24.08.2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Isaías 66,18-21
Salmo Responsorial 116(117) – Proclamai o evangelho a toda criatura!
2ª Leitura: Hebreus 12,5-7.11-13
Evangelho de Lucas 13,22-30
Naquele tempo:
22Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23Alguém lhe perguntou: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?' Jesus respondeu: 24'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 25Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: `Senhor, abre-nos a porta!' Ele responderá: `Não sei de onde sois.' 26Então começareis a dizer: `Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!' 27Ele, porém, responderá: `Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!' 28Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. 29Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.' Palavra da Salvação.
O Evangelho de hoje nos dá a impressão de severidade. Jesus não responde à pergunta: Senhor, é verdade que são poucos o que se salvam?
Jesus não responde à essa pergunta. Ele não diz se são poucos ou se muitos, mas exorta: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita”. Por que Jesus não responde? Por uma preocupação de amor. Quem lhe pergunta se os que se salvam são poucos se coloca em um plano teórico de explicação, e Jesus não quer deixá-lo nessa atitude de quem não se esforça e se contenta em observar de longe. A pergunta: são poucos? manifesta a tentação de quem se sente autossuficiente e vê os outros como pecadores.
Jesus quer pôr os seus ouvintes em movimento para que entrem no amor de Deus. Em vez de ficar perguntando se serão poucos ou muitos que se salvam, é preciso que cada um se esforce em entrar no plano de Deus, em corresponder ao amor de Deus. Se assim fizermos, serão muitos os que se salvam.
Este é o desejo de Jesus. Não lhe interessa passar a informação sobre o número dos que se salvam, mas o de formar para a salvação.
São poucos os que se salvam? Se Jesus tivesse respondido: São muitos! Nós nos sentiríamos tranquilos. “Se são muitos, então não precisamos nos esforçar tanto”! Se Jesus tivesse respondido: são poucos! poderíamos ficar bloqueados: “Se são poucos, eu com certeza não sou um deles”, e assim perderíamos a esperança e a confiança.
Jesus não quer nem uma nem outra atitude. Estas duas atitudes são os pecados da nossa vida cristã: a presunção da salvação e o desespero da salvação. Qual é o remédio? Humildade e confiança em Deus.
Jesus deseja o nosso envolvimento pessoal. “Fazei todo o esforço para entrar”. Esse é a exortação de amor de Jesus.
Jesus usa também de palavras severas para nos advertir. Se ele adverte é porque nos ama e porque não quer que aconteça conosco o que ele ameaça.
A presunção da salvação nos exclui da salvação. Como eu sei que eu vou me salvar? Quais são os sinais de que vou me salvar? O evangelho nos põe diante de uma possibilidade terrível no julgamento final.
Porta aberta: travessia para o inesperado
“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita...” (Lc 13,24)
Jesus está a caminho de Jerusalém, onde também pretende fazer chegar a Boa Notícia do Reino. Nesse percurso, o evangelista Lucas recolhe uma série de afirmações do Mestre que tem como objetivo instruir os discípulos e a nós sobre o seu seguimento.
Mais uma vez estamos diante de uma pergunta curiosa apresentada por alguém da multidão que o seguia: “é verdade que são poucos os que se salvam?” Jesus não responde diretamente à questão pois a salvação não significa um voluntarismo para cruzar a linha de chegada na vida; ela é dom de Deus, que desperta em nós o desejo de entrar no fluxo da sua Graça, esvaziando-nos do “ego” e abrindo-nos a uma atitude de serviço oblativo e gratuito.
Jesus não está preocupado com a quantidade dos que se salvarão, nem dá resposta à pergunta pela salvação final. Pelo contrário, faz um sério apelo a praticar a justiça no momento presente. Muda, assim, a direção da resposta esperada acerca do futuro para centrar-se no chamado a viver o presente com mais sentido e intensidade. A salvação não é simplesmente uma realidade do futuro, mas está conectada com as atitudes assumidas no presente, ou seja, é consequência de uma prática da justiça. O decisivo não é o futuro, que está nas mãos de Deus, mas o presente das ações justas ou injustas.
Jesus não está preocupado com a quantidade dos que se salvarão, nem dá resposta à pergunta pela salvação final. Pelo contrário, faz um sério apelo a praticar a justiça no momento presente – Adroaldo Palaoro
Jesus usa a imagem da “porta” para falar dessa passagem de uma vida limitada e autocentrada, a uma vida expansiva, aberta à realidade. Porta que possibilita “entrar” na vida; dom em plenitude.
Na realidade, há uma tendência em todos nós de vivermos trancados em nossos mundos limitados; criamos e vivemos em “mundos-bolha”. Qual é o problema deste mundo-bolha? Porque questionar se alguém está tranquilo, comodamente instalado em suas seguranças, rodeado de um universo familiar e não ameaçante? Porque este afã por romper a bolha?
É difícil sair do terreno conhecido. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Portas são trancadas em todas as dimensões da vida: afetiva, social, religiosa, política... Podemos construir uma vida encapsulada em espaços feitos de hábitos e seguranças, situações estáveis, convivendo com pessoas que pensam e vivem do mesmo modo...; podemos ancorar-nos em três ou quatro seguranças que nos permitem viver sem sair de terrenos conhecidos.
Com isso, acabamos estabelecendo fronteiras vitais e sociais impermeáveis ao diferente. Se isto acontece, terminamos tendo perspectivas pequenas, visões incompletas, horizontes atrofiados e, provavelmente, ignorância sobre um mundo amplo, complexo e cheio de ricas possibilidades.
Há uma tendência em todos nós de vivermos trancados em nossos mundos limitados; criamos e vivemos em “mundos-bolha” – Adroaldo Palaoro
Em outras palavras: colocamos “portas” intelectuais e espirituais à audácia do amor. Falta-nos fé nas maravilhas do Espírito. Essa atitude de sair por nossas portas em direção à necessidade alheia com criatividade é a essência do Seguimento.
O tema da “porta” é mencionado muitas vezes pelos evangelistas para indicar uma passagem significativa ou a entrada em uma nova maneira de viver. O próprio Jesus se definiu como a “Porta da Vida”; Ele não veio complicar a vida com mais exigências. Só passa pela “porta estreita” quem se esvazia do próprio ego. Bater à porta significa desejo de entrar na intimidade; abri-la é sinal de acolhida e fechá-la é dizer não a quem se aproxima.
De fato, o símbolo da “porta” não se define em si como um espaço, não é um lugar, mas é o “limite” entre um lugar e outro, é o interstício entre dois espaços; é, portanto, o que divide dois modos de ser e viver: egoico ou oblativo.
A “porta” representa o lugar onde acontece a passagem de um estado a outro, a dobradiça entre dois mundos... ; a “porta” protege o sagrado, esconde o mistério...; tem o seu momento “fascinante”, mas comporta também um “tremendum”; ela nos situa num momento de ansiedade, de espera, de inquietação que toda passagem de um estado a outro provoca; esta preocupação com o que está “além da porta”, ou seja, a passagem de uma situação que se conhece a uma outra que se revela inédita, mas na qual se desejaria entrar, provoca medo e insegurança.
Colocamos “portas” intelectuais e espirituais à audácia do amor. Falta-nos fé nas maravilhas do Espírito. Essa atitude de sair por nossas portas em direção à necessidade alheia com criatividade é a essência do Seguimento – Adroaldo Palaoro
O que está além da porta provoca arrepios; “passar a porta” significa, portanto, ir ao encontro do novo, do futuro, do diferente, do “fora do normal” ...
O “outro lado” é um espaço não esclarecido, é um lugar ainda não explorado.
Há um véu que impede a visão, é o lugar da inacessibilidade, comporta a proibição de se aproximar da “sarça ardente”. “O homem não pode ver a face de Deus e continuar vivendo”, diz a Bíblia.
Está cada vez mais difícil encontrar algo que soa verdadeiramente diferente: sair de nossas seguranças para adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo...
É decisivo estarmos dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novas vivências, novas experiências... Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer.
A vida está cheia de possibilidades; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, provocações, aprendizagens, motivos para celebrar... lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...
Portanto, a primeira atitude é sair do “ego” (“sair do seu próprio amor, querer e interesse” – S. Inácio). E isso significa desconstruir nossa linguagem, nossa presença, nossas seguranças, nosso solo nutrício; deixar-nos romper, abrir-nos aos outros e ao grande Outro; não sermos nós o centro do processo a partir de nossas seguranças e daquilo que conhecemos.
“Vivo já fora de mim, porque vivo no Senhor que me quis para si” (S. Teresa de Ávila).
O compromisso é “viver fora de mim”. E “viver fora de mim” implica estar aberto ao inesperado, ao surpreendente, ao desconcertante.
“Dá-me, Senhor, capacidade e valentia para deixar o terreno conhecido, para sair do já sabido, para aprender cada dia aquilo que possa se tornar novidade, surpreendente, diferente” (oração Magis)
A primeira atitude é sair do “ego” (“sair do seu próprio amor, querer e interesse” – S. Inácio). (…) “Vivo já fora de mim, porque vivo no Senhor que me quis para si” (S. Teresa de Ávila) – Adroaldo Palaoro
A “porta estreita” que atravessamos representa a nossa porta pessoal, que precisamos encontrar e atravessar, para deixar o rastro da nossa própria vida neste mundo. O caminho espaçoso representa o que todos usam; o apertado é o caminho que Deus preparou para cada um de nós: é o caminho único e original, no qual vivemos e deixamos transparecer a imagem que Ele tem de cada um de nós.
Na verdade, o caminho estreito leva a um horizonte mais amplo. Nele, alcançamos a harmonia conosco. Aquele que se contenta em seguir os outros não vive de verdade. Nosso processo de humanização só pode ser completado se encontrarmos nosso caminho pessoal e percorrermos por ele.
John Sanford afirma: “O caminho largo é aquele da vida que seguimos de forma inconsciente, é o caminho da menor resistência e da identificação com as massas. O estreito exige consciência e atenção desperta se não quisermos nos desviar do caminho”.
Para meditar na oração:
A experiência de oração é um risco, é uma travessia para um outro “lugar” e deixar-se afetar por este “outro lugar”: lugar provocativo, carregado de uma Presença que chama, que fala, que envia...
“Passar a porta” revela que em toda experiência de oração está implícita a ideia de uma “soleira”, de um “limiar e, portanto, um momento de “passagem”. Não se pode estar “dentro” e “fora” ao mesmo tempo; não se pode ser mero observador na experiência de oração: ou se fica fora da porta, ou se dá o passo que “desinstala”, que “compromete”, que “vincula”.
- Atravesse a “porta” de sua interioridade e viva a intimidade com Aquele que está sempre à sua espera; entre em diálogo com Ele.
A tolerância ocupa hoje um lugar de destaque entre as virtudes mais valorizadas no Ocidente. Todas as pesquisas confirmam isso. Ser tolerante é um valor social cada vez mais difundido. As gerações mais jovens não toleram mais a intolerância ou o desrespeito ao próximo.
Devemos celebrar este novo clima social após séculos de intolerância e violência, muitas vezes perpetradas em nome da religião ou do dogma. Como nossa consciência estremece hoje ao ler obras como o excelente romance O Herege, de Miguel Delibes, e que alegria nossos corações experimentam com seu apaixonado hino à tolerância e à liberdade de pensamento.
Tudo isso não nos impede de criticar um tipo de "tolerância" que, mais do que uma virtude ou um ideal humano, é uma falta de afeição por valores e indiferença ao significado de qualquer projeto humano: cada um pode pensar o que quiser e fazer o que quiser, já que pouco importa o que uma pessoa faz com sua vida. Essa "tolerância" surge quando faltam princípios claros para distinguir o bem do mal, ou quando as exigências morais são diluídas ou reduzidas ao mínimo.
A verdadeira tolerância não é "niilismo moral", nem cinismo, nem indiferença à atual erosão de valores. É respeito pela consciência alheia – José Antônio Pagola
A verdadeira tolerância não é "niilismo moral", nem cinismo, nem indiferença à atual erosão de valores. É respeito pela consciência alheia, abertura a todos os valores humanos e preocupação com o que torna os seres humanos mais dignos desse nome. A tolerância é um grande valor não porque não exista uma verdade objetiva ou moral, mas porque a melhor maneira de abordá-los é por meio do diálogo e da abertura mútua.
Quando isso não acontece, a situação é rapidamente exposta. A tolerância é presumida, mas novas exclusões e discriminações são reproduzidas; o respeito por todos é afirmado, mas quem causa problemas é desqualificado e ridicularizado. Como explicar que, em uma sociedade que se proclama tolerante, a xenofobia ressurja ou o escárnio religioso seja fomentado?
Na dinâmica da verdadeira tolerância, existe o desejo de sempre buscar o melhor para todos os seres humanos. Ser tolerante é dialogar, buscar juntos, construir um futuro melhor sem desconsiderar ou excluir ninguém, mas não é irresponsabilidade, abandono de valores ou negligência com as exigências morais. O chamado de Jesus para entrar pela "porta estreita" nada tem a ver com um rigorismo tenso e estéril. É um chamado para viver sem esquecer as exigências, por vezes prementes, de qualquer vida digna de um ser humano.
O texto do evangelho deste domingo nos apresenta Jesus a caminho de Jerusalém: Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. É um caminho com um destino claro e, embora não diga quais vilas nem quais cidades, relata a atividade que realizava nessa viagem: ensinando e ressaltando a vontade explícita de “prosseguir o caminho para Jerusalém”.
Mais uma vez, Lucas nos apresenta Jesus como um mestre “em caminho”. Ele é alguém que não caminha sozinho, numa peregrinação focada apenas na oração silenciosa e pessoal. Ele instrui enquanto caminha, conversa com as pessoas ao seu redor e responde às suas dúvidas e necessidades. Durante o tempo que passa pelas cidades, o grupo que o acompanha é testemunha de suas curas e de seus diálogos com diferentes pessoas e situações. Nesse andar “alguém lhe perguntou: "Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?" O texto não disse quem fez a pergunta, possivelmente era uma dúvida e incerteza que tinham várias pessoas que escutavam sua mensagem: a questão de se salvar.
Jesus é alguém que não caminha sozinho, numa peregrinação focada apenas na oração silenciosa e pessoal. Ele instrui enquanto caminha, conversa com as pessoas ao seu redor e responde às suas dúvidas e necessidades – Ana Maria Casarotti
Hoje também existe essa pergunta, embora formulada de outra maneira e assim palpita no coração de muitas pessoas: o que acontece depois da morte? O que nos espera do outro lado? Essa pergunta se intensifica diante da morte de alguém querido, e somam-se celebrações e rituais para que “essa pessoa descanse em paz”, como se, do nosso lugar, pudéssemos ajudá-la a viver uma eternidade tranquila...
Tentar prever o nosso futuro, compreender a razão pela qual certos acontecimentos ocorrem, sejam eles bons, sejam eles maus, administrar o nosso presente para conquistar um bom futuro após a morte, acompanha as perguntas de cada pessoa e da humanidade desde sempre. Diante da insegurança do futuro, alguns preferem viver esta vida tentando negar o que causa dor e nos torna conscientes da nossa limitação como criaturas. Ignorar o próprio sofrimento e o que nos rodeia é tentar viver em pequenos submundos que passam, mas que em algum momento serão atingidos por aquilo que tentamos ignorar. Tentar controlar o presente e prever o nosso futuro, como se isso gerasse tranquilidade, é um engano contínuo que busca fechar os olhos à dor, à injustiça, às muitas formas de violência. É fechar os olhos para a dor própria e alheia, para as injustiças que atingem nossas sociedades. É agarrar-se a mentiras que nos tranquilizam e nos transformam em pequenos autômatos que não complicam o sistema.
"Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita”
Jesus não responde diretamente à pergunta feita sobre a salvação, mas convida a viver de uma determinada maneira. E nos deixa uma nova pergunta em aberto: qual é essa porta estreita? Onde a encontramos? A imagem da porta estreita é sugestiva, ainda mais considerando que está falando para um grupo de pessoas que eram geralmente campesinos ou pescadores e suas casas possivelmente não tinham portas. Em que circunstância aparece uma porta? Geralmente uma porta separa um ambiente de outro e em algumas circunstâncias serve para restringir a entrada ou passagem de um espaço com outro.
Tentar controlar o presente e prever o nosso futuro, como se isso gerasse tranquilidade, é um engano contínuo que busca fechar os olhos à dor, à injustiça, às muitas formas de violência – Ana Maria Casarotti
Uma porta estreita deve ser procurada, porque não é fácil de ver à primeira vista, e isso requer um esforço de busca, um diálogo com outras pessoas para ir no caminho dessa porta e assim entrar nela. Para procurar essa porta estreita é preciso viajar com pouca bagagem, ter mobilidade suficiente para percorrer e procurar.
Vivemos em uma sociedade onde se constroem muros que aparentemente protegem determinados grupos de outros, construções que separam e dividem. Lá não há portas que permitam espaços compartilhados ou que protejam uma determinada privacidade e intimidade. Um muro bloqueia o diálogo e, ao contrário, uma porta permite a livre circulação e, ao mesmo tempo, protege do ar frio, do vento e oferece certa proteção.
Em primeiro lugar, Jesus nos convida a fazer o esforço de buscar essa porta estreita que está dentro de nós para que a vida que se esconde nela ilumine nossa existência. Para isso, devemos nos despojar de tudo o que nos pesa, deixar nossas perguntas em suas mãos, colocar nossa vida sob seu olhar para que seja Ele quem nos guie. Ele tem uma resposta de amor para nos dar, mas nos convida a buscá-la, a fazer o esforço para entrar por essa porta!
Uma porta estreita impede a entrada, nesse interior mais íntimo das coisas que são excessivamente grandes. Não é possível entrar aí com uma vida cheia de fardos que engordam a pessoa e impedem viver na lógica do Reino: o egoísmo, a riqueza, o orgulho, o desejo de poder e domínio, a busca de um bem-estar pessoal quando ao nosso redor milhares de pessoas morrem de fome a cada dia. Tudo aquilo que impede a pessoa humana de entrar na lógica do serviço, da partilha, da entrega da própria vida.
Uma porta estreita impede a entrada, nesse interior mais íntimo das coisas que são excessivamente grandes. Não é possível entrar aí com uma vida cheia de fardos que engordam a pessoa e impedem viver na lógica do Reino: o egoísmo, a riqueza, o orgulho, o desejo de poder e domínio, a busca de um bem-estar pessoal quando ao nosso redor milhares de pessoas morrem de fome a cada dia – Ana Maria Casarotti
Considerando a imagem de proteção, podemos perguntar-nos qual é o tesouro que devemos manter cuidadosamente e exige-nos vigilância para que não seja arrebatado por qualquer vento que sopra ao nosso redor. A salvação chega quando aceitamos Jesus e procuramos seguir suas pegadas. Essa é a porta estreita, uma porta única que leva à vida. A porta estreita converte-se assim em porta grande aberta a todos e todas, sem exclusivismos. Todos somos convidados a seguir o caminho do Senhor. A abertura à universalidade não dilui o conteúdo do convite!
Deixamos ressoar no nosso interior as palavras do Papa Francisco no sábado 28 de agosto 2012 na audiência na Sala Paulo VI:
“Alguns acham que a porta é deles e colocam um cadeado nela e fecham para eles. Outros têm medo de bater à porta. É esse medo que temos de saber se seremos recebidos e aceitos. Outros querem entrar, mas têm medo da porta e tentam entrar pela janela. E assim podemos imaginar tantas situações e me perguntar, que relação tenho com a porta? A porta é Deus, então qual é a minha relação com a porta?”
Nós, homens e mulheres da Igreja, aprendamos a abrir sempre a porta e a ter um ouvido atento a quem bate à porta às vezes com dificuldade. (“Rezar para que a Igreja aprenda a abrir sempre a porta a quem bate, às vezes com força”)
Nos capítulos 9 a 19, Lucas apresenta Jesus caminhando para Jerusalém (Lucas 9,51-53; 13,22). Às pessoas que o seguem pelo caminho, Jesus propõe jeitos novos de comunhão com Deus como espaços de liberdade e de libertação.
A narrativa do evangelho proposta para este final de semana encontra-se em Lucas 13,22-30. Nela, Jesus deixa claro que faz parte do seu projeto de libertação quem anda no caminho da justiça, isto é, que entra pela porta estreita da casa do Reino.
Neste relato, mais uma vez encontramos Jesus ensinando abertamente nas cidades e aldeias. Assim, anuncia o caminho da justiça a todas as pessoas, independente de sua cultura ou etnia. Jesus dirige-se decididamente para Jerusalém, onde enfrentará os poderes da injustiça, e que o condenarão à morte (cf. Lucas 13,22).
Podemos dividir a catequese sobre o caminho do discipulado em quatro momentos.
“Senhor, são poucos os que se salvam?” (Lucas 13,22-23)
Jesus “passava por cidades e aldeias e caminhava para Jerusalém”. Essa informação não está à toa no lugar em que se encontra. É que o tema fundamental desta narrativa é a respeito do caminho que leva à salvação.
É justamente no caminho para Jerusalém, o caminho do seguimento (Lucas 9,51-19,48), que Jesus vai clareando qual é o projeto para as pessoas que decidem segui-lo. É o caminho da não violência (Lucas 9,51-56), da prioridade do anúncio do Reinado de Deus (Lucas 9,57-62). É levar a todos os povos do mundo a paz, a saúde, a boa-nova do Reino e a superação de todas as forças maléficas (Lucas 10,1-20). É priorizar os pequeninos (Lucas 10,21-25), bem como a única lei, a do amor pleno, que se traduz, a exemplo do samaritano, em solidariedade com quem sofre discriminação e violência (Lucas 10,26-37).
O caminho
Para não nos alongarmos, lembramos ainda que o caminho do discipulado é o da partilha (Lucas 12,33-34), ao contrário da ganância do homem rico (Lucas 12,16-21) e do rico avarento (Lucas 16,19-31). Só por isso, já é possível perceber que a porta para entrar nesta casa do Reino é estreita, muito estreita. Além de exigir renúncia e desapego, esforço e perseverança, ela enfrenta interesses pesados, sejam eles políticos, econômicos ou religiosos.
Não é por acaso que o texto informa que Jesus está a caminho de Jerusalém, onde viverá o desfecho deste conflito, sendo condenado à morte pelos poderes religiosos e imperiais, agora de braços dados (Lucas 13,31-35; 23). A porta estreita da justiça também é a porta da cruz (Lucas 18,31-34).
É neste contexto que um judeu anônimo em meio ao povo pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” No judaísmo daquele tempo, era pensamento comum que somente os judeus eram o povo eleito e que a salvação era para eles. É verdade também que judeus mais piedosos pensavam que não bastava ser judeu. Era preciso também viver a lei de Deus em todos os seus detalhes.
Jesus, no entanto, não responde a pergunta. Em vez de dizer quantos se salvam, Jesus deixa claro que a salvação não pertence a nenhum povo especial ou a nenhum grupo privilegiado. Ela é de todas as pessoas que lutam para entrar pela porta estreita.
“Lutai para entrar pela porta estreita” (Lucas 13,24)
Jesus esclarece que há duas portas, dois caminhos. Um é estreito e o outro é largo. Jesus se refere a que portas? São, na verdade, dois projetos de vida.
Ainda no caminho para Jerusalém, Jesus resume esses dois projetos da seguinte forma: “Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará a outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lucas 16,13).
De um lado, temos o projeto do dinheiro. Entrar pela porta deste projeto não exige esforço. Ela é larga e tem como místicao individualismo, o consumismo e a busca de riqueza individual como sentido de vida.
O outro projeto é o Reino de Deus e a sua justiça. Entrar pela porta deste projeto exige esforço. Seguir este caminho é deixar o individualismo e a acomodação, o pensar somente em si e o acumular. Entrar pela porta da equidade requer acolhida e solidariedade, partilha e superação de preconceitos. Tudo isso exige conversão permanente aos valores de Deus. E Jesus tem claro que, diante das facilidades que o outro caminho oferece, é preciso esforçar-se para ser fiel ao plano de Deus.
Essa foi sua experiência na luta contra as propostas diabólicas deste mundo, isto é, a fama, o poder e a riqueza (cf. Lucas 4,1-13).
Adiante, no próprio evangelho deste domingo, veremos que o segundo projeto é a prática da injustiça. Assim, Jesus deixa-nos claro que lutar para entrar pela porta estreita é o mesmo que praticar a justiça.
“Afastai-vos de mim, vós todos, praticantes da injustiça” (Lucas 13,25-28)
Na sequência, Jesus conta uma parábola a respeito de um banquete a portas fechadas, o banquete do Reino. Ali, terão lugar os praticantes da justiça.
Não entra pela porta do Reino quem optar pela prática da iniquidade. É o contrário do projeto da porta estreita.
Quem pratica a injustiça exclui-se da casa do Reino. Ali não entrará, pois busca portas largas e cheias de facilidades. É que a porta da casa do Reino é restrita. E não é Jesus quem exclui ou fecha a porta. Quem pratica a injustiça está apegado à riqueza, ao poder e ao consumismo. Está muito “gordo” para passar na porta da justiça. E, então, não existe chance para ele? Sim, há. Porém, precisa queimar muita “gordura”, a gordura da injustiça com todos os seus frutos de violência, de discriminação e de exclusão.
Vimos acima como Jesus se referiu aos dois caminhos fundamentais. De um lado, o projeto de Deus que gera vida em abundância (João 10,10) e, de outro, o projeto do dinheiro. E “no amor ao dinheiro está a origem de todos os males” (1Timóteo 6,10).
Conhecemos também quais são os frutos de quem adere a esse projeto da porta larga. Para quem busca esta porta não servem desculpas. Não adianta dizer “nós comemos e bebemos contigo e ensinaste em nossas praças” (Lucas 13,26). Não basta somente participar na comunidade, nas liturgias e na catequese. É preciso muito mais.
É preciso o essencial: praticar a justiça. A vida comunitária tem sentido quando celebra e fortalece a luta para entrar pela porta estreita, a prática da justiça.
A boa-nova de Jesus é para todas as pessoas que lutam pela justiça (Lucas 13,29-30)
Por fim, em vez de Jesus responder ao judeu anônimo quantas pessoas se salvam, se são poucas ou muitas, Jesus aproveita a oportunidade para mostrar que a boa-nova do Reino não pertence a nenhuma pessoa ou movimento, povo ou grupo privilegiados. A salvação, a participação no Reino, não é mérito de ninguém. No entanto, faz parte do Reino quem decidir com firmeza pela porta do discipulado, a porta estreita. E esta requer esforço.
E mais. Esta porta da justiça não tem fronteiras. Não existe ali um porteiro que faz uma triagem prévia. O direito de passar por essa porta não é exclusivo de nenhum movimento religioso ou filosófico. Na porta estreita passam todas as pessoas de boa vontade e que estão abertas ao caminho da equidade, independente da cor da pele, da idade, do sexo, da religião. Pois outro será o critério. Será a prática da justiça, que gera pessoas recriadas, que produzem frutos de partilha e de solidariedade, de liberdade e de vida.
Concluindo
Em Mateus 25,34-36, Jesus recorda o que caracteriza uma pessoa justa: é todo aquele que se solidariza com quem está com fome e com sede, sem roupa e sem casa, sem saúde e sem liberdade. Nisso, aliás, consiste a verdadeira religião: “assistir os órfãos e as viúvas em suas aflições, conservando-se sem mancha neste mundo” (Tiago 1,27). E, segundo Amós 5,24, o verdadeiro culto a Deus é aquele em “que o direito corre como a água e a justiça como um rio perene”.
O Livro de Atos dos Apóstolos, que foi escrito pelos mesmos autores do evangelho segundo Lucas, resume em poucas palavras essa perspectiva universal do Reino, tema do evangelho deste final de semana. Assim afirma o judeu Pedro na casa do gentio Cornélio: “Na verdade, eu me dou conta que Deus não faz acepção de pessoas e de que, em toda nação, quem lhe for fiel e praticar a justiça é acolhido por ele” (Atos 10,34-35).
Lutai, portanto, para entrar pela porta estreita, a porta da casa do Reino.
1. Leitura (Verdade)
A porta estreita
A vida cristã não é possível para pessoas acomodadas e medíocres. É exigente. Jesus diz\ isto quando nos fala da porta estreita como caminho para a vida. Porta estreita é renunciar a algo que me parece prazeroso, mas de consequências negativas que podem prejudicar a mim ou a outras pessoas. Porta estreita pode ser fechar-me a propostas fascinantes mas que não são transparentes, ocultando corrupção, desvios, más intenções. Porta estreita pode ser renunciar a querer apenas me beneficiar, excluindo outras pessoas de participar de bens que Deus concedeu a todos. Porta estreita é manter-me em silêncio para não criticar nem julgar as pessoas com quem convivo. Jesus não fala de uma grande avenida. Ele próprio é o Caminho. Olhemos para sua prática e aprenderemos por onde devemos passar. Não mudemos de Caminho para não corrermos o risco de perder o endereço e assim, também nós nos perdermos. Nem nos deixemos fascinar pelas portas amplas e escancaradas. Elas podem ser atraentes, mas nos conduzir ao engano e não, a Deus.
2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
Fala-me Jesus de atitudes cristãs que deve assumir qualquer pessoa que é batizada, entre elas, eu. Nada de mediocridade.Seguir Jesus Cristo implica também a cruz. Os bispos, na V Conferência disseram: “Hoje se considera escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte (cf. Dt 30.15). Caminhos de morte são os que levam a dilapidar os bens que recebemos de Deus através daqueles que nos precederam na fé. São caminhos que traçam uma cultura sem Deus e sem seus mandamentos ou inclusive contra Deus, animada pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero, a qual termina sendo uma cultura contra o ser humano e contra o bem dos povos latino-americanos. Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à “plenitude de vida que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural”. Essa é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque “é o amor que dá a vida”. Estes caminhos frutificam nos dons de verdade e de amor que nos foram dados em Cristo, na comunhão dos discípulos e missionários do Senhor” (DAp 13).
3.Oração (Vida)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, espontaneamente, e, se for pela manhã, faço a:
Oração da manhã
Senhor, nós te agradecemos por este dia.
Abrimos nossas portas e janelas para que tu possas
Entrar com tua luz.
Queremos que tu Senhor, definas os contornos de
Nossos caminhos,
As cores de nossas palavras e gestos,
A dimensão de nossos projetos,
O calor de nossos relacionamentos e o
Rumo de nossa vida.
Podes entrar, Senhor em nossas famílias.
Precisamos do ar puro de tua verdade.
Precisamos de tua mão libertadora para abrir
Compartimentos fechados.
Precisamos de tua beleza para amenizar
Nossa dureza.
Precisamos de tua paz para nossos conflitos.
Precisamos de teu contato para curar feridas.
Precisamos, sobretudo, Senhor, de tua presença
Para aprendermos a partilhar e abençoar!
4.Contemplação (Vida e Missão)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar é atento aos ensinamentos de Jesus, à discernir e escolher entre as portas largas e a porta estreita.
(Confira a tradução com o original em espanhol que está no final da página)
21º DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
É bom começar anotando uma sugestão do Pe. Tenna 1 , que acredita que deste domingo, dia 21, a domingo, dia 27, entramos na segunda etapa da jornada para Jerusalém, uma etapa sapiencial que contém principalmente ensinamentos sobre a vida cristã . Essa divisão, segundo alguns comentaristas, corresponde ao próprio Evangelho de São Lucas. Por exemplo, L. Sabourin 2 acredita que com o Evangelho deste domingo começa a segunda parte da jornada de Jesus para Jerusalém.
1ª Leitura (Is 66,18-21):
Este texto, pertencente ao último capítulo de Isaías, é impressionante por sua abertura universalista, visto que, de alguma forma, abre os dons salvíficos de Israel a todas as nações. Tão surpreendente é isso que alguns comentaristas se inclinam a considerar que, na verdade, se refere exclusivamente aos israelitas deportados que estão dispersos entre as nações. A base para essa posição reside na relação desta passagem com o restante do Livro de Isaías e, em particular, com este último capítulo, que se concentra no retorno da Diáspora . 3 Em contraste, a visão tradicional, talvez influenciada pela visão cristã, reconhece uma verdadeira abertura universalista e até mesmo um espírito missionário. Ou seja, "a admissão de estrangeiros em Sião não é apenas uma questão de ordem da comunidade, mas também da vontade de Deus para a integração do mundo das nações. Se esses povos partirem para Jerusalém, trarão consigo os judeus da Diáspora que ainda vivem entre eles. " 4
A leitura litúrgica nos inclina a esta segunda opinião, pois nos prepara para o que ouviremos no final do Evangelho de hoje. Mesmo além dessas opiniões, fica claro que se trata de uma inversão de situações, pois aqueles que estão longe são chamados a se aproximar para ver a glória de Deus; e aqueles que não podem ser sacerdotes ou levitas (porque não pertencem à tribo sacerdotal de Levi) serão consagrados. Isso é algo novo que Deus fará no fim dos tempos, como Ele diz logo abaixo, no versículo 22, que não é lido hoje ("Como os novos céus e a nova terra que estou prestes a criar..."). E para nós, também representa algo novo, porque: "o Senhor pretende que esta profecia abra nossas mentes para as dimensões da convivência interétnica, intercultural e inter-religiosa que nos desafia a todos hoje como um verdadeiro desafio. " 5
Evangelho (Lc 13, 22-30):
Primeiro, Lucas nos lembra novamente que Jesus está a caminho de Jerusalém com seus discípulos e que "no caminho" ele está ensinando . Jesus, o Mestre, frequentemente ensina respondendo a perguntas e questões que lhe são colocadas. A pergunta de hoje é: "São poucos os que se salvam?" (εἰ ὀλίγοι οἱ σῳζόμενοι).
Parece que esta questão não aborda tanto a questão da quantidade, mas sim contém uma preocupação mais subjetiva, a saber, a questão da salvação pessoal. Esta é a opinião de F. Bovon 6 : "Como sugere a resposta de Jesus, o que preocupa o ouvinte anônimo não é tanto a questão objetiva da quantidade, mas sim sua preocupação subjetiva de fazer parte desse número. Com sua resposta, Jesus confirmará a preocupação do ouvinte: à questão do pequeno número, ele contraporá a observação do número daqueles que não podem. O interlocutor e Jesus concordam neste ponto: poucos se salvaram e muitos se perderam. Portanto, a ameaça é grande."
A resposta de Jesus vai além de todos os cálculos, pois não se concentra em quantos são salvos, mas em como são salvos; e é por isso que ele nos exorta a "lutar" para entrar pela porta estreita. De fato, o Evangelho usa o verbo agonizomai (agwni, zomai), que tem o sentido de luta ou esforço permanente. Encontramos isso neste sentido, por exemplo, em 1 Tm 6,12: " Combata o bom combate da fé, tome posse da vida eterna, para a qual você foi chamado e para a qual fez a confissão solene diante de muitas testemunhas"; e em 2 Tm 4,7: " Combati o bom combate até o fim , completei a minha carreira, guardei a fé".
Portanto, "Jesus não responde diretamente, mas nos exorta veementemente à conversão, visto que estamos dentro do tempo livremente concedido para isso (cf. 13,8ss). Devemos esforçar-nos seriamente para entrar pela porta que conduz à salvação, pois ela é estreita." 7
O texto paralelo de Mateus 7:13-14 esclarece melhor o significado de entrar pela "porta estreita": "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos entram por ela. Mas estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos a encontram." Há duas portas aqui: uma que leva à salvação e é estreita; e outra que leva à destruição e é larga. A versão de Lucas é mais radical: há apenas um caminho que leva à salvação, e sua entrada é estreita; ou seja, entrar por ela não é confortável nem apertado, então muitos tentarão entrar, mas não conseguirão. Em Lucas, as duas opções são: a "porta estreita" ou a "porta fechada", que nos convida de forma mais dramática a tomar a decisão certa agora pelo Reino de Deus.
A parábola a seguir desenvolve essa posição dizendo que, em determinado momento, o portão se fechará e ninguém poderá entrar. E mesmo que aqueles que ficaram de fora clamem para entrar, alegando ter conhecido o Senhor, já será tarde demais. Jesus parece estar usando a imagem dos portões das cidades muradas que se fechavam ao cair da noite.
Este breve relato enfatiza a sinceridade da decisão por Cristo , pois não bastava tê-Lo visto, ouvido e passado adiante. Era necessário tê-Lo seguido, dedicar a vida a Ele.
O que se segue no Evangelho sugere que, em seu sentido original, esta parábola era uma crítica aos israelitas, que pensavam que sua salvação estava garantida simplesmente por pertencerem ao povo eleito. Jesus lhes diz que, por não escolherem Deus, seu Messias e a conversão, serão excluídos do banquete do Reino. E uma vez fechada a porta, não haverá espaço para reclamações.
Quanto ao juízo final, é interessante compará-lo com Mateus 8:11-12, onde apenas duas direções são indicadas: Oriente e Ocidente. A Oriente está a Babilônia, o lugar do exílio; e a Ocidente está o Egito, o lugar da escravidão. Os quatro pontos cardeais mencionados por Lucas são um sinal da abertura universal e missionária característica deste Evangelho .
A frase final, "pois há últimos que serão primeiros, e há primeiros que serão últimos", repetida no Evangelho, alude à inversão das circunstâncias que ocorrerá no julgamento de Deus. Há últimos — pecadores e pagãos — que, por se terem convertido e entrado pela porta estreita, serão os primeiros; e há primeiros — judeus e aqueles que se consideram justos — que serão os últimos por não se converterem. Por meio dessa frase, Jesus adverte seus compatriotas a não se sentirem seguros naquilo que pensam ser — o povo escolhido de Deus — porque, se não houver uma resposta concreta e vivificante, ela não lhes servirá de nada. E Lucas estende isso aos cristãos que adormeceram ou se deixaram levar.
Como bem observa L. Sabourin 8 , o texto de hoje tem como tema fundamental a entrada no Reino e destaca particularmente duas ideias: a urgência de fazer o necessário para ser admitido no Reino antes que seja tarde demais; e o verdadeiro arrependimento como condição indispensável para a admissão .
ALGUMAS REFLEXÕES:
O Evangelho fala muito sobre entrar no Reino de Deus para encontrar a salvação. Por isso, é natural que nos perguntemos como entrar no Reino, ou, em outras palavras, que tipo de porta existe para entrar — larga ou estreita?
Jesus nos diz antes de tudo que a porta está aberta a todos , ou seja, todos somos convidados a entrar por ela; ninguém deve se sentir excluído do amor do Pai que nos quer dar o Reino.
Mas Jesus também nos diz que a porta é estreita , o que significa que não é fácil entrar; precisamos abrir mão de muitas coisas para passar. Dessa forma, ele nos alerta e nos lembra da necessidade de conversão. É bom lembrar, então, que a conversão cristã muitas vezes envolve não seguir o caminho da maioria, como bem explicou o então Cardeal J. Ratzinger: "A palavra grega para 'converter' significa: mudar a mentalidade, questionar o próprio modo de viver e o modo de viver comum, deixar Deus entrar nos critérios da própria vida, não mais julgar simplesmente de acordo com as opiniões correntes. Consequentemente, conversão significa parar de viver como todos os outros vivem, parar de agir como todos os outros agem, parar de se sentir justificado em atos duvidosos, ambíguos, maus porque os outros fazem o mesmo; começar a ver a própria vida com os olhos de Deus; portanto, tentar fazer o bem, mesmo que seja desconfortável; não depender do julgamento da maioria, dos outros, mas do julgamento de Deus. Em outras palavras, buscar um novo modo de vida, uma nova vida" 9 .
A outra coisa que Jesus nos diz é que esta porta se fechará em breve e ninguém poderá entrar. À primeira vista, o texto do Evangelho de hoje pode parecer duro, pois o Senhor os deixa do lado de fora gritando e não abre a porta. Notemos, em primeiro lugar, que estas são palavras de advertência ou admoestação, para evitar que fiquem do lado de fora. E notemos também que a misericórdia de Deus não está em desacordo com as exigências, nem o seu amor está em desacordo com a verdade e o juízo. A sua misericórdia não se identifica com a tolerância sem limites, que não pede nem exige nada. É a bondade e o amor de um Pai que sabe exigir e corrigir . O exemplo da segunda leitura de hoje nos ajuda aqui. Precisamente porque é Pai e nos ama, Ele nos corrige e exige. A este respeito, o Papa Francisco nos disse: "Mas se Deus é bom e nos ama, por que chegará o momento em que Ele fechará a porta? Porque a nossa vida não é um videogame ou uma novela; a nossa vida é séria, e o objetivo a ser alcançado é importante: a salvação eterna."
Entendo que é necessário ler estas afirmações no contexto de todo o Evangelho, e ainda mais no de Lucas, para não esquecer a vontade salvífica universal de Deus . Deus deseja todos os homens em seu Reino; por isso, ele o oferece a todos na Pessoa de Jesus. Cabe ao homem recebê-lo crendo nele e vivendo segundo ele, e assim, o Reino de Deus começa a se fazer presente entre os homens. Portanto, sempre haverá uma tensão em torno da salvação dos homens, que se resolve, em parte, em nível pessoal, pois o que falta para que o Reino esteja presente é a resposta humana: fé e conversão. Ou seja, entrar pela porta estreita.
Os textos que seguem o Evangelho de hoje (e que leremos nos próximos domingos) nos mostrarão com clareza as exigências concretas da vida de um discípulo de Cristo e são a melhor explicação do que significa que a porta seja estreita. Para este domingo, basta insistir na importância e na necessidade de uma decisão clara de entrar no Reino de Deus . A passividade e até mesmo o fato de ter ouvido falar de Cristo não bastam. Devemos escolhê-lo claramente com toda a nossa vida. E não devemos nos alarmar com o fato de que poucos realmente façam essa escolha. Mais do que números e quantidade, o que importa é esforçar-se para entrar por esta porta estreita, pois não há outra.
Em suma , devemos aceitar que a porta é estreita e seria desonesto tentar alargá-la; essa não é a nossa missão. Podemos, no entanto, pedir ao Senhor que todos tenhamos forças para entrar pela porta estreita. E é nossa missão manter a porta aberta neste tempo de misericórdia, não fechá-la prematuramente e continuar convidando e motivando os cristãos a entrarem por ela com uma vida cristã consistente.
A este respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 21 de agosto de 2022: “Pensemos, então, em quando Jesus diz: ‘Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, estará seguro’ (Jo 10,9). Ele quer nos dizer que, para entrar na vida de Deus, na salvação, é preciso passar por Ele, não por outro, mas por Ele; é preciso acolhê-Lo e à Sua Palavra. Assim como para entrar na cidade era preciso “medir-se” com a única porta estreita que permanecia aberta, da mesma forma, a vida do cristão é uma vida “feita à medida de Cristo”, fundada e plasmada n’Ele. Isso significa que a medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. Portanto, é uma porta estreita não porque seja destinada a poucos, mas porque pertencer a Jesus significa segui-Lo, comprometer a própria vida no amor, no serviço e na entrega, como Ele fez, que passou pela porta estreita da cruz. Entrar no projeto de vida que Deus propõe Para nós, significa limitar o espaço para o egoísmo, reduzir a arrogância da autossuficiência, descer das alturas do orgulho e da arrogância, superar a preguiça para correr o risco do amor, mesmo quando isso significa a cruz […] Irmãos e irmãs, de que lado queremos estar? Preferimos o caminho fácil de pensar exclusivamente em nós mesmos, ou escolhemos a porta estreita do Evangelho, que desafia o nosso egoísmo, mas nos torna capazes de acolher a vida verdadeira que vem de Deus e nos faz felizes? De que lado estamos? Que a Virgem, que seguiu Jesus até a cruz, nos ajude a medir a nossa vida a partir d’Ele, para entrarmos na vida plena e eterna.
PARA A ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO): A última
Senhor, ensina-nos a ser os últimos
Aqueles que podem esperar um velho atravessar a rua
Descreva detalhes para uma criança pequena
Senhor, ensina-nos a ser os últimos
Aqueles que conseguem ceder mesmo quando estão com pressa
E ouça pacientemente aqueles que precisam.
Senhor, ensina-nos a ser os últimos
Dando a nossa opinião vencendo a ansiedade
Servindo alguém que certamente não nos recompensará
Senhor, ensina-nos a ser os últimos
Em nossas famílias, em nossas próprias casas
Não é óbvio para nós sermos gratos, pedir permissão e perdoar.
Senhor, ensina-nos a ser os últimos
Para nos enchermos de alegria porque podemos aspirar
Ao primeiro lugar que prometeste, na eternidade. Amém.
1 El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C (CPL; Barcelona 1991) 112.
2 O Evangelho de Lucas (PUG; Roma 1992) 263.
3 Por exemplo, J. S. Croato insiste que "devemos tentar compreender a unidade 66:18-24 da perspectiva da diáspora judaica em todo o mundo. As nações, tão frequentemente mencionadas, não intervêm como tais, mas sempre em relação à presença dos israelitas em seu meio. A partir dessa abordagem inicial, os textos são mais coerentes do que a crítica bíblica pensou e continua a pensar", Imaginando o Futuro. Estrutura Retórica e Kerigma do Terceiro Isaías (Lumen; Buenos Aires 2001) 480.
4 U. Berges, Isaías. O Profeta e o Livro (Verbo Divino; Estella 2011) 127.
5 G. Zevini – PG Cabra, Lectio Divina para cada dia do ano 15 (Verbo Divino; Estella 2006) 198. 6 F. Bovon, O Evangelho segundo São Lucas II , 523.
7 A. Rodríguez Carmona, Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 259.
8 O Evangelho de Lucas (PUG; Roma 1992) 263.
9 Cardeal J. Ratzinger, A Nova Evangelização. Discurso proferido no Jubileu dos Catequistas , 10 de dezembro de 2000, Roma.
DOMINGO XXI DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
Es bueno comenzar tomando nota de una sugerencia de P. Tenna1 quien considera que a partir de este domingo 21 y hasta el domingo 27 entramos en la segunda etapa del camino a Jerusalén, una etapa sapiencial que contiene principalmente enseñanzas sobre la vida cristiana. Esta división, según algunos comentaristas, responde al mismo evangelio de San Lucas. Por ejemplo L. Sabourin2 piensa que con el evangelio de este domingo comienza la segunda parte del viaje de Jesús a Jerusalén.
1ra. Lectura (Is 66,18-21):
Este texto perteneciente al último capítulo de Isaías sorprende por su apertura universalista pues, de algún modo, abre los dones salvíficos propios de Israel a todas las naciones. Tan sorprendente es que algunos comentaristas se inclinan por considerar que en realidad se está refiriendo exclusivamente a los deportados israelitas que se encuentran dispersos por las naciones. La fundamentación de esta postura está en la relación de esta perícopa con el resto del libro de Isaías y, en particular, con este último capítulo centrado en el retorno de la diáspora3. En cambio, la opinión tradicional, tal vez influenciada por la visión cristiana, reconoce una verdadera apertura universalista e incluso un ánimo misionero. Es decir, “la admisión de extranjeros en Sión no es sólo una cuestión del orden de la comunidad, sino también de la voluntad divina para la integración del mundo de las naciones. Si estos pueblos se ponen en camino hacia Jerusalén, traerán consigo a los judíos de la diáspora que todavía viven entre ellos”4.
La lectura litúrgica nos inclina por esta segunda opinión, pues nos prepara para lo que escucharemos al final del evangelio de hoy. Incluso, más allá de estas opiniones, es claro que se trata de una inversión de situaciones por cuanto los que están lejos son llamados a acercarse para ver la gloria de Dios; y los que no pueden ser sacerdotes ni levitas (por no pertenecer a la tribu sacerdotal de Leví) serán consagrados. Se trata de algo nuevo que hará Dios al final de los tiempos, como dice justamente a continuación en el versículo 22 que no se lee hoy ("Como el cielo nuevo y la tierra nueva que voy a crear…"). Y para nosotros representa también una novedad por cuanto: “esta profecía el Señor quiere abrir nuestra mente a las dimensiones de la convivencia interétnica, intercultural e interreligiosa que nos interpela hoy a todos como un auténtico desafío”5.
Evangelio (Lc 13, 22-30):
En primer lugar, Lucas nos vuelve a recordar que Jesús va camino a Jerusalén con sus discípulos y que "de camino" se dedica a la enseñanza. Jesús Maestro suele enseñar respondiendo a preguntas y cuestiones que le plantean. La pregunta de hoy es: "¿son pocos los que se salvan? (εἰ ὀλίγοι οἱ σῳζόμενοι)".
Al parecer esta pregunta no apunta tanto a la cuestión de la cantidad, sino que encierra una preocupación más subjetiva como es la cuestión de la salvación personal. Esta es la opinión de F. Bovon6: "Como da a entender la respuesta de Jesús, lo que inquieta al oyente anónimo no es tanto la cuestión objetiva de la cantidad, sino su preocupación subjetiva de estar en ese número. Con su respuesta, Jesús confirmará la inquietud del oyente: a la cuestión del pequeño número, opondrá la constatación del número de los que no pueden. El interlocutor y Jesús están de acuerdo en este punto: pocos salvados y muchos perdidos. Por tanto, la amenaza es grande".
La respuesta de Jesús va más allá de todo cálculo pues no se detiene en cuántos se salvan sino en cómo se salvan; y por eso exhorta a "luchar" para entrar por la puerta estrecha. De hecho, el evangelio utiliza el verbo agonízomai (agwni ,zomai) que tiene el sentido de lucha o esfuerzo permanente. Lo encontramos con este sentido, por ejemplo, en 1Tim 6,12: "Combate el buen combate de la fe, conquista la vida eterna a la que has sido llamado y de la que hiciste aquella solemne profesión delante de muchos testigos"; y en 2Tim 4,7: "he peleado hasta el fin el buen combate, concluí mi carrera, conservé la fe".
Por tanto, “Jesús no responde directamente sino que exhorta vehementemente a la conversión, pues estamos en el plazo gratuitamente concedido para ello (cf. 13,8s). Hay que esforzarse seriamente por entrar por la puerta que conduce a la salvación, pues es estrecha.”7
El texto paralelo de Mt 7,13-14 clarifica mejor el sentido del entrar por la "puerta estrecha": "Entren por la puerta estrecha, porque es ancha la puerta y espacioso el camino que lleva a la perdición, y son muchos los que van por allí. Pero es angosta la puerta y estrecho el camino que lleva a la Vida, y son pocos los que lo encuentran". Hay aquí dos puertas, una que conduce a la salvación y es estrecha; y otra que lleva a la perdición y es ancha. La versión de Lucas es más radical: hay un único camino que lleva a la salvación y cuya puerta de ingreso es estrecha, vale decir que no es cómodo ni masivo el ingreso por la misma, por lo que muchos pretenderán entrar, pero no podrán. En Lucas las dos opciones son: la "puerta estrecha" o la "puerta cerrada"; con lo cual invita más dramáticamente a tomar ya la decisión correcta por el Reino de Dios.
La parábola que sigue desarrolla esta posición por cuanto dice que en cierto momento la puerta se cerrará y ya no se podrá entrar más. Y aunque los que quedaron afuera reclamen por entrar alegando haber conocido al Señor, ya será demasiado tarde. Al parecer, Jesús toma la imagen de las puertas de las ciudades amuralladas que se cerraban al caer la tarde.
Este breve relato pone el acento en la sinceridad de la decisión por Cristo, pues no alcanza con haberlo visto, escuchado y luego dejado pasar. Era necesario haberlo seguido, comprometer la vida por Él.
Lo que sigue del evangelio nos sugiere que en su sentido original esta parábola era una crítica a los israelitas quienes pensaban tener asegurada la salvación por la sola pertenencia al pueblo elegido. Jesús les dice que, al no haber optado por Dios, por su Mesías y por la conversión, quedarán fuera del banquete del Reino. Y una vez cerrada la puerta, no habrá lugar para reclamos.
En cuanto a la sentencia final, es interesante compararla con Mt 8,11-12 donde sólo se indican dos direcciones: Oriente y Occidente. Al Oriente está Babilonia, el lugar del destierro; y a Occidente Egipto, el lugar de la esclavitud. Los cuatro puntos cardinales que trae Lucas son signo de la apertura universal y misionera propia de este evangelio.
La frase final "pues hay últimos que serán primeros y hay primeros que serán últimos", repetida en el evangelio, hace alusión a la inversión de situación que se dará en el juicio de Dios. Hay últimos – pecadores y paganos – que por haberse convertido y entrado por la puerta estrecha serán primeros; y hay primeros – judíos y los que se creen justos – que serán últimos por no convertirse. Mediante esta sentencia Jesús advierte a sus compatriotas para que no se sientan seguros por lo que piensan que son – el pueblo elegido por Dios –; pues si no hay respuesta concreta, de vida, de nada les vale. Y Lucas lo hace extensible a los cristianos que se han dormido o dejado estar.
Como bien nota L. Sabourin8, el texto de hoy tiene como tema fundamental el ingreso en el Reino y acentúa en particular dos ideas: la urgencia de hacer lo necesario para ser admitido en el Reino antes de que sea demasiado tarde; y el verdadero arrepentimiento como condición indispensable de admisión.
ALGUNAS REFLEXIONES:
En el evangelio se nos habla mucho de entrar en el Reino de Dios para encontrar la salvación. Entonces es lógico que nos preguntemos cómo entrar en el Reino o, en otras palabras, qué tal es la puerta para entrar, ancha o estrecha.
Jesús nos dice en primer lugar que la puerta está abierta a todos, vale decir que todos somos invitados a entrar por ella; nadie debe sentirse excluido del amor del Padre que quiere darnos el Reino.
Pero también nos dice Jesús que la puerta es estrecha, lo cual quiere decir que no es fácil entrar, hay que desprenderse de muchas cosas para poder pasar. De este modo nos advierte y recuerda la necesidad de la conversión. Es bueno recordar entonces que la conversión cristiana conlleva muchas veces no seguir el camino de la mayoría, como bien lo explicaba el entonces Cardenal J. Ratzinger: "La palabra griega para decir "convertirse" significa: cambiar de mentalidad, poner en tela de juicio el propio modo de vivir y el modo común de vivir, dejar entrar a Dios en los criterios de la propia vida, no juzgar ya simplemente según las opiniones corrientes. Por consiguiente, convertirse significa dejar de vivir como viven todos, dejar de obrar como obran todos, dejar de sentirse justificados en actos dudosos, ambiguos, malos, por el hecho de que los demás hacen lo mismo; comenzar a ver la propia vida con los ojos de Dios; por tanto, tratar de hacer el bien, aunque sea incómodo; no estar pendientes del juicio de la mayoría, de los demás, sino del juicio de Dios. En otras palabras, buscar un nuevo estilo de vida, una vida nueva"9.
Lo otro que nos dice Jesús es que esta puerta en un momento se va a cerrar y ya no se podrá entrar. A primera vista el texto del evangelio de hoy puede parecer duro pues el Señor los deja afuera gritando y no les abre. Notemos primero que son palabras de advertencia o aviso, para evitar que se queden afuera. Y también notemos que la misericordia de Dios no está reñida con la exigencia, ni su Amor con la verdad y el juicio. Su misericordia no se identifica con una tolerancia sin límites, que no pide ni exige nada. Es la Bondad y el Amor de un Padre que sabe exigir y corregir. Nos ayuda aquí el ejemplo de la segunda lectura de hoy. Justamente porque es Padre y nos ama, nos corrige y nos exige. Sobre esto nos decía el Papa Francisco “Pero si Dios es bueno y nos ama, ¿por qué llegará el momento en que cerrará la puerta? Porque nuestra vida no es un videojuego o una telenovela; nuestra vida es seria y el objetivo que hay que alcanzar es importante: la salvación eterna”.
Entiendo que es necesario leer estas afirmaciones en el contexto de todo el evangelio y, más aún, en el de Lucas para no olvidar la voluntad salvífica universal de Dios. Dios quiere a todos los hombres en su Reino, por eso lo ofrece a todos en la Persona de Jesús. Toca al hombre recibirlo creyendo en él y viviendo según él y, de esta manera, comienza a hacerse presente el Reinado de Dios entre los hombres. Por tanto, en torno a la salvación de los hombres habrá siempre una tensión que se resuelve, en parte, a nivel personal ya que lo que falta para que el Reino se haga presente es la respuesta humana: la fe y la conversión. O sea, entrar por la puerta estrecha.
Los textos que siguen a este evangelio de hoy (y que leeremos los próximos domingos) nos mostrarán claramente las exigencias concretas de la vida del discípulo de Cristo y son la mejor explicación de lo que implica que la puerta sea estrecha. Basta, para este domingo, la insistencia en la importancia y necesidad de una clara decisión para ingresar al Reino de Dios. No alcanza la pasividad ni el haber escuchado hablar de Cristo. Hay que optar claramente por él con toda la vida. Y no debe asustarnos que sean pocos los que verdaderamente hacen esta opción. Más que de los números y de la cantidad, importa esforzarse por entrar por esta puerta estrecha, pues no hay otra.
En síntesis, hay que aceptar que la puerta es estrecha y no sería honesto pretender agrandar la puerta, no es nuestra misión. Sí podemos pedir al Señor que todos tengamos la fortaleza necesaria para entrar por la puerta estrecha. Y sí es nuestra misión que la puerta permanezca abierta en este tiempo de la misericordia, no cerrarla antes de tiempo y seguir invitando y motivando a los cristianos para entrar por ella con una vida cristiana coherente.
Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus de 21 de agosto de 2022: “Pensemos, pues, cuando Jesús dice: «Yo soy la puerta. Si uno entra por mí, estará a salvo» (Jn 10,9). Nos quiere decir que, para entrar en la vida de Dios, en la salvación, hay que pasar a través de Él, no de otro, de Él; acogerlo a Él y a su Palabra. Así como para entrar en la ciudad, había que “medirse” con la única puerta estrecha que permanecía abierta, del mismo modo, la vida del cristiano es una vida “a medida de Cristo”, fundada y moldeada en Él. Esto significa que la vara de medir es Jesús y su Evangelio: no lo que pensamos nosotros, sino lo que nos dice Él. Así que se trata de una puerta estrecha no por ser destinada a pocas personas, sino porque pertenecer a Jesús significa seguirle, comprometer la vida en el amor, en el servicio y en la entrega de uno mismo como hizo Él, que pasó por la puerta estrecha de la cruz. Entrar en el proyecto de vida que Dios nos propone implica limitar el espacio del egoísmo, reducir la arrogancia de la autosuficiencia, bajar las alturas de la soberbia y del orgullo, vencer la pereza para correr el riesgo del amor, incluso cuando supone la cruz […] Hermanos y hermanas, nosotros, ¿de qué lado queremos estar? ¿Preferimos el camino fácil de pensar exclusivamente en nosotros mismos o elegimos la puerta estrecha del Evangelio, que pone en crisis nuestros egoísmos, pero nos vuelve capaces de acoger la vida verdadera que viene de Dios y que nos hace felices? ¿De qué lado estamos? Que la Virgen, que siguió a Jesús hasta la cruz, nos ayude a medir nuestra vida basándonos en Él, para entrar en la vida llena y eterna”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE): Los últimos
Señor, enséñanos a ser los últimos
Los que pueden esperar a un anciano cruzar la calle
A un niño pequeño describir detalles
Señor, enséñanos a ser los últimos
Los que pueden ceder el paso aunque estén apurados
Y escuchar pacientes a quien esté necesitándolo
Señor, enséñanos a ser los últimos
Al emitir nuestra opinión superando la ansiedad
Al servir a quien seguro no nos retribuirá
Señor, enséñanos a ser los últimos
En nuestras familias, en el propio hogar
No se nos torne obvio agradecer, pedir permiso y perdonar
Señor, enséñanos a ser los últimos
A llenarnos de alegría porque podemos aspirar
Al primer lugar que has prometido, en la eternidad. Amén
1 El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C (CPL; Barcelona 1991) 112.
2 L' Évangile de Luc (PUG; Roma 1992) 263.
3 Por ejemplo J. S. Croato insiste en que "hay que intentar comprender la unidad 66:18-24 desde la perspectiva de la diáspora Judea en todo el mundo. Las naciones, tantas veces mencionadas, no intervienen como tales, sino siempre en relación con la presencia de israelitas en medio de ellas. A partir de este enfoque inicial, los textos son más coherentes de lo que la crítica bíblica ha pensado y sigue pensando", Imaginar el futuro. Estructura retórica y querigma del Tercer Isaías (Lumen; Buenos Aires 2001) 480.
4 U. Berges, Isaías. El profeta y el libro (Verbo Divino; Estella 2011) 127.
5 G. Zevini – P. G. Cabra, Lectio Divina para cada día del año 15 (Verbo Divino; Estella 2006) 198. 6 F. Bovon, El evangelio según san Lucas II, 523.
7 A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 259.
8 L' Évangile de Luc (PUG; Roma 1992) 263.
9 Card. J. Ratzinger, La Nueva Evangelización. Conferencia dictada en el Jubileo de los Catequistas, 10 de diciembre de 2000, Roma.