/10/2022
(Em 2025 cede lugar à festa de N. Sra. Aparecida)
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: 2 Reis 5,14-17
Salmo Responsorial 97(98) - R- O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça.
2ª Leitura: 2 Timóteo 2,8-13
Evangelho Lucas 17,11-19
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 11Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. 12Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a distância 13e gritaram: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós!” 14Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. 15Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; 16atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. 17Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. – Palavra da salvação.
Lc 17,11-19
Jesus está indo ao encontro da sua Paixão e Morte, que acontecerá em Jerusalém. Enquanto faz a sua viagem pascal, Jesus se encontra com um grupo de leprosos. A lepra era considerada castigo de Deus para os pecadores, tornava as pessoas impura para o culto e determinava o afastamento da comunidade de quem a contraísse, obrigando-os a vier fora do convívio humano.
Os leprosos eram, portanto, homens e mulheres excluídos da sociedade, forçados a vagar na solidão, a conviver apenas com outros leprosos e a anunciar sempre a sua chegada quando passavam nas proximidades dos centros habitados. Além disso, sofriam a humilhação de serem obrigados a usar vestes esfarrapadas e a cabeça descoberta.
Um grupo de dez leprosos vai ao encontro de Jesus. Pedem-Lhe ajuda, da forma como lhes é permitido: à distância. Gritam o mais alto possível para pedir ajuda: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13). Jesus os vê e pede-lhes que realizem um gesto muito preciso: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes” (Lc 17,14).
Qual é o significado disso? Por que Jesus não os curou imediatamente como já tinha feito em outras ocasiões: bastava impor as mãos ou somente ordenar: Eu quero! Ficai purificados!
Em vez disso, Jesus pede aos leprosos um gesto de fé: que eles partam dali para se apresentar aos sacerdotes. Os leprosos obedecem e acreditam em Jesus. Enquanto eles estão a caminho, se veem curados. Nove leprosos curados correm ainda mais rapidamente para se apresentar aos sacerdotes: assim os sacerdotes poderão constatar logo a cura da doença e serem reintegrados à comunidade. Eles são curados do mal físico porque acreditaram e obedeceram à ordem de Jesus. Foram curados do mal físico, mas não se converteram a Jesus; eles receberam o dom da cura, mas não acolheram o dom que é Jesus. Contentaram com o menor e perderam a oportunidade de receber o Maior.
Somente um samaritano, ao se ver curado, deixa o seu projeto pessoal para depois para retornar a Jesus. Ele é o único que não só alcançou o dom da cura, mas decidiu abraçar o dom da fé em Jesus. Ele volta até Jesus, se prostra aos seus pés e lhe agradece. Esse agradecimento do samaritano não é somente uma reação de cortesia, mas um acolhimento de uma vida nova possibilitada e gerada por Jesus. O samaritano é profundamente transformado pela fé em Jesus, por isso é enviado em missão: “Levanta-te e vai”.
Nesta eucaristia recebemos não somente as graças de que tanto necessitamos, mas nos é dado o próprio autor da graça que é Jesus. Pela Palavra proclamada e pela eucaristia oferecida, somos profundamente transformados por Cristo e por isso somos também enviados.
Não sejamos como os 9 leprosos que só se interessaram pela própria cura, que receberam o milagre, mas não receberam Jesus, que se limitaram a receber uma graça, mas não acolheram o autor de toda a graça. Sejamos como o samaritano: recebamos de Jesus a vida nova, para sermos enviados como missionários aos outros.
28º domTComum - Lc 17,11-19 – Ano C – 09-10-22
A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos os homens, sem exceção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.
A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem exceções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único salvador e manifestar-lhe gratidão.
A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui chama-se a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se perfeitamente na óptica teológica de um evangelho cujo objetivo fundamental é apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
É esse o ponto de partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
Contudo, o acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a Jesus e no facto de este ser um samaritano. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus. Haverá aqui, certamente, uma alusão à autossuficiência dos judeus que, por se sentirem “Povo eleito”, achavam natural que Deus os cumulasse dos seus dons; no entanto, não reconheceram a proposta de salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu… Certamente haverá aqui, também, um apelo aos discípulos de Jesus, para que não ignorem o dom de Deus e saibam responder-Lhe com a gratidão e a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação).
“Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13)
“...atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu” (Lc 17,16)
Jesus está a caminho, quase chegando à etapa final da viagem: Jerusalém. A estrada é a vida e a missão de Jesus, enviado para revelar o rosto misericordioso de Deus aos homens. A sua estrada é marcada pela solidariedade e cuidado para com os mais excluídos e sofridos.
Entre Jesus e aquela estrada, que conduz a Jerusalém, há uma relação vital: Ele é o “autor” daquela estrada; Ele é a estrada do cumprimento da vontade de amor e de salvação do Pai; Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Essa estrada deverá ser a mesma também dos discípulos, a do seguimento, a que conduz à Cidade santa, à plena bem-aventurança. Um Caminho que faz viver e realiza a comunhão em plenitude.
Logo que Jesus entrou na aldeia, “dez leprosos” foram ao seu encontro. Pela narração do evangelista, temos a impressão de que não há mais ninguém na cena: Jesus parece estar sozinho com os leprosos. A aldeia se apresenta surpreendentemente vazia. É óbvio, os leprosos deviam estar separados e longe de todos.
Na verdade, a lepra era entendida como manifestação de uma condição de pecado.
Os leprosos, embora mantivessem a devida distância, vão ao encontro de Jesus, gritando.
Aqueles pobres miseráveis O buscam como o “misericordioso”: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós!”.
É uma oração surpreendente, na qual o homem de Nazaré é chamado pelo próprio nome.
Jesus, por sua vez, pousa sobre eles o seu “olhar” e os envolve com tanta atenção e sedução, que os dez não hesitam, nem um momento sequer, em pôr em prática, com confiança, a ordem que lhes foi dada: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Assim, Jesus se põe com eles na estrada da esperança, na estrada da experiência da solidariedade que cura e os acompanha, mesmo de longe, até aos sacerdotes.
A recuperação da saúde deles se torna também reinserção na sociedade, no espaço familiar e na comunidade religiosa. Eles não serão mais rejeitados.
Dois sentimentos nobres são desvelados no relato deste domingo: a compaixão e a gratidão.
Dois sentimentos que se expressam como duas atitudes básicas na vida; por um lado, revelam a maturidade da pessoa e, por outro, tornam possível uma convivência harmoniosa e construtiva.
Mas, como toda arte, tais atitudes requerem um cuidado expresso e cotidiano. A partir do contexto e da situação em que cada um se encontra na vivência destes sentimentos nobres, sempre é possível dar passos nessa dupla direção, favorecendo conscientemente ser compassivos e agradecidos.
Considerados pecadores e condenados ao ostracismo, afastados de qualquer convivência social e de todo contato humano, com proibição expressa de se aproximarem de qualquer pessoa, os leprosos padeciam, esperando a morte, em colônias mais ou menos numerosas.
Compreende-se que, nessa situação, clamassem por compaixão. O ser humano sempre precisa que os demais “se coloquem em sua pele”, compreendam sua situação e seu comportamento. Mas essa necessidade se faz mais aguda quanto mais frágil e vulnerável se sente.
Esse é o significado profundo do termo “compaixão”: sentir com o outro e agir como consequência, buscando uma solução para a situação de extrema necessidade.
Jesus vive uma contínua travessia e sai ao encontro dos oprimidos e excluídos de todo tipo. Preocupa-se com todos os que encontra em seu caminho, sobretudo aqueles que estão atrofiados em sua vida. Sem a compaixão de Jesus, o relato seria impossível.
É da margem da exclusão que brotam os clamores por compaixão; e Jesus, com sua sensibilidade ativada, deixa-se afetar pelos gritos dos excluídos.
Os leprosos pedem compaixão a Jesus. Desejam ser compadecidos, perceber que sua desgraça não passa desapercebida e sentir o calor da compreensão de alguém significativo e com autoridade. Novamente, Jesus revela que só a compaixão não é suficiente e que permanecer na esfera dos sentimentos não soluciona o problema. Requer-se uma ação que ajude à pessoa a recuperar sua dignidade. Esta é a chave da misericórdia, ou seja, colocar o coração-ação na miséria humana e restaurá-la a partir de dentro.
A gratidão, por sua vez, tem a ver com nosso ser essencial, pois ativa o que há de melhor em nós.
Ela nasce do nosso eu profundo e flui por todos os membros, passa por todos os poros do nosso corpo. Não deixa sem tocar nenhuma parte do nosso ser. Abarca tudo o que somos e desperta o melhor que possamos imaginar ou que possamos aspirar.
No evangelho de hoje é, precisamente, alguém vindo de fora, desprezado pelos de dentro, o único que sabe reconhecer o dom recebido de Deus, dando uma magistral lição àqueles que não souberam agradecer.
Só um retornou para dar graças; só um se deixou levar pelo impulso vital da gratidão. Os outros nove (supõe-se que eram judeus), se sentiram na obrigação de cumprir o que a lei mandava: apresentar-se ao sacerdote para que lhe declarasse puro e pudesse ser reintegrado à sociedade. Para eles, voltar a fazer parte da instituição religiosa e social era a verdadeira salvação. Os nove voltam a submeter-se ao abrigo da instituição: vão ao encontro com Deus no templo e nos ritos. O Samaritano, no entanto, sentiu ser mais urgente voltar para agradecer. Foi aquele que se deixou conduzir pelo coração, porque, livre das ataduras da lei, se atreveu a expressar sua vivência profunda. Este, encontra a presença de Deus em Jesus. É mais importante responder vitalmente ao dom de Deus que o cumprimento de alguns ritos externos.
Pois, foi Deus mesmo quem, ao criar-nos gratuitamente no amor, nos ensinou a “sermos gratuitos e gratos”.
A gratidão é um sentimento que enriquece as relações e eleva o “tom vital” da pessoa agradecida. Quem vive a gratidão manifesta um dinamismo aberto, cordial e animoso, praticamente imune ao desalento.
A gratidão nasce da vivência da gratuidade e caminha de mãos dadas com a aceitação de que tudo é dom. Quando se percebe que tudo é graça, não se pode viver sem agradecimento. E quando se vive em sintonia com a realidade, é possível dar graças por tudo o que dela provém, pois tudo traz uma mensagem e uma oportunidade.
O oposto ao reconhecimento da gratuidade é o narcisismo exigente e autorreferencial que se considera com “direitos” frente a tudo, numa postura egocentrada, incapaz de sair e si e dar valor ao que recebeu.
A gratidão possibilita fluir com a vida, permitindo que se expresse livre e adequadamente através de nós.
A gratidão é uma arte que pode ser alcançada na medida em que é ativada. E o melhor caminho para isso é “dar graças” por tudo. Tudo é graça, de graça; somos seres agraciados, cheios de graça...
Cabe a nós, enquanto seguidores de Jesus, pensar-sentir agradecidamente e ter gestos de gratuidade.
Cabe a nós falar agradecidamente. A expressão “muito obrigado” é das primeiras que se aprende quando alguém se inicia em outro idioma. Ser agradecido se aprende agradecendo e tudo se pacifica quando o “gratuito” marca a pessoa por inteiro.
A vida nova vem da vida recebida e partilhada; ela nos coloca acima do êxito e do fracasso, pois está no nível da gratuidade.
Para meditar na oração:
Criar um clima de ação de graças. Tudo é Graça.
Ponderar com muito amor tudo o que o Senhor fez por mim, por meio dos outros, da Criação e de minha história passada e presente. Como Ele me cumula de seus próprios bens. Tudo é dom de Deus; tudo foi criado por amor para mim (Deus providente).
No texto de hoje, aparece outro assunto muito próprio de Lucas: a gratidão. Saber viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28-38; 5,25-26; 7,16; 13,13; 17,15-18; 18,43; 19,37; etc.). Além disso, no Evangelho de Lucas, há vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
Comentando
1. Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém
Lucas lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia. Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela Samaria. Isto significa que os importantes ensinamentos dados nestes capítulos (9 a 17) foram todos dados em território que não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de Lucas, vindas do paganismo.
2. Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos
Dez leprosos aproximam-se de Jesus, param ao longe e gritam: “Jesus, mestre, tem piedade de nós!” O leproso era uma pessoa excluída. Não podia aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se, novamente, acolhido por Deus, poder dirigir-se a Ele para receber a bênção prometida a Abraão.
3. Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura
Jesus responde: “Vão mostrar-se aos sacerdotes!” Era o sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exige muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles acreditam na palavra de Jesus e vão em direção ao sacerdote. E acontece que, enquanto vão caminhando, manifesta-se a cura. Ficam purificados.
4. Lucas 17,15-16: Reação do samaritano
Dos dez, só um volta para louvar a Deus e agradecer a Jesus. E este é um samaritano. Por que os outros não voltam? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia uma tendência que levava o povo a observar a lei para poder merecer a vida eterna. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Elas acham tão normal receber algum favor, que nem sequer agradecem! O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar pelo dom da própria vida! Hoje são os pobres que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da vida.
5. Lucas 17,17-19: Observação de Jesus
Jesus estranha: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para Jesus, agradecer aos outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição nos judeus. Hoje, são as pessoas que não fazem parte da comunidade que dão lição a nós! Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós por intermédio do irmão e da irmã.
6. Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós
Lucas acrescenta, aqui, uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre a data da vinda do Reino. Os fariseus achavam que o Reino só poderia vir quando o povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. A vinda do Reino seria recompensa de Deus pelo bom comportamento do povo. E o Messias viria de maneira bem solene como um rei, recebido pelo seu povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independentemente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus.
Alargando
1. O significado do gesto do samaritano para as comunidades de Lucas.
Nas comunidades de Lucas, a maioria das pessoas tinha vindo do paganismo. Mesmo depois de haverem acolhido o evangelho e de serem batizadas, suportavam o desprezo dos cristãos de origem judaica. A mancha de haverem sido pagãos permanecia. Essa era também a experiência do samaritano. Foi curado da lepra e podia agora participar da vida da comunidade, mas continuava nele a mancha de ser samaritano, que ninguém poderia tirar. A experiência de ser um eterno excluído aumenta nele a capacidade de reconhecer o dom do acolhimento dado por Jesus. Por isso, volta para agradecer.
2. A acolhida dada aos samaritanos no Evangelho de Lucas.
Para Lucas, o lugar que Jesus dá aos samaritanos é o mesmo que as comunidades devem reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois para os judeus samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios interiores do Templo de Jerusalém nem participar do culto. Eram considerados portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
3. A lepra e a busca da pureza no tempo de Jesus.
Os leprosos eram marginalizados, desprezados e excluídos do direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da pureza, eles tinham que andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados e ir gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o mesmo que buscar a pureza para que fossem reintegrados na comunidade e entrar no santuário.
Dez leprosos vêm ao encontro de Jesus. A lei os proíbe de entrar em contato com Ele. Por isso “param ao longe” e daí lhe pedem a compaixão que não encontram naquela sociedade que os exclui: “Tem compaixão de nós”.
“Ao vê-los”, sós e marginalizados, pedindo um gesto de compaixão, Jesus não espera nem um pouco. Deus quer vê-los convivendo com todos: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Que os representantes de Deus vos deem autorização para voltar aos vossos lares. Enquanto iam pelo caminho, ficaram limpos.
O relato podia ter terminado aqui. Mas interessa ao evangelista destacar a reação de um deles. Este homem “vê que está curado”: compreende que acaba de receber algo muito grande; sua vida mudou. Então, em vez de apresentar-se aos sacerdotes, “volta” para Jesus. Ali está seu Salvador.
Já não anda como um leproso, afastando-se das pessoas. Volta exultante. De acordo com Lucas, faz duas coisas. Em primeiro lugar, “louva a Deus em alta voz”: Deus está na origem de sua salvação. Depois, prosta-se diante de Jesus e “lhe dá gracas”: é este o Profeta bendito pelo qual chegou a compaixão de Deus.
Explica-se a estranheza de Jesus: “Onde estão os outros nove?” Continuam entretidos com os sacerdotes, cumprindo os ritos prescritos? Não descobriram de onde a salvação chega à sua vida? Depois diz ao samaritano: “Tua fé te salvou”.
Todos os leprosos foram curados fisicamente, mas só aquele que voltou a Jesus dando gracas ficou “salvo” pela raiz. O que é uma religião vivida sem agradecimento? O que é um cristianismo vivido a partir de uma atitude triste e negativa, incapaz de experimentar e agradecer a luz, a forca, o perdão e a esperanca que recebemos de Jesus?
Não precisamos reavivar na Igreja o agradecimento e o louvor a Deus? Não precisamos voltar a Jesus dando gracas? Não é isto que pode desencadear nos crentes uma alegria hoje desconhecida por muitos?
Lucas apresenta Jesus como um peregrino para Jerusalém. O Evangelho narra que já no capítulo 9,51 Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A partir dali, em diversas ocasiões, confirma sua missão de estar no caminho. Recordemos alguns desses momentos narrados por Lucas sobre sua peregrinação: “enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado” (10,38); “Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo no caminho para Jerusalém” (13,33); “chamou à parte os Doze, e disse: ‘Vejam: estamos subindo para Jerusalém, e vai se cumprir tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem’ (18,31)”.
Neste caminho Jesus percorre terra estrangeira e sua mensagem é anunciada para as pessoas que moram ali e para todos aqueles que o seguem e escutam suas palavras. Nesse trajeto apresenta diferentes atitudes que devem ter as pessoas que desejam ser discípulas de Jesus, os diferentes comportamentos e formas de proceder para acolher sua mensagem. Lembre-se de que o evangelho de Lucas é dirigido fundamentalmente aos cristãos vindos do paganismo, comunicando a universalidade da Boa Notícia de Jesus: é para todas as pessoas e não está limitada por nenhuma fronteira, nem religiosa, nem sociocultural e menos ainda geográfica. A salvação é para todos e todas as pessoas que moram nesta terra.
Para Jesus não existem fronteiras; pelo contrário, sua viagem está além das fronteiras estabelecidas pelos povos, pelas diferentes raças e religiões. Nesta caminhada percorre Galileia e Samaria, chama novos discípulos, é recebido por Marta e sua irmã na sua casa e ultrapassa continuamente os limites da religião, do povo, da raça.
Em vários momentos destaca a atitude dos forasteiros ou da multidão diante da proposta de Jesus em contraposição com os que se consideram os “donos da fé”. Assim responde com a parábola do Bom Samaritano ao “especialista em leis” que tinha perguntado o que “deve fazer para receber em herança a vida eterna”. Jesus não comunica uma fé teórica, nem leis que devem ser cumpridas, mas propõe um amor que se expressa em atitudes e ações concretas.
Nesta passagem por Samaria, o texto de hoje diz que “quando estava por entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele”. E continua, dizendo que: “Pararam de longe, e gritaram: ‘Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!’”.
Podemos imaginar a dor de cada um de ser rejeitado, marginalizado, desprezado e sofrer no seu corpo a exclusão da sociedade. No livro do Levítico apresentam-se as prescrições sobre o procedimento social que lhe era imposto. As roupas que um leproso tinha que usar, o comportamento que lhe era exigido para proteger a comunidade dessa afecção que era uma enfermidade muito temida pela possibilidade do contágio: “Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: ‘Impuro! Impuro!’. Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento” (Lv 13,45-46).
Ao vê-los, Jesus disse: “Vão apresentar-se aos sacerdotes”. Jesus os vê e, pela sua palavra, os envia ao sacerdote. A palavra é a comunicação que descreve a narrativa entre os leprosos e Jesus. Para ir ao sacerdote tinham que entrar na cidade, e o sacerdote devia confirmar que essa pessoa estava curada da lepra, lhes dava um “certificado de saúde” e, dessa forma, podiam reintegrar-se na vida social.
Imaginemos os leprosos que recebem estas palavras de Jesus, mas seu corpo ainda está com lepra. Apesar disso eles se dirigem ao sacerdote! Jesus pede-lhes fé e “enquanto caminhavam eles quedaram curados”. Eles tomam a decisão de ir até os sacerdotes sendo ainda leprosos e é no caminho que ficam curados.
Nesse momento um deles acredita na cura que está acontecendo nele e por isso não precisa da confirmação do sacerdote. Sabe que a cura veio de Jesus através de suas palavras. Ele volta para agradecer a Jesus! Volta atrás “dando glória a Deus em alta voz”. Num primeiro momento ele estava com o grupo de leprosos que também havia gritado a Jesus pedindo a cura, mas agora seu grito é diferente. Ele grita de alegria, louvando a Deus e “jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu”.
No caminho tinha acontecido o milagre! Este leproso soube não somente reconhecê-lo, mas possivelmente as palavras de Jesus ressoaram no seu interior e por isso volta atrás para jogar-se diante de Jesus. Ele foi o verdadeiro mestre, como tinha sido chamado pelo grupo no começo.
Como seria a alegria desta pessoa que tinha sido marginalizada durante vários anos pela sociedade e, graças ao contato com Jesus, fica curado? Sua cura provém de Jesus, que respondeu ao seu clamor! E o evangelho disse-nos que “era um samaritano”.
Lucas, no seu evangelho, é muito sensível aos pobres, aos doentes, aos marginalizados e também aos samaritanos. Dos dez leprosos, nove dentre eles eram possivelmente judeus e tinham admitido no seu grupo um samaritano: a dor os irmanava.
Todos eles procuram Jesus e os dez leprosos acreditam nas suas palavras. Ficam curados os dez, mas há nove que estão mais preocupados por cumprir a Lei e receber a confirmação da cura da parte do sacerdote do que em agradecer a Jesus e louvar a Deus pela sua ação de libertação. O samaritano é o único que consegue perceber a grandeza da mudança que a palavra de Jesus obrou nele e volta para agradecer-lhe.
O pagão é o único que abre seu coração a Deus com confiança e recebe a verdadeira libertação interior. Ele soube reconhecer o amor do Senhor e, livre de outras escravidões, volta para adorar e agradecer a Jesus pela sua ação libertadora!
Nosso mundo está coberto de diferentes tipos de lepras que marginalizam as pessoas, culturas e sociedades inteiras. Como acontece com as situações dos povos indígenas, geralmente desconhecidos e ignorados. Seguindo o convite do papa Francisco na inauguração do Sínodo da Amazônia, deixemos que suas palavras ecoem no nosso interior e sensibilizem nossas sociedades.
“Nós nos aproximamos com um coração cristão e vemos a realidade da Amazônia com os olhos de discípulo para entendê-la e interpretá-la com os olhos de discípulo, porque não há hermenêuticas neutras, hermenêuticas assépticas, sempre estão condicionadas por uma opção prévia, nossa opção prévia é a dos discípulos.[...] E também nos aproximamos dos povos amazônicos na ponta dos pés, respeitando sua história, suas culturas, seu estilo do bem viver, no sentido etimológico da palavra, não no sentido social que lhes damos tantas vezes, porque os povos possuem entidade própria, todos os povos possuem uma sabedoria própria, autoconsciência, os povos têm um sentir, uma maneira de ver a realidade, uma história, uma hermenêutica e tendem a ser protagonistas de sua própria história com essas coisas, com essas qualidades. E nos aproximamos distantes das colonizações ideológicas que destroem ou reduzem a idiossincrasia dos povos.” (Texto completo:“Estar no sínodo é se animar a entrar em um processo. Não é ocupar um espaço na sala. Entrar em um processo”. Discurso do Papa Francisco na abertura dos trabalhos do Sínodo da Amazônia)
A Boa Notícia que Jesus traz é para todos e todas, sem importar sua origem.
Oração
Batiza-me Jesus
Batiza-me Jesus
com o sol e a brisa
de tua graça cotidiana,
discreta criação
escorrendo por minha fronte
Submerge meu corpo
na bondade do povo
que corre pelo leito
de seus caminhos fundos,
abertos com seus pés
de trabalho e encontro.
Veste-me de branco
ao emergir das águas
respiração contida,
e acolhe-me em teu peito
com o abraço comunitário
de mil braços abertos.
Dissolve um grão de sal
no céu de minha boca,
para que a vida nova
se conserve inteira
com os sabores fortes
do evangelho.
Unge-me a fronte
com tua cruz de sofrimento,
e unge-me o peito
com a dor do povo.
Carregarei até o calvário
a cruz de teu mistério.
Que se alegre o cosmos
no ruído natural
do metal e a madeira,
e que cantem as gargantas
hoje, dia primeiro
da nova criação.
Benjamin González Buelta
Salmos para “Sentir e saborear as coisas internamente”
DOMINGO XXVIII DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
Nos dice P. Tena que a partir de este domingo 28 entramos en la tercera etapa del camino a Jerusalén. La integran cuatro domingos cuyos temas pueden esquematizarse así :
Domingo 28: Aprender a dar gracias por la salvación.
Domingo 29: La plegaria constante en tiempos difíciles.
Domingo 30: La plegaria de los pobres pecadores, camino de salvación.
Domingo 31: La salvación de la casa de Zaqueo.
1ra. Lectura (2Re 5,10.14-17):
El ciclo literario de Eliseo abarca 2 Re 2,1-9,13; 13,14-21. Sigue a continuación del ciclo de Elías de quien es claramente su sucesor (cf. 1 Re 19,15-19), con la misión de continuar la campaña de retorno a la fe israelita comenzada por aquel. La lectura de hoy forma parte de este ciclo de Eliseo y nos narra el encuentro del general sirio Naamán con el profeta Eliseo. Por un lado, tenemos a Naamán, enfermo de lepra que se llega al profeta para pedir la curación. Por otro a Eliseo, quien le manda bañarse siete veces en el río Jordán. Naamán obedece, obra conforme a la Palabra del hombre de Dios. Va, se baña y queda curado. Al volver junto al profeta Eliseo, confiesa al Dios de Israel como el único Dios. Retengamos de esta narración principalmente el camino o proceso: de la curación física a la profesión de fe en Dios.
Evangelio (Lc 17, 11-19):
Jesús va camino a Jerusalén y antes de entrar en un poblado le salen al encuentro diez leprosos, quienes se quedan a distancia y alzan su voz. Para comprender esta escena tenemos que recordar que según las leyes del Antiguo Testamento el leproso era considerado impuro y debía vivir fuera de la comunidad. Más aún, no debía acercarse a ningún hombre sano por el peligro de contagio. Es decir, la enfermedad de la lepra tenía una dimensión o consideración religiosa al punto que ser leproso es un signo claro de ser un hombre alejado de Dios y apartado de la comunidad de salvación. Así lo establecía la Ley de Israel:
Lev 13,45-46: La persona afectada de lepra llevará la ropa desgarrada y los cabellos sueltos; se cubrirá hasta la boca e irá gritando: "¡Impuro, impuro!" Será impuro mientras dure su afección. Por ser impuro, vivirá apartado y su morada estará fuera del campamento.
El grito de ayuda de los leprosos a Jesús, "ten misericordia de nosotros", recuerda la invocación de los Salmos dirigida a Dios (por ej. Sal 40,5; 50,3-4).
La respuesta de Jesús es una mirada compasiva y una orden: "Vayan a mostrarse al sacerdote". Sucede que esta enfermedad, al provocar la impureza cultual o religiosa, tenía que ser diagnosticada por el sacerdote. E igualmente correspondía a los sacerdotes confirmar su curación y permitir el reingreso a la comunidad declarando “puro” al leproso curado. Así está establecido en la ley de Israel:
Lev 14,2-3.8: Cuando haya que declarar puro a un leproso, se aplicará el siguiente ritual: La persona será presentada al sacerdote. 3 Este saldrá fuera del campamento, y si ve que el leproso está realmente curado de su afección, 4 mandará traer, para la persona que va a ser purificada, dos pájaros vivos puros […] 8 El que se purifica lavará su ropa, se afeitará todo el pelo, se bañará con agua, y quedará puro. Después de esto podrá entrar en el campamento, pero tendrá que permanecer siete días fuera de su carpa.
Según esto, queda claro que la orden de Jesús era que se presenten al sacerdote para que certifique la curación de su lepra. Los diez se ponen en camino, por lo que han demostrado tener fe en la Palabra de Jesús. Y en el camino quedan curados, "purificados" (verbo katharizō), los diez.
Ahora bien, de los diez sólo uno regresa (upostrefō) a Jesús y éste es declarado "salvado" por su fe. Notemos que "el verbo u-postre,fw (upostrefō) tiene un sentido local: el leproso curado vuelve sobre sus pasos. Pero este verbo, vinculado a la alegría y la alabanza, sugiere también una realidad espiritual: el leproso interioriza su curación, intensifica su confianza inicial, profunda de su fe y culmina su conversión" .
El texto señala que esta “vuelta” estuvo motivada por un “ver” diferente al de los demás: “Uno de ellos, viéndose (ἰδὼν) curado” (Lc 17,15) y que está en paralelo con el ver de Jesús a los leprosos: “Al verlos (ἰδὼν), Jesús les dijo…” de Lc 17,14. Sobre esto dice A. Rodriguez Carmona : “todos experimentaron la curación, pero el ver de este hombre tuvo un carácter trascendente, en cuanto que le hizo ir más allá, reconociendo en esta curación un favor que Dios le había hecho por medio de Jesús, su enviado”.
A los otros nueve la fe inicial en Jesús los llevó sólo hasta obtener la curación-purificación, pero no les alcanzó para la salvación. Como bien dice F. Bovon: “Si la fe no va acompañada de gratitud no es verdadera fe. Continúa ligada al milagro, y no se eleva hasta la salvación” .
La anotación de que el leproso curado era un samaritano sirve para indicar la misericordia de Dios que va más allá de la elección de Israel con una apertura universalista. O tal vez, como nota H. U. von Balthasar, se trata de alguien no familiarizado con la tradición y las costumbres que puede reconocer que la curación vino de Jesús y nos poder del sacerdocio antiguo .
La frase final de Jesús es muy importante porque pone prácticamente como sinónimos el darle gracias a Él con el dar gloria a Dios: “¿No ha habido quien volviera a dar gloria a Dios sino este extranjero?" (17,18). Y de aquí se puede deducir que dando gracias a Jesús se está glorificando a Dios: se trata de una confesión de fe en la divinidad de Jesús.
ALGUNAS REFLEXIONES:
El evangelio del domingo pasado nos invitaba a pedir un aumento de fe, para creer más y mejor. Hoy se nos muestra el proceso de la fe con sus etapas o pasos.
Tanto Naamán, en la primera lectura, como los diez leprosos del evangelio se acercan a Dios, sea por medio del profeta Eliseo o de Jesús, buscando una gracia, una salida ante una situación dolorosa y desesperada que los margina. Como dijimos, el enfermo de lepra es el símbolo del hombre separado de Dios (no puede darle culto ni participar de la asamblea religiosa) y segregado por los hombres (debe vivir fuera de la ciudad y no puede acercarse a ningún sano).
Todos creen en la Palabra del mediador, Eliseo y Jesús, todos obedecen a la orden recibida. Naamán baja al río Jordán a bañarse siete veces y los diez leprosos se ponen en camino para ver al sacerdote. Esto es realmente un acto de fe. Un primer e importante acto de fe. Y todos reciben la curación de parte de Dios. Obtienen lo que habían buscado y pedido. Nueve de los diez leprosos se quedaron aquí. Sólo fueron curados. En cambio Naamán regresa ante el profeta para agradecer y confesar su fe en Yavé como único Dios. Su fe creció, llegó hasta la confesión de fe en Dios y la intención de rendir culto a Yavé.
De modo semejante el leproso samaritano del evangelio toma conciencia de su curación, reconoce el don recibido de Dios y lo alaba: "Uno de ellos, viéndose curado, se volvió glorificando a Dios en alta voz, y se arrojó a los pies de Jesús con el rostro en tierra, dándole gracias" (Lc 17,15).
Los diez fueron curados, pero sólo uno tomó plena conciencia de que se trataba de un don recibido: "viéndose curado". Por eso enseguida pega la vuelta y alaba a Dios, se olvida un poco de sí y se vuelve a Dios quien ha tenido compasión de él. Esto es justamente la alabanza.
Según el Card. Martini este alabar a Dios con reverencia, recoge un aspecto fundamental de la espiritualidad bíblica, y es la respuesta humana a la acción de Dios, es la reacción del hombre que recibe la palabra de Dios .
Ahora bien, el leproso curado no va al templo ni busca al sacerdote del Antiguo Testamento, sino que reconoce la acción de Dios en Jesús. Por eso se postra ante Él y le agradece. Naamán confiesa a Yavé como Dios, el leproso samaritano reconoce a Dios presente y operante en Jesús. La fe teologal se ha vuelto cristológica y eucarística por cuanto agradece a Jesús por la curación recibida.
El leproso samaritano es imagen del creyente completo pues no sólo fue sanado sino también salvado. ¿Cuál es la diferencia? Que la salvación incluye la relación personal con Jesús y, por medio de Él, con el Padre. Como señala el Cardenal A. Vanhoye : "Los otros nueve leprosos se aprovecharon materialmente de la curación, obtuvieron la salud física. El samaritano, sin embargo, además de ésta, obtuvo la relación de fe con Jesús, mediante la cual se salvó de verdad, de manera completa, en cuerpo y alma. Desde ese momento en adelante pudo vivir en esta relación con Jesús, una relación que se estableció gracias a la curación".
Al respecto dice el Papa Francisco en su homilía del 13 de octubre de 2019: “«Tu fe te ha salvado» (Lc 17,19). Es el punto de llegada del evangelio de hoy, que nos muestra el camino de la fe. En este itinerario de fe vemos tres etapas, señaladas por los leprosos curados, que invocan, caminan y agradecen.
En primer lugar, invocar… No se dejan paralizar por las exclusiones de los hombres y gritan a Dios, que no excluye a nadie. Es así como se acortan las distancias, como se vence la soledad: no encerrándose en sí mismos y en las propias aflicciones, no pensando en los juicios de los otros, sino invocando al Señor, porque el Señor escucha el grito del que está solo. Como esos leprosos, también nosotros necesitamos ser curados, todos. Necesitamos ser sanados de la falta de confianza en nosotros mismos, en la vida, en el futuro; de tantos miedos; de los vicios que nos esclavizan; de tantas cerrazones, dependencias y apegos: al juego, al dinero, a la televisión, al teléfono, al juicio de los demás. El Señor libera y cura el corazón, si lo invocamos, si le decimos: “Señor, yo creo que puedes sanarme; cúrame de mis cerrazones, libérame del mal y del miedo, Jesús” […]
Agradecer: es la última etapa. Sólo al que agradece Jesús le dice: «Tu fe te ha salvado» (v. 19). No sólo está sano, sino también salvado. Esto nos dice que la meta no es la salud, no es el estar bien, sino el encuentro con Jesús. La salvación no es beber un vaso de agua para estar en forma, es ir a la fuente, que es Jesús. Sólo Él libra del mal y sana el corazón, sólo el encuentro con Él salva, hace la vida plena y hermosa. Cuando encontramos a Jesús, el “gracias” nace espontáneo, porque se descubre lo más importante de la vida, que no es recibir una gracia o resolver un problema, sino abrazar al Señor de la vida. Y esto es lo más importante de la vida: abrazar al Señor de la vida. Es hermoso ver que ese hombre sanado, que era un samaritano, expresa la alegría con todo su ser: alaba a Dios a grandes gritos, se postra, agradece (cf. vv. 15-16). El culmen del camino de fe es vivir dando gracias. Podemos preguntarnos: nosotros, que tenemos fe, ¿vivimos la jornada como un peso a soportar o como una alabanza para ofrecer? ¿Permanecemos centrados en nosotros mismos a la espera de pedir la próxima gracia o encontramos nuestra alegría en la acción de gracias? Cuando agradecemos, el Padre se conmueve y derrama sobre nosotros el Espíritu Santo. Agradecer no es cuestión de cortesía, de buenos modales, es cuestión de fe. Un corazón que agradece se mantiene joven. Decir: “Gracias, Señor” al despertarnos, durante el día, antes de irnos a descansar es el antídoto al envejecimiento del corazón, porque el corazón envejece y se malacostumbra. Así también en la familia, entre los esposos: acordarse de decir gracias. Gracias es la palabra más sencilla y beneficiosa”.
Es decir, una persona agradecida es una persona que reconoce el “don” y por eso lo agradece. Es todo lo contrario del orgulloso que se atribuye todo a sí mismo y termina por negar la obra de Dios. En el fondo el agradecido es el humilde, el pobre evangélico, que reconoce su necesidad y que la misma se ve colmada gratuitamente por Dios. Por eso le agradece y le alaba. Y es salvado por esta actitud.
Es de notar también la sentida queja de Jesús, en forma de preguntas sin respuesta, que cierra el relato (cf. Lc 17, 17-18). Estas preguntas nos revelan a Jesús sensible ante la ingratitud de los hombres. Tuvo compasión de ellos, les concedió la gracia pedida, la curación, pero sólo uno respondió correctamente. Y era justamente un extranjero, un samaritano.
En síntesis, a lo largo del relato se describen las cuatro formas básicas de oración en una gradualidad creciente: pedir perdón (piedad) y pedir gracias (curación); dar gracias y alabar.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
A distancia…
Señor Jesús
Ten compasión de mí porque a veces
Cuando pasas tan cerca
Me mantengo a distancia
Enfermo, marginado,
Confiado en mis propias fuerzas.
Déjame oír tu voz,
Así sabré adónde voy
Solo tu Palabra me alienta
Me anima a buscar tu Rostro:
Pastor que apacientas
Quiero ese nuevo amanecer
Sanadas ya mis heridas
Las del pecado y las caídas.
Y me deje alimentar como un niño
Con el Pan de cada día
Pero hazme ofrenda
No falte mi gratitud a tus gestos
Quiero devolverte algo de esa ternura
Con mi nada y mi no ser
Mis temores, mis angustias
En este peregrinar maduramos
O morimos sin más
La fe es nuestro regalo y así…
Después de la cruz, la muerte, lo sé
Luego resucitar. Amén.