29/09/2024
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1ª Leitura: Números 11,25-29
Salmo Responsorial 18(19)-R- A lei do /senhor Deus é perfeita, alegria ao coração.
2ª Leitura Tiago 5,1-6
Evangelho Marcos 9,38-43.45.47-48
"38.João disse-lhe: “Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em teu nome, e lho proibimos”.* 39.Jesus, porém, disse-lhe: “Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar mal de mim. 40.Pois quem não é contra nós, é a nosso favor. 41.E quem vos der de beber um copo de água porque sois de Cristo, digo-vos em verdade: não perderá a sua recompensa. 42.Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar! 43.Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível""45.Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível""47.Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo, 48.onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga."
Mc 9,38-43.45.47-48
Ouvimos hoje: se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Quem não fica perturbado com esta ameaça tão severa de Jesus.
O escândalo na Bíblia significa duas coisas: tropeço e obstáculo. No primeiro significado, indica algo que faz cair, que desvia do caminho, que leva ao pecado e à perdição. No segundo significado indica algo que impede e fecha o acesso, um muro que torna inacessível algo. Jesus quando fala de escândalo pensa nesses dois significados. Quando ele fala de escandalizar um destes pequeninos deseja dar a entender o primeiro significado. Trata-se de desviar os pequeninos do caminho da salvação, de fazê-los cair no pecado, de arrastá-los pelo exemplo, palavras e engano ao mal. Quando ele fala do olho, da mão e dos pés que escandalizam, quer destacar o segundo significado. Trata-se de algo que impede a entrada no Reino, de um obstáculo à salvação.
No caso do escândalo dos pequeninos há ainda o agravante de que o pecado de fazer cair no pecado envolve os fracos e os vulneráveis. Este escândalo é tão grave aos olhos de Jesus que ele usa a imagem de uma crueza incomum para indicar o castigo de tal pecado. O castigo para tal pecado é pior do que colocar uma pedra de moinho ao pescoço e ser jogado no mar!
Será que isso não é exagerado. Escandalizar os pequeninos que creem em Cristo é assim tão grave? Basta olhar ao nosso redor para descobrir como nós estamos nesta situação de escândalo ativo, continuado, organizado que inspirou a ameaça de Cristo. Quantos pequenos que creem em Cristo perdem a fé por causa de programas de televisão, filmes, jogos, conversar, espetáculos e até de aulas...
É só ouvir as letras de algumas músicas que nossas crianças e adolescente ouvem para perceber como eles são bombardeados com o que obsceno, imoral, feio e imbecil a todo momento, continuamente e em todo lugar. E se alguém ousa reclamar é taxado de obscurantista, carola, beato, intolerante. Fala-se a todo momento de que a arte deve ser livre, como se a arte tivesse a permissão de humilhar e ofender os cristãos, de vilipendiar o sagrado. Fala-se de realismo, como se a realidade fosse toda e somente a aberração sexual e a violência.
Temos motivo para tremer vivendo numa sociedade como a nossa que perverte os inocentes! Se não quisermos a condenação de Cristo precisamos com urgência oferecer às novas gerações a alternativa de viver com alegria o que é moral, o que é belo, o que é verdadeiro. Se não tivermos o cuidado de uma higiene mental e moral cotidiana e vigilante, a nossa sociedade receberá o castigo que já está às nossas portas.
Não podemos esquecer também do outro escândalo que é o de impedir as pessoas chegarem à fé. Quem é que coloca os maiores obstáculos para as pessoas crerem em Cristo. Nós mesmos! Muitos não têm fé por causa dos próprios cristãos que não vivem com coerência a própria fé. Se nó professamos a fé e prometemos viver o evangelho e depois, na vida, somos injustos com o próximo, insensíveis diante das necessidades e da dor, nós impedimos que as pessoas tomem a sério a Palavra de Jesus. É verdade que há também pessoas que não tem fé por preguiça ou por maldade. Mas há muitos que combatem a fé exatamente por causa do contratestemunho cristão.
Peçamos ao Senhor perdão por causa dos escândalos: dos escândalos que pervertem os pequenos e que nós permitimos que ainda aconteçam e dos obstáculos que nós pomos aos que não têm fé. Que a humilhação provocada pela consciência do pecado nos conduza à conversão urgente. Que a Palavra de Deus proclamada para abater e destruir, abata o nosso orgulho e a nossa falsa boa imagem de nós mesmos. Sobre a nossa humilhação e sobre o nosso arrependimento a Palavra de Deus tem o poder de fazer florir a conversão e a coragem para combater os escândalos e para não sermos nós o empecilho que impede o acesso à fé em Cristo.
O relato do evangelho de Marcos, indicado para este domingo, nos situa diante de duas grandes tentações que envenenam as relações na comunidade cristã: o preconceito e o escândalo.
Jesus é consciente de nossas fragilidades e incoerências; portanto, tem consciência também de que haverá escândalos e preconceitos entre seus seguidores. Por isso, nos alerta sobre a gravidade deles.
De fato, vivemos mergulhados em um mundo diversificado, fragmentado, complexo e frágil, cheio de agudas necessidades. Ferem a nossa sensibilidade a tremenda violência nas relações interpessoais, a cultura do ódio e da intolerância, o desprezo pelas diferenças étnicas e religiosas, a exclusão avassaladora...
Impulsionados pelo mesmo Espírito de Jesus, guiados pelos critérios do Evangelho, marcados pelos valores universais de respeito, dignidade, solidariedade e acolhida, somos mobilizados a viver atitudes mais humanizadoras, inspirando-nos no modo de ser e viver do Mestre da Galileia.
Na primeira parte do relato, João, o discípulo amado, ingenuamente revela, diante do Mestre, sua atitude preconceituosa ao proibir um homem de “expulsar demônios” em Seu nome. De acordo com esta visão míope, o critério já não é o bem que a pessoa faz, mas “porque não nos segue”. Não se preocupa com a saúde e a vida das pessoas, mas com o prestígio de grupo. Pretende monopolizar a ação salvadora de Jesus.
Todos sabemos que há um monstro que habita as profundezas de nosso ser, devorando-nos continuamente e expelindo seu veneno mortal: trata-se do preconceito. Ele constitui o risco permanente em nossa vida, pois limita a realidade, estreita o coração, inibe o olhar e nos faz incapazes de acolher o bem e a verdade presentes no outro. O mal que o preconceituoso faz a si mesmo e aos outros é enorme.
Marcado pela impaciência e desprovido do espírito de leveza, o preconceituoso é incapaz de relativizar os problemas, atrofia seu desenvolvimento criativo, aniquila seus sonhos e esfria seus relacionamentos. Vive o tempo todo petrificado em suas velhas e deformadas opiniões sobre tudo e sobre todos. Seu autoritarismo o leva a julgar os outros o tempo todo, vendo inimigos e concorrentes por todos os lados e acaba numa extrema solidão
Marcado pela impaciência e desprovido do espírito de leveza, o preconceituoso é incapaz de relativizar os problemas, atrofia seu desenvolvimento criativo, aniquila seus sonhos e esfria seus relacionamentos. Vive o tempo todo petrificado em suas velhas e deformadas opiniões sobre tudo e sobre todos. Seu autoritarismo o leva a julgar os outros o tempo todo, vendo inimigos e concorrentes por todos os lados e acaba numa extrema solidão.
Geralmente, os preconceituosos são dogmáticos e fervorosos, muitos deles tornam-se fundamentalistas, moralistas, legalistas, carregados de hostilidade e intolerância religiosa.
Ao tornarem absoluta uma verdade, os preconceituosos se condenam à intolerância e passam a não reconhecer e a respeitar a verdade e o bem presentes no outro. Não suportam a coexistência das diferenças, a pluralidade de opiniões e posições, crenças e ideias. Daí surgem o conservadorismo radical, o medo à mudança, a violência diante da crítica, a suspeita, a vigilância, o controle autoritário...
A inflexibilidade da alma preconceituosa está ligada ao orgulho; ela tem aquela postura de que tudo sabe e tudo controla, carecendo da humildade de “saber que não sabe”. Não tem senso de igualdade e semelhança, e muito menos de compaixão. Aliada à ignorância, não admite que possa mudar de opinião, pois aferra-se a seus caprichos como um náufrago à tábua que o mantém à tona.
Vive enraizada nas tradições e nas leis, quase sempre antiquadas e ultrapassadas. Enfim, o preconceito impede a pessoa de viver, de se abrir ao mundo, de ser espontâneo e de viver mais intensamente.
Outro monstro que destrói os vínculos na comunidade cristã é o do “escândalo”. A denúncia de Jesus fala de escandalizar a “um destes pequenos que creem em mim”, ou seja, de colocar tropeços no caminho dos mais fracos para fazê-los cair. Marcos fala dos “pequenos”, que são os necessitados de todo tipo, homens e mulheres que não têm posição de destaque ou prestígio para serem reconhecidos, em um contexto social mais amplo, e em especial na Igreja.
O risco maior de um grupo humano, como o da comunidade cristã, é o escândalo (mal exemplo ou atitude que destrói os outros) e o desprezo, entendido como atitude de superioridade e de rejeição dos outros. Atualmente vivemos numa sociedade muito individualista, pois cada um tende a pensar que deve ocupar-se só de si mesmo, sem cuidar dos outros, como se cada um fosse autossuficiente.
Tal atitude egoica acaba tendo repercussão também na comunidade cristã, onde cada um só se preocupa com seus ritualismos vazios, devoções estéreis, penitências autocentradas..., sem nenhum compromisso com os mais necessitados. Tal vivência religiosa egoica acaba alimentando atitudes de intolerância, preconceito, julgamentos, suspeita com relação àqueles que são os prediletos de Deus. Somente um retorno à fonte do Evangelho e às atitudes oblativas de Jesus em favor dos últimos tornará possível a reconstrução de uma comunidade que deixa transparecer a verdadeira identidade cristã.
Esta é a eterna tentação das comunidades cristãs quando perdem a referência à pessoa de Jesus e caem num formalismo religioso, centrado no “endeusamento” de algumas pessoas que, com sua ostentação e com seu “poder de consciência”, manipulam, desprezam, alimentam medo e culpa, criam divisões..., desembocando nas comunidades “guetos”, reacionárias, petrificadas diante do novo e completamente alienadas do compromisso evangélico com os mais necessitados.
O pior dos escândalos é daqueles que, deturpando suas funções religiosas, abusam sexualmente dos menores e incapacitados, revelam-se autoritários e manipuladores de consciência, impõem pesados fardos legalistas e moralistas sobre os mais humildes e simples... Diante de tal gravidade, uma solução também radical, indicada por Jesus: “ser jogado ao mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.
Escandalizamos quando, com nossa vida, colocamos à prova a fé dos mais humildes; escandalizamos quando nossa atitude e conduta pode ser um perigo para a fé dos mais simples; escandalizamos quando nossa vida é causa de que muitos abandonem o caminho da Igreja; escandalizamos quando matamos a alegria da fé e de Jesus no coração dos simples; escandalizamos quando manipulamos a religião para alimentar culpa e medo de Deus, quando impomos sobre os ombros do mais vulneráveis pesados fardos do legalismo e do moralismo. O escândalo pode causar a morte.
O que a Igreja deve cortar para não ser escândalo? Jesus fala de mão, pé, olho..., em sentido radical, ou seja, para ser verdadeira seguidora do Mestre, ela precisa cortar na raiz e estar disposta a “arrancar” muitas coisas que parecem valiosas: o clericalismo, o poder opressor das consciências, o abuso sexual de menores, a suntuosidade, o rigorismo, a cultura da aparência e da ostentação, a riqueza escandalosa, a falta de humanidade, ritualismos extravagantes, a insensibilidade diante da miséria e violência...
A Igreja de Jesus deve ser boa mão, bom pé e bom olho, para ajudar os outros a viver, a caminhar e a ver. Mas ali onde a mão, olho e pé da Igreja se convertem em “motivo de escândalo” (de destruição dos pequenos) ela deve estar disposta a cortá-los, se não quer cair na “geena”, que é o fogo que destrói.
Esta “poda eclesial” nos situa no centro do Evangelho de Marcos, que é evangelho que anima e estimula, mas também que adverte e corrige profeticamente os seguidores e o conjunto da Igreja, que deve inspirar-se em Jesus no uso de suas mãos, pés e olhos.
Falamos da Igreja que se “automutila”, se esvazia e se torna “pequena” para acompanhar e ajudar os pequenos, fazendo-se evangelho vivo, abrindo um caminho de comunhão e ajuda mútua com os menores e pobres.
Para meditar na oração:
Num mundo plurirreligioso e pluricultural as novas fronteiras estão em todas as partes (não mais geográficas); somos chamados a construir pontes entre os que vivem de um lado e outro da fronteira. Mais ainda, que cheguemos a ser pontes em um mundo fragmentado, cheio de brechas... que isolam as pessoas e os grupos sociais e religiosos; estabelecer pontes de diálogo e reconciliação que permitam criar uma nova forma de convivência respeitosa, justa, harmônica e construtiva.
- Você está aberto(a) à verdade, venha de onde vier, ou se deixa levar por pré-juízos, preconceitos e intolerâncias?
- O que é preciso ser “cortado e arrancado” de sua vida para abrir-se a uma atitude de acolhida e de serviço dos mais humildes e pequenos?
O Evangelho desse domingo, 25º Domingo do Tempo Comum, apresentou através do Evangelho de Marco 9, 30-37, a passagem em que Jesus atravessando a Galileia, decidiu ensinar aos apóstolos, informando sobre a morte e ressurreição. Mas também sobre a importância de se por à serviço. “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” Na mesma passagem Jesus usou como exemplo a bondade a pureza de uma criança para a verdadeira construção do Reino.
Com propriedade Francisco Orofino e Frei Carlos Mesters usa essa passagem do Evangelho para provocar uma profunda reflexão sobre o verdadeiro sentido de viver em Comunidade.
Leia o texto na íntegra.
Viver em Comunidade é encontrar espaço para viver uma nova experiência de Deus, quando verdadeira, traz mudanças profundas na convivência humana. Viver em Comunidade na proposta de Jesus é construir relações de Fraternidade, de partilha e de reconciliação. Não é uma tarefa fácil nos dias de hoje.
Vivemos numa sociedade violenta, egoísta e consumista. E esses valores mundanos entram na Comunidade e vão roendo as relações, como cupins roem as madeiras que sustentam a casa. Uma hora, tudo desaba! Esse é o alerta que Jesus nos faz hoje no Evangelho.
Os valores do mundo trazem a competição, a disputa, a luta pelo poder. Tem gente que entra na Comunidade e busca poder, grandezas e posições. Querem se destacar, querem dominar. Querem poder e não serviço.
Jesus vem os ensinar os valores que sustentam a vida comunitária. Entramos na Comunidade para viver a fraternidade, a igualdade e a partilha de bens e de serviços. Na comunidade existem pessoas amigas e não empregados. Por isso, o exercício do poder se manifesta na disponibilidade e no serviço mútuo.
A vida em Comunidade exige perdão e reconciliação. Jesus chama uma criança e a coloca como exemplo. Ele não nos pede que sejamos infantis. Mas devemos aprender com as crianças o espírito de companheirismo, a facilidade de perdoar e esquecer. As crianças rezam com amor e dedicação. Mesmo o barulho feito pelas crianças é sinal de alegria e de vida. Se não nos tornamos como crianças, não entraremos no Reino de Deus.
Uma Comunidade cristã não pode fechar-se em si mesma. Jesus não quer que nossas Comunidades sejam grupos isolados, vivendo para si mesmos. Todo fechamento contraria a proposta do Reino.
Também não podemos querer monopolizar o Evangelho de Jesus. Temos que construir parcerias com outras Comunidades, Igrejas ou grupos que buscam viver os valores transmitidos por Jesus.
Como lembra a Carta de Tiago, nossa opção por Jesus se traduz num comportamento humilde, pacífico, compreensivo, cheio de misericórdia e de bons frutos, sem discriminações nem hipocrisias. Temos que viver a proposta de Jesus dentro de um espírito ecumênico, aberto e tolerante.
Texto Catequese Bíblico-Missionária, retirado do folheto da missa da Editora Santuário.
A cena é surpreendente. Os discípulos se aproximam de Jesus com um problema. Neste momento, o mensageiro do grupo não é Pedro, mas João, um dos dois irmãos que procuram os primeiros lugares. Agora pretende que o grupo de discípulos tenha exclusividade de Jesus e o monopólio da sua ação libertadora.
Os discípulos estão preocupados. Um exorcista que não faz parte do grupo está expulsando demônios em nome de Jesus. Eles não se alegram de que estas pessoas fiquem curadas e possam iniciar uma vida mais humana. Só pensam no prestígio do seu próprio grupo. Por isso procuraram cortar pela raiz sua intervenção. Esta é sua única razão: «Não é dos nossos».
Os discípulos dão por certo que, para atuar em nome de Jesus e com sua força de curar, é necessário ser membro do seu grupo. Ninguém pode invocar o nome de Jesus e trabalhar por um mundo mais humano sem fazer parte da Igreja. É realmente assim? Que pensa Jesus?
Suas primeiras palavras são rotundas: «Não os proíbam». O nome de Jesus e sua força humanizadora são mais importantes que o pequeno grupo de seus discípulos. É bom que a salvação que Jesus traz se estenda para além da Igreja estabelecida e ajude as pessoas a viver de forma mais humana. Ninguém deve vê-la como uma concorrência desleal.
Jesus rompe toda a tentativa sectária de seus seguidores. Ele não formou seu grupo para controlar sua salvação messiânica. Não é rabino de uma escola fechada, mas Profeta de uma salvação aberta a todos e todas. Sua Igreja deve apoiar seu nome ali onde é invocado para fazer o bem.
Jesus não quer que entre seus seguidores se fale dos que são nossos e dos que não o são, os de dentro e os de fora, os que podem atuar em seu nome e os que não podem fazê-lo. Seu modo de ver as coisas é diferente: «O que não está contra nós está a favor de nós».
Na sociedade atual há muitos homens e mulheres que trabalham por um mundo mais justo e humano sem pertencer à Igreja. Alguns nem são crentes, mas estão a abrir caminhos para o reino de Deus e sua justiça. São dos nossos. Temos de nos alegrar em vez de olhá-los com ressentimento. Temos de apoiá-los em vez de desqualificá-los.
É um erro viver na Igreja vendo hostilidade e maldade por todos os lados,acreditando ingenuamente que só nós somos portadores do Espírito de Jesus. Ele não nos aprovaria. Convida-nos a colaborar com alegria com todos os que vivem de forma humana e se preocupam com os mais pobres e necessitados.
Na estrutura do Marcos, depois da chamada “Crise Galilaica”, manifestada no episódio da Estada em Cesareia de Felipe, Jesus muda totalmente de tática e estratégia. Ele não anda mais com as multidões, quase não faz mais milagres - dos 19 milagres em Marcos, somente dois são realizados após o acontecimento em Cesareia. Em lugar disso, Ele se dedica à formação dos seus discípulos, tentando inculcar neles as atitudes de verdadeiros discípulos, ensinando-os que o caminho d’Ele é o caminho da Cruz, da entrega, da doação, e não da busca do poder, da glória ou da fama. Marcos demonstra isso de uma maneira bem organizada. Em três ocasiões, Jesus anuncia a sua futura paixão (8, 81; 9, 31; 10, 33-34). Em cada ocasião os discípulos não compreendem (8, 32; 8, 34; 10, 35-37), e a partir dessas incompreensões Jesus dá um ensinamento, aprofundando vários aspectos do verdadeiro seguimento d’Ele (8, 34-38; 9, 35-37; 10, 38-45).
O trecho em questão trata do segundo desses três acontecimentos. A coragem da dificuldade é a tentação do poder. Embora Jesus tenha deixado bem claro, pela segunda vez, que o seguimento d’Ele é uma vida de entrega, até à morte, em favor dos outros, os Doze discutem entre si qual deles seria o maior! O poder é tentação permanente em todas as comunidades, não isentando as Igrejas! Podemos até dizer, com certa dose de humor, que a busca de poder está no DNA das pessoas humanas! Talvez mais do que qualquer outro motivo, a sede do poder tem sido o que mais tem corrompido nas Igrejas - mais ainda do que a imoralidade ou a ganância financeira. No século dezenove o estadista e historiador católico inglês Lord Acton falou que “todo poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente” - e não há poder mais perigoso do que o religioso, exercido em nome de Deus!
Quantos sofrimentos e males são causados por essa sede de poder, disfarçada como mandato de Deus! Desde o fundamentalismo fanático do Talibã no Afeganistão, até a ufania de certos padres - mormente recém ordenados - que se ostentam com roupas finas e carros do ano e, de uma maneira opressora, dominam religiosas e leigos de muito mais experiência e sabedoria do que eles... a sêde de poder e de dominação, sempre em nome de Deus ou de Jesus, continua a distorcer a vida de muitas comunidades religiosas, dentro e fora do Cristianismo. No fundo é por isso que certos setores da Igreja se colocam frontalmente ou veladamente contra o Papa Francisco. Como escreveu o teólogo dominicano sul-africano Alberto Nolan OP, “Jesus tem sido mais frequentemente honrado e venerado por aquilo que ele não significou, do que por aquilo que ele realmente significou. A suprema ironia é que algumas das coisas, às quais Ele mais fortemente se opôs na sua época, foram ressuscitadas, pregadas e difundidas mais amplamente através do mundo – em seu nome.” O poder-dominação é frequentemente um desses elementos.
Diante da recusa dos seus discípulos em entender o seu ensinamento, Jesus, o Servo de Javé, pega uma criança como símbolo de quem deve segui-Lo. Não porque criança é sempre santa nem inocente! Mas porque é sem-poder, dependente dos adultos em tudo. No tempo de Jesus, criança não tinha direitos, e estava entre os últimos da sociedade. Os seus discípulos são convidados a despojar-se do poder para serem servos, da mesma maneira que o Mestre, Ele que “não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte da cruz” (Fl 2, 6-8).
O poder em si é um bem - para ser usado a serviço dos outros! Todos nós - clero, religiosos/as, leigos/as - somos vulneráveis diante da tentação do poder. Levemos a sério o ensinamento de hoje, pois só pode ser discípulo de Jesus quem procura ser servo/a de todos! Evitemos títulos, privilégios, e comportamentos que tão facilmente poderão nos afastar do seguimento do Senhor. Que o nosso modelo seja sempre Ele - e não a sociedade vigente, onde é o poder que manda. A nossa força vem da Cruz de Jesus, a fraqueza do Deus “que escolheu o que o mundo despreza, acha vil e sem valor, para destruir o que o mundo pensa que é importante” (1Cor 1, 28).
No texto de hoje, o discípulo João inicia o diálogo. Dirige-se a Jesus narrando uma boa atitude que ele junto com algum dos discípulos teve. “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue”.
O texto evangélico continua a perspectiva de Jesus de formar os discípulos nos critérios do Reino. Lembremos que o texto foi escrito como ensinamento para os que desejavamseguir Jesus e mostra com muita clareza as dificuldades que se apresentam no seguimento de Jesus. “Quem der para vocês um copo de água...” . Jesus continua a instruí-los e instruí-las no novo estilo de vida que traz seu seguimento.
Pelas suas palavras percebe-se que João está incomodado porque há uma pessoa que expulsa demônios “usando o nome de Jesus”, mas não está o dia todo junto com Jesus. Para João essa pessoa não é dos “nossos”. Ela se coloca dentro dos “escolhidos” como se fosse uma pessoa especial. Ainda não compreende o que significa ser escolhido por Jesus para segui-lo. Na sua frase “ser dos nossos” ecoa diferente do que se fosse dita por Jesus. É uma expressão que manifesta um ar de superioridade, de ter recebido um dom especial, que os coloca numa posição de preponderância em relação ao resto.
O teólogo José Maria Castillo Sanchez disse que “teríamos de recuperar o que há de mais original (e desconcertante) que encontramos no conjunto dos relatos dos evangelhos: o ponto central do Evangelho não é a Fé, mas o Seguimento de Jesus”. E continua: “Jesus tolerou as dúvidas, medos e obscuridades dos discípulos no que se refere à fé. Portanto, Jesus repreendeu os discípulos por sua pouca fé, seus medos e sua descrença.” [...] “Jesus foi mais exigente no que se refere ao ‘Seguimento’. Esses chamados ao "seguimento" envolviam um mistério: Jesus não dá explicações, não diz os motivos pelos quais fazia as convocações, não propõe um projeto ou estabelece condições. Ele apenas convoca. (Disponível em O humanismo de Francisco revela a essência do ser cristão. Entrevista especial com José María Castillo)
O primeiro ensinamento no texto de hoje está nas palavras de Jesus dirigidas a João: “Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim”.
João não está pensando na pessoa que é libertada da sua dor, nem no amor que eles recebem de Deus através da sua confiança no seu Amor. João pensa nele mesmo, nas suas possibilidades e nos benefícios dos quais se considera quase proprietário por ser parte do grupo dos que seguem Jesus. Suas palavras são expressão da mentalidade de cristãs e cristãos que se consideram os possuidores de Jesus e seu reino. E por isso sua atitude de proibir e colocar limites para os e as outras que fazem o bem. Ele e alguns dos discípulos apoderam-se da exclusividade na construção do Reino.
Na sua resposta Jesus convida João a dar uma olhada no bem realizado: dar de beber um copo de água!! Fazer o bem não tem limite por mais simples que se apresente. Uma boa ação não pode ser categorizada nem nivelada.
A recompensa prometida por Jesus na construção do Reino pertence a todos e todas. O melhor exemplo disto são as crianças, as pessoas fracas, simples. O Reino é construído no cotidiano, nos pequenos gestos, nos copos de água para uma pessoa necessitada, nos gestos de paciência para quem está desesperançado.
Disse Francisco que “precisamos do silêncio da escuta para reconhecer a voz dos pobres. Se falarmos demasiado, não conseguiremos escutá-los. Muitas vezes, tenho receio que tantas iniciativas, apesar de meritórias e necessárias, estejam mais orientadas para nos satisfazer a nós mesmos do que para acolher realmente o grito do pobre. Nesse caso, no momento em que os pobres fazem ouvir o seu grito, a reação não é coerente, não é capaz de entrar em sintonia com a condição deles. Está-se tão presos na armadilha de uma cultura que obriga a olhar-se ao espelho e a acudir de sobremaneira a si mesmos, que se considera que um gesto de altruísmo pode ser suficiente para deixar satisfeitos, sem se deixar comprometer diretamente.”
Quais são os pequenos gestos que realizamos no cotidiano, sem fazer nenhuma difusão, no silêncio, na vida diária?
Na minha vida, no nosso grupo de amigos e amigas, no grupo familiar, na comunidade, temos capacidade de escutar ou ver as necessidades que sofrem os que não são “dos nossos”, os que estão além das fronteiras de nossos espaços diários?
Peçamos ao Senhor ter ouvidos atentos para saber escutar no momento preciso,olhos para ver as necessidades que se apresentam continuamente ao nosso redor e são o convite que Jesus nos faz para colaborar na construção do Reino.
“O que mais necessitamos no mundo de hoje são homens e mulheres livres, focados em reproduzir o projeto de vida de Jesus. O segredo da ‘sedução’ do papa Francisco é que ele é um crente que segue Jesus. Por isso ele exerce a sedução que Jesus exercia”. Entrevista especial com José María Castillo
Neste mês de setembro dedicado especialmente às missões e à leitura e partilha da Palavra de Deus, peçamos ao Senhor ter a capacidade de ouvir sua Voz presente nos pobres e vulneráveis que estão ao nosso redor.
Oração
Ambiguidade
Do fundo do mistério
brota a ambiguidade
trançando a espessura do corpo
e a sutileza do espírito
caminha disfarçada
com ideias bem articuladas
sentimentos luminosos
e fomes naturais.
Corre maquiada de evangelho,
instala-se astuta
em minhas rotinas seguras
na pressa de minhas urgências
e no sonho de minhas serenidades.
Mas minha ambiguidade
começa a revelar-se
por uma mão alheia
fugidia no encontro,
por um leve desajuste
que aparece em um olhar,
por um pequeno sabor amargo
em meio ao aplauso,
por um desconforto íntimo
como resíduo de fadigas cotidianas.
Ao surpreendê-la em suas armadilhas
encolhe-se novamente
em meu fundo mais escuro,
onde a treva e a luz
ainda não foram separadas.
Ferida pela claridade
deixa um rastro de engano
esvaindo-se em sangue na fuga.
E mergulha, inacessível
aonde não chegam
nem meu olhar nem minha análise.
Senhor de minhas profundidades
abismais e ignoradas!
Como no primeiro dia da criação,
busca-me e liberta-me.
onde sou treva e engano.
Ordena-me com teu Espírito
onde sou caos originário!
DOMINGO XXVI DO ANO – CICLO “B”
Primeira leitura (Nm 11,16.17ª.24-29)
A leitura litúrgica começa com as palavras do Senhor a Moisés; Mas é importante esclarecer que são a resposta a uma reclamação anterior de Moisés ao Senhor, que se sente sobrecarregado ao conduzir o povo pelo deserto (“Eu sozinho não consigo suportar o peso de todo esse povo: minhas forças não são suficientes. Se você vai continuar me tratando assim, me mate já. Assim estarei livre dos meus males" (Nm 11,14-15).
A resposta do Senhor é uma proposta: que comunique parte do espírito (chuva) de Moisés a 70 anciãos e então estes estarão em condições de ajudar Moisés na sua pesada tarefa de liderar o povo.
A história que se segue conta dois acontecimentos surpreendentes. Em primeiro lugar, quando os mais velhos recebem o espírito (chuva) eles começam a profetizar (e aí), embora apenas desta vez. Aparentemente, este relato é uma defesa a favor desta profecia extática que é bem atestada em Israel, até Eliseu inclusive. Esta avaliação positiva do «espírito de profecia» contrasta com a avaliação negativa deste mesmo facto no tempo de Saulo (cf. 1Sm 10,10-12). Aqui aparece claramente "que é o mesmo espírito de Moisés e está, portanto, em perfeita concordância com a fé tradicional"1.
O segundo fato surpreendente é que dois homens que não estavam ao redor da Tenda como todos os outros receberam o Espírito; mas eles permaneceram no acampamento. E também a estes dois o Espírito (chuva) os faz profetizar (e aí). Diante deste fato, há um diálogo entre Josué – que quer impedi-los de profetizar – e Moisés que, pelo contrário, quer que eles profetizem”.todos foram profetas no povo do Senhor, porque ele incutiu neles seu espírito" (Números 11,29). A mensagem desta segunda história é que não podemos colocar limites à ação do Espírito, que ocorre em abundância além dos nossos esquemas ou expectativas; mas, pelo contrário, devemos reconhecer, aceitar e acompanhar a sua ação nos homens.
Evangelho (Mc 9,38-43,45,47-48):
O evangelho de hoje contém duas partes ou subseções: 9,38-41 e 42-48 cuja autonomia literária é evidente.
O texto da primeira parte começa de forma algo surpreendente com uma espécie de “interrupção” do apóstolo João, que fala a Jesus em nome dos discípulos. A relação de Mc 9:38-41 com o que precede ou com o que segue não é claramente vista, razão pela qual J. Gnilka2 acho que é sobre "uma unidade independente que Marcos preservou como estava e incorporou neste local".
Agora, o que João informa a Jesus é que eles viram “um” – ele permanece anônimo – expulsando demônios em seu nome e não é um deles. seguidores; e é por isso que eles tentaram evitá-lo. O verbo é usado akolouzeo (akolouqe,w = seguir) o que é típico dos discípulos; Portanto ele é excluído por não ser discípulo-seguidor de Jesus.
Embora Jesus nunca tenha invocado o seu nome ao realizar os seus exorcismos e curas, no livro dos Atos encontramos que os apóstolos realizaram estas maravilhas invocando o nome de Jesus (cf. Hb 3,6; 9,34; 16,18). Aparentemente era costume invocar um nome poderoso ao realizar essas ações. Aparentemente João pensa que não é apropriado que este homem invoque o nome de Jesus se não pertence ao grupo dos seus seguidores.
A resposta de Jesus é clara: “Não os impeça, porque ninguém pode fazer um milagre em meu Nome e depois falar mal de mim. E quem não está contra nós está conosco" (Mc 9,39-40).
Nesta resposta vemos que Jesus faz uma avaliação positiva deste personagem anônimo porque o invoca, reconhecendo o poder que seu nome contém e, portanto, é evidente que não irá contra ele, que não falará mal dele .
Na frase seguinte notamos que Jesus tem um critério ainda mais aberto: quem não é contra, é a favor. Ou seja, aceita diferentes níveis ou graus de apego à sua pessoa, valorizando-os positivamente; enquanto considera como contrários apenas aqueles que são aberta ou explicitamente contrários.
O ditado que se segue avança nesta posição maximalista na medida em que promete recompensa até mesmo àqueles que fizerem o menor gesto – como dar um copo de água – em favor dos seus discípulos pelo facto de pertencerem a Cristo.
A opinião de J. Gnilka3é que esta história oferece um novo exemplo da falta de compreensão dos discípulos, da sua falta de harmonia com Jesus, e ele pensa que é por isso que Marcos a inseriu neste lugar. Assim como depois do anúncio da paixão por Jesus discutiram sobre quem era o maior; Agora eles aspiram “ter exclusividade sobre Jesus”.
O segunda parte agrupa uma série de quatro ditos ligados por um tema comum: o escândalo. Na verdade, embora a tradução não o reflita totalmente, o verbo “escandalizar” (escandaloso) aparece em 9,42.43.45.47.- (Observamos que os vv. 44 e 46 são negligenciados como uma questão de crítica textual, uma vez que estão faltando nos melhores manuscritos e considera-se que algumas testemunhas tardias, particularmente a Vulgata, os adicionada cópia 9.48).
Lembremos que o substantivo escandaloso originalmente designado como fechando uma armadilha4. Na Bíblia Grega (LXX) assume um significado figurado: ocasião de ruína ou pecado; obstáculo que é encontrado. No NT a idéia original de cair em uma armadilha ela é mantida em Romanos 11:9, que cita Salmo 69:23. Fora deste lugar, geralmente mantém o sentido figurado da LXX: ocasião de pecado, incitação à apostasia ou incredulidade. O que escandaliza é algo que se choca e que provoca indignação ou protesto. O verbo escandalizar (escandaloso), em voz ativa, significa causar escândalo no sentido de ser ocasião de pecado, queda ou tropeço, perda de fé ou abandono do caminho cristão, como no caso do nosso texto.
Os quatro ditos começam com sentenças condicionais (se alguém...se sua mão...) que se referem a possíveis situações de escândalo, seguidas de uma ação que é preferível acontecer antes do escândalo ou do pecado em si. O primeiro tem conteúdo próprio, enquanto os restantes três são claramente paralelos, uma vez que o seu conteúdo é quase idêntico.
Ele primeiro dizendo Refere-se a não escandalizar os pequenos que acreditam. Notamos que aqui se trata de alguém que escandaliza, que causa escândalo porque dá oportunidade de pecar ou de fazer perder a fé.pequenos que acreditam". Não é fácil determinar a quem Marcos se refere com esta expressão porque é a única vez que ele a usa. No texto paralelo de Mateus, estes pequeninos são mencionados três vezes (18,6.10.14) e é dá a impressão de que se refere ao recém-convertidoPortanto, pequenos na fé, neófitos na comunidade. Provavelmente em Marcos também se refere ao novos crentes que ainda não consolidaram totalmente a sua fé e, portanto, podem perdê-la devido ao escândalo. Encontramos esta dupla composição da comunidade cristã em Corinto onde Paulo distingue entre os fracos - que são os recém-convertidos e mal formados -; e aqueles que têm conhecimento ou formação, que com a sua liberdade podem escandalizar os anteriores. (cf. 1Cor 8,7-13). Outros pensam, porém, que se refere explicitamente às crianças, aos pequeninos, mas isso é menos provável.
A segunda parte do ditado assinala que é preferível afogar-se no rio a escandalizar os pequenos que acreditam. A medida pode nos parecer exagerada, assim como os seguintes ditos quando dizem que é preferível cortar membros que possam ser ocasião para pecado. Mas vamos esclarecer desde já que é um modo de expressão chamado por alguns hiperbólicos, qual Através do exagero, busca chamar a atenção do ouvinte/leitor para que ele tome consciência da gravidade do escândalo.. Este modo de expressão ou linguagem hiperbólica é frequentemente encontrado nos evangelhos. J. Dupont5, tendo em conta as suas consequências para a ética, fala de “linguagem simbólica” e afirma que o melhor paralelo a este tipo de linguagem se encontra em Jo 13,14, onde Jesus ordena aos seus discípulos que lavem os pés uns dos outros. O mandamento é real, mas refere-se a uma atitude de serviço humilde que transcende o gesto simbólico de lavar os pés.
Em conclusão, justamente por ser uma hipérbole ou exagero, de linguagem simbólica, não pode ser interpretado literalmente.
O três provérbios seguintes estão em claro paralelo, como podemos ver:
Se sua mão é para você ocasião do pecado CORTE-A porque é melhor você entre na vida aleijado, do que ir com as duas mãos para o Geena, ao fogo inextinguível
E se seu pé é para você ocasião do pecado CORTE-O, porque é melhor você entrar na vida manco, do que ser jogado com os dois pés no Geena.
E se seu olho é para você ocasião do pecado arranque-o,porque é melhor você entre no Reino com um olho de Deus, do que ser lançado com os dois olhos no Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga.
Aqui o escândalo não vem de fora, de terceiros, mas da própria concupiscência. Temos membros que podem ser motivo de pecado: mãos, pés, olhos. Para a Bíblia, as mãos simbolizam o trabalho do homem; os pés, seu andar, seu andar; e os olhos o seu desejo ou projeto. Se invertermos a ordem deles teríamos todo o processo do pecado: primeiro o desejo ou projeto de pecar (olho); depois a decisão de ir ao pecado, de trilhar o caminho do pecado (pé); e finalmente o pecado como uma ação, como uma má obra feita (mão).
Diante da possibilidade real do pecado, Jesus ordena uma ação rápida e eficaz: cortar ou arrancar. Segue então a motivação para esta ação drástica: é preferível perder um desses membros do que ficar de fora da Vida ou do Reino (são equivalentes) e ir para a condenação da Geena para mantê-los. O Geena leva o nome do vale de Ben Hinnon, ao sul de Jerusalém, que com o tempo se tornou uma espécie de depósito de lixo onde o fogo sempre ardia. Por isso foi tomado como uma imagem do lugar da condenação eterna.
Portanto, Jesus exorta a evitar firmemente toda ocasião de pecado, com a motivação da condenação escatológica (ser lançado na Geena e ficar de fora do Reino/Vida).
ALGUNS PENSAMENTOS:
H.U. von Balthasar ressalta que a primeira parte do evangelho fala do que tolerável: para alguém que não pertence à comunidade de Cristo fazer algo saudável em seu nome; e a segunda parte intolerável: que alguém, de dentro ou de fora da Igreja, se torna sedutor de pessoas espiritual ou moralmente inseguras.
De fato, a primeira parte do evangelho, e tendo em conta a sua relação com a primeira leitura, é um convite a ter a mente aberta para não encerrar a ação de Deus nos nossos esquemas, pois "Nenhuma barreira pode ser imposta ao Espírito, que “sopra onde quer”, de fora. A sua ordem nem sempre coincide com a ordem eclesial, embora seja o mesmo Espírito que prescreve a ordem eclesial e a Igreja deva cumpri-la."7. Isso significa que o Espírito Santo, embora trabalha com segurança através da Igreja, pode também exercer a sua acção benéfica para além dela, embora de forma misteriosa sempre orientada para ela. Podemos pensar aqui na distinção agostiniana entre aqueles que pertencem ao corpo da Igreja, mas não à alma; e aquelas que pertencem à alma sem pertencerem ao corpo.
A este respeito, E. Bianchi diz que: “Quem tenta monopolizar a presença do Senhor o reduz a ídolo e faz dele motivo de escândalo, pedra de tropeço e obstáculo no caminho do homem rumo a Deus. Um escândalo que é grande, sobretudo, dentro da comunidade cristã”8. Isto é, toda boa obra é inspirada por Deus; mesmo que seja feito por alguém que não pertence ao nosso grupo e não somos nós que podemos impedi-lo. Fica claro na história que o apóstolo João “Falta-lhe sobretudo uma abertura missionária, uma sensibilidade altruísta, porque parece estar mais empenhado em defender do que em difundir o que é e o que tem […] Jesus revela-se assim como um professor dotado de bom senso, aberto à diversidade que não implica oposição, mas sim a expressão de um pluralismo saudável”.
Enfim: “Peçamos a graça de vencer a tentação de julgar e catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do “ninho”, de nos guardarmos zelosamente no pequeno grupo daqueles que se consideram bons: o sacerdote com os seus fiéis, o agentes pastorais fechados entre eles para que ninguém se infiltre nos movimentos e associações no seu carisma particular, etc. Fechado. Tudo isto corre o risco de fazer das comunidades cristãs lugares de separação e não de comunhão. O Espírito Santo não quer encerramentos; quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja espaço para todos”(Papa Francisco, angelus de 26 de setembro de 2021)
No segunda parte temos que distinguir entre o primeiro ditado e os três restantes. Com efeito, o primeiro ditado é um apelo à atenção sobre o perigo de escandalizar aqueles que são pequenos/fracos na fé com um comportamento inconsistente. Neste caso, trata-se de uma espécie de escândalo com raízes morais, evitável e condenável. Em termos positivos, Francisco nos pergunta “cuidar da fragilidade”: “Jesus, evangelizador por excelência e Evangelho em pessoa, identifica-se especialmente com os pequenos (cf. Monte 25,40). Isto recorda-nos que todos os cristãos são chamados a cuidar dos mais frágeis da terra. Mas no actual modelo “existista” e “privatista” não parece fazer sentido investir para que os lentos, fracos ou menos dotados possam progredir na vida.”(EG 209).
Quanto aos outros três ditos, podemos vê-los em relação ao anúncio da cruz no domingo passado, do qual seria uma aplicação concreta à vida do crente. Com efeito, são sobretudo um convite a renunciar firmemente a tudo o que possa ser ocasião para pecar, para ofender a Deus. Isto dá-nos motivos para insistir a necessidade de recuperar a dimensão de luta inerente à vida cristã com a consequente necessidade de praticar uma ascese autêntica. O Papa Francisco nos lembrou disso na GE 158: “A vida cristã é um combate permanente. São necessárias força e coragem para resistir às tentações do diabo e anunciar o Evangelho”.
O tema da ascese ou da mortificação sofreu uma verdadeira erosão nos últimos tempos e não é fácil encontrar uma apresentação equilibrada do mesmo. Porém, existe um excelente livrinho do Padre Amedeo Cencini10 que trata deste tema com sua grande competência e ali diz, entre tantas outras coisas valiosas que "Na espiritualidade cristã, antes de tudo, a ascese e a disciplina representam a resposta da criatura ao dom do Criador. Dito de forma extremamente sintética e simples, se o misticismo É a grata contemplação daquilo que Deus é e faz em nós, a ascetismo é o tentativa, discreta e de certa forma obstinada, de acolher sua ação e responder a ela, com uma resposta que é, antes de tudo, ação de graças, adoração, espanto pelo que Deus continua a fazer, e só num segundo momento é ação e demonstração de boa vontade. Esta ligação é uma espécie de princípio geral que estabelece o sentido da própria relação com Deus. Além disso, em todo o caso, a mística e a ascese – é importante sublinhar isto – são componentes da relação com Deus, são e significam relação“…”Partimos de um fato que deveria ser óbvio: a disciplina não tem valor por si só, mas sim por aquilo a que leva. É um meio, não um fim; É um valor instrumental, não terminal.".
Vale a pena dizer que o ascetismo e a disciplina não são uma negação da liberdade, mas são uma função dela. De fato, "A disciplina serve exatamente para prender prisão a sequência repetitiva de desejo antigo e não-livre que empobrece o coração, a mente e a vontade, e por dar à luz e desenvolver novos desejos e uma nova forma de querer, ligada à própria identidade. Fundamentalmente, então, uma dupla função: uma função mais negativo-repressiva; e outro mais positivo e “proposital”. Um, baseado na liberdade “com relação a”; e a outra, dependendo da liberdade “para”. A primeira é bastante clássica e tradicional, enquanto a segunda ainda aguarda uma melhor definição, principalmente no aspecto metodológico. A primeira diz respeito ao eu atual a ser educado; a segunda, ao eu ideal que deve ser formado. Disto resulta uma imagem específica e original da disciplina: a ascese e a disciplina como educadores-formadores do desejo e construtores da liberdade."11.
De nossa parte, não esqueçamos a motivação que Jesus dá para uma renúncia tão drástica: entrar na Vida, entrar no Reino. Com base nisso, exige-se de nós a renúncia, a ascese; sendo intolerante com tudo que pode nos afastar do caminho do Senhor.
Concluindo, Jesus nos convida a sermos tolerantes e abertos em relação aos diferentes carismas que o Espírito Santo suscita na Igreja. Não vamos fingir ser os únicos e exclusivos; nem o melhor também. Não transformemos os nossos grupos cristãos em seitas que se fecham e se isolam do corpo da Igreja e do povo de Deus. Mas também nos convida a não sermos tolerantes com a tentação e o pecado, porque não podemos brincar com eles porque, certamente, há muita coisa em jogo.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
O que vale brota do Santuário
Faz-me contemplar a beleza eterna da tua Glória, Senhor
E estarei em êxtase durante suas horas
Conheço a tua Justiça porque vi as tuas obras
Espero sem cessar, sua Misericórdia
Esquecemos o objetivo desta peregrinação
Não há tempo para pensar... e o fim chegará
Sairemos daqui e nunca mais voltaremos
Talvez dirão que não haverá punição,
A ignorância cresce passo a passo
A mentira é ouvida em todos os lugares
Mas você, Senhor, você disse isso, longe de você não há mais nada
As almas clamam pelo fogo perdido,
Em novas chamas eles queimarão.
Tenha compaixão Senhor do seu povo
Às vezes não muito humano, outras vezes distraído
Ele passa seus dias envolto em medo, perdido no vazio
Bata na nossa porta novamente,
Espere por nós no seu pão feito com amor
Vamos pôr a mesa juntos, vamos nos proteger do frio
As águas dos seus Sacramentos fluem do santuário
Lave nossas mãos, nossos pés, nossos olhos, nossas mentes,
Alimente a alma de seus crentes. Amém.
bibliografia:
1 L.Monloubou, Leia e pregue o evangelho de Marcos (Sal da Terra; Santander 1981) 126.
2 O Evangelho segundo São Marcos Vol. (Siga-me; Salamanca 1993) 68.
3 O Evangelho segundo São Marcos Vol. (Siga-me; Salamanca 1993) 71.
4 Cf. J. Guhrt, "Escándalo" e Coenen-Beyreuther-Bietenhard, Dicionário Teológico do Novo Testamento vol. II (Siga-me; Salamanca 1990) 97-99.
5“A linguagem simbólica das diretrizes éticas de Jesus” em Estudos sobre os Evangelhos Sinópticos Em (Leuven 1985) 772-773.
6 Luz da palavra. Comentários sobre as leituras de domingo (Reunião; Madrid 1998) 195. 7 H.U. de Balthasar, Luz da palavra. Comentários sobre as leituras de domingo (Reunião; Madrid 1998) 195.
8 Ouça o Filho amado, nele se cumpre a Escritura, Siga-me, Salamanca 2011, 165.
9 G. Zevini e PG Cabra (eds.), Lectio Divina para a vida quotidiana. Evangelho de Marcos (Palavra Divina; Estella 2008) 324.
10 Nós nos referimos a A arte do discípulo. Ascese e disciplina, roteiro de beleza (Paulinas; Lima 2002).
11 A. Cencini, A arte do discípulo, 27.
1
DOMINGO XXVI DURANTE EL AÑO – CICLO "B"
Primera lectura (Nm 11,16.17ª.24-29)
La lectura litúrgica comienza con las palabras del Señor a Moisés; pero importa aclarar que las mismas son la respuesta a una queja previa de Moisés al Señor quien se ve desbordado en la guía del pueblo por el desierto ("Yo solo no puedo soportar el peso de todo este pueblo: mis fuerzas no dan para tanto. Si me vas a seguir tratando de ese modo, mátame de una vez. Así me veré libre de mis males" (Nm 11,14-15).
La respuesta del Señor es una propuesta: que comunicará parte del espíritu (ruah) de Moisés a 70 ancianos y entonces estos estarán en condiciones de ayudar a Moisés en su pesada tarea de conducir al pueblo.
El relato que sigue cuenta dos acontecimientos sorprendentes. En primer lugar, cuando los ancianos reciben el espíritu (ruah) se ponen a profetizar (naba'), aunque sólo por esta única vez. Al parecer este relato es una defensa a favor de este profetizar en éxtasis que está bien atestiguado en Israel hasta Eliseo inclusive. Esta valoración positiva del "espíritu de profecía" contrasta con la valoración negativa de este mismo hecho en tiempos de Saúl (cf. 1Sam 10,10-12). Aquí aparece claro "que es el mismo espíritu de Moisés y, por lo tanto, está en perfecto acuerdo con la fe tradicional"1.
El segundo hecho sorprendente es que reciben el Espíritu dos hombres que no estaban alrededor de la Carpa como todos los demás; sino que se habían quedado en el campamento. Y también a estos dos el Espíritu (ruah) los hace profetizar (naba'). Ante este hecho hay un diálogo entre Josué - que quiere impedirles que profeticen -, y Moisés quien por el contrario desea que "todos fueran profetas en el pueblo del Señor, porque él les infunde su espíritu" (Nm 11,29). El mensaje de este segundo relato es que no se le puede poner límites a la acción del Espíritu que se da con abundancia más allá de nuestros esquemas o expectativas; sino por el contrario, hay que reconocer, aceptar y acompañar su acción en los hombres.
Evangelio (Mc 9,38-43.45.47-48):
El evangelio de hoy contiene dos partes o subsecciones: 9,38-41 y 42-48 cuya autonomía literaria es evidente.
El texto de la primera parte comienza algo sorpresivamente con una especie de "interrupción" del apóstol Juan quien habla a Jesús en nombre de los discípulos. No se ve claramente la relación de Mc 9,38-41 con lo anterior ni con lo que sigue, por ello J. Gnilka2 piensa que se trata de "una unidad independiente que Marcos conservó tal como se encontraba y la incrustó en este lugar".
Ahora bien, lo que Juan informa a Jesús es que han visto a "uno" - permanece anónimo -, expulsando demonios en su nombre y no es de sus seguidores; y por ello trataron de impedírselo. Se utiliza el verbo akolouzeō (akolouqe ,w = seguir) que es propio de los discípulos; por tanto se lo excluye por no ser discípulo-seguidor de Jesús.
Si bien Jesús nunca invocó su nombre al realizar sus exorcismos y curaciones, en el libro de los Hechos encontramos que los apóstoles realizan estos prodigios invocando el nombre de Jesús (cf. He 3,6; 9,34; 16,18). Al parecer era la costumbre invocar un nombre poderoso al realizar estas acciones. Por lo visto Juan piensa que no corresponde que este hombre invoque el nombre de Jesús si no pertenece al grupo de sus seguidores.
La respuesta de Jesús es clara: "No se lo impidan, porque nadie puede hacer un milagro en mi Nombre y luego hablar mal de mí. Y el que no está contra nosotros, está con nosotros" (Mc 9,39-40). 1 L. Monloubou, Leer y predicar el evangelio de Marcos (Sal Terrae; Santander 1981) 126. 2 El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 68.
2
En esta respuesta vemos que Jesús hace una valoración positiva de este personaje anónimo por cuanto lo invoca reconociendo el poder que encierra su nombre y, por ello, es evidente que no irá en contra, que no hablará mal de él.
En la frase siguiente notamos que Jesús tiene un criterio todavía más abierto: el que no está en contra, está a favor. O sea que acepta diversos niveles o grados de adhesión a su persona valorándolos positivamente; mientras que considera como contrarios sólo a los que lo están abierta o explícitamente.
El dicho que sigue avanza en esta postura maximalista por cuanto promete recompensa incluso a quien realice el menor gesto – como dar un vaso de agua – a favor de sus discípulos por el hecho de ser de Cristo.
La opinión de J. Gnilka3es que este relato ofrece un nuevo ejemplo de la falta de comprensión de los discípulos, de su falta de sintonía con Jesús, y piensa que por eso Marcos lo insertó en este lugar. Así como después del anuncio de la pasión por parte de Jesús ellos discutían sobre quién era el más grande; ahora aspiran a "tener la exclusiva sobre Jesús".
La segunda parte agrupa una serie de cuatro dichos vinculados por un tema común: el escándalo. De hecho, aunque la traducción no lo refleje del todo, el verbo "escandalizar" (skandalízomai) aparece en 9,42.43.45.47.- (Notamos que los vv. 44 y 46 se pasan por alto por una cuestión de crítica textual por cuanto faltan en los mejores manuscritos y se juzga que algunos testigos tardíos, en particular la Vulgata, los añadieron copiando 9,48).
Recordemos que el sustantivo skándalon designaba originalmente el cierre de una trampa4. En la Biblia griega (LXX) adquiere un sentido figurado: ocasión de ruina o de pecado; obstáculo con el que se tropieza. En el NT la idea original de caer en una trampa se mantiene en Rom 11,9, que cita el Sal 69,23. Fuera de este lugar, en general mantiene el sentido figurado de la LXX: ocasión de pecado, incitación a la apostasía o incredulidad. Lo que escandaliza es algo contra lo que se choca y que provoca indignación o protesta. El verbo escandalizar (skandalízomai), en voz activa, significa provocar escándalo en el sentido de ser ocasión de pecado, de caída o tropiezo, de pérdida de la fe o abandono del camino cristiano, como en el caso de nuestro texto.
Los cuatro dichos comienzan con oraciones en condicional (si alguien…si tu mano…) que se refieren a posibles situaciones de escándalo, seguidas de una acción que es preferible que suceda antes que el mismo escándalo o pecado. El primero tiene un contenido más propio mientras que los tres restantes están claramente en paralelo pues su contenido es casi idéntico.
El primer dicho se refiere a no escandalizar a los pequeños que creen. Notamos que aquí se trata de alguien que escandaliza, que provoca escándalo por cuanto pone en ocasión de pecado o de hacer perder la fe a los "pequeños que creen". No es fácil determinar a quienes se refiere Marcos con esta expresión por cuanto es la única vez que la utiliza. En el texto paralelo de Mateo se habla por tres veces de estos pequeños (18,6.10.14) y da la impresión que se refiere a los recién convertidos, por tanto, pequeños en la fe, neófitos en la comunidad. Probablemente en Marcos se refiera también a los nuevos creyentes que todavía no han consolidado del todo su fe y, por ello, pueden perderla a causa del escándalo. Esta doble composición de la comunidad cristiana la encontramos en Corinto donde Pablo distingue entre los débiles - que son los recién convertidos y poco formados -; y los que tienen conocimiento o formación, los cuales con su libertad pueden escandalizar a los anteriores. (cf. 1Cor 8,7-13). Otros piensan, en cambio, que se refiere explícitamente a los niños, a los pequeños, pero es menos probable.
La segunda parte del dicho señala que es preferible ahogarse en el río antes que escandalizar a los pequeños que creen. La medida nos puede parecer exagerada, al igual que 3 El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 71.
4 Cf. J. Guhrt, "Escándalo" en Coenen-Beyreuther-Bietenhard, Diccionario Teológico del Nuevo Testamento vol. II (Sígueme; Salamanca 1990) 97-99.
3
los dichos siguientes cuando dicen que es preferible cortarse los miembros que pueden ser ocasión de pecado. Pero aclaremos de entrada que se trata de un modo de expresión llamado por algunos hiperbólico, el cual mediante la exageración busca llamar la atención del oyente/lector para que tome conciencia de la gravedad del escándalo. Este modo de expresión o lenguaje hiperbólico lo encontramos con frecuencia en los evangelios. J. Dupont5, teniendo en vista sus consecuencias para la ética, habla de "lenguaje simbólico" y sostiene que el mejor paralelo de este tipo de lenguaje lo encontramos en Jn 13,14 dónde Jesús manda a sus discípulos lavarse los pies unos a otros. El mandamiento es real pero se refiere a una actitud de humilde servicio que trasciende el gesto simbólico de lavar los pies.
En conclusión, justamente por tratarse una hipérbole o exageración, de un lenguaje simbólico, no puede tomarse a la letra.
Los tres dichos siguientes están en claro paralelo, como podemos ver:
Si tu mano es para ti ocasión de pecado
córtala
porque más te vale entrar en la Vida manco, que ir con tus dos manos a la Gehena, al fuego inextinguible
Y si tu pie es para ti ocasión de pecado
córtalo
porque más te vale entrar lisiado en la Vida, que ser arrojado con tus dos pies a la Gehena.
Y si tu ojo es para ti ocasión de pecado
arráncalo
porque más te vale entrar con un solo ojo en el Reino de Dios, que ser arrojado con tus dos ojos a la Gehena, donde el gusano no muere y el fuego no se apaga.
Aquí el escándalo no viene de afuera, de un tercero, sino de la propia concupiscencia. Tenemos los miembros que pueden ser ocasión de pecado: mano, pie, ojo. Para la Biblia las manos simbolizan la obra del hombre; los pies su caminar, su andar; y los ojos su deseo o proyecto. Si invertimos su orden tendríamos todo el proceso del pecado: primero el deseo o proyecto de pecar (ojo); luego la decisión de ir a pecar, de ponerse en camino hacia el pecado (pie); y finalmente el pecado como acción, como obra mala realizada (mano).
Ante la posibilidad real del pecado, Jesús manda una acción rápida y eficaz: cortar o arrancar. Sigue luego la motivación de esta acción drástica: es preferible perder uno de estos miembros que quedar fuera de la Vida o del Reino (son equivalentes) e ir a la condenación de la Gehena por mantenerlos. La Gehenna toma su nombre del valle de Ben Hinnon, al sur de Jerusalén, que con el tiempo se transformó en una especie de basural donde el fuego ardía siempre. De aquí que se haya tomado como imagen del lugar de la condenación eterna.
Por tanto, Jesús exhorta a evitar firmemente toda ocasión de pecado, con la motivación de la condenación escatológica (ser arrojado a la Gehena y quedar fuera del Reino/Vida).
ALGUNAS REFLEXIONES:
H. U. von Balthasar6señala que la primera parte del evangelio habla de lo tolerable: que alguien que no pertenece a la comunidad de Cristo haga algo saludable en su nombre; y la segunda parte de lo intolerable: que alguien, desde dentro o desde fuera de la Iglesia, se convierta en seductor de personas espiritual o moralmente inseguras.
En efecto, la primera parte del evangelio, y teniendo en cuenta su relación con la primera lectura, es una invitación a una amplitud de mente para no encerrar en nuestros esquemas la acción de Dios, pues "al Espíritu, que «sopla donde quiere», no se le pueden imponer barreras desde fuera. Su orden no siempre coincide con el orden eclesial, aunque sea el mismo Espíritu el que prescribe el orden eclesial y la Iglesia tenga que atenerse a él"7. Vale decir que el Espíritu Santo, si bien
5"Le Langage Symbolique des Directives Ethiques de Jésus" en Etudes sur les Evangiles Synoptiques I (Leuven 1985) 772-773.
6 Luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 195. 7 H. U. von Balthasar, Luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 195.
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obra con certeza a través de la Iglesia, también puede ejercer su acción benéfica más allá de la misma, aunque de modo misterioso siempre orientado a ella. Podemos pensar aquí en la distinción agustiniana entre los que pertenecen al cuerpo de la Iglesia, pero no alma; y los que pertenecen al alma sin pertenecer al cuerpo.
Al respecto dice E. Bianchi que: “quien pretenda monopolizar la presencia del Señor lo reduce a un ídolo y lo convierte en motivo de escándalo, en tropiezo y obstáculo en el camino del hombre hacia Dios. Un escándalo que es tal, ante todo, dentro de la comunidad cristiana”8. Es decir, toda obra buena está inspirada por Dios; aunque la realice alguien que no pertenezca a nuestro grupo y no somos quienes para impedírselo. Queda claro en el relato que al apóstol Juan “le falta, sobre todo, una apertura misionera, una sensibilidad altruista, porque parece estar más empeñado en defender que en difundir lo que es y lo que tiene […] Jesús se revela así como un maestro dotado de sentido común, abierto a la diversidad que no supone oposición, sino expresión de un sano pluralismo”9.
En fin: “pidamos la gracia de superar la tentación de juzgar y de catalogar, y que Dios nos preserve de la mentalidad del “nido”, la de custodiarnos celosamente en el pequeño grupo de quien se considera bueno: el sacerdote con sus fieles, los trabajadores pastorales cerrados entre ellos para que nadie se infiltre, los movimientos y las asociaciones en el propio carisma particular, etc. Cerrados. Todo esto corre el riesgo de hacer de las comunidades cristianas lugares de separación y no de comunión. El Espíritu Santo no quiere cierres; quiere apertura, comunidades acogedoras donde haya sitio para todos” (Papa Francisco, ángelus del 26 de septiembre de 2021)
En la segunda parte tenemos que distinguir entre el primer dicho y los tres restantes. En efecto, el primer dicho es un llamado de atención sobre el peligro de escandalizar a los pequeños/débiles en la fe con conductas no coherentes. Se trata, en este caso, de un tipo de escándalo de raíz moral, evitable y condenable. En positivo, Francisco nos pide “cuidar la fragilidad”: “Jesús, el evangelizador por excelencia y el Evangelio en persona, se identifica especialmente con los más pequeños (cf. Mt 25,40). Esto nos recuerda que todos los cristianos estamos llamados a cuidar a los más frágiles de la tierra. Pero en el vigente modelo «exitista» y «privatista» no parece tener sentido invertir para que los lentos, débiles o menos dotados puedan abrirse camino en la vida” (EG 209).
En cuanto a los otros tres dichos, los podemos ver en relación con el anuncio de la cruz del domingo pasado, del cual sería una aplicación concreta a la vida del creyente. En efecto, son ante todo una invitación a la renuncia firme a todo lo que pueda ser ocasión de pecado, de ofensa a Dios. Esto nos da pie para insistir en la necesidad de recuperar la dimensión de lucha propia de la vida cristiana con la consiguiente necesidad de practicar una auténtica ascesis. Nos lo ha recordado el Papa Francisco en GE 158: “La vida cristiana es un combate permanente. Se requieren fuerza y valentía para resistir las tentaciones del diablo y anunciar el Evangelio”.
El tema de la ascesis o mortificación ha sufrido un verdadero desgaste en los últimos tiempos y no es fácil encontrar una presentación equilibrada del mismo. Sin embargo, existe un excelente librito del P. Amedeo Cencini10 que trata con su gran competencia este tema y allí dice, entre muchas otras cosas valiosas que "al interior de la espiritualidad cristiana, en primer lugar, la ascesis y la disciplina representan la respuesta de la criatura al don del Creador. Dicho de manera extremadamente sintética y simple, si la mística es la contemplación agradecida de lo que Dios es y hace en nosotros, la ascética es la tentativa, discreta y en cierto modo voluntariosa, de acoger su acción y responder a ella, con una respuesta que es, antes que nada, acción de gracias, adoración, asombro por lo que Dios sigue haciendo, y sólo en un segundo momento es acción y demostración de buena voluntad. Esta conexión es una especie de principio general que establece el sentido de la relación misma con Dios. Más aún, en todo caso, mística y ascética – es importante subrayarlo – son componentes de la relación con Dios, son y significan relación"…"Partimos de un dato que debería ser obvio: la disciplina no tiene valor en sí misma, sino por aquello a lo cual lleva. Es un medio, no un fin; es un valor instrumental, no terminal".
8 Escuchad al Hijo amado, en él se cumple la Escritura, Sígueme, Salamanca 2011, 165. 9 G. Zevini y P. G. Cabra (eds.), Lectio Divina para la vida diaria. Evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 2008) 324.
10 Nos referimos a El arte del discípulo. Ascesis y disciplina, itinerario de belleza (Paulinas; Lima 2002).
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Vale decir que la ascesis y disciplina no son una negación de la libertad sino que están en función de la misma. En efecto, "La disciplina sirve exactamente para detener la secuencia repetitiva del viejo y no libre desear que empobrece el corazón, la mente y la voluntad, y para hacer nacer y desarrollar deseos nuevos y una nueva manera de desear, ligada a la propia identidad. Fundamentalmente, entonces, una doble función: una más negativo-represiva; y otra más positiva y "propositiva". Una, en función de la libertad "respecto de"; y la otra, en función de la libertad "para". La primera es más bien clásica y tradicional, mientras que la segunda está aún a la espera de ser mejor definida, especialmente en la vertiente metodológica. La primera concierne al yo actual por educar; la segunda, al yo ideal que debe ser formado. De ello resulta una imagen específica y original de la disciplina: ascesis y disciplina como educadoras-formadoras del deseo y constructoras de la libertad"11.
Por nuestra parte, no olvidemos la motivación que da Jesús para tan drástica renuncia: entrar en la Vida, entrar en el Reino. En función de esto se nos exige la renuncia, la ascesis; el ser intolerantes con todo lo que nos puede apartar del camino del Señor.
En conclusión, Jesús nos invita ser tolerantes, abiertos con relación a los distintos carismas que el Espíritu Santo suscita en la Iglesia. No pretendamos ser los únicos y los exclusivos; ni tampoco los mejores. No hagamos de nuestros grupos cristianos sectas que se cierran en sí mismas y se aíslan del cuerpo de la Iglesia y del pueblo de Dios. Pero también nos invita a no ser tolerantes con la tentación y el pecado pues no se puede jugar con ellos porque, ciertamente, es mucho lo que está en juego.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Lo que vale brota del Santuario
Hazme contemplar la belleza eterna de tu Gloria, Señor
Y estaré en éxtasis durante tus horas
Se de tu Justicia porque he visto tus obras
Aguardo sin cesar, tu Misericordia
Olvidamos la meta este peregrinar
No hay tiempo para pensar… y llegará el final
Saldremos de aquí para no regresar
Dirán acaso que no habrá castigo,
Crece la ignorancia paso a paso
La mentira se escucha en todos lados
Pero Tú Señor, lo has dicho, lejos de ti no hay nada más
Claman las almas por el fuego perdido,
En nuevas llamas arderán.
Ten compasión Señor de tu Pueblo
A veces poco humano, otras, distraído
Pasa sus días envuelto en el temor, perdido en el vacío
Vuelve a golpear nuestra puerta,
Espéranos en tu amor hecho Pan
Tendamos juntos la mesa, abriguémonos del frío
Del santuario brotan las aguas de tus Sacramentos
Lava nuestras manos, nuestros pies, nuestros ojos, nuestra mente,
Alimenta el alma de tus creyentes. Amén.
11 A. Cencini, El arte del discípulo, 27.