Primeira Leitura: 1 Reis 19,16b.19-21
Salmo Responsorial 15(16)-R-Ó Senhor, sois minha herança para sempre!
Segunda Leitura: Gálatas 5,1.13-18
Evangelho: Lucas 9,51-62
"51.Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém. 52.Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada. 53.Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém. 54.Vendo isso, Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma?”. 55.Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. [“Não sabeis de que espírito sois animados.* 56.O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.”] Foram então para outra povoação. 57.Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: “Senhor, te seguirei para onde quer que vás”. 58.Jesus replicou-lhe: “As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. 59.A outro disse: “Segue-me”. Mas ele pediu: “Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai”. 60.Mas Jesus disse-lhe: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus”. 61.Um outro ainda lhe falou: “Senhor, te seguirei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa”. 62.Mas Jesus disse-lhe: “Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”. "
Lc 9,51-62
O tema central do evangelho de hoje é a vocação. Quando se fala de vocação é preciso primeiramente evitar um equívoco frequente. Por muito tempo, esta palavra foi usada para indicar uma vocação particular: a vocação ao estado religioso e sacerdotal. Dessa maneira, a maioria dos cristãos, quando ouvem falar de vocação, pensam que esse seja um tema que não lhe diz respeito.
O Concílio Vaticano II varreu de vez esse preconceito (LG 2). Há uma vocação fundamental que é de todos e para todos. Qualquer outra vocação particular nasce desta vocação fundamental e nela se enxerta. Até mesmo o nome de Igreja (Ecclesia) expressa essa realidade: nela todos somos convocados, vocacionados. Para cair na conta dessa distinção e unidade entre vocação fundamental e vocações particulares, São Paulo é muito importante. Ele afirma a vocação fundamental de todos os cristãos: “há um só corpo e um só Espírito, como também é uma a esperança a qual fostes chamados (vocacionados)” (Ef 4,4). Ao mesmo tempo ele afirma as vocações particulares: “A alguns ele (Cristo) concedeu serem apóstolos; a outros, pastores e mestres” (Ef 4,11).
Ao longo da história bimilenar da Igreja as vocações particulares foram agrupadas em três gêneros ou forma principais, cada uma das quais admite em seu interior uma grande variedade de especificações e carismas. São elas: a vocação laical ou secular, a vocação ao sacerdócio, a vocação ao estado religioso (LG 31).
A nossa vocação fundamental é o de ser discípulos de Cristo e de pertencer à Igreja. De fato, ser discípulos de Cristo e membros da Igreja vem antes de ser leigos ou sacerdotes, pertencer a este ou àquele grupo eclesial.
Procuremos hoje manifestar em que consiste esta vocação fundamental comum a todos nós. Viver a vida cristã como vocação significa vivê-la como resposta ao chamado que Deus fez chegar a nós em Cristo e que faz chegar a nós, a cada instante, através da voz da nossa consciência e da Igreja.
Estar na Igreja não é um acaso, fruto de circunstâncias fortuitas. Estar na Igreja é fruto de um chamado de Deus que se dá na consagração batismal. Na Igreja somos chamados não para ficar somente com o corpo, mas com o coração. Na Igreja somos chamados à santidade: o chamado à santidade é universal e não se restringe a somente a alguns privilegiados.
Por isso, responder a vocação fundamental significa difundir a santidade entre todos os cristãos. Significa também criar uma familiaridade com a santidade no cotidiano.
Muitos são os meios objetivos à nossa disposição na Igreja para realizar nossa vocação à santidade: os sacramentos, a Palavra de Deus, o exemplo dos santos, o ensino do magistério. Mas todos esses meios objetivos, para serem eficazes e operantes, precisam do meio subjetivo por excelência que é a própria consciência. A consciência é o repetidor de Deus; é como o chamado introjetado à santidade que ressoa em nosso coração; é o lugar onde Deus responde à nossa pergunta: Senhor, o que queres que eu faça?
Jesus nos chamou para segui-lo. Não deixemos morrer o seu convite! É terrível pensar que ele passe e nos chame e, depois, prossiga sozinho sem que nós tenhamos aceitado o seu convite. É terrível, porque o chamado de Jesus é o chamado à vida em plenitude, à felicidade verdadeira, ao sentido da existência.
13º DomTComum – Lc 9, 51 –62-ano C – 26-06-2022
“Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62).
Jesus é muito claro quando se refere à radicalidade no seu seguimento.
“Ninguém pode ser meu discípulo se antes não renunciar a tudo o que possui!” (Lc.14,33).
Trata-se de uma atitude, uma postura, uma entrega.
E a palavra é “tudo”. O discípulo pela metade não pode ser discípulo. Jesus, ao associar seguidores à sua missão, pede sinceridade na vontade e verdade no coração. Não servem as entregas pela metade. Ele não se contenta com “amor a prestações”, com retalhos de vida.
A entrega parcial não é entrega. O “apego” a algo ou alguém esvazia a afeição à pessoa de Jesus, travando a entrega e tornando impossível que a relação com Ele cresça, se desenvolva e encha nossa vida de sentido. A entrega total, pelo contrário, traz à luz todos os nossos recursos, desperta nossas potencialidades e incendeia nossa fé.
Esta é a atitude genuína e verdadeira diante da vida. Esta determinação é a que abre caminho, avança e ativa a criatividade. Ficar com “alguma coisa” daquilo que Ele pede, fazer as coisas pela “metade”, adiar, regatear, dissimular... é impedir a livre ação da Graça do Pai em nosso interior.
A decisão autêntica é clara, completa e definitiva. Com “meias-tintas” não se escreve bem.
O evangelista Lucas desvela esse jogo do “meio-termo” no relato deste domingo. Duas pessoas manifestam o desejo de seguir Jesus e uma terceira é chamada pelo próprio Jesus. Mas, há algo em comum entre elas: as três apresentam “condições” para fazer o caminho do seguimento.
Dizer “condição” equivale a dizer “não”, mantendo as aparências; é continuar apegado às “mediações” (bens, família, pai) sem investir afetivamente no Reino. É medo de avançar, de arriscar, de ousar...
A resposta do meio-termo pode, de fato, causar mais prejuízo do que a negativa sincera, porque uma negativa clara pode um dia levar ao arrependimento e à reconciliação; ao passo que o adiamento cortês, apesar de ser negativa absoluta, cria a impressão de ser um gesto aceitável e embota a consciência.
O autoengano do “SIM”, mas “NÃO” desemboca na mediocridade, no fazer as coisas pela metade... é a funesta arte do regateio. E a mediocridade não tem lugar no caminho do seguimento de Jesus.
“Conheço tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca” (Apc.3,l5)
O medo de perder “algo” ou “alguém” no futuro atrapalha viver intensamente o presente. Quantos “pesos mortos” arrastamos em nossa vida, com recordações, lembranças, apegos, afetos desordenados...!
O desejo de possuir confunde nossa vida. E já não se trata mais de uma lição moral sobre o vício ou a virtude, mas do impacto psicológico que produz em nosso comportamento o fato de nos sentirmos apegados a algo ou a alguém, com a consequente perda de liberdade e o perigo da dependência que esse apego causa. O apego às coisas e às pessoas impede-nos de mover com facilidade. Perdemos o “fluxo” da vida, o impulso do movimento, a suavidade do “deslizar pela existência”.
“Diga-me o tamanho dos seus apegos, e eu lhe direi o tamanho do seu sofrimento.”
Para desmascarar nossas justificativas e racionalizações referentes aos nossos apegos, Jesus não contou apenas parábolas; muitas das suas expressões são também enigmáticas e impactantes. Mas é justamente esse modo de falar de Jesus que possui efeito provocativo e surpreendente.
Ao dizer - “deixem que os mortos enterrem os seus mortos” -, Ele nos faz entrar em contato com tudo aquilo que está morto em nós mesmos: tudo que não significa vida, com a rotina repetitiva do nosso dia a dia, com o vazio interior, com as coisas estagnadas da nossa existência.
Com sua linguagem radical, Jesus nos permite chamar as coisas pelo que são e declará-las mortas. Ele convida a nos afastar das coisas que não mais nos dizem respeito e que exigem um alto investimento afetivo. Muitas “aderências afetivas” – bens, posses, pessoas, lugares, poder, vaidade, segurança material – não estão ligadas à nossa vida verdadeira, impedindo-nos de nos concentrar na causa do Reino de Deus e no seu anúncio.
Sabemos que uma das características mais originais do ser humano é a capacidade de assumir compromissos. Comprometer é empenhar-se radicalmente, é arriscar-se num projeto ousado, é envolver-se numa causa inovadora. No compromisso, joga-se a própria vida. Em Jesus Cristo, a pessoa encontra a realização da empresa mais nobre e a garantia de poder entregar-se a ela sem se enganar.
O ato de decidir é o mais nobre e profundo de todos os atos do ser humano, a própria definição da pessoa e a expressão última de sua dignidade. E precisamente porque é nobre e profundo, definindo a identidade de cada pessoa, decidir torna-se difícil e penoso. Por isso sua reação instintiva ao enfrentar uma decisão é tratar de evitá-la, dissimulá-la, adiá-la.
Custa decidir porque lhe custa definir. Muitos pertencem à “confraria do último dia”.
Chegamos à pós-modernidade com enorme carga de medo; medo cruel que alcança todo mundo, medo que afeta os corajosos e agride os ousados: medo de comprometer-se, medo de definir-se, medo de equivocar-se, medo de enfrentar, medo de ter de agir, medo de fazer opções, medo da própria missão...
O medo corrói as fibras humanas, asfixia talentos, esvazia a vida e mata a criatividade.
O medo encolhe o ser humano, inibe a decisão e bloqueia os movimentos em direção ao “mais”.
O medo cega os canais do discernimento, imobiliza o mecanismo das decisões.
Quem teme não pode decidir bem. Sob a influência do medo, o olhar, o pulso, o equilíbrio deixam de ser o que deveriam ser e de agir como deveria agir. O ambiente se turva e a eleição se frustra.
Para desenvolver ao máximo nossas potencialidades, temos de enfrentar dilemas, encruzilhadas, perplexidades e responsabilidades. Isto nos faz descer ao chão da vida, despertar nossas energias, encontrar a nós mesmos.
Seguir Jesus Cristo é aderir a Ele incondicionalmente, é “entrar” no seu caminho, recriá-lo a cada momento e percorrê-lo até o fim. Seguir é deixar-se configurar, movimento pelo qual a pessoa vai sendo modelada à imagem de Jesus.
O seguimento de Jesus Cristo pressupõe uma pessoa capaz de sair de si mesma, de descentrar, com coragem de arriscar. Sem se abrir ao “magis”, que habita o coração humano, não haverá desejos de identificação com o Peregrino da Galileia.
Diante do Cristo que chama, a pessoa sente-se provocada, chamada a superar-se, desafiada a arriscar e a ser “mais”. É preciso sonhar alto, ter ideais, ser uma pessoa corajosa e marcada pela esperança para poder “escutar” o apelo de Cristo; é preciso ser apaixonado, deixar-se empolgar, aceitar correr riscos na vida para saber o que significa o “comigo” de Cristo; é indispensável uma enorme generosidade para se dedicar incondicionalmente a uma grande causa; é preciso forte dose de ousadia e coragem para transcender-se, ir além de si mesmo...
Para meditar na oração:
Temos muitas atitudes, posses, ideias, cargos, posições, bens... que consideramos como Vontade de Deus; na realidade é tudo “projeção” de nossos desejos atrofiados; é tudo manifestação de nossos “afetos desordenados”.
- No seguimento de Jesus, o que prevalece em sua vida? Adesão incondicional à pessoa d’Ele ou seguimento sob condições? Que “apegos” travam sua vida, exigindo um alto investimento afetivo?
- Que paixão move sua vida? Seu coração está livre?...
Jesus empreende com determinação sua marcha para Jerusalém. Sabe o perigo que corre na capital, mas nada o impede. Sua vida tem apenas um objetivo: anunciar e promover o projeto do reino de Deus. A marcha começa mal: os samaritanos rejeitam-No. Ele está habituado: o mesmo lhe aconteceu na sua terra de Nazaré.
Jesus sabe que não é fácil que lhe acompanhem na sua vida de profeta itinerante. Não pode oferecer aos seus seguidores a segurança e o prestígio que podem prometer os letrados da lei aos seus discípulos. Jesus não engana ninguém. Aqueles que querem segui-lo terão que aprender a viver como ele.
Enquanto eles estão a caminho, aproxima-se um desconhecido. Ele parece entusiasmado: «Te sigo para onde quer que vás». Antes de tudo, Jesus lhe faz ver que não espere dele segurança, vantagens ou bem-estar. Ele mesmo «não tem onde reclinar a cabeça». Não tem casa, come o que lhe oferecem, dorme onde pode.
Não nos enganemos. O grande obstáculo que impede que muitos cristãos de hoje sigam verdadeiramente a Jesus é o bem-estar em que vivemos instalados. Temos medo de levar a sério porque sabemos que exigiria viver de forma mais generosa e solidária. Somos escravos do nosso pequeno bem-estar. Talvez as crises econômicas nos possam tornar mais humanos e mais cristãos.
Outro pede a Jesus para deixá-lo ir enterrar o pai antes de segui-lo. Jesus lhe responde com um jogo de palavras provocativas e enigmáticas: «Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, vai e anuncia o reino de Deus». Essas palavras intrigantes questionam o nosso estilo convencional de vida.
Temos de ampliar o horizonte em que nos movemos. A família não é tudo. Há algo mais importante. Se decidirmos seguir Jesus, temos de pensar também na família humana: ninguém deveria viver sem uma casa, sem pátria, sem documentos, sem direitos. Todos nós podemos fazer algo mais por um mundo justo e fraterno.
Outro está disposto a segui-lo, mas antes ele quer dizer adeus à sua família. Jesus surpreende-o com estas palavras: «Aquele que lança mão ao arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus». Colaborar no projeto de Jesus exige dedicação total, olhar para frente sem distrair-nos, caminhar em direção ao futuro sem nos fecharmos no passado.
Papa Francisco avisou-nos de algo que está acontecendo hoje na Igreja: «Temos medo que Deus nos leve por caminhos novos, tirando-nos dos nossos horizontes, frequentemente limitados, fechados e egoístas, para nos abrir aos seus».
No esquema do Evangelho de Lucas, o segundo grande bloco vai de 9, 51 até 19, 28, e consiste em seguir o caminho de Jesus e os seus discípulos, rumo a Jerusalém. Nestes capítulos Jesus educa os seus discípulos sobre o que significa segui-lo, acreditar nele. Logo antes da viagem tem a frase “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (9, 23). No trecho de hoje, Jesus vai explicitar de novo as exigências para quem quer assumir os desafios do Reino no seu seguimento.
No início, Lucas enfatiza que Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. Aqui não se trata somente de decidir de fazer uma viagem, de participar de uma peregrinação. Muito mais é a decisão de seguir a sua missão até as últimas consequências, pois Jerusalém será o local do conflito final entre as forças do Reino e do anti-Reino, o local da sua morte e ressurreição. Daqui para frente Jesus assume mais ainda o papel de pedagogo divino, mostrando pela sua palavra e ações, pela sua paixão, morte, ressurreição e ascensão, o caminho que leva ao Pai.
Esta tarefa de educação dos discípulos implica todo um trabalho de mudar a mentalidade deles, formada pela religião e ideologia reinantes. Inicia-se com o incidente da aldeia samaritana que não quis recebê-los. Havia séculos existia uma rixa entre judeus e samaritanos. Por causa da mistura de raças desde a ocupação assíria da Samaria depois de 721 a.C., (cf. II Rs 17, 24-41), os samaritanos eram desprezados pelos judeus. Da sua parte, os samaritanos tinham uma grande raiva dos judeus desde que o rei asmoneu João Hircano destruiu duas vezes o seu Templo no Monte Garazim, no fim do segundo século a.C. Os discípulos, representados por João e Tiago, querem demonstrar o seu poder, pedindo que Deus destruísse a aldeia – mostrando que a sua concepção do messianismo de Jesus era de poder política e de dominação. Jesus os repreendeu, pois o Reino de Deus não se constrói como os reinos terrestres, com força de armas e dominação, mas com doação e solidariedade.
Os versículos 57-62 continuam com a lição sobre a natureza do discipulado. Diante de três possíveis seguidores, Jesus desmancha as suas ilusões, mostrando que o seguimento dele exige disponibilidade total, tanto dos bens materiais, como de outras seguranças humanas, como a família e os laços afetivos, coisas boas em si. Nos faz lembrar do chamado dos primeiros discípulos no início do Evangelho, que tiveram de deixar a segurança do emprego, “deixando tudo” em Lc 6, 11. Também nos recorda o cego Bartimeu, que em Mc 10, 50, antes de ser curado da cegueira, tem que lançar fora o seu manto – símbolo da sua única segurança. Para seguir Jesus temos sempre que deixar alguma segurança. A nossa tendência humana é de querer seguir Jesus, sem que nos custe algo, colocando a nossa fé e confiança nas seguranças humanas e não nos valores do Reino.
Ou seja, um seguimento dentro de uma prática religiosa acomodada, confortável, que pouco ou nada tem a ver com o desafio de Jesus para que “peguemos a cruz todos os dias e o sigamos” (Lc 9,23). A radicalidade do discipulado – que não é privilégio de uma elite religiosa, mas que provêm do batismo – é sublinhada nos últimos versículos do texto de hoje: “quem põe a mão no arado e olha para trás não serve para o Reino de Deus”(v. 62). Faz eco a outras frases evangélicas “Não se pode servir a dois mestres” (Mt 6,24), “Não é possível servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), “vende tudo o que tens, dá os pobres e segue-me” (Lc 18,22).
Ser discípulo/a de Jesus envolve toda a nossa vida, não é uma adesão intelectual somente, mas uma mudança radical em nossa maneira de ver e julgar a realidade ao nosso redor, e de agir diante dela.
Ser cristão não é ter uma religião de consolações, mas o consolo de uma religião que nos compromete com o projeto do Pai e de alguma maneira nos levará até a Cruz – e a Ressurreição.
É deste tipo de seguimento que o nosso mundo de hoje tanto precisa. Cabe a cada um/a descobrir o que este desafio significa na prática, na realidade da sua vida.
Que defeitos e limitações dos discípulos?
Qual a pedagogia Jesus usa para corrigir os defeitos?
Qual o defeito hoje mais presente em nós?
O texto do evangelho de hoje inicia o caminho de Jesus a Jerusalém, tema central de Lucas que quer ressaltar a importância da figura de Jesus a caminho de Jerusalém para cumprir sua missão messiânica.
Não é um detalhe ocasional que este início está marcado pela firme decisão de Jesus de começar esta “viagem” ou caminhada. É ele que livremente quer dar continuidade e levar até o fim o projeto do Pai assumindo todas as consequências.
Desde o capítulo 4, Lucas apresenta a Jesus na sinagoga de Cafarnaum como o Ungido do Pai para levar adiante sua missão de amor e libertação, especialmente dos mais pobres e pequenos. E na continuação o evangelista narra a incredulidade e rejeição deste anúncio por parte dos judeus que querem matá-lo.
Esta tensão acompanhou o caminhar de Jesus e foi sua contínua opção pelo Pai e seu projeto de Vida, o que foi forjando nele um homem livre.
Essa liberdade de Jesus é a chave para entender a proposta que faz aos seus discípulos e discípulas.
Quando Tiago e João querem responder com violência à rejeição dos samaritanos, Jesus os repreende e continuam seu caminho. O ódio escraviza e paralisa, o perdão liberta e dá força para caminhar.
Quando alguém no caminho entusiasmado quer segui-lo, Jesus responde com a verdade dura, mas libertadora: «As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça». Para segui-lo o discípulo/a tem que ser consciente das características deste seguimento para assim vivê-lo livremente.
Quando diante do convite de Jesus, a pessoa coloca outras prioridades, que a podem deixar fechada num círculo reduzido de pessoas, Ele responde com clareza colocando como amor primeiro o Reino de Deus que é para todos.
Quando outro caminhante quer segui-lo, mas com suas próprias condições, que o aferram ao passado, Jesus o faz olhar para frente, para o amplo horizonte da missão que tem pela frente.
Jesus é um Mestre de liberdade. E esse é o anseio mais profundo, que todo ser humano carrega e leva a vida inteira para conquistar.
São Paulo, que percorreu o itinerário de liberdade oferecido por Jesus aos seus seguidores, testemunha isto na sua carta aos Gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão” (Gal 5, 1).
Olhando para Jesus, e reconhecendo nossa vocação à liberdade, peçamos que ele nos ilumine neste dia para soltar aquilo que nos escraviza, nos amarra, e correr atrás da utopia do reino aqui e agora.
Encanta-me
Encanta-me
teu olhar compassivo
tuas mãos fortes
e teus pés sujos de poeira.
Encanta-me
teu corpo cálido e macio
berço materno que
acolhe, acalenta e espera.
Encanta-me
tuas pernas cansadas
manifesto de teu ser
itinerante e peregrino.
Encanta-me
tuas costas rajadas
pela incompreensão,
injustiça e incredulidade.
Encanta-me
teus braços sempre abertos
gritando em silêncio
teu amor inesgotável.
Encantas-me TU,
Jesus de Nazareth
Filho de Deus e irmão da humanidade,
canto de eterna liberdade.
Tradução Cepat.
Referências bíblicas:
Segunda Leitura: Gl 5, 1.13-18
Evangelho: Lc 9, 51-62
Nesse 13º Domingo do Tempo Comum, Lucas nos faz caminhar com Jesus na estrada que leva a Jerusalém, onde terão lugar os acontecimentos fundadores da fé cristã. É uma longa caminhada que todos os cristãos de todos os tempos devem fazer para se tornar verdadeiros discípulos de Cristo. É uma caminhada difícil e se Lucas nos coloca nela é para nos fazer tomar consciência da urgência da missão cristã que é a nossa ainda hoje. E como esta missão comporta suas exigências, temos que conhecê-las antes de nos comprometermos com elas. Mas quais são essas exigências?
1. A liberdade
A fé não se impõe; ela se propõe. Se alguém se recusa a crer, é seu direito mais sagrado, e, como Igreja, não temos o direito de obrigar as pessoas a acreditar naquilo que nós acreditamos e na maneira como nós acreditamos. Não devemos agir como se tivéssemos a verdade sobre Deus e sobre o mundo! Não foi esta a atitude dos discípulos Tiago e João que queriam impor aos samaritanos o Cristo Pascal? “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles?” (Lc 9, 54). Não é também essa a nossa atitude, enquanto Igreja, quando intervimos na sociedade para impor a nossa moral e as nossas convicções?
É possível a Igreja não compartilha certos valores da nossa sociedade secularizada, diversificada e laica; ela pode manifestá-los, certamente, mas deve saber fazê-lo no respeito aos outros. Dom Martin Veillette, ex-presidente da Assembleia dos Bispos católicos de Québec, escreveu sobre o aborto: “Nós sabemos que a nossa convicção não é compartilhada por todos os nossos compatriotas. Devemos, portanto, como sociedade, encontrar uma maneira de viver e de caminhar na escuta e no respeito mútuos”.
Em sua carta aos Gálatas, que é a segunda leitura de hoje, São Paulo nos diz ainda que Cristo nos libertou e se ele o fez, foi para que nós fossemos verdadeiramente livres (Gl 5, 1a). Nós não podemos impor nada aos outros; temos de nos libertar das amarras da nossa antiga escravidão (Gl 5, 1b). E quais são essas amarras? A circuncisão (Gl 5, 2), a lei (Gl 5, 4) e o egoísmo, que nos impedem de amar uns aos outros (Gl 5, 13). São Paulo acrescenta, e é a parte da leitura de hoje, que a única lei que conta é a lei do amor: "Amar o próximo como a si mesmo" (Gl 5, 14). E explicita: “Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, tomem cuidado! Vocês vão acabar destruindo-se mutuamente” (Gl 5, 15). E para viver verdadeiramente a liberdade que vem de Cristo, como mulheres e homens livres devemos nos deixar conduzir pelo Espírito de Cristo: “Mas, se forem conduzidos pelo Espírito, vocês não estarão mais submetidos à Lei” (Gl 5, 18).
2. A despossessão
É fácil dizer que queremos seguir Cristo e tornar-nos seus discípulos. Mas, tornar-se discípulo de Cristo significa preferi-lo a tudo: “Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26). E no evangelho de hoje, o Cristo de Lucas diz a quem quer segui-lo: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9, 58). Isso não quer dizer que não podemos possuir nada, mas que devemos ser livres em relação às nossas posses, de sorte que possamos livremente partilhá-las com os outros.
3. A urgência da missão
Ao ler o versículo assim como nos é apresentado – “Jesus disse a outro: ‘Siga-me’. Esse respondeu: ‘Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai’” (Lc 9, 59) –, podemos ter a impressão de que se trata aqui de um prazo muito curto, o tempo de participar do funeral do pai que acabou de morrer. Caso fosse isso, a resposta de Jesus seria muito drástica: “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos” (Lc 5, 60). Portanto, precisamos aqui compreender que o homem pede antes a Jesus: que ele lhe dê tempo para viver com seu pai até sua morte! Mas o tempo da missão urge, e é agora que é preciso se comprometer. Comprometer-se a seguir Jesus é deixar o mundo dos mortos e entrar na vida agora. Se não nos preocuparmos com a vida futura, já estamos do lado da morte, e isso é contrário à fé cristã e à missão que nos foi confiada.
4. Olhar para frente
Seguir Cristo, responder ao seu chamado, não é viver na nostalgia do passado: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha família” (Lc 9, 61), é olhar para frente, é construir o futuro: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus” (Lc 9, 62). Na Igreja, quando nos apoiamos exclusivamente na tradição, no passado, sobre aqueles e aquelas que nos precederam, recusamo-nos a tomar novos caminhos, explorar novos desafios e arriscar o futuro; de que sorte que se torna impossível construir o Reino, demasiado ocupados que estamos em salvaguardar um passado que desapareceu, maneiras de fazer e maneiras de viver que não correspondem mais às realidades das mulheres e dos homens do nosso tempo. Queremos pôr a mão no arado, mas puxar para trás, em vez de seguir para frente.
O exegeta francês Jean-Paul Berlocher escreve: “Em síntese, pegar firme no arado e olhar reto para frente, para o sulco a ser feito, este é o ideal daquele que segue seu Senhor. Cada dia o cristão é convidado a relativizar suas seguranças, a hierarquizar seus deveres e seus afetos em vista de um melhor serviço do Reino de Deus”. Basicamente, é o futuro que devemos preparar. Se Cristo está vivo, ele o é, atualmente, nas mulheres e homens de hoje. Não podemos mudar o passado; só podemos construir o futuro a partir do que somos hoje. E como o futuro resta a ser feito, na estrada da vida, vamos depressa! Não é hora de recuar! É hora de seguir em frente e depressa! Mas o que apressa tanto?
O teólogo francês Gérard Bessière escreve, e termino com isso: “Eles são lançados para frente. Como se o fogo os perseguisse no caminho empoeirado. Não há forma de parar. Velhas brigas com os samaritanos? Passemos. Chamar um raio sobre eles? Jesus grita contra seus discípulos que não compreenderam nada: violência e vingança não existem mais no mundo novo em direção ao qual eles se apressaram. Devemos soltar as amarras para o desconhecido. Onde dormiremos esta noite? As raposas e os pássaros têm suas tocas e seus ninhos. O Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. Não há mais aldeia, casa, posse: deixamos tudo. Vivemos no futuro. Resta a família? Nem essa. Enterrar o pai, depositar na terra sua última raiz, tornar o dever mais sagrado? Jesus responde: deixa que os mortos enterrem seus mortos. Tu, vai anunciar o Reino. Ir, ao menos, despedir-se da família? Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não serve para o Reino de Deus. Para onde vão com tanta pressa? Para Jerusalém. Para a Sexta-feira Santa”.
DOMINGO XIII DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
Breve introducción: "Si consideramos pedagógico marcar unas etapas dentro del ritmo de la lectura continua del evangelio y, en consecuencia, dentro de la predicación homilética, está claro que este domingo es comienzo de una nueva etapa. El camino de Jerusalén"[1]. Consideramos válida esta recomendación pues a partir de este domingo 13 - y hasta el domingo 31 - la liturgia nos ofrece la lectura continua del camino de Jesús a Jerusalén según el evangelio de san Lucas (9,51-19,28) cuyo tema principal es el discipulado. Valga, entonces, la sugerencia para proyectar las homilías de estos domingos respetando las etapas que nos irá señalando el mismo Evangelio evitando así la tentación de querer decirlo todo a la vez.
1ra. Lectura (1Re 19,16.19-21):
Elías ha recibido de parte de Dios en el Horeb la misión de ungir a Eliseo como su sucesor ("como profeta en lugar de ti"). Y realiza esta unción, no derramando aceite sobre la cabeza del elegido (cf. 2Re 9,3), sino poniendo su manto sobre Eliseo. Notemos que "según la simbología bíblica, el manto es símbolo de la persona, expresión de su dignidad (cf. Is 3,6; 6,3). Cuando Elías echa su manto sobre los hombros de Eliseo, convierte al que ha elegido en discípulo, lo nombra profeta"[2]. Así, cubrir a alguien con el manto implicaba un derecho sobre la persona, como lo señalan Ez 16,8 y Rt 3,9.-
En esta narración de corte deuteronomista el manto simboliza también el poder, como el cayado o bastón de Moisés (cf. Ex 4,2-4; 7, 8-12). De hecho, más adelante, con su manto Elías golpeará las aguas del Jordán y se dividirán para que él pueda pasar en seco (cf. 2Re 2,8). Luego de la "ascensión" de Elías, Eliseo recogerá este mismo manto, con el cual repetirá el mismo prodigio de dividir las aguas del Jordán (cf. 2Re 2,13-14).
El texto dice que Eliseo estaba arando con 12 yuntas de bueyes. Esto parece una exageración, pero es clara la indicación de que era un propietario rico, con servidores.
Eliseo se pone inmediatamente a disposición de Elías ("dejó sus bueyes, corrió detrás de Elías"); pero pide, antes de seguirlo, autorización para despedirse de sus padres y Elías se lo concede. Entonces, con prisa, allí mismo inmola los bueyes con los que estaba arando, renunciando así, públicamente, a su trabajo y a su vida de agricultor. Luego, junto con su gente, celebra una comida de despedida y "se levantó, siguió a Elías y le servía".
El Antiguo Testamento no tiene un término específico para referirse al discípulo ni un concepto claro del discipulado. El caso de Elías-Eliseo es un hecho más bien aislado. Flavio Josefo considera a Eliseo como discípulo de Elías. Esta denominación se hizo luego frecuente en los escritos patrísticos de Oriente y Occidente, a las que se sumó las de heredero e hijo de Elías. Por ejemplo, San Juan Crisóstomo escribe: "Eliseo es al mismo tiempo el que es llamado (el hijo), el que escucha y sirve (el discípulo, el servidor) y el que recibe así el doble espíritu de Elías (el heredero, el segundo Elías)"[3].
Evangelio (Lc 9, 51-62):
Por lo dicho más arriba, es importante ubicarnos primero en el sentido de este viaje de Jesús a Jerusalén acompañado por sus discípulos que es “un camino geográfico-teológico”.
* Tal como lo sugiere A. George[4], la construcción del viaje nos revela una intencionalidad principalmente cristológica. ¿Cuál es el sentido de este viaje? Ante todo, como nos dice 9,51: "Cuando estaba por cumplirse el tiempo de su elevación al cielo, Jesús se encaminó decididamente hacia Jerusalén". Se trata entonces del viaje de Jesús hacia su pasión, hacia su muerte; y, al mismo tiempo, hacia su elevación o glorificación.
* Pero la perspectiva cristológica no agota el sentido del viaje, pues es evidente también la perspectiva eclesiológica reflejada en las abundantes lecciones que da Jesús a sus discípulos sobre la oración, la renuncia, el peligro del dinero, etc. Hay una clara intención didáctica en el caminar de y con Jesús. Así, este viaje asume una dimensión eclesial: sin perder su dimensión histórica, llega a prefigurar con claridad el camino pospascual de la Iglesia, del cristiano en el mundo. Por esto Lucas lo comienza con tres escenas de llamada al seguimiento de Jesús (cf. 9,57-62; con diversa colocación en Mt 8,18-22). El camino de Jesús, sus actitudes, se convierten en el camino de cada discípulo, para ‘cada día’ (añadido lucano a la invitación de Jesús a seguirlo llevando cada uno su cruz en 9,23).
Focalizándonos ya en el evangelio de este domingo vemos que se compone de un relato de misión (9,51-56) y de tres escenas de seguimiento (9,57-61).
Þ El primer relato comienza diciendo que, como comenzaron a cumplirse los días de su asunción, Jesús tomó la firme decisión de ir hacia Jerusalén. Este viaje es el comienzo de la consumación (symplerousthai), de la fase final de la obra de Jesús que culminará en Jerusalén con su “asunción” (analempsis). Lucas habla de asunción más que de ascensión para resaltar que Jesús es “asumido” al cielo por el Padre, protagonista final del camino y de la obra de Jesús[5].
En cuanto a la decisión de Jesús, el texto griego puede traducirse literalmente por: "con determinación, afirmó su rostro para ir a Jerusalén" o bien, como sugiere el Cardenal C. M. Martini: "endureció el semblante" (to prósopon estérisen), quien aclara que "el verbo estérisen (puso firme, estableció irrevocablemente) indica la dirección precisa de un camino y, por lo tanto, el tránsito a una fase más radical de su designio"[6]. Algo así como cuando uno aprieta fuerte los dientes y pone fija su mirada hacia la meta, con determinación. Esto hace Jesús orientándose a Jerusalén, sabiendo lo que allí le esperaba.
Es sabida la enemistad entre judíos y samaritanos, lo que explica la negativa que reciben los discípulos por parte de estos últimos de alojar a quien se dirige a Jerusalén. El texto deja en claro que el rechazo es a Jesús (“no lo recibieron a él”), no a sus discípulos; y el motivo es porque se dirige a Jerusalén. Dado que todavía Jesús se encuentra en Galilea y no llegará a Samaría hasta 17,11, A. Rodríguez Carmona dice que “Lucas ha colocado esta perícopa en este contexto por una razón doctrinal, no cronológica, porque quiere comenzar con el tema del rechazo”[7].
Lo desproporcionado es la reacción de Santiago y Juan, quienes al igual que Elías en 2Re 1,10.12, quieren que les caiga del cielo a esos pobladores fuego como castigo. Esta actitud no responde ni al espíritu ni a las enseñanzas de Jesús y, por eso, los reprende utilizando la misma expresión (ἐπετίμησεν) que para los demonios (cf. Lc 4,35.41; 9,42); la fiebre (4,39) y el viento impetuoso (8,24). Podemos notar que Jesús no sólo es rechazado por los samaritanos, sino que también es incomprendido por sus propios discípulos. Esta primera escena, de rechazo del Maestro y Señor, crea el clima apropiado para las tres siguientes porque el discípulo de Jesús debe saber que también le espera el rechazo de los hombres.
Siguen, pues, las tres escenas de seguimiento que son ocasión para dejar en claro las condiciones para hacerse discípulo de Jesús y anunciar el Reino. En realidad, como bien nota el Cardenal C. M. Martini, se trata de "tres formas impropias de seguimiento" por cuanto manifiestan obstáculos o apegos que les impiden seguir verdadera y realmente a Jesús.
Þ En la primera escena Jesús le responde a "uno" que quiere seguirlo a dondequiera que vaya: "el hijo del hombre no tiene donde reclinar la cabeza". El seguimiento evangélico implica vivir en las mismas condiciones en que vive Jesús, en este caso de desarraigo y pobreza. Como bien nota U. H. von Balthasar[8]: “Jesús ya no tiene casa propia. Ni siquiera la casa donde ha crecido, la casa de su madre, cuenta ya. No mira atrás. Es más pobre en esto que los animales, vive en una inseguridad total. No posee más que su misión”. Para R. Guardini se trata también de la soledad afectiva de Jesús por cuanto la expresión "no tiene dónde reclinar la cabeza" tendría el valor simbólico de lo que hoy llamaríamos "falta de contención afectiva", la carencia de apoyos humanos, de seguridad. En la misma línea C. Martini[9] interpreta las imágenes de la madriguera y del nido como los lugares de refugio, seguridad, protección y calor de los afectos, que en el lenguaje psicológico actual se expresa como el deseo de permanecer en el seno materno.
Þ En la segunda escena es Jesús quien toma la iniciativa e invita a "otro" a seguirlo; pero este pide ir primero a enterrar a su padre. Para C. M. Martini[10] la metáfora del padre incluye toda la tradición ancestral, las costumbres familiares que se graban como principios de la vida inconsciente tal como, por ejemplo, el principio del honor, de no perder fama, de no tener deudas con nadie, de no manifestar la pobreza, etc. La respuesta de Jesús suena muy dura: "Deja que los muertos entierren a sus muertos; tú ve a anunciar el Reino de Dios". Enterrar a los padres era un deber exigido por el cuarto mandamiento y una importante obra de misericordia en la piedad judía (cf. Ex 20,12; Dt 5,16; Tob 4,3). La respuesta de Jesús no deja de ser algo enigmática por la referencia a unos “muertos” que enterrarán a sus muertos. La frase invita a una lectura metafórica y “la opinión más común es entender muertos en sentido espiritual, los que están fuera de la esfera de los intereses del reino”[11]. Lo cierto es el mensaje: el seguimiento de Jesús no admite dilación alguna; ni siquiera por parte de un vínculo tan originario y fundamental como es la relación con el padre y con todo el mundo de los valores y tradiciones ancestrales.
Þ En la tercera escena la iniciativa es de "otro" que desea seguirlo, quien pone como condición previa poder despedirse antes de los suyos, de su casa. Según C. M. Martini[12] el símbolo de la casa incluye el culto de la propia historia personal, las amistades, las relaciones, las vivencias, los éxitos. La respuesta de Jesús vuelve a ser dura: «Nadie que pone la mano en el arado y mira hacia atrás es apto para el Reino de Dios». Según F. Bovon[13] "la idea central es la siguiente: el que mira hacia atrás, hacia el trabajo ya hecho, y no hacia delante y a lo que queda por hacer, no traza bien el surco que está abriendo. No va derecho a la meta. Así pues, la sentencia aconseja concentrarse en el objetivo y critica las lamentaciones por lo que se va quedando atrás". Ante este ofrecimiento condicionado, la respuesta de Jesús es negativa y demuestra una exigencia mayor que Elías, quien permitió a Eliseo despedirse de los suyos (1ª lectura).
Podríamos seguir analizando los textos, pero como bien dice el Cardenal C. M. Martini[14]: "la mera lectio de este pasaje evangélico pone en evidencia cómo el verdadero seguimiento de Cristo no admite ninguna demora, ningún apego al propio yo, a las personas, a las cosas, porque busca una total obediencia a Dios y a su palabra".
Vemos que Jesús se nos presenta aquí muy exigente y bien podemos preguntarnos "¿por qué se muestra Jesús tan exigente?" Y la respuesta es: "Porque es consciente de la importancia radical, absoluta, de su propia misión […] La exigencia de Jesús es una exigencia inspirada en el amor, no en la severidad. En efecto, de este modo manifiesta plenamente su propia identidad divina […] Si Jesús no se mostrara exigente con nosotros, eso significaría que nuestra relación con él no es diferente de la que podamos tener con cualquier otro amigo o pariente. Nuestra relación con Jesús, sin embargo, es completamente distinta, porque él es el Hijo de Dios, Jesús fue enviado por el Padre para salvar al mundo, y su misión es de una importancia suprema"[15].
Para terminar notemos – y esta es la dimensión eclesial del relato – que los discípulos están presentes cuando Jesús tiene estos diálogos con estos hombres y deben tomar nota de las exigencias reales de su propio seguimiento de Jesús.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Es claro que el tema de este domingo es el discipulado como seguimiento de Jesús y las exigencias que conlleva. Y la principal condición que exige Jesús es la disponibilidad total para cumplir la voluntad de Dios. Esto supone, obviamente, un permanente ejercicio de la renuncia a sí mismo, a los propios vínculos, a la propia historia. En este sentido dice bien H. U. von Balthasar que la santidad es ante todo un vaciamiento de sí mismo y una identificación con la misión que Dios nos ha encomendado.
Indudablemente nos encontramos con las palabras más duras o exigentes de Jesús en todo el evangelio, las cuales nos pueden provocar un cierto rechazo; especialmente si tenemos en cuenta que las "condiciones" que ponían los "candidatos" a discípulos en el evangelio de hoy son por demás de razonables. Nada tiene de malo querer enterrar a su padre o despedirse de los de su casa. Igualmente, el primero de los "aspirantes" a discípulo manifestó una gran disposición al seguimiento de Jesús. La intención de Jesús con su respuesta es provocarle una auténtica "crisis de realismo" para que no se engañe a sí mismo, pues hace falta algo más que entusiasmo para ser su discípulo. Y lo mismo vale para el rechazo por parte de Jesús de las otras dos "razonables" peticiones de demora en la respuesta.
No sería auténtico relativizar las exigencias o diluirlas; pero sí es legítimo contextualizarlas en el momento de la vida de Jesús y sus discípulos que nos relata el evangelio. Nos encontramos en la segunda parte del mismo, en el camino hacia Jerusalén, a la pasión y muerte. Y los discípulos deben estar dispuestos a seguirlo también hasta allí. Es una especie de segunda llamada, llamada a seguirlo renunciando a sí mismo y cargando con la cruz de cada día (cf. 9,23). Pero sin olvidar que los discípulos habían compartido previamente con Jesús otros momentos favorables durante su ministerio en Galilea donde lo vieron hacer muchos milagros y anunciar palabras con autoridad y sabiduría. Esta vivencia los arraigó en la fe y en la confianza en Él. Ahora les pide algo más, dejar todo obstáculo y aceptar también ellos el camino de la cruz.
En fin, Jesús pide una renuncia "radical" para el que quiera seguirlo, pero esta renuncia es el medio para lograr una mayor libertad y madurez en nuestra respuesta de fe, como bien señala también el mismo Cardenal C. M. Martini[16]: "Resumiendo, podemos decir: Jesús nos ha presentado tres tentaciones de huida de la radicalidad de la fe. Tres modos que exigen, como reverso, una triple libertad evangélica; la libertad de la madre, del seno materno, de la madriguera y del nido; la libertad del padre, de las tradiciones ancestrales; la libertad de sí mismo, o sea, de la propia historia, de la necesidad de coherencia humana. Esta triple libertad que hay que alcanzar es trabajo de toda la vida, es compromiso por la madurez, todo hombre debe vivirla, y el cristiano debe vivirla también frente a la radicalidad de la fe".
Esta vocación a la libertad la "grita" San Pablo en la segunda lectura de hoy, confesando ante todo que la misma es un “don” pues hemos sido liberados por Cristo. Esta libertad es un Don del Espíritu Santo y, para conservarla, debemos obrar según este mismo Espíritu.
Por tanto, para seguir con realismo a Jesús hay que estar dispuesto a renunciar a todo. Pero dejamos todo por algo, o mejor, por Alguien. La ruptura de cualquier vínculo es siempre una experiencia de muerte. En este sentido Jesús nos pide morir a nosotros mismos; pero para vivir en Él. Se trata de un proceso verdaderamente pascual, paso de la muerte a la vida. Jesús quiere formar en nosotros un hombre nuevo, con vínculos renovados; lo cual exige que el hombre viejo y sus vínculos mueran.
Y no olvidemos que la respuesta total y extrema en el seguimiento de Jesús es consecuencia directa de la experiencia del amor extremo y primero por parte del Señor. Como decía Benedicto XVI en su Discurso Inaugural a la Conferencia de Aparecida: "Cuando el discípulo llega a la comprensión de este amor de Cristo "hasta el extremo", no puede dejar de responder a este amor sino es con un amor semejante: "Te seguiré adondequiera que vayas" (Lc 9,57)".
Consolados por su amor podremos superar todos los apegos que nos detienen o demoran: la búsqueda de seguridad y comodidad; el apego al propio yo, a las personas, a las cosas; y la nostalgia por el pasado.
Al respecto nos dice el Papa Francisco en el ángelus del 30 de junio de 2019: “La Iglesia para seguir a Jesús es itinerante, actúa con prontitud, deprisa y decidida. El valor de estas tres condiciones puestas por Jesús ―itinerancia, prontitud y decisión― no radica en una serie de “noes” a las cosas buenas e importantes de la vida. El acento, más bien, hay que ponerlo en el objetivo principal: ¡convertirse en discípulo de Cristo! Una elección libre y consciente, hecha por amor, para corresponder a la gracia inestimable de Dios, y no un modo de promoverse a sí mismo. ¡Esto es triste! Ay de los que piensan seguir a Jesús para promoverse, es decir, para hacer carrera, para sentirse importantes o adquirir un puesto de prestigio. Jesús nos quiere apasionados de él y del Evangelio. Una pasión del corazón que se traduce en gestos concretos de proximidad, de cercanía a los hermanos más necesitados de acogida y cuidados. Precisamente como vivió Él”.
Y en “Cristo Vive” 289-290: “El regalo de la vocación será sin duda un regalo exigente. Los regalos de Dios son interactivos y para gozarlos hay que poner mucho en juego, hay que arriesgar. Pero no será la exigencia de un deber impuesto por otro desde afuera, sino algo que te estimulará a crecer y a optar para que ese regalo madure y se convierta en don para los demás. Cuando el Señor suscita una vocación no sólo piensa en lo que eres sino en todo lo que junto a Él y a los demás podrás llegar a ser… Antes de toda ley y de todo deber, lo que Jesús nos propone para elegir es un seguimiento como el de los amigos que se siguen y se buscan y se encuentran por pura amistad. Todo lo demás viene después, y hasta los fracasos de la vida podrán ser una inestimable experiencia de esa amistad que nunca se rompe”.
En conclusión, todos tenemos siempre necesidad de revisar nuestra disponibilidad para el seguimiento de Cristo. Sea que estemos empezando el camino a Jerusalén, sea que llevemos años transitando por él. Pidamos al Señor que nos muestre la grandeza de su amor para que podamos discernir lo que nos impiden seguirlo con una disponibilidad total y tengamos la confianza y el valor para dejarnos purificar por Él, hasta la raíz; a fin de renacer a una vida regida por la Caridad.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Eliges
Las ciudades de este mundo
Son como aquellas aldeas
No reciben tu Palabra
La vida parece ser rechazada
Como nunca lo fue antes
Pero Tú decides, Señor
Eliges donde quedarte
Porque no obligas a nadie
A priorizarte
Del corazón debe venir
El fuego que arde
Y abraza hasta fundirse
En ti uno solo somos
Eternos amantes
En el Reino del Padre
Seguir tus pasos
En la pobreza de muchos
Los que no son nadie
Sin mirar atrás,
Recuperamos la vida
Tu nos animas: adelante! Amén.
[1] P. Tena, El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C (CPL; Barcelona 1991) 90.
[2] L. Monloubou, "El profeta Eliseo en la Biblia", en AA.VV., Eliseo o el manto de Elías (Monte Carmelo; Burgos 2000) 16.
[3] Las referencias son de Sor Eliane OCD, "Eliseo, discípulo de Elías, en los Padres de la Iglesia", en AA.VV., Eliseo o el manto de Elías (Monte Carmelo; Burgos 2000) 26-31.
[4] “La construcción del tercer Evangelio”, en Selecciones de Teología 33 (1970) 65. F. Matera, “Jesus’ Journey to Jerusalem (Luke 9.51-19,46)”, JSNT 51 (1993) 58, también llama la atención sobre la escasez de indicaciones geográficas y cronológicas de este viaje; cosa extraña al estilo de Lucas, especialmente si se lo compara con la descripción lucana de los viajes de Pablo en Hechos, cuyo itinerario bien puede seguirse en un mapa, cosa que no es fácil en el recorrido de Jesús a Jerusalén.
[5] Cf. A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 195-196.
[6] La radicalidad de la fe (Verbo Divino; Estella 1992) 23. Es importante también el tema del rostro (prósopon) pues aparece en el v. 52 cuando dice que mandó mensajeros delante de sí (literalmente dice "de su rostro"). Lo encontramos también en el v. 53 donde literalmente dice que no lo recibieron porque "su rostro estaba orientado, yendo hacia Jerusalén".
[7] Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 195.
[8] Luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 267.
[9] La radicalidad de la fe, 27.
[10] La radicalidad de la fe, 30-31.
[11] Dice A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 199, siguiendo a J. Fitzmyer.
[12] La radicalidad de la fe, 32.
[13] El Evangelio según San Lucas II (Sígueme, Salamanca 2002) 56.
[14] La radicalidad de la fe (Verbo Divino; Estella 1992) 30.
[15] Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 234-235.
[16] La radicalidad de la fe, 34.