28/09/2025
LINK AUXILIAR:
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Amós 6,1a.4-7
Salmo Responsorial 145-R- Bendize, minha alma, e louva ao Senhor!
1Timóteo 6,11-16
Evangelho Lucas 16,19-31
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: 19“Havia um homem rico que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem!’ 30O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’”. – Palavra da salvação.
A parábola do pobre Lázaro nos oferece uma difícil lição: a de que nossas pobrezas – materiais e espirituais – não são a coisa mais grave e podem esconder em si dons preciosos, ao passo que a riqueza e o bem-estar podem ser enganosos e nos fazer perder o essencial.
A parábola do pobre Lázaro e do rico banqueteiro chama a atenção não para o destino eterno dos dois, mas para a falta de relação e do abismo que os separa.
Havia um homem muito rico, sem nome, e um homem muito pobre, Lázaro. Para matar a fome, Lázaro esperava algumas migalhas caírem da mesa do rico que, nunca, nem sequer viu o pobre. Ele estava muito ocupado com outras coisas! Os banquetes, as roupas importadas, os vinhos e as comidas refinadas.
Apesar da diferença abissal entre os dois, eles acabam compartilhando o mesmo destino: a morte. A morte acaba com as diferenças entre eles, ou melhor, as revelam e as tornam definitivas. Na região dos mortos, Lázaro é acolhido no seio de Abraão e o rico padece em meio as chamas. O sofrimento do rico não é castigo divino, mas o resultado das escolhas que foram feitas em vida.
A parábola não faz um julgamento moral sobre a riqueza e a pobreza. Riqueza e pobreza não são boas nem más. Elas são amorais. O que é objeto de julgamento são as escolhas que foram feitas pelo rico: o modo como ele usou a sua riqueza. Foi a sua indiferença, sua cegueira espiritual, seu egoísmo que o impediu de transpor o abismo que havia entre ele e Lázaro. Agora, depois da morte, esse abismo se tornou intransponível e definitivo.
O profeta Amós denunciou esse tipo de egoísmo indiferente dos ricos. A ostentação e o superconsumismo de poucos teve como consequência a miséria de muitos. A desigualdade é uma herança triste de nosso país e é a causa de muitos lázaros que estão mergulhados na miséria.
É um paradoxo, mas com frequência são os pobres e os desvalidos que mais se esforçam por agradar a Deus. Certamente Lázaro não foi para o céu apenas por ser pobre, mas ele devia manifestar, em meio às suas adversidades, algumas das virtudes mencionadas na 2ª Leitura: piedade, fé, caridade, paciência, mansidão. O amor transforma nossa pobreza com e por Cristo, ao passo que a falta de amor não é capaz de tornar boa sequer a mais farta das riquezas.
Riqueza e pobreza não são bens absolutos – só o amor de Cristo é capaz de sê-lo e de fazer de nossa riqueza e pobreza dons agradáveis a Deus.
Jesus não contou essa parábola para dizer como será a eternidade. Ele quer chamar a atenção para o modo como vivemos no presente e como usamos dos bens desta terra. Podemos usar o dinheiro para transpor os abismos que separam ricos e pobres. Podemos usar o dinheiro de maneira egoísta. Ainda dá tempo para atravessar os abismos e construir pontes. Depois da morte, os abismos se tornarão definitivos.
Por isso, quando ajudamos alguém não lhe estamos prestando um favor. Para o cristão, tudo é de Deus e, se um irmão está sem nada, é porque existe um pecado grave. O papel da esmola não é o de subjugar ou humilhar, mas o de restabelecer a justiça. Lutar por políticas de redistribuição de renda, de superação das desigualdades sociais, lutar por uma sociedade mais fraterna e solidária, menos desigual e boa para todos e a forma concreta de “transpor os abismos” de nosso tempo.
Nós ainda temos tempo: importa diminuir as distâncias, construir relações sociais saudáveis. “Se nós nos recusamos a amar hoje, como poderemos amar amanhã?” (Marc Joulin)
Ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença
…há um grande abismo entre nós Lc 16,26
A parábola deste domingo talvez seja uma das mais “escandalosas” e verdadeiras do Evangelho. Certamente, seu conteúdo é impactante e desmascara a profunda divisão que há entre “epulões” e “lázaros” em nosso mundo; parábola inquietante pois coloca em questão a “ordem” econômica na qual estamos inseridos.
Sob esta perspectiva, a parábola conta a verdade invertida de nossa humanidade: o mundo “epulão”, próprio daqueles que só vivem para alimentar sua vaidade e seu prazer à custa dos pobres, está destinado à destruição, não por castigo externo de Deus, mas por sua própria condição de fechamento e indiferença; eles se alimentam e engordam para a morte, ao rejeitarem o caminho de vida que se faz visível na ajuda mútua e no amor aberto aos mais necessitados.
Este é o tema: um rico fechado em sua riqueza, apodrece com ela, ou seja, perde sua humanidade e se condena, não porque tenha feito algo contra o pobre Lázaro, mas porque não demonstrou compaixão com aquele que é vítima de uma estrutura social e econômica injusta.
Sabemos que, em toda parábola, o ouvinte passa por uma transformação interior; ele se abre porque ela o fascina, e, sem perceber, a narrativa o leva a outro nível. De repente, o ouvinte se sente envolvido na cena. Algum aspecto seu, que até então havia permanecido no escuro, é iluminado; agora é capaz de olhar-se de modo diferente.
Uma parábola “dá o que pensar”. Por isso, é importante prestar atenção até nos seus mínimos detalhes. Dizem os especialistas que, quando Jesus contava parábolas, apelava aos sentimentos mais primários de seus ouvintes (muitas vezes adversários) para fazê-los mudar. Assim, ao contar a parábola da ovelha perdida, ou do filho pródigo que retorna à casa, estaria dizendo aos seus adversários: “Vocês não sentem compaixão por essa pobre gente? Não sentem revirar suas entranhas?”.
Talvez ao contar a parábola do “rico e de Lázaro”, estaria nos dizendo: “Vocês não se envergonham de viver em um mundo assim, de ricos e de lázaros, de milionários e de famintos?…”
Se esta parábola não provoca em nós nenhum tipo de incômodo, se não desperta nossa vergonha, se não nos faz sentir afetados pelo que ali há de insulto ao pobre, se não nos mobiliza para uma superação desse escândalo…, é sinal de que a desumanização chegou ao fundo do poço.
Na parábola do evangelho de hoje aparecem três personagens: o pobre Lázaro, o rico sem nome e o pai Abraão. De um lado, a riqueza agressiva. Do outro, o pobre sem recurso, sem direitos, coberto de úlceras, impuro, sem ninguém que o acolha, a não ser os cachorros que lambem suas feridas. O abismo que separa os dois é a porta fechada da casa do rico.
A coexistência de riqueza e pobreza é, em si mesma, ruptura fundamental da solidariedade humana, negação de humanidade; é um flagrante violação da convivência humana, uma ofensa ao fundamento dos direitos humanos. “O luxo de uns converte-se em insulto contra a miséria das grandes massas” (Puebla 28).
O “rico e Lázaro” constituem um enorme escândalo em nosso mundo. É uma ofensa que se faz aos pobres pelo simples fato de serem indigentes ao lado de opulentos.
O foco para compreender o sentido da parábola é o pobre Lázaro, sentado à porta. Ele representa o grito calado dos pobres do tempo de Jesus e de todos os tempos. Deus vem até nós na pessoa do excluído, sentado à nossa porta, para nos ajudar a transpor o abismo intransponível que a riqueza criou.
A parábola é cheia de ironia. Para começar, o rico aparece sem “nome”: não ter nome naquela cultura era praticamente sinônimo de não existir; às vezes o rico é designado como “epulão”, mas é um adjetivo, que tem sua raiz no costume romano dos “épulos” ou banquetes; o pobre, pelo contrário, se chama “Lázaro”, ou seja, “Deus ajuda”. Ele tinha identidade; o rico era tão pobre que só tinha bens.
Com sua morte, o mendigo “é levado pelos anjos para o seio de Abraão”; o rico, pelo contrário, “morreu e foi enterrado”. O “seio de Abraão” é a fonte de vida, de onde nasceu o povo de Deus. Lázaro, o pobre, faz parte do povo de Abraão, do qual era excluído enquanto estava à porta do rico. Este pensa ter fé e ser filho de Abraão; mas só há um jeito de estar com Abraão: abrir a porta ao necessitado. A salvação para o rico não é Lázaro trazer uma gota de água para lhe refrescar a língua, mas é ele, o próprio rico, abrir a porta fechada para o pobre e, assim, transpor o grande abismo que os separa.
A chave de compreensão da parábola podemos encontrá-la justamente nesta expressão: “um grande abismo”. Um abismo que se revela não só após a morte, mas que ficara visível na indiferença do rico frente a presença do pobre à sua porta. Ele não tinha feito mal ao necessitado; simplesmente não o tinha visto.
O rico não vê o pobre, não vê a Deus; não escuta o pobre, não escuta a Deus. Não está contra Deus, nem contra o pobre; unicamente está cego. A riqueza o cega e o impede de viver para o outro; a riqueza endu-rece seu coração e o torna insensível. Esse “não ver” (“olhos que não veem, coração que não sente”) é o que cria um abismo intransponível em nossas relações pessoais, em nossos países e em nosso mundo.
A vivência da compaixão requer uma sensibilidade limpa e uma afetividade livre. Tanto o endurecimento (ou petrificação) da sensibilidade como o bloqueio afetivo impedem sentir-com-os-outros.
Não é estranho que o evangelho denuncie, com todo vigor, a indiferença, como a atitude mais negativa que rompe toda possibilidade de encontro. É totalmente coerente se temos em conta que a indiferença é justamente o oposto à compaixão, que constitui o núcleo da mensagem de Jesus.
A compaixão nos faz tremer “nas entranhas” frente à dor, alheia ou própria, e nos move a lhe dar uma resposta eficaz. A indiferença nos adormece no pequeno refúgio do ego.
A compaixão é a linguagem de Deus que nos salva da indiferença e do fechamento em nós mesmos. É um amor que nos expande em direção aos outros, sobretudo aos mais excluídos e perdidos.
Assim afirmou o Papa Francisco: “os cristãos devem ser ilhas de compaixão num mar de indiferença”.
A conclusão de tudo isso parece clara. Para viver a compaixão, precisamos, antes de mais nada, despertar nossa sensibilidade diante dos outros, sobretudo aqueles que estão à nossa porta e não os vemos.
A cegueira diante dos outros, sintoma de uma sensibilidade rígida ou congelada, torna impossível a compaixão. Precisamos restabelecer o contato com nossos sentimentos; despertada nossa capacidade de sentir, poderemos depois sentir-com-os-outros, ou seja, experimentar compaixão.
A transformação do coração exige um despertar de nossa sensibilidade. O discípulo de Jesus, com sua sensibilidade cristificada, não fugirá da realidade das pessoas e da natureza, mas se relacionará com elas, buscando também nelas a presença de Deus. Nesse sentido, a sensibilidade cristificada é o motor da sua vida e da sua conduta. E os “abismos” serão superados.
Portanto, mediante uma acolhida contemplativa da Parábola deste domingo, vamos transfigurando nossos sentidos e convertendo nossa sensibilidade, para aproximar-nos da realidade como Jesus se aproximava, com uma sensibilidade cada dia mais parecida com a d’Ele.
À medida que vai se realizando esta conversão de nossa sensibilidade, nós nos fazemos capazes de nos tornar presentes junto aos mais necessitados à maneira de Jesus de Nazaré, abrindo a porta de nossas casas para acolhê-los.
Texto bíblico: Lc 16,19-31
Na oração: Em chave de interioridade: carregamos um pobre Lázaro em nosso interior (feridas, fracassos, traumas…) que está à porta do rico ego e que clama por alimento, atenção, cuidado… O ego está cheio de si, prepotente, perfeccionista e não é capaz de abrir a porta do próprio interior para deixar o “lázaro” entrar em sua casa.
Criamos um abismo interior: divisão, conflito… que se transforma em um inferno. Basta abrir a porta para acolher o Lázaro: é através dele que Deus entra em nossa vida. Quem tem sensibilidade e compaixão para acolher seus “lázaros interiores”, também terá sensibilidade para acolher os lázaros vítimas das estruturas sociais e econômicas injustas.
Devemos evitar toda linguagem discriminatória para não menosprezar nenhuma cor, raça, crença ou cultura.
Devemos exigir que eles respeitem nossa cultura, mas devemos reconhecer seus direitos à legalidade, ao trabalho, à moradia e à reunificação familiar.
O pobre Lázaro está ali, morrendo de fome "à sua porta", mas o rico evita qualquer contato e continua a viver "esplendidamente", alheio ao seu sofrimento. Ele não atravessa aquela "porta" que o aproximaria do mendigo. No final, descobre, horrorizado, que um "vasto abismo" se abriu entre eles. Esta parábola é a crítica mais implacável de Jesus à indiferença ao sofrimento de um irmão.
Há cada vez mais imigrantes ao nosso redor. Eles não são "personagens" de uma parábola. São homens e mulheres de carne e osso. Estão aqui com suas angústias, necessidades e esperanças. Servem em nossas casas, caminham por nossas ruas. Estamos aprendendo a acolhê-los ou continuamos a viver nossa pequena vida de bem-estar, indiferentes ao sofrimento daqueles que nos parecem estranhos? Essa indiferença só se dissolve quando damos passos que nos aproximam deles.
Podemos começar aproveitando cada oportunidade para interagir com um deles de forma amigável e descontraída, e conhecer mais de perto seu mundo de problemas e aspirações. Como é fácil descobrir que somos todos filhos e filhas da mesma Terra e do mesmo Deus.
Devemos lutar para diminuir o abismo que hoje separa os ricos dos pobres – José Antonio Pagola
É essencial não rir de seus costumes ou zombar de suas crenças. Eles pertencem à parte mais profunda de seu ser. Muitos deles têm um senso de vida, solidariedade, celebração ou acolhimento que nos surpreenderia.
Devemos evitar toda linguagem discriminatória para não menosprezar qualquer cor, raça, crença ou cultura. Vivenciar a riqueza da diversidade nos torna mais humanos. Chegou a hora de aprender a viver no mundo como uma "aldeia global" ou uma "casa comum" para todos.
Eles têm falhas, porque são como nós. Devemos exigir que respeitem nossa cultura, mas devemos reconhecer seus direitos à legalidade, ao trabalho, à moradia e à reunificação familiar. E, antes disso, devemos lutar para diminuir o abismo que hoje separa os ricos dos pobres. Cada vez mais estrangeiros viverão conosco. Esta é uma oportunidade para aprendermos a ser mais tolerantes, mais justos e, em última análise, mais humanos.
Neste domingo, o evangelho reforça a ideia de que não dá para conciliar seguir Jesus com a preocupação excessiva com as coisas materiais. Como foi mencionado no domingo passado, não é possível servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo. Nesta parábola, contamos a história de um homem rico que não se sensibiliza com um pobre que está à sua porta. O texto também descreve com detalhes que Lazaro “queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico”.
A identidade do rico é dada por seus bens, não sabemos seu nome, mas apenas "que se vestía com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os días”. Isso é o que importa para essa pessoa, como também acontece hoje em dia, para os ricos atuais. As notícias informam onde eles moram e nos descrevem como são suas casas, onde passaram as férias, o que comeram, como se vestem, quanto investem em sua estadia em determinado lugar.
No mundo todo, há um registro das pessoas consideradas as mais “ricas do planeta”, como se esse dinheiro lhes desse uma identidade ou um lugar especial na sociedade. Como explicou o Papa Leão na entrevista de Iacopo Scaramuzzi, publicada pelo jornal La Repubblica em 14 de setembro: Ontem, foi divulgada a notícia de que Elon Musk se tornará o primeiro trilionário do mundo. O que isso significa e do que se trata? Se for verdade, é a única coisa que ainda tem valor, então estamos em apuros...". Leão XIV: "Há muitas disparidades no mundo; vejamos Elon Musk." A democracia nem sempre é "perfeita".
Não dá para conciliar seguir Jesus com a preocupação excessiva com as coisas materiais – Ana Maria Casarotti
Ser rico é alguém que tem muitos bens, que é considerado poderoso, milionário. Hoje em dia, podemos chamar de ricos aqueles que possuem dinheiro ou bens que talvez tenham herdado, ou que conseguiram conquistar por bons negócios. Também estão entre eles atletas cujos talentos têm um valor alto e são vendidos para clubes, ou cantores cujo talento os tornou famosos, ou influencers, ou também profissionais reconhecidos por terem estudado e se formado. A vida desse pequeno grupo circula rapidamente pelas redes digitais, como se fosse uma notícia de última hora, mas também pode desaparecer com a mesma rapidez, como um vento forte causado por um erro ou uma queda na vida.
Junto com o Papa Leão, nos perguntamos então: qual é o valor da vida humana? E recolhemos suas palavras: “Se perdermos o sentido desses valores, o que mais importa?
Some-se a tudo isso" [...], "alguns outros fatores, um dos quais considero muito significativo: a crescente disparidade entre os níveis de renda da classe trabalhadora e o dinheiro recebido pelos mais ricos. Por exemplo, CEOs que há 60 anos ganhavam de quatro a seis vezes mais do que os trabalhadores ganham, o último número que vi é 600 vezes mais do que o trabalhador médio ganha”.
No século VIII a.C., o profeta Amós adverte sobre a ganância pelo dinheiro, dirigindo-se à classe alta das duas capitais, Sião (Jerusalém), denunciando seu modo de vida: “dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado; cantam ao som das harpas, ou, como Davi, dedilham instrumentos musicais; bebem vinho em taças, e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José” (Am 6,1-4). A descrição do luxo é detalhada em um estilo de vida, no espaço em que habitam, na comida e na bebida, nos perfumes que usam. É um grupo de pessoas que “não se preocupam com a ruína de José”, não se importam com a injustiça que milhões de pessoas sofrem. A ostentação e a abundância são suas prioridades e ignoram aqueles que, como José, estão na desgraça e na miséria.
O rico é descrito pelas possibilidades que o dinheiro lhe oferece para viver, pelas roupas e pela comida abundante, e é aí que se baseia sua identidade: ser rico. Seu nome não importa, mas o texto nos permite reconhecer uma profunda insensibilidade em relação àqueles que estão ao seu lado: “Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico”.
O rico era uma pessoa insensível, que não tem compaixão por quem está bem perto dele, caído no chão na porta de sua casa! Mas o rico sabe o nome daquele que está sentado na porta de sua casa, pois em sua conversa com Abraão, ele pedirá que “Lázaro” lhe faça um favor: 'Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas'.
'Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós'.
Qual foi o pecado do rico? A parábola mostra a distância que existia entre o rico e Lázaro, mesmo que eles parecessem estar próximos fisicamente. O homem rico se preocupa apenas com suas roupas e sua comida, e não consegue perceber o pobre que está deitado à porta de sua casa, morto de sede e coberto de feridas – Ana Maria Casarotti
As palavras de Abraão são bem claras, mas não indicam que a sorte das pessoas muda de forma quase automática: quem vive na pobreza é abençoado por Deus na próxima vida, enquanto quem é rico enfrentará sofrimentos. Qual foi o pecado do rico? A parábola mostra a distância que existia entre o rico e Lázaro, mesmo que eles parecessem estar próximos fisicamente. O homem rico se preocupa apenas com suas roupas e sua comida, e não consegue perceber o pobre que está deitado à porta de sua casa, morto de sede e coberto de feridas. E o homem rico se preocupa com sua maneira de se vestir, com sua comida e não é capaz de notar o pobre que está deitado à porta de sua casa. Não foi dito que ele fosse um criminoso, explorador ou chantagista. Mas ele é uma pessoa indiferente à injustiça que acontece bem na sua porta. Seu amor próprio e egocentrismo fazem com que ele ignore essa situação. É uma injustiça indireta causada pelo egoísmo. O homem rico não era um ladrão ou assaltante, mas vivia na opulência sem se importar com quem estava perto dele. Essa distância entre eles criou um abismo entre duas realidades que não se conectam: o egoísmo e a generosidade, a riqueza e a pobreza, a soberba e a humildade.
Não e possível serem cristãos sem uma profundada preocupação pelo outro, que incomode nossa vida, que questione nossas atitudes injustas ou nossa indiferença generalizada – Ana Maria Casarotti
Através desta parábola, somos convidados, em primeiro lugar, a agradecer os bens recebidos e as possibilidades que Deus nos deu para reconhecer o “Lázaro” que está à porta da nossa casa e partilhar com ele esses bens e dons. Ela também nos alerta sobre o egoísmo, a indiferença, a falta de sensibilidade que podemos ter ao viver em um mundo onde parece abundar a violência, o maltrato e, de maneira justificada, endurecer nosso coração e fechar nossos olhos para aqueles que estão passando por dificuldades. O que podemos fazer? São muitas situações, muitas realidades, o qué podemos fazer? ... e assim continuamos caminhando, tentando nos convencer de que nada pode ser feito. No início do seu pontificado, o Papa Francisco em Lampedusa fez uma contundente critica a este fenômeno: “Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa (...) Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de "padecer com": a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar!” O Papa Francisco e o combate à globalização da indiferença
Não e possível serem cristãos sem uma profundada preocupação pelo outro, que incomode nossa vida, que questione nossas atitudes injustas ou nossa indiferença generalizada.
1) Oração
Ó Deus, que amais e restaurais a inocência, orientai para vós os corações dos vossos filhos, para que, renovados pelo vosso Espírito, sejamos firmes na fé e eficientes nas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Reflexão
* Toda vez que Jesus tem uma coisa importante para comunicar, ele cria uma história e conta uma parábola. Assim, através da reflexão sobre a realidade visível, ele leva os ouvintes a descobrirem os apelos invisíveis de Deus, presentes na vida. Uma parábola é feita para fazer pensar e refletir. Por isso, é importante prestar atenção até nos seus mínimos detalhes.
Na parábola do evangelho de hoje aparecem três pessoas: o pobre Lázaro, o rico sem nome e o pai Abraão. Dentro da parábola,
Abraão representa o pensamento de Deus.
O rico sem nome representa a ideologia dominante da época.
Lázaro representa o grito calado dos pobres do tempo de Jesus e de todos os tempos.
* Lucas 16,19-21: A situação do rico e do pobre. Os dois extremos da sociedade. De um lado, a riqueza agressiva. Do outro, o pobre sem recurso, sem direitos, coberto de úlceras, impuro, sem ninguém que o acolhe, a não ser os cachorros que lambem suas feridas. O que separa os dois é a porta fechada da casa do rico. Da parte do rico não há acolhimento nem piedade pelo problema do pobre à sua porta. Mas o pobre tem nome e o rico não tem. Ou seja, o pobre tem o seu nome inscrito no livro da vida, o rico não. O pobre se chama Lázaro. Significa Deus ajuda. É através do pobre que Deus ajuda o rico e que o rico poderá ter o seu nome no livro da vida. Mas o rico não aceita ser ajudado pelo pobre, pois mantém a porta fechada. Este início da parábola que descreve a situação, é um espelho fiel do que estava acontecendo no tempo de Jesus e no tempo de Lucas. É espelho do que acontece até hoje no mundo!
* Lucas 16,22: A mudança que revela a verdade escondida. O pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na parábola, o pobre morre antes do rico. Isto é um aviso aos ricos. Enquanto o pobre está vivo à porta, ainda tem salvação para o rico. Mas depois que o pobre morre, morre também o único instrumento de salvação para o rico. Agora, o pobre está no seio de Abraão. O seio de Abraão é a fonte de vida, de onde nasceu o povo de Deus. Lázaro, o pobre, faz parte do povo de Abraão, do qual era excluído enquanto estava à porta do rico. O rico que pensa ser filho de Abraão não vai para o seio de Abraão! Aqui termina a introdução da parábola. Agora começa a revelação do seu sentido, através de três conversas entre o rico e o pai Abraão.
* Lucas 16,23-26: A primeira conversa. Na parábola, Jesus abre uma janela sobre o outro lado da vida, o lado de Deus. Não se trata do céu. Trata-se do lado verdadeiro da vida que só a fé enxerga e que o rico sem fé não percebia. É só à luz da morte que a ideologia do império se desintegra na cabeça do rico e que aparece para ele o que é valor real na vida. No lado de Deus, sem a propaganda enganadora a ideologia, os papéis são trocados. O rico vê Lázaro no seio de Abraão e pede para ele vir aliviá-lo no sofrimento. O rico descobre que Lázaro é o seu único benfeitor possível. Mas agora é tarde demais! O rico sem nome é piedoso, pois reconhece Abraão e o chama de Pai. Abraão responde e o chama de filho. Esta palavra de Abraão, na realidade, está sendo dirigida a todos os ricos vivos. Enquanto vivos, eles ainda têm chance de se tornarem filhos e filhas de Abraão, se souberem abrir a porta para Lázaro, o pobre, o único que em nome de Deus pode ajudá-los. A salvação para o rico não é Lázaro trazer uma gota de água para refrescar-lhe a língua, mas é ele, o próprio rico, abrir a porta fechada para o pobre e, assim, transpor o grande abismo.
* Lucas 16,27-29: A segunda conversa. O rico insiste: "Pai, eu te suplico: manda Lázaro para a casa do meu pai. Tenho cinco irmãos!" O rico não quer que seus irmãos venham no mesmo lugar de tormento. Lázaro, o pobre, é o único verdadeiro intermediário entre Deus e os ricos. É o único, porque é só aos pobres que os ricos podem e devem devolver o que roubaram e, assim, restabelecer a justiça prejudicada! O rico está preocupado com os irmãos. Nunca esteve preocupado com os pobres! A resposta de Abraão é clara: "Eles têm Moisés e os Profetas: que os ouçam!" Têm a Bíblia! O rico tinha a Bíblia. Conhecia-a até de memória. Mas nunca se deu conta de que a Bíblia tivesse algo a ver com os pobres. A chave para o rico poder entender a Bíblia é o pobre sentado à sua porta!
* Lucas 16,30-31: A terceira conversa. "Não, pai, se alguém entre os mortos der um aviso, eles vão se arrepender!" O próprio rico reconhece que ele está errado, pois fala em arrependimento, coisa que durante a vida nunca sentiu. Ele quer um milagre, uma ressurreição! Mas este tipo de ressurreição não existe. A única ressurreição é a de Jesus. Jesus ressuscitado vem até nós na pessoa do pobre, dos sem-direito, dos sem-terra, dos sem-comida, do sem-casa, dos sem-saúde. Na sua resposta final, Abraão é curto e grosso: "Se não escutarem Moisés e os profetas, mesmo que alguém ressuscitar dos mortos, eles não se convencerão!" Está encerrada a conversa! Fim da parábola!
* A chave para entender o sentido da Bíblia é o pobre Lázaro, sentado à porta! Deus vem até nós na pessoa do pobre, sentado à nossa porta, para nos ajudar a transpor o abismo intransponível que os ricos criaram. Lázaro é também Jesus, o Messias pobre e servidor, que não foi aceito, mas cuja morte mudou radicalmente todas as coisas. É à luz da morte do pobre que tudo se modifica. O lugar de tormento é a situação da pessoa sem Deus. Por mais que o rico pense ter religião e fé, não há jeito de ele estar com Deus, enquanto não abrir a porta para o pobre, como fez Zaqueu (Lc 19,1-10).
3) Oração final
Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem toma parte nas reuniões dos zombadores, mas na lei do SENHOR encontra sua alegria e nela medita dia e noite. (Sl 1, 1-2)
A parábola de Lucas 16,19-31 não é uma espécie de “geografia do céu e do inferno”, nem um ensinamento sobre a questão do “além”, da situação depois da morte. É uma parábola, cujo objetivo é provocar um questionamento, uma reflexão que leve ao entendimento da mensagem e a uma tomada de posição.
De um lado, esta parábola parece dirigir-se aos fariseus (Lucas 16,14), aqueles definidos por Jesus como “amigos do dinheiro”. De outro lado, é uma advertência aos discípulos e às discípulas de Jesus de ontem e de hoje.
Uma realidade cheia de contrastes
A situação inicial é descrita apresentando os contrastes entre duas realidades: de um homem rico anônimo contra um mendigo que se chamava Lázaro (que significa “Deus ajuda”); de roupas luxuosas de púrpura e linho contra a pele coberta de úlceras repugnantes; de banquetes diários contra estômago faminto que desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa; de enterro certamente com toda solenidade e pompa contra o sepultamento de um indigente; de luxo, abundância e supérfluo, de um lado, e a falta do mínino necessário para viver, do outro.
O abismo da indiferença
Uma cena comum que pode ser vista quotidianamente no palco da vida. Mesmo separados pela distância da indiferença, o rico e o pobre viveram bem próximos um do outro. Porém, o rico não vê nada, sequer percebe a presença de Lázaro. Ele vivia extremamente para si, fechado no seu mundo de bens, luxo, festa e comilança. Uma pessoa insensível ante a situação de fome, doença e dor do pobre que estava junto à porta de sua casa. Lázaro era um entre tantos marginalizados da cidade. Só os cães de rua se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Sua única esperança é Deus. O uso egoísta dos bens materiais cavava um abismo entre o rico e o pobre. Jesus desmascara esta realidade da sociedade onde as pessoas estão separadas por uma barreira invisível: essa porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se de Lázaro.
Não basta ser “filho de Abraão”
Após a morte, as sortes se inverteram. Lázaro é levado pelos anjos ao “seio de Abraão”, expressão figurada para falar do banquete do Reino (cf. Lucas 13,28; Mateus 8,11). O rico está embaixo, na morada dos mortos, no meio de tormentos. Ele, que antes tinha comidas e bebidas finas à sua disposição, agora implora por uma simples gota d’água. Porém, um abismo intransponível separa os dois.
O rico da parábola crê que faz parte do povo de Deus, chamando Abraão de “pai”. Porém, não basta ser “filho de Abraão”, é preciso escutar as Escrituras e demonstrar solidariedade e justiça para com os irmãos que sofrem necessidade. O profeta Isaías, por exemplo, diz o que os filhos de Abraão devem fazer: “repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu e não se fechar à sua própria gente” (Isaías 58,7; cf. Mateus 25,35-36).
A parábola pode estar denunciando a falsa religião dos fariseus, que se dizem filhos e filhas de Abraão, mas acumulam os bens dos pobres, reduzindo à miséria muitos filhos e filhas de Abraão, irmãos e irmãs deles (cf. Mateus 23,14). Nesta posição, eles se tornam surdos ao clamor dos pobres e aos ensinamentos de Moisés e dos profetas.
Uma mensagem ética que rompe barreiras
Esta parábola é uma crítica de Jesus a um sistema opressor que gera indiferença diante do sofrimento de quem está na miséria. Os ricos insensíveis, amantes do dinheiro, não mudam seu comportamento de luxo e de esbanjamento. Sustentam uma sociedade que produz milhões de “lázaros”, aqueles que são jogados “fora dos muros” do convívio e da participação na vida.
A parábola é uma advertência e apelo à conversão dirigida a todos nós, discípulos e discípulas de Jesus. Quem escuta a Palavra de Deus não vive descompromissado com a realidade à sua volta. Quem segue Jesus vai se tornando mais sensível ao sofrimento daqueles que ele encontra em seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se estiver em seu alcance, procura aliviar sua situação.
A indiferença só se dissolve quando se dá passos que nos aproximam dos “lázaros” de diferentes rostos e nomes. Ao invés de levantar barreiras que dividem, somos interpelados a lutar por eliminar o “abismo” que separa os povos através do poder econômico, da suposta superioridade racial, de gênero, de crença ou cultura.
Felizes as pessoas que seguem Jesus, rompendo barreiras e atravessando portas, abrindo caminhos e se aproximando dos últimos. Elas encarnam o “Deus que ajuda” os pobres.
Este último trecho do capítulo dezesseis continua os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas, ou melhor, sobre a questão fundamental da partilha dos bens como necessidade absoluta para os seus discípulos. Aqui, temos a famosa parábola do “Rico e Lázaro”, e também a reflexão sobre o destino dos irmãos do rico. Levanta a questão: “Irão seguir o exemplo do irmão rico ou atender o ensinamento tanto de Jesus como do Antigo Testamento sobre o cuidado dos necessitados, como Lázaro, e assim se tornarem Filhos de Abraão?”
Os destinatários do Evangelho de Lucas eram as comunidades cristãs urbanas das cidades gregas do Império Romano. A imagem da parábola é típica da sociedade urbana – tanto a de então como a de hoje! De um lado, o rico que esbanja dinheiro e comida em banquetes e futilidades, e do outro lado o pobre miserável, faminto e doente. Ambos vivem lado ao lado, sem que o rico tome conhecimento da existência e dos sofrimentos do pobre! Quantos exemplos disso existem hoje – lado ao lado com a maior opulência, a mais desumana miséria, e entre as duas situações uma barreira de cegueira e indiferença?
É muito interessante – e importante para a nossa compreensão da parábola – que os vv. 22-26 não dizem que o rico foi para o inferno por que ele fazia algo moralmente repreensível; e nem que Lázaro foi para o céu porque ele era “santo”. Por isso, por tão inconveniente que possa soar em uma sociedade como a nossa, dá para entender que esse trecho condena o rico simplesmente por ser insensível, em uma sociedade de empobrecimento, e abençoa o pobre pelo simples fato de estar sofrendo a miséria em uma sociedade que esbanja os bens necessários para a vida. É interessante que no texto o rico não tem nome, mas o pobre sim – “Lázaro” que dizer em hebraico “auxiliado por Deus”. A riqueza torna-se pecado diante da situação desumana dos pobres, pois é a negação da partilha e da solidariedade! O que dizer então da nossa sociedade atual neoliberal, com a escandalosa desigualdade que ela ostenta. O rico foi condenado porque ele simplesmente se fechou diante do sofrimento alheio – a parábola não diz uma palavra sobre o comportamento dele fora desse aspecto. Esse fechamento é a negação de todo o ensinamento do Antigo e do Novo Testamento. O simples fato de existir lado ao lado o rico opulento e o Lázaro sofrido é a condenação de uma sociedade pecaminosa que permite esta situação anti-evangélica.
A segunda parte da história, versículos 27-31, continua com o diálogo entre o rico e Abraão, e mostra claramente que a sua indiferença diante do sofrimento de Lázaro não estava de acordo com o Antigo Testamento (vv. 29-31), e nem com Jesus (v. 9). Enfatiza que nem manifestações milagrosas vão mudar o coração duro de quem não quer ouvir a Palavra de Deus: “Abraão lhe disse: Se eles não escutam a Moisés e os profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos”. (v. 31); “Moisés e os profetas” significa a Escritura, pois a Bíblia hebraica se dividiu em Lei (=Moisés) e Profetas.
Palavra tão atual! Pois não é por falta de conhecimento da Palavra de Deus que o mundo se acha na sua situação atual. Não é por desconhecimento do ensinamento de Jesus sobre a fraternidade e a solidariedade, que temos uma sociedade excludente hoje no Brasil! Não é por falta de celebrações litúrgicas e sacramentais que há tanto sofrimento nas nossas ruas e bairros! É simplesmente porque a sociedade opta por se organizar conforme critérios anti-evangélicos, e porque tantos cristãos reduzem o cristianismo a uma série de leis, ritos e doutrinas – muitas vezes não ultrapassando muito de uma simples lista de “boas maneiras”. Optamos por diluir as exigências do Evangelho para que possamos continuar com os “ricos” e os “Lázaros” de hoje, lado ao lado, sem que estes incomodem aqueles! Sabemos o que a Bíblia diz, conhecemos muito bem o ensinamento de Jesus – e continuamos na construção de uma sociedade injusta, fundamentada sobre a idolatria do lucro, com a consequência automática do sofrimento e exclusão.
O rico e Lázaro continuam morando hoje em nossas cidades. Jesus hoje nos desafia para que optemos por outra forma de sociedade, onde todos terão acesso aos bens necessários para uma vida digna. Se não queremos ouvir o que nos diz a Palavra de Deus, se nós queremos continuar surdos diante do grito dos excluídos, então o nosso destino será também aquele do rico da história.
“Tenho medo de não responder, de fingir que não escutei; tenho medo de ouvir teu chamado, virar doutro lado e fingir que não sei!”
Lucas não deixa que o leitor evite as questões gritantes da ligação entre fé e vida, entre religião e economia- questões mais atuais do que nunca, sempre abordadas pelo Papa Francisco, que na verdade simplesmente nos recorda o ensinamento do Evangelho, que a sociedade conhece bem, mas reluta para não colocar em prática.
Tema
A liturgia deste domingo propõe-nos, de novo, a reflexão sobre a nossa relação com os bens deste mundo... Convida-nos a vê-los, não como algo que nos pertence de forma exclusiva, mas como dons que Deus colocou nas nossas mãos, para que os administremos e partilhemos, com gratuidade e amor.
Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente uma classe dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos humildes. O profeta anuncia que Deus não vai pactuar com esta situação, pois este sistema de egoísmo e injustiça não tem nada a ver com o projecto que Deus sonhou para os homens e para o mundo.
O Evangelho apresenta-nos, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, uma catequese sobre a posse dos bens... Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que se destinam a todos os homens... Por isso, o rico é condenado e Lázaro recompensado.
A segunda leitura não apresenta uma relação directa com o tema deste domingo... Traça o perfil do "homem de Deus": deve ser alguém que ama os irmãos, que é paciente, que é brando, que é justo e que transmite fielmente a proposta de Jesus. Poderíamos, também, acrescentar que é alguém que não vive para si, mas que vive para partilhar tudo o que é e que tem com os irmãos?
EVANGELHO - Lc 16,19-31
A leitura que hoje nos é proposta apresenta mais uma etapa do "caminho de Jerusalém". A história do rico e do pobre Lázaro é um texto exclusivo de Lucas. Não é possível dizer se se trata de uma parábola procedente de uma fonte desconhecida, ou se é uma criação do próprio Lucas... De qualquer forma, trata-se de uma catequese (desenvolvida ao longo de todo o capítulo 16 do Evangelho segundo Lucas) em que se aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus dirige-Se, aqui, aos fariseus (cf. Lc 16,14), como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro e vivem em função dele.
MENSAGEM
A parábola tem duas partes.
Na primeira (vers. 19-26), Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história, segundo um cliché literário muito comum na literatura bíblica: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. No entanto, a morte dos dois muda radicalmente a situação. O que é que, verdadeiramente, está aqui em causa?
Atentemos nos dois personagens... Do rico diz-se, apenas, que se vestia de púrpura e linho fino, e que dava esplêndidas festas. De resto, não se diz se ele era mau ou bom, se frequentava ou não o templo, se explorava os pobres ou se era insensível ao seu sofrimento (aparentemente, isso não é decisivo para o desfecho); no entanto, quando morreu, foi para um lugar de tormentos. Do pobre Lázaro diz-se, apenas, que jazia ao portão do rico, que estava coberto de chagas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cães vinham lamber-lhe as chagas; quando morreu, Lázaro foi "levado pelos anjos ao seio de Abraão" (quer dizer, a um lugar de honra no festim presidido por Abraão. Trata-se do "banquete do Reino", onde os eleitos se juntarão - de acordo com o imaginário judaico - com os patriarcas e os profetas); não se diz, no entanto, se Lázaro levou na terra uma vida exemplar ou se cometeu más ações, se foi um modelo de virtudes ou foi um homem carregado de defeitos, se trabalhava duramente ou se foi um parasita que não quis fazer nada para mudar a sua triste situação...
Nesta história, não parecem ser as ações boas ou más cometidas neste mundo pelos personagens (a história não faz qualquer referência a isso) que decidem a sorte deles no outro mundo. Então, porque é que um está destinado aos tormentos e outro ao "banquete do Reino"?
A resposta só pode ser uma: o que determina a diferença de destinos é a riqueza e a pobreza. O rico conhece os "tormentos" porque é rico; o pobre conhece o "banquete do Reino" porque é pobre. Mas então, a riqueza será pecado? Aqueles que acumularam riquezas sem defraudar ninguém serão culpados de alguma coisa? Ser rico equivale a ser mau e, portanto, a estar destinado aos "tormentos"?
Na perspectiva de Lucas, a riqueza - legítima ou ilegítima - é sempre culpada. Os bens não pertencem a ninguém em particular (nem sequer àqueles que trabalharam duramente para se apossar de uma fatia gorda dos bens que Deus colocou no mundo); mas são dons de Deus, postos à disposição de todos os seus filhos, para serem partilhados e para assegurarem uma vida digna a todos... Quem se apossa - ainda que legitimamente - desses bens em benefício próprio, sem os partilhar, está a defraudar o projecto de Deus. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e sem cuidados, esquecendo-se das necessidades dos outros homens, está a defraudar os seus irmãos que vivem na miséria. Nesta história, Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou nas nossas mãos, ainda que os tenhamos adquirido de forma legítima: somos apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos. Esquecer isto é viver de forma egoísta e, por isso, estar destinado aos "tormentos".
Na segunda parte do nosso texto (vers. 27-31), insiste-se em que a Escritura - na qual os fariseus eram peritos - apresenta o caminho seguro para aprender e assumir a atitude correta em relação aos bens. O rico ficou surdo às interpelações da Palavra de Deus ("Moisés e os Profetas") e isso é que decidiu a sua sorte: ele não quis escutar as interpelações da Palavra e não se deixou transformar por ela. O versículo final (vers. 31) expressa perfeitamente a mensagem contida nesta segunda parte: até mesmo os milagres mais espetaculares são inúteis, quando o homem não acolheu no seu coração a Palavra de Deus. Só a Palavra de Deus pode fazer com que o homem corrija as opções erradas, saia do seu egoísmo, aprenda a amar e a partilhar.
A história que nos é proposta é uma ilustração das bem-aventuranças e dos "ais" de Lc 6,20-26... Anuncia-se, desta forma, que o projeto de Deus passa por um "Reino" de fraternidade, de amor e de partilha. Quem recusa esse projeto e escolhe viver fechado no seu egoísmo e autossuficiência (os ricos), não pode fazer parte desse mundo novo de fraternidade que Deus quer propor aos homens (a imagem dos "tormentos", contudo, não deve se levada demasiado a sério: faz parte do folclore oriental e das imagens que os pregadores da época utilizavam para impressionar as pessoas e levá-las a modificar radicalmente o seu comportamento).
Continuamos a acompanhar as “Lições do Caminho”, dadas por Jesus na sua última viagem para Jerusalém, onde ele será crucificado, morto e glorificado. Nesta parte do seu evangelho (Lc 9,51-19,28) Lucas colocou as orientações ideais e práticas de Jesus para seus seguidores poderem prosseguir no caminho que Jesus abriu.
No texto do evangelho de hoje é mantida a lição sobre o uso correto dos bens materiais que foi enfatizada na passagem do evangelho do domingo passado (Lc 16,1-13). Em nossa sociedade o dinheiro escraviza não somente os que já são ricos, mas também uma ampla maioria que conseguiram já um nível de vida mais alto. A riqueza entendido como “apropriação excludente da abundância”, não faz o homem crescer, e sim o destrói e desumaniza, pois o torna indiferente e insolidário, apático, diante da desgraça alheia. A riqueza é capaz de criar facilmente resistência ao mandamento de amor de Deus, e surdez à sua Palavra. A riqueza é capaz de fechar o coração do homem para Deus e para o próximo.
Estamos na última parte do capítulo 16 do Lucas. Sabemos que o tema central deste capítulo é o convite de Jesus a usarmos os bens materiais deste mundo corretamente. Jesus conclama os seus ouvintes de ontem e, nós como indivíduos e Comunidade hoje, a vivermos na fraternidade em que um cuida do outro. “Vamos juntos”. “Ninguém larga a mão de ninguém”. “Ou vai todos ou não vai ninguém” Para isso, Lucas nos narra a parábola sobre o rico e Lázaro.
Para nos ajudar na nossa reflexão sobre esta parábola vamos lançar algumas perguntas:
Primeiro, sobre o homem rico: A que ele se dedica? Qual é a meta ou o ideal de sua vida? Pode-se viver na abundância (apesar de ser direito quando a riqueza é lícita) tendo tão perto alguém com fome?
Segundo, sobre o mendigo Lázaro: Como a parábola descreve sua situação de miséria extrema? Qual o aspecto mais doloroso e desumano de seu estado? O que você sente diante desta cena tão revoltante?
Terceiro, sobre o nome: O mendigo tem um nome: Lázaro, que significa “Deus ajuda”. O rico não aparece identificado, aliás, sem nome. Não parece estranho este detalhe? Por que o rico fica sem nome?
Quarto, sobre próximo e, ao mesmo tempo, distante. Conforme o relato, existe uma proximidade entre o rico e o mendigo Lázaro (Lázaro se encontra na porta do mansão do rico). Se estão tão próximos, o que é que os separa?
Quinto, sobre o pecado do rico: Por que o rico é condenado? Qual é o pecado do rico?
Finalmente, sobre a atualidade da parábola: Qual é a mensagem da parábola para o mundo atual, para o nosso mundo em que vivemos?
A parábola sobre o rico e Lázaro é encontrado somente no Evangelho de Lucas. Segundo os especialistas em Bíblia, esta parábola tem sua origem na fábula egípcia que narra a viagem de um pai e seu filho para dentro do reino dos mortos. A fábula termina com esta lição: “Para quem é bom na terra, acontece o bem também no reino dos mortos, mas para quem é mau na terra, acontece o mal também lá”. Os judeus trouxe esta fábula para dentro da tradição judaica com todas as suas formulações. Uma dessas narra a história do pobre escriba e do rico publicano que vão para o além. No além, o rico publicano queria alcançar a água, mas não podia, enquanto o pobre escriba vivia em jardins de beleza paradisíaca onde corriam águas de fontes. Jesus aproveita estas narrativas na sua pregação para montar a história do grande banquete (cf. Lc 14,15-24), e esta parábola de hoje (Lc 16,19-31).
Esta parábola é um relato simbólico que ilustra o perigo da riqueza e propõe um apelo à conversão. A leitura do domingo passado (sobre o uso apropriado da riqueza) e a parábola de hoje são bons exemplos do jeito de Jesus ensinar A parábola de hoje pega o assunto das riquezas de Lc 16 e lhe confere uma conclusão bem adequada: nem a riqueza nem a pobreza neste mundo é a medida da bênção de Deus.
Nesta parábola, Jesus se dirige aos fariseus como representantes daqueles que amam o dinheiro (Lc 16,14) e que pensavam justificar-se diante de Deus e dos homens mediante o cumprimento estreito da lei (Lc 11,37ss). Na verdade, a parábola serve como ilustração das bem-aventuranças e os “ais” de Lc 6,20-23. Ela reprova o rico que não sabe compartilhar o que tem para com os mais necessitados. Ela quer também sublinhar o ensinamento sobre o que significa o presente para o futuro. Somos futuros naquilo que somos no presente.
A parábola tem duas partes:
Na primeira (vv.19-26) Lucas descreve os dois protagonistas: o rico vive luxuosamente e faz grandes festas e banquetes; o pobre tem fome e está doente. Mas a morte dos dois muda a situação. Na descrição da vida no além, Lucas utiliza as imagens de seu tempo (sem querer descrever a geografia do além), mas para enfatizar a justiça de Deus sobre a vida humana. A vida presente, portanto, é decisiva. É nesta vida que construímos nosso destino eterno. É na vida presente que escolhemos a eternidade.
Na segunda parte (vv.27-31) Lucas insiste que a Escritura, da qual os fariseus eram considerados especialistas, é o caminho mais seguro para a conversão. Mas o homem rico foi surdo às suas demandas. Em outras palavras, a sua vida não estava enraizada na Palavra de Deus. O versículo final expressa perfeitamente o centro da mensagem contida na parábola: até os milagres mais espetaculares, como a ressurreição de um morto, são inúteis para quem não se enraíza sua vida no coração da Palavra de Deus.
Na descrição do rico e de Lázaro (vv.19-26) os contrastes são muito fortes: riqueza contra miséria, vestes luxuosas contra a pele coberta de úlceras, festins brilhantes contra estômago faminto; em suma, a abundância e o supérfluo, de um lado, e a falta do “mínimo vital”, do outro. Quadro esse que, infelizmente, continua de uma verdade gritante a quem quiser ver claramente a situação atual, tanto no mundo como no brasil. O perigo que pode acontecer com qualquer um de nós é a falta de sensibilidade ao ver permanentemente os mendigos na nossa porta ou nas portas de nossas igrejas. A tentação de não querer ver, e/ou evitar olhar nos olhos deles/as é muito grande. Fingimos não perceber sua presença. O pior cego é aquele que não quer ver, diz um ditado popular. Oxalá não seja tarde demais enxergar esses nossos irmãos necessitados, como foi o caso do rico na parábola. Eles não chamam mais nossa atenção e não se tornam notícias para nossa Igreja (paróquia). Talvez seja mais fácil dar um pouco do que temos, do que perguntar e procurar saber do porquê da situação para juntos resolvermos a mesma?
O objetivo da parábola não é descrever o céu nem o inferno, mas condenar a indiferença daqueles que vivem desfrutando seu bem-estar, ignorando os que morrem de fome. O rico não é julgado como explorador, mas por ignorar o pobre.
A parábola sugere: nesta vida, o que separa o rico do pobre é a porta fechada. Enquanto temos tempo, vamos abrir a porta, conversar com Lázaro e começar a derrubar o muro de vergonha que separa ricos e pobres. O lugar do tormento é a situação da pessoa sem Deus. Não tem jeito de estar com Deus enquanto não abrir a porta para o pobre – como foi o caso do Zaqueu.
Baseado no livro: Crescer Em Amizade: Uma Chave de leitura Para o Evangelho de Lucas, do Carlos Mesters e Francisco Orofino
(Confira, se desejar, com o texto original em espanhol, que está logo após a tradução feita pelo Tradutor Google)
XXVI DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Am 6,1.4-7):
Este texto, como outros na mesma seção do Livro de Amós, começa com um " Ai " (cf. 5:7, 18), como um lamento e um sinal do julgamento divino sobre essas pessoas. O que Deus condena por meio de seu profeta? Primeiro, a crença de que estão seguros simplesmente por viverem em Sião, o monte sobre o qual Jerusalém, a cidade de Deus, está construída . Segue-se a busca por bem-estar por meio do luxo e da ostentação . E a essa atitude de prazer acrescenta-se a falta de preocupação "com a ruína de José ". Aparentemente, o profeta denuncia os ricos habitantes das capitais: Jerusalém (capital do Reino do Sul) e Samaria (Reino do Norte) por sua total falta de preocupação com a ruína que paira sobre seu país. Enquanto se divertem, ignorando todos os problemas e se dedicando ao prazer de suas vidas confortáveis, não percebem a catástrofe iminente; não reagem lutando pela justiça. Enquanto eles pensam que estão a salvo de todo infortúnio, Amós lhes assegura que eles irão para o exílio na primeira fila.
Evangelho (Lc 16, 19-31):
A parábola do domingo passado foi dirigida aos discípulos; esta, porém, aos fariseus. A mudança de público é lógica se notarmos que, no final do texto do domingo passado, Lucas acrescenta este comentário (que não foi lido): "Os fariseus, que eram gananciosos, ouviram tudo isso e zombaram de Jesus" (Lucas 16:14).
Assim, a estes fariseus, amantes do dinheiro e escarnecedores, Jesus conta esta parábola, que «propõe um exemplo concreto de uma pessoa que não soube fazer “amigos para o futuro” com os seus bens, como ensina a parábola anterior» 1 .
Esta parábola é dividida em duas partes. A primeira (16:19-22) contrasta a situação e o estilo de vida de dois homens: um homem rico — sem nome — que festejava diariamente (daí o título Epulon , latim para "aquele que dá banquetes") e se vestia ostensivamente; e um homem pobre chamado Lázaro, coberto de feridas e deitado à porta da casa do rico, que nem sequer recebia migalhas do banquete. O rico era cercado por pessoas nos banquetes; apenas cães se aproximavam de Lázaro para lamber suas feridas.
Tão diferentes em seus modos de vida, a morte surpreende a ambos, igualando-os diante do destino comum de todos os mortais. Mas o que acontece é que, após a morte, eles se distinguem novamente: o pobre é levado pelos anjos ao seio de Abraão, "figura com a qual os judeus representavam a companhia dos santos, desfrutando de sua intimidade e afeição"; enquanto o rico é simplesmente sepultado, "caiu nos tormentos do mundo dos mortos, representado por um poço de fogo". A parábola cria um mistério para os leitores, pois não foi dito que Lázaro e o rico mereciam esse destino diferente por um ser melhor ou pior que o outro .
Deixando claro que a mensagem central da parábola não está aqui e que ela apenas expressa uma visão da escatologia popular da época, podemos esclarecer o que é o Hades (ᾅδης) de que fala o texto grego em 16:23. A este respeito, A. Rodríguez Carmona 3 diz : “A parábola faz alusão a representações da Vida Após a Morte na era intertestamentária. No Antigo Testamento, todos os mortos, sem distinção , vão para o Sheol , Hades ou Inferus, aquilo que está abaixo. Quando se começa a esperar retribuição no fim dos tempos — os justos, uma recompensa eternamente alegre, e os ímpios, um castigo eterno — a estadia no Sheol é dividida em zonas positivas ou negativas dependendo se o falecido espera recompensa ou castigo. Na parábola, o pobre vai para uma zona positiva, para o seio de Abraão, isto é, onde está o patriarca, à sua direita ou perto dele; o rico, por outro lado, vai para uma zona de tormento, chamada Hades , de onde pode ver o pobre, mas muito longe. Não há passagem possível entre as duas zonas. A sepultura é a entrada natural para o Sheol.”
Começa então a segunda parte da parábola (16:23-31), que também contrasta as situações de ambos os homens após a morte. Agora, o rico sofre tormento, enquanto Lázaro repousa no seio de Abraão. A inversão das situações é evidente .
Agora que se sente mal, o rico se lembra da existência do pobre Lázaro e é ele quem anseia por uma migalha, ou mais precisamente, por algumas gotas de água. O rico implora misericórdia para ele, mas é tarde demais, pois é impossível mudar o próprio destino após a morte. Abraão o lembra de que ele já havia recebido seus bens em vida. E de quem ele os recebeu? Aparentemente, de acordo com a mentalidade bíblica clássica, podemos dizer que ele havia recebido os bens de Deus. Portanto, o pecado não está em ter muitos bens, que são dádivas de Deus, mas em tê-los desfrutado de forma egoísta e ostensiva, sem se importar com os outros, especialmente com seu pobre vizinho Lázaro . Isso explica o motivo do tratamento diferente que o rico e o pobre Lázaro recebem após a morte.
À luz desta parábola, podemos entender melhor a frase de Jesus, que ouvimos no domingo passado: "Com o dinheiro da injustiça, façam amigos, para que, quando ele acabar, eles os recebam nos tabernáculos eternos" (Lucas 16:9). E como Jesus também ensinou ali, nós, humanos, somos administradores dos bens que recebemos, não donos absolutos para usá-los sem consideração pelos outros.
Considerando sua causa pessoal perdida, o homem rico se preocupa com seus irmãos que vivem em situação semelhante e não quer que eles acabem como ele. Ele novamente pede a Abraão que use Lázaro como emissário, mas agora para alertar seus irmãos. A resposta de Abraão é uma recusa indireta: "Eles têm Moisés e os profetas; que os ouçam." Sabemos que a Torá e os profetas estão repletos de prescrições sobre ajudar os pobres, os órfãos e as viúvas; juntamente com condenações ao uso egoísta da riqueza. Basta ouvi-los.
O homem rico insiste que, se um morto lhes aparecesse, eles se converteriam (verbo metanoeō ). A resposta de Abraão é lapidar: "Se não ouvirem Moisés e os Profetas, mesmo que um morto ressuscitasse, não se deixariam persuadir". Mas, ao mesmo tempo, essa resposta é muito instrutiva, visto que a parábola fictícia visa transmitir esta importante mensagem àqueles de nós que estamos "vivos": devemos ler as Escrituras, devemos ouvir a voz de Deus para que nossos corações sejam transformados e possamos aprender a compartilhar o que temos, o que nos foi dado como administradores nesta vida .
ALGUMAS REFLEXÕES:
Em primeiro lugar, não devemos "perder tempo" especulando sobre a situação do homem após a morte com base nesta parábola. Jesus ecoa a concepção escatológica popular de sua época, portanto, não devemos esperar que esta parábola nos forneça dados precisos sobre o assunto. Isso já foi apontado pela maioria dos estudiosos; Joseph Ratzinger ecoou essa opinião em seu livro "Jesus de Nazaré" 4 . O que devemos reter é a certeza do julgamento de Deus e sua maneira de recompensar cada pessoa de acordo com o que recebeu e de acordo com suas obras .
Em segundo lugar, é importante notar que a mensagem original da parábola está contida na segunda parte, ou seja, no diálogo entre o homem rico e Abraão. Portanto, a mensagem principal da parábola é alertar as pessoas que vivem como o homem rico da parábola . É um chamado à conversão através da escuta da Palavra de Deus, antes que seja tarde demais; pois se não se converterem, acabarão em uma situação muito ruim.
É assim também que Bento XVI o interpreta em sua encíclica "Deus é Amor", n.º 15: "O rico (cf. Lc 16,19-31) implora, do lugar dos condenados, que seus irmãos sejam advertidos sobre o que acontece com aqueles que, levianamente, ignoraram os pobres necessitados. Jesus, por assim dizer, acolhe esse grito de socorro e o ecoa para nos colocar em guarda, para nos reconduzir ao caminho certo."
A advertência do Papa Francisco na sua homilia de 25 de setembro de 2022 vai no mesmo sentido: “Como é triste esta realidade também hoje, quando confundimos o que somos com o que temos, quando julgamos as pessoas pelas suas riquezas, pelos títulos que ostentam, pelos papéis que desempenham ou pela marca de roupa que vestem. É a religião do ter e do fingir , que muitas vezes domina o cenário deste mundo, mas que no final nos deixa de mãos vazias: sempre. Este homem rico do Evangelho, de facto, já nem sequer tem nome. Já não é um ninguém. Pelo contrário, o pobre tem um nome, Lázaro, que significa “Deus ajuda”. Mesmo na sua condição de pobreza e marginalização, pode manter intacta a sua dignidade porque vive em relação com Deus. No seu próprio nome há algo de Deus, e Deus é a esperança inabalável da sua vida.”
A esse respeito, alguns estudiosos notaram a completa falta de comunicação entre o rico e Lázaro, que continua até mesmo no outro mundo . 5 Como observamos, é somente após a morte, quando ele está sofrendo, que o rico "vê" o pobre Lázaro . Portanto, o rico carecia de compaixão e caridade, porque lhe faltava, acima de tudo, um coração que vê . É claro que um dos piores perigos da riqueza é que ela causa cegueira para com Deus e seus mandamentos; e para com o próximo necessitado. Hoje diríamos insensibilidade de coração. Na mesma linha, o Cardeal A. Vanhoye 6 diz : "O ensinamento da parábola é muito claro: não devemos permitir que se desenvolva uma separação entre nós e os pobres, nossos irmãos e irmãs que sofrem e não têm os meios necessários para viver. Devemos positivamente ir ao seu encontro, cuidar deles e nos preocupar com seu bem-estar."
Podemos considerar a atitude do Bom Samaritano, que " viu e se comoveu ", como positiva e diametralmente oposta à do homem rico. Isso constitui o programa de Jesus e do cristão em relação à construção de um mundo mais justo. Em resumo, podemos destacar o seguinte:
⇒ Primeiro, só podemos ter um "coração que vê" se primeiro tivermos um "coração que ouve" a Palavra de Deus. Esta foi a primeira resposta do Pai Abraão: ouvir a Palavra é a conversão dos nossos corações .
⇒ Quando escutamos a Palavra, respondemos com fé, acolhendo-a em nossos corações. "A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, um encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade uns para com os outros e para com os outros. Nesse sentido, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9)" (Bento XVI, Discurso inaugural na Conferência de Aparecida).
⇒ A fé nos convida a olhar para o que não gostamos porque nos faz sofrer, nos fere, como o mundo da pobreza e da marginalização. Ela nos convida a reconhecer Cristo nos rostos sofredores dos pobres: "Se esta opção (pelos pobres) está implícita na fé cristológica, nós, cristãos, como discípulos e missionários, somos chamados a contemplar nos rostos sofredores de nossos irmãos e irmãs o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo neles: 'Os rostos sofredores dos pobres são os rostos sofredores de Cristo'. Eles desafiam o cerne do trabalho da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs. Tudo o que tem a ver com Cristo tem a ver com os pobres, e tudo relacionado aos pobres clama a Jesus Cristo: 'Sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes'" (Mt 25,40). João Paulo II enfatizou que este texto bíblico "ilumina o mistério de Cristo". Pois em Cristo o Grande se fez pequeno, o Forte se fez frágil, o Rico se fez pobre” (Documento de Aparecida, n. 393).
⇒ Este olhar de fé sobre a realidade da pobreza é um apelo à ação social, que interpela a própria Igreja universal: "Em muitos países pobres, a extrema insegurança alimentar persiste e ameaça agravar-se: a fome ainda faz muitas vítimas entre os muitos Lázaros que não podem sentar-se à mesa dos ricos e abastados, como desejava Paulo VI. Dar de comer aos famintos (cf. Mt 25, 35.37.42) é um imperativo ético para a Igreja universal, que responde aos ensinamentos do seu Fundador, o Senhor Jesus, sobre a solidariedade e a partilha" (Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 27).
Este imperativo ético para a Igreja Universal exige também o nosso compromisso, agora particular e adaptado às nossas possibilidades específicas e à nossa vocação pessoal. Concluamos com as palavras de uma testemunha, um santo que viveu o seu amor pelos pobres até ao heroísmo, São Vicente de Paulo: "Não devemos julgar os pobres pela sua aparência exterior ou pelo seu modo de vestir, nem pelas suas qualidades pessoais, pois são frequentemente rudes e incultos. Pelo contrário, se considerardes os pobres à luz da fé, compreendereis que eles desempenham o papel do Filho de Deus, pois também Ele quis ser pobre. E assim, embora na sua paixão quase tenha perdido a sua aparência humana, tornando-se um louco para os gentios e um escândalo para os judeus, apresentou-se, no entanto, como um evangelizador dos pobres: Enviou-me para evangelizar os pobres. Também nós devemos estar imbuídos destes sentimentos e imitar o que Cristo fez, cuidando dos pobres, consolando-os, ajudando-os, apoiando-os" (LH Ofício de Leituras para a Memória de São Vicente de Paulo).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO): Meu filho
Meu filho, Abraão, o chamou.
Apesar da distância, o abismo que os separava:
“- Meu filho…”
Chame-me Senhor, uma e outra vez pelo meu nome:
“Meu filho.”
Porque a esperança está acesa em mim
Para encurtar distâncias
Enquanto eu passo por este mundo, peregrino
Estou na hora de ir buscar meus irmãos
Para trazer-lhes seus avisos, eu mesmo
Conceda-me a força do seu Espírito
E farei tudo o que me ordenares, Senhor Jesus Cristo.
Você ressuscitou e nós acreditamos em você
Aumente nossa fé para confiar
A salvação veio até nós de você
E a Misericórdia não se cansa de esperar
Ele nos chama repetidamente.
Meus filhos!
Como você colocou na boca de Abraão
Ainda é tempo de Graça
De caridade oportuna
Venha, chegue perto dos pobres e dos doentes
A criança abandonada…
No sofrimento humano
Faze-nos reconhecer que somos todos irmãos. Amém.
1 A. Rodríguez Carmona, Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 288.
2 LH Rivas, A Obra de Lucas. I. O Evangelho (Ágape; Buenos Aires 2012) 159-160.
3 Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 290.
4 "Na descrição da vida após a morte que se segue na parábola, Jesus adere às ideias correntes no judaísmo de sua época. Nesse sentido, esta parte do texto não pode ser forçada: Jesus toma representações existentes sem incorporá-las formalmente à sua doutrina sobre a vida após a morte." Jesus de Nazaré (Planeta; Buenos Aires 2007) 257-258.
5 Cf. L. Sabourin, O Evangelho de Luc , 287.
6 Leituras Bíblicas para Domingos e Festas. Ciclo C (Mensageiro; Bilbao 2009) 294.
DOMINGO XXVI DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Am 6,1.4-7):
Este texto, al igual que otros de la misma sección del libro de Amós, comienza con un ‘Ay’ (cf. 5,7.18), a modo de lamento y de signo del juicio divino sobre esas personas. ¿Qué condena Dios a través de su profeta? En primer lugar, el considerar que están seguros por el sólo hecho de vivir en Sión, colina donde está construida Jerusalén, la ciudad de Dios. A esto le sigue la búsqueda del bienestar con un lujo y una vida ostentosa. Y a esta actitud de disfrute se le suma la despreocupación "por la ruina de José". Al parecer el profeta denuncia a los habitantes ricos de las capitales: Jerusalén (capital del Reino del Sur) y Samaría (Reino del Norte) por su total despreocupación ante la ruina que se avecina sobre el país. Mientras ellos la pasan muy bien, desentendiéndose de todo problema y dedicados al disfrute de su vida cómoda, no perciben la catástrofe que se avecina, no reaccionan obrando la justicia. Mientras ellos piensan estar a salvo de toda desgracia, Amós les asegura que irán al destierro en primera fila.
Evangelio (Lc 16, 19-31):
La parábola del domingo pasado estaba dirigida a los discípulos; ésta, en cambio, a los fariseos. El cambio de auditorio es lógico si notamos que al final del texto del domingo pasado Lucas añade este comentario (que no fue leído): "Los fariseos, que eran amigos del dinero, escuchaban todo esto y se burlaban de Jesús" (Lc 16,14).
Entonces, para estos fariseos, amigos del dinero y burlones, Jesús cuenta esta parábola, que “propone un ejemplo concreto de una persona que no supo hacerse «amigos para el futuro» con sus bienes, como enseña la parábola anterior”1.
Esta parábola se divide en dos partes. En la primera (16,19-22) se contrapone la situación y el estilo de vida de dos hombres: un rico – sin nombre – que banqueteaba diariamente (de aquí el título que se le ha dado de Epulón, que en latín significa "el que da banquetes") y que vestía ostentosamente; y un pobre, de nombre Lázaro, cubierto de llagas y que estaba tirado en la puerta de la casa del rico y que no recibía ni siquiera las migas del banquete. El rico estaría rodeado de gente en los banquetes, a Lázaro sólo los perros se le acercan para lamer sus llagas.
Tan distintos en su forma de vivir, la muerte los sorprende a ambos, igualándolos ante el destino común de todos los mortales. Pero lo que sucede es que después de la muerte se los vuelve a distinguir: el pobre es llevado por los ángeles al seno de Abraham, "figura con la que los judíos representaban la compañía de los santos, gozando de su intimidad y de su afecto"; mientras que el rico es, simplemente, sepultado, "cayó en los tormentos del mundo de los muertos, representado por un pozo de fuego. La parábola crea una incógnita para los lectores, porque no se ha dicho que Lázaro y el rico hayan sido merecedores de esta distinta suerte por haber sido uno más bueno o más malo que el otro"2.
Dejando bien en claro que no está aquí el mensaje central de la parábola y que sólo se expresa una visión de la escatología popular de aquel tiempo, podemos aclarar lo que es el Hades (ᾅδης) de que habla el texto griego en 16,23. Al respecto dice A. Rodríguez Carmona3: “La parábola alude a representaciones del Más Allá en la época intertestamentaria. En el AT todos los muertos sin distinción van al šeol o hades o inferus, lo que está abajo. Cuando se empieza a esperar una retribución al final de los tiempos, los justos un premio eterno gozoso y los impíos un castigo eterno, la estancia en el šeol se divide en zonas positivas o negativas según el difunto espere premio o castigo. En la parábola el pobre va a una zona positiva, al seno de Abrahán, es decir, donde está el patriarca, a su derecha o en intimidad con él; el rico, en cambio, a una zona de tormento, a la que se denomina hades, desde donde puede ver, pero muy lejos, al pobre. No hay posible paso entre ambas zonas. La sepultura es la entrada natural al šeol.”
Comienza entonces la segunda parte de la parábola (16,23-31) donde también se contrapone la situación de ambos después de la muerte. Ahora el rico sufre tormentos mientras Lázaro descansa en el seno de Abraham. Es evidente la inversión de las situaciones.
Ahora que la está pasando mal, el rico se acuerda de la existencia del pobre Lázaro y es él quien suspira por una migaja, o más precisamente, por unas gotas de agua. El rico implora piedad para con él, pero ya es demasiado tarde pues no es posible cambiar de destino después de la muerte. Abraham le recuerda que ya había recibido sus bienes en vida. ¿Y de quién los recibió? Al parecer, según la clásica mentalidad bíblica, podemos decir que había recibido los bienes de parte de Dios. Por lo cual el pecado no está en haber tenido muchos bienes, que son dones de Dios, sino en haberlos gozado de modo egoísta y ostentoso, sin preocuparse por los demás, en especial del pobre-prójimo Lázaro. Aquí se da la razón del diferente trato que reciben después de la muerte el rico y el pobre Lázaro.
A la luz de esta parábola puede entenderse mejor el dicho de Jesús que escuchamos el domingo pasado: "Gánense amigos con el dinero de la injusticia, para que el día en que este les falte, ellos los reciban en las moradas eternas" (Lc 16,9). Y como también enseñaba Jesús allí, los hombres somos administradores de los bienes que recibimos, no dueños absolutos para usar de ellos sin tener en cuenta a los demás.
Dando por perdida su causa personal, el rico se preocupa por sus hermanos que viven en situación similar a la suya y no quiere que terminen igual que él. Vuelve a pedir a Abraham que utilice a Lázaro de emisario, pero ahora para prevenir a sus hermanos. La respuesta de Abraham es una negativa indirecta: "tienen a Moisés y los profetas, que los escuchen". Sabemos que en la Torá y en los profetas abundan las prescripciones sobre la ayuda al pobre, al huérfano y a las viudas; junto con la condena al uso egoísta de los bienes. Es suficiente con escucharlos.
El rico persiste en que si se les aparece un muerto se convertirán (verbo metanoeō). La respuesta de Abraham es lapidaria: "Si no escuchan a Moisés y los profetas, aunque un muerto resucite, no se persuadirán". Pero al mismo tiempo esta respuesta es muy instructiva pues la ficción de la parábola quiere dejar este importante mensaje para los que estamos "vivos": hay que leer las Escrituras, hay que escuchar la voz de Dios para que se nos cambie el corazón y aprendamos a compartir lo que tenemos, lo que se nos ha dado como administradores en esta vida.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Ante todo, no hay que "perder el tiempo" elucubrando sobre la situación del hombre después de la muerte en base a esta parábola. Jesús se hace eco de la concepción escatológica popular de su época, por lo cual no esperemos que esta parábola nos aporte datos precisos al respecto. Esto ha sido señalado por la mayoría de los estudiosos; y a esta opinión se pliega Joseph Ratzinger en su libro Jesús de Nazaret4. Lo que debemos retener es la certeza en el juicio de Dios y su modo de retribuir a cada uno según lo que ha recibido y según sus obras.
En segundo lugar, importa señalar que el mensaje original de la parábola está puesto en la segunda parte, o sea en el diálogo entre el rico y Abraham. Entonces el mensaje principal de la parábola es la de advertir a los hombres que viven como el rico de la parábola. Es una llamada a la conversión mediante la escucha de la Palabra de Dios, antes de que sea demasiado tarde; pues si no se convierten terminarán muy mal.
Así también la interpreta Benedicto XVI en su encíclica "Dios es amor" nº 15: "El rico epulón (cf. Lc 16, 19-31) suplica desde el lugar de los condenados que se advierta a sus hermanos de lo que sucede a quien ha ignorado frívolamente al pobre necesitado. Jesús, por decirlo así, acoge este grito de ayuda y se hace eco de él para ponernos en guardia, para hacernos volver al recto camino".
En la misma línea va la advertencia del Papa Francisco en su homilía del 25 de setiembre de 2022: “Qué triste también hoy esta realidad, cuando confundimos lo que somos con lo que tenemos, cuando juzgamos a las personas por la riqueza que tienen, por los títulos que exhiben, por los roles que cubren o por la marca del vestido que usan. Es la religión del tener y aparentar, que a menudo domina la escena de este mundo, pero que al final nos deja con las manos vacías: siempre. A este rico del Evangelio, de hecho, no le ha quedado ni el nombre. Ya no es nadie. Al contrario, el pobre tiene un nombre, Lázaro, que significa “Dios ayuda”. Incluso en su condición de pobreza y de marginación, él puede conservar íntegra su dignidad porque vive en la relación con Dios. En su mismo nombre hay algo de Dios y Dios es la esperanza inquebrantable de su vida”.
En este sentido, ha llamado la atención de algunos estudiosos la total falta de comunicación entre el rico y Lázaro, que se continúa todavía en el otro mundo5. Como notamos, recién después de la muerte, cuando está sufriendo, el rico "ve" al pobre Lázaro. Por tanto, al rico le faltó compasión y caridad, porque le faltó, ante todo, un corazón que ve. Queda patente que uno de los peores peligros de la riqueza es que causa ceguera hacia Dios y sus mandamientos; y hacia el prójimo necesitado. Hoy diríamos insensibilidad del corazón. En la misma línea dice el Cardenal A. Vanhoye6: “la enseñanza de la parábola está muy clara: no debemos dejar que se establezca una separación entre nosotros y los pobres, nuestros hermanos que sufren y carecen de medios necesarios para vivir. Debemos salir positivamente a su encuentro, cuidar de ellos, preocuparnos por su bien”.
Bien podemos considerar como la actitud positiva y diametralmente opuesta a la del rico epulón la del buen samaritano, que "vio y se conmovió". Aquí está lo que constituye el programa de Jesús y del cristiano en relación a la construcción de un mundo más justo. A modo de síntesis podemos señalar lo siguiente:
⇒ En primer lugar, que sólo podemos tener un "corazón que ve" si tenemos primero "un corazón que escucha" la Palabra de Dios. Era la primera respuesta del padre Abraham: escuchar la Palabra para convertir nuestro corazón.
⇒ A la escucha de la Palabra respondemos con la fe, con su aceptación en nuestro corazón. Pues bien, "la fe nos libera del aislamiento del yo, porque nos lleva a la comunión: el encuentro con Dios es, en sí mismo y como tal, encuentro con los hermanos, un acto de convocación, de unificación, de responsabilidad hacia el otro y hacia los demás. En este sentido, la opción preferencial por los pobres está implícita en la fe cristológica en aquel Dios que se ha hecho pobre por nosotros, para enriquecernos con su pobreza (cf. 2 Co 8,9)" (Benedicto XVI, discurso inaugural de la Conferencia de Aparecida).
⇒ La fe nos invita a mirar lo que no nos gusta porque nos hace sufrir, nos hace mal, como es el mundo de la pobreza y la marginación. Nos invita a reconocer a Cristo en los rostros sufrientes de los pobres: "Si esta opción (por los pobres) está implícita en la fe cristológica, los cristianos como discípulos y misioneros estamos llamados a contemplar en los rostros sufrientes de nuestros hermanos, el rostro de Cristo que nos llama a servirlo en ellos: “Los rostros sufrientes de los pobres son rostros sufrientes de Cristo”. Ellos interpelan el núcleo del obrar de la Iglesia, de la pastoral y de nuestras actitudes cristianas. Todo lo que tenga que ver con Cristo, tiene que ver con los pobres y todo lo relacionado con los pobres reclama a Jesucristo: “Cuanto lo hicieron con uno de estos mis hermanos más pequeños, conmigo lo hicieron” (Mt 25, 40). Juan Pablo II destacó que este texto bíblico “ilumina el misterio de Cristo”. Porque en Cristo el Grande se hizo pequeño, el Fuerte se hizo frágil, el Rico se hizo pobre" (Documento de Aparecida nº 393).
⇒ Esta mirada de fe sobre la realidad de la pobreza es una llamada a la acción social, que interpela a la misma Iglesia universal: "En muchos países pobres persiste, y amenaza con acentuarse, la extrema inseguridad de vida a causa de la falta de alimentación: el hambre causa todavía muchas víctimas entre tantos Lázaros a los que no se les consiente sentarse a la mesa del rico epulón, como en cambio Pablo VI deseaba. Dar de comer a los hambrientos (cf. Mt 25,35.37.42) es un imperativo ético para la Iglesia universal, que responde a las enseñanzas de su Fundador, el Señor Jesús, sobre la solidaridad y el compartir" (Benedicto XVI, Caritas in Veritate nº 27).
Este imperativo ético para la Iglesia Universal reclama también nuestro compromiso, ahora particular y ajustado a nuestras posibilidades concretas y a nuestra vocación personal. Dejemos para el cierre las palabras de un testigo, de un santo que vivió hasta el heroísmo su amor a los pobres, San Vicente de Paúl: "Nosotros no debemos estimar a los pobres por su apariencia externa o su modo de vestir, ni tampoco por sus cualidades personales, ya que con frecuencia son rudos e incultos. Por el contrario, si consideráis a los pobres a la luz de la fe, os daréis cuenta de que representan el papel del Hijo de Dios, ya que él quiso también ser pobre. Y así, aun cuando en su pasión perdió casi la apariencia humana, haciéndose necio para los gentiles y escándalo para los judíos, sin embargo, se presentó como evangelizador de los pobres: Me envió a evangelizar a los pobres. También nosotros debemos estar imbuidos en estos sentimientos e imitar lo que Cristo hizo, cuidando de los pobres, consolándolos, ayudándolos, apoyándolos" (L. H. Oficio de Lectura de la memoria de San Vicente de Paúl).
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE): Hijo mío
Hijo mío, lo llamaba Abraham
A pesar de su distancia, del abismo que los separaba:
“- Hijo mío…”
Llámame Señor, una y otra vez por mi nombre:
“Hijo mío”.
Porque se enciende en mi la esperanza
De acortar las distancias
Mientras voy por este mundo, peregrino
Estoy a tiempo de ir por mis hermanos
De llevarles tus avisos, yo mismo
Concédeme la fuerza de tu Espíritu
Y haré lo que me mandes, Señor Jesucristo
Has resucitado y creemos en ti
Aún auméntanos la fe para confiar
La salvación nos ha llegado de ti
Y la Misericordia no se cansa de esperar
Vuelve una y otra vez a llamarnos
¡Hijos míos!
Como pusiste en boca de Abraham
Aún es tiempo de Gracia
De la oportuna caridad
Ven, acércate en el pobre, el enfermo
El niño abandonado…
En el sufrimiento humano
Haznos reconocer que somos todos hermanos. Amén
1 A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 288.
2 L. H. Rivas, La obra de Lucas. I. El Evangelio (Ágape; Buenos Aires 2012) 159-160.
3 Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 290.
4"En la descripción del más allá que sigue después en la parábola, Jesús se atiene a las ideas corrientes en el judaísmo de su tiempo. En este sentido no se puede forzar esta parte del texto: Jesús toma representaciones ya existentes sin por ello incorporarlas formalmente a su doctrina sobre el más allá", Jesús de Nazareth (Planeta; Buenos Aires 2007) 257-258.
5 Cf. L. Sabourin, L'Evangile de Luc, 287.
6 Lecturas Bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 294.