10/08/2025
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Sabedoria 18,6-9
Salmo Responsorial 32(33)-R- Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!
2ª Leitura: Hebreus 11,1-2.8-19
Evangelho de Lucas 12,32-48
"32.Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino. 33.Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói. 34.Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”. (= Mt 24,42-51 = Mc 13,33-37) 35.“Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas.* 36.Sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor, ao voltar de uma festa, para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37.Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: ele há de cingir-se, dar-lhes à mesa e os servirá. 38.Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos! 39.Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar a sua casa. 40.Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem.” 41.Disse-lhe Pedro: “Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos?”. 42.O Senhor replicou: “Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo? 43.Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! 44.Em verdade vos digo: lhe confiará todos os seus bens. 45.Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46.o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao destino dos infiéis. 47.O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. 48.Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir”. "
Lc 12,32-48
Jesus nos convida hoje a concentrar nosso esforço, a gastar nossas energias e a consumir o tempo em algo que ultrapasse os limites da nossa vida mortal. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói.
É preciso estarmos atentos porque a qualquer momento chegará o Senhor e assim pode escapar a melhor oportunidade de nossa vida. É aquilo que nós chamamos virtude da vigilância.
Vigilância não é espera passiva; é mobilização de nossa atenção e de nossas energias para a oportunidade em que o Senhor vem ao encontro. Nesse sentido, Jesus conta três breves parábolas: a dos servos que esperam acordados o patrão que volta da festa de casamento, para abrir a porta logo que ele bater; a parábola do ladrão que tenta arrombar a casa em hora não esperada; e a parábola do administrador que deve cuidar dos outros empregados enquanto o patrão está fora.
Os servos devem estar com os rins cingidos, ou seja, devem estar de prontidão para o serviço. Nessa parábola chama a atenção o que Jesus promete: se encontrar os servos acordados e de prontidão, o próprio patrão os fará sentar à mesa e os servirá. É uma reação inesperada e exagerada desse patrão generoso. E exatamente nisso está a graça: esse é o banquete do céu que só algo muito exagerado pode esboçar. Na verdade, já temos uma antecipação desse mistério no sacramento da eucaristia. Hoje, na missa, Jesus nos faz sentar à sua mesa e nos serve; ele nos dá seu corpo e seu sangue; oferece-se a si mesmo como nossa comida e bebida de vida eterna!
A parábola do ladrão nos faz cair na conta de que a sua principal arma é a surpresa. Assim Jesus nos exorta a não perder a oportunidade da graça. Deus passa em nossa vida e, da mesma forma como quem não quer ser pego de surpresa por um ladrão, os cristãos sabem que não podem se desligar: é preciso estar vigilante sempre, por toda a vida.
Nós não vemos o Senhor chegar de longe e se aproximando devagar. Não! Ele chega de repente. De repente Ele está dentro de nossa casa, diante de nós. Para a vinda do Senhor, para a oportunidade da graça não existe um radar ou um sensor de movimento e de proximidade. Nós é que devemos estar atentos.
A terceira parábola nos mostra que nós somos administradores não de coisas mas de outros empregados. Assim nossa principal atividade, nossa principal ocupação nesta vida não é com as coisas, mas com as pessoas. O Senhor nos confiou o cuidado de outras pessoas. Vigilância tem a ver com isso: não é a espera angustiada da hora da morte, mas é o exercício fiel e responsável de um cuidado que nos foi confiado pelo Senhor. Podemos dizer que o melhor treinamento para estar em forma para quando o Senhor chegar é ter zelo, é cuidar dos irmãos e irmãs. Mais concretamente ainda é socorrer os mais pobres em suas necessidades:
Vendei vossos bens e dai esmola... Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Servir os irmãos, cuidar do bem deles como Jesus cuidou e cuida de nós é o nosso tesouro que não precisa ser vigiado ou guardado em cofres. É o tesouro que não acaba, que ladrão algum rouba, que não é corroído pela traça. Este é o nosso tesouro verdadeiro: a nossa semelhança de filhos com o Pai: como o Pai cuida dos filhos, assim, nós, que somos como o Pai (sendo filhos), cuidamos dos irmãos.
19º DomTComum - Lc 12,32-48 - ano C –
“Porque onde está o vosso tesouro, aí também estará o vosso coração” (Lc 12,34)
Lucas conservou em seu evangelho algumas expressões, cheias de afeto e carinho, dirigidas por Jesus a seus seguidores e seguidoras. Com frequência, costumam passar desapercebidas. No entanto, lidas hoje a partir de nossas comunidades cristãs, elas revelam uma surpreendente atualidade. É o que precisamos escutar de Jesus nestes tempos difíceis para a vivência do seu seguimento.
“Não tenhais medo, pequenino rebanho” é uma destas expressões. Jesus olha seu pequeno grupo de seguidores com imensa ternura. São poucos; têm vocação de minoria; não devem pensar em grandezas. Assim Jesus os imagina sempre: como um pouco de “fermento” oculto na massa, uma pequena “luz” em meio à obscuridade, uma pitada de “sal” para dar sabor à vida.
Como discípulos de Jesus devemos aprender a viver em minoria. É um erro fomentar uma Igreja poderosa e forte; é um engano buscar poder mundano ou pretender dominar a sociedade. O Evangelho não se impõe pela força; ele deve ser contagiado por aqueles que vivem ao estilo de Jesus, tornando a vida mais humana.
“Vendei vossos bens e deis esmola”. Os seguidores de Jesus são um pequeno rebanho, mas nunca devem se constituir como uma seita fechada em seus próprios interesses; não devem viver de costas às necessidades de ninguém. Serão comunidades de portas abertas; compartirão seus bens com aqueles que mais precisam de ajuda e solidariedade; darão esmola, ou seja, viverão a “misericórdia”.
O relato deste domingo prossegue com uma forte expressão: “foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Sem esta consciência de que somos portadores deste dom de Deus é quase impossível situar-nos na confiança e no compromisso com tudo o que ele supõe.
O Deus de Jesus é dom total, incondicional e permanente. Jesus recorda isso com frequência; seus seguidores não devem sentir-se órfãos, pois tem a Deus como Pai. Ele nos confiou seu projeto do Reino; é um grande “tesouro”, o melhor que temos em nossas comunidades: a missão de tornar a vida mais humana e a esperança de encaminhar a história para sua plenitude salvífica.
Este é o “tesouro” que nos dignifica e nos convoca à responsabilidade de fazê-lo chegar aos outros.
Os grandes sábios da humanidade sempre utilizaram a imagem do “tesouro escondido” para revelar a compreensão – encontro – de nossa verdadeira identidade. Falaram também da urgência de despertar do sonho no qual estamos adormecidos e de recordar nossa verdade esquecida.
Jesus também, com grande sabedoria, revela o sentido de nossa vida: buscar, nas profundezas de nosso ser, o tesouro que nos plenifica.
Todo ser humano aspira e busca esse tesouro. De fato, é esse desejo que nos move, nos faz iniciar a busca e percorrer diferentes caminhos, atraídos sempre por seu sentido de plenitude.
No entanto, nessa busca pode acontecer de tudo: nos distraímos e terminamos enredados; nos conformamos com pequenas “bijuterias” e esquecemos o tesouro real; calamos a voz do desejo, entupindo-nos com múltiplos ruídos; dizemos a nós mesmos que o desejo é impossível de ser realizado e que é necessário sermos “práticos” e não vivermos de “contos” ilusórios...; não é fácil superar a armadilha que nos incita a buscar o tesouro em “algo” fora, longe ou no futuro. Começamos a crer que a plenitude de vida se encontra fora de nós e aí começamos a corrida que não conduz a lugar nenhum.
O tesouro é o Deus mesmo presente em cada um de nós. É a verdadeira realidade que somos.
O Reino, que é Deus, está em nós (“O Reino está dentro de vós”, disse Jesus). Essa presença é o valor supremo. Quem encontra seu tesouro, não despreza outros valores.
Deus não se contrapõe a nenhum valor, senão que potencia o valor de tudo o que é bom.
O que há de Deus em nós é o fundamento de todos os outros valores. Ter acesso ao nosso “eu” mais profundo significa “buscar e encontrar a Deus” exatamente em nossas paixões, em nossos traumas, em nossas feridas, em nossos instintos, em nossa impotência e fragilidade... Ali podemos nos interrogar o que é que Deus deseja nos revelar por meio deles e, como justamente através deles, Ele deseja nos conduzir ao tesouro no chão de nossa vida, à essência que nos dignifica.
O tesouro significa o “investimento” que Deus fez em cada ser humano; por isso, cada um é único e original, com potencialidades especiais e recursos oblativos.
O tesouro não é algo acidental que podemos ter ou não ter; é nossa essência. Não é fruto de uma descoberta racional, mas de uma experiência profunda e viva.
O tesouro sempre está aí, nas profundezas de nosso ser, mas nem sempre somos capazes de reconhecê-lo. Não se trata de conquistá-lo, mas simplesmente de descobri-lo. É despertar-nos para aquilo que realmente somos: o que é mais nobre, mais profundo, o que dá sentido e valor à vida.
Na verdade, o tesouro está escondido, porque perdemos o caminho do interior e vivemos na superfície de nós mesmos; é preciso “descer” para redescobri-lo. Não se trata de confiar naquilo que nós podemos alcançar, mas naquilo que Deus já nos deu (Reino). Deus foi o primeiro que confiou em nós, no exato momento que nos criou e decidiu “investir” o melhor em cada um. A única coisa que Ele espera é que nós mesmos descubramos esse dom e vivamos a partir dele.
Por isso, é preciso viver sempre em atitude de busca. Mais do que estar vigilantes, é preciso estar despertos. Não porque pode chegar o juízo final quando menos esperamos, mas porque a tomada de consciência da identidade que somos exige uma atenção ao que está mais além dos sentidos e não é nada fácil descobrir.
Como manter viva a esperança? Como não cair na frustração, no cansaço ou no desalento? Onde encontrar um princípio humanizador, capaz de nos libertar da superficialidade ou do vazio interior?
Para despertar é preciso tomar consciência da luz presente em nosso interior e alimentá-la; nós nos tornamos mais “lúcidos” (portadores de luz) quando tomamos consciência da superficialidade de nossa vida, do ativismo, da vida “normótica” e sem direção...; a verdade abre espaço em nós quando reconhecemos nossos enganos; a paz chega ao nosso coração quando des-velamos a desordem em que vivemos.
Usando a imagem da “lâmpada acesa”, Jesus nos provoca a despertar de nossa indiferença, passividade ou do descuido com o qual vivemos nosso discipulado. É a luz interior que deve ser alimentada para inspirar nossos critérios de ação, força que impulsiona nosso compromisso e esperança que anima nosso viver diário. Somos chamados a sermos pessoas “ardentes”, “luz que acende outras luzes”, ou seja, pessoas que experimentam a vida como crescimento constante. Sempre buscamos algo mais, algo melhor; a vida é inesgotável: uma descoberta na qual sempre podemos avançar.
Para meditar na oração:
Para viver despertos é importante viver com mais calma, cuidar do silêncio e estar mais atentos aos chamados do coração. Só quem ama e serve, vive intensamente, com alegria e vitalidade, despertado para o essencial.
Uma certeza podemos ter: o Espírito está sempre pronto a criar, recriar, a transformar, a renovar e “fazer novas todas as coisas”, abrindo-nos a um novo tempo com a feliz esperança de “novos céus e nova terra”, num mundo novo e pleno de vida.
- Deixemo-nos iluminar, levemos a Luz nas nossas pobres e frágeis mãos, iluminando os recantos do nosso cotidiano.
Um dos riscos que enfrentamos hoje é cair em uma vida superficial, mecânica, rotineira e superlotada. Não é fácil escapar. Com o passar dos anos, os projetos, objetivos e ideais de muitas pessoas acabam desaparecendo. Muitas acabam acordando todos os dias apenas para "se virar".
Onde encontrar um princípio humanizador, desalienador, capaz de nos libertar da superficialidade, da massificação, da perplexidade ou do vazio interior?
É impressionante a insistência com que Jesus fala de vigilância. Poderíamos dizer que ele entende a fé como uma atitude de vigilância que nos liberta da insensatez que domina muitos homens e mulheres, que caminham pela vida sem qualquer meta ou objetivo.
Acostumados a vivenciar a fé como uma tradição familiar, uma herança ou apenas mais um costume, deixamos de descobrir todo o poder que ela tem para nos humanizar e dar um novo sentido às nossas vidas. Por isso, é triste ver quantos homens e mulheres abandonam uma fé vivida de forma inconsciente e irresponsável para adotar uma atitude de descrença tão inconsciente e irresponsável quanto sua posição anterior.
O chamado de Jesus à vigilância nos convoca a despertar da indiferença, da passividade ou do descuido com que frequentemente vivemos a nossa fé. Para vivê-la com lucidez, precisamos compreendê-la mais profundamente, compará-la com outras atitudes possíveis diante da vida, ser gratos por ela e tentar vivê-la com todas as suas consequências.
A fé é a luz que inspira nossos critérios de ação, a força que impulsiona nosso compromisso de construir uma sociedade mais humana e a esperança que anima toda a nossa vida cotidiana.
No texto do evangelho deste domingo, Jesus nos diz em primeiro lugar: “"Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Lembremos que, quando Lucas redigiu seu evangelho, a comunidade cristã era pequena e perseguida pelo Império Romano. O estilo de vida e os princípios que moviam essa pequena comunidade contradiziam o modo de vida “natural”, habitual, aquele que já havia sido imposto pelos romanos. O anúncio de Jesus morto e ressuscitado, o discipulado e a formação de pequenas comunidades, a proclamação do Reino de Deus que já está entre nós, constituíam uma ameaça contínua e uma denúncia diante da escravidão estabelecida pelo Império. Aqueles que estavam com Jesus também tinham vivido isso porque sabiam das acusações que havia em torno de sua pessoa. O medo é a “sensação de alerta e angústia pela presença de um perigo ou mal, seja real ou imaginário” e, como consequência dessa realidade, o medo paralisa, convida a recuar, faz repensar as decisões tomadas com o objetivo de não as levar adiante.
“Não temais, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-vos o Reino”.
Neste domingo, as primeiras palavras de Jesus são um convite a não ter medo e a reconhecer a riqueza do Reino que o Pai nos deu “com agrado”. É um chamado a fixar o olhar no centro, no maravilhoso dom do Reino que o Pai nos entregou e do qual somos participantes. Bebendo dessa fonte de vida, assentados nesse tesouro “foi do agrado do Pai dar-vos o Reino”, o medo se dissipa, os temores se afastam e a liberdade se faz presente em nossa vida e nos impulsiona a continuar caminhando com desapego de tudo aquilo que não nos permite caminhar livres. Por isso Jesus continua dizendo:
Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói.
No domingo passado, meditamos sobre a ganância de acumular bens para si mesmo, como se isso garantisse a possibilidade de uma vida tranquila e serena. Jesus volta a colocar em primeiro lugar o Reino que o Pai generosamente entregou aos discípulos e, a partir daí, convida-os ao desapego, a não acumular bens, mas, pelo contrário, a vendê-los e dar esmolas. Ele exorta a fazer bolsas que não se deterioram, a colocar o olhar em um tesouro no céu que não se acabe! Para sentir e palpar a riqueza do Reino, para desfrutar de sua sabedoria e gozar de seu perfume, para acolhê-lo com nossas mãos e apreciá-lo com nosso coração, temos que nos desapegar, em primeiro lugar, daquilo a que estamos agarrados e que ocupa nossos sentidos. É necessário libertar nossas mãos para receber nelas a semente do Reino, deixar de ouvir os sons que nos distraem, nos atordoam e não nos deixam ouvir a voz que nos liberta, mudar o olhar que calcula bens e prevê um futuro incerto, para colocá-lo no tesouro que temos em nossas mãos, conhecê-lo, apreciá-lo, senti-lo e aprender a comunicá-lo. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater.
Jesus insiste na vigilância, em viver atentos, despertos, em uma atitude de espera consciente... com estas palavras, ele nos convida a assumir nossa própria vida com as decisões e compromissos que isso traz. É mais fácil deixar-se levar pela corrente, ser arrastado pelas urgências que se apresentam, encher-se de conteúdos passageiros do mundo digital do que assumir a própria existência, discernir e escolher o caminho a seguir. Jesus previne contra uma vida passiva, onde não se toma as rédeas da vida para vivê-la com decisão e critérios próprios, com a novidade que isso acarreta, mas se escolhe respirar o ar que outros decidiram e saciar-nos – aparentemente – com os alimentos falsos que outros já prepararam e que nos adormecem, fazendo-nos parte de um grande grupo indefinido e despersonalizado.
Esta exortação de Jesus a viver atentos e vigilantes ressoa também hoje, em plena era digital. Aceitamos o convite do Papa Leão XIV aos participantes na Basílica de São Pedro para o primeiro Jubileu dos missionários católicos e influenciadores: “cultivar uma cultura de humanismo cristão, buscar a carne sofredora de Cristo mesmo nos rostos ocultos da internet e reparar as redes, não apenas as digitais, mas especialmente as relacionais e comunitárias. Construir redes de amor e partilha, redes que salvam, redes que nos ajudam a redescobrir a beleza de olhar nos olhos uns dos outros", foram as palavras do Pontífice, convidando os missionários digitais a oferecerem um testemunho concreto e humilde, partindo de si mesmos e da sua própria necessidade do Evangelho (cf. Não apenas “seguidores”: O Jubileu que reconhece a missão online)
Este domingo, Jesus nos convida a viver nossa vida cristã com responsabilidade e sentido, a tomá-la em nossas mãos e ser assim protagonistas ativos da sociedade que queremos construir, semeada pelos valores e pela riqueza do Reino que nos foi confiado.
As leituras de hoje nos convidam a ler os sinais de Deus e, por meio deles, perceber a presença de Deus na vida e na história. Elas nos convidam a viver numa sagaz vigilância, olhando não só para os sinais dos tempos, mas também para os sinais deixados pelos nossos antepassados.
A Primeira Leitura, tirada do livro da Sabedoria, nos convida a ler a história lembrando sempre aqueles sinais maravilhosos com que ele libertou o seu povo tirando-o da escravidão do Egito e o levou para uma terra boa e espaçosa, onde viveriam na justiça e na paz.
Da mesma forma, no Salmo de Meditação o salmista reza a partir da sabedoria que cresceu nele como fruto da sua experiência pessoal da ação libertadora de Deus em sua vida. Nessa sua experiência, ele percebe Deus bem próximo dele. Percebe que Deus é fiel ao seu Nome YHWH, Nome que simboliza a certeza da presença divina e que é repetido dezessete vezes só nesse salmo. Como resultado dessa experiência tão forte de Deus, o salmista convida os pobres a se unirem a ele numa oração agradecida, chamando a todos a viver no temor do Senhor.
A Carta aos Hebreus lembra que a fé é a força que impulsionava a história do povo de Deus. Foi a fidelidade dos antepassados que, provados na fé, perseveraram na caminhada, permitindo-nos viver hoje essa mesma fé. Ela lembra o exemplo de fé de Abraão: “de um só homem, que estava praticamente morto, nasceu uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu” (Hb 11,12). Por menor que seja nossa Comunidade, fazemos parte do povo que vive a fé de Abraão.
No Evangelho, Jesus nos anima. Somos o pequeno rebanho, perdido na imensidão das nossas cidades, mas somos o rebanho que confia na mensagem de Jesus, vivendo a partilha e a fraternidade. Vivemos na expectativa da chegada do Senhor Jesus. Não sabemos quando ele chegará. A sua chegada é imprevisível. Isso nos obriga a viver na vigilância, sempre atentos aos sinais de Deus. Sempre vigilantes na Comunidade, no serviço, no testemunho, nas celebrações, nas ações sociais, nas pastorais, na busca do Reino, no serviço fraterno, no testemunho corajoso.
— Amém.
E mais uma vez Jesus nos convoca a não termos medo. O contrário do medo não é coragem, e sim, fé. Então, recebemos um convite a termos fé. Ele chama seu grupo de pequeno rebanho. Sim, aquelas pessoas que decidem seguir Cristo e se lançam verdadeiramente em busca da construção do Reino sempre serão um pequeno rebanho, pois as grandes massas estão preocupadas com outras coisas, com os shows-missas, com louvores desconectados da nossa realidade, com um mundo sobrenatural. O Reino é construído no cotidiano, na dureza da nossa realidade, com escolhas concretas pela vida das pessoas que tiveram sua dignidade apagada e seus direitos negados.
Cristo nos alerta sobre a importância da preocupação com Reino de Deus, o Reino deve ser o nosso centro, o nosso tesouro. Para que isso seja possível, deve existir uma convivência fraterna/sororal, na qual não exista a acumulação, mas a partilha, o acolhimento e o cuidado para com nossos irmãos e irmãs.
Há uma tradição bíblica, que identifica os rins como o lugar dos sentimentos, o lugar do afeto, lugar da nossa consciência ética. O rim é o lugar das nossas decisões. Cingir os rins é pedido para estar preparados e preparadas para movimentarmos nossos corpos em defesa dos valores do Reino. É requisito e expressão de fé: movimento pela vida! É saber que somos chamados e chamadas a sermos peregrinos e peregrinas, a nunca perdermos o espírito de missão!
Ficar com a lâmpada acesa: é lançado o convite para estarmos como Luz no mundo! Em meio a sinais de escuridão e de morte, podemos e devemos ser como indicadores de caminho, pessoas que facilitam os processos, guias neste mundo cada vez mais individualizado e individualizador. Mas, cuidado! A lâmpada acesa não deve ser usada para cegar nem para impedir que novidades sejam descobertas, mas para que essas novidades geradoras de vida sejam difundidas, espalhadas e conhecidas.
Os rins cingidos são para redescobrirmos nossa vocação à indignação e à missão, para que a vontade de Deus seja feita assim na terra como no céu; para que a justiça e misericórdia sejam o prato do dia; para que o pão nosso cotidiano seja concreta realidade. Para que Deus possa realmente ser Pai Nosso, pois assim, somente assim, seremos seus filhos e suas filhas. Verdadeiramente, irmãos e irmãs.
*Ana Selma da Costa é teóloga, e assessora da Pastoral da Juventude na Arquidiocese de Fortaleza.
1. Primeira leitura: Sb 18,6-9
Aquilo com que puniste nossos adversários, serviu também para glorificar-nos.
O livro da Sabedoria é o último livro do Antigo Testamento, provavelmente escrito em Alexandria (Egito), entre os anos 30 a.C. e 40 d.C., quando a colônia judaica local sofria severas perseguições. O autor exalta o papel da sabedoria de Deus na criação e na história da salvação, sobretudo ao fazer uma releitura do êxodo do Egito (cf. Sb 16–19). O texto da liturgia de hoje lembra a noite de vigília, na qual os hebreus se preparavam para celebrar a páscoa, antes de atravessar o Mar Vermelho. Era uma noite esperada pelos hebreus “como salvação dos justos e perdição dos inimigos”, que perseguiam o povo de Deus. A punição dos inimigos e a libertação da escravidão do Egito preparam a aliança do Sinai. Ali Deus escolheu os hebreus como seu povo eleito, libertou-o da escravidão do Egito, estabeleceu com ele uma aliança (“pacto divino”) e assim os fez “participar dos mesmos bens e dos mesmos perigos”. Com estas palavras, o autor conforta os judeus perseguidos em Alexandria, lembrando-lhes que ser povo eleito por Deus tem o seu preço. Mas o sofrimento não significa abandono de Deus, porque Ele jamais se esquece da aliança de amor que fez com seu povo. A fé no Deus da aliança, no Libertador da escravidão do Egito, é a âncora mais segura para a comunidade agitada pela perseguição religiosa.
Salmo responsorial: Sl 32
Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança.
2. Segunda leitura: Hb 11,1-2.8-19
Esperava a cidade que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor.
Hebreus é a última das catorze epístolas atribuídas a Paulo. Seu verdadeiro autor, porém, é um discípulo anônimo de Paulo. Não escreve propriamente uma carta, mas uma homilia ou exortação a uma comunidade que ele conhece e da qual está ausente. A comunidade é formada por cristãos de origem judaica, da segunda geração, que estavam perdendo o fervor original. O texto que ouvimos quer revigorar a fé e a esperança, num ambiente hostil no qual viviam os cristãos. O autor anônimo parte da definição do que é fé: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. Ao longo do texto ocorre sete vezes a palavra fé. O autor propõe como testemunho a fé dos patriarcas, Abraão, Isaac e Jacó. O elogio se concentra em Abraão e Sara. Abraão obedeceu à ordem de Deus e partiu para uma terra desconhecida que lhe seria dada em herança. Pela fé Abraão e Sara, embora estéreis, tornaram-se pais de uma multidão de descendentes, comparável às estrelas do céu. Pela fé na promessa que, de Isaac, teria uma grande descendência, Abraão ofereceu seu filho em sacrifício. Crente que Deus poderia “até ressuscitar os mortos”, recuperou assim seu filho vivo. O autor coloca a fé que Abraão tinha no “Deus dos vivos” como um símbolo da fé cristã na ressurreição dos mortos. Em meio à ameaça de morte em que viviam os cristãos o autor planta a fé na ressurreição de Cristo como um estandarte de esperança. A fé na ressurreição de Cristo e nossa ressurreição caminham juntas: “Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é inútil…” (cf. 1Cor 15,17). O Deus de Jesus Cristo “não é Deus dos mortos e sim dos vivos” (Mc 12,27).
3 - Evangelho: Lc 12,32-48
Vós também, ficai preparados!
No evangelho do domingo passado, Jesus criticava a cobiça e o acúmulo dos bens passageiros deste mundo e nos exortava a sermos vigilantes e a buscarmos os bens que não passam. Acima de tudo deve estar o amor a Deus e ao próximo. No evangelho de hoje, Lucas retoma e aprofunda os ensinamentos do texto anterior, aplicando-os à comunidade cristã, que ele chama de “pequenino rebanho, a quem foi dado o Reino”. Esse Reino que Jesus anuncia caracteriza-se pela venda e partilha dos bens com os pobres, para investir no tesouro do céu, que jamais acaba. O cristão deve estar focado em Deus e não nas riquezas deste mundo: “Onde está vosso tesouro, ali também estará vosso coração” (v. 34). Deve estar sempre preparado e vigilante, aguardando a vinda do Senhor, que não tem data marcada. Para esclarecer o sentido do estar vigilante Jesus conta a parábola dos empregados que devem estar sempre vigilantes para receber seu patrão, quando ele voltar de uma festa de casamento, a qualquer hora da noite (v. 35-40). No início da segunda parte (v. 41-48), Pedro, em nome dos apóstolos, pergunta a Jesus: “Senhor, tu contas esta parábola para nós ou para todos”? Na resposta Jesus se dirige, sobretudo, aos dirigentes da comunidade cristã, encarregados de vigiar o “pequenino rebanho” e cuidar de seu bem-estar. Jesus é o bom Pastor (cf. Lc 15,1-7; Jo 10,1-18). Encarregou os dirigentes da comunidade (apóstolos e ministros) de cuidar de seu rebanho. Escolhidos pelo Senhor, eles precisam estar mais bem preparados para vigiar pelo “pequenino rebanho” e assim deixá-lo sempre preparado para a segunda vinda do Senhor. Por isso, deles se exigirá mais quando o Senhor vier como juiz dos vivos e dos mortos, no final dos tempos.
O Evangelho de hoje contém como mensagem central a fé e a esperança na segunda vinda do Senhor. Esta fé tem como desdobramentos práticos: 1) a partilha dos bens deste mundo com os mais pobres; 2) a busca do tesouro mais precioso, que é o amor a Deus sobre todas s coisas e o amor ao próximo como a si mesmo; 3) e a atitude de vigilância na expectativa da segunda vinda do Senhor.
Pergunta: Que prioridade eu coloco em minha vida como cristão?
, é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ).
A Palavra de Deus que a liturgia de hoje nos propõe convida-nos à vigilância: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e para construir o “Reino”.
A primeira leitura apresenta-nos as palavras de um “sábio” anónimo, para quem só a atenção aos valores de Deus gera vida e felicidade. A comunidade israelita – confrontada com um mundo pagão e imoral, que questiona os valores sobre os quais se constrói a comunidade do Povo de Deus – deve, portanto, ser uma comunidade “vigilante”, que consegue discernir entre os valores efémeros e os valores duradouros.
A segunda leitura apresenta Abraão e Sara, modelos de fé para os crentes de todas as épocas. Atentos aos apelos de Deus, empenhados em responder aos seus desafios, conseguiram descobrir os bens futuros nas limitações e na caducidade da vida presente. É essa atitude que o autor da Carta aos Hebreus recomenda aos crentes, em geral.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre a vigilância. Propõe aos discípulos de todas as épocas uma atitude de espera serena e atenta do Senhor, que vem ao nosso encontro para nos libertar e para nos inserir numa dinâmica de comunhão com Deus. O verdadeiro discípulo é aquele que está sempre preparado para acolher os dons de Deus, para responder aos seus apelos e para se empenhar na construção do “Reino”.
Na 1° leitura, O “Livro da Sabedoria”
O nosso texto refere-se, em concreto, à noite em que foram mortos os primogénitos dos egípcios, à noite do êxodo (cf. Ex 12,29-30). O autor interpreta essa noite (cf. Sab 18,5) como a “resposta de Deus” ao decreto do faraó que ordenava a matança das crianças hebreias do sexo masculino (cf. Ex 1,22). Para os egípcios, foi uma noite trágica, de ruína, de pesadelo, de destruição, de morte e de luto; para os judeus, foi uma noite de salvação, de glória e de louvor do Deus libertador. Na perspectiva do autor deste texto, Deus não só esteve na origem da libertação mas, através de Moisés, fez saber com antecedência aos hebreus os acontecimentos da noite pascal (cf. Ex 12,21-28), a fim de que eles ganhassem ânimo. Tudo isto foi entendido pelo Povo como ação de Deus.
Confrontado com a atuação de Deus em favor do seu Povo, Israel encontrou forma de responder a Jahwéh e de Lhe manifestar o seu louvor e agradecimento: os sacrifícios (aqui faz-se alusão ao sacrifício do cordeiro pascal, entendido como celebração da libertação operada por Deus), a solidariedade (o autor faz remontar a este momento do Êxodo as leis sobre a participação de todas as tribos na conquista – cf. Nm 32,16-24 – e sobre a partilha igual dos despojos – cf. Nm 31,27; Jos 22,8), o cântico de hinos (alusão ao Hallel – Sal 113-118 – cantados todos os anos durante a ceia pascal) definem a resposta do Povo à ação de Deus.
A conclusão é óbvia: enquanto que os egípcios – que divinizavam a natureza e que corriam atrás dos deuses falsos – se deixaram conduzir por esquemas de opressão e de injustiça e receberam de Jahwéh o justo castigo, os israelitas – fiéis a Jahwéh e à Lei, que sempre louvaram Deus e Lhe agradeceram seus dons e benefícios – viram Deus a atuar em seu favor e encontraram a liberdade e a paz.
ATUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes desenvolvimentos:
• A leitura chama a atenção para a diferença que há entre o viver de acordo com os valores da fé e o viver de acordo com propostas quiméricas de felicidade e de bem-estar… O “sábio” que nos fala na primeira leitura assegura que só a fidelidade aos caminhos de Deus gera vida e libertação; e que a cedência aos deuses do egoísmo e da injustiça gera sofrimento e morte. Hoje, como ontem, nem sempre parece fazer sentido trilhar o caminho do bem, da verdade, do amor, do dom da vida… Na realidade, onde é que está o caminho da verdadeira felicidade? Na cedência ao mais fácil, à moda, ao “politicamente correto”, ou na fidelidade aos valores duradouros, aos valores do Evangelho, ao projeto de Jesus? Como é que eu me situo face às pressões que, todos os dias, a opinião pública ou a moda me impõem?
• O tema da liturgia deste domingo gira à volta da “vigilância”. Não se trata de estar sempre com “a alminha em paz”, “na graça de Deus” para que a morte não me surpreenda e eu não seja atirado, sem querer, para o inferno; trata-se de eu saber o que quero, de ter ideias claras quanto ao sentido da minha vida e de, em cada instante, atuar em conformidade. É esta “vigilância” serena, de quem sabe o que quer e está atento ao caminho que percorre, que me é pedida. É esse o caminho que eu tenho vindo a percorrer? A minha vida tem sido uma busca atenta do que Deus quer de mim?
• O autor do “Livro da Sabedoria” descreve a resposta do Povo à ação libertadora de Deus como celebração, solidariedade, louvor e ação de graças. Diante do Deus libertador, que todos os dias intervém na minha vida e que me aponta caminhos de vida plena e de felicidade, sinto também a vontade de celebrar, de amar, de comungar, de louvar, como resposta ao amor de Deus?
LEITURA II – Heb 11,1-2.8-19
AMBIENTE
A Carta aos Hebreus é um texto anónimo, escrito nos anos que antecederam a destruição do Templo de Jerusalém (ano 70). Destina-se a comunidades cristãs (de origem judaica?) em que a generosidade dos inícios dera lugar ao cansaço, ao tédio, ao desinteresse e que, por causa das perseguições e da hostilidade dos não crentes, estavam expostas ao desalento e ao retrocesso na sua caminhada cristã. Neste contexto, o autor pretende apresentar aos crentes um estímulo, no sentido de aprofundar a vocação cristã, até à identificação total com Cristo.
A carta apresenta – recorrendo à linguagem da teologia judaica – o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência – através de quem os homens têm acesso livre a Deus e são inseridos na comunhão real e definitiva com Deus. O autor aproveita, na sequência, para reflectir nas implicações desse facto: postos em relação com o Pai por Cristo/sacerdote, os crentes são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar a experiência de fé, enfraquecida pela acomodação e pela perseguição.
O texto que nos é proposto está incluído na quarta parte da epístola (cf. Heb 11,1-12,13). Nessa parte, o autor insiste em dois aspectos básicos da vida cristã: a fé e a constância ou perseverança. No que diz respeito à fé, o autor convida a percorrer o caminho dos “antigos” (cf. Heb 11,1-40); no que diz respeito à constância, exorta a aceitar com paciência os sofrimentos que a vida do cristão comporta, pois esses sofrimentos fazem parte das provas pedagógicas através das quais Deus nos faz chegar à perfeição (cf. Heb 12,1-13).
MENSAGEM
A exposição começa com a descrição da fé, aqui entendida como a “garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem” (Heb 11,1). A “fé” é, nesta perspectiva, posta em relação com a esperança; ela dirige-se ao futuro e ao invisível. Alguns autores entendem esta “garantia” (“hypóstasis”) no sentido de “firme confiança” (Lutero, Erasmo e numerosos autores recentes). A fé seria, nesta perspectiva, a firme confiança na possessão dos bens futuros, invisíveis por agora. É uma perspectiva diferente (embora complementar) da que transparece nos textos paulinos, onde a fé é, sobretudo, a adesão a Jesus – quer dizer, o estabelecimento de uma relação pessoal entre os crentes e o Senhor.
Na sequência, o autor vai apresentar uma autêntica galeria de figuras vétero-testamentárias que, por terem vivido na fé e da fé, são modelo para todos os crentes.
Em concreto, o nosso texto apresenta-nos as figuras de Abraão e de Sara. Pela fé, Abraão acolheu o chamamento de Deus, deixou a sua casa e partiu ao encontro do desconhecido e do incómodo; pela fé, Abraão aceitou estabelecer-se numa terra estranha e aí habitar; pela fé, Sara pôde conceber e dar à luz Isaac, apesar da sua avançada idade; pela fé, Abraão não duvidou quando Deus o mandou sacrificar, no alto de um monte, o filho Isaac, o herdeiro das promessas e o continuador da descendência… Abraão não viu concretizar-se a promessa da posse da terra, nem a promessa de um povo numeroso; mas, pela fé, ele contemplou antecipadamente a realização das promessas de Deus, “saudando-as de longe”. Assim, Abraão assumiu a sua condição de peregrino e estrangeiro, ansiando constantemente pela cidade futura, e caminhando ao encontro do céu, a sua pátria definitiva. É precisamente esse exemplo que o autor da carta quer propor a esses cristãos perseguidos e desanimados: vivam na fé, esperando a concretização dos dons futuros que Deus vos reserva e caminhem pela vida como peregrinos, sem desanimar, de olhos postos na pátria definitiva.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar os seguintes desenvolvimentos:
• O autor deste texto convida o crente a confiar firmemente na possessão dos bens futuros, anunciados por Deus, mas invisíveis para já. A nossa caminhada nesta terra está marcada pela finitude, pelas nossas limitações, pelo nosso pecado; mas isso não pode fazer-nos desanimar e desistir: viver na fé é, apesar disso, apontar à vida plena que Deus nos prometeu e caminhar ao seu encontro. É esta esperança que nos anima e que marca a nossa caminhada, sobretudo nos momentos mais difíceis, em que tudo parece desmoronar-se e as coisas deixam de fazer sentido?
• A nossa tendência vai, tantas vezes, do “oito ao oitenta”, da euforia ao desânimo total. Num dia, tudo faz sentido; no outro, a tristeza e a dúvida afogam-nos e deixam-nos mergulhados no mais negro pessimismo… No entanto, o cristão deve ser o homem da serenidade e da paz; ele sabe que a sua existência não se conduz ao sabor das marés, mas que o sentido da vida está para além dos êxitos ou dos fracassos que o dia a dia traz. Guiado pela fé, ele tem sempre diante dos olhos essas realidades últimas, que dão sentido pleno àquilo que aqui acontece.
EVANGELHO – Lc 12,32-48
AMBIENTE
Continuamos a percorrer o “caminho de Jerusalém”. Desta vez, Jesus dirige-Se explicitamente ao grupo dos discípulos (designado como “pequeno rebanho” – cf. Lc 12,32). Nas catequeses anteriores, Jesus falou sobre o desprendimento face aos bens da terra (cf. Lc 12,13-21) e sobre o abandono nas mãos de Deus (cf. Lc 12,22-34); agora, Jesus vai mostrar o que é necessário fazer para que o “Reino” seja sempre uma realidade presente na vida dos discípulos e para que os “tesouros” deste mundo não sejam a prioridade: trata-se de estar sempre vigilante, à espera da vinda do Senhor. Na realidade, Lucas junta aqui parábolas que devem ter aparecido em contextos diversos; mas todas estão ligadas pelo tema da vigilância.
MENSAGEM
O nosso texto começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos devem procurar e que não está nos bens deste mundo (vers. 33-34): trata-se do “Reino” e dos seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”? A resposta é dada em três quadros ou “parábolas”, que apelam à vigilância.
A primeira parábola (vers. 35-38) convida a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas (o que parece aludir a Ex 12,11 e à noite da primeira Páscoa, celebrada de pé e “com os rins cingidos”, antes da viagem para a liberdade), como homens que esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Os crentes são, assim, convidados a estarem preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer e que os levará da terra da escravidão para a terra da liberdade; e são também convidados a acolherem “o noivo” (Jesus) que veio propor à “noiva” (os homens) a comunhão plena com Deus (a “nova aliança”, representada na teologia judaica através da imagem do casamento).
A segunda parábola (vers. 39-40) aponta para a incerteza da hora em que o Senhor virá. A imagem do ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem estranha para falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem.
A terceira parábola (vers. 41-48) parece dirigir-se (é nesse contexto que a pergunta de Pedro nos coloca) aos responsáveis da comunidade. Nas palavras originais de Jesus, a parábola devia ser uma crítica aos responsáveis do Povo de Israel; mas, na interpretação de Lucas, a parábola dirige-se aos animadores da comunidade cristã, que devem permanecer fiéis às suas tarefas de animação e de serviço: se algum deles descuida as suas responsabilidades no serviço aos irmãos e usa as funções que lhe foram confiadas de forma negligente ou em benefício próprio, será castigado. Nos dois últimos versículos, o castigo diversifica-se de acordo o tipo de desobediência: os que desobedeceram intencionalmente serão mais castigados; os que desobedeceram não intencionalmente serão menos castigados. A referência às “vergastadas” deve ser entendida no contexto da linguagem dos pregadores da época e manifesta a repulsa de Deus por aqueles que negligenciam a missão que lhes foi confiada. Provavelmente Lucas tem diante dos olhos o exemplo de alguns animadores cristãos que, pela sua preguiça ou pela sua maldade, perturbavam seriamente a vida das comunidades a que presidiam. Em qualquer caso, estas linhas sublinham a maior responsabilidade daqueles que, na Igreja, desempenham funções de responsabilidade… A última afirmação (“a quem muito foi dado, muito será exigido, a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá – vers. 48b) é claramente dirigida aos responsáveis da comunidade; mas pode aplicar-se a todos os que receberam dons materiais ou espirituais.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão e a partilha da Palavra, considerar os seguintes dados:
• A vida dos discípulos de Jesus tem de ser uma espera vigilante e atenta, pois o Senhor está permanentemente a vir ao nosso encontro e a desafiar-nos para nos despirmos das cadeias que nos escravizam e para percorrermos, com Ele, o caminho da libertação. O que é que nos distrai, que nos prende, que nos aliena e que nos impede de acolher esse dom contínuo de vida?
• Ser cristão não é um trabalho “das nove às cinco”, ou um “hobby” de fim-de-semana; mas é um compromisso a tempo inteiro, que deve marcar cada pensamento, cada atitude, cada opção, vinte e quatro horas por dia… Estou consciente dessa exigência e suficientemente atento para marcar, com o selo do meu compromisso cristão, todas as minhas acções e palavras?
• Estou suficientemente atento e disponível para acolher e responder aos apelos que Deus me faz e aos desafios que Ele me apresenta através das necessidades dos irmãos? Estou suficientemente atento e disponível para escutar os sinais, através dos quais Deus me apresenta as suas propostas?
• Por vezes, os discípulos de Jesus manifestam a convicção de que tudo vai de mal a pior, que esta “geração rasca” está perdida e que não é possível fazer mais nada para tornar o mundo mais humano e mais feliz… Isso não será, apenas, uma forma de mascararmos o nosso egoísmo e comodismo e de recusarmos ser protagonistas empenhados na construção desse “Reino” que é o tesouro mais valioso?
• A Palavra de Deus que hoje nos é proposta contém uma interpelação especial a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade, quer na Igreja, quer no governo, quer nas autarquias, quer nas empresas, quer nas repartições… Convida cada um a assumir as suas responsabilidades e a desempenhar, com atenção e empenho as funções que lhe foram confiadas. A todos aqueles a quem foi confiado o serviço da autoridade, a Palavra de Deus pergunta sobre o modo como nos comportamos: como servos que, com humildade e simplicidade cumprem as tarefas que lhes foram confiadas, ou como ditadores que manipulam os outros a seu bel-prazer? Estamos atentos às necessidades – sobretudo dos pobres, dos pequenos e dos débeis – ou instalamo-nos no egoísmo e no comodismo e deixamos que as coisas se arrastem, sem entusiasmo, sem vida, sem desafios, sem esperança?
No final da primeira leitura:
“Deus fiel, desde o tempo de Moisés e dos profetas, o teu povo Te dá graças pela libertação pascal. Outrora foi pela saída do Egipto e a entrada na Terra Prometida. Hoje, é pela Páscoa de Jesus, a Ressurreição.
Nós Te pedimos pelos pastores das nossas comunidades, pelos catequistas e pelas equipas litúrgicas, encarregados de reavivar a fé pascal em cada domingo”.
No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te bendizemos por Abraão, Sara e todas as testemunhas da fé ao longo dos séculos. Nós Te damos graças porque Te revelaste a eles, fizeste-Te próximo, anunciaste-lhes e renovaste as tuas promessas.
Nós Te pedimos para confirmar a fé nas nossas comunidades. Que o teu Espírito nos guie e nos inspire, quando damos conta da nossa fé diante dos jovens”.
No final do Evangelho:
“Nosso Pai, nós Te bendizemos, porque nos deste o teu Reino. Ele é para nós o tesouro inesgotável. Nós Te damos graças pelo teu Filho, nosso Mestre, porque Ele veste o fato de serviço para nos acolher à sua mesa.
Nós Te pedimos: pelo teu Espírito, prende os nossos corações ao teu Reino, que Ele nos mantenha na vigilância, atentos a preparar o teu regresso”.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
Há felicidade em receber… Se Jesus declara felizes os servidores que esperam para estarem prontos para servir, é porque vão beneficiar de um privilégio extraordinário: em lugar de servir, vão ser servidos, e logo pelo seu Mestre. O facto de esperar muda totalmente a situação. Jesus recomenda para se vigiar porque é uma atitude daquele que espera e assim manifesta que a pessoa esperada tem um preço a seus olhos. No momento em que Lucas escreve o seu Evangelho, os cristãos estão um pouco adormecidos e desanimados, pois parece que o Mestre tarda a voltar, como havia prometido. Terão eles esquecido que Ele tinha prometido o seu regresso de imprevisto? A sua felicidade depende da sua espera activa…
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Decididamente, Jesus não Se cansa de chamar os seus discípulos a uma vida de pobreza, no Evangelho deste domingo e do domingo passado. Mas Ele próprio sabia bem que o dinheiro é necessário para viver. O grupo dos apóstolos tinha uma bolsa comum. São Paulo fará um peditório, que dará uma grande soma, para a Igreja de Jerusalém. Segundo o Evangelho, a pobreza não é a miséria. Já domingo passado Jesus nos convidava a sermos ricos em vista de Deus e não a amealharmos para nós mesmos. Hoje, diz uma pequena frase muito esclarecedora: “Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino”. O Pai quer encher-nos com a sua plenitude. Mas isso supõe, da nossa parte, uma atitude de despojamento para nos tornarmos disponíveis e acolhedores do dom de Deus. Recordemos que somos apenas criaturas. Não somos a nossa própria origem. Desde o início da nossa existência, devemos primeiramente tudo receber, a começar pela vida. Numa palavra, devemos, em primeiro lugar, ser amados para podermos aprender a amar. A verdadeira pobreza consiste em reconhecer a ligação de dependência no amor e na vida. Se a recusamos, fechamo-nos em nós mesmos, numa riqueza que poderá asfixiar-nos. Dito de outro modo, somos convidados a nunca esquecer que tudo o que temos e somos é sempre, antes de mais, um dom. Não somos proprietários da vida. Dela temos apenas usufruto. O nosso Pai confia-nos a vida, para que a façamos frutificar em aventura de amor. Isso deveria preservar-nos do “espírito de possessão” e abrir o nosso coração para aprender sem cessar a receber e podermos, por nossa vez, dar.
(Traduzido pelo Tradutor Google sem nossa correção. Para conferir veja o original em espanhol logo após o texto em português).
19º DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Sabedoria 18,5-9):
Este texto se insere no contexto mais amplo da seção que abrange Sb 10,1-19,21, cujo tema é a justiça de Deus revelada na história . Especificamente, é a manifestação do julgamento de Deus punindo o opressor — o Egito — e libertando o oprimido — Israel como povo eleito. O desenvolvimento literário desse julgamento se dá por meio de sete dípticos ou antíteses baseados na história do Êxodo, que mostram como Deus, em sua sabedoria, ao punir os egípcios, favorece os israelitas (cf. Sb 11,5 ) .
A primeira leitura deste domingo faz parte do sexto díptico ou antítese entre egípcios e israelitas, que trata da morte dos primogênitos egípcios e da libertação de Israel (Sb 18,5-25). Menciona-se a memorável noite do Êxodo , a primeira Páscoa, noite de libertação para os israelitas e de castigo para os egípcios. Uma noite predita pelos pais (18,6); uma noite de vigília para Israel, aguardando a passagem de Deus como juiz e libertador (18,7-8). Uma noite de comunhão entre os membros do povo, onde se estabelece, pela participação no mesmo sacrifício, que "os santos participarão igualmente das mesmas bênçãos e dos mesmos perigos" (18,9). Dessa forma, o autor interpreta o Êxodo como um julgamento de Deus sobre toda a humanidade. E o julgamento de Deus na história confunde, com sua sabedoria, os poderes do mundo. O Egito aparentemente possui todo o poder e a força de seus carros e exércitos. Eles são os dominadores e opressores dos fracos, dos impotentes. Os israelitas não têm poder, ou melhor, têm o poder da oração e do culto, celebrados em segredo, dentro de seus lares. Israel é fraco, pobre em recursos; mas tem a Promessa que mantém viva a Esperança no julgamento de Deus. A oração e o sacrifício trazem a salvação de Deus a Israel; enquanto o Egito, com todo o seu poder, não conseguirá escapar do castigo divino .
Evangelho (Lc 12, 32-48):
A interpretação desta passagem não é favorecida pelo (re)corte que a liturgia necessariamente teve que fazer para a sua leitura. Assim, o versículo inicial está claramente relacionado ao parágrafo anterior (12,21-31), que não é lido neste domingo. Ali, Jesus exorta seus discípulos a buscarem primeiro o Reino de Deus, que todo o resto virá em seguida (12,31). Essa busca é então encorajada pela afirmação de que o Pai verdadeiramente quer dar-lhes o Reino (aqui começa o texto deste domingo). É, portanto, um convite à busca confiante do Reino de Deus que supera todo o medo . E o medo pode surgir do fato de que poucos verdadeiramente buscam e esperam pelo Reino de Deus . Daí a alusão a um rebanho duplamente pequeno, visto que o adjetivo "pequeno" e o diminutivo de "rebanho" são usados (τὸ μικρὸν ποίμνιον, "pequeno rebanho" seria a tradução mais literal). Ou seja, como o Israel do deserto (cf. Is 41,14 LXX), a esperança de receber o Reino se baseia na vontade do Pai que quer dá-lo à pequena e pobre comunidade dos discípulos de Jesus.
Segue-se o convite à generosidade: "Vendei os vossos bens e dai esmola...". Aqui, ele retorna ao tema anunciado anteriormente: "ser rico aos olhos de Deus" (12,21), que se refere ao significado cristão do uso dos bens materiais. Como observa F. Bovon 3 : "Em vez de proibir o enriquecimento, Lucas impõe a prodigalidade. Como se sabe, as comunidades de Lucas incluem algumas pessoas abastadas. Ao longo de sua obra, Lucas expressa sua consciência das injustiças sociais e demonstra seu desejo de repará-las, pelo menos dentro da Igreja. Ele está certamente convencido de que o mal não é inerente aos bens em si, mas ao coração que se apega a eles." Portanto, a primeira parte do Evangelho de hoje dá continuidade ao tema do domingo passado: o uso e o significado dos bens materiais . Mais especificamente, explica o significado da expressão: "ser rico aos olhos de Deus". E aqueles que compartilham seus bens são aqueles que os dão como esmola aos pobres e, assim, "acumulam um tesouro inesgotável no céu". A mensagem é que, embora as riquezas desta vida ofereçam uma falsa segurança por serem passageiras, transitórias e vãs, este tesouro celestial é duradouro; não pode ser roubado nem se desgasta. Em outras palavras, embora a ganância por posses, o apego egoísta a elas, não possam nos garantir a vida eterna, a esmola, as obras de misericórdia que nos abrem às necessidades dos outros, também abrem as portas para a vida futura em Deus. A frase final (“pois onde estiver o seu tesouro, aí estará o seu coração = ὅπου γάρ ἐστιν ὁ θησαυρὸς ὑμῶν, ἐκεῖ καὶ ἡ καρδία ὑμῶν ἔσται.”, 12,34) é importante porque nos ensina que o essencial é onde está colocado o coração, ou seja, os desejos, as intenções; o sentido da vida: seja no Reino de Deus ou nos bens materiais .
A segunda parte do Evangelho concentra-se no tema da vigilância cristã , tema desenvolvido por meio de três parábolas com protagonistas diferentes: os servos, o dono da casa e o administrador. Trata-se de estar vigilante, esperando o Senhor que virá. Segundo A. Rodríguez Carmona, 4 "este tema se relaciona com o anterior, no sentido de que é necessário permanecer vigilante para fazer a vontade do Senhor em todo o tempo, que deve ser o centro da vida do discípulo. Vigilância e fidelidade são componentes essenciais do ser discípulo de Jesus".
A expressão "estejam cingidos os vossos lombos" (Εστωσαν ὑμῶν αἱ ὀσφύες περιεζωσμέναι em 12,35), que o lecionário traduz como "estejam prontos, com as vestes cingidas", refere-se à partida do Êxodo na noite de Páscoa. Da mesma forma, a recomendação de manter as lâmpadas acesas nos obriga a pensar na noite de Páscoa . Aqui descobrimos a relação do Evangelho com a primeira leitura de hoje. É um convite a um estado de vigilância , a permanecer vigilantes e atentos para uma resposta pronta, como esclarece a comparação ou parábola que se segue (cf. 12,36-38). Aqui é muito marcante a bem-aventurança do servo atento e vigilante (12,37.38) , pois afirma que o próprio Senhor tomará a atitude de um servo e o servo será servido pelo senhor 5 .
O segundo exemplo ou parábola (12:39) reforça a atitude de vigilância e alerta, visto que o momento da vinda do Senhor é tão imprevisível quanto a chegada de um ladrão. Envolve a consciência de não saber o momento da parousia, o que é um convite à expectativa constante.
Segue-se uma pergunta de Pedro, à qual Jesus responde indiretamente com o terceiro exemplo ou parábola (12:42-48), que destaca duas atitudes possíveis diante do atraso ou adiamento da Parusia , uma boa e outra má, e as consequências de cada uma. A boa atitude é a do administrador fiel e perseverante em sua obra, que terá grande recompensa por ter conquistado a confiança de seu Senhor. Por outro lado, quem se aproveita da ausência e do atraso do Senhor para abusar de sua autoridade e levar uma vida desordenada será inesperadamente apanhado e severamente punido, compartilhando o destino dos infiéis.
O tema do julgamento de Deus e o princípio da retribuição (Ele dará a cada um segundo as suas obras) dominam esta última seção. No entanto, o texto conclui enfatizando que o julgamento de Deus, sua exigência, é proporcional às dádivas recebidas. Ou seja, aqueles que receberam mais dádivas e tarefas do Senhor serão responsabilizados pelo que fizeram com elas.
As duas bem-aventuranças relativas aos servos ou escravos atentos (cf. 12,37-38.43) resumem a mensagem como um convite à vigilância e à prática do bem (fidelidade).
ALGUMAS REFLEXÕES:
A primeira ideia que emerge do Evangelho de hoje é a apresentação do grupo de discípulos como um "pequeno rebanho". Essa avaliação de Jesus é importante porque o fato de serem poucos pode ser motivo de desânimo, em vez de impulso para a nova evangelização. São João Paulo II já o observava na Novo Millennio Ineunte n. 35: "Em muitas regiões, os cristãos são, ou estão se tornando, um 'pequeno rebanho' ( Lc 12,32). Isso os desafia a dar um testemunho mais poderoso, muitas vezes em condições de solidão e dificuldade, dos aspectos específicos de sua própria identidade." E o Papa Francisco o propôs novamente na EG n. 92: "Precisamente nesta época, e mesmo onde são um 'pequeno rebanho' ( Lc 12,32), os discípulos do Senhor são chamados a viver como uma comunidade que é sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16). São chamados a testemunhar uma pertença evangelizadora de forma sempre nova."
A segunda ideia é que, para compreender corretamente a mensagem central do Evangelho deste Domingo, é essencial considerar o lugar de onde Jesus vê e julga a realidade; e vê-la também a partir daí, pois isso é ter fé ( a fé descrita em Hebreus 11,1 na segunda leitura de hoje ).
Fé é ver a realidade através dos olhos de Jesus; é compartilhar o seu próprio olhar. E Jesus vê e julga a realidade a partir da eternidade, da transcendência, do Reino de Deus vindouro e do juízo final que se segue. Portanto, Jesus nos apresenta primeiro o Reino que o Pai se agrada em nos dar, em nos oferecer; e este Reino é a realidade definitiva, o objetivo último da vida humana. O discípulo crente é aquele que se abre ao Reino de Deus com a esperança certa de recebê-lo; que vê e julga a realidade a partir da perspectiva do Reino de Deus e, assim, compreende o significado dos bens terrenos e os orienta para a posse do Reino definitivo. Desse modo, descobre-se o valor da caridade, de partilhar os bens com os necessitados, de se "empobrecer" materialmente para se "enriquecer" espiritualmente.
Nessa perspectiva de fé, entendemos também que devemos procurar os bens necessários à vida e que é legítimo desfrutá-los; mas não podemos fazer deles o "tesouro" da vida; não podemos colocar o nosso coração neles porque são transitórios; eles não podem nos dar a vida eterna.
Também sob esta perspectiva e com esta visão de fé, descobrimos que somos peregrinos nesta vida e que as atitudes próprias do crente enquanto aguarda o definitivo são a vigilância e o serviço fiel, que são os temas predominantes deste domingo, dia 6. Numa linguagem mais atual, poderíamos falar de lucidez e responsabilidade .
Vigilância ou lucidez é, acima de tudo, uma atitude espiritual de atenção a Deus e ao seu Reino. O oposto seria a tibieza, isto é, uma vida cristã adormecida. Essa vigilância nos ajuda a não perder de vista o fato de que recebemos uma missão nesta vida e devemos nos dedicar a ela com serviço fiel e responsável "até que o Senhor venha".
Sobre a vigilância e a responsabilidade cristãs, o Papa Francisco disse no Angelus de 7 de agosto de 2022: “No fim da nossa vida, Ele nos pedirá contas dos bens que nos confiou; portanto, vigilância também significa ser responsável, isto é, guardar e administrar fielmente esses bens. Recebemos tanto: a vida, a fé, a família, os relacionamentos, o trabalho, mas também os lugares onde vivemos, a nossa cidade, a criação. Recebemos muitas coisas. Procuremos nos perguntar: cuidamos dessa herança que o Senhor nos deixou? Guardamos a beleza ou usamos as coisas apenas para nós mesmos e para as nossas conveniências do momento? Precisamos pensar um pouco sobre isso: somos guardiões daquilo que nos foi dado?”
Irmãos e irmãs, caminhemos sem medo, na certeza de que o Senhor sempre nos acompanha. E estejamos vigilantes, para não adormecermos enquanto o Senhor passa. Santo Agostinho dizia: “Tenho medo de que o Senhor passe e eu não perceba”; de estar dormindo e não perceber que o Senhor passa. Estejam vigilantes! Que nos ajude a Virgem Maria, que acolhemos a visita do Senhor e, pronta e generosamente, dissemos o seu “Eis!”
Portanto, “a vida cristã é como uma longa vigília que parece interminável, mas está aberta à aurora de um novo dia. Nossa espera é feita de certeza e surpresa, de força e esperança. O “estejam preparados” também responde ao “não tenham medo, pequeno rebanho” 7 .
Concluindo, achamos muito boa a síntese 8 de HU von Balthasar : "Todos os textos desta celebração nos pedem para viver em tensão, em movimento (êxodo), inquietos, em estado de peregrinação, em uma palavra: viver em alerta, em alerta por causa da fé, por causa da promessa de Deus, por causa das contas que em breve teremos que prestar."
Que o Senhor nos encontre vigilantes e trabalhando para sua maior glória!
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Não tenha medo
Senhor e nosso Pai,
Incuti em nós a confiança dos pequenos:
A mãe os embala em seus braços,
E em seu colo repousam seus sonhos
Como cordeiros do teu rebanho
Seguimos os teus passos até chegarmos ao Reino
E você nos dá comida
Do seu sangue e do seu corpo
Com essa força discernimos os sinais dos tempos
Ao seu serviço, a caminho, mas não atordoado
Tenha cuidado, tenha sempre cuidado porque…
Para os distraídos, haverá punição severa.
Recebemos a filiação, não como uma recompensa
Só o amor compreende o Dom do céu:
A Herança de Alguém que Se Entregou Completamente
E ele abriu as portas para nós até seu retorno.
Naquele dia, nós te pedimos, Senhor, para que nos encontres acordados.
Mãos cheias de frutas e cheias de alegria
Testemunhas da Verdade e da Justiça
Mensageiros da Paz e da Vida. Amém.
1 Cf. J. Vilchez, Sabedoria (Palavra Divina; Estella 1990) 309-313.
2 D. Barsotti, Meditação sobre o livro da Sabedoria (Queriniana; Brescia 1985) 223-224.
3 Evangelho segundo São Lucas II (Segue-me; Salamanca 2002) 383.
4 Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 245.
5 A. Rodríguez Carmona nos informa que “a noite durava das seis da tarde às seis da manhã. Lucas parece seguir a divisão romana da noite em quatro vigílias de três horas cada, já que judeus e gregos a dividiam em três vigílias de quatro horas”, Evangelho Segundo São Lucas (BAC; Madri 2014), 248-249.
6 "Na leitura do Evangelho, o fragmento mais significativo é o central, que exige vigilância. Os textos inicial e final são considerados menos importantes para o contexto litúrgico", P. Tena, Lecionário de Lucas. Guia Homilético para o Ciclo C , 106.
7 Comissão Episcopal para o Grande Jubileu, Vim trazer o fogo à Terra! Orientações para as Homilias do Décimo Quarto ao Vigésimo Domingo do Ano (CEA; Buenos Aires 1998) 99. 8 A Luz da Palavra. Comentários às Leituras Dominicais (Encuentro; Madri 1998) 275 .
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DOMINGO XIX DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Sabiduría 18,5-9):
Este texto se ubica en el contexto mayor de la sección que abarca Sab 10,1-19,21 cuyo tema es la justicia de Dios que se revela en la historia. En concreto, se trata de la manifestación del juicio de Dios castigando al opresor – Egipto – y liberando al oprimido – Israel como pueblo elegido –. El desarrollo literario de este juicio se da a través de siete dípticos o antítesis basados en el relato del Éxodo que muestran cómo Dios, en su sabiduría, al mismo tiempo que castiga a los egipcios favorece a los israelitas (cf. Sab 11,5)1.
La primera lectura de este domingo forma parte del sexto díptico o antítesis entre egipcios e israelitas, donde se trata de la muerte de los primogénitos egipcios y la liberación de Israel (Sab 18,5-25). Se hace mención de la memorable noche del éxodo, de la primera pascua, noche de liberación para los israelitas y de castigo para los egipcios. Noche preanunciada por los padres (18,6); noche de vigilia para Israel a la espera del Paso de Dios como juez y liberador (18,7-8). Noche de comunión entre los miembros del pueblo donde se establece, mediante la participación en un mismo sacrificio, que "los santos compartirían igualmente los mismos bienes y los mismos peligros" (18,9). De este modo el autor interpreta el éxodo como un juicio de Dios sobre toda la humanidad. Y el juicio de Dios en la historia confunde, con su sabiduría, los poderes del mundo. Egipto tiene, en apariencia, todo el poder y la fuerza de sus carros y de sus ejércitos. Son los dominadores y opresores de los débiles, de los sin poder. Los israelitas no tienen poder, o mejor, tienen el poder de la oración y del culto, celebrado en lo oculto, en el interior de las casas. Israel es débil, pobre de medios; pero tiene la Promesa que mantiene viva la Esperanza en el juicio de Dios. La oración y el sacrificio atraen sobre Israel la salvación de Dios; mientras que Egipto con todo su poder no logrará evitar el castigo divino2.
Evangelio (Lc 12, 32-48):
La interpretación de esta perícopa no se ve favorecida por el (re)corte que necesariamente ha tenido que hacer la liturgia para su lectura. Así, el versículo inicial está en clara relación con el párrafo anterior (12,21-31) que no se lee este domingo. Allí Jesús exhortaba a sus discípulos a buscar ante todo el Reino de Dios, que lo demás vendrá por añadidura (12,31). Esta búsqueda es luego estimulada con la afirmación de que el Padre quiere verdaderamente darles el Reino (aquí comienza el texto de este domingo). Se trata, entonces, de una invitación a la búsqueda confiada del Reino de Dios que venza todo temor. Y el temor puede que brote del hecho de ser pocos los que buscan y esperan de verdad el Reino de Dios. De aquí la alusión a un rebaño doblemente pequeño ya que se utilizan el adjetivo "pequeño" y el diminutivo de "rebaño" (τὸ μικρὸν ποίμνιον, “pequeño rebañito" sería la traducción más literal). Es decir, al igual que el Israel del desierto (cf. Is 41,14 LXX), la esperanza de recibir el Reino se funda en la voluntad del Padre que quiere dárselo a la pequeña y pobre comunidad de discípulos de Jesús.
Sigue la invitación a la generosidad: "Vendan sus bienes y denlos como limosna…". Retoma aquí el tema anunciado antes de "ser rico a los ojos de Dios" (12,21), que se refiere al sentido cristiano del uso de los bienes materiales. Como bien nota F. Bovon3: "En vez de prohibir el enriquecimiento, Lucas impone la prodigalidad. Como es sabido, las comunidades lucanas cuentan en su seno con una parte de personas de buena posición. A lo largo de toda su obra, Lucas expresa la conciencia de que hay injusticias sociales y muestra su deseo de repararlas, al menos en el seno de la Iglesia. Está convencido ciertamente de que el mal no es inherente a los mismos bienes, sino al corazón que se apega a ellos". Por tanto, la primera parte del evangelio de hoy continúa el tema del domingo pasado: el uso y el sentido de los bienes materiales. Más en concreto, nos explica el sentido de la expresión: "ser ricos a los ojos de Dios". Y lo son quienes comparten sus bienes, los dan como limosna a los pobres y entonces "acumulan un tesoro inagotable en el cielo". El mensaje es que, mientras las riquezas en esta vida ofrecen una falsa seguridad pues son pasajeras, caducas y vanas; este tesoro celestial es duradero, no puede ser robado ni se desgasta. En otras palabras, mientras la codicia de los bienes, el aferrarse egoístamente a los mismos, no puede garantizarnos la vida eterna; la limosna, las obras de misericordia que nos abren a la necesidad de los demás, también nos abren las puertas de la vida futura en Dios. La frase final (“porque dónde está el tesoro de ustedes allí mismo el corazón de ustedes estará = ὅπου γάρ ἐστιν ὁ θησαυρὸς ὑμῶν, ἐκεῖ καὶ ἡ καρδία ὑμῶν ἔσται.”, 12,34) es importante porque nos enseña que lo esencial es dónde se pone el corazón, o sea los deseos, las intenciones; el sentido de la vida: o en el Reino de Dios o en los bienes materiales.
La segunda parte del evangelio está centrada en el tema de la vigilancia cristiana, tema que se desarrolla mediante tres parábolas con diferentes protagonistas: los criados, el dueño de la casa y el administrador. Se trata de estar alerta, a la espera del Señor que vendrá. Según A. Rodríguez Carmona 4“el tema tiene relación con el anterior, en cuanto que es necesario permanecer vigilantes para hacer en cada momento la voluntad del Señor, que debe ser el centro de la vida del discípulo. La vigilancia y la fidelidad es un componente esencial del discípulo de Jesús”.
La expresión "estén ceñidos vuestros lomos" (Εστωσαν ὑμῶν αἱ ὀσφύες περιεζωσμέναι en 12,35), que el leccionario traduce por "estén preparados, ceñidas las vestiduras", remite a la salida del Éxodo en la noche de pascua. Igualmente, la recomendación de tener encendidas las lámparas obliga a pensar en la noche pascual. Aquí descubrimos la relación del evangelio con la primera lectura de hoy. Se trata de una invitación a un estado de vigilia, de permanecer despiertos y atentos para una pronta respuesta, como lo aclara la comparación o parábola que sigue (cf. 12,36-38). Aquí es muy llamativa la bienaventuranza del servidor atento y vigilante (12,37.38), pues afirma que el mismo Señor tomará la actitud de esclavo y el servidor será servido por el amo5.
El segundo ejemplo o parábola (12,39) refuerza la actitud de vigilancia y atención por cuanto el momento de la venida del Señor es tan imprevisible como la llegada de un ladrón. Se trata de ser concientes de no saber el momento de la parusía, lo cual es una invitación a estar siempre expectantes.
Sigue una pregunta de Pedro a la que Jesús responde indirectamente con el tercer ejemplo o parábola (12,42-48) que pone de relieve dos actitudes posibles ante la demora o retraso de la parusía, una buena y una mala, y las consecuencias de cada una de ellas. La buena es la del administrador fiel y perseverante en su trabajo que tendrá una gran recompensa pues se ha ganado la confianza de su Señor. En cambio, el que se aprovecha de la ausencia y demora del Señor para abusar de su autoridad y llevar una vida desordenada, será sorprendido inesperadamente y tendrá un severo castigo corriendo la suerte de los infieles.
El tema del juicio de Dios y el principio de retribución (dará a cada uno según sus obras) domina esta última parte. Ahora bien, el texto termina resaltando que el juicio de Dios, su requerimiento, es proporcional a los dones recibidos. Es decir, a quien más ha recibido dones y tareas de parte del Señor, más se le pedirá cuentas de lo que haya hecho con ellas.
Las dos bienaventuranzas sobre aquellos criados o esclavos que están atentos (cf. 12,37-38.43) sintetizan el mensaje al ser una invitación a vigilar y obrar bien (fidelidad).
ALGUNAS REFLEXIONES:
La primera idea que brota del evangelio de hoy es la presentación del grupo de los discípulos como un "pequeño rebañito". Es importante esta valoración que hace Jesús porque el hecho de ser pocos puede ser un motivo de desaliento en vez de ser impulso para la nueva evangelización. Ya lo notaba san Juan Pablo II en Novo Millennio Ineunte nº 35: "En muchas regiones los cristianos son, o lo están siendo, un «pequeño rebaño» (Lc 12,32). Esto les pone ante el reto de testimoniar con mayor fuerza, a menudo en condiciones de soledad y dificultad, los aspectos específicos de su propia identidad." Y lo ha vuelto a proponer el Papa Francisco en EG n° 92: “Precisamente en esta época, y también allí donde son un «pequeño rebaño» (Lc 12,32), los discípulos del Señor son llamados a vivir como comunidad que sea sal de la tierra y luz del mundo (cf. Mt 5,13-16). Son llamados a dar testimonio de una pertenencia evangelizadora de manera siempre nueva”.
La segunda idea es que, para entender correctamente el mensaje central del evangelio de este domingo, resulta imprescindible tener en cuenta el lugar desde el cual Jesús mira y juzga la realidad; y mirar desde allí nosotros también puesto que esto es tener fe (la fe tal como la describe Heb 11,1 en la segunda lectura de hoy).
La fe es ver la realidad con los ojos de Jesús, es participar de su propia mirada. Y Jesús mira y juzga la realidad desde la eternidad, desde la trascendencia, desde el Reino de Dios que llega y el juicio final que le sigue. Por eso, Jesús nos presenta en primer lugar el Reino que el Padre se complace en darnos, en ofrecernos; y este Reino es la realidad definitiva, el fin último de la vida del hombre. El discípulo creyente es quien se abre al Reino de Dios con la cierta esperanza de recibirlo; quien mira y juzga la realidad desde la perspectiva del Reino de Dios y así comprende el sentido de los bienes terrenales y los orienta hacia la posesión del Reino definitivo. De este modo se descubre el valor de la caridad, del compartir los bienes con los necesitados, de "empobrecerse" materialmente para "enriquecerse" espiritualmente.
También desde esta mirada de fe se comprende que hay que procurarse los bienes necesarios para vivir y que es legítimo disfrutar de los mismos; pero que no se puede hacer de ellos el "tesoro" de la vida; no se puede poner el corazón en ellos por cuanto son caducos, no pueden darnos la vida eterna.
También desde esta perspectiva y con esta mirada de fe se descubre que somos peregrinos en esta vida y que las actitudes propias del creyente mientras espera lo definitivo son la vigilancia y el servicio fiel, que son los temas preponderantes de este domingo6. En lenguaje más actual podríamos hablar de lucidez y de responsabilidad.
La vigilancia o lucidez es ante todo una actitud espiritual de atención a Dios y a su Reino. Lo contrario sería la tibieza, o sea, tener una vida cristiana adormecida. Esta vigilancia nos ayuda a no perder de vista que hemos recibido una misión en esta vida y debemos dedicarnos a ella con un servicio fiel y responsable “hasta que el Señor venga”.
Sobre la vigilancia y la responsabilidad del cristiano decía el Papa Francisco en el ángelus del 7 de agosto de 2022: “al final de nuestra vida nos pedirá cuentas de los bienes que nos ha encomendado; por esto, vigilar significa también ser responsables, es decir, custodiar y administrar esos bienes con fidelidad. Hemos recibido tanto: la vida, la fe, la familia, las relaciones, el trabajo, pero también los lugares en los que vivimos, nuestra ciudad, la creación. Hemos recibido muchas cosas. Tratemos de preguntarnos: ¿cuidamos de este patrimonio que el Señor nos ha dejado? ¿Custodiamos la belleza o usamos las cosas solo para nosotros y para nuestras conveniencias del momento? Tenemos que pensar un poco en esto: ¿somos custodios de lo que se nos ha dado?
Hermanos y hermanas, caminemos sin miedo, en la certeza de que el Señor nos acompaña siempre. Y estemos despiertos, para que no nos durmamos mientras el Señor pasa. San Agustín decía: “Tengo miedo de que el Señor pase y no me dé cuenta”; de estar dormido y no darme cuenta de que el Señor pasa. ¡Estad despiertos! Que nos ayude la Virgen María, que ha acogido la visita del Señor y, con prontitud y generosidad, ha dicho su “he aquí”.
Por tanto, “la vida cristiana es como una larga vigilia que parece no acabar pero que está abierta al amanecer del nuevo día. Nuestra espera está hecha de certeza y de sorpresa, de fortaleza y esperanza. Al «estar preparados» responde también el «no teman, pequeño rebaño»”7.
A modo de conclusión, nos parece muy buena la síntesis de H. U. von Balthasar8: "Todos los textos de esta celebración nos exigen vivir en tensión, en movimiento (éxodo), desinstalados, en estado de peregrinación, en una palabra: vivir en vela, en vela en razón de la fe, en razón de la promesa de Dios, en razón de las cuentas que habremos de rendir pronto".
¡Ojalá que el Señor nos encuentre velando y trabajando para su mayor gloria!
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
No temas
Señor y Padre nuestro,
Infunde en nosotros la confianza de los pequeños:
En brazos los acuna su madre,
Y en su regazo descansan sus sueños
Como corderos de tu rebaño
Vamos siguiendo tus pasos hasta alcanzar el Reino
Y nos das el alimento
De tu sangre y de tu cuerpo
Con esa fuerza discernimos los signos de los tiempos
A tu servicio, en camino pero no aturdidos
Atentos, siempre atentos pues…
Para el distraído, habrá un castigo severo
Hemos recibido la filiación, no como premio
Solo el amor entiende el Don del cielo:
La Herencia de Quien se entregó por entero
Y nos abrió las puertas hasta su regreso
Ese día te rogamos Señor, nos encuentres despiertos
Las manos llenas de frutos y plenos de alegría
Testigos de la Verdad y la Justicia
Mensajeros de la Paz y la Vida. Amén.
1 Cf. J. Vilchez, Sabiduría (Verbo Divino; Estella 1990) 309-313.
2 D. Barsotti, Meditazione sul libro Della Sapienza (Queriniana; Brescia 1985) 223-224.
3 El Evangelio según San Lucas II (Sígueme; Salamanca 2002) 383.
4 Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 245.
5 Nos informa A. Rodríguez Carmona que “la noche duraba de seis de la tarde a seis de la mañana. Lucas parece seguir la división romana de la noche en cuatro vigilias de tres horas cada una, pues los judíos y los griegos la dividían en tres vigilias de cuatro horas”, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 248-249.
6"En la lectura evangélica el fragmento más significativo es el central, que apela a la vigilancia. Los textos iniciales y finales son considerados como menos importantes para el contexto litúrgico", P. Tena, El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C, 106.
7 Comisión Episcopal para el gran Jubileo, ¡Fuego he venido a traer a la tierra! Orientaciones para las homilías desde el domingo XIV hasta el domingo XX durante el año (CEA; Buenos Aires 1998) 99. 8 La luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 275.