é um discípulo nem um seguidor de Jesus. É um dos criminosos crucificados junto dele. Lucas o propõe como exemplo admirável de fé no Crucificado.
Este homem a ponto de morrer executado sabe que Jesus é um homem inocente, que não fez nada mais que o bem para todos. Intui na sua vida um mistério que escapa dele, mas está convencido de que Jesus não será derrotado pela morte. De seu coração nasce uma súplica: somente pede a Jesus que não o esqueça. Só Jesus pode fazer alguma coisa por ele.
Jesus responde imediatamente: “Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso”. A partir deste momento os dois estão unidos na angústia e na impotência, mas Jesus o acolhe como companheiro inseparável. Os dois morreram crucificados, mas entraram juntos no mistério de Deus.
Em meio à sociedade descrente de nossos dias, muitos vivem confusos. Não sabem se acreditam ou não acreditam. Quase sem sabê-lo, levam no seu interior uma pequena e frágil fé. Às vezes, sem entender por que nem como, sobrecarregados pelo peso da vida, invocam Jesus à sua maneira.
“Jesus, lembra-te de mim”, e Jesus escuta-os: “Você estará sempre comigo”. Deus tem seus caminhos para encontrar cada pessoa, e nem sempre é por onde indicam os teólogos. É decisivo ter um coração que escute a própria consciência.
Introdução
Ao longo do ano litúrgico, fizemos a experiência com Jesus que veio “para servir e não para ser servido”. Hoje, celebramos a sua elevação à condição de rei. Todos os espectadores da crucificação esperam que Jesus se livre da cruz, pois é isso que faria qualquer um dos poderosos desse mundo. A prova da realeza ou do poder de Jesus seria o fato de safar-se da cruz. Mas o reino do qual Jesus é rei não é deste mundo, isso significa que a autoridade dele não vem da terra. É um reino diferente, não estabelecido pelas forças das armas, mas com outro tipo de poder, a saber, a doação da própria vida na cruz para nos libertar do pecado e da morte. Nós já participamos do reinado de Jesus Cristo. E enquanto esperamos sua plenitude no fim dos tempos, devemos nos comprometer com seus valores, vivendo o “já” e o “ainda não” desse reino que irrompeu na história.
Lembra-te de mim no teu reino
O trecho do evangelho deste domingo nos mostra Jesus sendo crucificado entre dois malfeitores. Lucas o apresenta com traços típicos de um mártir que, com sua fidelidade e força de oração, obtém a salvação para seus perseguidores.
No Evangelho de Lucas, os que se encontravam com Jesus eram compelidos a fazer uma escolha: aderir ou rejeitar Jesus. Na hora de sua morte, ponto crucial do evangelho, o leitor é convidado a fazer sua escolha. Também aparecem aqui duas mentalidades que perpassaram todo o evangelho, duas maneiras de compreender o messianismo de Jesus. Entender a missão de Jesus é essencial para poder aderir ao seu projeto salvífico. São dois ladrões que representam duas compreensões messiânicas.
O primeiro ladrão representa aqueles que concebem um messias dotado de poderes prodigiosos, que deveria descer da cruz e libertá-los consigo. Assim, seria mais espetacular seu triunfo.
O outro ladrão é o oposto, pois reconhece em Jesus o enviado de Deus, um justo que não merecia estar ali. Este pede que Jesus se recorde dele quando estabelecer seu reino no momento “escatológico” (fim dos tempos).
A resposta de Jesus, suas últimas palavras, acentua o “hoje” de Deus: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Quem acolhe Jesus participa de forma definitiva da vida em Deus, não em um futuro distante, mas no hoje. Ou seja, o futuro escatológico da salvação plena já está presente. O paraíso não é um lugar, mas participação na felicidade com Cristo (cf. Fl 1,23). Lucas prefere não identificar o reino geograficamente, pois este se faz “dentro” de cada um (17,21). O reino começa a acontecer na vida daquele que acolhe Jesus e se deixa conduzir por ele. Estar com Jesus não significa simplesmente estar em sua companhia, mas participar de sua realeza.
Na cruz, Cristo aparece dispondo, ele mesmo, da sorte eterna de um homem. E isto é poder de Deus. Em Jesus se manifesta todo o amor de Deus, que desce ao nível mais baixo para elevar a si a criatura humana. Esse é o poder do amor.
(Se desejar confira a tradução feita pelo Tradutor Google com o original em espanhol, logo em seguida à tradução)
SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
Primeira Leitura: 2 Samuel 5:1-3
A narrativa que abrange de 1 Samuel 16 a 1 Reis 2 é dominada pela figura de Davi . Embora personagens importantes como Samuel, Saul e Absalão apareçam, é Davi, o pastor que se tornou rei, quem captura completamente a atenção.
A erudição bíblica contemporânea geralmente distingue duas seções principais nesses capítulos: a História da ascensão de Davi ao trono (1 Samuel 16–2 Samuel 7) e a História da sucessão de Davi (2 Samuel 9–20; 1 Reis 1–2). O texto que lemos hoje pertence à primeira seção.
A mensagem teológica da história da ascensão de Davi ao trono é que ele se tornou rei não por conspirar contra Saul, mas porque Deus o escolheu para esse papel e sempre esteve com ele. A prova final de que Davi não conspirou contra a casa de Saul é que ele não buscou se tornar rei de Israel, que naquela época era separado do reino de Judá, à qual Davi pertencia. Foram os israelitas que lhe fizeram a proposta (2 Samuel 5:1-5), após a qual Davi, que já reinava sobre Judá em Hebrom havia sete anos, tornou-se rei de Judá e Israel, escolhendo Jerusalém como sua capital. Com seu reinado, Davi alcançou a unidade das doze tribos de Israel e, por essa razão, sua figura se tornaria imensa, a ponto de gerar a esperança de um futuro Rei Messias, um descendente de Davi.
2ª Leitura (Col 1,12-20):
Neste texto, devemos distinguir duas seções principais. A primeira (1:12-14) faz parte da ação de graças inicial da carta, característica do estilo de escrita de Paulo. Paulo dá graças ao Pai por sua obra, pois, ao nos considerar seus filhos, nos tornou participantes de sua herança: o reino de seu Filho amado, em quem temos a redenção e o perdão dos pecados .
A segunda seção (Col 1:15-20), considerada um hino pré-paulino, é inserida na carta após a ação de graças inicial, que termina com a expressão " teu filho amado ", que, por meio do pronome relativo de 15a, será o tema de todo o hino.
Do ponto de vista literário, podemos dizer que este hino está estruturado em duas partes (vv. 15-18a e 18b-20), cada uma começando com o pronome relativo (' Quem... '). A estrutura interna das estrofes é paralela, pois ambas possuem dois títulos cristológicos seguidos de uma motivação que introduz o respectivo tema. Na primeira parte, os títulos aplicados a Jesus são ' imagem de Deus ' e ' primogênito da criação ' (15); isso é seguido por uma explicação ( porque ) do tema da criação (v. 16, onde o verbo ' criar' aparece duas vezes). Esta primeira estrofe termina com uma afirmação que reitera e resume a primazia de Cristo sobre toda a criação (vv. 17-18a). A segunda parte começa com os títulos ' princípio ' e ' primogênito dentre os mortos ' (18b); Segue-se a motivação ( porque ) que introduz o novo tema (19-20), que é o papel mediador de Cristo na obra de reconciliação e pacificação (no v. 20 temos três através de ...).
Em resumo, podemos dizer que a maior contribuição teológica de Colossenses 1:15-20 é sua mensagem cristológica, que destaca a primazia universal de Cristo no âmbito da criação e da redenção .
Como ' imagem de Deus e primogênito de toda a criação ', Cristo tem um papel mediador na obra criativa que abrange toda a realidade e que fundamenta seu senhorio único e universal, excluindo qualquer competição por parte de poderes espirituais.
Essa primazia de Cristo na criação, por sua vez, prepara o terreno para a sua primazia na redenção . Também aqui, a sua mediação é única e universal , decorrendo de uma decisão de Deus que o estabelece como reconciliador e pacificador de todas as coisas. Portanto, a plenitude das bênçãos salvíficas tem a sua fonte permanente e completa em Jesus Cristo, o primogênito dentre todos os chamados a participar da sua vitória sobre a morte.
É interessante notar também a interligação entre criação e redenção. Nisso também a tradição bíblica permanece fiel, para a qual a criação é o primeiro ato de salvação ou libertação.
Evangelho (Lc 23:35-43):
O evangelista Lucas pinta um quadro dinâmico e contrastante da crucificação de Jesus com as ações dos vários personagens presentes:
• No centro, temos Jesus crucificado com uma inscrição acima de sua cabeça: "Este é o Rei dos Judeus".
• As pessoas permanecem passivas, apenas observam.
• As autoridades judaicas o ridicularizam, desafiando-o: "Ele salvou outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Escolhido!"
• Os soldados romanos zombam dele e o desafiam: "Se você é o rei dos judeus, salve-se a si mesmo!"
• Um ladrão crucificado ao lado dele blasfema e também o provoca: "Você não é o Messias? Salve a si mesmo e a nós."
Ao lado dele, há outro ladrão que defende Jesus, declarando-o inocente e suplicando-lhe que se lembre dele quando entrar em seu Reino. Com essas palavras, ele confessa Jesus como Rei de um reino futuro e glorioso, e com o poder de salvar.
• Finalmente, Jesus quebra o silêncio para dizer ao "bom ladrão": "Eu te asseguro que hoje estarás comigo no Paraíso."
Esta cena do Evangelho retrata a suprema humilhação sofrida por Jesus. Como B. Malina observa acertadamente : “Verdadeiramente, não se poderia encontrar maior grau de satisfação na desonra de alguém do que o descrito aqui: Jesus pregado numa cruz, nu e à vista de todos, o mais alto grau de degradação e humilhação pública. Enquanto isso, seus inimigos assistiam ao espetáculo com satisfação e faziam comentários humilhantes.”
Ao longo da narrativa, Jesus é referido duas vezes como “Rei dos Judeus” (ὁ βασιλεὺς τῶν Ἰουδαίων) e uma vez como seu “reino” (τὴν βασιλείαν σου). Jesus é considerado Rei mesmo quando crucificado. E três vezes Jesus é solicitado a “salvar-se” (σῶσον σεαυτὸν), a provar que é rei, que possui verdadeiro poder e a exercê-lo salvando-se dessa morte ignominiosa. E Jesus permanece em silêncio. De certa forma, esse apelo para “salvar a si mesmo” ecoa as tentações de Satanás no deserto, que compartilhavam o objetivo comum de desviar Jesus do caminho traçado por seu Pai, o caminho da cruz. Em última análise, as tentações convidaram Jesus a buscar a si mesmo. No entanto, “nas três tentações, Jesus não quer nada para si mesmo; por isso, não põe Deus à prova” .² Aqui também, Jesus é convidado a evitar a morte na cruz, a salvar a si mesmo . E em ambos os casos, Jesus permanece fiel ao plano do Pai, até o fim…
O diálogo com o bom ladrão, por outro lado, mostra-nos a disposição de Jesus em salvar aqueles que creem e confiam nele . O ato de fé do bom ladrão é importante porque ele vê a mesma realidade que todos os outros: um homem crucificado. Contudo, ele declara sua inocência e o reconhece como Rei com o poder de levá-lo para o seu Reino.
Há um certo paradoxo em toda a narrativa, pois Jesus poderia salvar a si mesmo, mas não o faz . Ele aceita a cruz porque, dessa forma, pode salvar os outros para sempre. Ele perde sua vida terrena e ganha a vida eterna para todos, abrindo finalmente os portões do paraíso. E, dessa forma, ele é Rei, pois para Jesus, reinar é servir. Portanto, “a cena, característica de Lucas, destaca novamente a inocência de Jesus e mostra a eficácia de sua morte para o perdão. ” ³
ALGUMAS REFLEXÕES:
A primeira leitura visa introduzir o tema do rei a partir de uma perspectiva humana e política . Israel, desejando assimilar-se a outras nações, pede um rei para governá-la. Finalmente, Davi ascende ao trono e unifica as tribos, dando origem a um reino temporário.
Davi foi um rei humano, com grandeza e sofrimento; com vitórias e derrotas; com glória e humilhação; com estabilidade e exílio. Mas, acima de tudo, como rei, ele possuía poder, dignidade, respeito, domínio e soberania . Tanto para a revelação no Antigo Testamento quanto para o pensamento humano, ser rei está associado a ter poder, domínio, governo e controle . Isso deve ser aceito e valorizado em sua devida medida. Mas se permanecermos apenas nisso, jamais compreenderemos Jesus ou sua missão. Basta olhar para o Evangelho de hoje: a inscrição diz que ele é o rei dos judeus, mas ele está crucificado ; alguém pregado a uma cruz, que mal consegue se mover, condenado como criminoso e incapaz até mesmo de se salvar, é considerado rei. Estamos no extremo oposto do que nós, humanos, entendemos por realeza: ele não tem poder, dignidade ou soberania alguma .
E, no entanto, nós, os crentes, proclamamos Jesus como Senhor e Rei do Universo . Para isso, devemos primeiro aceitar que o seu reino não é deste mundo, não é mundano.
Em segundo lugar , lembremos que a história não termina com a crucificação, mas com a ressurreição. Jesus teve que passar por tudo o que o caminho da cruz implica para reinar definitivamente. Ele demonstrou poder sobre o inimigo invencível: a morte; e seu aliado, o pecado. Todos os reis deste mundo não puderam vencer a morte. Só Jesus tem esse poder. E ele o usa para o benefício dos outros, como fez com o bom ladrão. Toda a dignidade e soberania dos reis humanos terminaram com a morte. Eles não levaram nada consigo, apenas seus ossos permaneceram. Jesus é o único Rei Eterno, que vive para sempre. Nesse sentido, com a segunda leitura de hoje, “no contexto da festa, somos transferidos deste mundo para o Reino de Cristo, que ele começou na criação e que agora levou à sua plenitude por meio de seu Mistério Pascal. Todos somos convidados a participar da nova vida no mundo pacificado por sua cruz . ”<sup> 4 </sup>
Em terceiro lugar, Jesus demonstra seu poder sobre o pecado por meio de sua misericórdia, comunicando o perdão de Deus. Jesus demonstra seu poder sobre a morte ao comunicar a vida eterna . Como A. Vanhoye bem observa : "Contudo, este reino não se manifesta de forma ostensiva, mas misteriosamente. O poder de Cristo é um poder real, mas um poder que não é exercido por meio da violência, por meio da força externa, mas por meio de uma profunda influência nos corações e, por meio deles, em toda a história."
A respeito disso, o Papa Francisco disse em sua homilia de 20 de novembro de 2022: “Somente entrando em seu abraço compreendemos que Deus se aventurou ali, no paradoxo da cruz, precisamente para abraçar tudo o que é nosso, até mesmo aquilo que estava mais distante dele: nossa morte — ele abraçou nossa morte —, nossa dor, nossa pobreza, nossas fragilidades e nossas misérias. Ele abraçou tudo isso. Tornou-se servo para que cada um de nós pudesse se sentir filho de Deus; pagou por nossa filiação com sua servidão. Deixou-se ser insultado e zombado para que, em qualquer humilhação, nenhum de nós estivesse sozinho. Deixou-se ser despido para que ninguém se sentisse privado de sua dignidade. Subiu à cruz para que, em cada pessoa crucificada na história, a presença de Deus estivesse presente. Este é o nosso Rei, Rei de cada um de nós, Rei do universo, porque cruzou os limites mais remotos da humanidade; adentrou a imensidão escura do ódio, a imensidão do abandono, que visa iluminar.” Abrace cada vida e cada realidade. Irmãos e irmãs, este é o Rei que celebramos hoje. Ele não é fácil de compreender, mas Ele é o nosso Rei. E as perguntas que devemos nos fazer são: Este Rei do universo é o Rei da minha existência? Eu acredito Nele? Como posso celebrá-Lo como Senhor de todas as coisas se Ele não se tornar também o Senhor da minha vida?
Vale a pena parar um momento para considerar a cena e o diálogo entre Jesus e o “bom ladrão”. Observemos, em primeiro lugar, que o ladrão não pediu a Jesus que o descesse da cruz, mas sim que, em sua misericórdia, o elevasse ao seu Reino eterno. A este respeito, o comentário de Santo Agostinho, relatado por M.-D. Molinié é interessante : “O ato de fé do bom ladrão enche Santo Agostinho de admiração e espanto. E ele lhe pergunta: ‘Como você conseguiu reconhecer a divindade do Messias justamente quando os inimigos de Cristo triunfavam estrondosamente, e os próprios apóstolos se tornaram incapazes de reconhecê-lo por causa de seu rosto agonizante? Ambos os lados haviam estudado as Escrituras, mas não viam que elas estavam se cumprindo… Como você conseguiu compreendê-lo? Você se dedicou, entre seus atos de banditismo, a estudar esses livros que os eruditos não conseguiam ler?’ E ele coloca esta admirável resposta na boca do bom ladrão: ‘Não, eu não havia estudado as Escrituras, não havia meditado nas profecias. Mas Jesus olhou para mim… e em seu olhar eu entendi tudo.’”
E o comentário de J. Ratzinger também é interessante: “Assim, na história da espiritualidade cristã, o bom ladrão tornou-se a imagem da esperança, a certeza consoladora de que a misericórdia de Deus pode nos alcançar mesmo no último momento; a certeza de que, após uma vida de transgressões, a oração que invoca a sua bondade não é em vão. 'Tu ouviste o ladrão, tu também me deste esperança', diz, por exemplo, o Dies irae . ” 7
Este é o modo de Jesus reinar: amando, perdoando e, portanto, em termos cristãos, reinar não é usar as pessoas, receber honras delas ou dominá-las, mas servir, doar-se, dar a vida por elas, amá-las. Lembremo-nos de que “a Igreja pode sempre sentir novamente a tentação do triunfalismo, do poder, de crescer pela influência, de se aproximar dos que governam, deixando de lado a sua liberdade evangélica. A festa de Cristo Rei nos lembra que o nosso único poder deve estar em servir.”<sup> 8 </sup>
Somente esta contemplação de Cristo Rei Crucificado pode nos mover a fazer o mesmo. Pelo batismo, os cristãos participam da realeza de Cristo, para que com Ele e como Ele possamos nos doar aos outros. E por meio dessa doação, podemos mostrar-lhes o caminho para o Paraíso, que Jesus abriu para todas as pessoas de boa vontade.
Este domingo marca o fim do Ciclo C, no qual acompanhamos o Evangelho segundo São Lucas. O texto de hoje oferece uma conclusão significativa, revelando o significado último da jornada de Jesus a Jerusalém com seus discípulos . O objetivo é o Reino, mas o Reino da vida eterna, que hoje é comparado ao paraíso . E os pecadores, como o "bom ladrão" de hoje, também podem alcançar esse ponto, desde que se arrependam e confessem que Jesus tem o poder de salvá-los. Jesus não veio a este mundo, nem sofreu a Paixão, para salvar a si mesmo, mas a nós . Na cruz e por meio da cruz, ele nos salva . E ali ele se tornou Rei do Universo.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Cristo Rei
Diante de seu trono, só é permitido o silêncio.
A dignidade não tem igual.
Da realeza divina
Sua Majestade é infinita, impossível de imitar.
Haverá outras pessoas capazes?
Permanecer e contemplar…?
Aquelas provocações ecoavam em seus ouvidos.
Eles traspassaram o coração de Deus.
Crucificado e assim ferido
Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus
Eles exigiram, eles insistiram…
O sofrimento é escandaloso.
O ladrão implorou: Espere por mim em seu reino!
E o Coração de Deus
Isso saciou sua sede.
Rei dos reis, tenha misericórdia do seu povo.
Hoje ele olha para você com outros olhos.
Se você o incentivar
Ele anseia por você tanto quanto naqueles dias.
Ele está te procurando às cegas, e isso está sendo difícil para ele.
Ajoelhe-se
Volte seu olhar para a pobreza deles,
E mostre a ele o poder do seu amor.
Pela Vossa Divina Onipotência. Amém.
1 Os Evangelhos Sinópticos e a cultura mediterrânea do primeiro século (Verbo Divino; Estella 1996) 313.
2 F. Bovon, O Evangelho Segundo São Lucas. Vol. I (Sígueme; Salamanca 1995) 289.
3 A. Rodríguez Carmona, Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 390.
4 Hoje estarás comigo no paraíso. Orientações para homilias do 28º ao 34º Domingo do Tempo Comum. Ciclo C ; CEA, 1998, 104.
5 leituras bíblicas para domingos e festas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 333.
6 MD. Molinié, A Coragem de Ter Medo. Variações sobre a Espiritualidade (San Pablo; Madrid 1997) 16. 7 J. Ratzinger, Jesus de Nazaré. Da Entrada em Jerusalém à Ressurreição , Planeta, 2011, 248-249. 8 Hoje Estarás Comigo no Paraíso. Orientações para Homilias do 28º ao 34º Domingo do Tempo Comum. Ciclo C ; CEA, 1998, 107.
SOLEMNIDAD DE NUESTRO SEÑOR JESUCRISTO, REY DEL UNIVERSO
1ra. Lectura: 2Sam 5,1-3
El relato que abarca desde 1 Sam 16 hasta 1 Re 2 está dominado por la figura de David. Si bien aparecen personajes importantes como Samuel, Saúl y Absalón; es David, el pastor convertido en rey, quien acapara la atención por completo.
La ciencia bíblica contemporánea acostumbra distinguir en estos capítulos dos grandes secciones: la Historia de la subida de David al trono (1 Sam 16 - 2 Sam 7) y la Historia de la sucesión de David (2 Sam 9-20; Re 1-2). El texto que leemos hoy forma parte de la primera sección.
El mensaje teológico de la Historia de la subida de David al trono es que si David llegó a ser rey no fue conspirando contra Saúl sino porque Dios lo había elegido para ello y siempre estaba con él. La última prueba de que David no conspiró contra la casa de Saúl es que no pretendió convertirse en rey de Israel, en ese tiempo separado del reino de Judá, a cuya tribu pertenecía David. Fueron los israelitas quienes vinieron a hacerle la propuesta (2 Sam 5,1-5) luego de la cual David, quien llevaba ya 7 años reinando sobre Judá en Hebrón, pasa a convertirse en rey de Judá e Israel eligiendo como capital a Jerusalén. David, con su reinado, logra la unidad de las doce tribus de Israel y, por eso, su figura será muy grande, al punto de originar la esperanza en un futuro Mesías Rey, descendiente de David.
2a. Lectura (Col 1,12-20):
En este texto debemos distinguir dos grandes secciones. La primera (1,12-14) forma parte de la acción de gracias inicial de la carta, propia del estilo paulino de escribir. Pablo da gracias al Padre por su obra, pues al considerarnos hijos nos ha hecho partícipes de su herencia: el reino de su Hijo muy querido, en quien tenemos la redención y el perdón de los pecados.
La segunda sección (Col 1,15-20), considerada un himno pre-paulino, está inserta en la carta después de la ‘acción de gracias’ inicial que termina con la expresión ‘su hijo muy querido’, que a través del pronombre relativo de 15a será el sujeto de todo el himno.
Desde el punto de vista literario podemos afirmar que este himno se estructura en dos partes (vv. 15-18a y 18b-20), comenzando cada una con el pronombre relativo (‘El cual...’). A su vez la articulación interna de las estrofas está en paralelo, pues ambas tienen dos títulos cristológicos a los que sigue una motivación que introduce el respectivo tema. En la primera parte, los títulos aplicados a Jesús son ‘imagen de Dios’ y ‘primogénito de la creación’ (15); a lo que sigue una explicación (porque) del tema de la creación (v.16 donde el verbo crear recorre dos veces). Esta primera estrofa se cierra con una afirmación que retoma y sintetiza el primado de Cristo sobre toda la creación (v. 17-18a). La segunda parte se inicia con los títulos de ‘principio’ y ‘primogénito de entre los muertos’ (18b); a lo que sigue la motivación (porque) que introduce el nuevo tema (19-20), que es el rol mediador de Cristo en la obra de reconciliación y pacificación (en el v. 20 tenemos tres por medio de...).
De modo sintético podemos decir que el mayor aporte teológico de Col 1,15-20 es su mensaje cristológico al poner de relieve el primado universal de Cristo en el ámbito de la creación y de la redención.
En cuanto ‘imagen de Dios y primogénito de toda la creación’ Cristo tiene un papel mediador en la obra creadora que abarca toda la realidad y que fundamenta su Señorío único y universal, excluyendo cualquier competencia por parte de las potencias espirituales.
Este primado de Cristo en la creación prepara, a su vez, su primacía en la redención. También aquí su mediación es única y universal; la cual deriva de una decisión de Dios quien lo constituye reconciliador y pacificador de todas las cosas. Por esto el conjunto o ‘plenitud’ de los bienes salvíficos tienen su fuente permanente y completa en Jesucristo, primogénito de todos aquellos que son llamados a participar de su victoria sobre la muerte.
Es interesante notar también la compenetración entre la creación y la redención. En esto también se es fiel a la tradición bíblica para la cual la creación es el primer acto de salvación o liberación.
Evangelio (Lc 23,35-43):
El evangelista Lucas nos pinta un dinámico y contrastante cuadro de la crucifixión de Jesús con las acciones de los distintos personajes presentes:
• En el centro tenemos a Jesús crucificado con una inscripción sobre su cabeza: "Este es el rey de los judíos".
• El pueblo permanece pasivo, sólo mira.
• Las autoridades judías lo ridiculizan desafiándolo: "Ha salvado a otros: ¡que se salve a sí mismo, si es el Mesías de Dios, el Elegido!".
• Los soldados romanos se mofan y también lo desafían: "Si eres el rey de los judíos, ¡sálvate a ti mismo!".
• Un ladrón crucificado a su lado blasfema y también lo provoca: "¿No eres tú el Mesías? Sálvate a ti mismo y a nosotros".
• Hay otro ladrón a su lado quien defiende a Jesús declarándolo inocente y suplicándole que se acuerde de él cuando llegue a su Reino. Con estas palabras está confesando a Jesús como Rey de un reino futuro y glorioso; y con poder de salvar.
• Por fin Jesús rompe su silencio para decirle al "buen ladrón": "Yo te aseguro que hoy estarás conmigo en el Paraíso".
Esta escena del evangelio nos pinta la suprema humillación que padece Jesús. Como bien nota B. Malina1: “Realmente no se podía alcanzar mayor grado de satisfacción en la deshonra de alguien que el descrito aquí: Jesús es clavado en una cruz, desnudo y a la vista de todos, el grado más alto de degradación y humillación públicas. Mientras tanto sus enemigos contemplaban satisfechos el espectáculo y hacían observaciones humillantes”.
En el curso de la narración, por su parte, en dos ocasiones se aplica a Jesús el título de “rey de los judíos” (ὁ βασιλεὺς τῶν Ἰουδαίων) y una vez se habla de su “reino” (τὴν βασιλείαν σου.). Se considera a Jesús Rey cuando está crucificado. Y por tres veces se le pide a Jesús que "se salve a sí mismo" (σῶσον σεαυτὸν), que demuestre que es rey, que tiene verdadero poder, y que lo ejerza salvándose a sí mismo de esta muerte ignominiosa. Y Jesús calla. En cierto modo con esta petición de “salvarse a sí mismo” se repiten las tentaciones de Satanás en el desierto que tenían en común el intento de apartar a Jesús del camino señalado por su Padre, del camino de la cruz. En el fondo las tentaciones invitaban a Jesús a buscarse a sí mismo. Sin embargo, “en las tres tentaciones, Jesús no quiere nada para sí mismo; por eso no pone a Dios a prueba”2. Aquí también se pide a Jesús que evite la muerte en la cruz, que se salve a sí mismo. Y en ambos casos Jesús mantiene su fidelidad al plan del Padre, hasta el extremo…
El diálogo con el buen ladrón nos muestra, por el contrario, la disposición de Jesús de salvar a quien cree y confía en Él. Es importante el acto de fe del "buen ladrón" pues tiene ante sus ojos la misma realidad que los demás: un hombre crucificado. Sin embargo, declara su inocencia y lo reconoce como Rey con poder de hacerlo entrar en su Reino.
Hay una cierta paradoja en todo el relato porque Jesús puede salvarse a sí mismo, pero no lo hace. Acepta la cruz porque de este modo puede salvar a otros para siempre. Pierde su vida terrenal y gana para todos los hombres la vida eterna, abre finalmente las puertas del paraíso. Y de este modo es Rey, pues para Jesús reinar es servir. Por tanto, “la escena, propia de Lucas, vuelve a resaltar la inocencia de Jesús y muestra la eficacia de su muerte para el perdón”3.
ALGUNAS REFLEXIONES:
La primera lectura tiene el propósito de introducir el tema del rey desde el punto de vista humano y político. Israel, queriendo asimilarse a los demás pueblos, pide un rey que lo gobierne. Finalmente, David llega al trono y unifica las tribus dando lugar a un reino temporal.
David fue un rey humano, con grandezas y miserias; con victorias y derrotas; con gloria y humillaciones; con estabilidad y con exilio. Pero por sobre todo esto, siendo rey tuvo poder, dignidad, respeto, dominio, soberanía. Tanto para la revelación en el Antiguo Testamento como para el pensamiento humano, el ser rey viene asociado al tener poder, dominio, gobierno, control. Esto hay que aceptarlo y valorarlo en su justa medida. Pero si nos quedamos sólo en esto, nunca entenderemos a Jesús ni su misión. Basta remitirse al evangelio de hoy: la inscripción dice que es rey de los judíos, pero está crucificado; se considera rey a alguien clavado en una cruz que apenas puede moverse; condenado como malhechor y que no puede siquiera salvarse a sí mismo. Estamos en las antípodas de lo que los hombres entendemos por realeza: no tiene poder ni dignidad ni soberanía alguna.
Y sin embargo los creyentes proclamamos a Jesús como Señor y Rey del Universo. Para esto hay que aceptar, en primer lugar, que su reino no es de este mundo, no es mundano.
En segundo lugar, recordemos que la historia no termina con la crucifixión, sino con la resurrección. Jesús tuvo que pasar por todo lo que implica el camino de la cruz para reinar definitivamente. Demostró tener poder sobre el enemigo invencible: la muerte; y su aliado, el pecado. Todos los reyes de este mundo no pudieron con la muerte. Sólo Jesús tiene ese poder. Y lo utiliza en favor de los demás, como hizo con el buen ladrón. Toda la dignidad y soberanía de los reyes humanos terminó son su muerte. Nada se llevaron, sólo sus huesos quedaron. Jesús es el único Rey Eterno, que vive para siempre. En este sentido, con la segunda lectura de hoy, “en el contexto de la fiesta, somos trasladados de este mundo al Reino de Cristo que él ha comenzado en la creación y que ahora ha llevado a su plenitud por medio de su misterio Pascual. Todos estamos invitados a participar de la vida nueva en el mundo pacificado por su cruz”4.
En tercer lugar, Jesús demuestra su poder sobre el pecado con su misericordia, comunicando el perdón de Dios. Jesús demuestra su poder sobre la muerte comunicando la vida eterna. Como bien señala A. Vanhoye5: "Con todo, este reino no se manifiesta de una manera vistosa, sino misteriosa. El poder de Cristo es un poder real, pero un poder que no se ejerce con la violencia, con la fuerza exterior, sino con un influjo profundo sobre los corazones y, a través de ellos, sobre toda la historia".
Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 20 de noviembre de 2022: “Sólo entrando en su abrazo entendemos que Dios se aventuró hasta ahí, hasta la paradoja de la cruz, justamente para abrazar todo lo que es nuestro, aun aquello que estaba más lejos de Él: nuestra muerte —Él abrazó nuestra muerte—, nuestro dolor, nuestra pobreza, nuestras fragilidades y nuestras miserias. Él abrazó todo esto. Se hizo siervo para que cada uno de nosotros se sienta hijo, pagó con su servidumbre nuestra filiación. Se dejó insultar y que se burlaran de él, para que en cualquier humillación ninguno de nosotros esté ya solo. Dejó que lo desnudaran, para que nadie se sienta despojado de la propia dignidad. Subió a la cruz, para que en todo crucificado de la historia esté la presencia de Dios. Este es nuestro rey, rey de cada uno de nosotros, rey del universo, porque Él cruzó los más recónditos confines de lo humano; entró en la oscura inmensidad del odio, en la inmensa oscuridad del abandono para iluminar cada vida y abrazar cada realidad. Hermanos, hermanas, este es el rey que hoy festejamos. No es fácil entenderlo, pero es nuestro rey. Y las preguntas que deberíamos hacernos son: ¿Este rey del universo es el rey de mi existencia? ¿Yo creo en Él? ¿Cómo puedo celebrarlo como Señor de todas las cosas si no se convierte también en el Señor de mi vida?”
Es bueno detenerse un poco en la escena y en el diálogo de Jesús con el “buen ladrón”. Notemos en primer lugar que éste no le pidió a Jesús que lo baje de la cruz, sino que, por su misericordia, lo haga subir hasta su Reino eterno. Al respecto es interesante el comentario de san Agustín que nos reporta M.-D. Molinié6: “El acto de fe del buen ladrón hace caer a San Agustín en la admiración y el estupor. Y le pregunta: «¿Cómo has hecho para reconocer la divinidad del Mesías en el momento en que los enemigos de Cristo triunfaban ruidosamente, y los apóstoles mismos se habían vuelto incapaces de reconocerlo a través de su rostro agonizante? Sin embargo unos y otros habían estudiado la Escritura, pero no veían que la Escritura se estaba cumpliendo… ¿Cómo has hecho tú para comprenderle? ¿Te habías dedicado, entre dos actos de bandidaje, a estudiar estos libros que los especialistas no habían sabido leer?» Y pone en boca del buen ladrón esta respuesta admirable: «No, yo no había escrutado las Escrituras, no había meditado las profecías. Pero Jesús me miró… y en su mirada lo comprendí todo»”.
Y también es interesante el comentario de J. Ratzinger: “Así, en la historia de la espiritualidad cristiana, el buen ladrón se ha convertido en la imagen de la esperanza, en la certeza consoladora de que la misericordia de Dios puede llegarnos también en el último instante; la certeza de que, después de una vida equivocada, la plegaria que invoca su bondad no es vana. «Tú escuchaste al ladrón, también a mí me diste esperanza», reza, por ejemplo el Dies irae”7.
Este es el modo de reinar de Jesús: amando, perdonando y, por ello, en cristiano, reinar no es servirse de los hombres, recibir honores de ellos o dominarlos, sino servir, entregarse, dar la vida por ellos, amarlos. Tengamos en cuenta que “la Iglesia siempre puede volver a sentir la tentación del triunfalismo, del poder, de crecer a base de influencias, de estar cerca de los que gobiernan dejando de lado su libertad evangélica. La fiesta de Cristo Rey nos recuerda a todos que nuestro único poder debe estar en servir”8.
Sólo esta contemplación de Cristo Rey-Crucificado puede movilizarnos para hacer nosotros lo mismo. Los cristianos, por el bautismo, participamos de la realeza de Cristo, para que con Él y como Él nos entreguemos por los demás. Y con nuestra entrega les mostremos el camino del Paraíso que por Jesús ha sido abierto para todos los hombres de buena voluntad.
Este domingo culmina el ciclo "C" donde hemos seguido al evangelio según San Lucas. El texto de hoy nos brinda una significativa conclusión del mismo pues nos revela el sentido último del viaje de Jesús a Jerusalén con sus discípulos. El fin es el Reino, pero el Reino de la vida eterna que hoy viene equiparado al paraíso. Y hasta aquí pueden llegar también los pecadores, como el "buen ladrón" de hoy, siempre que se arrepientan y confiesen que Jesús tiene el poder de salvarlos. Jesús no vino a este mundo ni llegó hasta la pasión para salvarse a sí mismo, sino a nosotros. En la cruz y por la cruz nos salva. Y allí se volvió Rey del Universo.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Cristo Rey
Frente a su trono solo se admite el silencio
No tiene igual la Dignidad
De la realeza divina
Su Majestad es infinita, imposible de imitar.
¿Habrá otro pueblo capaz
De permanecer y contemplar…?
Aquellas burlas sonaron en sus oídos
Laceraban el corazón de Dios
Crucificado y tan herido
Jesús Nazareno, Rey de los judíos
Demandaban, exigían…
Sufrir escandaliza
Rogó el ladrón: En tu Reino espérame!
Y el Corazón de Dios
Calmó su sed.
Rey de reyes, ten compasión de tu Pueblo
Hoy te mira con ojos nuevos
Si Tú lo animas
Tiene tanta sed de ti, como en aquellos días
Te busca a tientas, y le cuesta
Ponerse de rodillas
Vuelve tú la mirada a su indigencia,
Y muéstrale el Poder de tu Amor
Por tu Divina Omnipotencia. Amén.
1 Los Evangelios Sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 313.
2 F. Bovon, El evangelio según San Lucas. Vol. I (Sígueme; Salamanca 1995) 289.
3 A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 390.
4 Hoy estarás conmigo en el paraíso. Orientaciones para las homilías desde el domingo XXVIII hasta el domingo XXXIV “Durante el año”. Ciclo C; CEA, 1998, 104.
5 Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 333.
6 M-D. Molinié, El coraje de tener miedo. Variaciones sobre espiritualidad (San Pablo; Madrid 1997) 16. 7J. Ratzinger, Jesús de Nazaret. Desde la entrada en Jerusalén hasta la resurrección, Planeta, 2011, 248-249. 8 Hoy estarás conmigo en el paraíso. Orientaciones para las homilías desde el domingo XXVIII hasta el domingo XXXIV “Durante el año”. Ciclo C; CEA, 1998, 107.