LINK AUXILIAR:
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: 2 Reis 5,14-17
Salmo Responsorial 97(98) - R- O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça.
2ª Leitura: 2 Timóteo 2,8-13
Evangelho Lucas 17,11-19
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 11Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. 12Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a distância 13e gritaram: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós!” 14Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. 15Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; 16atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. 17Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. – Palavra da salvação.
Lc 17,11-19
Jesus está indo ao encontro da sua Paixão e Morte, que acontecerá em Jerusalém. Enquanto faz a sua viagem pascal, Jesus se encontra com um grupo de leprosos. A lepra era considerada castigo de Deus para os pecadores, tornava as pessoas impura para o culto e determinava o afastamento da comunidade de quem a contraísse, obrigando-os a vier fora do convívio humano.
Os leprosos eram, portanto, homens e mulheres excluídos da sociedade, forçados a vagar na solidão, a conviver apenas com outros leprosos e a anunciar sempre a sua chegada quando passavam nas proximidades dos centros habitados. Além disso, sofriam a humilhação de serem obrigados a usar vestes esfarrapadas e a cabeça descoberta.
Um grupo de dez leprosos vai ao encontro de Jesus. Pedem-Lhe ajuda, da forma como lhes é permitido: à distância. Gritam o mais alto possível para pedir ajuda: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13). Jesus os vê e pede-lhes que realizem um gesto muito preciso: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes” (Lc 17,14).
Qual é o significado disso? Por que Jesus não os curou imediatamente como já tinha feito em outras ocasiões: bastava impor as mãos ou somente ordenar: Eu quero! Ficai purificados!
Em vez disso, Jesus pede aos leprosos um gesto de fé: que eles partam dali para se apresentar aos sacerdotes. Os leprosos obedecem e acreditam em Jesus. Enquanto eles estão a caminho, se veem curados. Nove leprosos curados correm ainda mais rapidamente para se apresentar aos sacerdotes: assim os sacerdotes poderão constatar logo a cura da doença e serem reintegrados à comunidade. Eles são curados do mal físico porque acreditaram e obedeceram à ordem de Jesus. Foram curados do mal físico, mas não se converteram a Jesus; eles receberam o dom da cura, mas não acolheram o dom que é Jesus. Contentaram com o menor e perderam a oportunidade de receber o Maior.
Somente um samaritano, ao se ver curado, deixa o seu projeto pessoal para depois para retornar a Jesus. Ele é o único que não só alcançou o dom da cura, mas decidiu abraçar o dom da fé em Jesus. Ele volta até Jesus, se prostra aos seus pés e lhe agradece. Esse agradecimento do samaritano não é somente uma reação de cortesia, mas um acolhimento de uma vida nova possibilitada e gerada por Jesus. O samaritano é profundamente transformado pela fé em Jesus, por isso é enviado em missão: “Levanta-te e vai”.
Nesta eucaristia recebemos não somente as graças de que tanto necessitamos, mas nos é dado o próprio autor da graça que é Jesus. Pela Palavra proclamada e pela eucaristia oferecida, somos profundamente transformados por Cristo e por isso somos também enviados.
Não sejamos como os 9 leprosos que só se interessaram pela própria cura, que receberam o milagre, mas não receberam Jesus, que se limitaram a receber uma graça, mas não acolheram o autor de toda a graça. Sejamos como o samaritano: recebamos de Jesus a vida nova, para sermos enviados como missionários aos outros.
28º domTComum - Lc 17,11-19 – Ano C – 09-10-22
A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos os homens, sem exceção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.
A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem exceções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único salvador e manifestar-lhe gratidão.
A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui chama-se a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se perfeitamente na óptica teológica de um evangelho cujo objetivo fundamental é apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
É esse o ponto de partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
Contudo, o acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a Jesus e no facto de este ser um samaritano. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus. Haverá aqui, certamente, uma alusão à autossuficiência dos judeus que, por se sentirem “Povo eleito”, achavam natural que Deus os cumulasse dos seus dons; no entanto, não reconheceram a proposta de salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu… Certamente haverá aqui, também, um apelo aos discípulos de Jesus, para que não ignorem o dom de Deus e saibam responder-Lhe com a gratidão e a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação).
Outros passam a vida indiferentes a tudo. Só enxergam o que serve aos seus próprios interesses. Não se deixam surpreender por nada gratuito, não deixam que ninguém os ame ou os abençoe.
Para viver com gratidão, é necessário reconhecer a vida como boa; olhar o mundo com amor e compaixão; limpar o olhar da negatividade, do pessimismo ou da indiferença para apreciar o que é bom, belo e admirável nas pessoas e nas coisas.
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 17, 11-19, que corresponde ao 28º Domingo do Tempo Comum, ciclo c do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 06-10-2025.
Eis o comentário.
Há quem caminhe pela vida com um ar triste e amargo. Seu olhar está sempre fixo no desanimador. Falta-lhes a visão para ver que, apesar de tudo, o bem supera o mal. Não conseguem apreciar os muitos gestos nobres, belos e admiráveis que ocorrem todos os dias, em todo o mundo. Talvez vejam tudo como escuro porque projetam sua própria escuridão nas coisas.
Outros vivem em perpétua atitude crítica. Passam a vida observando o negativo ao seu redor. Nada escapa ao seu julgamento. Consideram-se lúcidos, perspicazes e objetivos. No entanto, nunca elogiam, admiram ou expressam gratidão. Seu foco está em destacar o negativo e condená-lo.
Muitas pessoas vivem vidas monótonas e entediantes. Suas vidas são pura repetição: a mesma rotina, o mesmo trabalho, as mesmas pessoas, as mesmas conversas. Elas nunca descobrem uma nova paisagem em suas vidas - José Antonio Pagola
Outros passam a vida indiferentes a tudo. Só enxergam o que serve aos seus próprios interesses. Não se deixam surpreender por nada gratuito, não deixam que ninguém os ame ou os abençoe. Trancados em seu próprio mundo, já têm o suficiente para defender seu pequeno, cada vez mais triste e egoísta bem-estar. A gratidão nunca brota de seus corações.
Muitas pessoas vivem vidas monótonas e entediantes. Suas vidas são pura repetição: a mesma rotina, o mesmo trabalho, as mesmas pessoas, as mesmas conversas. Elas nunca descobrem uma nova paisagem em suas vidas. Nunca vivenciam um novo dia. Nada de novo lhes acontece que renove seu espírito. Elas não sabem amar as pessoas de uma nova maneira. Seus corações não conhecem louvores.
Para viver com gratidão, é necessário reconhecer a vida como boa; olhar o mundo com amor e compaixão; limpar o olhar da negatividade, do pessimismo ou da indiferença para apreciar o que há de bom, belo e admirável nas pessoas e nas coisas. Quando São Paulo diz que "fomos criados para louvar a glória de Deus", ele expressa o significado e a razão mais profundos da nossa existência. No episódio narrado por Lucas, Jesus se surpreende ao ver que apenas um dos leprosos retorna "dando graças" e "louvando a Deus". Ele é o único que soube se surpreender com a cura e se reconhecer abençoado.
“Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13)
“...atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu” (Lc 17,16)
Jesus está a caminho, quase chegando à etapa final da viagem: Jerusalém. A estrada é a vida e a missão de Jesus, enviado para revelar o rosto misericordioso de Deus aos homens. A sua estrada é marcada pela solidariedade e cuidado para com os mais excluídos e sofridos.
Entre Jesus e aquela estrada, que conduz a Jerusalém, há uma relação vital: Ele é o “autor” daquela estrada; Ele é a estrada do cumprimento da vontade de amor e de salvação do Pai; Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Essa estrada deverá ser a mesma também dos discípulos, a do seguimento, a que conduz à Cidade santa, à plena bem-aventurança. Um Caminho que faz viver e realiza a comunhão em plenitude.
Logo que Jesus entrou na aldeia, “dez leprosos” foram ao seu encontro. Pela narração do evangelista, temos a impressão de que não há mais ninguém na cena: Jesus parece estar sozinho com os leprosos. A aldeia se apresenta surpreendentemente vazia. É óbvio, os leprosos deviam estar separados e longe de todos.
Na verdade, a lepra era entendida como manifestação de uma condição de pecado.
Os leprosos, embora mantivessem a devida distância, vão ao encontro de Jesus, gritando.
Aqueles pobres miseráveis O buscam como o “misericordioso”: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós!”.
É uma oração surpreendente, na qual o homem de Nazaré é chamado pelo próprio nome.
Jesus, por sua vez, pousa sobre eles o seu “olhar” e os envolve com tanta atenção e sedução, que os dez não hesitam, nem um momento sequer, em pôr em prática, com confiança, a ordem que lhes foi dada: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Assim, Jesus se põe com eles na estrada da esperança, na estrada da experiência da solidariedade que cura e os acompanha, mesmo de longe, até aos sacerdotes.
A recuperação da saúde deles se torna também reinserção na sociedade, no espaço familiar e na comunidade religiosa. Eles não serão mais rejeitados.
Dois sentimentos nobres são desvelados no relato deste domingo: a compaixão e a gratidão.
Dois sentimentos que se expressam como duas atitudes básicas na vida; por um lado, revelam a maturidade da pessoa e, por outro, tornam possível uma convivência harmoniosa e construtiva.
Mas, como toda arte, tais atitudes requerem um cuidado expresso e cotidiano. A partir do contexto e da situação em que cada um se encontra na vivência destes sentimentos nobres, sempre é possível dar passos nessa dupla direção, favorecendo conscientemente ser compassivos e agradecidos.
Considerados pecadores e condenados ao ostracismo, afastados de qualquer convivência social e de todo contato humano, com proibição expressa de se aproximarem de qualquer pessoa, os leprosos padeciam, esperando a morte, em colônias mais ou menos numerosas.
Compreende-se que, nessa situação, clamassem por compaixão. O ser humano sempre precisa que os demais “se coloquem em sua pele”, compreendam sua situação e seu comportamento. Mas essa necessidade se faz mais aguda quanto mais frágil e vulnerável se sente.
Esse é o significado profundo do termo “compaixão”: sentir com o outro e agir como consequência, buscando uma solução para a situação de extrema necessidade.
Jesus vive uma contínua travessia e sai ao encontro dos oprimidos e excluídos de todo tipo. Preocupa-se com todos os que encontra em seu caminho, sobretudo aqueles que estão atrofiados em sua vida. Sem a compaixão de Jesus, o relato seria impossível.
É da margem da exclusão que brotam os clamores por compaixão; e Jesus, com sua sensibilidade ativada, deixa-se afetar pelos gritos dos excluídos.
Os leprosos pedem compaixão a Jesus. Desejam ser compadecidos, perceber que sua desgraça não passa desapercebida e sentir o calor da compreensão de alguém significativo e com autoridade. Novamente, Jesus revela que só a compaixão não é suficiente e que permanecer na esfera dos sentimentos não soluciona o problema. Requer-se uma ação que ajude à pessoa a recuperar sua dignidade. Esta é a chave da misericórdia, ou seja, colocar o coração-ação na miséria humana e restaurá-la a partir de dentro.
A gratidão, por sua vez, tem a ver com nosso ser essencial, pois ativa o que há de melhor em nós.
Ela nasce do nosso eu profundo e flui por todos os membros, passa por todos os poros do nosso corpo. Não deixa sem tocar nenhuma parte do nosso ser. Abarca tudo o que somos e desperta o melhor que possamos imaginar ou que possamos aspirar.
No evangelho de hoje é, precisamente, alguém vindo de fora, desprezado pelos de dentro, o único que sabe reconhecer o dom recebido de Deus, dando uma magistral lição àqueles que não souberam agradecer.
Só um retornou para dar graças; só um se deixou levar pelo impulso vital da gratidão. Os outros nove (supõe-se que eram judeus), se sentiram na obrigação de cumprir o que a lei mandava: apresentar-se ao sacerdote para que lhe declarasse puro e pudesse ser reintegrado à sociedade. Para eles, voltar a fazer parte da instituição religiosa e social era a verdadeira salvação. Os nove voltam a submeter-se ao abrigo da instituição: vão ao encontro com Deus no templo e nos ritos. O Samaritano, no entanto, sentiu ser mais urgente voltar para agradecer. Foi aquele que se deixou conduzir pelo coração, porque, livre das ataduras da lei, se atreveu a expressar sua vivência profunda. Este, encontra a presença de Deus em Jesus. É mais importante responder vitalmente ao dom de Deus que o cumprimento de alguns ritos externos.
Pois, foi Deus mesmo quem, ao criar-nos gratuitamente no amor, nos ensinou a “sermos gratuitos e gratos”.
A gratidão é um sentimento que enriquece as relações e eleva o “tom vital” da pessoa agradecida. Quem vive a gratidão manifesta um dinamismo aberto, cordial e animoso, praticamente imune ao desalento.
A gratidão nasce da vivência da gratuidade e caminha de mãos dadas com a aceitação de que tudo é dom. Quando se percebe que tudo é graça, não se pode viver sem agradecimento. E quando se vive em sintonia com a realidade, é possível dar graças por tudo o que dela provém, pois tudo traz uma mensagem e uma oportunidade.
O oposto ao reconhecimento da gratuidade é o narcisismo exigente e autorreferencial que se considera com “direitos” frente a tudo, numa postura egocentrada, incapaz de sair e si e dar valor ao que recebeu.
A gratidão possibilita fluir com a vida, permitindo que se expresse livre e adequadamente através de nós.
A gratidão é uma arte que pode ser alcançada na medida em que é ativada. E o melhor caminho para isso é “dar graças” por tudo. Tudo é graça, de graça; somos seres agraciados, cheios de graça...
Cabe a nós, enquanto seguidores de Jesus, pensar-sentir agradecidamente e ter gestos de gratuidade.
Cabe a nós falar agradecidamente. A expressão “muito obrigado” é das primeiras que se aprende quando alguém se inicia em outro idioma. Ser agradecido se aprende agradecendo e tudo se pacifica quando o “gratuito” marca a pessoa por inteiro.
A vida nova vem da vida recebida e partilhada; ela nos coloca acima do êxito e do fracasso, pois está no nível da gratuidade.
Para meditar na oração:
Criar um clima de ação de graças. Tudo é Graça.
Ponderar com muito amor tudo o que o Senhor fez por mim, por meio dos outros, da Criação e de minha história passada e presente. Como Ele me cumula de seus próprios bens. Tudo é dom de Deus; tudo foi criado por amor para mim (Deus providente).
No texto de hoje, aparece outro assunto muito próprio de Lucas: a gratidão. Saber viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28-38; 5,25-26; 7,16; 13,13; 17,15-18; 18,43; 19,37; etc.). Além disso, no Evangelho de Lucas, há vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
Comentando
1. Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém
Lucas lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia. Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela Samaria. Isto significa que os importantes ensinamentos dados nestes capítulos (9 a 17) foram todos dados em território que não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de Lucas, vindas do paganismo.
2. Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos
Dez leprosos aproximam-se de Jesus, param ao longe e gritam: “Jesus, mestre, tem piedade de nós!” O leproso era uma pessoa excluída. Não podia aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se, novamente, acolhido por Deus, poder dirigir-se a Ele para receber a bênção prometida a Abraão.
3. Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura
Jesus responde: “Vão mostrar-se aos sacerdotes!” Era o sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exige muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles acreditam na palavra de Jesus e vão em direção ao sacerdote. E acontece que, enquanto vão caminhando, manifesta-se a cura. Ficam purificados.
4. Lucas 17,15-16: Reação do samaritano
Dos dez, só um volta para louvar a Deus e agradecer a Jesus. E este é um samaritano. Por que os outros não voltam? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia uma tendência que levava o povo a observar a lei para poder merecer a vida eterna. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Elas acham tão normal receber algum favor, que nem sequer agradecem! O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar pelo dom da própria vida! Hoje são os pobres que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da vida.
5. Lucas 17,17-19: Observação de Jesus
Jesus estranha: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para Jesus, agradecer aos outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição nos judeus. Hoje, são as pessoas que não fazem parte da comunidade que dão lição a nós! Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós por intermédio do irmão e da irmã.
6. Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós
Lucas acrescenta, aqui, uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre a data da vinda do Reino. Os fariseus achavam que o Reino só poderia vir quando o povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. A vinda do Reino seria recompensa de Deus pelo bom comportamento do povo. E o Messias viria de maneira bem solene como um rei, recebido pelo seu povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independentemente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus.
Alargando
1. O significado do gesto do samaritano para as comunidades de Lucas.
Nas comunidades de Lucas, a maioria das pessoas tinha vindo do paganismo. Mesmo depois de haverem acolhido o evangelho e de serem batizadas, suportavam o desprezo dos cristãos de origem judaica. A mancha de haverem sido pagãos permanecia. Essa era também a experiência do samaritano. Foi curado da lepra e podia agora participar da vida da comunidade, mas continuava nele a mancha de ser samaritano, que ninguém poderia tirar. A experiência de ser um eterno excluído aumenta nele a capacidade de reconhecer o dom do acolhimento dado por Jesus. Por isso, volta para agradecer.
2. A acolhida dada aos samaritanos no Evangelho de Lucas.
Para Lucas, o lugar que Jesus dá aos samaritanos é o mesmo que as comunidades devem reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois para os judeus samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios interiores do Templo de Jerusalém nem participar do culto. Eram considerados portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
3. A lepra e a busca da pureza no tempo de Jesus.
Os leprosos eram marginalizados, desprezados e excluídos do direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da pureza, eles tinham que andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados e ir gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o mesmo que buscar a pureza para que fossem reintegrados na comunidade e entrar no santuário.
Dez leprosos vêm ao encontro de Jesus. A lei os proíbe de entrar em contato com Ele. Por isso “param ao longe” e daí lhe pedem a compaixão que não encontram naquela sociedade que os exclui: “Tem compaixão de nós”.
“Ao vê-los”, sós e marginalizados, pedindo um gesto de compaixão, Jesus não espera nem um pouco. Deus quer vê-los convivendo com todos: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Que os representantes de Deus vos deem autorização para voltar aos vossos lares. Enquanto iam pelo caminho, ficaram limpos.
O relato podia ter terminado aqui. Mas interessa ao evangelista destacar a reação de um deles. Este homem “vê que está curado”: compreende que acaba de receber algo muito grande; sua vida mudou. Então, em vez de apresentar-se aos sacerdotes, “volta” para Jesus. Ali está seu Salvador.
Já não anda como um leproso, afastando-se das pessoas. Volta exultante. De acordo com Lucas, faz duas coisas. Em primeiro lugar, “louva a Deus em alta voz”: Deus está na origem de sua salvação. Depois, prosta-se diante de Jesus e “lhe dá gracas”: é este o Profeta bendito pelo qual chegou a compaixão de Deus.
Explica-se a estranheza de Jesus: “Onde estão os outros nove?” Continuam entretidos com os sacerdotes, cumprindo os ritos prescritos? Não descobriram de onde a salvação chega à sua vida? Depois diz ao samaritano: “Tua fé te salvou”.
Todos os leprosos foram curados fisicamente, mas só aquele que voltou a Jesus dando gracas ficou “salvo” pela raiz. O que é uma religião vivida sem agradecimento? O que é um cristianismo vivido a partir de uma atitude triste e negativa, incapaz de experimentar e agradecer a luz, a forca, o perdão e a esperanca que recebemos de Jesus?
Não precisamos reavivar na Igreja o agradecimento e o louvor a Deus? Não precisamos voltar a Jesus dando gracas? Não é isto que pode desencadear nos crentes uma alegria hoje desconhecida por muitos?
Lucas apresenta Jesus como um peregrino para Jerusalém. O Evangelho narra que já no capítulo 9,51 Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A partir dali, em diversas ocasiões, confirma sua missão de estar no caminho. Recordemos alguns desses momentos narrados por Lucas sobre sua peregrinação: “enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado” (10,38); “Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo no caminho para Jerusalém” (13,33); “chamou à parte os Doze, e disse: ‘Vejam: estamos subindo para Jerusalém, e vai se cumprir tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem’ (18,31)”.
Neste caminho Jesus percorre terra estrangeira e sua mensagem é anunciada para as pessoas que moram ali e para todos aqueles que o seguem e escutam suas palavras. Nesse trajeto apresenta diferentes atitudes que devem ter as pessoas que desejam ser discípulas de Jesus, os diferentes comportamentos e formas de proceder para acolher sua mensagem. Lembre-se de que o evangelho de Lucas é dirigido fundamentalmente aos cristãos vindos do paganismo, comunicando a universalidade da Boa Notícia de Jesus: é para todas as pessoas e não está limitada por nenhuma fronteira, nem religiosa, nem sociocultural e menos ainda geográfica. A salvação é para todos e todas as pessoas que moram nesta terra.
Para Jesus não existem fronteiras; pelo contrário, sua viagem está além das fronteiras estabelecidas pelos povos, pelas diferentes raças e religiões. Nesta caminhada percorre Galileia e Samaria, chama novos discípulos, é recebido por Marta e sua irmã na sua casa e ultrapassa continuamente os limites da religião, do povo, da raça.
Em vários momentos destaca a atitude dos forasteiros ou da multidão diante da proposta de Jesus em contraposição com os que se consideram os “donos da fé”. Assim responde com a parábola do Bom Samaritano ao “especialista em leis” que tinha perguntado o que “deve fazer para receber em herança a vida eterna”. Jesus não comunica uma fé teórica, nem leis que devem ser cumpridas, mas propõe um amor que se expressa em atitudes e ações concretas.
Nesta passagem por Samaria, o texto de hoje diz que “quando estava por entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele”. E continua, dizendo que: “Pararam de longe, e gritaram: ‘Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!’”.
Podemos imaginar a dor de cada um de ser rejeitado, marginalizado, desprezado e sofrer no seu corpo a exclusão da sociedade. No livro do Levítico apresentam-se as prescrições sobre o procedimento social que lhe era imposto. As roupas que um leproso tinha que usar, o comportamento que lhe era exigido para proteger a comunidade dessa afecção que era uma enfermidade muito temida pela possibilidade do contágio: “Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: ‘Impuro! Impuro!’. Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento” (Lv 13,45-46).
Ao vê-los, Jesus disse: “Vão apresentar-se aos sacerdotes”. Jesus os vê e, pela sua palavra, os envia ao sacerdote. A palavra é a comunicação que descreve a narrativa entre os leprosos e Jesus. Para ir ao sacerdote tinham que entrar na cidade, e o sacerdote devia confirmar que essa pessoa estava curada da lepra, lhes dava um “certificado de saúde” e, dessa forma, podiam reintegrar-se na vida social.
Imaginemos os leprosos que recebem estas palavras de Jesus, mas seu corpo ainda está com lepra. Apesar disso eles se dirigem ao sacerdote! Jesus pede-lhes fé e “enquanto caminhavam eles quedaram curados”. Eles tomam a decisão de ir até os sacerdotes sendo ainda leprosos e é no caminho que ficam curados.
Nesse momento um deles acredita na cura que está acontecendo nele e por isso não precisa da confirmação do sacerdote. Sabe que a cura veio de Jesus através de suas palavras. Ele volta para agradecer a Jesus! Volta atrás “dando glória a Deus em alta voz”. Num primeiro momento ele estava com o grupo de leprosos que também havia gritado a Jesus pedindo a cura, mas agora seu grito é diferente. Ele grita de alegria, louvando a Deus e “jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu”.
No caminho tinha acontecido o milagre! Este leproso soube não somente reconhecê-lo, mas possivelmente as palavras de Jesus ressoaram no seu interior e por isso volta atrás para jogar-se diante de Jesus. Ele foi o verdadeiro mestre, como tinha sido chamado pelo grupo no começo.
Como seria a alegria desta pessoa que tinha sido marginalizada durante vários anos pela sociedade e, graças ao contato com Jesus, fica curado? Sua cura provém de Jesus, que respondeu ao seu clamor! E o evangelho disse-nos que “era um samaritano”.
Lucas, no seu evangelho, é muito sensível aos pobres, aos doentes, aos marginalizados e também aos samaritanos. Dos dez leprosos, nove dentre eles eram possivelmente judeus e tinham admitido no seu grupo um samaritano: a dor os irmanava.
Todos eles procuram Jesus e os dez leprosos acreditam nas suas palavras. Ficam curados os dez, mas há nove que estão mais preocupados por cumprir a Lei e receber a confirmação da cura da parte do sacerdote do que em agradecer a Jesus e louvar a Deus pela sua ação de libertação. O samaritano é o único que consegue perceber a grandeza da mudança que a palavra de Jesus obrou nele e volta para agradecer-lhe.
O pagão é o único que abre seu coração a Deus com confiança e recebe a verdadeira libertação interior. Ele soube reconhecer o amor do Senhor e, livre de outras escravidões, volta para adorar e agradecer a Jesus pela sua ação libertadora!
Nosso mundo está coberto de diferentes tipos de lepras que marginalizam as pessoas, culturas e sociedades inteiras. Como acontece com as situações dos povos indígenas, geralmente desconhecidos e ignorados. Seguindo o convite do papa Francisco na inauguração do Sínodo da Amazônia, deixemos que suas palavras ecoem no nosso interior e sensibilizem nossas sociedades.
“Nós nos aproximamos com um coração cristão e vemos a realidade da Amazônia com os olhos de discípulo para entendê-la e interpretá-la com os olhos de discípulo, porque não há hermenêuticas neutras, hermenêuticas assépticas, sempre estão condicionadas por uma opção prévia, nossa opção prévia é a dos discípulos.[...] E também nos aproximamos dos povos amazônicos na ponta dos pés, respeitando sua história, suas culturas, seu estilo do bem viver, no sentido etimológico da palavra, não no sentido social que lhes damos tantas vezes, porque os povos possuem entidade própria, todos os povos possuem uma sabedoria própria, autoconsciência, os povos têm um sentir, uma maneira de ver a realidade, uma história, uma hermenêutica e tendem a ser protagonistas de sua própria história com essas coisas, com essas qualidades. E nos aproximamos distantes das colonizações ideológicas que destroem ou reduzem a idiossincrasia dos povos.” (Texto completo:“Estar no sínodo é se animar a entrar em um processo. Não é ocupar um espaço na sala. Entrar em um processo”. Discurso do Papa Francisco na abertura dos trabalhos do Sínodo da Amazônia)
A Boa Notícia que Jesus traz é para todos e todas, sem importar sua origem.
Oração
Batiza-me Jesus
Batiza-me Jesus
com o sol e a brisa
de tua graça cotidiana,
discreta criação
escorrendo por minha fronte
Submerge meu corpo
na bondade do povo
que corre pelo leito
de seus caminhos fundos,
abertos com seus pés
de trabalho e encontro.
Veste-me de branco
ao emergir das águas
respiração contida,
e acolhe-me em teu peito
com o abraço comunitário
de mil braços abertos.
Dissolve um grão de sal
no céu de minha boca,
para que a vida nova
se conserve inteira
com os sabores fortes
do evangelho.
Unge-me a fronte
com tua cruz de sofrimento,
e unge-me o peito
com a dor do povo.
Carregarei até o calvário
a cruz de teu mistério.
Que se alegre o cosmos
no ruído natural
do metal e a madeira,
e que cantem as gargantas
hoje, dia primeiro
da nova criação.
Benjamin González Buelta
Salmos para “Sentir e saborear as coisas internamente”
(Confira com o original em espanhol que está após a tradução feita pelo Tradutor Google)
XXVIII DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
O Padre Tena nos conta que a partir deste domingo, dia 28, entramos na terceira etapa da jornada rumo a Jerusalém. Ela consiste em quatro domingos, cujos temas podem ser resumidos da seguinte forma : 1.
Domingo 28: Aprendendo a agradecer pela salvação.
Domingo 29: Oração constante em tempos difíceis.
Domingo 30: A oração dos pobres pecadores, caminho para a salvação.
Domingo 31: A salvação da casa de Zaqueu.
1ª Leitura (2 Reis 5,10.14-17):
O ciclo de Eliseu abrange 2 Reis 2:1-9, 13; 13:14-21 e segue o ciclo de Elias (cf. 1 Reis 19:15-19), claramente o sucessor de Elias, continuando a campanha de retorno à fé israelita iniciada por Elias. A leitura de hoje faz parte deste ciclo de Eliseu e narra o encontro entre o general sírio Naamã e o profeta Eliseu. De um lado, temos Naamã, um leproso que vem ao profeta para pedir cura. Do outro, Eliseu, que lhe ordena que se banhe sete vezes no rio Jordão. Naamã obedece, agindo de acordo com a palavra do homem de Deus. Ele vai, se banha e é curado. Ao retornar ao profeta Eliseu, ele confessa o Deus de Israel como o único Deus . Retenhamos desta narrativa principalmente o caminho ou processo: da cura física à profissão de fé em Deus.
Evangelho (Lc 17, 11-19):
Jesus está a caminho de Jerusalém e, antes de entrar em uma aldeia, é recebido por dez leprosos, que se mantêm à distância e levantam a voz . Para entender essa cena, devemos lembrar que, segundo as leis do Antigo Testamento, os leprosos eram considerados impuros e tinham que viver fora da comunidade. Além disso, não lhes era permitido aproximar-se de nenhuma pessoa saudável devido ao risco de contágio. Em outras palavras, a doença da lepra tinha uma dimensão ou consideração religiosa, a ponto de ser leproso ser um sinal claro de estar distante de Deus e separado da comunidade da salvação. Eis como a Lei de Israel a estabelecia:
Levítico 13:45-46: O leproso terá suas vestes rasgadas e seus cabelos soltos; cobrirá a boca e gritará: "Imundo, imundo!". Ele será impuro durante toda a sua doença. Por ser impuro, viverá em separado, e sua morada será fora do acampamento.
O grito de socorro dos leprosos a Jesus: "Tem misericórdia de nós" (ἐλέησον ἡμᾶς), evoca a invocação a Deus nos Salmos (p. ex., Sl 40:5; 50:3-4). A resposta de Jesus é um olhar compassivo e uma ordem: "Ide e mostrai-vos ao sacerdote". Acontece que essa doença, por causar impureza cúltica ou religiosa, tinha que ser diagnosticada pelo sacerdote. Cabia também aos sacerdotes confirmar a cura e permitir que o leproso curado reingressasse na comunidade, declarando-o "puro". Isso está estabelecido na lei de Israel:
Levítico 14:2-3, 8: Quando um leproso for declarado limpo, o seguinte ritual será realizado: A pessoa será levada ao sacerdote. 3 O sacerdote sairá do acampamento e, se verificar que o leproso está realmente limpo da sua doença, 4 trará duas aves vivas e limpas para a pessoa a ser purificada […] 8 Aquele que for purificado lavará as suas roupas, rapará todo o seu pelo, banhar-se-á em água e ficará limpo. Depois disso, poderá entrar no acampamento, mas permanecerá fora da sua tenda por sete dias.
2
Disto fica claro que a ordem de Jesus era que se apresentassem ao sacerdote para que ele certificasse a cura da lepra . Os dez partiram, tendo demonstrado sua fé na Palavra de Jesus . E, ao longo do caminho, todos os dez foram curados, "purificados" (o verbo katharizō ).
Ora, dos dez leprosos, apenas um retorna ( upostrefō ) a Jesus e é declarado "salvo" por sua fé (ἡ πίστις σου σέσωκέν σε). Notemos que "o verbo u-dessert,fw ( upostrefō ) tem um significado local: o leproso curado refaz seus passos. Mas este verbo, ligado à alegria e ao louvor, também sugere uma realidade espiritual: o leproso internaliza sua cura, intensifica sua confiança inicial, aprofunda sua fé e completa sua conversão" 2 .
O texto indica que esse “retorno” foi motivado por um “ver” diferente dos demais: “Um deles, vendo-se (ἰδὼν) curado” (Lc 17,15). Esse “ver” está em paralelo com o olhar de Jesus para os leprosos: “Quando Jesus os viu (ἰδὼν), disse-lhes...” (Lc 17,14). A respeito disso, A. Rodriguez Carmona 3 diz : “Todos experimentaram a cura, mas o ver deste homem tinha um caráter transcendente, pois o fazia ir mais longe, reconhecendo nessa cura um favor que Deus lhe fizera por meio de Jesus, seu mensageiro.”
Para os outros nove, a fé inicial em Jesus apenas os levou à cura e à purificação, mas não foi suficiente para a salvação. Como bem diz F. Bovon: "Se a fé não for acompanhada de gratidão, não é fé verdadeira. Permanece ligada ao milagre e não conduz à salvação. " 4
A observação de que o leproso curado era um samaritano serve para indicar a misericórdia de Deus para além da eleição de Israel, com uma abertura universalista. Ou talvez, como observa H. U. von Balthasar, seja alguém não familiarizado com a tradição e os costumes que possa reconhecer que a cura veio de Jesus e não do poder do antigo sacerdócio .
A frase final de Jesus é muito importante porque praticamente torna dar graças a Ele sinônimo de dar glória a Deus : "Ninguém voltou para dar graças a Deus, a não ser este estrangeiro?" (17,18). E daí podemos deduzir que, ao dar graças a Jesus, estamos glorificando a Deus: é uma confissão de fé na divindade de Jesus .
ALGUMAS REFLEXÕES:
O Evangelho do último domingo nos convidou a rezar por um aumento na fé , para crer mais e melhor. Hoje, nos é mostrado o processo da fé com suas etapas ou passos .
Tanto Naamã, na primeira leitura, quanto os dez leprosos do Evangelho se aproximam de Deus, seja por meio do profeta Eliseu, seja por meio de Jesus, buscando graça, uma saída para uma situação dolorosa e desesperadora que os marginaliza. Como dissemos, o leproso é o símbolo do homem separado de Deus (não pode adorá-Lo nem participar de assembleias religiosas) e segregado pelos homens (deve viver fora da cidade e não pode se aproximar de nenhuma pessoa saudável).
Todos creem na palavra do mediador, seja Eliseu ou Jesus; todos obedecem à ordem que receberam. Naamã desce ao rio Jordão para se banhar sete vezes, e os dez leprosos vão ver o sacerdote. Este é verdadeiramente um ato de fé . Um primeiro e importante ato de fé. E todos recebem a cura de Deus. Eles obtêm o que buscavam e pediam. Nove dos dez leprosos permaneceram ali. Eles foram simplesmente curados. Naamã, por outro lado, retorna ao profeta para agradecer e confessar sua fé em Javé como o único Deus. Sua fé cresceu, chegando ao ponto de confessar a fé em Deus e a intenção de adorar a Javé.
De modo semelhante, o leproso samaritano do Evangelho toma consciência de sua cura, reconhece o dom recebido de Deus e o louva: "Um deles, vendo-se curado, voltou-se, louvando a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe" (Lucas 17:15).
Todos os dez foram curados, mas apenas um percebeu plenamente que havia recebido um presente: "ver-se curado". Por isso, ele imediatamente se volta e louva a Deus, esquecendo-se um pouco de si mesmo e voltando-se para Deus, que teve compaixão dele. Isso é precisamente louvor.
Segundo o Cardeal Martini, este louvar a Deus com reverência , inclui um aspecto fundamental da espiritualidade bíblica, e é a resposta humana à ação de Deus, é a reação do homem que recebe a palavra de Deus 6 .
Ora, o leproso curado não vai ao templo nem procura o sacerdote do Antigo Testamento, mas reconhece a ação de Deus em Jesus . Por isso, prostra-se diante dEle e agradece. Naamã confessa Javé como Deus; o leproso samaritano reconhece Deus presente e ativo em Jesus. A fé teologal tornou-se cristológica e eucarística, na medida em que agradece a Jesus pela cura recebida.
O leproso samaritano é a imagem do crente completo, pois não apenas foi curado, mas também salvo . Qual é a diferença? A salvação inclui um relacionamento pessoal com Jesus e, por meio dEle, com o Pai . Como aponta o Cardeal A. Vanhoye 7 : "Os outros nove leprosos se beneficiaram materialmente da cura; obtiveram saúde física. O samaritano, porém, além disso, obteve o relacionamento de fé com Jesus, por meio do qual foi verdadeira e completamente salvo, de corpo e alma. A partir daquele momento, pôde viver esse relacionamento com Jesus, um relacionamento que se estabeleceu graças à cura."
A esse respeito, o Papa Francisco disse em sua homilia de 9 de outubro de 2022: “O samaritano fez do dom recebido o início de uma nova jornada; retornou Àquele que o havia curado, conheceu Jesus de perto e iniciou um relacionamento com Ele. Sua atitude de gratidão não foi, portanto, um simples gesto de cortesia, mas o início de um caminho de gratidão. Ele caiu aos pés de Cristo (cf. Lc 17,16), ou seja, realizou um gesto de adoração; reconheceu que Jesus é o Senhor e que Ele era mais importante do que a cura que havia recebido.
E isso, irmãos e irmãs, é também uma grande lição para nós, que nos beneficiamos das dádivas de Deus todos os dias, mas que muitas vezes seguimos nosso próprio caminho, esquecendo-nos de cultivar um relacionamento vivo e real com Ele. Esta é uma doença espiritual feia, tomar tudo como garantido, até mesmo a fé, até mesmo nosso relacionamento com Deus, a ponto de nos tornarmos cristãos que não sabem mais se maravilhar, que não sabem mais dizer "obrigado", que não demonstram mais gratidão, que não sabem mais ver as maravilhas do Senhor. "Cristãos superficiais", como disse uma mulher que conheci. Dessa forma, acabamos pensando que tudo o que recebemos a cada dia é óbvio e merecido. A gratidão, saber dizer "obrigado", nos leva, em vez disso, a testemunhar a presença de Deus-amor. E também a reconhecer a importância dos outros, superando a insatisfação e a indiferença que deformam nossos corações. Saber agradecer é essencial. Todos os dias, demos graças ao Senhor, aprendamos a agradecer uns aos outros: em família, pelas pequenas coisas que às vezes recebemos sem sequer perguntar de onde vêm; nos lugares que frequentamos todos os dias, pelos muitos serviços que desfrutamos e pelas pessoas que nos apoiam; nas nossas comunidades cristãs, pelo amor de Deus que experimentamos através da proximidade dos nossos irmãos e irmãs que muitas vezes em silêncio rezam, oferecem, sofrem e caminham connosco. Por favor, nunca nos esqueçamos desta palavra-chave: Obrigado! Não nos esqueçamos de ouvir e de dizer "obrigado".
Ou seja, uma pessoa grata é alguém que reconhece o "dom" e, portanto, é grata por ele. Isso é o completo oposto do orgulhoso que atribui tudo a si mesmo e acaba negando a obra de Deus. Em última análise, a pessoa grata é o humilde, o evangélico pobre, que reconhece sua necessidade e que ela é gratuitamente suprida por Deus. Portanto, ele O agradece e O louva. E ele é salvo por essa atitude.
Vale destacar também a queixa sincera de Jesus, em forma de perguntas sem resposta, que encerram a história ("Por que não foram todos os dez curados? Onde estão os outros nove? Ninguém voltou para dar graças a Deus, a não ser este estrangeiro?" Lc 17:17-18). Essas perguntas revelam a sensibilidade de Jesus diante da ingratidão dos homens . Ele teve compaixão deles, concedeu-lhes a graça e a cura solicitadas, mas apenas um respondeu corretamente. E ele era um estrangeiro, um samaritano.
Em resumo, as quatro formas básicas de oração são descritas ao longo da história em ordem crescente: pedir perdão (misericórdia) e pedir graça (cura); dar graças e louvar .
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
A alegria da pureza
Senhor
A tua alegria nos enche de alegria,
Transparência do Amor puro
Na tua presença nos enches e curas
Ficamos doentes com tantas lepras
O pessimismo abre nossas feridas
O egoísmo enruga nossa pele
E as dúvidas penetram em nossos ossos
Mas você está lá, no caminho
Em cada passo temos disponível,
Estendendo os braços como uma criança
Tão humano e divino,
Você se tornou acessível a nós
Você nos toca, os doentes.
Você nos perdoa, você nos recebe
Que seja para a tua glória, Senhor.
Viemos até você com gratidão
Ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Amém
1 P. Tena, El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C (CPL; Barcelona 1991) 129.
2 F. Bovon, O Evangelho Segundo São Lucas III (Siga-me; Salamanca 2004) 193.
3 Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 296.
4 F. Bovon, O Evangelho Segundo São Lucas III (Siga-me; Salamanca 2004) 192.
5 Luz da Palavra. Comentários às Leituras Dominicais (Encuentro; Madri 1998) 288.
6 CM Martini, Samuel. Profeta religioso e civil (Santander 1991) 53 ff.
7 Leituras Bíblicas para Domingos e Festas. Ciclo C (Mensageiro; Bilbao 2009) 303.
1
DOMINGO XXVIII DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
Nos dice P. Tena que a partir de este domingo 28 entramos en la tercera etapa del camino a Jerusalén. La integran cuatro domingos cuyos temas pueden esquematizarse así1:
Domingo 28: Aprender a dar gracias por la salvación.
Domingo 29: La plegaria constante en tiempos difíciles.
Domingo 30: La plegaria de los pobres pecadores, camino de salvación.
Domingo 31: La salvación de la casa de Zaqueo.
1ra. Lectura (2Re 5,10.14-17):
El ciclo literario de Eliseo abarca 2 Re 2,1-9,13; 13,14-21 y se encuentra a continuación del ciclo de Elías (cf. 1 Re 19,15-19) de quien es claramente su sucesor para seguir con la campaña de retorno a la fe israelita comenzada por aquel. La lectura de hoy forma parte de este ciclo de Eliseo y nos narra el encuentro del general sirio Naamán con el profeta Eliseo. Por un lado, tenemos a Naamán, enfermo de lepra que se llega al profeta para pedir la curación. Por otro a Eliseo, quien le manda bañarse siete veces en el río Jordán. Naamán obedece, obra conforme a la Palabra del hombre de Dios. Va, se baña y queda curado. Al volver junto al profeta Eliseo, confiesa al Dios de Israel como el único Dios. Retengamos de esta narración principalmente el camino o proceso: de la curación física a la profesión de fe en Dios.
Evangelio (Lc 17, 11-19):
Jesús va camino a Jerusalén y antes de entrar en un poblado le salen al encuentro diez leprosos, quienes se quedan a distancia y alzan su voz. Para comprender esta escena tenemos que recordar que según las leyes del Antiguo Testamento el leproso era considerado impuro y debía vivir fuera de la comunidad. Más aún, no debía acercarse a ningún hombre sano por el peligro de contagio. Es decir, la enfermedad de la lepra tenía una dimensión o consideración religiosa al punto que ser leproso era un signo claro de ser un hombre alejado de Dios y apartado de la comunidad de salvación. Así lo establecía la Ley de Israel:
Lev 13,45-46: La persona afectada de lepra llevará la ropa desgarrada y los cabellos sueltos; se cubrirá hasta la boca e irá gritando: "¡Impuro, impuro!" Será impuro mientras dure su afección. Por ser impuro, vivirá apartado y su morada estará fuera del campamento.
El grito de ayuda de los leprosos a Jesús, "ten misericordia de nosotros" (ἐλέησον ἡμᾶς), recuerda la invocación de los Salmos dirigida a Dios (por ej. Sal 40,5; 50,3-4). La respuesta de Jesús es una mirada compasiva y una orden: "Vayan a mostrarse al sacerdote". Sucede que esta enfermedad, al provocar la impureza cultual o religiosa, tenía que ser diagnosticada por el sacerdote. E igualmente correspondía a los sacerdotes confirmar su curación y permitir el reingreso a la comunidad declarando “puro” al leproso curado. Así está establecido en la ley de Israel:
Lev 14,2-3.8: Cuando haya que declarar puro a un leproso, se aplicará el siguiente ritual: La persona será presentada al sacerdote. 3 Este saldrá fuera del campamento, y si ve que el leproso está realmente curado de su afección, 4 mandará traer, para la persona que va a ser purificada, dos pájaros vivos puros […] 8 El que se purifica lavará su ropa, se afeitará todo el pelo, se bañará con agua, y quedará puro. Después de esto podrá entrar en el campamento, pero tendrá que permanecer siete días fuera de su carpa.
2
Según esto, queda claro que la orden de Jesús era que se presenten al sacerdote para que certifique la curación de su lepra. Los diez se ponen en camino, por lo que han demostrado tener fe en la Palabra de Jesús. Y en el camino quedan curados, "purificados" (verbo katharizō), los diez.
Ahora bien, de los diez leprosos sólo uno regresa (upostrefō) a Jesús y éste es declarado "salvado" por su fe (ἡ πίστις σου σέσωκέν σε). Notemos que "el verbo u-postre,fw (upostrefō) tiene un sentido local: el leproso curado vuelve sobre sus pasos. Pero este verbo, vinculado a la alegría y la alabanza, sugiere también una realidad espiritual: el leproso interioriza su curación, intensifica su confianza inicial, profundiza su fe y culmina su conversión"2.
El texto señala que esta “vuelta” estuvo motivada por un “ver” diferente al de los demás: “Uno de ellos, viéndose (ἰδὼν) curado” (Lc 17,15). Este “ver” está en paralelo con la mirada de Jesús a los leprosos: “Al verlos (ἰδὼν), Jesús les dijo…” de Lc 17,14. Sobre esto dice A. Rodriguez Carmona3: “todos experimentaron la curación, pero el ver de este hombre tuvo un carácter trascendente, en cuanto que le hizo ir más allá, reconociendo en esta curación un favor que Dios le había hecho por medio de Jesús, su enviado”.
A los otros nueve la fe inicial en Jesús los llevó sólo hasta obtener la curación-purificación, pero no les alcanzó para la salvación. Como bien dice F. Bovon: “Si la fe no va acompañada de gratitud no es verdadera fe. Continúa ligada al milagro, y no se eleva hasta la salvación”4.
La anotación de que el leproso curado era un samaritano sirve para indicar la misericordia de Dios que va más allá de la elección de Israel con una apertura universalista. O tal vez, como nota H. U. von Balthasar, se trata de alguien no familiarizado con la tradición y las costumbres que puede reconocer que la curación vino de Jesús y no del poder del sacerdocio antiguo5.
La frase final de Jesús es muy importante porque pone prácticamente como sinónimos el darle gracias a Él con el dar gloria a Dios: “¿Ninguno volvió a dar gracias a Dios, sino este extranjero?" (17,18). Y de aquí se puede deducir que dando gracias a Jesús se está glorificando a Dios: se trata de una confesión de fe en la divinidad de Jesús.
ALGUNAS REFLEXIONES:
El evangelio del domingo pasado nos invitaba a pedir un aumento de fe, para creer más y mejor. Hoy se nos muestra el proceso de la fe con sus etapas o pasos.
Tanto Naamán, en la primera lectura, como los diez leprosos del evangelio se acercan a Dios, sea por medio del profeta Eliseo o de Jesús, buscando una gracia, una salida ante una situación dolorosa y desesperada que los margina. Como dijimos, el enfermo de lepra es el símbolo del hombre separado de Dios (no puede darle culto ni participar de la asamblea religiosa) y segregado por los hombres (debe vivir fuera de la ciudad y no puede acercarse a ningún sano).
Todos creen en la Palabra del mediador, sea de Eliseo sea de Jesús, todos obedecen a la orden recibida. Naamán baja al río Jordán a bañarse siete veces y los diez leprosos se ponen en camino para ver al sacerdote. Esto es realmente un acto de fe. Un primer e importante acto de fe. Y todos reciben la curación de parte de Dios. Obtienen lo que habían buscado y pedido. Nueve de los diez leprosos se quedaron aquí. Sólo fueron curados. En cambio Naamán regresa ante el profeta para agradecer y confesar su fe en Yavé como único Dios. Su fe creció, llegó hasta la confesión de fe en Dios y la intención de rendir culto a Yavé.
De modo semejante el leproso samaritano del evangelio toma conciencia de su curación, reconoce el don recibido de Dios y lo alaba: "Uno de ellos, viéndose curado, se volvió glorificando a Dios en alta voz, y se arrojó a los pies de Jesús con el rostro en tierra, dándole gracias" (Lc 17,15).
Los diez fueron curados, pero sólo uno tomó plena conciencia de que se trataba de un don recibido: "viéndose curado". Por eso enseguida pega la vuelta y alaba a Dios, se olvida un poco de sí y se vuelve a Dios quien ha tenido compasión de él. Esto es justamente la alabanza.
Según el Card. Martini este alabar a Dios con reverencia, recoge un aspecto fundamental de la espiritualidad bíblica, y es la respuesta humana a la acción de Dios, es la reacción del hombre que recibe la palabra de Dios 6.
Ahora bien, el leproso curado no va al templo ni busca al sacerdote del Antiguo Testamento, sino que reconoce la acción de Dios en Jesús. Por eso se postra ante Él y le agradece. Naamán confiesa a Yavé como Dios, el leproso samaritano reconoce a Dios presente y operante en Jesús. La fe teologal se ha vuelto cristológica y eucarística por cuanto agradece a Jesús por la curación recibida.
El leproso samaritano es imagen del creyente completo pues no sólo fue sanado sino también salvado. ¿Cuál es la diferencia? Que la salvación incluye la relación personal con Jesús y, por medio de Él, con el Padre. Como señala el Cardenal A. Vanhoye7: "Los otros nueve leprosos se aprovecharon materialmente de la curación, obtuvieron la salud física. El samaritano, sin embargo, además de ésta, obtuvo la relación de fe con Jesús, mediante la cual se salvó de verdad, de manera completa, en cuerpo y alma. Desde ese momento en adelante pudo vivir en esta relación con Jesús, una relación que se estableció gracias a la curación".
Al respecto dice el Papa Francisco en su homilía del 9 de octubre de 2022: “El samaritano hizo del don recibido el inicio de un nuevo camino; regresó donde Aquel que lo había sanado, fue a conocer de cerca a Jesús y comenzó una relación con Él. Su actitud de gratitud no fue, pues, un simple gesto de cortesía, sino el inicio de un camino de gratitud. Se postró a los pies de Cristo (cf. Lc 17,16), es decir, realiza un gesto de adoración, reconoció que Jesús es el Señor, y que Él era más importante que la curación que había recibido.
Y esta, hermanos y hermanas, es también una gran lección para nosotros, que nos beneficiamos de los dones de Dios todos los días, pero que a menudo seguimos nuestro propio camino, olvidándonos de cultivar una relación viva, real con Él. Esa es una fea enfermedad espiritual, dar todo por sentado, incluso la fe, incluso nuestra relación con Dios, hasta el punto de convertirnos en cristianos que ya no saben asombrarse, que ya no saben decir “gracias”, que no muestran gratitud, que no saben ver las maravillas del Señor. “Cristianos superficiales”, como decía una señora que conocí. De esta manera, acabamos pensando que todo lo que recibimos cada día sea obvio y merecido. La gratitud, el saber decir “gracias”, nos lleva en cambio a atestiguar la presencia de Dios-amor. Y también a reconocer la importancia de los demás, superando la insatisfacción y la indiferencia que deforman nuestro corazón. Saber dar las gracias es esencial. Todos los días, dar gracias al Señor, aprender a darnos las gracias entre nosotros: en la familia, por esas pequeñas cosas que recibimos a veces sin ni siquiera preguntarnos de dónde vienen; en los lugares que frecuentamos cada día, por los muchos servicios que disfrutamos y por las personas que nos apoyan; en nuestras comunidades cristianas, por el amor de Dios que experimentamos a través de la cercanía de los hermanos y hermanas que muchas veces en silencio rezan, ofrecen, sufren, caminan con nosotros. Por favor, no olvidemos nunca esta palabra clave: ¡Gracias! No nos olvidemos de escuchar y decir “gracias.”
Es decir, una persona agradecida es una persona que reconoce el “don” y por eso lo agradece. Es todo lo contrario del orgulloso que se atribuye todo a sí mismo y termina por negar la obra de Dios. En el fondo el agradecido es el humilde, el pobre evangélico, que reconoce su necesidad y que la misma se ve colmada gratuitamente por Dios. Por eso le agradece y le alaba. Y es salvado por esta actitud.
Es de notar también la sentida queja de Jesús, en forma de preguntas sin respuesta, que cierra el relato ("¿Cómo, no quedaron purificados los diez? Los otros nueve, ¿dónde están? ¿Ninguno volvió a dar gracias a Dios, sino este extranjero?" Lc 17, 17-18). Estas preguntas nos revelan a Jesús sensible ante la ingratitud de los hombres. Tuvo compasión de ellos, les concedió la gracia pedida, la curación, pero sólo uno respondió correctamente. Y era justamente un extranjero, un samaritano.
En síntesis, a lo largo del relato se describen las cuatro formas básicas de oración en una gradualidad creciente: pedir perdón (piedad) y pedir gracias (curación); dar gracias y alabar.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
El gozo de la pureza
Señor
Tu alegría nos llena de gozo,
Transparencia del Amor puro
En tu Presencia nos colmas y nos sanas
Enfermamos de tantas lepras
El pesimismo abre nuestras llagas
El egoísmo nos arruga la piel
Y las dudas, los huesos nos calan
Pero Tú estás allí, en el camino
A cada paso nuestro disponible,
Extendiendo los brazos como un niño
Tan Humano y Divino,
Te nos hiciste accesible
A nosotros los enfermos nos tocas
Nos perdonas, nos recibes
Sea para tu Gloria, Señor
Llegarnos a ti agradecidos
Al Padre, al Hijo y al Santo Espíritu.
Amén
1 P. Tena, El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C (CPL; Barcelona 1991) 129.
2 F. Bovon, El evangelio según San Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 193.
3 Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 296.
4 F. Bovon, El evangelio según San Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 192.
5 Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 288.
6 C. M. Martini, Samuel. Profeta religioso y civil (Santander 1991) 53ss.
7 Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 303.