22/06/2025
Primeira Leitura: Zacarias 12,10-11;13,1
Salmo Responsorial 62(63)- R- A minha alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus!
Segunda Leitura: Gálatas 3,26-29
Evangelho de Lucas 9,18-24
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Certo dia, 18Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então, Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” 19Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. 20Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém. 22E acrescentou: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. 23Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. 24Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”. – Palavra da salvação.
Lc 9,18-24
O que é que, definitivamente, nos torna cristãos? O que é essencial no ser cristão? A resposta só pode ser esta: o essencial da fé cristã é o próprio Cristo, ou seja, aderir de todo coração a Ele e a Ele seguir fielmente.
Antes de crer em um conjunto de verdades, a fé cristã consiste em crer em Jesus Cristo. É este o fator decisivo. Somente a partir da fé em Cristo, o cristão descobre a verdade última a partir da qual encontra o sentido da vida. O cristão conhece as outras interpretações da existência oferecidas por outras religiões; pode até mesmo reconhecer elementos positivos e valiosos. Mas só em Cristo encontra a verdade última, e só a partir dele pode viver.
A moral cristã não consiste primeiramente em observar um conjunto de leis morais, mas sobretudo em seguir Jesus como modelo de vida. O cristão não ignora outros projetos de éticos; conhece e reconhece estilos e comportamentos de outras religiões; está aberto e aberto a tudo que pode humanizar o mundo. Mas só em Cristo encontra o critério último para viver neste mundo.
A esperança cristã, mais do que esperar algo depois da morte, consiste em esperar em Jesus Cristo como único salvador, confiando a Ele todo nosso ser e todo o nosso futuro. O cristão conhece outras ofertas de salvação; observa quanto se espera da ciência e colabora lealmente com o progresso humano. Mas só em Cristo ressuscitado espera a salvação última que o homem não pode dar-se a si mesmo, e só a partir dEle pode esperar receber.
Creio em Jesus Cristo? Confio nele? É a Ele que sigo em todas as minhas decisões e ações? É nele que espero? Deixamos de ser cristãos, quando Cristo deixa se ser tudo. Por isso é tão importante ouvir sempre de novo a pergunta: Quem dizeis que eu sou?
12º domingo do Tempo Comum – Lc 9,18-24 – Ano C –
Como já mencionamos em outras oportunidades, é típico do evangelho de Lucas apresentar Jesus em oração.
Neste Evangelho apresenta-se Jesus, em várias oportunidades, a vida orante de Jesus de Nazaré, sua intimidade com o Pai, que busca espaços concretos de encontro com Ele.
É o caso da perícope de hoje:"Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado". Podemos pensar que a oração é uma experiência pessoal, mas o evangelho nos mostra sua dimensão comunitária: "os discípulos estavam com ele".
Olhando para Jesus e seus discípulos/as, descobrimos que o jeito que ele teve para despertar neles/as a vontade de rezar, foi ele mesmo fazer a experiência da oração, rezar diante deles e com eles/as!
Destacamos aqui a força do testemunho. Hoje em dia as pessoas, os/as jovens vão querer rezar ao Deus de Jesus, se conhecerem cristãos/ãs que gostem de rezar. As crianças vão querer conhecer e "falar" com "Papai do céu" se encontrarem em sua família, pais, irmãos/ãs que vivem com naturalidade a relação com Deus.
A oração é uma experiência de comunhão, de relação com Deus, a quem Jesus chama de Pai. Por isso, quando os/as discípulos/as pedem que Ele lhes ensine a rezar, sua resposta é apresentar-lhes ao Pai e seu projeto de vida.
Foi o que depois a comunidade cristã traduziu na oração do Pai-Nosso. Mas é importante entender que ela não é uma "fórmula" de oração, mas a expressão que condensa um estilo de vida marcada pela relação com Deus Pai e seus filhos e filhas. É a oração do Reino de Deus.
Quando rezamos, o que fazemos? Relacionamos-nos com o Outro, ou repetimos frases de cor?
Continuando com o texto de hoje, o evangelista nos surpreende com a pergunta de Jesus: "Quem dizem as multidões que eu sou?". Mas, podemos nos perguntar: qual é a relação que existe entre o momento de oração que foi apresentado no inicio deste texto e esta pergunta para os que estavam com ele?
A oração não é só um momento do dia, estende-se a todo o dia, a oração é o coração da amizade com Jesus que cresce e se desenvolve no seguimento.
E esse seguimento alimenta o conhecimento da pessoa de Jesus. É no seguimento de Jesus que conhecemos sua riqueza, seu Mistério, que ele alimenta nossa vida no dia a dia.
Por isso, a resposta que Pedro dá é, sem dúvida, fruto de todo um tempo de convivência. Um tempo de estar com Jesus onde ele descobriu, por obra do Espírito, quem ele era: "O Messias de Deus".
As palavras que Lucas coloca nos lábios de Jesus são um chamado de atenção à comunidade para não parar na sua caminhada atrás dos passos do Mestre.
Outra idéia forte no evangelho de Lucas é a do caminho e, sobretudo, o caminho a Jerusalém. A vida de Jesus está marcada por essa caminhada ou subida a Jerusalém, que ele faz decididamente (cfr. Lc 9, 51).
O Messias, o Ungido de Deus que Lucas nos apresenta, aquele que vem libertar o povo da escravidão (Lc 4, 18-21) é aquele que passa pela cruz e vive a ressurreição. Ou seja, caminho da libertação é criado, gerado na cruz e ressurreição de Jesus de Nazaré.
Se esse é o caminho do Mestre, não é diferente para sua comunidade que quer também ela servir o Reino de Deus, ser instrumento de libertação e vida eterna para os diferentes povos da terra.
As palavras de Jesus no final deste texto são bem claras a respeito: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga".
Mas é importante entender que o seguimento de Jesus não é um exercício de força de vontade, de ascese, como muitas vezes foi entendido. Ela está presente nessa caminhada, mas só porque antes se conheceu a força do amor, a importância e riqueza da amizade com Jesus.
E porque se quer seguir a esse Amigo e continuar seu projeto de vida, seus seguidores/as são capazes de renunciar até mesmo à sua própria vida, para que outros/as a tenham em abundância.
Diferente de Marcos, Lucas acrescenta que a cruz tem que ser abraçada cada dia, isto é, o evangelista não está falando da última cruz da vida, e sim daquela que se vive diariamente, realizada, desde as pequenas coisas, em uma vida de solidariedade, doação de si, amor ao próximo...
O amor a Jesus leva a quem queira segui-Lo, aprender a viver não para si próprio senão para os demais. É um estilo de vida diferente marcado pelo serviço, pelo amor até o extremo.
É uma proposta que vai em contracorrente com a mentalidade individualista e narcisista de nossa época, mas, sem dúvida, responde perfeitamente ao ideal de felicidade e realização que todo ser humano deseja alcançar. Vale a pena colaborar com essa utopia!
“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9,20)
As primeiras comunidades cristãs conservaram a recordação deste episódio evangélico como um relato de importância vital para os seguidores de Jesus. Sua intuição foi certeira: sabiam que a comunidade de Jesus deveria escutar permanentemente a pergunta que um dia Jesus fizera a seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” A resposta a esta pergunta não cabe numa fórmula ou numa definição da identidade de Jesus.
Mas, o fato de fazer esta pergunta instigante mantém acesa a chama do seguimento e identificação com Ele.
De fato, se nas comunidades cristãs deixamos apagar nossa fé em Jesus, esvaziamos nossa identidade cristã. Não somos chamados a “seguir uma religião” (com seus ritos, doutrinas, normas...), mas uma Pessoa; isso tem implicações sérias na nossa vocação cristã, ou seja, prolongar o modo de ser e agir do próprio Jesus.
Quando nos distanciamos d’Ele através de “práticas religiosas” estéreis e vazias de compromisso, não conseguiremos viver com audácia criadora a missão que o próprio Jesus nos confiou; não nos atreveremos a seguir os Seus passos; o Evangelho irá se converter em letra morta; nada novo e verdadeiro nascerá entre nós; não teremos a força para construir um mundo mais humano; a comunhão da Igreja se partirá, a nossa esperança apagar-se-á; não nos atreveremos a enfrentar o momento atual, abertos à novidade do Seu Espírito; seguiremos adormecidos na nossa religião burguesa e nos asfixiaremos em nossa mediocridade.
Se não retornarmos a Jesus com mais verdade e fidelidade, a desorientação irá nos paralisando, nosso anúncio da Boa Notícia continuará perdendo credibilidade, nossas orações serão palavras vazias, crescerão as divisões, apagar-se-á o diálogo e aumentará a intolerância...
Jesus é a chave, o fundamento e a fonte de tudo o que somos, dizemos e fazemos.
Segundo o Evangelho deste domingo, ao longo do percurso de sua vida pública, Jesus revelou-se como uma “presença instigante”, ou seja, com suas “perguntas” ajudou cada pessoa a des-velar e aprofundar sua vivência no seguimento, a descrever seus “estados de ânimo”, a vislumbrar o sentido daquilo que estavam buscando...
A originalidade da presença de Jesus não consistia em comunicar uma doutrina, uma teologia, uma moral... nem oferecer “respostas prontas”, mas em ser “pro-vocador” das grandes questões existenciais e desafiadoras, dirigidas a cada um, possibilitando-o acesso às reservas interiores de criatividade e imaginação.
Mais ainda: a presença “pro-vocativa” de Jesus reacendeu nos seus discípulos este atributo tão humano, que é a capacidade de questionar-se para buscar um sentido para a própria existência.
Hoje, as mesmas perguntas feitas pelo próprio Jesus colocam o seu seguidor em contínua busca, sintetizada na expressão “buscar e encontrar a Vontade de Deus”. São perguntas que o abrem para o futuro, para o novo, para uma decisão...
A pergunta de Jesus – que Lucas apresenta em um contexto de oração – é uma pergunta expansiva e nos afeta a todos nós, seguidores(as) d’Ele: É uma pergunta onde não valem respostas secas (“um profeta”) nem respostas aprendidas (teologicamente corretas), porque remetem à vivência pessoal e única de cada um.
Identificar-se com Jesus tem um preço: significa viver a fidelidade a uma causa, a do Reino, até o fim, contando com o risco de perseguição, de rejeição e de cruz.
Uma leitura superficial do evangelho de hoje pode dar a impressão de que o cristianismo é a religião que preconiza o sofrimento, a renúncia, a negação de si mesmo, o esvaziamento da própria identidade. O sofrimento foi de tal modo exaltado que levou muita gente a viver na passividade e resignação, esvaziando o sentido do seguimento e bloqueando a esperança. De fato, existem sofrimentos que são vazios, sem sentido, insensatos..., pois fecham a pessoa em si mesma, na sua aflição e angústia; não apontam para o futuro, para a vida.
Como consequência, a Cruz ocupou o primeiro lugar e tudo passou a girar em torno a ela.
Mas, Jesus não buscou a dor nem negou a vida. Ele não veio complicar a vida com mais leis, ritos, doutrinas..., alimentando culpa e sofrimento naqueles que o seguem.
Pelo contrário, a missão primeira de Jesus foi a de aliviar toda dor humana. Por isso, suas inumeráveis curas relatadas nos evangelhos. Suas palavras não foram uma exaltação do sofrimento, senão que expressaram uma grande sabedoria: elas buscaram “despertar” as pessoas para que pudessem viver mais intensamente e perceber a melhor atitude frente à vida; elas condensaram o significado de uma vida vivida por Jesus na fidelidade ao Pai que deseja que todos vivam intensamente.
Aqui encontramos o sentido da verdadeira “renúncia”, anunciada e vivida pelo próprio Jesus. Medíocre é a pessoa que, presa ao seu “ego”, não ousa, não arrisca, pois perdeu a capacidade de criar e inovar.
No fundo, “renunciar a nós mesmos” se revela como a grande possibilidade de salvar nosso próprio ser.
A renúncia do próprio “ego” – a virtude da abnegação – é um caminho de libertação, que nega para afirmar, que abandona para acolher, que faz percorrer um caminho de um “ego ensimesmado” a um “eu verdadeiro” e aberto a tudo.
A afirmação – “quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la” – não é um exagero e nem um desprezo pela vida. Fazer com que tudo gire em torno ao nosso falso “eu” é dar importância em nós ao que menos vale. Não deixaremos de ser egoístas se mantivermos o apego ao “ego”. Na medida em que colocamos como objetivo último salvar nosso “ego”, viveremos como egoístas e, portanto, nos perderemos como pessoa.
“Perder a vida” (o grego original não diz “bios”, nem “zoos”, mas “psyché” – “eu psicológico”) significa não se reduzir ao “eu superficial” ou “ego”. Trata-se de negar a “ilusão do eu”, para acessar à Vida, que é nossa verdadeira identidade. Porque só quando deixamos de nos identificar com o “ego”, tomamos consciência da Vida que somos. Essa é a Vida de que fala o evangelho, a mesma Vida que Jesus viveu, com a qual Ele mesmo estava identificado (“eu sou a Vida”) e que buscou despertar nos seus seguidores.
Todos nós carregamos capacidades ainda adormecidas, potencialidades quase divinas que, em alguns momentos privilegiados, descobrimos em nosso interior. E, no entanto, ao mesmo tempo, estremecemos com nossa fraqueza, com nossa incapacidade, com nossos receios, diante dessas mesmas possibilidades.
Deixar-nos determinar pelo “ego atrofiado” implica cair num conformismo doentio e na mediocridade tranquila e temerosa; ou seja, medo de ir além de nós mesmos, para além de nossas capacidades. Quem tem medo afunda-se no mar escuro e revolto da vida.
“Renunciar a nós mesmos” – “perder a nossa vida”, desvela um dinamismo ou força de morte em nosso interior, marcado pelo medo de ir além de nós mesmos; trata-se do medo de nossa própria grandeza, o medo da nossa missão, medo da vastidão dos nossos sonhos... Por não termos horizontes, nós nos limitamos ao nosso modo habitual e fechado de viver; acomodamo-nos e não fazemos a travessia; não fazemos as coisas com paixão e com criatividade.
Há uma obesidade espiritual, a do próprio “ego”, que provém de nossa “gula” existencial, ou seja, alimentar-nos dos restos de vaidade, soberba, auto-centramento... A configuração com Jesus Cristo exige uma terapia de emagrecimento espiritual, que se realiza através do esvaziamento interior, da abnegação, da renúncia de querer ser o centro de tudo...
Para isso é preciso “renunciar a tudo” para sermos pessoas plenificadas, no amor e na partilha. “Renunciar a tudo” para que outros possam viver, para que todos possam compartilhar fraternalmente tudo.
Para meditar na oração:
Jesus faz duas perguntas comprometedoras aos discípulos:
- “Quem diz o povo que eu sou?”
- “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Agora, inverta o sentido da pergunta:
- “Senhor, que pensas de mim como pessoa, como cristão(ã)”?
- “Em que situações minha vida tem semelhanças com a tua Vida?”
- “Onde minha vida se distancia de tua Vida, revelando-se achatada, estéril, vazia, sem compromisso?”
As primeiras gerações cristãs conservaram a lembrança deste episódio evangélico como um relato de importância vital para os seguidores de Jesus. A sua intuição era certeira. Sabiam que a Igreja de Jesus deveria escutar uma e outra vez a pregunta que um dia fez Jesus aos seus discípulos nos arredores de Cesárea de Filipo: “Vós, quem dizeis que Eu sou?”.
Se nas comunidades cristãs deixamos apagar a nossa fé em Jesus, perderemos a nossa identidade. Não conseguiremos viver com audácia criadora a missão que Jesus nos confiou; não nos atreveremos a enfrentar o momento atual, abertos à novidade do Seu Espírito; iremos asfixiar na nossa mediocridade.
Não são tempos fáceis para nós. Se não voltamos para Jesus com mais verdade e fidelidade, a desorientação nos paralisará; as nossas grandes palavras continuarão a perder credibilidade. Jesus é a chave, o fundamento e a fonte de tudo o que somos, dizemos e fazemos. Quem é hoje Jesus para os cristãos?
Nós confessamos, como Pedro, que Jesus é o «Messias de Deus», o Enviado do Pai. É certo: Deus amou tanto o mundo que nos ofereceu Jesus. Saberemos nós, os cristãos, acolher, cuidar, desfrutar e celebrar esta grande oferta de Deus? É Jesus o centro das nossas celebrações, encontros e reuniões?
Confessamos também «Filho de Deus». Ele pode nos ensinar a conhecer melhor Deus, a confiar mais na sua bondade de Pai, a escutar com mais fé sua chamada para construir um mundo mais fraterno e justo para todos. Descobrimos nas nossas comunidades o verdadeiro rosto de Deus encarnado em Jesus? Sabemos anunciá-Lo e comunicá-Lo como uma grande notícia para todos?
Chamamos a Jesus «Salvador» porque tem força para humanizar as nossas vidas, libertar as nossas pessoas e encaminhar a história humana para a sua verdadeira e definitiva salvação. É esta a esperança que se respira entre nós? É esta a paz que se contagia a partir das nossas comunidades?
Confessamos a Jesus como nosso único «Senhor». Não queremos ter outros senhores nem submeter-nos a falsos ídolos. Mas, ocupa Jesus realmente o centro das nossas vidas?, damos-lhe primazia absoluta nas nossas comunidades?, colocamo-lo acima de tudo e de todos? Somos de Jesus? É Ele quem nos anima e faz viver?
A grande tarefa dos cristãos é hoje juntar forças e abrir caminhos para reafirmar muito mais a centralidade de Jesus na Sua Igreja. Tudo o mais vem depois.
Não basta ter os termos e títulos certos – temos que ter o conteúdo certo. A Bíblia nos conta que Deus criou o homem e a mulher na sua imagem e semelhança, mas na verdade frequentemente criamos Deus em nossa imagem e semelhança, para que ele não nos incomode. A nossa tendência é de seguir um messias triunfante, e não o Servo Sofredor. Mas, para Jesus, não há meio-termo. O discípulo tem que andar nas pegadas do seu mestre:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga”. (Lc 9,23)
O seguimento de Jesus leva à cruz, pois a vivência das atitudes e opções dele vai nos colocar em conflito com os poderes contrários ao Evangelho. Carregar a cruz, não é aguentar qualquer sofrimento com passividade. Se fosse, a religião seria masoquismo! Carregar a cruz é viver as consequências de uma vida coerente com o projeto do Pai, manifestado em Jesus. Segui-lo não é tanto fazer o que Jesus fazia, mas o que ele faria se estivesse aqui hoje. Como ele foi morto, não pelo povo, mas por grupos de interesse bem claros “os anciãos, os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei”, (a elite dominante em termos econômicos, religiosos e ideológicos), os seus seguidores entrarão em conflito com os grupos que hoje representam os mesmos interesses. Por isso sempre haverá a tentação de criarmos um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitado a uma religião intimista e individualista, sem consequências políticas, econômicas ou ideológicas. Seria cair na tentação de Pedro, conforme o relato de Marcos. Por isso muitas pessoas, inclusive no seio da Igreja, contestam e criticam o Papa Francisco, pois ele continuamente nos demonstra as consequências práticas do seguimento de Jesus, algo que nos desafia e desinstala – e nos incomoda no nosso comodismo.
O texto faz ressoar para cada um de nós as duas perguntas de Jesus. É fácil responder o que os homens dizem dele – o que dizem o Papa, o Bispo, o catequista, os teólogos, a TV. Mas esta pergunta não é tão importante. É a segunda que cada um tem que responder: “Quem É Jesus para mim?” E a resposta se dará não tanto com os lábios, mas com as mãos e os pés. Respondemos quem é Jesus para nós, pela nossa maneira de viver, pelas nossas opções concretas, pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos cuidado com qualquer Jesus que não seja exigente, que não traz consequências sociais, que não nos engaja na luta por uma sociedade mais justa. Pois o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus do Evangelho, não foi assim, e deixou bem claro:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará”(Lc 9,24)
Lucas ama mostrar Jesus como um mestre peregrino, assim, encontramos Jesus num permanente caminhar de um lado para o outro levando a Boa Nova do reino de Deus a todo o povo. Neste caso concreto estamos na fase final da etapa da Galileia. Ao longo deste caminhar, alguns foram se juntando a ele, formou-se um grupo de discípulos que se sentem entusiasmados com o agir deste mestre singular. A caminhada, porém, chegou a um momento decisivo: a subida a Jerusalem, antes de entrar nela, Jesus faz uma “sondagem”: quem dizem as pessoas que eu sou? Todo o evangelho é marcado por esta pergunta, que logo a seguir fica pessoal para aqueles que o acompanham de perto.
O ponto de partida deste episódio é a revelação de que Jesus reza a sós, este que é um outro elemento que o evangelista Lucas gosta de ressaltar. Lucas mostra como Jesus, antes de algo importante, reza. Dando a entender que a ação de Jesus não é capricho pessoal, mas um realizar da vontade do Pai.
A caminhada chegara a um momento decisivo e Jesus quer fazer uma espécie de balanço daquele que foi a sua missão até aquele ponto, assim, lança uma curta “sondagem”: quem dizem as multidões que eu sou? É importante recordar que aquela época era marcada pelo sofrimento do Povo de Deus, que tinha gerado uma enorme expectativa messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão trazia, muitos sonhavam com a chegada de um libertador anunciado pelos profetas. Assim, não é de espantar que “surgissem” alguns clamando ser os tais “enviados de Deus”, os quais criavam à sua volta um clima de ebulição, arrastavam atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabavam, muitas vezes, aniquilados pelas tropas romanas. Deste modo Jesus quer saber o que pensam as pessoas sobre a sua ação/missão. Aparentemente, Jesus não é considerado pelas multidões “o messias”: o Povo identifica-o, preferentemente, com Elias, o profeta que os judeus consideravam estar junto de Deus, responsável pelo anúncio do grande momento da libertação do Povo de Deus (vers. 19); talvez as atitudes e a mensagem de Jesus não correspondessem àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor. A resposta do povo não está totalmente correta, logo Jesus se volta para os “seus” procurando saber se estes o conhecem de verdade. De fato, é isso que acontece. Pedro não tem dúvidas ao afirmar: “Tu és o messias de Deus” (vers. 20). Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecer nele esse “enviado” de Deus. Jesus parece concordar com a afirmação de Pedro. No entanto, Jesus está consciente que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso. Assim, rapidamente desfaz possíveis equívocos e esclarece as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar a humanidade; no entanto, não vai realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida (vers. 22). No seu horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por amor, que Ele realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu Povo.
A última parte do texto (vers. 23-24) contém palavras destinadas aos discípulos: aos de ontem, de hoje e de amanhã. Todos são convidados a seguir Jesus, isto é, a tomar a cruz do amor e da entrega, a derrubar os muros do egoísmo e do orgulho, a renunciar a si mesmo e a fazer da vida um dom. Isto não deve acontecer em circunstâncias excepcionais, mas na vida quotidiana (“tome a sua cruz todos os dias”). Desta forma fica definida a existência cristã.
A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.
O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.
A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.
A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.
LEITURA I – Zac 12,10-11;13,1
AMBIENTE
Como o livro de Isaías, o livro de Zacarias não pode ser atribuído a um só e mesmo profeta. Só os capítulos 1-8 podem ser atribuídos a esse Zacarias, filho de Baraquias (cfr. Zac 1,1.7), que actuou em Jerusalém no pós-exílio e teve um papel preponderante na reconstrução do Templo (estamos à volta de 520 a.C.).
Os capítulos 9-14 parecem ser uma outra colecção de textos, que provêm de um, ou mais provavelmente de vários autores tardios; costuma falar-se deste conjunto de textos usando a designação “Deutero-Zacarias”.
A época em que os textos do Deutero-Zacarias apareceram também é muito discutida (a partir das referências históricas do livro, é possível deduzir todas as épocas, desde o séc. VIII até ao séc. II a.C.). No entanto, a opinião mais difundida actualmente é a que situa a redacção destes capítulos em finais do séc. IV e durante o séc. III a.C. (o ambiente parece revelar a época posterior às vitórias de Alexandre da Macedónia).
O texto que nos é proposto integra uma colecção que vai de 12,1 a 14,21. Essa colecção apresenta-nos um mosaico de temas diversos, embora unidos por uma certa expectativa messiânica. Depois do anúncio da intervenção definitiva de Deus na pessoa de um rei/messias que, na humildade, procurará instaurar o reino ideal (cf. Zac 9,9-10) e da referência a um “pastor” enigmático que virá apascentar o rebanho de Deus (cf. Zac 11,4-17), os textos apresentam-nos um conjunto de oráculos que se referem à salvação e glória de Jerusalém. É nesse enquadramento que podemos situar o nosso texto.
MENSAGEM
O profeta começa por anunciar a efusão de um espírito de piedade e de súplica sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém: esse espírito irá provocar uma transformação interior que colocará toda a gente na órbita de Deus, numa atitude de confiança e de abertura a Deus. Tal ação resultará da atividade profética de um misterioso “trespassado”. Primeiro, o autor identifica-o com Deus (“olharão para mim”, a quem trespassaram”); mas, logo a seguir, a frase distingue de novo Deus e o misterioso personagem evocado. O “’ly” (“para mim”) significa, provavelmente, que o próprio Deus Se sente atingido pela morte infligida ao seu enviado.
Quem é este personagem? Há quem o identifique com o rei Josias, morto em Meggido em combate contra os egípcios (cf. 2 Re 23,29-30); há, também, quem diga que esta figura se inspira no sumo sacerdote Onias III (cf. 2 Mac 4,34) ou em Simão Macabeu (cf. 1 Mac 16,11-17; se este personagem fosse Simão Macabeu, teríamos de colocar a redacção deste texto na segunda metade do séc. II a.C.). Pode, ainda, ser um qualquer profeta cujo nome desconhecemos… De qualquer forma, trata-se de um mártir inocente e anónimo, por cuja morte os habitantes de Jerusalém se tornaram responsáveis. A figura que melhor ilumina esta passagem ainda é a do “servo sofredor” de Is 53, mesmo se os termos utilizados são bastante diferentes. Como acontece com o “servo de Jahwéh”, o sacrifício deste mártir inocente é fonte de transformação dos corações (cf. Zac 12,10) e de purificação (cf. Zac 13,1): a contemplação dessa vítima inocente iniciará no Povo um processo de arrependimento e de purificação. A repetida evocação de David neste contexto (cf. Zac 12,7-8.10.12; 13,1) liga este personagem com a promessa messiânica. João, o autor do Quarto Evangelho, verá em Jesus, morto na cruz e com o coração trespassado pela lança do soldado, a concretização da figura aqui evocada (cf. Jo 19,37).
LEITURA II – Gal 3, 26-29
AMBIENTE
Continuamos a ler essa carta enviada aos habitantes da região central da Ásia Menor (Galácia), onde se discute se Cristo basta para chegar à salvação ou são precisas também as obras da Lei. Já sabemos que, para Paulo, só Cristo salva; por isso, os gálatas são convidados a fazer “ouvidos de mercador” às exigências dos “judaizantes” e a não se preocuparem com a circuncisão, nem com outras exigências da Lei de Moisés.
Este texto, em concreto, aparece na segunda parte da Carta aos Gálatas (cf. Gal 3,1-6,18), em que Paulo apresenta uma reflexão sobre o cristão e a liberdade. Nos versículos anteriores, Paulo comparara a Lei a um “carcereiro” (cf. Gal 3,23) e a um “pedagogo” greco-romano (cf. Gal 3,24). Estas duas imagens são bem elucidativas: o carcereiro da época era, com muita frequência, exemplo de crueldade; e o pedagogo (geralmente um escravo pouco instruído que acompanhava a criança à escola e a mantinha disciplinada) também não era muito apreciado e evocava a imagem de reprimendas e castigos. É verdade, considera Paulo (cf. Gal 3,25), que é melhor ser conduzido pela mão do que perder-se no caminho; mas seria uma estupidez aspirar a viver sempre no cárcere ou considerar como um ideal ser sempre conduzido pela mão, sem experimentar a liberdade.
MENSAGEM
Aos gálatas, tentados a voltar à escravidão da Lei, Paulo recorda a experiência libertadora que resultou da sua adesão a Cristo. Pelo Batismo, os crentes foram “revestidos de Cristo” e tornaram-se “filhos de Deus”. Dizer que os crentes foram “revestidos de Cristo” significa que entre os batizados e Cristo se estabeleceu uma relação que não é apenas exterior, mas que toca o âmago da existência: pelo Baptismo, os cristãos assumiram a existência do próprio Cristo e tornaram-se, como Ele, pessoas que renunciaram à vida velha do egoísmo e do pecado, para viverem a vida nova da entrega a Deus e do amor aos irmãos. Em todos os crentes circula, agora, a vida do próprio Cristo; essa vida veste-os completamente, da cabeça aos pés.
A primeira consequência que daqui resulta é que os cristãos são livres: eles receberam de Cristo uma vida nova e não estão mais sujeitos à escravatura do egoísmo, do pecado e da morte. A segunda consequência que daqui resulta é que os cristãos são iguais. Identificados com Cristo (porque todos – judeus e não judeus, homens e mulheres – foram revestidos da mesma vida), não há qualquer diferença ou discriminação quanto à raça, ou ao sexo; todos são “filhos”, com igual direito quanto à herança (todos são filhos do mesmo Pai e todos têm acesso, em Cristo, à mesma vida plena). A “salvação” que Cristo trouxe significa a igualdade fundamental de todos. A questão é esta: depois de experimentar isto, os gálatas estarão dispostos a ser, outra vez, escravos?
EVANGELHO – Lc 9,18-24
AMBIENTE
Estamos na fase final da etapa da Galileia. Jesus passou algum tempo a apresentar o seu programa e a levar a Boa Nova aos pobres, aos marginalizados, aos oprimidos (cf. Lc 4,16-21). À volta d’Ele, foi-se formando um grupo de “testemunhas”, que apreciaram a sua actuação e que se juntaram a esse sonho de criar um mundo novo, de justiça, de liberdade e de paz para todos. Agora, antes de começar a etapa decisiva da sua caminhada nesta terra (o “caminho” para Jerusalém, onde Jesus vai concretizar a sua entrega de amor), os discípulos são convidados a tirar as suas conclusões acerca do que viram, ouviram e testemunharam. Quem é este Jesus, que se prepara para cumprir a etapa final de uma vida de entrega, de dom, de amor partilhado? E os discípulos estarão dispostos a seguir esse mesmo caminho de doação e de entrega da vida ao “Reino”?
MENSAGEM
A cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus (vers. 18). É um dado típico de Lucas que põe sempre Jesus a rezar antes de um momento fundamental (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,28-29; 10,21; 11,1; 22,32.40-46; 23,34). A oração é o lugar do reencontro de Jesus com o Pai; depois de rezar, Jesus tem sempre uma mensagem importante – uma mensagem que vem do Pai – para comunicar aos discípulos. A questão importante que, no contexto do episódio de hoje, Jesus tem a comunicar, tem a ver com a questão: “quem é Jesus?”
A época de Jesus foi uma época de crise profunda para o Povo de Deus; foi, portanto, uma época em que o sofrimento gerou uma enorme expectativa messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão trazia, o Povo de Deus sonhava com a chegada desse libertador anunciado pelos profetas – um grande chefe militar que, com a força das armas, iria restaurar o império de seu pai David e obrigar os romanos opressores a levantar o jugo de servidão que pesava sobre a nação. Na época apareceram, aliás, várias figuras que se assumiram como “enviados de Deus”, criaram à sua volta um clima de ebulição, arrastaram atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabaram, invariavelmente, chacinados pelas tropas romanas. Jesus é também um destes demagogos, em quem o Povo vê cristalizada a sua ânsia de libertação? Aparentemente, Jesus não é considerado pelas multidões “o messias”: o Povo identifica-o, preferentemente, com Elias, o profeta que as lendas judaicas consideravam estar junto de Deus, reservado para o anúncio do grande momento da libertação do Povo de Deus (vers. 19); talvez a sua postura e a sua mensagem não correspondessem àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor.
Os discípulos, no entanto, companheiros de “caminho” de Jesus, deviam ter uma perspectiva mais elaborada e amadurecida. De fato, é isso que acontece; por isso, Pedro não tem dúvidas em afirmar: “Tu és o messias de Deus” (vers. 20). Pedro representa aqui a comunidade dos discípulos – essa comunidade que acompanhou Jesus, testemunhou os seus gestos e descobriu a sua ligação com Deus. Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecer nele esse “enviado” de Deus, da linha davídica, que havia de traduzir em realidade essas esperanças de libertação que enchiam o coração de todos.
Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso e apressa-se a desfazer possíveis equívocos e a esclarecer as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida (vers. 22). No seu horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por amor, que Ele realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu Povo. A última parte do texto (vers. 23-24) contém palavras destinadas aos discípulos: aos de ontem, de hoje e de amanhã. Todos são convidados a seguir Jesus, isto é, a tomar – como Ele – a cruz do amor e da entrega, a derrubar os muros do egoísmo e do orgulho, a renunciar a si mesmo e a fazer da vida um dom. Isto não deve acontecer em circunstâncias excepcionais, mas na vida quotidiana (“tome a sua cruz todos os dias”). Desta forma fica definida a existência cristã.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar os seguintes elementos:
¨ O Evangelho de hoje define a existência cristã como um “tomar a cruz” do amor, da doação, da entrega aos irmãos. Supõe uma existência vivida na simplicidade, no serviço humilde, na generosidade, no esquecimento de si para se fazer dom aos outros. É esse o “caminho” que eu procuro percorrer?
¨ Na sociedade em geral e na Igreja em particular, encontramos muitos cristãos para quem o prestígio, as honras, os postos elevados, os tronos, os títulos são uma espécie de droga de que não prescindem e a que não podem fugir. Frequentemente, servem-se dos carismas e usam as tarefas que lhe são confiadas para se auto-promover, gerando conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar. À luz do “tomar a cruz e seguir Jesus”, que sentido é que isto fará? Como podemos, pessoal e comunitariamente, lidar com estas situações? Podemos tolerá-las – em nós ou nos outros? Como é possível usar bem os talentos que nos são confiados, sem nos deixarmos tentar pelo prestígio, pelo poder, pelas honras? Tem alguma importância, à luz do que Jesus aqui ensina, que a Igreja apareça em lugar proeminente nos acontecimentos sociais e mundanos e que exija tratamentos de privilégio?
¨ Quem é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos livros de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros? Ou é alguém que está no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real impacto no nosso dia a dia, cuja vida circula em nós e nos transforma, com quem dialogamos, com quem nos identificamos e a quem amamos?
¨ É na oração que eu procuro perceber a vontade de Deus e encontrar o caminho do amor e do dom da vida? Nos momentos das decisões importantes eu sinto a necessidade de dialogar com Deus e de escutar o que Ele tem para me dizer?
Não temos hoje o texto de Dom Damian Nannini porque na comunidade dele, na Argentina, se comemora, neste domingo, o dia de Corpus Christi.