28/12/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Eclesiástico 3,3-7.14-17a
Salmo 127(128)R-Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!
2ª Leitura: Colossenses 3,12-21
Evangelho de Mateus 2,13-15.19-23
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – 13Depois que os magos partiram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. 14José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. 15Ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu filho”. 19Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, 20e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, pois aqueles que procuravam matar o menino já estão mortos”. 21José levantou-se, pegou o menino e sua mãe e entrou na terra de Israel. 22Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai, Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia 23e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado nazareno”. – Palavra da salvação
Mt 2,13-15.19-23
Todos nós estamos ligados necessariamente a uma família. Nela nós encontramos as raízes de nossa existência e nossa formação como pessoa humana. Ser pessoa humana é ser de outros. Somos como um tecido de fios de muitas outras vidas. Somos provenientes de homem e de mulher, ambos tecidos de duas outras famílias. São duas correntes da humanidade que se uniram, e, num dado momento, se uniram e geraram uma nova vida. Portanto, estar ligado a uma família, dela receber a existência é algo próprio de nossa condição humana.
A festa de hoje é também celebração do Natal. Ao se encarnar o Filho de Deus quis viver em uma família humana. Ele teve uma família. Isto para nós parece banal. Quem é que não está ligado a uma família? Não existe nada mais natural e normal do que este fato.
O que nos causa admiração e espanto é que o Filho de Deus teve uma família. Deus levou a sério a encarnação. Assumiu todas as consequências de seu ato: tornou-se homem como nós e não apenas a aparência humana: se fez carne. Ele tornou-se verdadeiro homem sem deixar de ser Deus.
O Filho de Deus não se contenta apenas em entrar na história humana através de uma família, mas também participou de todo o processo de crescimento e amadurecimento dentro da família.
Como qualquer um de nós, Jesus aprendeu na família a arte de ser homem e de responder aos problemas de seu meio. É na família que Jesus se relaciona com o mundo e com os homens, e, a partir dela, foi ampliando seu círculo até dimensões mais vastas.
No evangelho ouvimos que Jesus “crescia, ficava forte e cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”. Muitos, às vezes, se escandalizam com esta afirmação, pois pensam que Jesus devia saber tudo desde criança. Sob o pretexto de que Cristo é Deus, muitos acham que Jesus devia saber tudo sobre o mundo, sobre seu destino e sobre os acontecimentos futuros. Assim ele não poderia em absoluto ter adquirido nada pela educação.
Esta concepção esquece de confessar a verdadeira humanidade de Jesus. A perfeição do conhecimento para uma pessoa humana não consiste em saber tudo. O conhecimento divino de Jesus não consiste num conhecimento enciclopédico universal, mas no conhecimento sem escuridão de dúvidas da vontade do Pai. Tal conhecimento da vontade do Pai se deu num processo humano de discernimento, descoberta e fidelidade. Jesus não era um computador universal, mas um homem historicamente situado e limitado, que aprendeu, desde a infância, a colocar seu crescente saber humano totalmente a serviço da vontade divina.
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno
1 – Mt 2,13-15.19-23 - Situando o texto
O texto está teologicamente construído sobre o pano de fundo do Antigo Testamento. Um novo Êxodo inicia. Em Jesus as Escrituras se realizam (vv.15.17.23): a perseguição e a fuga para o Egito lembram o nascimento de Moisés (Ex 2,1ss). A matança dos meninos lembra Ex 1,15ss. Como nesta ocasião, diante da morte dos recém-nascidos, Moisés conseguiu ser salvo, também Jesus não é trucidado por Herodes. A fuga para o Egito também tem por base a fuga de Moisés diante da ameaça de faraó (Ex 2,14-15) e sua volta, depois da morte do mesmo (Ex 4,19ss). A volta do Egito lembra também Os 11,1 (Jesus é filho de Deus e ao mesmo tempo, personificação do povo de Deus). Há controvérsias sobre o v. 23, o nazireu/nazoreu. Para alguns biblistas, seria uma referência ao juiz Sansão, que em Jz 13,5-7 é chamado de nazireu, que significa separado, ou consagrado (cf. Nm 6,2), ou ainda no rebento de Is 11,1 (nazir). Pode, também ter algo a ver com a residência, agora, em Nazaré, daí nazireu, talvez corruptela de nazareno.
A morte de Herodes, pelos conhecimentos atuais, é fixada para o ano 4 a.C. Isto aponta para o fato de Jesus supostamente ter nascido uns 6 ou 7 anos antes da data hoje celebrada. A figura de José liga o menino com a dinastia de Davi para se realizar a promessa de Deus à descendência deste rei (2Sm 7,11ss).
Jesus, Maria e José, como outrora a família de Jacó migrou para o Egito (Gn 46,1ss), também migram para esta terra. Ao retornar para Israel, a sagrada família lembra o retorno dos israelitas à Terra Prometida, depois da estadia no Egito (Js 2,1ss). Assim, o início da vida de Jesus é ilustrado com as cores do início do povo de Israel.
O que no antigo povo foi pré-anunciado, vai se realizar plenamente na pessoa de Jesus.
Jesus é visto como o novo Moisés que trará a nova lei e formará o novo povo de Deus (Mt 5-7). É também o descendente de Davi, o primeiro grande rei que unificou Israel. Assim Jesus é o novo Israel que refaz a história do antigo povo de Deus e a leva à plenitude. Jesus é a total novidade, mas plantada sobre a história do povo de Israel.
Levando em conta todos estes dados, deve-se afirmar: muito mais do que uma crônica histórica do nascimento de Jesus, que nos tempos de Mateus certamente não era conhecida, está aqui um tratado teológico, ou cristológico da novidade trazida por Jesus, desde sua origem. Como, outrora, o povo de Israel, perseguido, oprimido, com Deus faz o caminho de libertação, agora Jesus que irá formar o novo povo de Deus, passará por situações iguais, e no germe desta nova realidade tem o caminho da libertação, da escravidão, do pecado e da morte. Pode-se então afirmar, o que se experimentou na história do povo de Israel de forma incipiente, desde a origem, vai se realizar com plenitude na pessoa de Jesus e do novo povo que ele formará: a Nova e Eterna Aliança. Ou seja, velho povo dará lugar ao novo povo (Mt 21,41-43). Segundo a cristologia de Mateus, este menino é o messias, pois nele se realizam plenamente as profecias do AT.
2 – Relacionando com Sir 3,3-7.14,17
Deus, ao se encarnar na história humana, realizando os desígnios já antevistos no AT, quis precisar de um homem e uma mulher. Em outras palavras, tudo isto se realizou numa família. Nos planos de Deus, para as novas gerações, que devem, hoje e no futuro realizar o reino instaurado por Jesus, a família tem um papel fundamental. Como no passado, Deus quis contar com a participação de homens e mulheres para realizar seus desígnios eternos, agora, na pessoa de Jesus, novamente um homem e uma mulher são escolhidos para levar a efeito o que Deus quer realizar em Jesus. A sagrada família, é por excelência, o lugar da realização do início da nova história do povo de Deus. Por isto mesmo, na liturgia da Igreja, José e Maria, com Jesus, têm um papel de destaque. Se, por um lado, toda esta novidade se realiza na pessoa de Jesus, por outro lado, José e Maria, formam com ele a família onde Jesus pode realizar os desígnios do Pai.
(Este texto pode ser compartilhado e reproduzido com a devida indicação dos autores).
Os textos bíblicos deste domingo:
1ª Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a) A família patriarcal, a tribo ou o clã, onde os filhos casados viviam com os velhos pais, é diferente da família nuclear (pai-mãe-filho ou mesmo apenas mãe ou pai e filhos) de hoje. Mesmo assim, os conselhos dados para aquele tempo ainda servem para hoje.
Salmo (128 [127],1-5) Cantamos a pessoa que vive feliz com a sua família, é quem teme o Senhor, sabe respeitar os mais fracos..
2ª Leitura (Cl 3,12-21) A Carta aos Colossenses dá conselhos dirigidos a cada membro da família, para o bom relacionamento de uns com os outros. Devem servir para hoje.
3ª L. Evangelho (Mt 2,13-15.19-23) O Evangelho fala das dificuldades da família modelo. É uma família pobre e perseguida, mas é família e é modelo.
A Realidade
A família hoje e no passado, mesmo recente, tem algumas diferenças, não? Antes da expansão da televisão, do telefone celular e do consumo de drogas, o ambiente familiar era outra coisa.
E se pensarmos na época dos avós, dos bisavós ou bem antes ainda, quando meios de comunicação à distância não havia, não havia transporte motorizado, a produção era apenas agrícola e artesanal, não havia indústrias nem forte comércio? A grande maioria da população morava na zona rural, cada família no seu pedaço de terra, quase totalmente isolada.
A Palavra
A família patriarcal, a tribo ou clã, onde os filhos casados viviam junto dos velhos pais, é diferente da família nuclear (pai e/ou mãe e filho) de hoje. Mesmo assim, os conselhos da Primeira e da Segunda Leitura, dados para um tempo já passado, ainda podem servir para hoje. Carinho e atenção para com aqueles de quem tanto dependemos um dia, nunca são demais.
No Evangelho, temos o episódio exclusivo de Mateus, da fuga da Sagrada Família para o Egito. A família de Jesus é uma família de migrantes, como foi a comunidade que nos deu este Evangelho. Quando os revoltosos tomaram o poder em Jerusalém, os cristãos saíram da cidade, da Judeia e da própria Palestina. Só depois da destruição de Jerusalém, depois de tudo terminado, voltaram, agora para a Galileia.
No Evangelho de cristãos judeus não poderiam faltar alusões às Escrituras Sagradas do povo escolhido. A todo passo de Jesus é lembrada uma passagem da Escritura que nele se realiza. Ele é o Messias anunciado pela Lei e os Profetas.
As dificuldades e incertezas da vida de migrantes mostram que o caminho de Deus é este mesmo. Como a Sagrada Família, nossa comunidade também realiza o projeto de Deus no meio de todos os problemas vividos.
O Mistério
A Eucaristia começou numa refeição familiar. A ceia da Páscoa se fazia por família, um grupo suficiente apenas para comer a carne de um cordeiro de um ano. A memória da libertação do Egito era feita com a participação do filho mais novo e do pai.
Jesus é o cordeiro sacrificado. Sua morte nos liberta da cobiça. A partilha do pão e do vinho pretende fazer da humanidade uma só família, em torno da mesma mesa.
O período do Natal nos leva a meditar sobre a sagrada Família de Nazaré, exemplo para todas as famílias cristãs. Cristo quis entrar em nossa história pela porta da família, para resgatá-la dos estragos que o pecado original deixou também nela e santificá-la.
Papa São João Paulo II disse que ela é o grande “patrimônio da humanidade”, o “santuário da vida” que Deus preparou para a vida ser protegida desde a gestação da mãe até a morte natural. Ela é também “a Igreja doméstica”, onde Deus é amado e adorado em primeiro lugar, onde se reza e ensina os filhos a rezarem.
Família
A família é a célula vital da sociedade. Se ela for destruída, como Deus a criou, a sociedade se destruirá. Ela tem uma missão social inerente à sua vocação, que consiste no testemunho da beleza do lar. Por isso, Jesus quis ter uma família. Quando São José pensou em abandonar Maria, no silêncio discreto, sem entender a sua gravidez, o Anjo do Senhor logo o consolou: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21).
Jesus quis ter um pai terreno, adotado, legal diante do seu povo. Foi uma adoção às avessas, pois, em vez de o pai adotar um filho, foi o Filho quem adotou um pai, porque queria uma família. E nela Ele viveu por 30 anos, trabalhou com mãos humanas, foi obediente e submisso a seus pais, a quem Ele mesmo deu a vida. Que exemplo para os filhos!
A Família de Nazaré é um exemplo para todos nós, sobretudo hoje, em que a família é ameaçada de muitas maneiras, atacada pelo demônio de muitas formas. Ela sofre numerosas pressões, sobretudo dos meios de comunicação social que objetivam destruir ou deformar o amor conjugal. Nunca, como hoje, os preceitos bíblicos precisam nortear os casais.
A família de Nazaré é uma escola de santidade, onde os pais e Jesus fazem a vontade de Deus, vivem para Deus; esta é a principal lição que nos deixam. Os Papas sempre apontaram a Família de Nazaré como o modelo das virtudes domésticas. Destacaram o amor puro, santo e fiel, a dedicação que levava aos maiores sacrifícios. Logo, ela precisa fugir para o Egito, escapando da morte do assassino Herodes.
José e Maria como exemplo
Hoje, também há muitos Herodes modernos querendo destruir esta que é a mais importante obra de Deus. José e Maria não se cansam no serviço ao Menino que eles sabiam que viriam ao mundo com uma missão que nenhum homem poderia realizar.
Que admirável a submissão de Jesus, o Filho de Deus, a José e a Maria! Seus pais, por sua vez, acatavam as ordens divinas sem nada questionar, fosse para fugir para o Egito, fosse para ir a Jerusalém visitar o Templo, fosse na humildade da carpintaria de Nazaré. Levavam um vida pobre e simples, satisfeitos com o pouco que tinham, confiantes na Providência Divina que não deixava nada faltar.
O exemplo de Maria e de José deve ensinar os pais a educar os filhos na vida cristã, numa fé autêntica, no amor aos Mandamentos da Igreja, numa esmerada formação moral e cívica, dando-lhes amor, tratando-os com carinho e correção adequada, sem humilhá-los nem exasperá-los.
É obrigação dos pais ajudar os filhos a salvar suas almas num contexto atual, onde tudo conspira contra as virtudes da pureza, caridade, humildade, paciência, bondade e verdade. Hoje, as reproduções artísticas de toda a espécie, os filmes, as novelas e, agora, também os sites pornográficos na internet levam a todo tipo de pecado que os pais precisam evitar para os filhos.
A dedicação de José e de Maria ao Menino Jesus ensina os pais, hoje, a zelar pela educação dos filho, pois é no seio da família que os filhos aprendem os bons costumes. São João Paulo II pedia que a família cristã, como a de Nazaré, espalhasse a “cultura da vida’ contra a cultura da morte. Que a família cristã desse combate corajoso contra o aborto, a eutanásia, a pornografia, o nudismo, a ideologia de gênero, a manipulação de embriões e tudo mais que destrói a vida, pois a família é o santuário sagrado da vida.
A Festa da Sagrada Família, que a Igreja celebra no domingo após o Natal, deixa claro que a família é sagrada. Para nós cristãos ela não é somente uma realidade cultural, social e antropológica; ela é, acima de tudo, uma realidade teológica, isto é, ela pertence ao plano de Deus para a humanidade. Desde a criação, o Senhor pensou a humanidade como homem e mulher (cf. Gn 1,27) e determinou que o homem não estivesse sozinho (cf. Gn 2,18); desde o princípio, a primeira palavra do homem foi uma declaração de amor à mulher: “Esta sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne” (Gn 2,23).
Jamais será lícito a um cristão aceitar um conceito de família diferente daquele que a Palavra de Deus nos apresenta. Trata-se, aqui, de fidelidade à Palavra de Deus. E num tema decisivo para a humanidade, destruir e desvirtuar a família é colocar em perigo a própria humanidade!.Por falta de uma família cristã, vemos nossos jovens sem religião, descristianizados.
Enfim, a Sagrada Família de Nazaré nos ensina a viver o que disse São Paulo: “Irmãos, vós sois amados por Deus, sois seus santos eleitos: revesti-vos de sincera misericórdia, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. Que a palavra de Cristo habite em vós. Tudo que fizerdes, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele daí graças a Deus Pai”. (Col 3,12-17)
Que intercedam por nós a Virgem Maria e seu esposo, São José! Que tenha misericórdia de nós o Cristo Jesus, feito obediente a seus pais no coração da casa de Nazaré.
Lectio
Primeira leitura: 1João 2, 3-11
O caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf 1 Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do amor a Deus ( vv. 3-6) e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus comporta, pois, exigências de vida, ao contrário da gnose, filosofia religiosa popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo visível. Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer moral, João afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado pela observância dos mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5) experimenta o amor de Deus e mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem dentro de si uma realidade interior que o impele a imitar a Cristo, cujo exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).
Este mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve sempre redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio cristão. O verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor fraterno, porque ninguém pode estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.
Evangelho: Lucas 2, 22-35
mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
A apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o Messias sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de referências bíblicas (cf. Ml 3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes: a apresentação da cena (vv. 22-24) e a profecia de Simeão (vv. 25-35).
Maria e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para purificação da mãe (cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam confiança e abandono em Deus, antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai, que se realizará no Calvário. O centro da cena é a profecia de Simeão, homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf. v. 25). Guiado pelo Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado, saúda-o festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele viu o Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas essa luz terá o reflexo do sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de contradição» (v. 34) e a própria Mãe será envolvida o destino de sofrimento do Filho (v. 35).
A contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o povo. Simeão contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz consolação, salvação, luz e glória a Israel.
As palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para a nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a alegria de encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem justo e temente a Deus, observava, não os mandamentos, mas também as inspirações de Deus. Estava atento à voz do Espírito para, em todas as circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na luz, para conhecer a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus aquele menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava ainda longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto.
Escreve o Pe. Dehon: «Enquanto que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do sacerdote senão o Coração do seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração animado de uma generosidade infinita, este Coração tão grande pelo amor, que é pequeno fisicamente. O santo ancião não compreende toda a excelência deste dom que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o um pouco, entrevê-o profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta oferenda, é ao mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).
Cristo entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar a exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar os interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude evangélica de quem se coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos irmãos. A vida cristã é amor que se dá a todos com generosidade.
O fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.
Isto faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em que cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em plenitude entre os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com quanto maior profundidade se viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos ao testemunho. Onde reinar esse amor recíproco, os discípulos tornam-se sinal histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.
ORAÇÃO
Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogênito do teu povo, quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.
Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.
Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amen.
Contemplação
Simeão, homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Ele esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.
Mas será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da Providência, e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida cristã.
É um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos realizam-se. Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O vidente compreendeu- o.
E quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas: «Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para ele. Os seus olhos já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá esperá-lo no silêncio dos limbos.
Oh! Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam recompensar-me e encorajar-me.
Como Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o Senhor, é ter vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor, deixar ir em paz o vosso servo... O túmulo não me assusta, certo como estou de já não estar muito tempo separado de vós... Permiti que vá anunciar aos vossos santos que já não têm muito tempo que esperar por vós, porque os meus olhos viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve iluminar as nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).