18/08/2024
LINK AUXILIAR:
1ª Leitura Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab
Salmo 44(45) R- À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir
Segunda Leitura: 1 Coríntios 15,20-27a
Evangelho Lucas 1,39-56 (Cântico de Maria).
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naqueles dias, 39Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa. – Palavra da salvação.
Hoje nós nos unimos para cantar com Maria: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”.
De fato, Deus exalta os humildes. O que nos ensina a exaltação da serva Maria?
1. A assunção é um privilégio. Um privilégio que nos ensina e nos revela o desígnio de Deus em relação a todos nós.
O privilégio da assunção consiste na união admirável de Maria com Cristo, uma união de corpo e de alma que começou na Anunciação, mas que cresceu sempre mais ao longo dos anos e da vida de Maria e que alcança a plenitude na assunção.
2. Toda a vida de Maria foi um caminhar na fé. O evangelho que acabamos de ouvir nos mostra como essa união com Cristo (sua concepção virginal) se desdobra no anúncio e no serviço. “Ela foi apressadamente...”.
Uma vez que toda a vida de Maria é participação singular na vida e missão de Jesus Cristo, também a sua morte e ressurreição só podem ser entendidas à luz dessa união. Ela que viveu tão unida a Cristo, participa agora plenamente da sua ressurreição. Assim a assunção, em corpo e alma, é participação na glorificação de Jesus.
3. É esse o mistério que a liturgia de hoje proclama: “Aurora e esplendor da Igreja, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou vosso Filho feito homem”.
Notem que a liturgia fala da Assunção como nosso consolo e esperança. A assunção de Maria revela qual é a vontade de Deus, qual é o seu desígnio, qual é o seu desejo em relação a nós: a nossa glorificação em corpo e alma, de todo nosso ser, não somente de uma parte de nós.
A ressurreição não é absorção, não é destruição. Deus ama tudo em nós, por isso tudo glorifica e ressuscita.
O que exaltamos em Maria é, ao mesmo tempo, a expressão de nossa esperança no desígnio de Deus.
A Assunção é confirmação e realização antecipada do nosso destino de salvação.
Deus revela não só com palavras, mas também com fatos a sua vontade.
4. A Assunção confirma a unidade do ser humano (corpo e alma) e nos confirma que devemos glorificar e servir a Deus com todos o nosso ser (corpo e alma).
Servi-lo só com o corpo é escravidão. Servi-lo só com a alma é dedicar-lhe um amor distante e irreal.
Viver neste mundo servindo e amando Deus, viver unido com Jesus Cristo, viver como Maria viveu nos levará a sermos glorificados em corpo e alma como aconteceu com Cristo e como aconteceu com Maria.
5. A Assunção de Maria é um sinal do amor de Deus por nós. Não é um amor vago, distante, genérico. É um amor concreto, próximo. Podemos dizer até um amor “carnal”. Vou dizer mais exatamente: um a amor encarnado.
Em nosso país e cultura, nós sentimos necessidades de expressões de amor e sinais do carinho que os outros têm para conosco e que temos pelos outros: uma saudação, um beijo, uma carta, um gesto, um sorriso... às vezes valem mais que mil palavras.
A Assunção de Maria é o sinal do amor que Deus tem por nós. Deus, de fato, nos deixou muitos sinais “carnais” do seu amor infinito: os sete sacramentos são sinais do amor de Deus ao homem. Nos sacramentos temos os sinais sacramentais
Igualmente, a sua Palavra de Deus é sinal do amor de Deus. Podemos dizer que é o sinal Verbal, lógico (logos) do amor do Pai.
Mas acima de tudo o próprio Cristo é o grande sacramento do Pai. Os teólogos chamam Cristo de sacramento originário, sacramento fonte.
Em união com Cristo e em dependência dele, podemos dizer com ousadia e com admiração que Maria é o sinal maternal do amor que Deus.
Dessa maneira, o privilégio da Assunção não é mais privilégio somente de Maria. Ela recebeu o privilégio da Assunção para nós. A assunção não afasta Maria de nós, nem a deifica nem dificulta nosso relacionamento com Ela.
Ao contrário, Maria é um sinal muito concreto da esperança cristã para nós, alguém muito perto de nós. Ela é, ao lado de Jesus, a prova de que Deus nos ama.
O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc 1,49)
A Assunção de Maria foi, durante muitos anos, uma verdade de fé aceita pelo povo simples. Só em meados do século passado proclamou-se como dogma de fé.
É preciso levar em conta que uma coisa é a verdade que se quer definir e outra, muito diferente, a formulação em que se introduz esta verdade. A Assunção é uma “realidade” que quer balbuciar algo que se encontra mais além dos conceitos e das palavras: que Maria entra plenamente na Vida de Deus.
Certamente soaria estranha para a mentalidade bíblica a definição do dogma (“A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste” - 1º. nov. 1950). Simplesmente porque foi formulada a partir de conceitos filosóficos e teológicos completamente alheios à sua maneira de pensar. Para a antropologia bíblica o ser humano não é um composto de “corpo e alma”, mas uma única realidade que se pode perceber sob diversos aspectos, mas sem perder nunca sua unidade.
Não podemos entender “literalmente” o dogma da Assunção. Pensar que um ser físico, Maria, que se encontra em um lugar, a terra, é transladada localmente a outro lugar, o céu, não tem sentido. O próprio papa João Paulo II afirmou que o céu não é um lugar, mas um estado. Em linguagem bíblica, “os céus” significam o âmbito do divino; portanto, Maria está já “nos céus”; Maria “desapareceu em Deus”.
Quando o dogma fala de “corpo e alma”, não devemos entendê-lo como o material ou biológico por uma parte, e o espiritual por outra. O dogma não pretende afirmar que o corpo biológico de Maria está em alguma parte, mas que todo o ser de Maria chegou à mais alta meta.
Realiza-se em Maria a situação final, já dentro da história, situação prometida a toda humanidade: “ser um dia de Deus e para Deus”; Maria o é desde o início (imaculada) até o final (assunção), através de uma fidelidade de toda a sua vida.
A Assunção de Maria é considerada, também, como antecipação da nossa ressurreição, que seremos ressuscitados em Cristo. Portanto, a glória de Maria não a separa de nós, mas se une mais intimamente a nós. Maria na glória concretiza, de modo eminente, nosso próprio destino futuro; ela vive agora em plenitude aquilo que nós, um dia, iremos viver. A Assunção é realidade compartilhada, solidária.
Ela foi “assunta” porque assumiu tudo o que é humano, porque “desceu” e se comprometeu com a história dos pequenos, dos pobres e excluídos... Maria foi glorificada porque se fez radicalmente humana.
Crer na Assunção de Maria implica crer na exaltação dos pequeninos e humilhados, dos pobres esquecidos, dos injustiçados sem voz, dos sofredores sem vez, dos abandonados sem proteção, dos misericordiosos descartados, dos mansos violentados...
O mistério da Assunção vem, portanto, afirmar que a biografia de Maria começa na eternidade. Maria “cheia de eternidade”, vivendo na mente e no coração de Deus. Vem de Deus e volta para Deus. Ela está situada na encruzilhada da história salvífica: AT e NT. Com seu “sim” radical, a distância entre Deus e o ser humano foi quebrada, o divino se humanizou e o humano se divinizou. Mulher nova e livre, em Maria ouvimos a resposta perfeita, o “fiat” da criatura dito ao Criador; ela é a mulher da oblação. Nela a Trindade vê sua obra levada à plenitude. Seu “sim” tornou possível a Encarnação. Nela, a ação da liberdade humana e da graça divina harmonizam-se perfeitamente.
O “Amém” de Maria, seu “Fiat”, é um Amém ao “Sim” de Deus à humanidade. Deus é para nós o “Sim” eterno, ativo e criativo.
Nosso “Abbá” é aliança fiel, permanente, definitiva. Sua oferta de Aliança de amor sempre paira sobre a humanidade. Por isso, derrama seu Espírito com abundância sobre toda a terra e sobre “todo ser vivente”.
Maria disse “fiat” (“faça-se”) a essa oferta. Nela, a humanidade, cada um de nós, é chamado a dizer “fiat”. O “sim” proferido por ela é o melhor que a humanidade apresentou a Deus e desencadeou outros inúmeros “sins oblativos” na história.
Maria é o verdadeiro Templo, é espaço de presença do Espírito, lugar sagrado onde habita a divindade para, a partir dela, expandir-se depois a todo o povo. Ela é lugar de plenitude do Espírito, “Terra” da nova criação, Templo do Mistério. Evidentemente, esta presença é dinâmica: o Espírito de Deus está em Maria para fazê-la mãe, lugar de entrada do Salvador na história.
Ela não é um instrumento mudo, não é um meio inerte que Deus se limitou a utilizar para que fosse possível a Encarnação. Maria oferece ao Espírito de Deus sua vida humana para que, através dela, o mesmo Filho Eterno pudesse entrar na história.
Em Maria descobrimos aquilo que, na essência, todos somos. Não devemos nos conformar em olhar Maria para ficarmos extasiados diante de sua beleza. O que descobrimos nela, devemos também descobrir em nosso próprio ser. O que importa realmente é que em Maria e em todo ser humano há um núcleo intocável que nada nem ninguém poderá manchar. O que há de divino em nós será sempre imaculado. Tomar consciência desta realidade seria o começo de uma nova maneira de entender a nós mesmos e de entender os outros.
Maria é grande em sua simplicidade e não temos nada que acrescentar ao que ela foi desde o princípio. Basta olhar para o seu verdadeiro ser e sua maneira original de se fazer presente junto aos outros para, então, descobrir o que há de Deus em seu interior; isso é que sempre será puríssimo, imaculado. Se descobrimos isso nela, é para tomar consciência de que também está presente em cada um de nós.
De nada nos servirá descobrir a pérola em Maria se não a descobrimos também em nós mesmos. Somos milhões de diamantes que habitamos esta terra, embora cobertos de terra e barro.
Contemplar Maria, assunta ao céu, é des-velar (tirar o véu) a nobreza humano-divina escondida em nosso interior.
Porque se fez presente a Deus, Maria se faz também presente na vida das pessoas, através da atitude de serviço, de uma maneira sempre mais criativa e atenta; presença que se faz manancial de vida para os outros, tornando-se, ao mesmo tempo, amiga, irmã e mãe de todos.
A presença silenciosa, original e mobilizadora de Maria desperta e ativa também em nós uma presença inspiradora, ou seja, descentrar-nos para estar sintonizados com a realidade e suas carências. Tal atitude nos mobiliza a encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações; escutar relatos que trazem luz para nossa própria vida; ver a partir de um horizonte mais amplo, que ajuda a relativizar nossas pretensões absolutas e a compreender um pouco mais o valor daquilo que acontece ao nosso redor; escutar de tal maneira que aquilo que ouvimos penetre na nossa própria vida; implicar-nos afetivamente, relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas e títulos; acolher na própria vida outras vidas; histórias que afetam nossas entranhas e permanecem na memória e no coração.
Para meditar na oração:
Deus continua enviando mensageiros para comunicar-nos sua vontade; o que nos falta é ter o espírito desperto para discernir e reconhecê-los. As pessoas dispostas, os cristãos vigilantes, os santos e santas se encontram com muitos mensageiros que lhes comunicam mensagens do Senhor. Discernir é realizar uma limpeza de ouvidos para escutar cada vez mais fielmente os mensageiros (anjos) do Senhor.
- “Sentir Maria” é reencontrar em nós mesmos aquilo que diz sim à vida, quaisquer que sejam as formas que esta vida tomar. “Sentir Maria” é superar toda expressão de desconfiança, de dúvida, de temor diante daquilo que a vida vai nos oferecer para viver.
A visita de Maria a Isabel permite ao evangelista Lucas pôr em contato o Batista e Jesus, antes mesmo de nascer. A cena está carregada de uma atmosfera muito especial. As duas mulheres vão ser mães. As duas foram chamadas a colaborar no plano de Deus. Não há varões. Zacarias ficou mudo. José está surpreendentemente ausente.
As duas mulheres ocupam toda a cena, Maria que veio apressadamente de Nazaré, transforma-se na figura central. Tudo gira em torno dela e seu filho. Sua imagem brilha com certos traços mais genuínos do que muitos outros que lhe foram acrescentados ao longo dos séculos a partir da invocação e títulos alheios aos evangelhos.
Maria, “a mãe de meu senhor”. Assim o proclama Isabel em alta voz e cheia do Espírito Santo. Isto é certo: para os seguidores de Jesus, Maria é, antes de tudo, a mãe do nosso Senhor. Daí parte sua grandeza. Os primeiros cristãos nunca separam Maria de Jesus. Eles são inseparáveis: “Bendita por Deus entre todas as mulheres”, ela nos oferece Jesus, “fruto Bendito de seu ventre.”
Maria, a crente. Isabel proclama Maria feliz porque ela “acreditou.” Maria é grande não simplesmente por sua maternidade biológica, mas por ter acolhido com fé o chamado de Deus para ser mãe do Salvador. Ela soube ouvir a Deus; guardou sua Palavra dentro de seu coração; meditou-a; a pôs em prática cumprindo fielmente sua vocação. Maria é mãe crente.
Maria, a evangelizadora. Maria oferece a todos a salvação de Deus, que ela acolheu em seu próprio Filho. Essa é sua grande missão e seu serviço. De acordo com o relato, Maria evangeliza não só com seus gestos e palavras, mas porque traz consigo, para onde vai a pessoa de Jesus e seu Espírito. Isto é o essencial do ato evangelizador.
Maria, portadora de alegria. A saudação de Maria comunica a alegria que brota de seu filho Jesus. Ela foi a primeira a ouvir o convite de Deus: “Alegra-te, o Senhor está contigo.”. Agora, a partir de uma atitude de serviço e de ajuda a quem precisa. Maria irradia a boa notícia de Jesus, o Cristo, que ela sempre traz consigo. Ela é para a igreja o melhor modelo de uma evangelização prazerosa
O ASSUNTO DA VIDA: PARA COMEÇO DE CONVERSA
O texto de hoje nos fala da visita de Maria a sua prima Isabel. As duas eram conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste encontro elas descobrem, uma na outra, o mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que nos dão.
CHAVE DE LEITURA
Na leitura que vamos refletir, sobretudo no Cântico de Maria, percebemos que ela descobriu o mistério de Deus não só na pessoa de Isabel, mas também na história do seu povo. Durante a reflexão vamos prestar atenção no seguinte: ”Com que palavras e comparações Maria expressou a descoberta de que Deus está presente em sua vida e na vida do seu povo?”
SITUANDO
Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é, para ele, o modelo da comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como aquelas comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e irmãs.
O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o Cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que as comunidades devem viver a sua fé.
D. COMENTANDO
1. Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel
Lucas acentua a prontidão de Maria em atender as exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.
2. Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel
Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O AT acolhe o NT com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro entre as duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: É nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.
3. Lucas 1,45: O elogio que Isabel faz a Maria
“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer”. É o recado de Lucas às comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, o seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.
4. Lucas 1,46-56: O Cântico de Maria
Muito provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas comunidades. Ele ensina como se deve orar e cantar.
Lucas 1,46-50
Maria começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: “Exulto de alegria em Deus, meu Salvador”.
Lucas 1,51-53
Em seguida, canta a fidelidade de Javé para com seu povo e proclama a mudança que o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão “braço de Deus” lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Javé que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (1,53).
Lucas 1,54-55
No fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão de sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos.
ALARGANDO
O Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?” (2 Samuel 6,9) Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família” (2 Samuel 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no AT, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família são abençoadas por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.
A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às comunidades: não fechar-se sobre si mesmas, mas sair de si, sair de casa, e estar atentas às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajuda na medida das necessidades.
Texto extraído do livro O AVESSO É O LADO CERTO. Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas de autoria de Carlos Mesters e Mercedes Lopes.
A presente festa é uma grande felicitação de Maria da parte dos fiéis, que nela vêem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Ap 12 (1ª leitura), originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do 1° século) até a vitória final do Cristo. Na 2ª leitura, a Assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.
Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do inundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas “humildes” no sentido bíblico, isto é, rebaixadas, humilhadas, oprimidas (a “humildade” não como aplaudida virtude, mas como baixo estado social): Maria, que nem tinha o status de casada, e toda uma comunidade de humildes, o “pequeno rebanho” tão característico do evangelho de Lc (cf. 12,32, peculiar de Lc). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra através dos poderosos: antecipação da realidade escatológica, em que será grande quem confiou em Deus e se tomou seu servo (sua serva), e não quem quis ser grande por suas próprias forças, pisando em cima dos outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).
Pois bem, a glorificação de Maria no céu é a realização desta visão escatológica. Nela, é coroada a fé e a disponibilidade de quem se toma servo da justiça e bondade de Deus, impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus, que hoje é coroada.
A “arte” litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir estes dois momentos é colocar tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé de que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.
Em Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida. É o jeito…
Magnificat: a mãe gloriosa e a grandeza dos pobres
Em 1950, o Papa Pio XII definiu a Assunção de Maria como dogma, ou seja, como ponto referencial de sua fé. Maria, no fim de sua vida, foi acolhida por Deus no céu “com corpo e alma”, ou seja, coroada plena e definitivamente com a
glória que Deus preparou para os seus santos. Assim como ela foi a primeira a servir Cristo na fé, ela é a primeira a participar na plenitude de sua glória, a “perfeitissimamente redimida”. Maria foi acolhida completamente no céu porque ela acolheu o Céu nela – inseparavelmente.
O evangelho de hoje é o Magnificat de Maria, resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – nem tinha sequer o status de mulher casada -, ela foi “exaltada” por Deus, para ser mãe do Salvador e participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus opera nela. Um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus responde o “sim” de Maria, e à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus, responde o grande “sim” de Deus, a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos não deixam Deus agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto estes oprimem, ele salva de verdade.
Essa maravilha, só é possível porque Maria não está cheia de si mesma, como os que confiam no seu dinheiro e seu status. Ela é serva, está a serviço – como costumam fazer os pobres – e, por isso, sabe colaborar com as maravilhas de Deus. Sabe doar-se, entregar-se àquilo que é maior que sua própria pessoa. A grandeza do pobre é que ele se dispõe para ser servo de Deus, superando todas as servidões humanas. Mas, para que seu serviço seja grandeza, tem que saber decidir a quem serve: a Deus ou aos que se arrogam injustamente o poder sobre seus semelhantes. Consciente de sua opção, o pobre realizará coisas que os ricos, presos na sua auto-suficiência, não realizam: a radical doação aos outros, a simplicidade, a generosidade sem cálculo, a solidariedade, a criação de um homem novo para um mundo novo, um mundo de Deus.
A vida de Maria, a “serva”, assemelha-se à do “servo”, Jesus, “exaltado” por Deus por causa de sua fidelidade até a morte (Fl 2,6-11). O amor torna semelhantes as pessoas. Também a glória. Em Maria realiza-se, desde o fim de sua vida na terra, o que Paulo descreve na 2ª leitura: a entrada dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa do pai, uma vez que o Filho venceu a morte.
Para muitas igrejas, a Palavra evangélica proposta para a liturgia do próximo final de semana é a visita de Maria a Isabel (Lucas 1,39-56), que faz parte dos relatos da Infância de Jesus segundo Lucas (Lucas 1-2).
Essas narrativas, mais do que dizerem como os fatos aconteceram, indicam para realidades mais profundas que iluminem a caminhada das comunidades a quem se destinam. Em resumo, o primeiro capítulo do Evangelho da Infância mostra como é reconhecida a ação de Deus em meio ao povo excluído, mas cheio de esperança, representado por Zacarias, Isabel e Maria. Dois eram idosos, uma era estéril e a outra ainda não havia tido relações sexuais com homem. Portanto, eram pessoas de quem não se esperava que vida nova pudesse nascer, que pudessem dar à luz uma criança.
Maria pôs-se a caminho… (Lucas 1,39)
A narrativa proposta pode ser dividida em três momentos:
O primeiro descreve a ida de Maria à casa de Isabel e de Zacarias, próxima de Jerusalém (Lucas 1,39-41), uma caminhada de mais de 100 km. De um lado, essa saída de casa faz-nos lembrar de tantas jovens que, igualmente como Maria, também deixam seus povoados quando engravidam, a fim de encontrar apoio em familiares que moram distante. De outro lado, quando foi chamada para ser a mãe do Messias, Maria havia se disponibilizado para estar a serviço da Palavra de Deus (Lucas 1,38).
Agora, ela já está a caminho para servir, para ser solidária com outra mulher, também grávida. É a solidariedade entre as mães que reconhecem em seus corpos o agir do Espírito divino, pois ambas receberam a graça da fecundidade de forma misteriosa. Mas não é somente o encontro de duas mulheres. É também o encontro de duas crianças ainda no útero de suas mães. É o encontro do Precursor com o Salvador. João alegra-se com a visita de Jesus (Lucas 1,41). Ainda no ventre materno, já aponta para seu primo como aquele que vem socorrer o seu povo num momento de forte repressão por parte do império romano.
Feliz aquela que acreditou… (Lucas 1,45)
A segunda parte desta narrativa é a saudação que Isabel faz a Maria (Lucas 1,42-45). Impulsionada pelo Espírito, a mãe de João Batista reconhece Maria como a mãe do Messias. Ao mesmo tempo em que elogia a sua fé (Lucas 1,45), declara-a abençoada, bem-aventurada, tal como Jesus, o fruto do seu ventre (Lucas 1,42). Essa saudação faz lembrar outras mulheres que também foram chamadas de benditas.
São os casos de Jael (Juízes 5,24) e de Judite (Judite 13,18), ambas libertadoras de seu povo ameaçado por exércitos poderosos. Em Lucas 1,56, podemos ler que Maria ficou três meses com Isabel. Mais uma vez, os autores do texto fazem memória das Escrituras de Israel e querem nos apresentar Maria como a nova Arca da Aliança, pois em seu útero carrega o Emanuel, o Deus que está em nosso meio. É que, da mesma forma como Maria ficou os três meses com Isabel, também a antiga Arca da Aliança havia ficado durante três meses na casa de Obed-Edom (2 Samuel 6,2-11; cf. v. 11).
Em outras palavras: os representantes da antiga Aliança, Zacarias (Javé se lembrou) e Isabel (Deus é plenitude), reconhecem a ação de Deus em Maria (a amada) e em Jesus (Javé salva), representantes da nova Aliança. João (Javé é misericórdia) anuncia que a misericórdia de Deus na antiga Aliança vem se realizar plenamente em Jesus de Nazaré. Por isso, seus pulos de alegria no ventre de Isabel (Lucas 1,41.44), acolhendo o novo que está por nascer.
E encheu de bens os famintos… (Lucas 1,53)
A terceira parte do relato é a reação de Maria à saudação de Isabel, é o salmo de Maria conhecido como Magnificat (Lucas 1,46-55). Ele está recheado de memórias da história de Israel, especialmente do canto de Ana, a mãe do profeta Samuel (1 Samuel 2,1-10). Entre outros textos, recorda também a profecia de Sofonias em favor dos pobres de Javé, o resto fiel a Deus (cf. Sofonias 2,3; 3,11-13).
Maria é a legítima representante de todos os pobres que têm esperança, pois tem plena consciência da luta de classes, cuja consequência é os ricos estarem em cima, sustentados pelos pobres a quem eles oprimiram ontem e ainda hoje (Lucas 1,52-53). Da mesma forma como o profeta Habacuc (Hab 3,18), ela percebe a presença de Deus e se alegra com sua grandeza (Lucas 1,46-47). E o motivo dessa alegria é que, tal como na experiência libertadora do Êxodo (Êxodo 3,7-8), Deus viu a humilhação dos pobres e exerce sua misericórdia para com eles, estando a seu lado para libertá-los dos poderosos (Lucas 1,49-50; Salmo 103,17).
Qual é a força capaz de promover essa libertação?
É a força do braço de Deus, isto é, a força de sua justiça, que consiste e um projeto revolucionário que subverte relações desiguais. Se antes os poderosos humilhavam os pobres a partir de seus tronos, agora os famintos são exaltados e comem pão com fartura (Lucas 1,51-53). Mais que ser uma mulher submissa e alienada dos conflitos sociais de seu tempo, Maria é uma mulher de luta pela igualdade e pela superação de todas as injustiças. Ela é subversiva porque subverte as relações de humilhação propondo a acolhida e a igualdade.
Não é por acaso que seu filho seguiu os passos dela nesse caminho. É no engajamento pela superação de todas as formas de opressão que revelamos a misericórdia divina em nossa prática. A justiça de Deus se revela em seu agir na defesa dos fracos e contra todos os sistemas que os oprimem, sejam eles políticos ou econômicos, culturais, jurídicos ou religiosos. Nesse agir libertador se manifesta a aliança fiel e misericordiosa esperada desde as origens do povo hebreu (Lucas 1,54-55; Miqueias 7,20).
Em seu cântico, Maria de Nazaré celebra a esperança na realização da vontade de Deus que liberta. E mais. Convida a todas as pessoas discípulas de Jesus a nos juntarmos a ela para colocar-nos a serviço desse projeto de Deus, de modo que também em nós se realize a sua Palavra (cf. Lucas 1,38).
A ação divina em Maria foi possível por que ela acreditou (Lucas 1,45), ela deu a sua contribuição, colocando-se a serviço de Deus na solidariedade. Mais adiante, quando uma mulher também declarara Maria feliz, Jesus dirá a ela que felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (cf. Lucas 11,27-28). E essa bem-aventurança soa forte para nós ainda hoje.
Fonte: Ildo Bohn Gass é biblista, assessor de Leitura Popular e Feminista da Bíblia, e autor de diversos livros da nossa livraria. Conheça a coleção Uma Introdução à Bíblia.
Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, mesmo que haja também continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança.
A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João. A segunda está nos relatos ao redor do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada, deu o que era para dar. Os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa; Zacarias, sacerdote que duvida do anúncio do anjo; e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a jovem virgem de Nazaré que acredita, e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo (Lc 2,25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2,29).
Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse essa, não teria colocado o versículo 56, que mostra ela deixando Isabel antes do nascimento de João: “Maria ficou três meses com Isabel e depois voltou para casa”. É só depois que Lucas trata do nascimento de João.
Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galileia à Judeia! A intenção de Lucas é teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.
O fato de que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no ventre dela, de acordo com a Septuaginta, a tradução grega da Bíblia hebraica (cf. Gênesis 25,22). O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João: é porque Maria está carregando o Senhor em seu útero.
As palavras referentes a Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo: Jael (Juízes 5,24) e Judite (Judite 13,18). Aqui, Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.
Finalmente, vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar, não pela sua maternidade, mas pela fé, em contraste com Zacarias, que duvidou. Aqui, Maria é principalmente modelo de fé.
Na boca de Isabel, encontramos as seguintes expressões: “Ave Maria” (1,28), “Cheia de graça” (1,28), “O Senhor é contigo” (1,28), “Bendita és ti entre as mulheres” (1,42); “Bendito o fruto do teu ventre” (1,42). Junto com Isabel, saibamos honrar Maria, a mãe do Senhor, modelo de fé para todos nós! Mas, a fé de Maria, como, aliás, sempre é na Bíblia, não foi uma adesão somente intelectual a Deus. Era o assumir do projeto de Deus, justiça, libertação, solidariedade e salvação integral. Por isso, Lucas põe na boca de Maria o grande Cântico do Magnificat, atualizando o Canto de Ana, (1 Samuel 2,1-10), cantando a grandeza do nosso Deus, que se põe ao lado dos humilhados e sofridos, e derruba os poderosos e prepotentes.
O texto de hoje lembra-nos que Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Se Ela estivesse entre nós hoje, sem dúvida, como também Jesus, estaria nos movimentos e pastorais sociais, lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no Deus de Justiça, Libertação e Salvação.
por Fábio Beretta
Para os cristãos a data de 15 de agosto não é um dia de festa como os outros. Celebra-se, de fato, a Assunção de Maria ao Céu, um dos quatro dogmas marianos da Igreja Católica. Proclamado por Pio XII em 1º de novembro de 1950, o dogma da Assunção tem a sua origem na Sagrada Escritura. E em Jerusalém, ainda hoje, é possível ver e “tocar” alguns elementos que há quase setenta e cinco anos levaram à publicação da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus.
Na Cidade Santa, como recorda padre Claudio Bottini, professor emérito ainda em atividade na Faculdade de Ciências Bíblicas e Arqueológicas do Studium Biblicum Franciscanum da Terra Santa, “a festa da Assunção é celebrada em duas datas distintas: os cristãos pertencentes a a Igreja Latina, a de Roma, celebra o aniversário no dia 15 de agosto segundo o calendário habitual. Depois há os ortodoxos, mas também os armênios, os coptas, os sírios que celebram a Assunção em um dia diferente, segundo o Calendário Juliano”.
Para todos os cristãos da Terra Santa, sublinha o frade, a da Assunção é “a celebração mais sentida após a da Páscoa. Nestes dias os fiéis expressam o seu fervor e a sua fé com liturgias e procissões”. Esta grande participação é devida, em parte, “ao clima de verão que favorece um grande número de participantes. Mas – continua padre Bottini – em Jerusalém, essas grandes procissões, que chamam a atenção de todos, só são vistas para os ritos da Semana Santa e da Assunção”.
Estes atos de devoção popular se desenvolvem pelas ruas que ligam dois pontos da cidade, ou melhor, duas igrejas: a da Dormitio Virginis, no Monte Sião, onde a comunidade cristã acredita que Nossa Senhora “adormeceu no sono da morte”; e a do “túmulo de Maria”, construída na zona do cemitério do Vale do Cedron, onde segundo a tradição judaica terá lugar o Juízo Final.
“As escavações realizadas nos anos 70 – conta o frade – confirmam a descrição contida na narativas da tradição e em alguns escritos populares que remontam ao século II d.C.”. Estas escavações iniciaram após uma enchente que alagou completamente a igreja construída no local onde, segundo a tradição, estava o túmulo vazio de Nossa Senhora, perto do Getsêmani. Os danos provocados pela natureza obrigaram os greco-ortodoxos e armênio-ortodoxos, custódios do santuário, a desmontar todas as superestruturas que escondiam o túmulo de Maria e a realizar trabalhos de restauração.
“Graças ao ecumenismo feito de pequenos e silenciosos gestos – explica o professor –, os ortodoxos convidaram o padre Bellarmino Bagatti, decano dos arqueólogos franciscanos na Terra Santa, para visitar e estudar o túmulo e o conjunto sepulcral e arquitetônico que o rodeia. Mas Bagatti não se limitou a examinar o monumento. Ele o 'releu' cuidadosamente à luz da literatura antiga sobre a morte e sepultamento de Nossa Senhora".
O Novo Testamento fala de Maria pela última vez depois da Ascensão de Jesus, apresentando-a rodeada pelos Apóstolos e pela comunidade cristã primitiva (cf. Act 1, 14). “Nenhum texto canônico – destaca Bottini – nos diz como Maria passou seus últimos anos e como deixou a terra. Vários escritos intitulados Ciclo sobre a Dormição de Nossa Senhora, muito difundidos no mundo cristão, transmitem toda uma série de informações que, quando submetidas ao escrutínio da crítica histórica e teológica, revelam-se da maior importância”.
Esses textos seriam “todos relacionados a um documento original, a um protótipo judaico-cristão elaborado por volta do século II no contexto da Igreja Mãe de Jerusalém, para a comemoração litúrgica anual junto ao túmulo da Virgem. Na redação da Dormição atribuída ao Apóstolo evangelista João, conhecido como o Teólogo, lê-se: «...os apóstolos transportaram a liteira e depositaram o seu santo e precioso corpo en um túmulo novo no Getsêmani».
Em outro texto preservado em siríaco, há indicações topográficas ainda mais precisas: «Esta manhã peguem a Senhora Maria e saiam de Jerusalém pela via que conduz à cabeceira do vale além do Monte das Oliveiras, onde existem três grutas: uma grande externa, depois outra dentro e uma pequena câmara interna com um banco elevado de argila na parte oriental. Vão e coloquem a Bem-Aventurada sobre aquele banco e coloquem-na lá e sirvam-a até que eu diga o contrário."
Ao verificar os fatos, o padre Bagatti “demonstrou que a concordância entre documento e monumento não poderia ser maior. Com efeito, o túmulo de Maria no Getsêmani – sublinha o professor – está localizado em uma área de cemitério em uso no século I. Corresponde muito bem quer ao tipo de túmulos utilizados na Palestina naquela época como aos dados topográficos indicados nas diferentes narrativas da Dormição da Virgem, especialmente no que diz respeito à nova câmara mortuária e à sua posição em relação às outras. O fato de encontrar-se junto ao Horto das Oliveiras e à Gruta onde Jesus costumava passar a noite (cf. Jo 18, 2), sugere que o anônimo discípulo proprietário do local também acolheu ali a sepultura de Maria. O túmulo, guardado e venerado pelos judeus-cristãos até finais do século IV, altura em que passou para as mãos dos gentios cristãos, foi isolado dos restantes e encerrado em uma igreja”.
Hoje, das várias igrejas construídas no local ao longo dos séculos, «só resta a cripta que, através de uma grande escadaria de quarenta e oito degraus, conduz ao túmulo por um desnível de cerca de quinze metros em relação à estrada . A edícula que contém a câmara funerária com o banco rochoso ainda visível é pouco iluminada pela luz que filtra do exterior e pelas lamparinas a óleo. No seu interior respira-se o ambiente típico das igrejas orientais, caracterizadas pelo forte perfume de incenso, pelas numerosas imagens e pelas muitas velas e lamparinas a óleo”.
“Quem visita esses lugares sente algo especial dentro de si. Ao acompanharem homens de cultura ou jornalistas a estes lugares, eles próprios percebem, mesmo que não sejam crentes, que estão diante de algo sério. Não se pode falar de conversões verdadeiras, mas todos ficam admirados”, revela Bottini.
Mas como os católicos vivem a festa de 15 de agosto? “Primeiro celebram a Missa na Basílica do Getsêmani, mais conhecida como Basílica das Nações (a estrutura moderna celebra este ano cem anos de sua consagração). Depois, em procissão, dirige-se à igreja do túmulo, se desce à cripta e reza-se com cantos e hinos”. Aos olhos mais atentos não passa desapercebido que na cripta onde está preservado o túmulo vazio existe um nicho: “Usavam-no e o usam os muçulmanos – explica o professor –. Anteriormente, muitos grupos religiosos islâmicos visitavam o túmulo, agora fazem-no em privado. Também para eles Maria é uma figura importante e o nicho está orientado para Meca.”
Também os cristãos das Igrejas Orientais vivem a festa neste lugar: “Por oito dias, os cristãos orientais descem todos os dias à cripta, levando crianças, idosos e pessoas com deficiência. O túmulo é decorado com ervas aromáticas, como o basílico, e rezam diante do ícone da Dormitio que normalmente se encontra na Basílica do Santo Sepulcro. O ícone é levado solenemente em procissão até o túmulo e recolocado em seu lugar. E é como uma grande festa."
Uma festa que este ano, devido à guerra que continua a dilacerar a Terra Santa, “será em dimensão menor. Mas como no passado, a celebração acontecerá”, conclui padre Bottini. “Já vi tantas crises neste país. Tudo acontece em escala reduzida, mas não desaparece. Celebraremos a festa da Assunção como celebramos a Páscoa. São momentos trágicos, mas conseguimos rezar com maior intensidade. Nestas celebrações com maior recolhimento, como sempre fazemos, rezaremos pelo retorno dos peregrinos e sobretudo pelas soluções de paz. Não só em nossa casa, mas também para o mundo. E faremos isso duas vezes, dada a dupla data dos Calendários Juliano e Gregoriano. Os homens são capazes de coisas atrozes, mas aqui há muitas pessoas de boa vontade que continuam a acreditar, a esperar e a rezar por um mundo melhor. É uma semente de esperança que certamente crescerá”.
*Agência Fides
(Traduzido pelo tradutor Google sem nossa correção)
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA
Primeira leitura (Ap 11,19; 12,1-6.10):
Tendo em conta o contexto dinâmico do livro do Apocalipse, é importante notar que a comunidade eclesial enfrenta um momento delicado, uma vez que lhe foi revelada a forte presença do mal na história com a consequente luta contra o bem e a vitória temporária do mal. Depois o sétimo anjo toca a sua trombeta e o advento do Reino de Deus é aclamado através do seu Cristo, Jesus crucificado e ressuscitado (cf. Ap 11, 15-17). Ou seja, é anunciada a vitória final de Deus sobre as forças do mal. Neste contexto surge um “grande sinal” no céu, isto é, vindo de Deus; É o sinal da vitória definitiva de Deus que a comunidade eclesial deve decifrar, tanto ontem como hoje.
Em primeiro lugar, dizem-nos que se trata de uma mulher. À luz do Antigo Testamento, acredita U. Vanni[1], devemos pensar numa esposa e mãe, na aliança nupcial de Deus com o seu povo. Esta mulher está “vestida do sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça” (12:1). O sol indica que esta mulher é amada por Deus que a preenche com os seus dons, o seu “sol”. A lua, que no Antigo Testamento tem a função de regular o curso do tempo, está sob seus pés, indicando que a mulher está acima do tempo e de suas vicissitudes, que já tem sua eternidade. A coroa em sua cabeça é sinal de sua vitória, porque ela é rainha; e o número doze expressa a unidade do Antigo (doze tribos de Israel) e do Novo (doze apóstolos) povo de Deus. Finalmente, somos informados de que esta mulher está grávida e prestes a dar à luz. Um pouco mais tarde seremos informados de que ela teve um filho homem que é elevado a Deus e ao seu trono, portanto, é Cristo em sua glória.
Segundo todos estes dados, para U. Vanni é antes de tudo um símbolo do povo de Deus, da Igreja Mãe que dá à luz Cristo e, desta forma, da assembleia, identificando-se com a Igreja e com as mulheres, renova-se na confiança para continuar a dar à luz Cristo ao mundo até à consumação final.
Mas «não podemos ignorar que o Apocalipse faz parte da tradição da comunidade de João; e no Evangelho de João Maria aparece sempre designada com este título de “mulher”, sendo ao mesmo tempo “mãe”; em Jo 2, 4, onde, graças à intervenção de Maria, Jesus “manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram nele” (2,11). Mas ali Jesus transfere a função de Maria para outro momento muito mais importante: a “hora” (2,4). E a “hora” é a morte redentora na cruz (19:27: “Aquela hora”). É quando Jesus a chama novamente de “mulher” e a declara “mãe” de seu discípulo (19:26). só depois de fazer isso Jesus sabe que “está consumado” (19,18). Tudo isso significa que o Evangelho de João vê Maria como aquela que cumpre plenamente o anúncio de uma Mulher inimiga da serpente. , que é Cristo, pisa na serpente e a derrota [...] Em Apocalipse 12, como em Jo 19, Maria é a mãe de Cristo, mas também a mulher inimiga do diabo e a mãe dos discípulos [...] Esta mulher reúne no mesmo simbolismo o povo do Antigo Testamento, a Igreja perseguida do Novo Testamento e Maria”[2].
Segunda Leitura (1Cor 15,20-27)
Estes versículos pertencem à subseção da carta (15,12-34) onde Paulo procura demonstrar a unidade intrínseca que existe entre a ressurreição de Cristo, afirmada como o cerne do querigma, e a ressurreição dos mortos, situação que é possível iluminar a partir da fé recebida.
Aqui Paulo começa afirmando claramente a verdade da ressurreição de Cristo e como ela é a garantia da futura ressurreição dos cristãos. Para demonstrar esta relação entre a ressurreição de Cristo e a dos cristãos, que alguns coríntios negaram, ele recorre à comparação antitética entre Adão e Cristo (tema que desenvolverá em Rm 5). Através de Adão veio a morte para todos os homens, através de Cristo veio a vida, também para todos os homens. Mas com uma ordem progressiva: primeiro Cristo, já ressuscitado, depois, na parousia, os que pertencem a Cristo; e a conclusão com a submissão de tudo a Deus Pai. A morte é apresentada como o último inimigo que Cristo derrotará no fim dos tempos, para que a vida reine.
EVANGELHO (Lucas 1:39-56)
Como sabemos, a Assunção de Maria não é narrada no Novo Testamento, por isso não devemos procurar neste texto uma referência explícita a este dogma mariano. Contudo, a relação encontrada por Card é sugestiva. Vanhoye[3] entre o evangelho de hoje e a Assunção de Maria: o Magnificat expressa muito bem os sentimentos de Maria por ocasião da sua Assunção. Segundo este autor, o Magnificat é um canto profético que anuncia a exaltação de Maria no evento da Assunção.
ALGUMAS REFLEXÕES
Penso que é essencial começar por precisar o significado deste dogma mariano de fé, o seu conteúdo e o seu alcance; e então veja como isso ilumina nossas vidas. Vejamos, portanto, o que nos diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC) sobre este dogma mariano:
N.º 966: A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos: No teu nascimento preservaste a tua virgindade, na tua dormência não abandonaste o mundo, oh Mãe de Deus: você se reuniu com a fonte da Vida, você que concebeu o Deus vivo e que, com suas orações, libertará nossas almas da morte (Liturgia Bizantina, Tropário da Festa da Dormição [15 de agosto]).
N.º 972: A Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma, é a imagem e o início da Igreja que atingirá a sua plenitude no século futuro. Também neste mundo, até que chegue o dia do Senhor, ela brilha diante do povo de Deus em caminho, como sinal de esperança e de consolação certas (LG 68).
Especificamente, o Catecismo indica-nos o fundamento principal desta graça ou privilégio especial que Maria recebeu: a sua estreita ligação com o mistério pascal do seu Filho Jesus. Ela participou de modo único na ressurreição do seu Filho e assim Deus antecipou nela o destino final de todos os cristãos. E esta graça especial de Maria tem repercussões para a Igreja que vê nela o seu futuro já realizado porque a Assunção é uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos. É por isso que é um sinal de esperança e conforto.
Hoje somos convidados a contemplar Maria na glória de Deus e a reconhecer que Ela é a imagem e a garantia daquilo que nós, crentes, um dia nos tornaremos como membros da Igreja. Ela está cheia de alegria e a sua vida é um louvor permanente à Glória da Trindade. Mas ao mesmo tempo, graças ao seu estado glorioso, ele pode cuidar de cada um dos seus filhos, de nós. Como diz com razão R. Cantalamessa[4], quando Santa Teresinha do Menino Jesus expressou a sua missão eterna dizendo: “Quero passar o meu céu fazendo o bem na terra”; Ele fazia sua, sem saber, a vocação de Maria, que passa o seu céu fazendo o bem na terra. E como ele faz isso? Através de sua poderosa intercessão. Nas bodas de Caná vemos Maria intercedendo junto ao seu Filho Jesus porque acabou o vinho para a festa. E ele o fez antecipar sua hora. Pois bem, agora que Maria está associada à glorificação do seu Filho, o seu poder de intercessão do céu é infinitamente maior. É por isso que os cristãos de todos os tempos lhe dirigem as suas orações com tanta fé e confiança. Um testemunho claro é a oração “Lembra-te”, atribuída a São Bernardo, mas cujos textos mais antigos são do século XV e o seu verdadeiro autor é desconhecido: “Lembra-te, ó piedosa Virgem Maria, porque nunca se ouviu falar que algum daqueles que vieram em sua proteção, implorando e exigindo sua ajuda, foram abandonados por você. Encorajado por esta confiança, venho também a ti, ó Mãe, Virgem das virgens.
Agora, neste contexto de pandemia, é bom também experimentar a Virgem Assunta ao céu como exemplo e sinal de Esperança para as nossas vidas. O objeto essencial da nossa esperança cristã é a salvação como “possessão” de Deus, a plena comunhão com Ele. E Maria alcançou esta Graça na sua Assunção e ensina-nos a pedi-la e a esperá-la precisamente como tal, como GRAÇA.
Na sua vida terrena Maria viveu a Esperança através do exercício da memória, como prova o Magnificat. Maria recorda as grandes maravilhas operadas por Deus em favor do seu povo no passado; e a favor dela no presente, apesar da sua pequenez. Maria guardou todas as coisas que viveu com Jesus e meditou nelas em seu coração. Assim, lembrando, ele sempre manteve Esperança viva.
Mas de modo especial Maria viveu a “esperança contra toda esperança” junto à cruz de Jesus e participando como ninguém no mistério pascal do seu Filho. E ensina-nos a vivê-lo também, sobretudo nos momentos limites, quando parece que não há mais nada que possamos fazer. Naqueles momentos, Maria, como uma estrela brilhante na noite, nos convida a continuar olhando para o céu e a continuar esperando em Deus. Com efeito, «mesmo quando não houvesse mais nada a fazer da nossa parte, para mudar uma determinada situação difícil, haveria sempre uma grande tarefa a cumprir, a de permanecer empenhados e afastar o desespero: suportar com paciência até ao fim. Esta foi a grande “tarefa” que Maria realizou, esperando, aos pés da cruz, e nisto está disposta a ajudar-nos também”[5].
María enseña a la Iglesia a vivir y ofrecer la verdadera esperanza, como lo explica muy bien R. Cantalamessa[6]: “María que en el misterio de la Encarnación fue maestra de fe, en el Misterio Pascual es, por tanto, maestra de a esperança. Assim como Maria esteve ao lado do Filho crucificado, assim a Igreja é chamada a estar hoje ao lado dos crucificados: os pobres, os sofredores, os humilhados e os feridos. E como estará a Igreja com eles? Com esperança, como Maria. Não basta simpatizar com as suas tristezas ou mesmo procurar aliviá-las. É muito pouco. Todos podem fazer isso, mesmo aqueles que não conhecem a ressurreição. A Igreja deve dar esperança, proclamando que o sofrimento não é absurdo, mas tem sentido, porque haverá ressurreição da morte […] Os homens precisam de esperança para viver, assim como precisam de oxigênio para respirar”.
Por sua vez, o Papa Francisco disse-nos no Angelus de 15 de agosto de 2019:
“Hoje Maria convida-nos a olhar para as “grandes coisas” que o Senhor realizou nela. Também em nós, em cada um de nós, o Senhor faz tantas coisas grandes. Devemos reconhecê-los e exultar, engrandecer a Deus, por estas grandes coisas.
Estas são as “grandes coisas” que celebramos hoje. Maria é elevada ao céu: pequena e humilde, é a primeira a receber a maior glória. Ela, que é uma criatura humana, uma de nós, chega à eternidade em corpo e alma. E ali ela nos espera, como uma mãe espera que os filhos voltem para casa. Na verdade, o povo de Deus invoca-a como a “porta do céu”. Estamos a caminho, peregrinos para a casa lá de cima. Hoje olhamos para Maria e vemos o objetivo. Vemos que uma criatura foi assumida na glória de Jesus Cristo ressuscitado, e essa criatura só poderia ser ela, a Mãe do Redentor. Vemos que no paraíso, junto com Cristo, o novo Adão, está também Maria, a nova Eva, e isto nos dá conforto e esperança na nossa peregrinação aqui embaixo.
A festa da Assunção de Maria é um apelo para todos nós, especialmente para aqueles que estão aflitos com dúvidas e tristezas, e que olham para baixo, mas não conseguem olhar para cima. Olhemos para cima, o céu está aberto; Não inspira medo, não está mais distante, porque no limiar do céu há uma mãe que nos espera e é nossa mãe. Ele nos ama, sorri para nós e nos ajuda gentilmente. Como toda mãe, ela quer o melhor para os filhos e nos diz: “Vocês são preciosos aos olhos de Deus; “Você não foi feito para as pequenas satisfações do mundo, mas para as grandes alegrias do céu.” Sim, porque Deus é alegria e não tédio. Deus é alegria. Deixemo-nos levar pela mão da Virgem. Cada vez que tomamos o Rosário nas mãos e o rezamos, damos um passo em frente em direção ao grande objetivo da vida.
Deixemo-nos atrair pela verdadeira beleza, e não absorvidos pelas pequenas coisas da vida; escolhamos, em vez disso, a grandeza do céu. Que a Santíssima Virgem, Porta do Céu, nos ajude a olhar todos os dias com confiança e alegria para o lugar onde está a nossa verdadeira casa, onde está Ela, que como mãe nos espera!
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Maria, Rainha e Senhora
Sem demora, minha senhora
Você vem em meu auxílio
Para elevar tudo com você
Abrigo para seu filho.
Glória aconchegada em seus braços
E ele se alimentou do seu peito
Você deixou seus planos para trás
Para abraçar o seu Projeto.
Do seu pedido exigente
Sua fé viva, motivação e coragem
No seu ritmo, diligente,
Você agradou o Rei do universo.
Elevado por humilde
Dos pobres, advogado
Você é a porta do céu:
Nunca será fechado.
Os olhos perfeitos da sua mãe
Eles olham para o céu para o rosto familiar
Torna-se visível e perto de você…
Você é uma ajuda para os desamparados.
Sem você a orfandade triunfa implacavelmente
E nós desistimos
Mas você chega mais perto, querido
Você não desiste de ninguém
Afundado no presente
Cegado pela ansiedade
Não temos nada, precisamos disso
Sua santa serenidade
E porque você nos vê confusos
En este mar tenebroso
Você vem deixar uma mensagem
Santuário de seus devotos
Alegria da minha alma
A bênção de Deus para minha casa
Encontro no seu colo
O melhor lugar.
Venha cuidar dos seus pequenos
Senhora de cima, conhecendo o eterno
Com você nos juntamos em uma música
Como você fez naqueles dias
Professor e aluno de Salvador
Cadeira para quem te ama
Me faça feliz por acreditar como você
Suas promessas serão cumpridas em mim. Amém.
[1] Cf. Apocalipsis (Verbo Divino; Estella 1994) 109-115.
[2] V. M. Fernández, El Apocalipsis y el tercer milenio (San Pablo; Buenos Aires 1998) 49-50.
[3] Cf. Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas (Mensajero; Bilbao 2009) 377.
[4] María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 308.
[5] R. Cantalamessa, María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 174.
[6] María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 168-169.