28/09/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Amós 6,1a.4-7
Salmo Responsorial 145-R- Bendize, minha alma, e louva ao Senhor!
1Timóteo 6,11-16
Evangelho Lucas 16,19-31
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: 19“Havia um homem rico que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem!’ 30O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’”. – Palavra da salvação.
A parábola do pobre Lázaro nos oferece uma difícil lição: a de que nossas pobrezas – materiais e espirituais – não são a coisa mais grave e podem esconder em si dons preciosos, ao passo que a riqueza e o bem-estar podem ser enganosos e nos fazer perder o essencial.
A parábola do pobre Lázaro e do rico banqueteiro chama a atenção não para o destino eterno dos dois, mas para a falta de relação e do abismo que os separa.
Havia um homem muito rico, sem nome, e um homem muito pobre, Lázaro. Para matar a fome, Lázaro esperava algumas migalhas caírem da mesa do rico que, nunca, nem sequer viu o pobre. Ele estava muito ocupado com outras coisas! Os banquetes, as roupas importadas, os vinhos e as comidas refinadas.
Apesar da diferença abissal entre os dois, eles acabam compartilhando o mesmo destino: a morte. A morte acaba com as diferenças entre eles, ou melhor, as revelam e as tornam definitivas. Na região dos mortos, Lázaro é acolhido no seio de Abraão e o rico padece em meio as chamas. O sofrimento do rico não é castigo divino, mas o resultado das escolhas que foram feitas em vida.
A parábola não faz um julgamento moral sobre a riqueza e a pobreza. Riqueza e pobreza não são boas nem más. Elas são amorais. O que é objeto de julgamento são as escolhas que foram feitas pelo rico: o modo como ele usou a sua riqueza. Foi a sua indiferença, sua cegueira espiritual, seu egoísmo que o impediu de transpor o abismo que havia entre ele e Lázaro. Agora, depois da morte, esse abismo se tornou intransponível e definitivo.
O profeta Amós denunciou esse tipo de egoísmo indiferente dos ricos. A ostentação e o superconsumismo de poucos teve como consequência a miséria de muitos. A desigualdade é uma herança triste de nosso país e é a causa de muitos lázaros que estão mergulhados na miséria.
É um paradoxo, mas com frequência são os pobres e os desvalidos que mais se esforçam por agradar a Deus. Certamente Lázaro não foi para o céu apenas por ser pobre, mas ele devia manifestar, em meio às suas adversidades, algumas das virtudes mencionadas na 2ª Leitura: piedade, fé, caridade, paciência, mansidão. O amor transforma nossa pobreza com e por Cristo, ao passo que a falta de amor não é capaz de tornar boa sequer a mais farta das riquezas.
Riqueza e pobreza não são bens absolutos – só o amor de Cristo é capaz de sê-lo e de fazer de nossa riqueza e pobreza dons agradáveis a Deus.
Jesus não contou essa parábola para dizer como será a eternidade. Ele quer chamar a atenção para o modo como vivemos no presente e como usamos dos bens desta terra. Podemos usar o dinheiro para transpor os abismos que separam ricos e pobres. Podemos usar o dinheiro de maneira egoísta. Ainda dá tempo para atravessar os abismos e construir pontes. Depois da morte, os abismos se tornarão definitivos.
Por isso, quando ajudamos alguém não lhe estamos prestando um favor. Para o cristão, tudo é de Deus e, se um irmão está sem nada, é porque existe um pecado grave. O papel da esmola não é o de subjugar ou humilhar, mas o de restabelecer a justiça. Lutar por políticas de redistribuição de renda, de superação das desigualdades sociais, lutar por uma sociedade mais fraterna e solidária, menos desigual e boa para todos e a forma concreta de “transpor os abismos” de nosso tempo.
Nós ainda temos tempo: importa diminuir as distâncias, construir relações sociais saudáveis. “Se nós nos recusamos a amar hoje, como poderemos amar amanhã?” (Marc Joulin)
“Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico” (Lc 16,20).
O Evangelho deste domingo nos traz, mais uma vez, uma parábola escandalosa e provocativa. O que Jesus quer nos comunicar através desta parábola que desperta tanto incômodo? A parábola do rico “epulón” e do pobre Lázaro nos inquieta e é inquietante, pois nos situa de novo diante da exigência do amor concreto e comprometido, como serviço ao próximo.
Na primeira parte do relato a ideia prevalente é que tudo o que fazemos repercute nos outros: a situação de Lázaro é consequência do mal proceder daqueles que apodrecem em suas riquezas. Os pobres não existem “porque sim”, mas por uma deficiente partilha dos bens e de uma insensibilidade diante de quem é vítima de uma estrutura social e econômica perversa.
A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata de uma pessoa anônima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase familiar, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a de um descarte humano.
A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico. Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De fato, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses. Assim, a riqueza deste homem é ofensiva, inclusive porque exibida habitualmente: “Fazia todos os dias esplêndidos banquetes”
A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e passageira da existência.
Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio ego e, por isso, as pessoas que o rodeiam tornam-se invisíveis; seu olhar não as alcança. Assim, o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.
Ao ler ou escutar a parábola temos uma primeira impressão de que ela vai contra o evangelho, pois o rico é condenado por ser rico, por puro pecado de omissão. Pensamos que esta é uma parábola sem misericórdia: nem Deus escuta o lamento do condenado que pede somente umas gotas de água. Por que não se compadece do condenado?
Mas, lendo o texto com atenção e cuidado, como parábola-advertência, sentimos por dentro que é verdade o que diz: esta é uma parábola provocativa de Jesus, uma advertência profunda para aqueles que, petrificados pela riqueza, acabam correndo o risco de converter a terra em um inferno. Esta parábola nos fala mais do presente que do “mais além”; fala de tudo o que podemos mudar desde agora para ter um futuro melhor: um verdadeiro banquete, onde a única riqueza seja o amor compartilhado.
A parábola denuncia o abismo vergonhoso entre os próprios seres humanos; o que essa imagem nos revela é a ruptura que nossa indiferença constantemente produz, à qual, no entanto, não costumamos prestar atenção. Contra ela, já advertia Martin Luther King: “Quando refletimos sobre nosso século XX, o mais grave não parece ser as ações dos maus, mas o escandaloso silêncio dos bons”.
Por que caímos tão facilmente na indiferença? Sem dúvida, frente aos outros e frente ao mundo, ela esconde uma maior ou menor insensibilidade que, bloqueada ou endurecida, isola a pessoa em um caracol egocêntrico e a instala numa atitude indiferente – oposta à compaixão -, que está na origem das injustiças e violências que diariamente vemos em nosso mundo.
Em sua redoma protetora, o rico não vê os outros a não ser quando necessita deles, considerando-os como se fossem “objetos” a seu serviço; sua capacidade de amar fica bloqueada.
O abismo que causa a dor de Lázaro é também o abismo que provoca a dor do rico. Nos dois “quadros” da parábola – simbolizados no antes e no depois da morte -, destaca-se com intensidade a ruptura como o motivo do mal. Pois bem, esta ruptura não é casual, nem é provocada por Deus, que castigaria o rico por toda a eternidade. É causada pela indiferença do próprio rico que, em sua cegueira, não “vê” o pobre jogado ao chão, à sua porta.
Em seu processo de desumanização o rico “epulón” fez das riquezas seu “deus”. Este “deus” matou seu coração, sua sensibilidade e sua humanidade; ficou sem entranhas de compaixão, pois ao seu redor já não existiam outras pessoas a não ser o seu ego fechado, isolado...
Como poderia ver aquele pobre homem desprezado ou chegar a saber seu nome, caído à porta de seu palácio esperando algumas sobras para comer? Lázaro tornou-se “invisível” para aquele que ficara cego por causa de suas riquezas.
O pobre está fora da porta, rodeado de cães da rua. O homem rico se encontra dentro de casa. Não acontece nenhuma forma de comunicação entre eles. Na primeira parte, ambos se encontravam próximos um do outro; o texto realça a distância espacial que os separa (“um grande abismo”), mas, apesar da distância eles podem se ver e escutar um ao outro. É só abrir a porta.
O destino do rico “epulón” é o melhor espelho para ver a realidade tal qual ela é, essa que o mundo nos impede reconhecer: que o autêntico mendigo e indigente era ele, e que a solidão lhe oprimia em meio ao esbanjamento mais agressivo.
Muitas vezes, as portas protegem do encontro com o diferente, blindam a individualidade e parecem ser itens indispensáveis à sobrevivência. Assim, o indivíduo se tornará um prisioneiro de sua visão de mundo e fará de sua casa uma couraça que protege. A riqueza pode ser um grande portão que impede ver o que há do outro lado; a púrpura e o linho podem ser um impedimento para ver os desnudos da rua; os banquetes podem obscurecer a capacidade de ver aqueles de estômago vazio, atirados à entrada do portão de casa.
No fundo, o que a parábola deste domingo denuncia é a falta de compaixão do rico para com o pobre; sua riqueza o torna frio, distante e petrificado.
Sabemos que a compaixão é o sinal mais claro de maturidade humana. A indiferença, pelo contrário, manifesta nossa imaturidade e atrofia nossa humanidade. A compaixão desperta o contato com a nossa própria vulnerabilidade ou fragilidade.
Quando acolhemos toda nossa realidade humana a partir de uma atitude humilde, é provável que emerja um sentimento amoroso para conosco mesmo; assim, nos tornamos mais sensíveis ao sofrimento dos outros.
A indiferença é, antes de mais nada, cegueira que alimenta uma insensibilidade diante da situação de penúria dos outros, petrificando-nos por dentro. Certamente, constitui um mecanismo de defesa, com o qual nos blindamos diante da necessidade e da dor dos outros – “olhos que não veem, coração que não sente” -; mas, em último termo, nasce de não “saber” que o outro é o nosso espelho: nele nos vemos e nele nos sentimos interpelados. Para isso é preciso abrir as portas do coração para viver a “cultura do encontro”.
Para meditar na oração:
A parábola deste domingo nos fala também da necessidade de abrir a porta e acolher o que é rejeitado, ferido, desprezível... que descobrimos em nós, de receber amorosamente em nossos braços o pobre Lázaro interior, de contemplá-lo com olhos compassivos e alimentá-lo. Desse modo, iremos reduzindo nosso abismo interior e cresceremos na sensibilidade frentes aos “lázaros” da vida.
- Diante do mundo da exclusão e da miséria, que sentimentos prevalecem em você: indiferença, compaixão, insensibilidade, espírito solidário...?
1) Oração
Ó Deus, que amais e restaurais a inocência, orientai para vós os corações dos vossos filhos, para que, renovados pelo vosso Espírito, sejamos firmes na fé e eficientes nas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Reflexão
* Toda vez que Jesus tem uma coisa importante para comunicar, ele cria uma história e conta uma parábola. Assim, através da reflexão sobre a realidade visível, ele leva os ouvintes a descobrirem os apelos invisíveis de Deus, presentes na vida. Uma parábola é feita para fazer pensar e refletir. Por isso, é importante prestar atenção até nos seus mínimos detalhes.
Na parábola do evangelho de hoje aparecem três pessoas: o pobre Lázaro, o rico sem nome e o pai Abraão. Dentro da parábola,
• Abraão representa o pensamento de Deus.
• O rico sem nome representa a ideologia dominante da época.
• Lázaro representa o grito calado dos pobres do tempo de Jesus e de todos os tempos.
* Lucas 16,19-21: A situação do rico e do pobre. Os dois extremos da sociedade. De um lado, a riqueza agressiva. Do outro, o pobre sem recurso, sem direitos, coberto de úlceras, impuro, sem ninguém que o acolhe, a não ser os cachorros que lambem suas feridas. O que separa os dois é a porta fechada da casa do rico. Da parte do rico não há acolhimento nem piedade pelo problema do pobre à sua porta. Mas o pobre tem nome e o rico não tem. Ou seja, o pobre tem o seu nome inscrito no livro da vida, o rico não. O pobre se chama Lázaro. Significa Deus ajuda. É através do pobre que Deus ajuda o rico e que o rico poderá ter o seu nome no livro da vida. Mas o rico não aceita ser ajudado pelo pobre, pois mantém a porta fechada. Este início da parábola que descreve a situação, é um espelho fiel do que estava acontecendo no tempo de Jesus e no tempo de Lucas. É espelho do que acontece até hoje no mundo!
* Lucas 16,22: A mudança que revela a verdade escondida. O pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na parábola, o pobre morre antes do rico. Isto é um aviso aos ricos. Enquanto o pobre está vivo à porta, ainda tem salvação para o rico. Mas depois que o pobre morre, morre também o único instrumento de salvação para o rico. Agora, o pobre está no seio de Abraão. O seio de Abraão é a fonte de vida, de onde nasceu o povo de Deus. Lázaro, o pobre, faz parte do povo de Abraão, do qual era excluído enquanto estava à porta do rico. O rico que pensa ser filho de Abraão não vai para o seio de Abraão! Aqui termina a introdução da parábola. Agora começa a revelação do seu sentido, através de três conversas entre o rico e o pai Abraão.
* Lucas 16,23-26: A primeira conversa. Na parábola, Jesus abre uma janela sobre o outro lado da vida, o lado de Deus. Não se trata do céu. Trata-se do lado verdadeiro da vida que só a fé enxerga e que o rico sem fé não percebia. É só à luz da morte que a ideologia do império se desintegra na cabeça do rico e que aparece para ele o que é valor real na vida. No lado de Deus, sem a propaganda enganadora a ideologia, os papéis são trocados. O rico vê Lázaro no seio de Abraão e pede para ele vir aliviá-lo no sofrimento. O rico descobre que Lázaro é o seu único benfeitor possível. Mas agora é tarde demais! O rico sem nome é piedoso, pois reconhece Abraão e o chama de Pai. Abraão responde e o chama de filho. Esta palavra de Abraão, na realidade, está sendo dirigida a todos os ricos vivos. Enquanto vivos, eles ainda têm chance de se tornarem filhos e filhas de Abraão, se souberem abrir a porta para Lázaro, o pobre, o único que em nome de Deus pode ajudá-los. A salvação para o rico não é Lázaro trazer uma gota de água para refrescar-lhe a língua, mas é ele, o próprio rico, abrir a porta fechada para o pobre e, assim, transpor o grande abismo.
* Lucas 16,27-29: A segunda conversa. O rico insiste: "Pai, eu te suplico: manda Lázaro para a casa do meu pai. Tenho cinco irmãos!" O rico não quer que seus irmãos venham no mesmo lugar de tormento. Lázaro, o pobre, é o único verdadeiro intermediário entre Deus e os ricos. É o único, porque é só aos pobres que os ricos podem e devem devolver o que roubaram e, assim, restabelecer a justiça prejudicada! O rico está preocupado com os irmãos. Nunca esteve preocupado com os pobres! A resposta de Abraão é clara: "Eles têm Moisés e os Profetas: que os ouçam!" Têm a Bíblia! O rico tinha a Bíblia. Conhecia-a até de memória. Mas nunca se deu conta de que a Bíblia tivesse algo a ver com os pobres. A chave para o rico poder entender a Bíblia é o pobre sentado à sua porta!
* Lucas 16,30-31: A terceira conversa. "Não, pai, se alguém entre os mortos der um aviso, eles vão se arrepender!" O próprio rico reconhece que ele está errado, pois fala em arrependimento, coisa que durante a vida nunca sentiu. Ele quer um milagre, uma ressurreição! Mas este tipo de ressurreição não existe. A única ressurreição é a de Jesus. Jesus ressuscitado vem até nós na pessoa do pobre, dos sem-direito, dos sem-terra, dos sem-comida, do sem-casa, dos sem-saúde. Na sua resposta final, Abraão é curto e grosso: "Se não escutarem Moisés e os profetas, mesmo que alguém ressuscitar dos mortos, eles não se convencerão!" Está encerrada a conversa! Fim da parábola!
* A chave para entender o sentido da Bíblia é o pobre Lázaro, sentado à porta! Deus vem até nós na pessoa do pobre, sentado à nossa porta, para nos ajudar a transpor o abismo intransponível que os ricos criaram. Lázaro é também Jesus, o Messias pobre e servidor, que não foi aceito, mas cuja morte mudou radicalmente todas as coisas. É à luz da morte do pobre que tudo se modifica. O lugar de tormento é a situação da pessoa sem Deus. Por mais que o rico pense ter religião e fé, não há jeito de ele estar com Deus, enquanto não abrir a porta para o pobre, como fez Zaqueu (Lc 19,1-10).
3) Oração final
Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem toma parte nas reuniões dos zombadores, mas na lei do SENHOR encontra sua alegria e nela medita dia e noite. (Sl 1, 1-2)
O contraste entre os dois protagonistas da parábola é trágico. O rico veste-se de púrpura e de linho. Toda a sua vida é luxo e ostentação. Só pensa em «banquetear esplendidamente cada dia». Este rico não tem nome pois não tem identidade. Não é ninguém. A sua vida vazia de compaixão é um fracasso. Não se pode viver só para banquetear.
Deitado no portal da sua mansão jaz um mendigo faminto, coberto de chagas. Ninguém o ajuda. Só uns cães se aproximam a lamber as suas feridas. Não possui nada, mas tem um nome portador de esperança. Chama-se «Lázaro» ou «Eliezer», que significa «O meu Deus é ajuda».
A sua sorte muda radicalmente no momento da morte. O rico é enterrado, seguramente com toda a solenidade, mas é levado ao «Hades», o «reino dos mortos». Também morre Lázaro. Nada se diz de rito funerário algum, mas «os anjos levam-no junto a Abraão». Com imagens populares do seu tempo, Jesus recorda que Deus tem a última palavra sobre ricos e pobres.
O rico não é julgado como explorador. Não se diz que é um ímpio afastado da Aliança. Simplesmente, desfrutou da sua riqueza ignorando o pobre. Tinha-o ali mesmo, mas não o viu. Estava no portal da sua mansão, mas não se aproximou dele. Excluiu-o da sua vida. O seu pecado é a indiferença.
Segundo os observadores, está a crescer na nossa sociedade a apatia ou a falta de sensibilidade ante o sofrimento alheio. Evitamos de mil formas o contato direto com as pessoas que sofrem. Pouco a pouco, vamo-nos fazendo cada vez mais incapazes para perceber a sua aflição.
A presença de uma criança mendiga no nosso caminho incomoda-nos. O encontro com um amigo, doente terminal, perturba-nos. Não sabemos o que fazer nem o que dizer. É melhor tomar distância. Voltar quanto antes às nossas ocupações. Não nos deixarmos afetar.
Se o sofrimento se produz longe é mais fácil. Temos aprendido a reduzir a fome, a miséria ou a doença a dados, números e estatísticas que nos informam da realidade sem sequer tocar o nosso coração. Também sabemos contemplar sofrimentos horríveis na televisão, mas, através do monitor, o sofrimento sempre é mais irreal e menos terrível. Quando o sofrimento afeta alguém mais próximo de nós, esforçamo-nos de mil formas para anestesiar o nosso coração.
Quem segue Jesus vai-se fazendo mais sensível ao sofrimento de quem encontra no seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se está nas suas mãos, trata de aliviar a sua situação.
A parábola de Lucas 16,19-31 não é uma espécie de “geografia do céu e do inferno”, nem um ensinamento sobre a questão do “além”, da situação depois da morte. É uma parábola, cujo objetivo é provocar um questionamento, uma reflexão que leve ao entendimento da mensagem e a uma tomada de posição.
De um lado, esta parábola parece dirigir-se aos fariseus (Lucas 16,14), aqueles definidos por Jesus como “amigos do dinheiro”. De outro lado, é uma advertência aos discípulos e às discípulas de Jesus de ontem e de hoje.
Uma realidade cheia de contrastes
A situação inicial é descrita apresentando os contrastes entre duas realidades: de um homem rico anônimo contra um mendigo que se chamava Lázaro (que significa “Deus ajuda”); de roupas luxuosas de púrpura e linho contra a pele coberta de úlceras repugnantes; de banquetes diários contra estômago faminto que desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa; de enterro certamente com toda solenidade e pompa contra o sepultamento de um indigente; de luxo, abundância e supérfluo, de um lado, e a falta do mínino necessário para viver, do outro.
O abismo da indiferença
Uma cena comum que pode ser vista quotidianamente no palco da vida. Mesmo separados pela distância da indiferença, o rico e o pobre viveram bem próximos um do outro. Porém, o rico não vê nada, sequer percebe a presença de Lázaro. Ele vivia extremamente para si, fechado no seu mundo de bens, luxo, festa e comilança. Uma pessoa insensível ante a situação de fome, doença e dor do pobre que estava junto à porta de sua casa. Lázaro era um entre tantos marginalizados da cidade. Só os cães de rua se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Sua única esperança é Deus. O uso egoísta dos bens materiais cavava um abismo entre o rico e o pobre. Jesus desmascara esta realidade da sociedade onde as pessoas estão separadas por uma barreira invisível: essa porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se de Lázaro.
Não basta ser “filho de Abraão”
Após a morte, as sortes se inverteram. Lázaro é levado pelos anjos ao “seio de Abraão”, expressão figurada para falar do banquete do Reino (cf. Lucas 13,28; Mateus 8,11). O rico está embaixo, na morada dos mortos, no meio de tormentos. Ele, que antes tinha comidas e bebidas finas à sua disposição, agora implora por uma simples gota d’água. Porém, um abismo intransponível separa os dois.
O rico da parábola crê que faz parte do povo de Deus, chamando Abraão de “pai”. Porém, não basta ser “filho de Abraão”, é preciso escutar as Escrituras e demonstrar solidariedade e justiça para com os irmãos que sofrem necessidade. O profeta Isaías, por exemplo, diz o que os filhos de Abraão devem fazer: “repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu e não se fechar à sua própria gente” (Isaías 58,7; cf. Mateus 25,35-36).
A parábola pode estar denunciando a falsa religião dos fariseus, que se dizem filhos e filhas de Abraão, mas acumulam os bens dos pobres, reduzindo à miséria muitos filhos e filhas de Abraão, irmãos e irmãs deles (cf. Mateus 23,14). Nesta posição, eles se tornam surdos ao clamor dos pobres e aos ensinamentos de Moisés e dos profetas.
Uma mensagem ética que rompe barreiras
Esta parábola é uma crítica de Jesus a um sistema opressor que gera indiferença diante do sofrimento de quem está na miséria. Os ricos insensíveis, amantes do dinheiro, não mudam seu comportamento de luxo e de esbanjamento. Sustentam uma sociedade que produz milhões de “lázaros”, aqueles que são jogados “fora dos muros” do convívio e da participação na vida.
A parábola é uma advertência e apelo à conversão dirigida a todos nós, discípulos e discípulas de Jesus. Quem escuta a Palavra de Deus não vive descompromissado com a realidade à sua volta. Quem segue Jesus vai se tornando mais sensível ao sofrimento daqueles que ele encontra em seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se estiver em seu alcance, procura aliviar sua situação.
A indiferença só se dissolve quando se dá passos que nos aproximam dos “lázaros” de diferentes rostos e nomes. Ao invés de levantar barreiras que dividem, somos interpelados a lutar por eliminar o “abismo” que separa os povos através do poder econômico, da suposta superioridade racial, de gênero, de crença ou cultura.
Felizes as pessoas que seguem Jesus, rompendo barreiras e atravessando portas, abrindo caminhos e se aproximando dos últimos. Elas encarnam o “Deus que ajuda” os pobres.
Este último trecho do capítulo dezesseis continua os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas, ou melhor, sobre a questão fundamental da partilha dos bens como necessidade absoluta para os seus discípulos. Aqui, temos a famosa parábola do “Rico e Lázaro”, e também a reflexão sobre o destino dos irmãos do rico. Levanta a questão: “Irão seguir o exemplo do irmão rico ou atender o ensinamento tanto de Jesus como do Antigo Testamento sobre o cuidado dos necessitados, como Lázaro, e assim se tornarem Filhos de Abraão?”
Os destinatários do Evangelho de Lucas eram as comunidades cristãs urbanas das cidades gregas do Império Romano. A imagem da parábola é típica da sociedade urbana – tanto a de então como a de hoje! De um lado, o rico que esbanja dinheiro e comida em banquetes e futilidades, e do outro lado o pobre miserável, faminto e doente. Ambos vivem lado ao lado, sem que o rico tome conhecimento da existência e dos sofrimentos do pobre! Quantos exemplos disso existem hoje – lado ao lado com a maior opulência, a mais desumana miséria, e entre as duas situações uma barreira de cegueira e indiferença?
É muito interessante – e importante para a nossa compreensão da parábola – que os vv. 22-26 não dizem que o rico foi para o inferno por que ele fazia algo moralmente repreensível; e nem que Lázaro foi para o céu porque ele era “santo”. Por isso, por tão inconveniente que possa soar em uma sociedade como a nossa, dá para entender que esse trecho condena o rico simplesmente por ser insensível, em uma sociedade de empobrecimento, e abençoa o pobre pelo simples fato de estar sofrendo a miséria em uma sociedade que esbanja os bens necessários para a vida. É interessante que no texto o rico não tem nome, mas o pobre sim – “Lázaro” que dizer em hebraico “auxiliado por Deus”. A riqueza torna-se pecado diante da situação desumana dos pobres, pois é a negação da partilha e da solidariedade! O que dizer então da nossa sociedade atual neoliberal, com a escandalosa desigualdade que ela ostenta. O rico foi condenado porque ele simplesmente se fechou diante do sofrimento alheio – a parábola não diz uma palavra sobre o comportamento dele fora desse aspecto. Esse fechamento é a negação de todo o ensinamento do Antigo e do Novo Testamento. O simples fato de existir lado ao lado o rico opulento e o Lázaro sofrido é a condenação de uma sociedade pecaminosa que permite esta situação anti-evangélica.
A segunda parte da história, versículos 27-31, continua com o diálogo entre o rico e Abraão, e mostra claramente que a sua indiferença diante do sofrimento de Lázaro não estava de acordo com o Antigo Testamento (vv. 29-31), e nem com Jesus (v. 9). Enfatiza que nem manifestações milagrosas vão mudar o coração duro de quem não quer ouvir a Palavra de Deus: “Abraão lhe disse: Se eles não escutam a Moisés e os profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos”. (v. 31); “Moisés e os profetas” significa a Escritura, pois a Bíblia hebraica se dividiu em Lei (=Moisés) e Profetas.
Palavra tão atual! Pois não é por falta de conhecimento da Palavra de Deus que o mundo se acha na sua situação atual. Não é por desconhecimento do ensinamento de Jesus sobre a fraternidade e a solidariedade, que temos uma sociedade excludente hoje no Brasil! Não é por falta de celebrações litúrgicas e sacramentais que há tanto sofrimento nas nossas ruas e bairros! É simplesmente porque a sociedade opta por se organizar conforme critérios anti-evangélicos, e porque tantos cristãos reduzem o cristianismo a uma série de leis, ritos e doutrinas – muitas vezes não ultrapassando muito de uma simples lista de “boas maneiras”. Optamos por diluir as exigências do Evangelho para que possamos continuar com os “ricos” e os “Lázaros” de hoje, lado ao lado, sem que estes incomodem aqueles! Sabemos o que a Bíblia diz, conhecemos muito bem o ensinamento de Jesus – e continuamos na construção de uma sociedade injusta, fundamentada sobre a idolatria do lucro, com a consequência automática do sofrimento e exclusão.
O rico e Lázaro continuam morando hoje em nossas cidades. Jesus hoje nos desafia para que optemos por outra forma de sociedade, onde todos terão acesso aos bens necessários para uma vida digna. Se não queremos ouvir o que nos diz a Palavra de Deus, se nós queremos continuar surdos diante do grito dos excluídos, então o nosso destino será também aquele do rico da história.
“Tenho medo de não responder, de fingir que não escutei; tenho medo de ouvir teu chamado, virar doutro lado e fingir que não sei!”
Lucas não deixa que o leitor evite as questões gritantes da ligação entre fé e vida, entre religião e economia- questões mais atuais do que nunca, sempre abordadas pelo Papa Francisco, que na verdade simplesmente nos recorda o ensinamento do Evangelho, que a sociedade conhece bem, mas reluta para não colocar em prática.
Tema
A liturgia deste domingo propõe-nos, de novo, a reflexão sobre a nossa relação com os bens deste mundo... Convida-nos a vê-los, não como algo que nos pertence de forma exclusiva, mas como dons que Deus colocou nas nossas mãos, para que os administremos e partilhemos, com gratuidade e amor.
Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente uma classe dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos humildes. O profeta anuncia que Deus não vai pactuar com esta situação, pois este sistema de egoísmo e injustiça não tem nada a ver com o projeto que Deus sonhou para os homens e para o mundo.
O Evangelho apresenta-nos, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, uma catequese sobre a posse dos bens... Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que se destinam a todos os homens... Por isso, o rico é condenado e Lázaro recompensado.
A segunda leitura não apresenta uma relação directa com o tema deste domingo... Traça o perfil do "homem de Deus": deve ser alguém que ama os irmãos, que é paciente, que é brando, que é justo e que transmite fielmente a proposta de Jesus. Poderíamos, também, acrescentar que é alguém que não vive para si, mas que vive para partilhar tudo o que é e que tem com os irmãos?
EVANGELHO - Lc 16,19-31
A leitura que hoje nos é proposta apresenta mais uma etapa do "caminho de Jerusalém". A história do rico e do pobre Lázaro é um texto exclusivo de Lucas. Não é possível dizer se se trata de uma parábola procedente de uma fonte desconhecida, ou se é uma criação do próprio Lucas... De qualquer forma, trata-se de uma catequese (desenvolvida ao longo de todo o capítulo 16 do Evangelho segundo Lucas) em que se aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus dirige-Se, aqui, aos fariseus (cf. Lc 16,14), como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro e vivem em função dele.
MENSAGEM
A parábola tem duas partes.
Na primeira (vers. 19-26), Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história, segundo um cliché literário muito comum na literatura bíblica: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. No entanto, a morte dos dois muda radicalmente a situação. O que é que, verdadeiramente, está aqui em causa?
Atentemos nos dois personagens... Do rico diz-se, apenas, que se vestia de púrpura e linho fino, e que dava esplêndidas festas. De resto, não se diz se ele era mau ou bom, se frequentava ou não o templo, se explorava os pobres ou se era insensível ao seu sofrimento (aparentemente, isso não é decisivo para o desfecho); no entanto, quando morreu, foi para um lugar de tormentos. Do pobre Lázaro diz-se, apenas, que jazia ao portão do rico, que estava coberto de chagas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cães vinham lamber-lhe as chagas; quando morreu, Lázaro foi "levado pelos anjos ao seio de Abraão" (quer dizer, a um lugar de honra no festim presidido por Abraão. Trata-se do "banquete do Reino", onde os eleitos se juntarão - de acordo com o imaginário judaico - com os patriarcas e os profetas); não se diz, no entanto, se Lázaro levou na terra uma vida exemplar ou se cometeu más ações, se foi um modelo de virtudes ou foi um homem carregado de defeitos, se trabalhava duramente ou se foi um parasita que não quis fazer nada para mudar a sua triste situação...
Nesta história, não parecem ser as ações boas ou más cometidas neste mundo pelos personagens (a história não faz qualquer referência a isso) que decidem a sorte deles no outro mundo. Então, porque é que um está destinado aos tormentos e outro ao "banquete do Reino"?
A resposta só pode ser uma: o que determina a diferença de destinos é a riqueza e a pobreza. O rico conhece os "tormentos" porque é rico; o pobre conhece o "banquete do Reino" porque é pobre. Mas então, a riqueza será pecado? Aqueles que acumularam riquezas sem defraudar ninguém serão culpados de alguma coisa? Ser rico equivale a ser mau e, portanto, a estar destinado aos "tormentos"?
Na perspectiva de Lucas, a riqueza - legítima ou ilegítima - é sempre culpada. Os bens não pertencem a ninguém em particular (nem sequer àqueles que trabalharam duramente para se apossar de uma fatia gorda dos bens que Deus colocou no mundo); mas são dons de Deus, postos à disposição de todos os seus filhos, para serem partilhados e para assegurarem uma vida digna a todos... Quem se apossa - ainda que legitimamente - desses bens em benefício próprio, sem os partilhar, está a defraudar o projeto de Deus. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e sem cuidados, esquecendo-se das necessidades dos outros homens, está a defraudar os seus irmãos que vivem na miséria. Nesta história, Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou nas nossas mãos, ainda que os tenhamos adquirido de forma legítima: somos apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos. Esquecer isto é viver de forma egoísta e, por isso, estar destinado aos "tormentos".
Na segunda parte do nosso texto (vers. 27-31), insiste-se em que a Escritura - na qual os fariseus eram peritos - apresenta o caminho seguro para aprender e assumir a atitude correta em relação aos bens. O rico ficou surdo às interpelações da Palavra de Deus ("Moisés e os Profetas") e isso é que decidiu a sua sorte: ele não quis escutar as interpelações da Palavra e não se deixou transformar por ela. O versículo final (vers. 31) expressa perfeitamente a mensagem contida nesta segunda parte: até mesmo os milagres mais espetaculares são inúteis, quando o homem não acolheu no seu coração a Palavra de Deus. Só a Palavra de Deus pode fazer com que o homem corrija as opções erradas, saia do seu egoísmo, aprenda a amar e a partilhar.
A história que nos é proposta é uma ilustração das bem-aventuranças e dos "ais" de Lc 6,20-26... Anuncia-se, desta forma, que o projeto de Deus passa por um "Reino" de fraternidade, de amor e de partilha. Quem recusa esse projeto e escolhe viver fechado no seu egoísmo e autossuficiência (os ricos), não pode fazer parte desse mundo novo de fraternidade que Deus quer propor aos homens (a imagem dos "tormentos", contudo, não deve se levada demasiado a sério: faz parte do folclore oriental e das imagens que os pregadores da época utilizavam para impressionar as pessoas e levá-las a modificar radicalmente o seu comportamento).
Continuamos a acompanhar as “Lições do Caminho”, dadas por Jesus na sua última viagem para Jerusalém, onde ele será crucificado, morto e glorificado. Nesta parte do seu evangelho (Lc 9,51-19,28) Lucas colocou as orientações ideais e práticas de Jesus para seus seguidores poderem prosseguir no caminho que Jesus abriu.
No texto do evangelho de hoje é mantida a lição sobre o uso correto dos bens materiais que foi enfatizada na passagem do evangelho do domingo passado (Lc 16,1-13). Em nossa sociedade o dinheiro escraviza não somente os que já são ricos, mas também uma ampla maioria que conseguiram já um nível de vida mais alto. A riqueza entendido como “apropriação excludente da abundância”, não faz o homem crescer, e sim o destrói e desumaniza, pois o torna indiferente e insolidário, apático, diante da desgraça alheia. A riqueza é capaz de criar facilmente resistência ao mandamento de amor de Deus, e surdez à sua Palavra. A riqueza é capaz de fechar o coração do homem para Deus e para o próximo.
Estamos na última parte do capítulo 16 do Lucas. Sabemos que o tema central deste capítulo é o convite de Jesus a usarmos os bens materiais deste mundo corretamente. Jesus conclama os seus ouvintes de ontem e, nós como indivíduos e Comunidade hoje, a vivermos na fraternidade em que um cuida do outro. “Vamos juntos”. “Ninguém larga a mão de ninguém”. “Ou vai todos ou não vai ninguém” Para isso, Lucas nos narra a parábola sobre o rico e Lázaro.
Para nos ajudar na nossa reflexão sobre esta parábola vamos lançar algumas perguntas:
Primeiro, sobre o homem rico: A que ele se dedica? Qual é a meta ou o ideal de sua vida? Pode-se viver na abundância (apesar de ser direito quando a riqueza é lícita) tendo tão perto alguém com fome?
Segundo, sobre o mendigo Lázaro: Como a parábola descreve sua situação de miséria extrema? Qual o aspecto mais doloroso e desumano de seu estado? O que você sente diante desta cena tão revoltante?
Terceiro, sobre o nome: O mendigo tem um nome: Lázaro, que significa “Deus ajuda”. O rico não aparece identificado, aliás, sem nome. Não parece estranho este detalhe? Por que o rico fica sem nome?
Quarto, sobre próximo e, ao mesmo tempo, distante. Conforme o relato, existe uma proximidade entre o rico e o mendigo Lázaro (Lázaro se encontra na porta do mansão do rico). Se estão tão próximos, o que é que os separa?
Quinto, sobre o pecado do rico: Por que o rico é condenado? Qual é o pecado do rico?
Finalmente, sobre a atualidade da parábola: Qual é a mensagem da parábola para o mundo atual, para o nosso mundo em que vivemos?
A parábola sobre o rico e Lázaro é encontrado somente no Evangelho de Lucas. Segundo os especialistas em Bíblia, esta parábola tem sua origem na fábula egípcia que narra a viagem de um pai e seu filho para dentro do reino dos mortos. A fábula termina com esta lição: “Para quem é bom na terra, acontece o bem também no reino dos mortos, mas para quem é mau na terra, acontece o mal também lá”. Os judeus trouxe esta fábula para dentro da tradição judaica com todas as suas formulações. Uma dessas narra a história do pobre escriba e do rico publicano que vão para o além. No além, o rico publicano queria alcançar a água, mas não podia, enquanto o pobre escriba vivia em jardins de beleza paradisíaca onde corriam águas de fontes. Jesus aproveita estas narrativas na sua pregação para montar a história do grande banquete (cf. Lc 14,15-24), e esta parábola de hoje (Lc 16,19-31).
Esta parábola é um relato simbólico que ilustra o perigo da riqueza e propõe um apelo à conversão. A leitura do domingo passado (sobre o uso apropriado da riqueza) e a parábola de hoje são bons exemplos do jeito de Jesus ensinar A parábola de hoje pega o assunto das riquezas de Lc 16 e lhe confere uma conclusão bem adequada: nem a riqueza nem a pobreza neste mundo é a medida da bênção de Deus.
Nesta parábola, Jesus se dirige aos fariseus como representantes daqueles que amam o dinheiro (Lc 16,14) e que pensavam justificar-se diante de Deus e dos homens mediante o cumprimento estreito da lei (Lc 11,37ss). Na verdade, a parábola serve como ilustração das bem-aventuranças e os “ais” de Lc 6,20-23. Ela reprova o rico que não sabe compartilhar o que tem para com os mais necessitados. Ela quer também sublinhar o ensinamento sobre o que significa o presente para o futuro. Somos futuros naquilo que somos no presente.
A parábola tem duas partes:
Na primeira (vv.19-26) Lucas descreve os dois protagonistas: o rico vive luxuosamente e faz grandes festas e banquetes; o pobre tem fome e está doente. Mas a morte dos dois muda a situação. Na descrição da vida no além, Lucas utiliza as imagens de seu tempo (sem querer descrever a geografia do além), mas para enfatizar a justiça de Deus sobre a vida humana. A vida presente, portanto, é decisiva. É nesta vida que construímos nosso destino eterno. É na vida presente que escolhemos a eternidade.
Na segunda parte (vv.27-31) Lucas insiste que a Escritura, da qual os fariseus eram considerados especialistas, é o caminho mais seguro para a conversão. Mas o homem rico foi surdo às suas demandas. Em outras palavras, a sua vida não estava enraizada na Palavra de Deus. O versículo final expressa perfeitamente o centro da mensagem contida na parábola: até os milagres mais espetaculares, como a ressurreição de um morto, são inúteis para quem não se enraíza sua vida no coração da Palavra de Deus.
Na descrição do rico e de Lázaro (vv.19-26) os contrastes são muito fortes: riqueza contra miséria, vestes luxuosas contra a pele coberta de úlceras, festins brilhantes contra estômago faminto; em suma, a abundância e o supérfluo, de um lado, e a falta do “mínimo vital”, do outro. Quadro esse que, infelizmente, continua de uma verdade gritante a quem quiser ver claramente a situação atual, tanto no mundo como no brasil. O perigo que pode acontecer com qualquer um de nós é a falta de sensibilidade ao ver permanentemente os mendigos na nossa porta ou nas portas de nossas igrejas. A tentação de não querer ver, e/ou evitar olhar nos olhos deles/as é muito grande. Fingimos não perceber sua presença. O pior cego é aquele que não quer ver, diz um ditado popular. Oxalá não seja tarde demais enxergar esses nossos irmãos necessitados, como foi o caso do rico na parábola. Eles não chamam mais nossa atenção e não se tornam notícias para nossa Igreja (paróquia). Talvez seja mais fácil dar um pouco do que temos, do que perguntar e procurar saber do porquê da situação para juntos resolvermos a mesma?
O objetivo da parábola não é descrever o céu nem o inferno, mas condenar a indiferença daqueles que vivem desfrutando seu bem-estar, ignorando os que morrem de fome. O rico não é julgado como explorador, mas por ignorar o pobre.
A parábola sugere: nesta vida, o que separa o rico do pobre é a porta fechada. Enquanto temos tempo, vamos abrir a porta, conversar com Lázaro e começar a derrubar o muro de vergonha que separa ricos e pobres. O lugar do tormento é a situação da pessoa sem Deus. Não tem jeito de estar com Deus enquanto não abrir a porta para o pobre – como foi o caso do Zaqueu.
Baseado no livro: Crescer Em Amizade: Uma Chave de leitura Para o Evangelho de Lucas, do Carlos Mesters e Francisco Orofino
(Confira, se desejar, com o texto original em espanhol, que está logo após a tradução feita pelo Tradutor Google)
XXVI DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Am 6,1.4-7):
Este texto, como outros na mesma seção do Livro de Amós, começa com um 'Ai' (cf. 5:7, 18), como um lamento e um sinal do julgamento divino sobre essas pessoas.
O que Deus condena por meio de seu profeta? Primeiro, a crença de que estão seguros simplesmente por viverem em Sião, o monte sobre o qual Jerusalém, a cidade de Deus, está construída. Em seguida, a busca por bem-estar por meio do luxo e da ostentação. E a essa atitude de prazer se soma a falta de preocupação "com a ruína de José". Aparentemente, o profeta denuncia os ricos habitantes das capitais: Jerusalém (capital do Reino do Sul) e Samaria (Reino do Norte) por sua total falta de preocupação com a ruína iminente do país. Enquanto se divertem, ignorando todos os problemas e se dedicando ao desfrute de suas vidas confortáveis, eles não percebem a catástrofe iminente e não reagem praticando justiça. Embora pensem estar a salvo de todo infortúnio, Amós lhes assegura que serão os primeiros na fila para o exílio.
Evangelho (Lc 16, 19-31):
A parábola do domingo passado foi dirigida aos discípulos; esta, porém, aos fariseus. A mudança de público é lógica se notarmos que, no final do texto do domingo passado, Lucas acrescenta este comentário (que não foi lido): "Os fariseus, que eram gananciosos, ouviram tudo isso e zombaram de Jesus" (Lucas 16:14).
Assim, a estes fariseus, amantes do dinheiro e escarnecedores, Jesus conta esta parábola, que “propõe um exemplo concreto de uma pessoa que não soube fazer ‘amigos para o futuro’ com os seus bens, como ensina a parábola anterior”.
Esta parábola é dividida em duas partes. A primeira (16:19-22) contrasta a situação e o estilo de vida de dois homens: um homem rico — sem nome — que festejava diariamente (daí o título Epulon, que em latim significa "aquele que dá banquetes") e se vestia ostensivamente; e um homem pobre chamado Lázaro, coberto de feridas e deitado à porta da casa do rico, que nem sequer recebia migalhas do banquete. O rico era cercado por pessoas nos banquetes; apenas cães se aproximavam de Lázaro para lamber suas feridas.
Tão diferentes em seus modos de vida, a morte surpreende a ambos, igualando-os diante do destino comum de todos os mortais. Mas o que acontece é que, após a morte, eles se distinguem novamente: o pobre é levado pelos anjos ao seio de Abraão, "figura com a qual os judeus representavam a companhia dos santos, desfrutando de sua intimidade e afeição"; enquanto o rico é simplesmente sepultado, "caiu nos tormentos do mundo dos mortos, representado por um poço de fogo". A parábola cria um mistério para os leitores, pois não foi dito que Lázaro e o rico mereciam esse destino diferente por um ser melhor ou pior que o outro.
Deixando claro que a mensagem central da parábola não está aqui e que ela apenas expressa uma visão da escatologia popular da época, podemos esclarecer o que é o Hades (ᾅδης) de que fala o texto grego em 16:23. A. Rodríguez Carmona afirma a esse respeito: “A parábola alude a representações da Vida Após a Morte na era intertestamentária. No Antigo Testamento, todos os mortos, sem distinção, vão para o Sheol, Hades ou Inferus, o que está abaixo. Quando a retribuição começa a ser esperada no fim dos tempos — os justos, uma recompensa eternamente alegre, e os ímpios, o castigo eterno — a permanência no Sheol é dividida em zonas positivas ou negativas, dependendo se o falecido espera recompensa ou castigo. Na parábola, o pobre vai para uma zona positiva, para o seio de Abraão, isto é, onde está o patriarca, à sua direita ou perto dele; o rico, por outro lado, vai para uma zona de tormento, chamada Hades, de onde pode ver o pobre, mas muito longe. Não há passagem possível entre as duas zonas. A sepultura é a entrada natural para o Sheol.”
Começa então a segunda parte da parábola (16:23-31), que também contrasta as situações de ambos os homens após a morte. Agora, o rico sofre tormento, enquanto Lázaro repousa no seio de Abraão. A inversão das situações é evidente.
Agora que se sente mal, o rico se lembra da existência do pobre Lázaro e é ele quem anseia por uma migalha, ou mais precisamente, por algumas gotas de água. O rico implora misericórdia para ele, mas é tarde demais, pois é impossível mudar o próprio destino após a morte. Abraão o lembra de que ele já havia recebido seus bens em vida. E de quem ele os recebeu? Aparentemente, de acordo com a mentalidade bíblica clássica, podemos dizer que ele havia recebido os bens de Deus. Portanto, o pecado não reside em ter muitos bens, que são dádivas de Deus, mas em tê-los desfrutado de forma egoísta e ostensiva, sem se importar com os outros, especialmente com seu pobre vizinho Lázaro. Isso explica o motivo do tratamento diferente que o rico e o pobre Lázaro recebem após a morte.
À luz desta parábola, podemos entender melhor a frase de Jesus, que ouvimos no domingo passado: "Com o dinheiro da injustiça, façam amigos, para que, quando ele acabar, eles os recebam nos tabernáculos eternos" (Lucas 16:9). E como Jesus também ensinou ali, nós, humanos, somos administradores dos bens que recebemos, não donos absolutos para usá-los sem consideração pelos outros.
Considerando sua causa pessoal perdida, o homem rico se preocupa com seus irmãos que vivem em situação semelhante e não quer que eles acabem como ele. Ele novamente pede a Abraão que use Lázaro como emissário, mas agora para alertar seus irmãos. A resposta de Abraão é uma recusa indireta: "Eles têm Moisés e os profetas; que os ouçam." Sabemos que a Torá e os profetas estão repletos de prescrições sobre ajudar os pobres, os órfãos e as viúvas; juntamente com condenações ao uso egoísta da riqueza. Basta ouvi-los.
O homem rico insiste que, se um morto lhes aparecer, eles se converterão (verbo metanoeō). A resposta de Abraão é lapidar: "Se não ouvirem Moisés e os Profetas, mesmo que alguém ressuscite dentre os mortos, não se convencerão". Mas, ao mesmo tempo, essa resposta é muito instrutiva, visto que a parábola fictícia visa transmitir esta importante mensagem àqueles de nós que estamos "vivos": devemos ler as Escrituras, devemos ouvir a voz de Deus para que nossos corações sejam transformados e aprendamos a compartilhar o que temos, o que nos foi dado como administradores nesta vida.
ALGUMAS REFLEXÕES:
Em primeiro lugar, não devemos "perder tempo" especulando sobre a situação do homem após a morte com base nesta parábola. Jesus ecoa a concepção escatológica popular de sua época, portanto, não devemos esperar que esta parábola nos forneça dados precisos sobre o assunto. Isso já foi apontado pela maioria dos estudiosos; Joseph Ratzinger ecoa essa opinião em seu livro "Jesus de Nazaré". O que devemos reter é a certeza do julgamento de Deus e sua maneira de recompensar cada pessoa de acordo com o que recebeu e de acordo com suas obras.
Em segundo lugar, é importante notar que a mensagem original da parábola está contida na segunda parte, ou seja, no diálogo entre o homem rico e Abraão. Portanto, a mensagem principal da parábola é alertar as pessoas que vivem como o homem rico da parábola. É um chamado à conversão através da escuta da Palavra de Deus, antes que seja tarde demais; pois, se não se converterem, acabarão em uma situação muito ruim.
É assim também que Bento XVI o interpreta em sua encíclica "Deus é Amor", n.º 15: "O rico (cf. Lc 16,19-31) implora, do lugar dos condenados, que seus irmãos sejam advertidos sobre o que acontece com aqueles que, levianamente, ignoraram os pobres necessitados. Jesus, por assim dizer, acolhe esse grito de socorro e o ecoa para nos colocar em guarda, para nos reconduzir ao caminho certo."
Na mesma linha, está a advertência do Papa Francisco em sua homilia de 29 de setembro de 2022: “Nós também corremos o risco de nos tornarmos como aquele homem rico de quem fala o Evangelho, que não se importa com o pobre Lázaro, ‘coberto de chagas e desejoso de comer o que caía da mesa do rico’ (Lc 16,20-21). Ocupado demais comprando roupas elegantes e organizando banquetes suntuosos, o homem rico da parábola não percebe o sofrimento de Lázaro. E nós também, muito focados em preservar o nosso próprio bem-estar, corremos o risco de não ver o nosso irmão ou irmã em dificuldade.
Mas, como cristãos, não podemos permanecer indiferentes ao drama da pobreza antiga e nova, da solidão mais sombria, do desprezo e da discriminação daqueles que não pertencem ao "nosso" grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o coração entorpecido, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos deixar de chorar. Não podemos deixar de reagir. Peçamos ao Senhor a graça de chorar, a graça daquele pranto que converte o coração diante desses pecados.
Aceitando isso, podemos apontar com J. Ratzinger outro aspecto da parábola: "na realidade, com esta narrativa o Senhor quer nos introduzir naquele processo de "despertar" que os Salmos descrevem [...] Assim, embora não apareça no texto, dos Salmos podemos dizer que o homem rico de vida licenciosa já era neste mundo um homem de coração fatídico, que com sua extravagância queria afogar o vazio em que se encontrava: no além só aparece a verdade que já existia neste mundo. Naturalmente, esta parábola, ao nos despertar, é ao mesmo tempo uma exortação ao amor aos pobres e à responsabilidade que devemos ter para com eles, tanto em grande escala, na sociedade mundial, quanto na esfera menor de nossa vida cotidiana".
A esse respeito, alguns estudiosos têm chamado a atenção para a completa falta de comunicação entre o rico e Lázaro, que persiste mesmo no outro mundo. Como observamos, é somente após a morte, quando sofre, que o rico "vê" o pobre Lázaro. Portanto, faltava ao rico compaixão e caridade, porque lhe faltava, acima de tudo, um coração que visse. É evidente que um dos piores perigos da riqueza é que ela causa cegueira para com Deus e Seus mandamentos — e para com o próximo necessitado. Hoje, diríamos insensibilidade de coração. Na mesma linha, o Cardeal A. Vanhoye afirma: "O ensinamento da parábola é muito claro: não devemos permitir que se estabeleça uma separação entre nós e os pobres, nossos irmãos e irmãs que sofrem e carecem dos meios necessários para viver. Devemos ir ao seu encontro, cuidar deles e nos preocupar com seu bem-estar."
Poderíamos muito bem considerar a do Bom Samaritano, que "viu e se comoveu", como a atitude positiva e diametralmente oposta à do homem rico. É isso que constitui o programa de Jesus e do cristão em relação à construção de um mundo mais justo. É o que nos diz Bento XVI: "Um mundo melhor só se contribui fazendo o bem agora e em primeira pessoa, com paixão e sempre que possível, independentemente de estratégias e programas partidários. O programa cristão — o programa do Bom Samaritano, o programa de Jesus — é um 'coração que vê'. Esse coração vê onde o amor é necessário e age de acordo. Obviamente, quando a atividade caritativa é assumida pela Igreja como uma iniciativa comunitária, a espontaneidade do indivíduo deve ser complementada também pelo planejamento, pela previsão e pela colaboração com outras instituições semelhantes" (Deus é Amor, n. 31b).
Como resumo podemos destacar o seguinte:
Primeiro, só podemos ter um "coração que vê" se primeiro tivermos um "coração que ouve" a Palavra de Deus. Esta foi a primeira resposta do Pai Abraão: ouvir a Palavra é a conversão dos nossos corações.
Quando ouvimos a Palavra, respondemos com fé, acolhendo-a em nossos corações. "A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, um encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade uns para com os outros e para com os outros. Nesse sentido, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9)" (Bento XVI, Discurso inaugural na Conferência de Aparecida).
A fé nos convida a olhar para o que não gostamos porque nos faz sofrer, nos fere, como o mundo da pobreza e da marginalização. Ela nos convida a reconhecer Cristo nos rostos sofredores dos pobres: "Se esta opção (pelos pobres) está implícita na fé cristológica, nós, cristãos, como discípulos e missionários, somos chamados a contemplar nos rostos sofredores de nossos irmãos e irmãs o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo neles: 'Os rostos sofredores dos pobres são os rostos sofredores de Cristo'. Eles desafiam o cerne da obra da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs. Tudo o que tem a ver com Cristo tem a ver com os pobres, e tudo relacionado aos pobres clama a Jesus Cristo: 'Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes'" (Mt 25,40). João Paulo II enfatizou que este texto bíblico "ilumina o mistério de Cristo". Pois em Cristo o Grande se fez pequeno, o Forte se fez frágil, o Rico se fez pobre” (Documento de Aparecida, n. 393).
Este olhar de fé sobre a realidade da pobreza é um apelo à ação social, que interpela a própria Igreja universal: "Em muitos países pobres, a extrema insegurança alimentar persiste e ameaça agravar-se: a fome ainda faz muitas vítimas entre os muitos Lázaros que não podem sentar-se à mesa dos ricos e abastados, como desejava Paulo VI. Dar de comer aos famintos (cf. Mt 25, 35.37.42) é um imperativo ético para a Igreja universal, que responde aos ensinamentos do seu Fundador, o Senhor Jesus, sobre a solidariedade e a partilha" (Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 27).
Este imperativo ético para a Igreja Universal exige também o nosso compromisso, agora particular e adaptado às nossas possibilidades específicas e à nossa vocação pessoal.
Por fim, destaca-se o mandamento de amar os pobres, que não é uma mera exigência, mas é possível e ordenado porque é dado primeiro (cf. Deus é Amor, n. 14). De Deus Amor provém o Amor-caridade para amar preferencialmente os pobres, vendo neles Cristo.
Concluamos com as palavras de uma testemunha, um santo que viveu seu amor pelos pobres até o heroísmo, São Vicente de Paulo:
Não devemos valorizar os pobres pela sua aparência exterior ou pelo seu modo de vestir, nem pelas suas qualidades pessoais, pois muitas vezes são rudes e incultos. Pelo contrário, se considerarmos os pobres à luz da fé, perceberemos que eles desempenham o papel do Filho de Deus, pois Ele também quis ser pobre. E assim, embora na sua paixão quase tenha perdido a sua aparência humana, tornando-se um louco para os gentios e um escândalo para os judeus, apresentou-se, no entanto, como um evangelizador dos pobres: Ele enviou-me para evangelizar os pobres. Nós também devemos estar imbuídos destes sentimentos e imitar o que Cristo fez, cuidando dos pobres, confortando-os, ajudando-os, apoiando-os (LH Ofício de Leituras para a Memória de São Vicente de Paulo).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Pai
Pai
Vós que habitais na família trinitária
Que você plante sua tenda entre seus filhos
Deixe-nos ouvir sua voz
Mesmo agora quando parece
Que um abismo nos separa
Faça-nos entender
A história de Amor tecida pelo teu Filho
Envolva nossas vidas nas suas
Andar no Espírito,
Deixando as sombras
E confiança
Sobre nós
A tua filiação foi pronunciada desde a eternidade
e lá somos chamados
Viver para compartilhar
Seu, porque tudo é
E se resume no seu desejo
Pai!
Vamos ver acima e profundamente
Aproximar-se sem medo
Ao outro, ao irmão
E em teu ser nos encontraremos
Respeitem-se mutuamente. Por fim, amem-se mutuamente.
Só você pode nos dar
A Família que almejamos.
Em teu mistério nos abriga
Afunde na Glória
Do Pai, do Filho
E do Espírito Santo. Amém.
DOMINGO XXVI DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Am 6,1.4-7):
Este texto, al igual que otros de la misma sección del libro de Amós, comienza con un ‘Ay’ (cf. 5,7.18), a modo de lamento y de signo del juicio divino sobre esas personas.
¿Qué condena Dios a través de su profeta? En primer lugar, el considerar que están seguros por el sólo hecho de vivir en Sión, colina donde está construida Jerusalén, la ciudad de Dios. A esto le sigue la búsqueda del bienestar con un lujo y una vida ostentosa. Y a esta actitud de disfrute se le suma la despreocupación "por la ruina de José". Al parecer el profeta denuncia a los habitantes ricos de las capitales: Jerusalén (capital del Reino del Sur) y Samaría (Reino del Norte) por su total despreocupación ante la ruina que se avecina sobre el país. Mientras ellos la pasan muy bien, desentendiéndose de todo problema y dedicados al disfrute de su vida cómoda, no perciben la catástrofe que se avecina, no reaccionan obrando la justicia. Mientras ellos piensan estar a salvo de toda desgracia, Amós les asegura que irán al destierro en primera fila.
Evangelio (Lc 16, 19-31):
La parábola del domingo pasado estaba dirigida a los discípulos; ésta, en cambio, a los fariseos. El cambio de auditorio es lógico si notamos que al final del texto del domingo pasado Lucas añade este comentario (que no fue leído): "Los fariseos, que eran amigos del dinero, escuchaban todo esto y se burlaban de Jesús" (Lc 16,14).
Entonces, para estos fariseos, amigos del dinero y burlones, Jesús cuenta esta parábola, que “propone un ejemplo concreto de una persona que no supo hacerse «amigos para el futuro» con sus bienes, como enseña la parábola anterior” .
Esta parábola se divide en dos partes. En la primera (16,19-22) se contrapone la situación y el estilo de vida de dos hombres: un rico – sin nombre – que banqueteaba diariamente (de aquí el título que se le ha dado de Epulón, que en latín significa "el que da banquetes") y que vestía ostentosamente; y un pobre, de nombre Lázaro, cubierto de llagas y que estaba tirado en la puerta de la casa del rico y que no recibía ni siquiera las migas del banquete. El rico estaría rodeado de gente en los banquetes, a Lázaro sólo los perros se le acercan para lamer sus llagas.
Tan distintos en su forma de vivir, la muerte los sorprende a ambos, igualándolos ante el destino común de todos los mortales. Pero lo que sucede es que después de la muerte se los vuelve a distinguir: el pobre es llevado por los ángeles al seno de Abraham, "figura con la que los judíos representaban la compañía de los santos, gozando de su intimidad y de su afecto"; mientras que el rico es, simplemente, sepultado, "cayó en los tormentos del mundo de los muertos, representado por un pozo de fuego. La parábola crea una incógnita para los lectores, porque no se ha dicho que Lázaro y el rico hayan sido merecedores de esta distinta suerte por haber sido uno más bueno o más malo que el otro" .
Dejando bien en claro que no está aquí el mensaje central de la parábola y que sólo se expresa una visión de la escatología popular de aquel tiempo, podemos aclarar lo que es el Hades (ᾅδης) de que habla el texto griego en 16,23. Al respecto dice A. Rodríguez Carmona : “La parábola alude a representaciones del Más Allá en la época intertestamentaria. En el AT todos los muertos sin distinción van al šeol o hades o inferus, lo que está abajo. Cuando se empieza a esperar una retribución al final de los tiempos, los justos un premio eterno gozoso y los impíos un castigo eterno, la estancia en el šeol se divide en zonas positivas o negativas según el difunto espere premio o castigo. En la parábola el pobre va a una zona positiva, al seno de Abrahán, es decir, donde está el patriarca, a su derecha o en intimidad con él; el rico, en cambio, a una zona de tormento, a la que se denomina hades, desde donde puede ver, pero muy lejos, al pobre. No hay posible paso entre ambas zonas. La sepultura es la entrada natural al šeol.”
Comienza entonces la segunda parte de la parábola (16,23-31) donde también se contrapone la situación de ambos después de la muerte. Ahora el rico sufre tormentos mientras Lázaro descansa en el seno de Abraham. Es evidente la inversión de las situaciones.
Ahora que la está pasando mal, el rico se acuerda de la existencia del pobre Lázaro y es él quien suspira por una migaja, o más precisamente, por unas gotas de agua. El rico implora piedad para con él, pero ya es demasiado tarde pues no es posible cambiar de destino después de la muerte. Abraham le recuerda que ya había recibido sus bienes en vida. ¿Y de quién los recibió? Al parecer, según la clásica mentalidad bíblica, podemos decir que había recibido los bienes de parte de Dios. Por lo cual el pecado no está en haber tenido muchos bienes, que son dones de Dios, sino en haberlos gozado de modo egoísta y ostentoso, sin preocuparse por los demás, en especial del pobre-prójimo Lázaro. Aquí se da la razón del diferente trato que reciben después de la muerte el rico y el pobre Lázaro.
A la luz de esta parábola puede entenderse mejor el dicho de Jesús que escuchamos el domingo pasado: "Gánense amigos con el dinero de la injusticia, para que el día en que este les falte, ellos los reciban en las moradas eternas" (Lc 16,9). Y como también enseñaba Jesús allí, los hombres somos administradores de los bienes que recibimos, no dueños absolutos para usar de ellos sin tener en cuenta a los demás.
Dando por perdida su causa personal, el rico se preocupa por sus hermanos que viven en situación similar a la suya y no quiere que terminen igual que él. Vuelve a pedir a Abraham que utilice a Lázaro de emisario, pero ahora para prevenir a sus hermanos. La respuesta de Abraham es una negativa indirecta: "tienen a Moisés y los profetas, que los escuchen". Sabemos que en la Torá y en los profetas abundan las prescripciones sobre la ayuda al pobre, al huérfano y a las viudas; junto con la condena al uso egoísta de los bienes. Es suficiente con escucharlos.
El rico persiste en que si se les aparece un muerto se convertirán (verbo metanoeō). La respuesta de Abraham es lapidaria: "Si no escuchan a Moisés y los profetas, aunque un muerto resucite, no se persuadirán". Pero al mismo tiempo esta respuesta es muy instructiva pues la ficción de la parábola quiere dejar este importante mensaje para los que estamos "vivos": hay que leer las Escrituras, hay que escuchar la voz de Dios para que se nos cambie el corazón y aprendamos a compartir lo que tenemos, lo que se nos ha dado como administradores en esta vida.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Ante todo, no hay que "perder el tiempo" elucubrando sobre la situación del hombre después de la muerte en base a esta parábola. Jesús se hace eco de la concepción escatológica popular de su época, por lo cual no esperemos que esta parábola nos aporte datos precisos al respecto. Esto ha sido señalado por la mayoría de los estudiosos; y a esta opinión se pliega Joseph Ratzinger en su libro Jesús de Nazaret . Lo que debemos retener es la certeza en el juicio de Dios y su modo de retribuir a cada uno según lo que ha recibido y según sus obras.
En segundo lugar, importa señalar que el mensaje original de la parábola está puesto en la segunda parte, o sea en el diálogo entre el rico y Abraham. Entonces el mensaje principal de la parábola es la de advertir a los hombres que viven como el rico de la parábola. Es una llamada a la conversión mediante la escucha de la Palabra de Dios, antes de que sea demasiado tarde; pues si no se convierten terminarán muy mal.
Así también la interpreta Benedicto XVI en su encíclica "Dios es amor" nº 15: "El rico epulón (cf. Lc 16, 19-31) suplica desde el lugar de los condenados que se advierta a sus hermanos de lo que sucede a quien ha ignorado frívolamente al pobre necesitado. Jesús, por decirlo así, acoge este grito de ayuda y se hace eco de él para ponernos en guardia, para hacernos volver al recto camino".
En la misma línea va la advertencia del Papa Francisco en su homilía del 29 de setiembre de 2022: “también nosotros corremos el riesgo de convertirnos en ese hombre rico del que nos habla el Evangelio, que no se preocupa por el pobre Lázaro «cubierto de llagas, y con ganas de saciarse de lo que caía de la mesa del rico» (Lc 16,20-21). Demasiado ocupado en comprarse vestidos elegantes y organizar banquetes espléndidos, el rico de la parábola no advierte el sufrimiento de Lázaro. Y también nosotros, demasiado concentrados en preservar nuestro bienestar, corremos el riesgo de no ver al hermano y a la hermana en dificultad.
Pero como cristianos no podemos permanecer indiferentes ante el drama de las viejas y nuevas pobrezas, de las soledades más oscuras, del desprecio y de la discriminación de quienes no pertenecen a “nuestro” grupo. No podemos permanecer insensibles, con el corazón anestesiado, ante la miseria de tantas personas inocentes. No podemos sino llorar. No podemos dejar de reaccionar. Pidámosle al Señor la gracia de llorar, la gracia de aquel llanto que convierte el corazón ante esos pecados”.
Aceptado esto, podemos señalar con J. Ratzinger otro aspecto de la parábola: "en realidad, con este relato el Señor nos quiere introducir en ese proceso del "despertar" que los Salmos describen […] Así, aunque no aparezca en el texto, a partir de los Salmos podemos decir que el rico de vida licenciosa era ya en este mundo un hombre de corazón fatuo, que con su despilfarro quería ahogar el vacío en que se encontraba: en el más allá aparece sólo la verdad que ya existía en este mundo. Naturalmente, esta parábola, al despertarnos, es al mismo tiempo una exhortación al amor a los pobres y a la responsabilidad que debemos tener respecto de ellos, tanto a gran escala, en la sociedad mundial, como en el ámbito más reducido de nuestra vida diaria" .
En este sentido, ha llamado la atención de algunos estudiosos la total falta de comunicación entre el rico y Lázaro, que se continúa todavía en el otro mundo . Como notamos, recién después de la muerte, cuando está sufriendo, el rico "ve" al pobre Lázaro. Por tanto, al rico le faltó compasión y caridad, porque le faltó, ante todo, un corazón que ve. Queda patente que uno de los peores peligros de la riqueza es que causa ceguera hacia Dios y sus mandamientos; y hacia el prójimo necesitado. Hoy diríamos insensibilidad del corazón. En la misma línea dice el Cardenal A. Vanhoye : “la enseñanza de la parábola está muy clara: no debemos dejar que se establezca una separación entre nosotros y los pobres, nuestros hermanos que sufren y carecen de medios necesarios para vivir. Debemos salir positivamente a su encuentro, cuidar de ellos, preocuparnos por su bien”.
Bien podemos considerar como la actitud positiva y diametralmente opuesta a la del rico epulón la del buen samaritano, que "vio y se conmovió". Aquí está lo que constituye el programa de Jesús y del cristiano en relación a la construcción de un mundo más justo. Así nos lo dice Benedicto XVI: "A un mundo mejor se lo contribuye solamente haciendo el bien ahora y en primera persona, con pasión y donde sea posible, independientemente de estrategias y programas de partido. El programa del cristiano —el programa del buen Samaritano, el programa de Jesús— es un «corazón que ve». Este corazón ve dónde se necesita amor y actúa en consecuencia. Obviamente, cuando la actividad caritativa es asumida por la Iglesia como iniciativa comunitaria, a la espontaneidad del individuo debe añadirse también la programación, la previsión, la colaboración con otras instituciones similares" (Dios es Amor, nº 31b).
A modo de síntesis podemos señalar lo siguiente:
En primer lugar, que sólo podemos tener un "corazón que ve" si tenemos primero "un corazón que escucha" la Palabra de Dios. Era la primera respuesta del padre Abraham: escuchar la Palabra para convertir nuestro corazón.
A la escucha de la Palabra respondemos con la fe, con su aceptación en nuestro corazón. Pues bien, "la fe nos libera del aislamiento del yo, porque nos lleva a la comunión: el encuentro con Dios es, en sí mismo y como tal, encuentro con los hermanos, un acto de convocación, de unificación, de responsabilidad hacia el otro y hacia los demás. En este sentido, la opción preferencial por los pobres está implícita en la fe cristológica en aquel Dios que se ha hecho pobre por nosotros, para enriquecernos con su pobreza (cf. 2 Co 8,9)" (Benedicto XVI, discurso inaugural de la Conferencia de Aparecida).
La fe nos invita a mirar lo que no nos gusta porque nos hace sufrir, nos hace mal, como es el mundo de la pobreza y la marginación. Nos invita a reconocer a Cristo en los rostros sufrientes de los pobres: "Si esta opción (por los pobres) está implícita en la fe cristológica, los cristianos como discípulos y misioneros estamos llamados a contemplar en los rostros sufrientes de nuestros hermanos, el rostro de Cristo que nos llama a servirlo en ellos: “Los rostros sufrientes de los pobres son rostros sufrientes de Cristo”. Ellos interpelan el núcleo del obrar de la Iglesia, de la pastoral y de nuestras actitudes cristianas. Todo lo que tenga que ver con Cristo, tiene que ver con los pobres y todo lo relacionado con los pobres reclama a Jesucristo: “Cuanto lo hicieron con uno de estos mis hermanos más pequeños, conmigo lo hicieron” (Mt 25, 40). Juan Pablo II destacó que este texto bíblico “ilumina el misterio de Cristo”. Porque en Cristo el Grande se hizo pequeño, el Fuerte se hizo frágil, el Rico se hizo pobre" (Documento de Aparecida nº 393).
Esta mirada de fe sobre la realidad de la pobreza es una llamada a la acción social, que interpela a la misma Iglesia universal: "En muchos países pobres persiste, y amenaza con acentuarse, la extrema inseguridad de vida a causa de la falta de alimentación: el hambre causa todavía muchas víctimas entre tantos Lázaros a los que no se les consiente sentarse a la mesa del rico epulón, como en cambio Pablo VI deseaba. Dar de comer a los hambrientos (cf. Mt 25,35.37.42) es un imperativo ético para la Iglesia universal, que responde a las enseñanzas de su Fundador, el Señor Jesús, sobre la solidaridad y el compartir" (Benedicto XVI, Caritas in Veritate nº 27).
Este imperativo ético para la Iglesia Universal reclama también nuestro compromiso, ahora particular y ajustado a nuestras posibilidades concretas y a nuestra vocación personal.
Por último, se resalta el mandamiento del amor a los pobres que no es una mera exigencia, sino que es posible y es mandado porque antes es dado (cf. Dios es Amor, nº 14). De Dios Amor nos viene el Amor-caridad para amar preferencialmente a los pobres, viendo a Cristo en ellos.
Dejemos para el cierre las palabras de un testigo, de un santo que vivió hasta el heroísmo su amor a los pobres, San Vicente de Paúl:
"Nosotros no debemos estimar a los pobres por su apariencia externa o su modo de vestir, ni tampoco por sus cualidades personales, ya que con frecuencia son rudos e incultos. Por el contrario, si consideráis a los pobres a la luz de la fe, os daréis cuenta de que representan el papel del Hijo de Dios, ya que él quiso también ser pobre. Y así, aun cuando en su pasión perdió casi la apariencia humana, haciéndose necio para los gentiles y escándalo para los judíos, sin embargo, se presentó como evangelizador de los pobres: Me envió a evangelizar a los pobres. También nosotros debemos estar imbuidos en estos sentimientos e imitar lo que Cristo hizo, cuidando de los pobres, consolándolos, ayudándolos, apoyándolos" (L. H. Oficio de Lectura de la memoria de San Vicente de Paúl).
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Padre
Padre
Tú que habitas en la familia trinitaria
Que plantas entre tus hijos tu carpa
Déjanos oír tu Voz
Aún ahora cuando parece
Que un abismo nos separa
Haznos comprender
La historia de Amor tejida por tu Hijo
Envuelve nuestra vida en la tuya
Para andar en el Espíritu,
Abandonar las penumbras
Y confiar
Sobre nosotros
Tu filiación fue pronunciada desde la eternidad
y allí somos llamados
A vivir para compartir
Lo tuyo, porque todo lo es
Y se resume en tu querer
Padre!
Déjanos ver por encima y en lo profundo
Para acercarnos sin temer
Al otro, al hermano
Y en tu ser llegar a encontrarnos
Respetarnos. Por fin amarnos.
Solo Tú puedes darnos
La Familia que anhelamos.
En tu Misterio abrigarnos
Hundirnos en la Gloria
Del Padre, del Hijo
Y del espíritu Santo. Amén.