26/01/2025
1ª leitura: Neemias 8,2-4a.5-6
Salmo 18b(19) R- Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!
2ª leitura: 1 Coríntios 12,12-30
Evangelho de Marcos Lucas 1,1-4;4,14-21
"1.Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, 2.como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra. 3.Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo,* 4.para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.""14.Jesus, então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galileia. E a sua fama divulgou-se por toda a região. 15.Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos. (= Mt 13,53-58 = Mc 6,1-6) 16.Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. 17.Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s):* 18.O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a Boa-Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, 19.para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. 20.E, enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21.Ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir”."
Lucas 1,1-4;4,14-21
Antes de narrar a vida de Jesus, Lucas apresenta como será desenvolvida a sua obra. O plano de sua obra, na verdade, não é meramente um plano literário, mas um verdadeiro programa para os que desejam ser discípulos de Jesus. Trata-se de que cada um possa “averiguar a solidez dos ensinamentos que recebemos”.
De fato, muitos se apresentaram como enviados por Deus, destinatários de uma revelação especial vinda diretamente de Deus, como guias que indicam o caminho da salvação para todos. Se alguém se apresentar dessa forma, qual será a reação mais correta? Não seria a de pedir alguma comprovação da verdade de sua declaração? Não seria a de averiguar se a revelação oferecida vem mesmo de Deus ou é pura invenção humana? Não seria a de submeter a proposta da doutrina salvadora ao juízo de comprovação?
São Lucas propõe a Teófilo exatamente isso: que ele possa, por si mesmo, averiguar a solidez do Evangelho transmitido.
Jesus também inaugurou o seu ministério público escolhendo conscientemente uma passagem do profeta Isaías. Na sinagoga, no dia de sábado, ele leu a passagem do profeta Isaías para que as pessoas pudessem ter a visão de sua missão e de sua obra. A essa missão, Jesus irá dedicar a sua vida até o fim, até as últimas consequências.
“O Espírito está sobre mim. Ele me ungiu”. Jesus se apresenta como “o ungido” pelo Espírito de Deus. Por isso, Ele é confessado pela Igreja com “Cristo”, “Messias”. Em consequência disso, os discípulos de Jesus serão chamados de (reconhecidos como) “cristãos”. Nesse sentido, é preciso que os cristãos vivam do mesmo Espírito que move e anima Jesus.
“Enviou-me para dar a Boa Notícia aos pobres”. Deus se preocupa com o sofrimento das pessoas. Por isso, o Espírito impele Jesus a levar o Evangelho aos pobres. Esta é a sua tarefa: dar esperança para os corações dos sofredores. O Evangelho é a boa notícia para os pobres: Deus é bom e por isso os ama. Não se trata de opção ideológica ou política, mesmo que muitas vezes esse amor preferencial tenha sido manipulado para fins ideológicos, o Evangelho deve soar com boa notícia para os pobres. Sem isso estamos longe de Cristo.
Jesus cita explicitamente 4 tipos de sofredores: os pobres, os cativos – prisioneiros, os cegos e os oprimidos. São essas as pessoas com a quais Jesus mais se preocupa. Nesse sentido o discípulo de Cristo deve sempre se perguntar: com quem nós estamos mais preocupados?
Jesus tem claro o seu programa: semear a liberdade aos cativos, devolver a luz aos cegos, anunciar a graça aos oprimidos... foi isso que Jesus fez; para isso ele dedicou a vida...
3º DomTComum - Lc 1, 1-4; 4,14-21 – Ano C – 26-01-25
“... após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio,
também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo” (Lc 1,3)
Neste terceiro domingo do Tempo Comum, a liturgia nos convida a um passeio pelos primeiros capítulos do terceiro evangelista. O texto de hoje nos dá boas-vindas ao Evangelho de Lucas; em seguida, salta os relatos da infância e do batismo de Jesus. Depois de procurar dar solidez aos testemunhos da comunidade lucana e a tudo o que foi fixado por escrito a respeito de Jesus, nos situa diretamente em sua vida pública, já com o discernimento feito, durante o tempo do deserto, sobre o sentido de sua missão.
Antes de começar a narrar o ministério da vida pública, Lucas quer deixar muito claro a seus leitores qual é a paixão que impulsionou Jesus e qual foi o horizonte de sua atuação. Os cristãos devem saber em que direção o Espírito de Deus conduziu Jesus, pois segui-Lo é precisamente caminhar em sua mesma direção.
Lucas nos apresenta Jesus como o grande Mestre: seu ensinamento é novo, pois, ao mesmo tempo que ensina, liberta. O Evangelho de hoje marca o início da missão de Jesus: conduzido pela força do Espírito, Ele começa justamente lá onde “ninguém era capaz de dirigir o olhar e o coração”.
O relato deste domingo começa com um formato epistolar dirigido a Teófilo. Lucas o situa no princípio do Evangelho e no começo do livro dos Atos dos Apóstolos, para dar-lhe um caráter literário, como se fosse uma longa carta remetida a seu companheiro Teófilo. Mas não é só uma carta subjetiva relatando o que fora experimentado, mas alude a uma investigação diligente para dar consistência e solidez aos fatos que marcaram profundamente Aquele que passou por esta vida fazendo o bem.
Teófilo não é tanto um indivíduo, mas devemos entendê-lo no sentido etimológico da palavra: “Theos”: Deus/”philos”: amigo. Lucas dirige seu evangelho aos amigos de Deus. Deus é amigo, amigo nosso, amigo de todos. Nossa relação com Ele não se fundamenta no poder, na ameaça, na imposição e no domínio, mas na amizade que não alimenta medo, angústia, submissão.
Segundo o Evangelho, somos amigos(as) de Deus (Teófilo), não clientes de uma religião.
“Teófilo” somos todos: Deus é amigo de todos nós. No missal romano há uma oração eucarística na qual se diz: “quando pela desobediência perdemos vossa amizade, não nos abandonaste...). E quem disse que Deus deixou de ser amigo das pessoas? Deus não retirou nunca sua amizade para com o ser humano.
É uma consideração de grande transcendência saber que somos todos amigos e amigas de Deus e que Ele nos tem a todos por seus amigos e amigas. Infelizmente, na vida cristã, dá-se muito maior peso a expressões carregadas negativamente: pecadores, indignos, miseráveis... Fala-se tanto de pecado e de inferno e muito pouco do “Deus amigo” que nos quer bem, que nos ama a todos.
É um bálsamo escutar S. Lucas afirmar que Deus é nosso amigo. O Evangelho de Jesus, portanto, é boa-notícia dirigida aos amigos e amigas de Deus. O Deus de Jesus não é um justiceiro temível a quem devemos aplacá-lo com nossas míseras penitências e mortificações. Deus é amigo; quem é amigo não sufoca o outro com pesadas cargas de leis, culpas e condenações; quem é amigo não se impõe sobre os outros através da obediência cega. Quão distante estamos do “Deus amigo” revelado por Jesus!
Avançando no texto, o evangelista Lucas nos mostra Jesus no início de seu ministério, expondo seu “projeto com vida” na sinagoga de Nazaré. É a etapa do início de sua pregação, de sua vida itinerante e, posteriormen-te, já em Cafarnaum, o relato de suas primeiras curas e do chamado de seus primeiros discípulos.
Jesus dirige-se à sinagoga, como era costume entre os judeus, e ali lhe entregam o pergaminho onde estava escrito o texto do profeta Isaías (61,1-2). Não há dúvida que Lucas persegue um objetivo claro: fazer deste discurso em Nazaré o programa daquilo que vai ser toda a atuação de Jesus na Galiléia.
A cena na Sinagoga em Nazaré é impactante. Não é casual que Lucas a eleja como ponto de partida de todo o ministério de Jesus. Chama a atenção, antes de tudo, a “ousadia” de Jesus: ele, o carpinteiro do povo, sem título algum, se levanta na sinagoga de seu próprio povo e se reveste da função do escriba, se apresenta como mestre, diante da admiração e espanto de todos.
Lucas descreve com todo detalhe o que Jesus faz na sinagoga: põe-se de pé, recebe o livro sagrado, ele mesmo busca uma passagem de Isaías, lê o texto, fecha o livro, o devolve e senta-se. Todos escutam com atenção as palavras escolhidas por Ele, pois revelam a missão à qual se sente chamado por Deus.
É sintomático que, na leitura do texto de Isaías, Jesus tenha omitido o último versículo: “anunciar um dia de vingança do nosso Deus”. Isso é de muita importância porque desmonta uma falsa imagem de Deus. Jesus se sente com autoridade suficiente para começar a reinterpretar a lei judaica a partir da coerência com sua nova consciência: sentir-se habitado pelo Espírito, que lhe tinha fortalecido no deserto, e pelo amor filial, experimentado no batismo.
De fato, a imagem de um Deus vingativo choca frontalmente com a imagem de um Deus Mãe-Pai que cuida, protege, dignifica e lança ao crescimento, à liberdade e à autonomia a partir de um vínculo profundo.
Trata-se de uma passagem para a consciência adulta centrada na concepção da religiosidade que não se encaixa com a dinâmica infantil do prêmio-castigo diante do bem ou do mal praticado. Jesus nos situa diante de um Deus que habita nosso ser mais profundo e que se manifesta como “graça”, como luz, força, cura e autoridade, a partir da dignidade que nos confere. Uma consciência de liberdade que favorece a eleição daquilo que vai dar um sentido profundo à nossa vida. E esta visão vital tem claríssimas consequências como Jesus expõe nessa recuperação do texto de Isaías.
Poderíamos dizer que Lucas apresenta Jesus pronunciando seu “discurso programático”, fruto do discernimento durante sua estadia no deserto, logo após seu batismo. A “força” de seu programa não procede de uma ideologia poderosa, nem de uma determinada religião, nem de um patriotismo doentio; Jesus vive e começa a atuar impulsionado pela “força do Espírito de Deus”. Ele se deixa conduzir, no mais profundo de si mesmo, pelo Espírito; deixa que Deus viva nele; deixa Deus ser Deus nele.
O modo de ser e viver de Jesus é o do Espírito de Deus. O mesmo Espírito criador e criativo do Gênesis, agora “paira” sobre Jesus: Espírito de vida. O mesmo Espírito que atuou durante o êxodo do povo de Israel: Espírito de Liberdade. O Espírito é brisa suave, descanso, é consolo e ânimo. É o mesmo Espírito de fecundidade e vida (Maria-Jesus). Espírito que move a comunidade cristã, arrancando-a de seus medos. E esse Espírito é paz, alegria, impulso e esperança para viver.
A vida e a missão de Jesus são presididas não por esquemas religiosos, mas pela criatividade, pela liberdade, pela vida, pelo ânimo, consolo... despertados pelo Espírito.
Sob a ação do Espírito, Jesus deixa claro que sua missão é a de aliviar o sofrimento humano; Ele reconstrói o ser humano ferido, fragilizado, privado de sua dignidade, sem poder dar direção à sua própria vida. Jesus “desce” em direção a tudo o que desumaniza as pessoas: os traumas, as experiências de rejeição e exclusão, as feridas existenciais, a falta de perspectiva frente ao futuro, o peso do legalismo e moralismo, a força de uma religião que oprime e reforça os sentimentos de culpa, as instituições que atrofiam o desejo de viver...
Enfim, tudo aquilo que prejudica as pessoas, provoca miséria, tira a dignidade do homem e da mulher.
Lucas destaca que “todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos n’Ele”.
E, ao “fixar os olhos n’Ele”, os ouvintes são movidos a ampliar o olhar e voltar-se para aqueles que são vítimas do sistema social e religioso de seu tempo.
As pessoas percebem n’Ele um novo Mestre, cujo ensinamento desperta o assombro e a admiração.
A LEITURA DA PALAVRA de Deus no trecho do evangelho deste domingo contem
um trecho da introdução ao Evangelho de Lucas (1,1-4), e em seguida um trecho do capitulo 4,
que fala do início da vida pública de Jesus.
A reflexão para nos ajudar aprofundar mais e entender melhor a leitura
foi tirado de duas reflexões feito por Frei Carlos Mesters.
A. Lucas 1,1-4 - Anunciar quem é Jesus para nós
1 . Lucas decide escrever sobre as coisas que Jesus fez e ensinou
“Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se passaram entre nós” (Lc 1,1). Assim começa o Evangelho de Lucas. Ele informa que muita gente já tentou descrever as coisas que Jesus tinha feito e ensinado. Por isso, ele decidiu fazer o mesmo. Por de trás desta decisão de Lucas estão os problemas das comunidades. Havia várias tendências entre os cristãos: “Eu sou de Paulo. Eu sou de Apolo. Eu sou de Pedro. Eu sou de Cristo” (1Cor 1,12). Havia muita confusão, pois cada um apresentava "as coisas que Jesus fez e ensinou" conforme o seu próprio gosto (Gl 1,6-10). Por isso, Lucas resolveu, ele também, escrever a história dos acontecimentos relacionados com Jesus.
2. O objetivo de Lucas: mostrar a solidez do ensinamento recebido
No prólogo dos Atos dos Apóstolos, Lucas diz que escreveu o Evangelho para "relatar todas as coisas que Jesus fez e ensinou, desde o início até o dia em que foi arrebatado" (At 1,1-2). E o fez com muita pesquisa e critério. Consultou pessoas que, “desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra” (Lc 1,2), e fez “um estudo cuidadoso de tudo que aconteceu desde o princípio” (Lc 1,3). Por que tanto esforço e cuidado na apresentação do Evangelho?
Lucas era companheiro de Paulo. Paulo tinha sido criticado por ter acolhido pagãos nas comunidades sem exigir deles a circuncisão nem a observância das leis da pureza. Alguns judeus achavam que isto não era correto, e diziam que todos deviam ser circuncidados para poder salvar-se (At 15,1). Através do seu evangelho, Lucas quer mostrar que o ensinamento de Paulo era sólido e que a abertura para os pagãos era o rumo certo, fiel a Jesus e às promessas do Antigo Testamento. Foi Jesus que iniciou esta abertura.
Além disso, ao longo do seu evangelho, Lucas também mostra que a discriminação dos pobres pelos ricos, tal como estava acontecendo em algumas comunidades, era a negação do que Jesus tinha ensinado.
Assim, no fim do Prólogo, Lucas diz: “Desse modo, excelentíssimo Teófilo, você poderá verificar a solidez dos ensinamentos que recebeu” (Lc 1,4). Em que consistia a “solidez dos ensinamentos recebidos” que Lucas vai transmitir para Teófilo?
3. Querido Teófilo
Lucas dedica o seu livro a uma pessoa chamada "excelentíssimo Teófilo". Alguns acham que Teófilo seja a pessoa que ajudou Lucas com dinheiro para ele poder escrever e editar o livro. Naquele tempo não havia gráficas nem editoras. Os livros eram escritos a mão. Para alguém poder escrever um livro precisava de muito dinheiro para comprar papel (papiro) e tinta e para contratar copistas que soubessem escrever. Teófilo teria sido uma pessoa de posse que contribuiu com dinheiro para que Lucas pudesse escrever o seu livro. O mais provável é que Teófilo seja um nome simbólico para designar os destinatários do livro de Lucas. A palavra Teófilo significa “Amado de Deus”. Muito provavelmente, Lucas não se refere a uma pessoa determinada, mas sim aos cristãos convertidos do paganismo, aos tementes a Deus, todos eles pessoas muito amadas de Deus. Todos nós estamos incluídos nos destinatários do evangelho, pois todos e todas somos Teófilos, amados de Deus.
B. Lc 4,14-22a
Animado pelo Espírito Santo, Jesus volta para a Galileia e começa a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando pelas comunidades e ensinando nas sinagogas, ele chega em Nazaré, onde tinha sido criado. Estava de volta na comunidade, onde, desde pequeno, tinha participado das celebrações durante trinta anos. No sábado seguinte, conforme o seu costume, ele vai na sinagoga para estar com o povo e participar da celebração.
Jesus se levantou para fazer a leitura. Escolheu o texto de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos. O texto refletia a situação do povo da Galileia no tempo de Jesus. Em nome de Deus, Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo e, com as palavras de Isaías, define a sua missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos. Retomando a antiga tradição dos profetas, ele proclama “um ano de graça da parte do Senhor”. Proclama o ano do jubileu. Jesus quer reconstruir a comunidade, o clã, para que fosse novamente expressão da sua fé em Deus! Pois, se Deus é Pai/Mãe, todos e todas devemos ser irmãos e irmãs uns dos outros.
No antigo Israel, a grande família, o clã ou a comunidade, era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da tradição e a defesa da identidade do povo. Era a maneira concreta de se encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã, a comunidade, era o mesmo que defender a Aliança com Deus.
Na Galileia do tempo de Jesus, um duplo cativeiro marcava a vida do povo e estava contribuindo para a desintegração do clã, da comunidade: o cativeiro da política do governo de Herodes Antipas (4 aC a 39 dC) e o cativeiro da religião oficial. Por causa do sistema de exploração e de repressão da política de Herodes Antipas, apoiada pelo Império Romano, muita gente ficava sobrando e sem lugar, excluída e sem emprego (Lc 14,21; Mt 20,3.5-6). O clã, a comunidade, ficou enfraquecida. As famílias e as pessoas ficaram sem ajuda, sem defesa. E a religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época, em vez de fortalecer a comunidade, para que ela pudesse acolher os excluídos, reforçava ainda mais esse cativeiro. A Lei de Deus era usada para legitimar a exclusão de muita gente: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros, leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados, paraplégicos. Era o contrário da fraternidade que Deus sonhou para todos! Assim, tanto a conjuntura política e econômica como a ideologia religiosa, tudo conspirava para enfraquecer a comunidade local e impedir, assim, a manifestação do Reino de Deus. O programa de Jesus, baseado no profeta Isaías oferecia uma alternativa.
Terminada a leitura, Jesus atualizou o texto e o ligou com a vida do povo dizendo: “Hoje se cumpriu esta escritura nos ouvidos de vocês!” A sua maneira de ligar a Bíblia com a vida do povo, provocou uma dupla reação. Uns acreditaram e ficaram admirados. Outros tiveram uma reação de descrédito. Ficaram escandalizados e já não queriam saber dele. Diziam: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22) Por que ficaram escandalizados? É que Jesus falou em acolher os pobres, os cegos, os oprimidos. Mas eles não aceitaram a sua proposta. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, ele mesmo foi excluído!
Perguntas para ajudar mais ainda
1) Jesus ligou a fé em Deus com a situação social do seu povo. E eu, como vivo a minha fé em Deus?
2) No lugar onde eu moro existem cegos, presos, oprimidos? O que faço?
Neste período litúrgico, ao celebrarmos o Domingo da Palavra, a Igreja nos oferece a leitura e a meditação do Evangelho de Lucas. Hoje a porta se abre para nos apresentar a vida das primeiras comunidades narrada por esse evangelista. Antes de tudo, lembramos que Lucas escreveu dois textos: o Evangelho que leva seu nome e o livro dos Atos dos Apóstolos. Dessa forma, ele deixa um legado da difusão da Boa Nova e narra a vida em abundância que está sendo comunicada e como ela chega até os confins da terra (cf. Atos 1:8).
Lucas começa escrevendo a “história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra”. Na carta apostólica Aperuit Illis, onde o Papa Francisco institui o Domingo da Palavra, ele nos lembra que “que “antes de se tornar um texto escrito, a Sagrada Escritura foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé dum povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de tantos outros povos. Por isso, a fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro”. Lucas recolhe essa comunicação oral daqueles que foram testemunhas oculares, como ele mesmo disse e como ele mesmo afirma: “após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo”.
Lucas apresenta sua obra, dirigida a Teófilo, que significa “amigo de Deus”, no qual está simbolizada toda pessoa e as diferentes comunidades “amigas de Deus” que nasceriam da Boa Nova de Jesus comunicada e acolhida ao longo da história. Esse evangelho, juntamente com o livro dos Atos dos Apóstolos, é de grande riqueza, onde se destaca a misericórdia de Deus que ama cada pessoa, um Deus próximo do povo, vizinho daqueles que estão sendo deixados de lado, como narrado na parábola do samaritano que se torna próximo daqueles que estão feridos à beira da estrada. O Evangelho nos dá descrições de Jesus que está ao nosso lado, que nos convida a olhar com o seu olhar, a viver a sua alegria, a compartilhar com os mais necessitados. Destaca a presença das mulheres como protagonistas de momentos fundamentais na vida das primeiras comunidades, narra a anunciação do anjo a Maria, a visita e a alegria compartilhada com sua prima Isabel, e assim nos dá o tesouro da vida, da oração, da compaixão de Jesus!
Este domingo destaca um momento preciso do ensino de Jesus em Nazaré, “onde ele havia sido criado”. Jesus está na sinagoga e, como era de costume, “levantou-se para fazer a leitura”. Ele recebe um livro, que é do profeta Isaías, e Jesus procura uma passagem específica na qual ele dá a conhecer sua identidade e missão. Jesus reconhece que “O Espírito do Senhor está sobre mim...”
É um texto que responde à pergunta que possivelmente percorreu a vida daquela pequena aldeia, daqueles que o conheciam e o ouviam pregar com uma sabedoria diferente. Quem é ele? Onde ele adquiriu essa sabedoria? Perguntas que possivelmente estavam no íntimo das pessoas, que poderiam facilmente se transformar em murmurações que às vezes não dão espaço para o novo, para o que não se encaixa em certas “lógicas” já estabelecidas. O mesmo Jesus que viram crescer, que consideram que “conhecem muito bem”, como às vezes acontece em pequenos vilarejos, dirá ele mesmo que “O Espírito do Senhor está sobre mim”, e enfatiza sua missão porque me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres.
A continuação, ele desenvolve em que consiste essa Boa Nova: “proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor". O texto deste domingo nos convida a olhar para Jesus e a nos deixarmos desafiar por ele. Podemos fazer nossas as palavras de Jesus, dizendo com ele: o Espírito me consagrou para proclamar a Boa Nova aos pobres? Somos sensíveis às diferentes formas de opressão que estão ocultas, mas que correm sob os mantos coloridos da liberdade e das aparências passageiras? Ousamos incentivar a esperança onde a dor e a morte parecem ter a última palavra? Ousamos abordar a cegueira que está ao nosso redor e obscurece o nosso olhar?
Jesus veio para proclamar a Boa Nova que é necessária para aqueles que estão sob o peso da opressão, da escravidão e da cegueira. É uma Boa Nova da liberdade, do amor que não mede consequências, da esperança que toca os desanimados e levanta os caídos, direciona o olhar dos cegos para que possam enxergar e não permite que a tristeza e a angústia invadam suas vidas e se tornem o aparente pão de cada dia.
Neste domingo da Palavra, abrimos nossas vidas para ouvir mais uma vez sua palavra e nos deixamos desafiar por ela. Como disse o Papa Francisco: “Quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro. Aperuit Illis
O texto relata a primeira experiência da Vida Pública de Jesus. Deu-se na sua terra de criação - Nazaré. Na linguagem de hoje, Jesus foi para a capela da comunidade e foi convidado a fazer parte da equipe litúrgica, para fazer a segunda leitura! Naquela época, o culto da sinagoga tinha duas leituras - a primeira tirada da Lei, a segunda dos Profetas. Jesus, abrindo o livro do Profeta Isaías, encontrou a passagem que diz:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor” (4, 18-19). Não que Ele encontrasse esta passagem por acaso! Pelo contrário - Jesus procurou até achar, pois Ele identificava a sua missão com aquela descrita pelo profeta. Por isso, na hora da homilia, começou com a frase chocante: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir” (4, 21). Jesus identificou a sua missão com a do Capítulo 61 de Isaías. Nós, como discípulos d’Ele, temos a mesma missão. Olhemos os elementos:
a) “Anunciar a Boa Notícia aos pobres”: O evangelho é “Boa-Notícia” - não uma série de leis, nem uma lista de práticas rituais, nem uma moral (embora tenha todos estes elementos), mas uma experiência de Deus que traz alegria, felicidade, - especialmente para os pobres! Portanto, Ele toma posição - o que é boa notícia para uns, é má-notícia para outros! O que é boa notícia para o oprimido, é má notícia para o opressor, a não ser que mude de vida! Não existe uma Boa-Notícia neutra, igualmente boa para todos! E não devemos diluí-lo a termo “pobre” - aqui não é o pobre de espírito, nem de coração, nem de fé... é o pobre mesmo, aquele/a que não tem o necessário para uma vida digna (Lucas usa o termo grego “ptochois”, que significa mais ou menos “indigentes”). Com certeza, na nossa sociedade inclui todos os excluídos.
b) “Proclamar a libertação aos presos”: Não só aos na cadeia, mas que estão sem a liberdade dos filhos de Deus - presos hoje pelas consequências do neo-liberalismo, do desemprego, do salário mínimo; pelas correntes de racismo, machismo, clericalismo, e tudo que oprime! Também aos presos no seu próprio egoísmo, pois o assumir dos valores evangélicos vai libertá-los. Porém, esta libertação passa pela mudança radical na sua maneira de viver.
c) “Aos cegos a recuperação da vista”: Quanta gente cega hoje! E não por doença dos olhos, mas cegada pela ideologia dominante que não deixa ver a realidade do mundo e dos sofridos; pelas falsas utopias alienantes e pela manipulação de informação pelos meios de comunicação, dominados pela elite, que “fazem a cabeça”; quantos cegos diante da possibilidade de mudança através da força histórica dos oprimidos! Vale a pena notar que o texto enfatiza a “recuperação” da vista - não a doação dela. Ou seja, trata-se de ajudar os/as que uma vez viram a realidade com os olhos de Deus, mas foram cegados pela ideologia dominante ao ponto de não enxergarem mais a verdade.
d) “Libertar os oprimidos”: Aqui há o eixo fundamental de toda a Bíblia - o Êxodo, como processo permanente. No livro de Êxodo, Deus se identificou como o Deus que liberta os oprimidos (Êx 3, 76-10). Jesus se coloca - e coloca todos os seus seguidores - neste mesmo compromisso. Hoje a época é diferente, mas a opressão continua, e Deus nos conclama para que todos nós nos empenhemos nesta luta para concretizar a libertação dos oprimidos.
e) “Proclamar o ano de graça do Senhor”: O Ano da Graça - o Ano Jubilar! Memória da proposta do Lv 25, o ano do perdão das dívidas, da libertação dos escravos, da devolução das terras aos seus donos originais!
Como concretizar, na realidade do Brasil de hoje, esta visão? O que significa hoje o perdão das dívidas, a libertação dos escravos e a devolução das terras? Questões evangélicas da fé, que têm fortes consequências políticas e econômicas e desafiam a tendência à uma religião intimista, individualista e desencarnada da realidade. Pois júbilo, alegria, não pode ser decretado - tem que brotar de algum motivo profundo.
Aqui o próprio Jesus fala da sua missão, que é também a nossa. Pois, fomos todos “consagrados com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres, para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar o ano da graça do Senhor” (4, 18-21).
Fonte: CEBI Nacional
O evangelho para a liturgia deste domingo inicia com o prólogo da obra de Lucas (1,1-4). Sua intenção fundamental é apresentar a prática de Jesus como fato histórico testemunhado por seus seguidores e suas seguidoras. O destinatário é “Teófilo”, o que significa “amigo de Deus”. Teófilo é toda a pessoa ou comunidade que vier a ler e a viver este evangelho, tornando-se sempre mais amigo e amiga de Deus. Portanto, hoje, “Teófilo” somos nós.
Movido pelo Espírito de Deus…
Na sequência, o evangelho deste domingo apresenta um resumo da prática de Jesus de Nazaré (Lucas 4,14-15). Ele vivia em meio a seu povo, participando de sua vida de fé. Ensinava nas sinagogas da Galileia, na periferia da Palestina. Toda sua missão é movida pelo dinamismo do Espírito (Lucas 3,22; 4,1.14.18). Para as comunidades de Lucas, a ação de Jesus é inseparável do Espírito profético, o Espírito de Deus. Convém que tenhamos presente que a força do Espírito do Senhor também conduziu João Batista e Maria, Isabel e Zacarias, Simeão e Ana (Lucas 1,15.35.41.67; 2,25-27.36).
Apresentando a missão de Jesus dinamizada pela força do Espírito, a comunidade lucana nos desafia a que também nós abramos nosso coração ao Espírito Santo e nos coloquemos a seu serviço, a serviço da libertação de todas as formas de opressão, promovendo a vida.
… para libertar os pobres…
A narrativa a respeito da leitura de trechos do profeta Isaías feita por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lucas 4,16-21) insere-se numa narrativa mais ampla, pois, na sequência, Lucas descreve a reação diante do anúncio desse evangelho (boa-nova) aos pobres. Uns aprovam. Outros têm dúvidas (Lucas 4,22-23). E há quem rejeita o projeto de salvação para os mais desamparados (Lucas 4,23-30). O que não é possível é ficar indiferente. A boa-nova para uns é uma má notícia para quem deseja continuar vivendo à custa dos pobres. Essa é a razão por que se enfureceram, o expulsaram e queriam precipitá-lo do cimo da colina (Lucas 4,28-29). Como ontem, ainda hoje se repete a mesma situação. Qualquer liderança que assume a promoção dos mais pobres, de modo que possam ter pelo menos três refeições por dia e viver com dignidade, continua sendo caluniada e perseguida. E isso não somente pela mídia comprometida com o poder econômico, mas também por políticos e até por setores de igrejas e tribunais. Não é por acaso que Jesus vê motivo de alegria para as pessoas perseguidas por lutarem pela justiça (Mt 5,10-12).
Em Lucas 4,16-21, temos a apresentação do programa de Jesus num dia de sábado na sinagoga de Nazaré, sua terra natal. É o projeto do reinado Deus. Na sinagoga, era costume rezar alguns Salmos, ler e comentar um trecho de algum livro da lei (Pentateuco) e outro de algum livro profético. Jesus escolhe três fragmentos do livro de Isaías para anunciar o coração do projeto de Deus.
“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos (Isaías 61,1) e, aos cegos, a recuperação da vista (Isaías 35,5); para dar liberdade aos oprimidos (Isaías 58,6) e proclamar um ano de graça do Senhor” (Isaías 61,2).
Essa missão libertadora vem do Deus da vida, pois é conferida a Jesus pelo próprio Espírito do Senhor, por quem já fora ungido como o messias por ocasião do seu batismo (Lucas 3,22).
A missão do messias é de esperança de vida digna, certamente para todas as pessoas, mas especialmente para quem está excluído da cidadania. Em quatro afirmações, Jesus faz memória da profecia de Isaías para descrever em que consiste a sua missão de “anunciar uma boa-nova aos pobres”.
Primeiro, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é “proclamar a libertação aos presos”. Por um lado, é a libertação de quem sobrevive em condições subumanas nos presídios, onde a grande maioria está em consequência dessa sociedade desigual, injusta e de exclusão. E, no tempo de Jesus, a maioria das pessoas que se encontrava na prisão eram presos políticos que resistiam contra a opressão e a violência do império romano. Por outro lado, a proposta de Jesus é libertar-nos de todas as formas de prisão, de tudo aquilo que nos impede de sermos nós mesmos, de sermos livres, sem deixar-nos guiar pelo egoísmo, por vícios, pelo individualismo, pela ganância, pelo consumismo, pela ambição, etc. Senhor, liberta-nos de tudo o que nos aprisiona e impede de sermos radicalmente livres.
Em segundo lugar, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é levar “aos cegos a recuperação da vista”. É, sim, curar a cegueira física, mas é muito mais. É também curar a nossa ‘cegueira’ quando não enxergamos a realidade por estarmos com a visão embaciada ou com ‘viseiras’ que impedem vermos a realidade em toda a sua amplitude. É curar a nossa ‘cegueira’ quando não vemos com nossos próprios olhos, não pensamos com nossa própria mente, não escutamos com nossos próprios ouvidos e, por isso mesmo, não dizemos nossa própria palavra, mas reproduzimos as ideias do pensamento dominante na sociedade. Senhor, recupera as nossas vistas. Dá-nos forças para alcançarmos clareza em nossas mentes e corações, a fim de ampliar o nosso discernimento conduzido por teu Espírito.
Em terceiro lugar, “anunciar uma boa-nova aos pobres” também é “dar liberdade aos oprimidos”, seja diante da opressão social, mental, econômica, psicológica, política, afetiva ou religiosa. Senhor, que teu amor mova nossos desejos, possibilitando-nos a graça de sermos pessoas próximas, solidárias com quem vive na opressão.
Por fim, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é “proclamar um ano de graça do Senhor”. Anunciar o ano de graça do Senhor é proclamar o ano jubilar que fazia parte da tradição do Antigo Israel. Nos livros do Deuteronômio e do Levítico fala-se desse jubileu. Primeiro, era uma reforma feita a cada sete anos (Deuteronômio 15,1-18). Mais tarde, passou para cada 50 anos (Levítico 25,8-55). Era o ano do perdão das dívidas que, muitas vezes, levavam à perda da terra, das casas e da própria liberdade. Por isso, ao anunciar o ano jubilar, além do perdão das dívidas, o Espírito do Senhor move Jesus para anunciar vida plena, o que também inclui terra para quem está sem terra, moradia para quem está sem teto e liberdade para quem sofre trabalho escravo.
… ontem e hoje
No passado, o Espírito animava a profecia na proclamação da boa-nova da libertação para os pobres (Isaías 61,1). Fiel à missão que o Espírito lhe confiara no batismo (Lucas 3,22), Jesus atualiza essa profecia, igualmente movido pela força do Espírito (Lucas 4,18). É por isso que diz: “Hoje, se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura” (Lucas 4,21).
No nosso batismo, também somos ungidos pelo mesmo Espírito Santo e assumimos o mesmo programa de Jesus. Por isso, podemos dizer com ele que, em nós, “hoje, se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura”. Que a graça de Deus nos ajude a colocar-nos no mesmo caminho da profecia, no caminho do Espírito do Senhor.
(Traduzido automaticamente pelo Tradutor Google sem nossa correção)
1
TERCEIRO DOMINGO DO ANO - CICLO C “DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS”
Primeira leitura (Ne 8,2-4ª.5-6.8-10)
Este texto nos leva ao século IV aC. C., ao retornar do exílio babilônico e em processo de reconstrução do templo, ainda sem atividade. Por esta última razão, todo o “culto” está centrado na Palavra de Deus, na Lei do Senhor, que é lida com grande solenidade e ouvida com devoção, tal como a interpretação do “sacerdote escriba” Esdras e os levitas. Precisamente durante e depois do exílio, com o templo destruído, foram erguidas sinagogas; e os sacerdotes e levitas, que exerciam a sua função principalmente no culto sacrificial, reforçaram a sua missão de “instrutores” da Lei de Deus no contexto de uma “liturgia da Palavra” conforme descrita em Ne 8.
Diante da Palavra do Senhor proclamada, a primeira reação do povo é a fé, a sua aceitação: “Amém, amém" ( נ ֵמ ָא נ׀ ֵ֤ ֵמ ָA(. A Palavra do Senhor então causa lágrimas
e conversão sincera na comunidade ouvinte. Então Esdras nos convida a celebrar o Senhor e a nos alegrar Nele: É uma alegria ouvir o Senhor!
Estudiosos da Leitura Orante da Palavra, como M. Massini1, vimos neste texto “uma espécie de Lectio Divina comunitária”, isto é, o mais remoto antecedente bíblico desta prática de leitura orante da Sagrada Escritura.
Segunda leitura (1Cor 12,12-14,27 = opção curta)
Para exemplificar o seu ensinamento sobre a unidade e a diversidade dos dons espirituais (cf. 1Cor 12,4-11 que lemos no domingo passado), São Paulo recorre à comparação dos corpo e seus membros. A referência à imagem do “corpo” aplicada à sociedade foi muito difundida no helenismo e, por isso, pensa-se que São Paulo a tirou daqui para aplicá-la à Igreja. Esta comparação é válida em relação ao funcionamento da Igreja como corpo social visível. Mas no que se segue Paulo deixa claro que a razão da unidade na Igreja se deve a Cristo e ao Espírito Santo. A originalidade de Paulo é que ele não se refere principalmente à comunidade de Corinto ou à Igreja, como seria de esperar; mas vai direto à pessoa de Cristo, em quem vê toda a eclesiologia. Na verdade, no final do versículo 12 diz: “assim é com Cristo", a quem ele então aplica a comparação do corpo. Então ele diz que este unidade em um só corpo é fruto da ação do Espírito, complementando assim a ideia de 12:4-11 onde o mesmo Espírito é a origem do diversidade. Como diz L. Rivas2: "Neste ponto destaca-se um ensinamento surpreendente de São Paulo: os cristãos não formam uma unidade apenas porque estão unidos entre si formando uma sociedade, uma comunidade à qual é dado o nome de Igreja (eclésia). Os cristãos constituem um corpo porque estão unidos a uma pessoa viva, que é o Cristo glorificado.". Então em 12:13 ele explica que todos os cristãos foram batizados (aceso. submerso) em um Espírito para formar um corpo. Deixa claro que o batismo tem uma forte conotação eclesial: é o sacramento que nos une num só corpo. Não é uma experiência exclusivamente individual do cristão, pois através do batismo se estabelece um vínculo especial entre todos os cristãos que formam um único corpo..
No final do seu argumento (12:27) Paulo muda para a 2ª pessoa do plural (você) aplicando a comparação com o corpo aos coríntios em geral (comunidade = corpo de Cristo) e em particular (cristãos = membros do Corpo de Cristo).
Evangelho (Lucas 1:1-4; 4:14-21):
Lucas é o único dos evangelistas que escreve um prólogo onde define sua obra como uma narrativa (respiração, ghsij) ordenada sobre os acontecimentos resultantes de uma investigação diligente (Lc1,1-4). Nesta apresentação ele utiliza muitas expressões características da historiografia grega: importância dos acontecimentos narrados, insuficiência das tentativas anteriores, busca cuidadosa, exposição ordenada e total acessibilidade. A mesma preocupação em dar caráter histórico à sua obra se reflete nos sincronismos com a história pagã que ele intercala em 2,1-3 e 3,1-2.
A Igreja na qual Lucas vive e atua, e para a qual escreve, é composta por cristãos de segunda ou terceira geração (entre os anos 80 e 90 aproximadamente) que estão imersos num mundo cultural e religioso pagão (alguma Igreja da Acaia ou Ásia Menor). Daí o risco de perder a ligação com a igreja primitiva; do enfraquecimento do fervor apostólico e da tensão escatológica; de confusão diante das correntes sincretistas. Diante disso, o objetivo fundamental da sua catequese é reforçar a confiança na doutrina cristã tradicional, na “tradição ou transmissão” (παραδίδωμι) da fé; e, por isso, insiste na necessidade de confiar no ensinamento dos Apóstolos-testemunhas, em "aqueles que foram testemunhas oculares e servos da Palavra desde o início". A este respeito, comenta A. Rodríguez Carmona3: “Um Lucas, palavra Resume toda a obra salvífica de Jesus e é o meio pelo qual chega aos ouvidos de todos os homens […] Escreva também um diegese ou história ordenada, “por sua ordem”, que, à luz da análise interna da obra, é uma história histórico-salvífica sobre o caminho profético-salvador”.
Um certo "Teófilo" é nomeado aqui. Como este nome tem um forte sabor simbólico – significa “amigo de Deus” – alguns pensam que seria um artifício literário, significando que o evangelista escreve a todos aqueles que são verdadeiramente “amigos de Deus”. Mas também é possível que se trate de uma pessoa real, um patrono que deu a Lucas os fundos necessários para cobrir as despesas de redação desta obra; e é por isso que é dedicado a ele. A verdade é que Teófilo já havia sido instruído na fé; Agora Lucas quer dar segurança a ele, mostrar solidez (a vsfa, leia) de ensino ou catequese (engraçado) recebido (1,4), para evitar que a distância do passado projete uma sombra negativa.
A leitura deste domingo “salta” então para Lucas 4,14-21, que é o “início de uma nova seção destinada a mostrar qual é a missão de Jesus e que poder ele tem para realizá-la"4. A história começa dizendo que Jesus voltou para a Galiléia "pelo poder do Espírito" (ἐν τῇ δυνάμει τοῦ πνεύματος). É o mesmo Espírito Santo que desceu sobre Maria na concepção virginal de Jesus (cf. Lc 1,35); que desceu sobre Jesus no seu batismo (cf. 3,16); que encheu-o e conduziu-o para o deserto (cf. 4:1). o mesmo Espírito que animará a Igreja nascente na sua missão evangelizadora (cf. At 1-2). Há um claro papel do Espírito Santo na vida de Jesus que lhe permite apropriar-se com verdade do que foi dito pelo profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim"(espírito do Senhor sobre mim).
Lucas resume a atividade de Jesus dizendo que “ensinado em suas sinagogas”(4,15). J. Fitzmyer5comenta que “Lucas acrescenta esse detalhe do ensinamento de Jesus “nas suas sinagogas”, porque aquele será o lugar por excelência onde Israel ouvirá a mensagem da nova era que se abre na história da salvação. A palavra de Deus deve ser proclamada primeiro aos judeus e depois aos pagãos (cf. At 13,46, e as palavras de Paulo à comunidade judaica de Antioquia da Pisídia reunida na sinagoga: At 13,15). Esta prioridade dos judeus é o que leva Lucas a apresentar Jesus pregando e ensinando nas sinagogas, especificamente na sua cidade natal (cf. Lc 4,16.44; 6,6; 13,10).”
O ensino “inspirado” de Jesus faz com que ele goze de boa reputação e receba elogios em todos os lugares. E com esta fama chega a Nazaré e, talvez por isso, num sábado – segundo o seu costume – ao entrar na sinagoga é-lhe pedido que leia a Palavra Profética. (chamar haftará; cf. Ele 13,27). Lucas faz uma boa ambientação do cenário num culto da sinagoga daquela época e podemos supor que a leitura da Torá que estava no início já havia ocorrido. O texto nos conta que Jesus se levanta, recebe o livro e lê o texto de Is 61,1-2, que corresponderia àquele dia; embora J. Fitzmyer6sustenta que a virada da expressão “encontrei a passagem onde estava escrito”(4,17) parece significar antes que o próprio Jesus procurou expressamente a passagem de Is 61,1-2:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção.
Ele me enviou para levar a Boa Nova aos pobres,
para anunciar libertação aos cativos e visão aos cegos,
dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor". Aí ele enrola o livro, devolve ao auxiliar ou gerente (exageros) e senta-se, posição típica de quem vai dar uma aula. Lucas destaca a expectativa criada pela presença de Jesus ao dizer que todos os olhares estavam voltados para ele. Então ele surpreende a todos dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que vocês acabaram de ouvir” (4:21). Para compreender o texto do profeta Isaías que Jesus lê, devemos lembrar que no ano 587 A.C. Jerusalém é destruída e o povo foi deportado para a Babilônia. No exílio, a situação dos deportados era de extrema pobreza e privação, e pode ser comparada à dos pobres que não têm quem os resgate (go'el), nem podem se libertar. Em seguida, o profeta anuncia que o próprio Deus assumirá a condição de “salvador” ou “libertador” (go'el) e virá em auxílio dos exilados para resgatá-los. E para cumprir esta missão ungiu o profeta, que aparece diante dos seus ouvintes como "consagrado pela unção". A unção com óleo pertence à tradição do Antigo Testamento onde era recebida principalmente pelos reis, mas também pelos sacerdotes e, às vezes, pelos profetas. O símbolo da unção com óleo expressa a força necessária ao exercício da autoridade. Em o texto citado de Isaías a 'consagração com a unção' refere-se à força de natureza espiritual necessária para cumprir a missão confiada por Deus ao profeta de anunciar aos cativos na Babilônia a boa nova do resgate e libertação de um; «ano de graça do Senhor» comparável a um ano jubilar para o povo (cf. Lv 25).
A expressão “anunciar a libertação aos cativos” em relação ao ministério de Jesus pode ser entendido como uma referência aos prisioneiros de suas dívidas; isto é, a liberdade seria o perdão da dívida. De facto, num texto encontrado na Gruta 11 de Qumran, o texto de Is 61,1 é utilizado em ligação com Lev 25,10-13 e Dt 15,2, que se referem à "remissão de dívidas" por ocasião do ano do jubileu7.
Na expressão “dar liberdade aos oprimidos” o termo é usado afese (de nada) que aqui é traduzido como “liberdade”, mas nos outros lugares onde Lucas o usa deve ser traduzido como “perdão” e, exceto em 4:18, está sempre ligado a “pecados” (afese hamarção em Lc 1,77; 3,3; 24,47; Ele 2,38; 5,31; 10,43; 13,38; 26,18)8.
A expressão “proclamar um ano de favor do Senhor” que encerra a série de ações em favor dos exilados é como uma síntese da missão do profeta. Literalmente em grego diz “proclamar um ano favorável ou aceitável ao Senhor” (recebeu o ano do Senhor em latim); e em Isaías refere-se ao anúncio da libertação dos exilados como um tempo favorável, um tempo do favor de Deus, da sua ação livre (graça) em favor do seu povo, tal como nos anos jubilares.
Pois bem, depois de proclamar este texto, Jesus diz que o anúncio de Isaías não se cumpriu plenamente naquele momento, mas “hoje”, “agora”, na sua Pessoa. O texto grego diz literalmente que esta Escritura se cumpriu “em seus ouvidos” (ἐν τοῖς ὠσὶν ὑμῶν); ao ponto que alguns propõem traduzir: “enquanto ouvem” (4,21). Com esta afirmação Jesus está dizendo claramente que tanto o profeta ungido como a libertação do cativeiro babilônico foram apenas uma figura do verdadeiro mensageiro e da verdadeira libertação que agora se realizam com a sua Presença e a sua Ação de oferecer perdão aos pecadores. Desta forma, no início do seu ministério, Jesus apresenta-se como o Messias ou Ungido, com a missão de anunciar um ano favorável do Senhor, um ano jubilar.
Este ano de graça ou jubileu proclamado por Jesus consiste na oferta do perdão de Deus aos pecadores; e a razão deste perdão não se encontra nos méritos do povo, mas na terna misericórdia do Pai. E precisamente porque a fonte e origem da missão de Jesus é o coração de Deus, a distinção entre judeus e não-judeus já não se aplica. A salvação, entendida principalmente como perdão dos pecados (afese hamarção Lc 1,77), é oferecido, em Jesus, a todos os homens (cf. Lc 3,6).
Em suma, este texto de Lucas é considerado como programático em relação à atividade de Jesus contida no resto do evangelho. Por outras palavras, podemos dizer que esta homilia inaugural de Jesus em Nazaré é como a apresentação oficial da sua projeto pastoral. Depois o evangelho nos mostrará a sua aplicação e descreverá a reação das pessoas a estas opções pastorais de Jesus, mas veremos isso no próximo domingo.
Algumas reflexões:
Recordemos que o Papa Francisco estabeleceu o terceiro Domingo do Tempo Comum como “Domingo da Palavra de Deus” através de uma Carta Apostólica “motu proprio”Ele abriu para eles” em 30 de setembro de 2019. Ali se refere ao texto de Neemias que lemos hoje e diz: “Estas palavras contêm um grande ensinamento. A Bíblia não pode ser apenas herança de poucos, muito menos uma coleção de livros para uns poucos privilegiados. Pertence, antes de tudo, às pessoas convocadas a ouvi-la e a reconhecer-se naquela Palavra. Muitas vezes há tendências que tentam monopolizar o texto sagrado, relegando-o a certos círculos ou grupos escolhidos. Não pode ser assim. A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, ao ouvi-la, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os crentes e faz deles um só povo... Portanto, é bom que na vida do nosso povo esta relação decisiva com a Palavra viva que o Senhor não se cansa de dirigir à sua Esposa, para que eu cresça no amor. e no testemunho de fé”.
Por isso, é importante, no início do tempo litúrgico do ano, recordar esta centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja e dos cristãos, como solicitou o Papa Bento XVI em A palavra do Senhor: "revalorizar a Palavra divina na vida da Igreja, fonte de renovação constante, desejando ao mesmo tempo que ela seja cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial."(nº 2). E isso porque "A Igreja se funda na Palavra de Deus, nasce e vive dela. Ao longo da sua história, o Povo de Deus sempre encontrou nela a sua força, e a comunidade eclesial também cresce hoje na escuta, na celebração e no estudo da Palavra de Deus." (nº 3).
Por outro lado, no quadro do ano jubilar de 2025 que vivemos com o grande tema da Esperança, o Papa Francisco escolheu como lema para este Domingo da Palavra de Deus a frase do Sl 119,74: “Espero em sua Palavra”.
A Palavra de Deus é sempre um chamado, um convite do Senhor para abrir-lhe o coração com confiança e acolhê-lo na nossa vida através da fé. Lembremos que na Bíblia a fé implica não apenas a aceitação da existência de Deus, mas principalmente da sua ação em nossas vidas. Você tem que ouvir a Palavra de Deus, recebê-la, acreditar e deixá-la agir.
Ora, a Palavra de Deus também contém uma Promessa, está dirigida ao futuro, por isso quem crê também “espera na sua Palavra”. E podemos esperar o cumprimento das promessas de Deus porque Ele é fiel e não decepciona, não nos falha. Jesus diz-nos precisamente no Evangelho que a Escritura, a Palavra de Deus anunciada pelo profeta Isaías, se cumpriu “hoje”, na sua Pessoa. Jesus é o cumprimento das promessas de Deus, como diz São Paulo: “todas as promessas de Deus encontram o seu “sim” em Jesus, para que através dele digamos “Amém” a Deus, para sua glória”(2Cor 1,20). Ou seja, Jesus, ao cumprir as promessas de Deus na sua Pessoa, convida-nos e ajuda-nos a acreditar em Deus, a dizer “Amém”, isto é: “Creio em Ti Senhor, confio em Ti Senhor, espero na Tua Palavra."
O “hoje” de realização em Jesus adquire, de certo modo, uma dimensão que transcende o tempo, que se conecta com o eterno. O “hoje” é precisamente a novidade de Jesus. A palavra e a ação salvadora do Senhor são “atuais”, estão presentes na nossa vida “hoje” e “sempre”.
O prólogo do evangelho de São João afirma que o Verbo ou Verbo de Deus se fez carne em Jesus Cristo e habitou entre nós. Além disso, através da fé, a Palavra de Deus, o próprio Cristo, habita nos nossos corações com toda a sua riqueza, como afirma São Paulo (cf. Ef 3, 17 e Cl 3, 16). E o próprio Cristo é a nossa esperança (Cl 1:27). Sobre isso diz Dom Mauro Giuseppe Lepori OCista9: “O que permite a quem ouve esta palavra reconhecer que pode abandonar-se Àquele que a pronuncia com total confiança? Isto é possível se a palavra do Senhor chega ao coração não como promessa de algo, mas como promessa de alguém, e de alguém que ama a nossa vida com um amor omnipotente, que tudo pode fazer por quem ama e que se confia a ele. Ele […] A palavra de Deus pode ser fonte de esperança se para nós Deus continuar a ser fonte da própria palavra. Só se escutarmos a palavra a partir da voz do Verbo presente, que nos olha com amor, ela poderá alimentar em nós uma esperança inquebrantável, porque se baseia numa presença que nunca falha. A palavra de Deus é uma promessa na qual não só quem promete é fiel, mas está incluído na própria promessa, porque o próprio Cristo nos promete. “E eis que estou sempre convosco, até ao fim do mundo!” (Mt 28,20)”.
Finalmente, neste Domingo da Palavra de Deus somos convidados a dizer de coração ao Senhor: “Espero na tua Palavra”, confio que Ela transformará a minha vida e me mostrará os caminhos certos para seguir Jesus, até o fim.
Ao mesmo tempo, somos convidados a guardar a sua Palavra para oferecer ao mundo um testemunho de esperança que não desilude. Com efeito, a Igreja é repositório da Palavra de Deus e tem a missão de transmiti-la fielmente a todas as gerações, dando a conhecer «a solidez dos ensinamentos recebidos» (Lc 1, 4).
Ouvir, guardar e transmitir a Palavra de Deus. Esta é a vocação e missão do cristão. E estas ações andam juntas porque como diz o Papa Francisco: “A Sagrada Escritura realiza a sua ação profética sobretudo naqueles que a escutam. Causa doçura e amargor. Vêm-me à mente as palavras do profeta Ezequiel quando, convidado pelo Senhor a comer o livro, afirma: «Na minha boca tinha um sabor doce como mel» (3,3). O evangelista João, na ilha de Patmos, também evoca a mesma experiência de Ezequiel ao comer o livro, mas acrescenta algo mais específico: “Na minha boca tinha um sabor doce como mel, mas quando o comi, o meu ventre encheu-se de amargor” (Ap 10). ,10). A doçura da Palavra de Deus impele-nos a partilhá-la com aqueles que encontramos na nossa vida para manifestar a certeza da esperança que ela contém (cf. 1 Pd 3, 15-16). Por sua vez, a amargura é frequentemente percebida quando vemos como nos é difícil vivê-la com coerência, ou quando experimentamos a sua rejeição porque não é considerada válida para dar sentido à vida. Portanto, é necessário nunca nos habituarmos à Palavra de Deus, mas sim nutrir-nos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação com Deus e com os nossos irmãos.”(Ele abriu para eles, 12).
Para concluir, "Esta é a missão de cada um de nós: ser anunciadores credíveis, ser profetas da Palavra no mundo. Portanto, apaixonemo-nos pelas Sagradas Escrituras. Deixemo-nos interrogar interiormente pela Palavra de Deus, que revela a novidade de Deus e nos leva a amar os outros sem nos cansarmos. Coloquemos mais uma vez a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja! Assim nos libertaremos de todo pelagianismo rígido, de toda rigidez, e também nos libertaremos da ilusão de uma espiritualidade que nos coloca “em órbita” sem cuidar dos nossos irmãos. Coloquemos mais uma vez a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja. Escutemo-lo, rezemos com ele, coloquemo-lo em prática.”(Papa Francisco, homilia de domingo, 23 de janeiro de 2022)
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Um ano de graça
Eu gostaria de te dizer Senhor e as folhas não são suficientes
Meus passos na sua história e os seus na minha
E a de tantos por quem você dá a vida
Sim, hoje o que esperávamos foi cumprido
Recuperamos a visão e contemplamos a tua Graça
Finalmente os ouvidos estão abertos à sua Palavra
É a liberdade do Amor que não é amado
Abra as portas da prisão
Aqueles que nós mesmos criamos
E por um sopro do seu Espírito Santo,
A vida chega até nós em você e através de você
Senhor de todos os dias, não apenas do sábado
Diga-nos Profeta, apresse-se, abra o Livro
Ali Jesus espera, todos e cada um
À tarde, noite ou manhã
Deixe sua fama, Senhor, preencher nossos vazios.
As notícias do momento e de todos os tempos
Esperei por seu povo
Repita nas redes, na mídia
Venha…, escreva novamente com o Apóstolo
Este é um ano de Graça, que seja apenas o seu Caminho.
Amém.
[1] La lectio Divina (BAC; Madrid 1996) 59. Aquí cita a Ravassi apoyando esta opinión.
[2] San Pablo y la Iglesia. Ensayo sobre "las eclesiologías" Paulinas (Claretiana; Buenos Aires 2008) 91.
[3] Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 4.
[4] L. H. Rivas, La obra de Lucas. I. El Evangelio (Ágape Libros; Buenos Aires 2012) 55.
[5] El evangelio de Lucas. Vol. II (Cristiandad; Madrid 1986) 422.
[6] Cf. El evangelio de Lucas. Vol. II, 434.
[7] Cf. J. Fitzmyer, El evangelio de Lucas. Vol. II, 435.
[8] “Los LXX llaman afesis al perdón de las deudas materiales; Lucas da al término un sentido más profundo, perdón interior, perdón de los pecados que debe llevar al perdón exterior y caracteriza la obra de Jesús; cf. 24,47; Hch 5,31; 10,43; 13,38”, A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 86.
[9] Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 5.
[10] L. Monloubou, Leer y predicar el evangelio de Lucas (Sal Terrae; Santander 1982) 138.