06/07/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Isaías 66,10-14c
Salmo Responsorial 65(66)R- Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira.
Segunda Leitura - Gálatas 6,14-18
Evangelho: Lucas 10,1-12.17-20
Naquele tempo: 1O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2E dizia-lhes: 'A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: `A paz esteja nesta casa!' 6Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao povo:'O Reino de Deus está próximo de vós.' 10Mas, quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: 11Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo! 12Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade. 17Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: 'Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome.' 18Jesus respondeu: 'Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. 19Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. 20Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu.' Palavra da Salvação.
Lc 10,1-12.17-20
Lucas recolheu em seu evangelho essa importante exortação de Jesus que Ele dirigiu não aos Doze Apóstolos, mas a um grupo mais numeroso dos 72 discípulos. Essa exortação de Jesus é como uma carta constitucional para nós, discípulos missionários. Ouvindo as recomendações práticas que Jesus dá aos missionários, caímos na conta de nossa identidade e da nossa dignidade.
Vale a pena prestarmos atenção a algumas características que nos identificam.
“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, à sua frente, a toda cidade onde ele próprio devia ir”. Igreja está marcada pelo envio de Jesus. Concebê-la apenas como uma instituição que cuida da sua própria religião é perder esta identidade dada por Jesus. A Igreja não existe nem age em função de si mesma. Ela existe, vive e trabalha, como Jesus, em favor dos outros. A saída missionária não é somente um slogan programático. A saída missionária é o resultado do dinamismo inserido pelo envio de Jesus.
“Quando entrardes num povoado... curai os enfermos e dizer: ‘está próximo de vós o Reino de Deus’”. Está é a grande notícia: Deus está próximo. Ou melhor Ele veio ao encontro, se abaixou e condescendeu para nos convidar à comunhão com Ele. A boa notícia da proximidade de Deus não é mera mensagem sentimentalista sem conteúdo concreto. A proximidade de Deus é concreta. Manifesta-se sem se esgotar na saúde aos enfermos, no alívio dos mais sofredores. O Evangelho não é somente uma mensagem consoladora, é uma força e um dinamismo que vence o mal, o pecado, a doença, a morte.
Ao mesmo tempo, essa concretude do Evangelho interpela a nossa responsabilidade, pois ele nos inspira ações e gestos concretos em favor dos sofredores.
“Quando entrardes numa casa, dizei primeiro: Paz a esta casa!”. A Boa Nova de Jesus se comunica com respeito delicado e total. O Evangelho é sempre uma proposta humilde que interpela a liberdade das pessoas. Por isso ele pode ser rejeitado. Mas se for aceito, tem a força de transforma a vida e o mundo. Muitas vezes temos a tentação de querer convencer as pessoas a todo custo, transformando a pregação do Evangelho em marketing. É um erro essa ânsia por vencer as pessoas a todo custo. É antievangélido tratar sem amor os destinatários da pregação, tanto quanto é contra o Evangelho querer fazer “lavagem cerebral”, doutrinação, proselitismo.
“Alegrai-vos porque vossos nomes estão escritos nos céus”. Os setenta e dois tiveram sucesso surpreendente na missão: até os demônios se submetem a eles por causa do nome de Jesus. Jesus reconhece que a alegria dos setenta e dois é legítima, mas ensina que ela deve ser contida (na alegria não se exaltar; na tristeza não se deprimir). Além disso, Jesus destaca que o motivo da nossa alegria não é tanto ter a vitória sobre Satanás, mas o fato do encontro com Deus e de sermos os seus amigos, cujos nomes estão escritos nos céus. Assim, Jesus ensina também que a força para vencer Satanás provém da união com Deus. Para ter a força de vencer o demônio, é preciso recebê-la de Deus. Para receber a força de Deus é preciso estar unido a ele.
14º DTComum - Lc 10,1-12.17-20 - Ano C –
“Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘a paz esteja nesta casa!’” (Lc 10,5)
No Evangelho deste domingo Lucas recolhe um importante discurso missionário de Jesus, dirigido não mais aos Doze, mas a outro grupo numeroso de discípulos, o qual envia para que colabore com Ele em seu projeto de instauração do Reinado do Pai. As palavras de Jesus constituem uma espécie de carta fundacional onde seus seguidores devem alimentar sua missão evangelizadora.
Jesus “designou discípulos” e não “escolheu”. Designar é nomear para uma função; “desígnio” = intenção, propósito, vontade. Designar 72 discípulos significa que Jesus já os tinha no próprio coração; não foi uma escolha aleatória. Ele designa as pessoas que conviveram com Ele e se deixaram impactar pelo seu modo original de ser e agir.
Jesus envia seus discípulos de “dois em dois”; por que esta insistência em fazer o caminho ao menos junto a outro? Para os judeus, a opinião de um só não tinha nenhum valor em um juízo, e os missionários são, sobretudo, testemunhas. Também, porque a mensagem deve ser proclamada sempre em comunidade.
É preciso ir “de dois a dois”, ou seja, dispostos a caminhar com outros, a comportar-se como cúmplices e companheiros, a negociar metas e compartilhar itinerários, convencidos de que o individualismo já caducou; ajudam-se um ao outro, se sustentam e se apoiam mutuamente.
É importante destacar que há um dado constante em todos os relatos de envio: a casa, como lugar preferencial para os discípulos missionários. E isso não é estranho. É certo que Jesus ensinou nas sinagogas; no entanto, Ele preferia muito mais ensinar a campo aberto, indo pelos caminhos, atravessando vilas e povoados, aproveitando as travessias do Lago de Genesaré... Mas, sobretudo, Ele ia aonde homens e mulheres realizavam suas atividades comuns, no simples contexto do trabalho cotidiano e, de maneira privilegiada, nas casas, começando, desde logo, pela sua própria casa. A casa acaba sendo o espaço alternativo que se adequava melhor à atuação do Mestre, enquanto sua pregação acontecia na itinerância.
A Boa Notícia de Jesus deve ser comunicada com respeito total, a partir de uma atitude amistosa e fraterna, contagiando a paz. É um erro pretender impô-la a partir de uma pretensa superioridade, de ameaça ou de ressentimento. É ante evangélico tratar sem amor as pessoas só porque não aceitam a mensagem. Mas, como vão aceitá-la se não se sentem compreendidas por aqueles que se apresentam em nome de Jesus?
Em primeiro lugar, Jesus convida seus discípulos e a nós a viver em atitude de saída, de encontro com o outro. Ele não funda uma religião onde as pessoas se fecham no ritualismo, no culto, na doutrina, vivendo uma auto-referência e um narcisismo doentio. Jesus move aqueles que o seguem a saírem de si mesmos para se deixarem contagiar pelos outros. Aqueles que vivem fechados em si mesmos não sabem escutar o clamor e os gemidos dos outros e acabam se tornando insensíveis e incapazes de viver uma presença solidária.
Jesus convida a romper distâncias e suspeitas para viver uma proximidade acolhedora com o outro; é preciso viver em situação de saída para que entre o diferente, a novidade, o surpreendente... Citando o poeta Rilke, o ser humano deve viver em situação de despedida.
Infelizmente temos esquecido que “ser cristão” é “seguir” Jesus Cristo: mover-nos, dar passos, caminhar, construir nossa vida seguindo suas pegadas. Nossa vivência cristã, muitas vezes, se restringe a uma fé teórica e inoperante ou se fecha numa prática religiosa rotineira e vazia; não transforma nossa vida em seguimento de Jesus.
Seguir Jesus Cristo é aderir a Ele incondicionalmente, é “entrar” no seu caminho, recriá-lo a cada momento e percorrê-lo até o fim. Seguir é deixar-nos “configurar”, isto é, movimento pelo qual nossa vida vai sendo modelada pelo modo de ser e viver de Jesus.
Jesus não nos chama para seguir uma religião, uma doutrina, nem fazer proselitismo... Ele desencadeia um movimento de vida e nos convoca a segui-Lo, ou seja, identificar-nos com Ele e com a causa do Reino.
O horizonte do chamado e do envio não é outro que o compromisso em favor da vida e das pessoas, frente àquelas forças que tendem a travar e danificar a mesma vida. A partir desta perspectiva, a “missão” pode reencontrar seu verdadeiro sentido. Enviados(as) em favor da Vida, seus(suas) seguidores(as) sabem muito bem qual é o encargo que Jesus lhes confia. Nunca O viram governando a ninguém; sempre O conheceram curando feridas, aliviando o sofrimento, regenerando vidas, destravando os medos, contagiando confiança em Deus. O que Jesus sempre quis foi “discípulos/as” que lhe “seguissem”, ou seja, que vivessem como Ele viveu: dedicados a curar enfermidades, aliviar sofrimentos, acolher as pessoas mais perdidas e extraviadas, pacificar as relações. Assim nasceu o “movimento de Jesus”.
É preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo...
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências... Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer...
A vida está cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprendemos e nos fazem um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...
“Sede itinerantes”: este é o apelo que brota do modo de viver que Jesus elegeu quando se dedicou a proclamar sua Boa Notícia e aliviar o sofrimento humano. Ele não tinha templo, não tinha casa, não tinha onde reclinar a cabeça... Este desapego de todo tipo de segurança é a atitude básica e fundamental que todo(a) discípulo(a) deve adotar. O anúncio não pode ser realizado em lugares fechados ou sentados numa cátedra. Seguir Jesus exige uma dinâmica continuada. Nada pode ser comunicado a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade e a mobilidade são exigência básicas da mensagem de Jesus.
Mesmo que, com frequência, esqueçamos desse apelo de Jesus, a essência da Igreja está marcada pela mística do envio. Por isso, é perigoso concebê-la como uma instituição fundada para cuidar e proteger uma religião. Ela não foi fundada para preservar ritos arcaicos, doutrinas estéreis, normas vazias... Ela é um “corpo” para a missão; responde melhor ao desejo original de Jesus quando a Igreja é imagem de um movimento profético que caminha pela história, segundo a lógica do envio: saindo de si mesma, comprometendo-se com os outros, levando ao mundo a boa notícia de Deus. “A Igreja não está aí para si mesma, mas para a humanidade” (Bento XVI).
Por isso, é tão perigosa a tentação de viver na retaguarda, centrados em nossos próprios interesses, nosso passado, nossas conquistas doutrinais, nossas práticas e costumes “religiosos”. Pior ainda é quando fazemos isso petrificando nossa relação com o mundo.
Que é uma Igreja rígida, paralisada, fechada em si mesma, sem profetas de Jesus e sem portadores da Boa Notícia da vida e da paz.
Para meditar na oração:
Diante de Jesus, que “passa e chama” a todos, responda: como você vive, hoje, sua missão no trabalho, no seu ambiente, na sua comunidade? Que sentido você quer dar à sua própria vida?... em quê gastar suas forças, capacidades? Como viver, no seu cotidiano, sua vocação de discípulo(a)-missionário(a)?
- Sua comunidade cristã está mais próxima do “movimento de Jesus” ou vive “formatada” pelo peso de uma religião fechada, desencarnada e descompromissada?
O texto do evangelho de Lucas sobre o qual meditamos neste domingo nos convida a refletir a respeito da missão, a comunicação do Reino e sua proximidade, e nos interpela sobre nosso modo de vida, simples, pobre, sem apegos, como testemunho cristão.
“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois...”
Em primeira instância, destacamos que a missão não é obra de um pequeno grupo. Da mesma forma que aconteceu nos primeiros séculos, a mensagem do evangelho é comunicada por todas as pessoas que vivem seu seguimento a Cristo, com a alegria própria do Evangelho e seu modo de vida desperta perguntas, interesse, suscita inquietações e gera espaços para comunicar e tornar presente a vida que Jesus vem nos trazer. O número 72 pode representar a missão cristã tal como era praticada na época de Lucas e é também uma forma de tornar presentes essas pequenas comunidades que estavam dispersas em diferentes lugares do Império e que eram comunicadoras da Boa Nova do Reino. Eles são enviados “dois a dois”, por um lado como companhia mútua, como uma forma de se ajudarem e também ressaltando que o evangelho não se comunica de forma individual, mas gerando pequenas comunidades que oferecem perspectivas diversas. A missão individual, que corre o risco de ser algo isolado e com características muito personalizadas, não é própria de Jesus nem das primeiras comunidades.
Em Atos dos Apóstolos, Lucas confirma essa ideia apresentando pequenos grupos, duplas como Pedro e João, Paulo e Barnabé, Paulo e Silas, Barnabé e Marcos. Não há um fundador de uma comunidade que a organize de acordo com seus critérios, mas há peregrinos, caminhantes que animam as comunidades, que percorrem os espaços onde elas estão surgindo para encorajá-las a viver a fé apesar das dificuldades. Jesus caminhou e peregrinou com um grupo, com uma comunidade de homens e mulheres que o seguiam. Com eles, ele compartilhava a vida, ensinava-os "quando estavam com ele”, recebia suas perguntas e inquietações, recolhia as repercussões ou sentimentos sobre suas ações, sobre sua pessoa, como vimos no domingo anterior.
“Os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir”.
Irão a lugares e cidades que ele visitará mais tarde, de alguma forma preparando o caminho e comunicando a alegria do encontro com Jesus. João Batista preparava um caminho de conversão, mas agora os discípulos trazem a Boa Nova do Reino presente entre nós, a Novidade do Messias que já está entre nós, de Jesus a quem convidam a receber, acolher, deixar-se transformar por ele. Eles “preparam”, transmitindo, convidando a receber Jesus, a deixá-lo entrar em sua vida e conhecer sua revelação, seu amor, sua Vida que liberta e salva!
"A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita.
Em primeiro lugar, Jesus convida-os a orar, a deixar nas mãos de Deus a tarefa que lhes confia. Não é um “problema” a resolver, nem um sistema ou uma ideologia que eles têm que difundir com o objetivo de reunir pessoas, convencê-las de algo... nada mais distante disso, apesar de reconhecermos que isso acontece em diferentes espaços eclesiais. Jesus os convida a olhar para a messe, para as pessoas, para cada um, a partir do seu olhar e a sentir com o seu coração: ter esse olhar compassivo e também essa confiança absoluta que Ele sempre teve em seu Pai... Jesus sabe que a messe é grande e assim lhes diz, mas não é para preocupá-los, sobrecarregá-los ou transmitir-lhes uma sensação de importância ou superioridade, mas é um convite a serem sempre gratos por terem sido chamados a experimentar a riqueza de seu Amor, a estar com Ele e a fazer parte de sua comunidade. Por isso, antes de tudo, Ele os convida a orar, a se colocarem humildemente diante de Deus.
Ele os envia com uma advertência: a tarefa que vão realizar não é fácil, “vocês vão como cordeiros no meio de lobos”. Os cristãos sabiam que seguir Jesus não era uma tarefa fácil e que sua mensagem não era rapidamente aceita e que alguns – como Estêvão, Tiago e muitos outros que não conhecemos – foram mortos por sua fé, por permanecerem fiéis ao evangelho de Jesus. Em primeiro lugar, Jesus os convida a rezar, a deixar a tarefa que Ele lhes confia nas mãos de Deus. Não se trata de um "problema" a ser resolvido, nem de um sistema ou ideologia a ser difundido com o objetivo de unir as pessoas, convencê-las de algo... nada poderia estar mais longe da verdade, embora reconheçamos que isso acontece em diferentes espaços eclesiais. Jesus os convida a olhar para a colheita, para as pessoas, para cada um, a partir de sua própria perspectiva, e a sentir com o coração: a ter aquele olhar compassivo e também aquela confiança absoluta que Ele sempre teve em Seu Pai... Jesus sabe que a colheita é grande, e Ele lhes diz isso, mas isso não é para preocupá-los, sobrecarregá-los ou transmitir um senso de importância ou superioridade. Pelo contrário, é um convite a ser sempre grato por ter sido chamado a experimentar a riqueza do Seu amor, a estar com Ele e a fazer parte da Sua comunidade. Por isso, acima de tudo, Ele os convida a rezar, a se colocar humildemente diante de Deus. Ele os envia com uma advertência: a tarefa que irão realizar não é fácil, “vocês vão como cordeiros no meio de lobos”. Os cristãos sabiam que seguir Jesus não era uma tarefa fácil e que sua mensagem não era rapidamente aceita; alguns deles – como Estêvão, Tiago e muitos outros que não conhecemos – foram mortos por causa de sua fé, por permanecerem fiéis ao evangelho de Jesus.
Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!'
Jesus também lhes dá orientações para essa missão, faz algumas recomendações, preparando-os para essa tarefa. Em primeiro lugar, ele lhes diz o que é necessário levar ou, melhor dizendo, o que “não devem levar”. Na bolsa guardavam o dinheiro, na sacola os alimentos, e não levar sandálias pode significar que não irão a lugares muito distantes ou longínquos. Não levar bolsa para guardar dinheiro faz referência ao fato de que o Império Romano estava cheio de grupos e pregadores religiosos que viviam de sua pregação, usavam a pregação como forma de ganhar a vida, por isso Jesus recomenda uma vida austera, não se aproveitar da caridade alheia, comer o que lhes derem e viver de seu trabalho, como também menciona Paulo.
O que fazer quando chegam a uma casa? Cumprimentar com a paz, como Jesus fez aos discípulos. Não é uma fórmula, mas é uma vida que Jesus nos oferece. Jesus nos convida a ser como ele, a dar sua paz, sua própria vida. Neste tempo convulsionado por guerras, mentiras e falta de sensibilidade à dor e ao sofrimento causados pelas guerras, onde morrem centenas de inocentes, a necessidade de uma paz que não seja
Desde o início do seu pontificado, o Papa Leão XIV entrou nas nossas igrejas, nas nossas comunidades e na vida de cada cristão, tornando presente a saudação de Jesus. Como ele mesmo disse aos participantes do Jubileu das Igrejas Orientais: “Um apelo se destaca: não tanto o do Papa, mas o de Cristo, que repete: "A paz esteja convosco!" (Jo 20,19.21.26). E ele especifica: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vô-la dou como o mundo a dá" (Jo 14,27). A paz de Cristo não é o silêncio mortal que se segue ao conflito, nem é o resultado da opressão, mas um dom que olha para as pessoas e revive suas vidas. Rezemos por essa paz, que é reconciliação, perdão, coragem de virar a página e começar de novo (cf.: Leão XIV: "O povo quer a paz e eu, com o coração na mão, digo aos líderes do povo: encontremo-nos, conversemos, negociemos!")
Este domingo somos convidados a comunicar esta mensagem, desde a pobreza e a austeridade, sem grandes protagonismos, mas com a simplicidade do único tesouro que nos foi confiado: Jesus Ressuscitado, que nos dá a sua Paz e nos chama a transmiti-la.
Oração
Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta que denuncia a
Paz dos cemitérios e a Paz dos lucros fartos.
Dá-nos a Paz que luta pela Paz!
A Paz que nos sacode com a urgência do Reino.
A Paz que nos invade, com o vento do Espírito,
a rotina do medo, o sossego das praias
e a oração de refúgio.
A Paz das armas rotas na derrota das armas.
A Paz do pão da fome de justiça,
a Paz da liberdade conquistada,
a Paz que se faz “nossa” sem cercas nem fronteiras,
que tanto é “Shalom” como “Salam”,
perdão, retorno, abraço...
Dá-nos a tua Paz, essa Paz marginal que soletra
Em Belém e agoniza na Cruz e triunfa na Páscoa.
Dá-nos, senhor, aquela Paz inquieta,
que não nos deixa em paz!
Pedro Casaldáliga
Para que saibamos dialogar: os enviou dois a dois…
O texto de Lucas nos convida a sair em missão. A colheita é grande e há pouca gente disposta! Assumamos a tarefa! Para a autopromoção, para que sejamos individualmente valorizados? Com certeza não. O convite é para que sigamos dois a dois, duas a duas. Duas pessoas juntas já são a célula de uma comunidade, o princípio do diálogo.
As comunidades paulinas aprenderam bem a lição: Barnabé e Paulo saem juntos em missão (At 13,1-3), mais gente se junta a eles, fazem trabalho de equipe (Rm 16,21-23). Quando o missionário ou o líder não escuta sua comunidade, não entendeu ainda o que é "seguir dois a dois". Não foi capaz de compreender o modelo eclesiológico concebido por Jesus. Quem trabalha sozinho, não tem sequer com quem planejar, avaliar e celebrar.
Setenta ou setenta e dois? Discípulos samaritanos!
Algumas edições da Bíblia falam do envio de 70 discípulos. Outras falam de 72. Depende do manuscrito que é seguido. Muito possivelmente, o número evoca todas as nações, citadas no capítulo 10 do livro do Gênesis. A Bíblia Hebraica menciona 70 povos. Ao ser traduzido para o grego, o texto foi modificado para 72. A missão é estendida a todos os povos.
Dado interessante, entretanto, é de onde o grupo parte. Em Lucas 9,51-52, Jesus tinha começado sua longa viagem rumo a Jerusalém. Sai da Galileia e entra na Samaria. É em território samaritano que Jesus associa mais 72 discípulos e discípulas para irem à sua frente, onde ele mesmo deveria ir depois (Lc 10,1). Lucas sugere, assim, que estes novos 72 discípulos e discípulas já não são judeus da Galileia, mas samaritanos. Sugere ainda que o lugar onde Jesus anuncia a Boa Nova já não é a Galileia, mas a Samaria, território dos excluídos.
Shalom para esta casa!
Espírito de simplicidade, desprendimento e confiança na providência divina: "não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias!" (Lucas 10,3). Mas sem ingenuidade: os discípulos e discípulas são enviados "como cordeiros entre lobos". A missão não é fácil, por isso se espera uma entrega total. A expressão "a ninguém saudeis pelo caminho", possivelmente tem a ver com a cultura do Oriente. A saudação não se limita a um "oi", a um simples "bom dia". Envolve convivência, convite para o alimento e para o pernoite (2Reis 4,29; Lucas 24, 29). Pode ser que o texto esteja querendo falar também da urgência de se chegar aos destinatários da missão.
Entretanto, quando se entra numa casa é para que o Shalom, a paz verdadeira, possa habitá-la! Se para o judaísmo o termo já dizia muita coisa, para a comunidade de Jesus, diz mais ainda: para a casa que recebe, o anúncio do Shalom é a Boa Notícia de que o Reino chegou. Cabe a cada pessoa e comunidade, entretanto, a escolha de aderir ou não ao Shalom.
Avaliação, oração, partilha, análise da realidade
Da mesma maneira como tinha feito com os Doze (Lc 9,10), Jesus reúne os 72 discípulos e discípulas e faz um encontro com eles para rever a missão. Os discípulos voltam e começam a contar o que fizeram. Com muita alegria informam que, usando o nome de Jesus, conseguiram expulsar até demônios! Jesus os ajuda no discernimento. Se eles conseguiram expulsar demônios, foi porque ele, Jesus, lhes tinha dado este poder. Estando com Jesus, nada de mal lhes pode acontecer. E Jesus acrescenta que o mais importante não é expulsar demônios, mas sim ter o nome inscrito no céu. Ter o nome inscrito no céu é ter a certeza de ser conhecido e amado pelo Pai. Pouco antes, Tiago e João tinham pedido que um fogo caísse do céu para matar os samaritanos (Lc 9,54). Agora, pelo anúncio da Boa Nova, é o Satanás que cai do céu (Lc 10,18) e os nomes dos discípulos samaritanos entram no céu! Naquele tempo, muita gente achava que samaritano era coisa do demônio, coisa de Satanás (Jo 8,48).
Este texto de Lucas 10,17-24 nos dá uma ideia de como os discípulos e as discípulas viviam em comunidade com Jesus. Eles faziam aquilo que nós fazemos até hoje: reunião, avaliação, oração, partilha, análise da realidade, ajuda mútua. A pequena comunidade que se formou ao redor de Jesus foi o primeiro "Ensaio do Reino". Ela tornou-se o modelo para todos nós que viemos depois. A comunidade é como o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo, sobretudo para os pobres. Será que a nossa comunidade é assim?
De poucas palavras se abusou tanto como da palavra «paz». Todos nós falamos de «paz», mas o significado desse termo foi mudando profundamente afastando-se cada vez mais do seu sentido bíblico. O seu uso interesseiro fez da paz um termo ambíguo e problemático. Hoje, em geral, as mensagens de paz resultam muito suspeitosas e não conseguem muita credibilidade.
Quando se fala em paz nas primeiras comunidades cristãs, não se pensa, antes de mais nada, numa vida mais calma e menos problemática, que corre de forma ordeira ao longo de caminhos de maior progresso e bem-estar. Antes de tudo e na origem de qualquer paz individual ou social está a convicção de que todos somos aceites por Deus apesar dos nossos erros e contradições, todos podemos viver reconciliados e em amizade com ele. Isto é o primordial e decisivo: «Estamos em paz com Deus» (Romanos 5,1).
Essa paz não é só a ausência de conflitos, mas uma vida mais plena que nasce da total confiança em Deus e afeta o próprio centro da pessoa. Essa paz não depende apenas de circunstâncias externas. É uma paz que brota do coração, conquistando gradualmente a toda a pessoa e dela se estende aos outros.
Essa paz é um presente de Deus, mas também fruto de um trabalho não pequeno que pode prolongar-se durante toda uma vida. Receber a paz de Deus, guardá-la fielmente no coração, mantê-la no meio dos conflitos e contagia-la difundi-la aos outros exige o esforço apaixonado, mas não fácil, de unificar e enraizar a vida em Deus.
Essa paz não é uma compensação psicológica ante a falta de paz na sociedade; não é uma evasão pragmática que se afasta dos problemas e conflitos; não se trata de um refúgio confortável para pessoas decepcionadas ou céticas ante uma paz social quase «impossível». Se é a verdadeira paz de Deus, converte-se no melhor estímulo para viver trabalhando por uma convivência pacífica feita entre todos e para o bem de todos.
Jesus pede aos Seus discípulos que, ao anunciar o reino de Deus, a sua primeira mensagem seja para oferecer paz a todos: «Dizei primeiro: paz a esta casa». Se a paz for aceita, irá estender-se pelas aldeias da Galileia. Caso contrário, ele «voltará» de novo para eles, mas nunca há-de ficar destruída no seu coração, pois a paz é um presente de Deus.
Lucas 10,1-12.17-20
O discípulo existe para a missão, e não se entende fora dela. Jesus não cogitava levar adiante a sua missão sem a colaboração, não só dos Apóstolos, mas de muitos discípulos e discípulas. É assim ainda hoje - a missão de evangelização não compete somente aos que são constituídos oficialmente como pastores da Igreja, mas a todos, em virtude do nosso batismo. É uma tarefa comunitária - simbolizada pelo fato que Jesus não mandou os setenta e dois discípulos individualmente, mas de dois a dois.
Se naquela época a colheita já era grande, o que dizer de hoje? O que diria Jesus das massas enormes dos conglomerados urbanos, as selvas de pedra que são as nossas grandes áreas metropolitanas, com os seus bolsões de miséria, as suas massas sobrantes, a seu anonimato? Mais do que nunca torna-se urgente o pedido do Senhor: “Peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita” (v 2)
Não devemos reduzir este pedido à oração pelas vocações sacerdotais e religiosas, por tão necessárias que sejam, mas peçamos que todos os cristãos assumam a sua missão de ser continuadores da missão de Jesus, no mundo de hoje. Pois é possível que o “dono da colheita” mande operários, e que eles recusem de ir!!
Jesus disse que estava mandando-os como “cordeiros entre lobos”- uma missão aparentemente impossível! Continua a fazê-lo - pois quem vive a mensagem evangélica humanamente falando é cordeiro diante dos lobos vorazes do “evangelho” de competitividade e lucro, os violentos partidários da concentração das terras e da renda! Mas esta fraqueza é a fraqueza de Deus que, mais tarde, Paulo descreveria como “mais forte do que os homens” (1 Cor 1,26)!
Os discípulos evangelizadores não iam como conquistadores ou dominadores, não iam com a força das armas, como infelizmente aconteceu tanto na história do Brasil e da América Latina. Trouxeram a mensagem da “paz” - não a paz como “o mundo a dá”, mas o “Shalom”, a paz que só pode vir da presença de Deus, a paz que pode existir no meio de sofrimento, a paz que ninguém pode tirar. Eles deviam assumir a condição dos seus ouvintes, não ir de casa em casa em busca de “coisa melhor”. Pois a missão e o discipulado, exigem desprendimento e encarnação.
A proclamação deles, onde eram bem recebidos, era “O Reino de Deus está próximo” !! Pois onde existe qualquer gesto de amor, de fraternidade, de solidariedade, existe já o Reinado de Deus. Só o fato de alguém abrir-se para o Evangelho traz a presença do Reino; só o fato de alguém se dispor a levar o Evangelho, faz presente o Reino! Pois o Reino não se constrói de coisas extraordinárias, mas de pequenos gestos. As armas do evangelizador não são “qualidade total”, eficiência, eficácia humana, razão instrumental, - mas amor, solidariedade, acolhida. Evangelizar não é em primeiro lugar propagar uma doutrina, mas tornar presente a pessoa e o projeto de Jesus de Nazaré.
Mesmo rejeitados, os discípulos deviam proclamar: “Apesar disso, saibam que o Reino de Deus está próximo”. Pois nada pode impedir o crescimento do Reino, que é como “a semente que o agricultor semeia. Ele dorme e ela cresce sem que ele saiba como”. Isso nos deve animar muito como evangelizadores. É preciso que nós semeemos, sem nos preocuparmos com os resultados, pois “Paulo é quem planta, Apolo rega, mas é Deus que faz crescer” (cf. 1 Cor 3,6).
Quem se esforça na evangelização pode cansar, pode sofrer, mas terá uma alegria profunda: “E os setenta e dois voltaram muito alegres, dizendo: “Senhor, até os demônios obedeçam a nós por causa do teu nome” ( v. 17). Porém, a motivo da alegria não deve ser por causa dos prodígios feitos, mesmo quando podemos “pisar em cima de cobras e escorpiões” (v. 19), mas porque, pela força do Evangelho, conseguimos expulsar os demônios do mal, da opressão, da divisão, do ciúme, que destroem o relacionamento humano. Devemos sentir alegria porque o Reino está crescendo inexoravelmente, - e somos instrumentos deste Reino. Sejamos, seja qual for a nossa vocação, situação ou profissão, “trabalhadores da colheita”. Pois não há cristão que seja dispensado deste desafio, nem lugar ou situação que não possam ser evangelizados!
(Traduzido pelo tradutor google sem nossa correção. Veja o original em espanhol logo após o texto em português)
XIV DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Is 66,10-14):
Este texto faz parte do capítulo final do Livro de Isaías, que contém uma mensagem de consolo e esperança para Jerusalém e seus habitantes. Na leitura de hoje, no início, Jerusalém é apresentada como uma mãe cheia de alegria por poder acolher seus filhos, que são convidados a vir até ela para serem nutridos, ou mais precisamente, amamentados.
Mas há um significado simbólico na comida e na bebida. "A comida oferecida por Jerusalém consiste em espalhar a alegria da fé àqueles que buscam o Senhor no caminho da conversão. Além da alegria refletida no rosto daqueles que se convertem, o Senhor derramará paz sobre Jerusalém. " 1
A paz ( shalom ) é frequentemente apresentada como o fruto da justiça, isto é, do cumprimento da vontade de Deus pela humanidade. Ao se desviar da vontade de Deus expressa nos mandamentos, ao cometer injustiça, Jerusalém perdeu a paz e a glória que vêm de Deus. Agora Deus lhes concede essa paz e glória gratuitamente e para sempre.
No final do texto, o próprio Deus se apresenta como uma mãe amorosa confortando seus filhos em Jerusalém, que se encherão de alegria. A mão de Deus agora será, para seus filhos, como a de uma mãe carinhosa.
Evangelho (Lc 10,1-12.17-20):
O Evangelho de hoje nos conta como Jesus, depois de ter exposto claramente as exigências da vida apostólica (cf. Lc 9,51-62), «designou outros setenta e dois, além dos Doze, e os enviou dois a dois, para irem adiante dele a toda cidade e lugar aonde ele próprio tinha de ir» (10,1).
O número setenta e dois tem um valor simbólico de universalidade , visto que em Gênesis 10 (na versão grega) se diz que os descendentes de Noé que repovoam a Terra formam um macrocosmo de 72 povos. Daí a ideia, típica da época, de que as nações que povoavam a Terra eram 72. Portanto, a universalidade do envio e também dos enviados é enfatizada, visto que "Jesus não envia apenas os doze, mas todo o povo de Deus" 2 .
Jesus os envia dois a dois . Isso pode ser visto como uma necessidade, baseada na validade do testemunho, que exigia que fosse afirmado por pelo menos duas pessoas (cf. Dt 19,15). Mas também pode ser visto, numa leitura teológica, como uma necessidade para a credibilidade do testemunho fundado na caridade. Ou seja, dois são necessários para manifestar a caridade, o amor de Deus que une os discípulos.
Eles são enviados (o verbo apostellō , de onde deriva a palavra "apóstolo") para preceder e preparar a vinda de Jesus. Eles não vão em seu próprio nome, mas em nome de Jesus, a quem os destinatários devem receber. Eles seguem uma série de recomendações, semelhantes às já recebidas pelos "doze" em Lucas 9:1-5. A primeira coisa que Jesus lhes pede é que orem por trabalhadores para a colheita. É claro que o "Senhor da colheita" é Deus, que deve enviar os trabalhadores-missionários para trabalhá-la. A obra é de Deus, então a primeira coisa é se colocar em atitude de oração, pedindo a Ele que muitos sejam enviados para a missão .
Depois, há o imperativo de envio: “ Ide ! (ὑπάγετε) Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos” (10:3). Como “ovelhas no meio de lobos”, seria um símbolo de mansidão em meio a um ambiente hostil.
Trata-se de partir, mas o que levar na jornada? Justamente porque a obra é de Deus, a forma como será realizada será "de maneira divina" e não "de maneira humana". É por isso que as recomendações que
Eles continuam a enfatizar a pobreza dos meios ou recursos dos missionários: "não levem dinheiro, nem provisões, nem sapatos..." A proibição de levar até mesmo o mínimo necessário para a viagem tem o objetivo de destacar a dependência do missionário do Senhor e dos destinatários 3 .
A urgência da missão é enfatizada pela proibição de cumprimentar outras pessoas ao longo do caminho. Nada pode distrair ou atrasar a missão.
Os missionários são enviados às "casas" (οἰκία) da cidade, local do primeiro encontro e do primeiro anúncio, indicando a importância dos laços pessoais na transmissão da mensagem . Posteriormente, há a referência à "cidade" (πόλις) como o local do anúncio público da proximidade do Reino, precedido pela cura dos enfermos, sinal da presença soberana de Deus.
Qual é o conteúdo do anúncio? Paz; o dom da paz . Para a Bíblia, a paz indica a totalidade dos bens messiânicos esperados para a era escatológica. Ela é até identificada com a salvação (cf. At 10,36). A presença de Jesus é a presença da paz (cf. Lc 24,36: a saudação de Jesus ressuscitado aos discípulos); receber Jesus é receber a paz de Deus. Como bem diz W. Foerster: "Esta paz não é um desejo, é um dom, e tão real que, mesmo que seja rejeitada, retorna aos discípulos". 4 Receber esta paz de Deus requer uma disposição, estar aberto a recebê-la, ser um "filho da paz" (υἱὸς εἰρήνης), como diz literalmente Lc 10,6. Intimamente ligada à paz está a proclamação da vinda do Reino de Deus, que traz a verdadeira paz. Ao mesmo tempo, a paz, juntamente com a cura dos doentes, torna-se sinal da chegada do Reino a uma pessoa, a uma família ou a um lar (cf. 10, 9).
Não só a mensagem fundamental é de paz, mas a atitude dos missionários também deve ser pacífica. Desde o início, ele lhes diz que são enviados como ovelhas no meio de lobos (cf. 10,3). Em seguida, apresenta-lhes a possibilidade de rejeição, à qual a reação deles não deve ser violenta, como a de Tiago e João, que queriam fazer descer fogo do céu sobre os habitantes de uma cidade da Samaria porque não os receberam (cf. Lc 9,54). Aqui, um sinal é ordenado (sacudir o pó grudado nas sandálias) para deixar clara a responsabilidade assumida por aqueles que rejeitam os mensageiros, que não querem tirar nada deles, considerando assim a missão cumprida (cf. 10,10-11). A esse respeito, B. Malina nos informa que "quando os israelitas retornavam de suas viagens ao exterior, ao chegarem à Terra Santa, sacudiam a poeira dos pés. Não querer entrar em contato com o que havia tocado os outros era certamente uma grave afronta " . Em suma, essa atitude significa que o julgamento pertence somente a Deus.
Ressalta-se também que os missionários devem aceitar a hospitalidade daqueles que os recebem, mas sem se tornarem itinerantes ou pretensiosos. A insistência em um detalhe menor como a comida pode nos parecer estranha, mas, como A. Vanhoye corretamente observa, devemos lembrar que os judeus têm regras alimentares muito rígidas que constituem um obstáculo ao relacionamento com outros povos. Portanto, Jesus nos pede para deixar de lado essas regras que não nos ajudam a nos relacionar com os outros; pelo contrário, "os mensageiros do Evangelho devem ser abertos e conciliadores, devem sempre buscar o que une as pessoas, não aceitar o que cria divisões " . 6
Em Lucas 10:17-20, é narrado que os enviados retornam alegres e contam a Jesus sobre sua experiência missionária bem-sucedida, entendida em termos de vitória sobre os poderes do mal. Jesus confirma essa vitória, mas insiste em depositar a alegria do coração não no sucesso apostólico ou no poder concedido, mas na garantia de estar ao lado de Deus para sempre. Como observa F. Bovon: "Dizer que nossos nomes estão escritos no céu (ou no livro da vida: Ap 3:5) é crer que somente a memória de Deus garante a continuidade de nossa vida na eternidade. " 7
ALGUMAS REFLEXÕES:
A Igreja hoje é chamada a redescobrir sua identidade missionária, pois existe para evangelizar . E essa missão se baseia, antes de tudo, no mandamento de Jesus de enviar; de enviar todos os cristãos, que são essencialmente discípulos missionários.
O chamado e o envio à missão são também um sinal dos tempos, um convite renovado que o Senhor nos faz, de modo muito intenso, através dos últimos Papas, de São Paulo VI a Leão XIV. A este respeito, o Papa Francisco disse em EG 13: “João Paulo II nos convidou a reconhecer que ‘é necessário manter viva a nossa preocupação pelo anúncio’ àqueles que estão longe de Cristo, ‘porque esta é a tarefa primária da Igreja ’. A atividade missionária ‘ainda representa o maior desafio para a Igreja hoje ’, e ‘a causa missionária deve ser a primeira ’. O que aconteceria se realmente levássemos essas palavras a sério? Simplesmente reconheceríamos que o alcance missionário é o paradigma de todo o trabalho da Igreja. Nessa linha, os bispos latino-americanos afirmaram que ‘não podemos mais permanecer em silêncio, esperando passivamente em nossas igrejas’ e que precisamos passar ‘de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária’. Esta tarefa continua sendo a fonte das maiores alegrias para a Igreja: ‘Haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam se arrepender’ ( Lc 15,7).”
A clareza do mandato missionário não deve ser obscurecida pela dificuldade de cumprir "à risca" as instruções dadas por Jesus aos enviados. O próprio Lucas, nos Atos dos Apóstolos, apresenta o trabalho dos missionários de uma forma um pouco diferente daquela aqui descrita. O mesmo pode ser dito se considerarmos as cartas de São Paulo e as práticas da Igreja primitiva. Por isso, achamos interessante reter " as constantes da proclamação do Evangelho " apresentadas por F. Bovon8 :
"- é o Senhor quem envia (v. 1);
- a missão é uma etapa na história da salvação (v.2);
- a missão é acompanhada de sofrimento (v.3);
- na evangelização há troca e não apenas dom (v. 7);
- o gesto acompanha a palavra (v. 9);
- a casa serve de lar para a primeira comunidade (v. 5-7);
- É necessária uma reflexão sobre os meios que devem ser limitados ou preservados; ou seja, coloca-se a questão da formação dos missionários, bem como da sua prática;
- O Senhor Deus e o Senhor Jesus que enviam não ficam inativos; quer os destinatários o aceitem, quer o rejeitem, o Reino não cessa de vir."
Mais alguns elementos precisariam ser acrescentados a esta lista, com base nas leituras de hoje. Primeiro , e considerando a primeira leitura, o conteúdo da proclamação é: alegria, conforto e paz da parte de Deus . É por isso que o Evangelho é Boa Nova.
Em segundo lugar , a dimensão eclesial da missão . De fato, na descrição de Jerusalém na primeira leitura — rica em dons de Deus — vemos a imagem da Igreja como mãe, que agora convida seus filhos a encontrarem nela Deus e seus dons. Essa dimensão eclesial da missão se expressa no cultivo de vínculos pessoais .
Finalmente , o resultado da missão , porque sempre existe a possibilidade de rejeição por parte dos homens. Jesus não esconde essa possibilidade, que surge justamente da liberdade humana. "Até os demônios se submetem a nós em teu nome", exclamam eufóricos os missionários ao retornarem a Jesus. Sim, os demônios se submetem a eles, mas os homens não; eles podem rejeitá-los, recusando-se a receber Deus ou seus dons. Este é um grande mistério. O que fica claro nesses casos é que o sucesso não é o motivo nem a motivação do envio . Portanto, a possibilidade de rejeição não anula nem o envio nem a missão. O apóstolo cumpre sua missão de proclamar, para além dos resultados.
É possível que, mesmo hoje, quando falamos de missão na Igreja, pensemos que seja algo que deva ser tratado por pessoas consagradas, padres e freiras. Mas Jesus nos ensina no Evangelho de hoje que a missão faz parte do seu seguimento. Através do batismo, todos os cristãos são discípulos missionários do Evangelho. Precisamos sentir novamente que o Senhor nos diz com veemência: "Vão! Eu os envio."
A esse respeito, o Papa Francisco disse em sua homilia de 3 de julho de 2022: “Se nos perguntarmos qual é a nossa tarefa no mundo, o que devemos fazer como Igreja na história, a resposta do Evangelho é clara: missão . Ir em missão, levar o anúncio, fazer saber que Jesus veio do Pai.”
E não é necessário ir para outro país. Trata-se de ir ao encontro de cada pessoa que encontro todos os dias, com quem compartilho trabalho, estudo, lazer e esporte. Devo ir até elas com mansidão para compartilhar a Paz que o Senhor Jesus nos dá, porque ela habita em nossos corações. Não é preciso levar mais nada. Ou melhor ainda, como disse o Papa Francisco: "Para Cristo, a bagagem fundamental é o irmão. 'Ele os enviou de dois em dois' (v. 1), diz o Evangelho. Não sozinhos, não sozinhos, sempre com o irmão ao meu lado. Nunca sem o irmão, porque não há missão sem comunhão. Não há anúncio que funcione sem o cuidado dos outros."
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Ele os enviou
Senhor, de dois em dois o caminho se aquece
Invisível é a tua Presença, estás ao nosso lado,
O envio de um Deus para dar Amor
É cheio de melodias e canções.
Todas as manhãs uma nova porta se abre para nós
Somos recebidos com abraços, alegria e orações.
Mas a dor também vem
Vemos feridas abertas, almas quebradas.
Recebemos talentos e poder,
O Espírito Santo nos encoraja para a tarefa.
Então, o teu chamado nos atrai para a Santa Ceia
Tem compaixão do pecador e de suas dores.
Esta cidade coberta de pó, a terrena
É o lugar escolhido por você, sem reservas.
Você abriu seu coração e nos envia hoje
Para derrotar inimigos com sua Força.
A cidade onde esperamos viver, a Eterna
Há espaço para todos e ela é como uma noiva...
Pronta para o casamento: Tão linda, tão linda!
Tem nossos nomes escritos nele. Amém.
1 F. Ramis, Isaías (PPC; Madrid 2004) 168.
2 A. Rodríguez Carmona, Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 202.
3 Cf. F. Bovon, O Evangelho segundo São Lucas II (Segue-me; Salamanca 2002) 73.
4 W. FOERSTER, " eirēnē no NT", e G. KITTEL (org.), Dicionário Teológico do Novo Testamento. Completo. II, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans 1991; 413.
5 Os Evangelhos Sinóticos e a Cultura Mediterrânica do Primeiro Século (Verbo Divino; Estella 1996) 261.
6 A. Vanhoye, Leituras Bíblicas para Domingos e Dias Festivos. Ciclo C (Mensageiro; Bilbao) 240.
7 Evangelho segundo São Lucas II (Segue-me; Salamanca 2002) 81.
8 F. Bovon, O Evangelho segundo São Lucas II (Siga-me; Salamanca 2002) 86.
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DOMINGO XIV DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Is 66,10-14):
Este texto forma parte del capítulo final del libro del profeta Isaías que contiene un mensaje de consolación y de esperanza para Jerusalén y sus habitantes. En la lectura de hoy, al comienzo, Jerusalén es presentada como una madre llena de gozo porque puede recibir ahora a sus hijos que son invitados a acudir a ella para ser alimentados, más precisamente, amamantados.
Pero hay un sentido simbólico en el alimento y la bebida. "El alimento ofrecido por Jerusalén consiste en esparcir la alegría de la fe sobre quienes buscan al Señor por la senda de la conversión. Además del gozo reflejado en el rostro de los convertidos, el Señor derramará sobre Jerusalén la paz"1.
La paz (shalom) es presentada frecuentemente como fruto de la justicia, es decir, de la realización por parte de los hombres de la voluntad de Dios. Por apartarse de la voluntad de Dios manifestada en los mandamientos, por obrar la injusticia, Jerusalén perdió la paz y la gloria que vienen de Dios. Ahora Dios se las regala gratuitamente y para siempre.
Al final del texto es Dios mismo quien se autopresenta como una madre cariñosa que consuela a sus hijos en Jerusalén, quienes por ello se llenarán de gozo. La mano de Dios será ahora, para sus hijos, como la de una madre que los acaricia.
Evangelio (Lc 10,1-12.17-20):
El evangelio de hoy nos narra cómo Jesús, después de haber presentado claramente las exigencias de la vida apostólica (cf. Lc 9,51-62), "designó a otros setenta y dos, además de los doce, y los envió de dos en dos para que lo precedieran en todas las ciudades y sitios adonde él debía ir" (10,1).
El número setenta y dos tiene un valor simbólico de universalidad, por cuanto en Gn 10 (en la versión griega) se dice que los descendientes de Noé que repueblan la tierra forman un macrocosmos de 72 pueblos. De aquí la idea, propia de aquella época, de que las naciones que poblaban la tierra eran 72. Por tanto, se insiste en la universalidad del envío y también de los enviados, pues “Jesús no envía sólo a los doce sino a todo el pueblo de Dios”2.
Jesús los envía de dos en dos. Puede verse aquí una necesidad en función de la validez del testimonio que exigía que fuera afirmado por, al menos, dos personas (cfr. Dt 19,15). Pero podría verse también, en una lectura teológica, como una necesidad para la credibilidad del testimonio que se funda en la caridad. Es decir, se necesitan dos para manifestar la caridad, el amor de Dios que une a los discípulos.
Son enviados (verbo apostellō, de donde deriva apóstol) para preceder y preparar la venida de Jesús. No van en nombre propio, sino de Jesús, a quien deben recibir los destinatarios. Sigue una serie de recomendaciones, semejantes a las que ya recibieron los “doce” en Lc 9,1-5. Lo primero que les pide Jesús es que recen para que haya operarios para la mies. Queda claro que el "Señor de la mies" es Dios, quien debe enviar a los operarios-misioneros para que la trabajen. La obra es de Dios, por eso lo primero es ponerse en actitud de oración, de pedirle a Él que haya muchos enviados para la misión.
Luego está el envío en imperativo: “¡Vayan! (ὑπάγετε) Yo los envío como a ovejas en medio de lobos” (10,3). Como “ovejas en medio de lobos” sería un símbolo de la mansedumbre en medio de un ambiente hostil.
Se trata de partir, pero ¿qué deben llevar para el camino? Justamente porque la obra es de Dios, el modo de la misma será "a lo divino" y no "a lo humano". Por eso las recomendaciones que
siguen acentúan la pobreza de medios o recursos de los misioneros: "no lleven dinero, ni provisiones, ni calzado…". Con la prohibición de llevar ni siquiera lo mínimo indispensable para el viaje se quiere poner de manifiesto la dependencia del misionero en relación al Señor y a los destinatarios3.
La urgencia del envío es puesta de relieve en la prohibición de saludar por el camino. Nada puede distraer ni demorar la misión.
Los misioneros son enviados a las "casas" (οἰκία) de la ciudad, lugar para el primer encuentro y el primer anuncio, indicando la importancia de los vínculos personales para transmitir el mensaje. Más adelante está la referencia a la "ciudad" (πόλις) como lugar del anuncio público de la cercanía del Reino, precedido por la curación de los enfermos, signo de la presencia soberana de Dios.
¿Cuál es el contenido del anuncio? La paz; el don de la paz. Para la Biblia, la paz indica el conjunto de los bienes mesiánicos esperados para la era escatológica. Llega incluso a identificarse con la salvación (cf. He 10,36). La presencia de Jesús es la presencia de la paz (cf. Lc 24,36: el saludo de Jesús resucitado a los discípulos); recibir a Jesús es recibir la paz de Dios. Como bien dice W. Foerster: "esta paz no es un deseo, es un don, y tan real que si es rechazado retorna a los discípulos".4 Para recibir esta paz de Dios se requiere una disposición, estar abiertos a recibirla, ser "hijo de la paz" (υἱὸς εἰρήνης) como dice literalmente Lc 10,6.- En estrecha vinculación con la paz está el anuncio de la llegada del Reino de Dios, que trae la verdadera paz. Al mismo tiempo la paz, junto con la curación de los enfermos, pasa a ser el signo de la llegada del Reino a una persona y a una familia o casa (cf. 10,9).
No sólo el mensaje fundamental es de paz, también la actitud de los misioneros debe ser pacífica. Ya al comienzo les dice que son enviados como ovejas en medio de lobos (cf. 10,3). Luego les presenta la posibilidad del rechazo, ante lo cual la reacción no debe ser violenta, como la de Santiago y Juan que querían pedir que les caiga fuego del cielo a los habitantes de un pueblo de Samaría porque no los recibieron (cf. Lc 9,54). Aquí se manda hacer un signo (sacudirse el polvo pegado a las sandalias) para dejar en claro la responsabilidad asumida por los que rechazan a los mensajeros, quienes no quieren llevarse nada de ellos, dando por terminada la misión (cf. 10,10-11). Al respecto nos informa B. Malina que “cuando los israelitas regresaban de sus viajes por el extranjero, al llegar a la tierra santa sacudían el polvo de sus pies. No desear entrar en contacto con lo que ha tocado a otros era ciertamente una seria afrenta”5. En fin, con esta actitud se significa que el juicio pertenece sólo de Dios.
Se insiste también en que los misioneros deben aceptar la hospitalidad de quien los reciba, pero sin volverse itinerantes ni pretenciosos. Puede parecernos extraña la insistencia en un detalle menor como la comida, pero como bien nota A. Vanhoye, debemos recordar que los judíos tienen unas reglas alimentarias muy rígidas que constituyen un obstáculo para las relaciones con los otros pueblos. Por eso Jesús pide dejar de lado estas reglas que no ayudan a relacionarse con los demás; por el contrario, “los mensajeros del evangelio deben ser abiertos y conciliadores, deben buscar siempre lo que une a las personas, no aceptar lo que crea separaciones”6.
En Lc 10,17-20 se narra que los enviados regresan gozosos y cuentan a Jesús su exitosa experiencia misionera, entendida en términos de victoria sobre los poderes del mal. Jesús confirma esta victoria, pero insiste en poner el gozo del corazón, no en el éxito apostólico o en el poder concedido, sino en la garantía de estar del lado de Dios para siempre. Como nota F. Bovon: "Decir que nuestros nombres están inscriptos en los cielos (o en el libro de la vida: Ap 3,5), es creer que sólo la memoria de Dios asegura la continuidad de nuestra vida hasta la eternidad"7.
ALGUNAS REFLEXIONES:
La Iglesia está llamada hoy a redescubrir su identidad misionera, pues existe para evangelizar. Y la misión se fundamenta, en primer lugar, en el mandato de Jesús que envía; que nos envía a todos los cristianos que somos esencialmente discípulos misioneros.
La llamada y envío a la misión es también un signo de los tiempos, una renovada invitación que el Señor nos hace, de modo muy intenso a través de los últimos Papas, de San Pablo VI a León XIV. Al respecto decía el Papa Francisco en EG 13: “Juan Pablo II nos invitó a reconocer que «es necesario mantener viva la solicitud por el anuncio» a los que están alejados de Cristo, «porque ésta es la tarea primordial de la Iglesia». La actividad misionera «representa aún hoy día el mayor desafío para la Iglesia» y «la causa misionera debe ser la primera». ¿Qué sucedería si nos tomáramos realmente en serio esas palabras? Simplemente reconoceríamos que la salida misionera es el paradigma de toda obra de la Iglesia. En esta línea, los Obispos latinoamericanos afirmaron que ya «no podemos quedarnos tranquilos en espera pasiva en nuestros templos» y que hace falta pasar «de una pastoral de mera conservación a una pastoral decididamente misionera». Esta tarea sigue siendo la fuente de las mayores alegrías para la Iglesia: «Habrá más gozo en el cielo por un solo pecador que se convierta, que por noventa y nueve justos que no necesitan convertirse» (Lc 15,7)”.
La claridad del mandato misionero no debe quedar opacada por la dificultad de cumplir "a la letra" las indicaciones dadas por Jesús a los enviados. El mismo Lucas en los Hechos de los Apóstoles presenta la obra de los misioneros con una modalidad algo distinta de la aquí descrita. Y lo mismo podemos decir si tenemos en cuenta las cartas de San Pablo y las prácticas de la primitiva Iglesia. Por esto nos parece interesante retener "las constantes de la proclamación del evangelio" que presenta F. Bovon8:
" - es el Señor el que envía (v. 1);
- la misión es una etapa de la historia de la salvación (v.2);
- la misión va acompañada del sufrimiento (v.3);
- en la evangelización hay intercambio y no sólo don (v. 7);
- el gesto acompaña la palabra (v. 9);
- la casa sirve de hogar a la primera comunidad (v. 5-7);
- se impone una reflexión sobre los medios que hay que limitar o conservar; es decir, se plantea la cuestión de la formación de los misioneros, así como la de su práctica;
- el Señor Dios y el Señor Jesús que envían no se quedan inactivos; tanto si los destinatarios lo aceptan como si lo rechazan, el Reino no cesa de venir".
Faltarían añadir a esta lista algunos elementos más en función de las lecturas de hoy. En primer lugar, y teniendo en cuenta la primera lectura, el contenido del anuncio que es: gozo, consuelo y paz de parte de Dios. Por esto mismo el evangelio es una Buena Noticia.
En segundo lugar, la dimensión eclesial de la misión. En efecto, en la descripción de Jerusalén que hace la primera lectura - y en la cual abundan los dones de Dios -, vemos la imagen de la Iglesia como madre, que ahora invita a sus hijos a encontrar a Dios y sus dones en ella. Esta dimensión eclesial de la misión se concretiza en el cultivo de los vínculos personales.
Por último, el resultado de la misión, porque está siempre la posibilidad del rechazo por parte de los hombres. Jesús no oculta esta posibilidad que surge justamente de la libertad humana. "Hasta los demonios se nos someten en tu Nombre", dicen eufóricos los misioneros al volver junto a Jesús. Sí, los demonios se les someten, pero los hombres no, pueden rechazarlos, no querer recibir ni a Dios ni a sus dones. Esto es un gran misterio. Lo que queda claro en estos casos es que el éxito no es ni el motivo ni la motivación del envío. Por eso la posibilidad del rechazo no anula ni el envío ni la misión. El apóstol cumple con su misión de anunciar, más allá de los resultados.
Es posible que todavía hoy cuando se habla de misión en la Iglesia pensemos que es algo de lo que se tienen que ocupar los consagrados, curas y monjas. Pero Jesús nos enseña en el evangelio de hoy que la misión forma parte de su seguimiento. Por el bautismo todos los cristianos somos discípulos misioneros del evangelio. Tenemos que volver a sentir que el Señor nos dice con fuerza: “¡Vayan! Yo los envío”.
Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 3 de julio de 2022: “si nos preguntamos cuál es nuestra tarea en el mundo, qué debemos hacer como Iglesia en la historia, la respuesta del Evangelio es clara: la misión. Ir en misión, llevar el Anuncio, hacer saber que Jesús vino del Padre”.
Y no es necesario irse a otro país. Se trata de ir al encuentro de cada persona con la me cruzo cada día, con la que comparto trabajo, estudio, descanso, deporte. A ellos tengo que ir con mansedumbre para compartirles la Paz que el Señor Jesús nos regala porque habita en nuestro corazón. No se necesita llevar nada más. O mejor, como dijo el Papa Francisco: “para Cristo el equipaje fundamental es el hermano. «Los envió de dos en dos» (v. 1), dice el Evangelio. No solos, no por cuenta propia, siempre con el hermano al lado. Nunca sin el hermano, porque no hay misión sin comunión. No hay anuncio que funcione sin cuidar de los otros”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Los envió
Señor, de dos en dos, el camino se hace cálido
Invisible es tu Presencia, estás a nuestro lado,
El envío de un Dios para dar Amor
Lleno está de melodías y cantos.
Cada mañana una puerta nueva se nos abre
Nos reciben los abrazos, el gozo, las plegarias
Pero también el dolor sale al paso
Vemos las llagas abiertas, quebradas las almas.
Hemos recibido talentos y poder,
El Espíritu Santo nos anima a la tarea.
Luego, tu llamado, nos atrae a la Santa Cena
Ten compasión del pecador y de sus penas.
Esta ciudad cubierta de polvo, la terrena
Es el lugar elegido por ti pues, sin reservas.
Le abriste el corazón y nos mandas hoy
A vencer los enemigos con tu Fuerza.
La ciudad donde esperamos habitar, la Eterna
Tiene lugar para todos y es como una novia…
Preparada para su boda: ¡Tan bella, tan bella!
Tiene nuestros nombres escritos en Ella. Amén.
1 F. Ramis, Isaías (PPC; Madrid 2004) 168.
2 A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 202.
3 Cf. F. Bovon, El Evangelio según San Lucas II (Sígueme; Salamanca 2002) 73.
4 W. FOERSTER, "eirēnē in the NT", en G. KITTEL (ed), Theological Diccionary of the New Testament. Vol. II, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans 1991; 413.
5 Los evangelios sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 261.
6 A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao) 240.
7 El Evangelio según San Lucas II (Sígueme; Salamanca 2002) 81.
8 F. Bovon, El Evangelio según San Lucas II (Sígueme; Salamanca 2002) 86.