1ª Leitura: Jeremias 33,14-16
Salmo Responsorial 24(25)R- Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma!
2ª Leitura: 1 Tessalonicenses 3,12-4,2
Evangelho de Lucas 21,25-28.34-36
"25.“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia irão apoderar-se das nações pelo bramido do mar e das ondas. 26.Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra. As próprias forças dos céus serão abaladas. 27.Então, verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade. 28.Quando começarem a acontecer essas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação.”34.“Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso. 35.Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face de toda a terra. 36.Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos esses males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem.”"
Lc 21,25-28.34-36
A celebração de hoje abre o tempo do Advento. É tempo de espera vigilante. O evangelho deste domingo está articulado em duas partes: a primeira parte (21,25-28) refere-se ao momento do fim, narra o que vai acontecer; a segunda parte (21,34-36) diz respeito às atitudes que devemos cultivar em função desse fim; exorta-nos à vigilância.
Embora os acontecimentos tenham um caráter catastrófico e os sinais precursores sejam terríveis, os cristãos são chamados a se levantarem, a erguerem a cabeça porque a libertação está próxima.
Gostaríamos de ter como adivinhar o futuro e a data do fim do mundo, mas, no fundo, essas perguntas e essa curiosidade são um sinal do nosso medo e da nossa falta de confiança em Jesus.
Jesus nos ensina que o mundo teve seu início em Deus e para Ele caminha: o mundo terá seu fim em Deus. Assim quando ouvimos, pensamos ou falamos do fim, não falamos do término ou da destruição. O fim para o cristão é o mesmo que a finalidade e o sentido. O fim do mundo não é sua destruição, mas a sua finalidade e o seu sentido.
Não se trata de proximidade de anos ou de dias que podem ser contados, mas de uma proximidade qualitativa, ou seja, cada dia que vivemos está aberto ao fim e envolto no mistério de Deus. Todos os momentos de nossa vida, devemos vivê-los como os últimos. Assim nossa vida ganha uma seriedade enorme, mas também se reveste de uma esperança ainda maior. Sim! Porque cada minuto é decisivo para a nossa salvação e para a vinda do Reino.
Ao falar do fim do mundo, Jesus nos revela não o futuro, mas o sentido profundo da realidade e do momento em que vivemos: o nosso presente é decisivo para a nossa eternidade; os sofrimentos presentes podem nos conduzir à vida eterna.
Por se tratar dos últimos tempos, somos chamados à responsabilidade quanto ao momento presente. Se estamos nos últimos tempos, é preciso levar a sério a nossa vida: não teremos outra oportunidade; não podemos desperdiçá-la. Por isso para vencer o medo e para viver com plenitude os últimos tempos é preciso estar firmados em Jesus.
A palavra de Jesus nos convida à vigilância. Está próximo o fim dos tempos e por isso é preciso estar sempre desperto.
O dever da vigilância está fundado na esperança de que nossa vida tem futuro. Se nossa vida não tivesse futuro, não estivesse destinada à eternidade não precisaríamos de vigilância. Se nossa vida terminasse na morte, a nossa atitude não seria de vigilância, mas a de curtir a vida com a maior intensidade possível; seria a de desfrutar com sofreguidão o maior prazer possível, uma vez que a morte iria acabar com toda a possibilidade de prazer.
Mas o cristão é vigilante porque é animado por uma grande esperança: a esperança da eternidade. O futuro se aproxima, e nós já vivemos cada momento como uma abertura à eternidade. Assim preocupamo-nos em que a morte não nos encontre despreparados e em pecado mortal.
Nós estamos vigilantes porque cada momento nós o vivemos na presença de Jesus. O fim do mundo não é para nós uma espécie de amanhã. O fim do mundo é para nós o sinal claro de que nós somos limitados, mas, ao mesmo tempo, estamos abertos para Deus e para a Vida que Ele nos quer dar.
Com efeito, o fim do mundo pode ser ameaçador para aqueles que estão apegados a este mundo passageiro de injustiça. Mas o fim do mundo pode nos abrir a uma grande esperança, porque na instabilidade deste mundo esperamos o amanhã de Deus e do seu Reino.
1º Dom do Advento - Lc 21,25-28.34-36 – Ano C – 01-12-2024
“Ficai despertos e orai a todo momento...” (Lc 21,36)
Com a liturgia deste domingo inicia-se o “tempo do Advento” e um novo “ano litúrgico” (Ano C – centrado no evangelista Lucas).
Mais uma vez nos disponibilizamos, através da oração e da celebração litúrgica, a viver mais intensamente o Tempo do Advento e alargar nossas vidas para nele caber o mistério do Natal.
O Advento nos revela a presença da eternidade no coração do tempo. O Eterno continua vindo, pelos caminhos mais imprevisíveis, iluminando a dura rotina e a sequência do cotidiano.
O Advento é tempo de espera, de preparação e de chegada. Tempo forte carregado de sentido, que nos faz ter acesso àquilo que é mais humano em nós: o sentido da esperança, a travessia, o encontro com o novo..., tempo que nos arranca de nossas rotinas e modos fechados de viver.
Viver o Advento é o grande evento que agita os corações, sacode as inteligências, inquieta as pessoas, move as estruturas... Toda a nossa vida se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente.
Nós cristãos, nas festas de Advento e Natal, celebramos o Deus que está em nós e conosco; Ele é a presença libertadora de tudo o que nos desumaniza. Celebramos a fé no Deus encarnado e fé na humanidade que nos faz presente a Deus. Celebramos o valor divino do humano e o valor humano do divino. Celebramos que Jesus, o Emanuel, é nosso salvador, nossa referência de vida; Ele veio nos ensinar a ser e viver como Ele.
Caminhamos para o “Senhor que veio, que vem e que virá” à medida que mais nos adentramos ao fundo de nós mesmos e da realidade. Advento convida a deixar-nos “contaminar” pela realidade; e isso nos humaniza.
O Evangelho deste domingo nos chama a estar alertas, a ter o coração livre de vícios, da libertinagem e das preocupações da vida; nos chama a “estar despertos e orando”, porque o Espírito se desvela em nossa atitude de fé e de esperança viva: ponto de encontro entre as promessas da fé e os sinais dos tempos presentes e vindouros.
A chegada de Deus se identifica com a chegada do “novo ser humano”, da nova humanidade, do novo mundo. Preparar a chegada do ser humano novo, isso é o Advento.
Diante do surgimento de um novo tempo e de um novo mundo requer “estar desperto” e “levantar a cabeça”; e a pessoa “desperta” é, justamente, aquela que vê a novidade em tudo, que tem a cabeça erguida e vislumbra novos horizontes. Ao contrário, quem permanece adormecido, move-se no terreno da rotina, com o coração atrofiado e a mente embotada pelos vícios e preocupações vazias.
Quem permanece adormecido, debate-se entre o passado que se foi e o futuro que nunca chega, escravo da ansiedade que o faz viver fora do presente.
O Advento vem nos dizer que não há outra coisa a fazer senão viver intensamente o momento presente. A plenitude está na consciência do instante presente, onde o “Filho do Homem” se revela.
No presente pleno, tudo tem sabor de novidade, a percepção da própria identidade se amplia sem limites, a consciência da comunhão com tudo e com todos se alarga...
Não é estranho que, ao longo dos Evangelhos, escutemos tantas vezes o chamado insistente: “vigiai”, “estai atentos à sua vinda”, “vivei despertos”. É a primeira atitude daquele que decide viver a vida como Jesus a viveu. Essa é a primeira atitude que devemos fortalecer para seguir seus passos.
E o que significa “viver despertos”?
- “Viver despertos” significa não cair no ceticismo e na indiferença frente à marcha do mundo; não deixar que nosso coração se endureça; não cairmos nas queixas, críticas e condenações; despertar ativamente a esperança.
- “Viver despertos” significa sermos mais lúcidos, sem deixar-nos arrastar pela insensatez que, às vezes, parece invadir tudo; atrever-nos a ser diferentes; não deixar que se apague em nós o desejo de buscar o bem para todos.
- “Viver despertos” significa viver com paixão a pequena aventura de cada dia; não darmos as costas a quem precisa de nós; continuar realizando os “pequenos gestos” que aparentemente não têm grande significado, mas que sustentam a esperança das pessoas e tornam a vida um pouco mais amável.
- “Viver despertos” significa reacender nossa fé, nossa experiência contemplativa, ou seja, buscar Deus na vida e a partir da vida; senti-Lo muito próximo de cada pessoa; descobri-Lo atraindo a todos para a felicidade; viver não só de nossos pequenos projetos, mas atentos ao Projeto amoroso de Deus.
- “Viver despertos” significa sair da normose (normalidade doentia) e da ignorância para vir à luz da compreensão. É uma arte e um caminho, e isso significa um deslocamento para uma amplitude maior na maneira de viver.
- A arte de “viver despertos” é ativada na medida em que diminui ou cessa a identificação com o ego, para deixar emergir nosso “eu profundo”, graças ao silêncio e à tomada de distância com respeito aos conteúdos doentios da mente (remorsos, culpas...). Aqui encontra o seu lugar a prática contemplativa, na qual nos mobilizamos para acessar a “outro lugar”, para além da mente, que abre a porta à amplitude da vida.
Advento, portanto, é o momento de escutar o chamado que Jesus dirigido a todos: “levantai-vos”, animai-vos uns aos outros”, “erguei a cabeça” com confiança. Deus é Salvação e já está em nós. Basta despertar-nos e descobri-Lo. Esta descoberta nos descentra de nós mesmos, nos projeta para os outros, para o infinito e nos identifica com tudo e com todos.
O momento do encontro com “Aquele que vem” nos introduz na soleira de um futuro novo e carregado de esperança, aquela esperança que dá sentido às nossas atividades, liberta o coração da preocupação, expulsa toda ansiedade e impulsiona a buscar o Reino.
O fundamento da segurança e da serenidade reside na consciência de estar nas mãos providentes de Deus.
O fiel discípulo de Jesus, descobrindo-se amado e protegido pela ternura providente, se sente sempre a caminho, isto é, pronto a acolher cada fragmento de luz e de vida, que fala da presença e da passagem de Deus. O presente, tecido de partilha, solidariedade, misericórdia, mansidão, reveste o futuro de luz.
A verdadeira segurança cresce no coração e na confiança de sermos protegidos por um Deus que sabe o que precisamos e nos aguarda. É esta a relação fundamental, fecunda e criativa, que possibilita o “êxodo” de nós mesmos e a acolhida do “advento” do Outro e dos outros.
Para meditar na oração:
“Advento”: o Senhor vem... em sua direção! Ou melhor, chegou! Basta despertar-se para descobri-Lo e descobrir-se n’Ele.
Por isso, o Advento deveria ser um tempo para retornar ao interior em meio à agitação, e olhar para dentro de si mesmo. Aí, no seu interior, há tanto de eterno. A eternidade dialoga com a gente, fala por dentro.
- Tome consciência do momento presente, deste único instante, aqui e agora, carregado de Presença e permaneça nele. Deus é Salvação que se dá a todos em cada instante.
1ª Semana do Advento – C (Lucas 21,25-28,34-36) , publicado por Religión Digital, 25-11-2024.
Como é sempre tentador adaptar-se à situação, instalar-se confortavelmente no nosso pequeno mundo e viver em paz, sem grandes aspirações. Quase inconscientemente, temos a ilusão de sermos capazes de alcançar a nossa própria felicidade sem mudar em nada o mundo;
Quem ama verdadeiramente a vida e se sente solidário com todos os seres humanos sofre ao ver que a grande maioria ainda não consegue viver dignamente. Esse sofrimento é um sinal de que ainda estamos vivos e conscientes de que algo está errado. Devemos continuar buscando o reino de Deus e sua justiça.
Jesus foi um incansável criador de esperança. Toda a sua existência consistiu em difundir aos outros a esperança que ele próprio vivia no mais profundo do seu ser. Hoje ouvimos o seu grito de advertência: “Levantai-vos, erguei a cabeça; Sua libertação está se aproximando. Mas tenha cuidado: não deixe sua mente ficar entorpecida com vícios, bebidas e preocupações com dinheiro".
As palavras de Jesus não perderam relevância, porque ainda hoje continuamos a matar a esperança e a estragar a vida de muitas maneiras. Não pensemos naqueles que, independentemente de toda a fé, vivem segundo o “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”, mas naqueles que, chamando-se cristãos, podem cair numa atitude não muito diferente: “Comamos e bebamos, porque amanhã virá” .
Quando numa sociedade o quase único objetivo da vida é a satisfação cega dos desejos e cada pessoa se fecha no seu próprio gozo, aí morre a esperança.
O satisfeito
Os satisfeitos não procuram nada realmente novo. Eles não trabalham para mudar o mundo. Eles não estão interessados em um futuro melhor. Não se rebelam contra as injustiças, os sofrimentos e os absurdos do mundo actual. Na realidade, este mundo é para eles “o céu” ao qual aspirariam para sempre. Eles podem se dar ao luxo de não esperar nada melhor.
Como é sempre tentador adaptar-se à situação , instalar-se confortavelmente no nosso pequeno mundo e viver em paz, sem grandes aspirações. Quase inconscientemente, temos a ilusão de sermos capazes de alcançar a nossa própria felicidade sem mudar em nada o mundo. Mas não esqueçamos: “Só quem fecha os olhos e os ouvidos, só quem ficou insensível, pode sentir-se à vontade num mundo como este” (RA Alves).
Quem ama verdadeiramente a vida e se sente solidário com todos os seres humanos sofre ao ver que a grande maioria ainda não consegue viver dignamente. Esse sofrimento é um sinal de que ainda estamos vivos e conscientes de que algo está errado. Devemos continuar buscando o reino de Deus e sua justiça.
Iniciamos um novo tempo litúrgico: o Advento, que nos prepara para receber Jesus, Deus feito homem, celebrado no dia 25 de dezembro. A leitura do Evangelho nos oferece uma descrição de sinais e acontecimentos típicos da literatura apocalíptica da época. É importante ter em mente que os evangelhos são textos escritos para as comunidades do século I e que tentam responder, de diferentes maneiras, à pergunta feita por aqueles que desejam seguir Jesus: quem ele é, qual é a sua proposta? Como foi a vida dele? Questionaram também a sua vinda definitiva, a chegada do Filho do Homem com poder e glória. Em diversas comunidades cristãs, os fiéis ficaram decepcionados porque aguardavam a chegada definitiva do Senhor, que acreditavam que aconteceria em breve. A decepção foi o sentimento geral diante dessa expectativa. Lucas nos apresenta este texto, no qual nos convida a não nos deixarmos levar pelo desespero e a reconhecer em Jesus de Nazaré a presença de Deus entre nós. É um convite a contemplar a encarnação de Deus, que se faz homem e está conosco, com novos olhos. Nos preparamos para este momento tão importante neste tempo de Advento.
“Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”
Em primeiro lugar, ele nos convida a reconhecer os sinais mencionados. Embora a descrição dos sinais provenha da literatura apocalíptica, na qual são mencionados presságios como o sol, a lua e as estrelas, somos convidados a relembrar os diferentes sinais que, ao longo do ano, expressaram a presença de Deus em nossas vidas e em nossas comunidades. O texto evangélico não nos convida ao medo ou ao terror diante da vinda do Senhor, mas a erguer a cabeça, pois a libertação se aproxima. Ele nos convida a caminhar eretos, a tomar posse de nossas vidas e a não deixar que a desesperança nos invada. É um tempo para abrir estender nosso olhar além do horizonte imediato e abrir-nos assim a uma nova confiança que nos prepara para acolher a presença de Deus na nossa vida.
Para entrar no tempo do Advento, somos chamados a deixar de olhar para baixo, a abandonar as pequenas coisas que prendem nossa vida e nosso ser, e a erguer o olhar para enxergar adiante e perceber a libertação que se aproxima. Onde o vislumbramos, onde podemos vê-lo? Com essa pergunta e preocupação latentes em nós, entramos no tempo do Advento, que é um tempo de preparação, de limpeza dos olhos e do coração para que se abram à novidade que se aproxima. Estamos diante do próprio mistério de Deus, que se fez um de nós, caminha conosco, assume nossa fraqueza e fragilidade. É o início da salvação, pois Ele dá sentido à nossa vida presente, ressignificando de diferentes maneiras ao longo da sua vida o mistério da dor, da injustiça e daqueles que são descartados pela sociedade. Desde o início, ele escolhe esse caminho da simplicidade e se rebaixa até o último, como diz Paulo.
Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra.
Jesus continua a ensinar como viver este tempo de espera e estar atentos à sua presença no meio de nós. Embora a Igreja fale sobre uma segunda vinda, ela dá ênfase ao tempo presente. A partir daí, também somos convidados a não perder a sensibilidade ao novo que já está acontecendo, a viver despertos, com a cabeça erguida e o corpo ereto, prontos para caminhar e vislumbrar novos horizontes. E é por isso que somos convidados a não nos deixar levar por aquelas coisas que nos tornam insensíveis, como a ambição e a gula. Embora também vivamos hoje, existem múltiplas formas de consumir que, aos poucos, nos levam a viver com a cabeça baixa, consumindo nosso tempo e atenção.
Progressivamente, nos tornamos insensíveis à libertação que temos diante dos olhos: Jesus, Deus feito homem, que está no meio de nós e nos traz um novo modo de vida animado pelo seu Espírito.
Como disse o Papa Francisco: “Quando tudo parece terminado, quando, diante de tantas realidades negativas, a fé se cansa e aparece a tentação de dizer que nada mais faz sentido”, vem “a bela notícia” da chegada de Deus: “O mal não triunfará para sempre, há um fim para a dor. O desespero é vencido porque Deus está entre nós”. O pontífice destacou que o Natal é “a surpresa de um Deus menino, de um Deus pobre, de um Deus frágil, de um Deus que abandona a sua grandeza para se fazer próximo a cada um de nós” (Francisco: há esperança mesmo quando tudo parece estar perdido).
Neste tempo de advento façamos eco das palavras de Francisco sobre o Menino Jesus, “recém nascido, necessitado de tudo, envolto em panos e deitado em um presépio, está contida toda a força do Deus que salva. O Natal é um dia para abrir o coração: é preciso abrir o coração a tanta pequenez, que está ali naquele menino, e a tantas maravilhas. É a maravilha do Natal, ao qual estamos nos preparando, com esperança, neste tempo de Advento. É a surpresa de um Deus menino, de um Deus pobre, de um Deus frágil, de um Deus que abandona a sua grandeza para se fazer próximo a cada um de nós”.
Neste final de semana, com o primeiro domingo do Advento, iniciamos um novo ano litúrgico. E, mais uma vez, em todas as comunidades, anunciamos a chegada de Jesus. No domingo passado, celebramos Jesus como rei cuja montaria humilde é um jumento (João 12,12-19), cujo cinto é a toalha do serviço (João 113,1-17), cujo trono é a fidelidade até a cruz (João 19,19) e cuja injusta coroa é de espinhos (João 19,2.5).
Hoje, celebramos a presença de Jesus como nosso rei na fragilidade e na ternura de uma criança. Definitivamente, as relações com base na ternura, na humildade e no serviço, na fidelidade e na justiça são próprias do Reino de Deus. Não, porém, dos reinos deste mundo. Estes alimentam o ódio, a ganância, o individualismo, a posse sobre bens e pessoas como sentido de vida.
Nas narrativas do capítulo 21 de Lucas, quando o evangelho foi escrito pelos anos 90, as comunidades olham para trás e fazem uma releitura da tomada de Jerusalém pelos romanos. A destruição do templo foi no ano 70. Assim, elas querem compreender melhor, em seu tempo, como viver a missão na fidelidade ao projeto de Jesus, que é tornar realidade a libertação plena. E o evangelho de hoje é parte deste capítulo.
Erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação (vv. 25-28)
Em Lucas 21,25-28 Jesus está em Jerusalém, continuando sua missão profética na cidade que era o centro econômico, político e religioso daquela região.
Como profeta, denuncia a exploração das pessoas mais vulneráveis, que os controladores do templo realizavam (21,1-4), e anuncia o fim daquele sistema de morte (21,5-6). Com imagens da apocalíptica judaica, descreve a tomada de Jerusalém pelos romanos (21,7-26). A referência ao sol, à lua e às estrelas (v. 25) é uma forma de falar da presença de Deus que age em favor de quem assume seu projeto. Quer, portanto, animar a esperança.
Os vv. 25-26 também descrevem os horrores da guerra. Há angústia e perplexidade. Há desfalecimentos, medos e ameaças. Pode ser paz para o império. Porém, é violência e morte para os povos conquistados.
As comunidades cristãs leram esses acontecimentos como julgamento de Deus. É o fim de uma era, o tempo da antiga aliança. Inicia-se uma nova era, o tempo na nova aliança.
Desde as origens das comunidades cristãs, já antes da destruição do templo, a execução de um inocente na cruz, por sua fidelidade ao projeto do Reino do Pai, foi compreendida como julgamento de Deus na história. De um lado, condenando os responsáveis pelas estruturas de morte. De outro, salvando as vítimas desse sistema, os pobres, os que têm fome, os que choram e as pessoas agredidas pelo ódio, pela mentira e pela calúnia, na linguagem de Lucas 6,20-23.
No entanto, convém ter presente que as comunidades originárias viviam, tal como o próprio Jesus, em um ambiente carregado por uma espiritualidade apocalíptica. É uma mística de denúncia profética em tempos de grandes perseguições e de muita violência e quer animar as comunidades para resistir nesses tempos difíceis. A linguagem apocalíptica se refere ao presente, não a um futuro remoto. Com essa mentalidade, as comunidades compreendiam o final dos tempos como já inaugurado por Jesus na cruz. Portanto, já viviam provisoriamente o Reino e alimentavam a expectativa, para breve, da chegada ou presença de Jesus glorioso, a fim de instaurar, aqui na terra, definitivamente um Reino sem violência e de paz (cf. 1 Tessalonicenses 4,13-5,3). Chamavam essa vinda de Jesus de Parusia, que, em grego, significa vinda, chegada, presença. Com a entrada do latim na Igreja, substituiu-se Parusia por Advento.
A partir dessa teologia apocalíptica, as comunidades interpretaram a destruição de Jerusalém como o início da instauração definitiva do Reino, mas que já começara com a ressurreição de Jesus. Viram esta guerra como profecia realizada em Jesus, o filho humano, tal como anunciara o profeta Daniel (Daniel 7,13-14). Porém, o Reino não se realizou plenamente naquele momento histórico, como esperavam. Então, compreenderam que era preciso continuar sua concretização através da prática continuada de novas relações nas comunidades como fermento que transforma as estruturas deste mundo. A vinda de Jesus, o humano, já é presença no testemunho dos cristãos. A libertação é um processo, seja ele dentro ou fora de nós. Daí o convite de engajamento nesse processo libertador que Jesus continua a nos fazer ainda hoje: “Erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação” (Lucas 21,28).
Vigiai e orai para terdes a força de ficar de pé (vv. 34-36)
A segunda parte de nosso evangelho é um convite para o discernimento entre duas propostas. É o projeto de Deus de um lado, e, de outro, o projeto do ídolo riqueza. É um convite para resistir contra este e aderir àquele. Não se pode servir a dois senhores, a Deus e à riqueza, alertava Jesus (cf. Lucas 16,13).
Coração é o lugar da consciência, o centro das decisões. Por isso, a comunidade de Lucas nos convida a discernirmos quais são as atitudes condizentes com esse projeto do ídolo riqueza e que tornam pesados os nossos corações. São as posturas que nos escravizam diante do Deus Mamon (qualquer riqueza idolatrada, grande ou pequena). E cita algumas: orgia ou libertinagem, embriaguez e preocupações mundanas. Entre essas preocupações terrenas, poderíamos lembrar o individualismo, a ganância para acumular, a ambição pelo poder e pelo prestígio, etc., etc.
Em vez de ter um coração pesado, Lucas nos convida a ter um coração leve. E ter um coração leve quer dizer viver de acordo com os valores do Reino, a partilha, a misericórdia, a compaixão, a solidariedade. Somente é capaz de viver esses valores quem tem um coração generoso, um coração valente. Vivendo assim, a qualquer hora, estaremos preparados para o dia do julgamento. O dia do julgamento não é o fim do mundo, mas a transformação permanente das estruturas de morte. Cada vez que a justiça supera a injustiça, o julgamento de Deus se realiza. Cada vez que a mentira e a farsa são desmascaradas, o julgamento do Reino se torna realidade.
Para ter coração leve, Lucas nos convida à atenção, à vigilância permanente para não cair nas armadilhas, nos laços do ídolo riqueza. Ao mesmo tempo, indica a atitude orante como caminho que conduz à fonte onde buscar forças para escapar dos laços que escravizam e ficar de pé diante de Jesus, o humano, no dia de libertação. Ficará de pé quem tiver perseverado na justiça, na verdade e na transparência, pois será considerado justo, portanto, inocente.
Iniciamos o Advento, tempo de presença, de chegada da boa nova de Deus na ternura de uma criança. É um Advento que não termina, pois Jesus já é presença permanente entre nós. Basta buscá-lo e querer encontrá-lo. Que vigiemos em permanente atitude de oração na busca de forças para ter coração leve e ficar de pé diante da avalanche de ódio e de mentira que este mundo nos quer impor a cada dia, tornando pesados os nossos corações. Que a luz de Jesus menino nos ilumine para nos manter firmes no respeito ao diferente, no perdão a quem nos calunia e no caminho da justiça para muitos, “pois está próxima a vossa libertação”. Amém.
Fonte: CEBI Nacional
O LIVRO
Autor, destinatários, motivo, divisão
1. Quem era Lucas e para quem escreveu o seu evangelho?
O terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos são do mesmo autor (At 1,1). São dois volumes de uma única obra, ambos escritos com o mesmo objetivo para o mesmo Teófilo (Lc 1,3; At 1,1). Os dois volumes não têm assinatura. Mas desde o início, a Tradição das Igrejas os atribui a Lucas. Quem era Lucas?
Lucas era companheiro de viagem de Paulo. Foi durante a segunda viagem missionária que ele se juntou ao grupo de Paulo e começou a acompanhá-lo (At 16,10). Pois durante a segunda viagem, na hora de Paulo embarcar para a Europa, o texto dos Atos dos Apóstolos, de repente, passa a ser o relatório de alguém que estava participando da viagem. Eis o que diz o texto: "Então eles atravessaram a Mísia e desceram para Trôade. Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente estava de pé um macedônio que lhe suplicava: "Venha à Macedônia e ajude-nos!" Depois dessa visão, procuramos imediatamente partir para a Macedônia, pois estávamos convencidos de que Deus acabava de nos chamar para anunciar aí a Boa Notícia. Embarcamos em Trôade" (At 16,8-11). Daqui para a frente até o fim da viagem, Lucas faz parte da equipe de Paulo. Provavelmente, ele é o "querido médico Lucas", mencionado na carta de Paulo aos Colossenses (Cl 4,14).
A tradição informa que Lucas nasceu em Antioquia, grande cidade de quase meio milhão de habitantes. Era um cristão convertido do paganismo ou, talvez, como Timóteo, filho de mãe judia e pai pagão (At 16,1). Não sabemos o certo. Antes de entrar na comunidade cristã, Lucas deve ter convivido com a comunidade dos judeus. Fazia parte do grupo que ele mesmo chama de "tementes a Deus" (At 10,2.22; 13,16.26) ou “adoradores de Deus” (At 16,14; 17,4.17).
Estes “tementes a Deus” eram pagãos que se sentiam atraídos pela seriedade da moral e da religião dos judeus e pela promessa de salvação feita por Deus a Abraão (Gn 12,1-2). Nos sábados, eles enchiam as sinagogas. Gostavam de ouvir as leituras da Lei e dos Profetas. Lucas deve ter sido um destes tementes a Deus. Ele deve ter estudado muito a Sagrada Escritura, pois pelo seu Evangelho e pelos Atos dos Apóstolos a gente percebe que ele tinha um vasto conhecimento do Antigo Testamento.
O que impedia a ele e aos outros de aderirem plenamente à religião dos judeus eram a obrigação da circuncisão e a observância das normas da lei da pureza legal. A pregação de Paulo trouxe para eles a boa notícia dizendo: o acesso à salvação não se faz através da circuncisão e da observância das leis da pureza, mas sim através da fé em Jesus Cristo que morreu e ressuscitou por nós. Aí, a porta se abriu e muitos pagãos "tementes a Deus" aderiram à Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. Lucas foi um deles. Tornou-se um cristão fervoroso.
A partir dos anos 70, este grupo era cada vez mais numeroso nas comunidades cristãs das grandes cidades do império romano. Lucas escreve em torno do ano 85 e dedica os dois volumes da sua obra, Evangelho e Atos dos Apóstolos, ao "excelentíssimo Teófilo" (Lc 1,3; At 1,1). Muito provavelmente, ele não se refere a uma pessoa determinada, mas sim aos tementes a Deus, “para que vocês possam verificar a solidez dos ensinamentos recebidos” (Lc 1,4).
2. O que levou Lucas a escrever o seu evangelho?
1. A tensão entre cristãos vindos do paganismo e cristãos vindos do judaísmo
A abertura do anúncio da Boa Nova para os pagãos, iniciada por Paulo, aprovada por Pedro (At 10,44-48; 11,15-17) e confirmada pelo Concílio de Jerusalém (At 15,7-29), continuava sendo uma fonte de tensões entre os cristãos vindos do paganismo e os cristãos que vinham do judaísmo (cf. At 15,1-2.5; Gl 2,11-14). Alguns cristãos do judaísmo invocavam a autoridade de Tiago, irmão de Jesus, para dizer aos cristãos do paganismo: "Se vocês não forem circuncidados, como ordena a Lei de Moisés, vocês não poderão salvar-se" (At 15,1; Gl 2,12). E diziam ainda que a abertura para os pagãos, iniciada por Paulo, não vinha de Jesus, mas era uma "invenção humana" (Gl 1,11). Esta discussão foi causa de muita confusão nas comunidades (Gl 1,6-12; At 15,1-2). Até Pedro se deixou envolver e "começou a evitar os pagãos e já não se misturava com eles" (Gl 2,12). Por isso, muitos cristãos do paganismo se perguntavam: “Será que o ensinamento que nós recebemos é sólido mesmo?"
Este problema levou Lucas a escrever o seu Evangelho "para que vocês possam verificar a solidez dos ensinamentos recebidos” (Lc 1,4). Delicadamente, para não ofender os irmãos judeus, mas com firmeza, Lucas dá o seu recado. É como se dissesse: Querido Teófilo! Você não está errado! A abertura para os pagãos está de acordo com as profecias do Antigo Testamento. Ela já tinha sido iniciada pelo próprio Jesus. Portanto, o ensinamento que você recebeu quando aderiu à Boa Nova de Jesus tem solidez! (Lc 1,4)
2. A tensão entre ricos e pobres nas comunidades vindas do paganismo
Além disso, a entrada de um número cada vez maior de pagãos nas comunidades cristãs criou o novo problema da tensão entre ricos e pobres (cf. Tg 2,1-9; 1Cor 1,26). O sistema do império romano estava todo inteiro baseado na escravização dos povos. Através de taxas, tributos, impostos e outros roubos legalizados, drenavam a riqueza dos povos para Roma, o centro do império. O acúmulo imenso de riqueza e de poder na capital contrastava com o empobrecimento dos povos nas periferias. O endividamento progressivo obrigava muitas pessoas e famílias a se tornaram escravos dos seus credores para assim poder pagar suas dívidas. Este esquema escravagista, aplicado na capital do império, se reproduzia nas províncias, sobretudo na Ásia Menor, cuja capital era Éfeso e onde moravam os destinatários do evangelho de Lucas.
No início, em torno dos anos 50, após a abertura das comunidades para os pagãos, a maior parte dos cristãos era da camada dos pobres e escravos. Paulo até escreve para os cristãos de Corinto: "Irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade" (1Cor 1,26). Pouco a pouco, porém, foram entrando também pessoas de classes mais ricas e, de repente, os cristãos se davam conta de que entre eles começava a existir o mesmo conflito social entre ricos e pobres que marcava o império romano, causando os mesmos conflitos e a mesma confusão (cf. Tg 2,1-7; 1 Cor 11,20-21; Ap 3,17).
Este é o outro motivo que levou Lucas a escrever o seu Evangelho. E também neste ponto o recado dele é claro e radical. Ele quer ajudar as pessoas vindas do paganismo a perceber que é impossível uma pessoa manter a ideologia do império e continuar a ser cristão. Com vigor profético ele lembra as frases mais duras de Jesus neste ponto: "Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence. Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir. Mas, ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação! Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar!" (Lc 6,20-21.24-25).
3. Divisão do Evangelho de Lucas
O Evangelho de Lucas é grande. Tem 24 capítulos. A divisão em seis blocos ajuda a captar melhor a mensagem central e a perceber o jeito próprio de Lucas em apresentar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe:
Prólogo: Lucas 1,1-4: O motivo que levou Lucas a escrever
1º Bloco. Lucas 1,5-2,52: Nascimento e Infância de João e de Jesus
2º Bloco. Lucas 3,1-4,44: Passando de João para Jesus, do AT para o NT
3º Bloco. Lucas 5,1-9,50: Jesus vai formando uma nova comunidade
4º Bloco. Lucas 9,51-19,28: A longa viagem desde a Galileia até Jerusalém
5º Bloco. Lucas 19,29-21,38: Última Semana da vida de Jesus: o confronto final:
6º Bloco. Lucas 22,1-24,53: Paixão, Morte e Ressurreição
Estamos no fim do ano eclesiástico de 2021, e entrando no novo ano eclesiástico de 2022. Neste domingo estamos iniciando a preparação para o Nascimento de Jesus, por meio do Advento. Neste discurso apocalaptico longo do capitulo 21 do evangelho de Lucas, Jesus está dando os últimos conselhos para os seus companheiros e nos convocando para a vigilância e para a oração.
Lucas 21,34-35: Cuidado para não perder a consciência crítica. “Tomem cuidado para que os corações de vocês não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não vai cair de repente sobre vocês. Pois esse dia cairá, como armadilha, sobre todos aqueles que habitam a face de toda a terra”
Um conselho semelhante Jesus já tinha dado quando perguntaram a ele sobre achegada do Reino (Lc 17,20-21). Ele respondeu que a chegada do Reino acontece como o relâmpago. Vem de repente, sem aviso prévio. As pessoas devem estar atentos e preparados, sempre (Lc 17,22-27). Quando a espera é longa, corremos o perigo de ficar desatentos e não dar mais atenção aos acontecimentos. “Os corações ficam insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. Hoje, as muitas distrações nos tornam insensíveis e a propaganda pode até perverter em nós o sentido da vida. Alheios ao sofrimento de tanta gente no mundo, já não percebemos as injustiças que se cometem.
Lucas 21,36: Oração como fonte de consciência crítica e de esperança “Fiquem atentos, e rezem todo o tempo, a fim de terem força para escapar de tudo o que deve acontecer, e para ficarem de pé diante do Filho do Homem". A oração constante é um meio muito importante para não perdermos a presença do espírito. Ela aprofunda em nosso coração a consciência da presença de Deus no meio de nós e, assim, traz força e luz para aguentarmos os dias maus e crescermos na esperança.
Resumo do Discurso Apocalíptico (Lc 21,5-36)
Todos os três evangelhos sinóticos trazem este discurso de Jesus, cada um a seu modo. Poderíamos passar muito tempo meditando e aprofundando o significado do Discurso para as nossas vidas. Mas hoje a leitura é de São Lucas, e portanto vamos ver de perto a versão que o evangelho de Lucas nos oferece.
Uma coisa importante a ter claro na cabeça da gente é que todo Discurso Apocalíptico, tanto no Velho Testamento como no Novo, é uma tentativa, na parte de quem está escrevendo, de ajudar os membros das comunidades perseguidas a encontrar o seu lugar dentro do conjunto do plano de Deus e assim terem esperança e coragem para continuar firme na caminhada.
No caso do Discurso aqui no Evangelho de Lucas, as comunidades perseguidas viviam no ano 85, mas o Jesus falava no ano 33 (50 anos antes). Agora seu discurso descreve as etapas ou sinais da realização do plano de Deus. Ao todo são 8 sinais ou períodos desde Jesus até o fim dos tempos. Lendo e interpretando sua vida à luz dos sinais dados por Jesus, as comunidades descobriam a que altura estava a execução do plano.
Os sete primeiros sinais já tinham acontecido. Pertenciam todos ao passado. É sobretudo no 6° e no 7° sinal (perseguição e destruição de Jerusalém) que as comunidades encontram a imagem ou o espelho do que estava acontecendo no presente delas.
Eis os sete sinais:
Introdução ao Discurso (Lc 21,5-7)
1º sinal: os falsos messias (Lc 21,8);
2º sinal: guerra e revoluções (Lc 21,9);
3º sinal: nação lutará contra outra nação, um reino contra outro reino (Lc 21,10);
4º sinal: terremotos em todos os lugares (Lc 21,11);
5º sinal: fome e pestes e sinais no céu (Lc 21,11);
6º sinal: a perseguição dos cristãos e a missão que devem realizar (Lc 21,12-19). Um convite para o discernimento entre duas propostas. O projeto de Deus de um lado, e, de outro, o projeto do ídolo riqueza. É um convite para resistir contra este e aderir àquele. Não se pode servir a dois senhores, a Deus e à riqueza, alertava Jesus (Lc 16,13).
7º sinal: a destruição de Jerusalém (Lc 21,20-24)
Chegando neste sétimo sinal, as comunidades concluem: “Estamos no 6° e no 70 sinal. E aqui vem a pergunta mais importante: “Quanto falta para que chegue o fim? ”Quem está sendo perseguido não quer saber sobre o futuro distante. Mas quer saber se vai estar vivo no dia seguinte ou se terá força para aguentar a perseguição até o dia seguinte. A resposta a esta pergunta inquietante vem no oitavo sinal:
8º sinal: mudanças no sol e na lua (Lc 21,25-26) anunciam a chegada do Filho do Homem. (Lc 21,27-28). A libertação é um processo, dentro da gente e fora da gente. É importante o nosso engajamento nesse processo libertador que Jesus continua a nos fazer ainda hoje, nesse momento difícil, em que a mentira, fake News, o ódio e a intolerância se impõem com violência. Jesus nos convida a não desanimar e seguir resistindo de braços dados. Que ninguém solte a mão de ninguém. Diz-nos Jesus: “Erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação” (Lc 21,28).
Conclusão:
Falta pouco, tudo está conforme o plano de Deus, tudo é dor de parto, Deus está conosco. Dá para aguentar. Vamos testemunhar nossa fé na Boa Nova de Deus trazida por Jesus. No fim, Jesus confirma tudo com a sua autoridade (Lc 21,29-33).
Lucas nos convida a ter um coração leve e Levantar a cabeça; viver de acordo com os valores do Reino - amor, partilha, misericórdia, compaixão e solidariedade. Somente quem tem um coração generoso, um coração valente é capaz de viver esses valores. Vivendo assim, a qualquer hora, estaremos preparados para o dia do julgamento.
O dia do julgamento não é o fim do mundo, mas a transformação das estruturas de morte. Cada vez que a justiça supera a injustiça, o julgamento de Deus se realiza. Cada vez que a mentira e a farsa são desmascaradas, o julgamento do Reino se torna realidade.
Lucas nos convida à atenção, à vigilância permanente para não cair nas armadilhas, nos laços do ídolo riqueza. Ao mesmo tempo, indica a atitude orante como caminho que conduz à fonte para buscar forças e escapar dos laços que escravizam e ficar de pé diante de jesus, o humano, no dia de libertação. ficará de pé quem tiver perseverado na justiça, na verdade e na transparência, pois será considerado justo, portanto, inocente.
Para um confronto pessoal
1) Jesus pede vigilância para não sermos surpreendidos pelos fatos. Como vivo este conselho de Jesus?
2) O último pedido de Jesus é este: Fiquem atentos, e rezem todo o tempo. Como vivo este conselho de Jesus em minha vida?
(Traduzido automaticamente pelo Tradutor Google sem nossa revisão)
I- INTRODUÇÃO GERAL AO TEMPO DO ADVENTO
Originalmente o termo "advento" (do latim chegada) significava o primeiro visita funcionário de uma pessoa importante por ocasião de sua chegada ao poder ou posse. Na área de adoração referia-se ao chegando anual da divindade ao seu templo para visitar seus fiéis. Observemos então que, em seu significado original, A palavra advento refere-se a uma chegada, uma vinda, uma presença.
Levando isso para o campo cristão, podemos dizer que O eixo organizador de todo este tempo litúrgico do Advento é a vinda do Senhor, a sua chegada, a sua Presença. Então: "com a palavra chegada Pretendia essencialmente dizer: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não possamos vê-lo e tocá-lo como acontece com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem nos visitar de múltiplas maneiras. O significado da expressão “advento” inclui, portanto, também o de uma visita, que significa “visitar” de forma simples e adequada; Neste caso é uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer se dirigir a mim"1.
Aceitar isto implica, por sua vez, considerar as ações dos protagonistas do Advento. Em primeiro lugar, de Deus, que chega ao nosso mundo, até nós. Depois, homens, convidados a preparar-se para receber esta visita de Jesus que vem ao nosso encontro e que nos mobiliza concretamente para sair ao seu encontro neste Natal. Em suma, e muito em sintonia com a liturgia do Advento, a nossa atitude como crentes é de “espera vigilante no Senhor”.
Agora, O fato de que virá (futuro) é, na realidade, o mesmo que já vinho (passado). É a dupla vinda do Senhor que refletem os prefácios do Advento. O primeiro na humildade da carne; o segundo e definitivo em glória. Não se trata de um jogo de palavras, mas sim da própria essência da liturgia e do mistério cristão, como afirmam os especialistas. A este respeito, A. Nocent diz: “Cada celebração litúrgica traz consigo três dimensões: o passado, o presente, o futuro. O Advento oferece-nos uma oportunidade quase material de perceber a sobreposição, uma sobre a outra, destas três dimensões. na "teologia viva da liturgia"2. Mais especificamente, com Matías Augé3, podemos dizer: “O Advento é o tempo que, a partir do fato já ocorrido da 1ª vinda, orienta não só a última e definitiva vinda, mas também a vinda sacramental na liturgia, onde a primeira é atualizada e a segunda é antecipada.”.
Para isso a dupla vinda corresponde às duas dimensões da espera: do Natal e da Parousia, que a liturgia do Advento deve propô-los juntos, pois é impossível apresentar um sem o outro. Mas na sucessão dos quatro domingos há um passo progressivo desde a acentuação colocada na Segunda e definitiva vinda no fim dos tempos (mais clara no primeiro domingo e menos no segundo) até a Primeira vinda na Encarnação e no Natal. (terceiro e quarto domingos). Por isso, a ADVENT nos convida esperar sua vinda definitiva no fim dos tempos e preparar-se para comemorar sua primeira vinda ao nascer em Belém com a alegria de saber que Ele vem permanentemente aos nossos corações.
É importante não esquecer estas acentuações para respeitar o ritmo deste tempo litúrgico e a sua intenção pedagógica, ou melhor, mistagógica. Isso nos faz começar com o esperando pelo eterno e definitivo, com o fim, que é o último na execução e o primeiro na intenção. A partir daqui somos convidados a reorientar nossas vidas com base em nossos situação de tempo intermediário, do “já mas ainda não” que implica uma compreensão da natureza provisória do nosso mundo e da nossa condição de peregrinos (esta seria a ‘nuance’ da conversão no Advento). Então ele nos leva ao fundamento da nossa esperança, a vinda de Jesus na plenitude dos tempos, a Encarnação, cuja manifestação é a Natividade que vamos celebrar.
II – AS LEITURAS DO TEMPO DO ADVENTO
O liturgia da Palavra dos Domingos do Advento acompanha este processo porque "O evangelho do primeiro domingo é escatológico. No segundo e terceiro referem-se ao Precursor. Na quarta são proclamados os acontecimentos que prepararam a vinda do Senhor."4.
O Leituras do Antigo Testamento São profecias sobre o Messias e o tempo messiânico, as três primeiras do livro de Isaías e a última do segundo livro de Samuel.
O leituras do Apóstolo Eles contêm exortações e admoestações consistentes com as diversas características desta época.
O Leituras do Evangelho Têm características próprias: referem-se à vinda do Senhor no fim dos tempos (1º Domingo); a João Batista (II e III domingo); e aos acontecimentos que prepararam de perto o nascimento do Senhor (IV Domingo).
De acordo com Pere Tena5, no ciclo C “o Advento assume o seu relevo mais completo” porque as leituras são do Evangelho de Lucas, que é o mais “mariano” dos quatro e tem uma teologia muito precisa sobre João Baptista, o Precursor. Além disso, seu evangelho infantil tem um clima de alegria e confiança na espera do Senhor no tempo presente, e o Advento deve ser um tempo privilegiado para potencializar essas virtudes.
A realidade cotidiana nos atinge ou nos desgasta; e nos faz andar de cabeça baixa, olhando para o chão, expressão corporal típica de quem perdeu a esperança e foi, de certa forma, “engolido” por ela. Nesta situação surge o convite a “erguer a cabeça” para “ver a salvação que vem de Deus”, para olhar mais alto e mais profundo. Resumidamente,
“O Advento é a época forte do esperança cristã”6.
Agora, estamos nos preparando como Igreja para o Jubileu ordinário do ano de 2025, cuja mensagem temática central será precisamente a ter esperança. Recordemos que o lema proposto pelo Papa Francisco para este ano jubilar é: “Peregrinos de ter esperança” e que, no início, na mesma Bula que convoca o Ano Jubilar, afirmou que a sua intenção ao escrevê-la era que “a todos os que lerem esta carta, ter esperança enche os vossos corações” e o seu desejo é “que o Jubileu seja uma oportunidade para todos reavivarem a ter esperança”. Além disso, o que o Papa Francisco diz na Bula que convoca o Ano Jubilar de 2025 sobre a ter esperança Está muito em sintonia com a espiritualidade do tempo do Advento. Vejamos alguns de seus textos:
“Esse entrelaçamento de ter esperança e a paciência mostra claramente como a vida cristã é um caminho, que também precisa de momentos fortes para alimentar e fortalecer o ter esperança, companheira insubstituível que nos permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus”.
“Nós, pela esperança com que fomos salvos, olhando para o passar do tempo, temos a certeza de que a história da humanidade e de cada um de nós não caminha para um ponto cego ou para um abismo escuro, mas antes estão orientados para o encontro com o Senhor da glória. Vivamos, portanto, na expectativa da sua vinda e na esperança de viver para sempre Nele. É com este espírito que fazemos nossa a ardente invocação dos primeiros cristãos, com a qual termina a Sagrada Escritura: “Vem, Senhor Jesus. ! » (Ap 22,20)”.
O Advento põe-nos no caminho do encontro com o Senhor Jesus que vem ao nosso encontro e é um tempo forte para nutrir e fortalecer a ter esperança.
No final da Bula, o Papa pede a nós, cristãos, que sejamos “sinais tangíveis de ter esperança para tantos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade […] Que o testemunho crente no mundo seja fermento de esperança genuína, anúncio de novos céus e de uma nova terra (cf. 2 Pd 3, 13), onde a justiça e a harmonia entre os povos, orientada para o cumprimento da promessa do Senhor. Deixemo-nos atrair a partir de agora pela ter esperança e deixemos que seja contagioso através de nós para todos os que o desejam. Que a nossa vida possa dizer-lhes: “Espera no Senhor e sede fortes; Tenha coragem e espere no Senhor” (Sl 27:14). Que a força disso ter esperança possa preencher o nosso presente com a expectativa confiante da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja o louvor e a glória agora e nos séculos vindouros.”
Temos aqui uma proposta concreta para viver este Advento sendo sinais e portadores de ter esperança para os outros.
Primeira Leitura (Jr 33,14-16):
Desta leitura devemos resgatar, sobretudo, o compromisso de Deus em cumprir o que prometeu, sua responsabilidade e fidelidade para conosco. O oráculo é alto e claro: "Chegarão os dias em que cumprirei a promessa que fiz“Não esqueçamos que estas palavras foram provavelmente ditas pelo profeta pouco antes da queda e destruição de Jerusalém. Ou seja, no meio de uma situação de crise e de decomposição social onde parece que tudo está perdido, incluindo a relação com Pois bem, neste contexto a Palavra de Deus ressoa através de Jeremias para anunciar a futura reconstrução, o cumprimento da promessa. é um ter esperança que se baseia fundamentalmente na Palavra de Deus, não na fragilidade dos homens.
Agora, o cumprimento deste ter esperança Envolve a colaboração dos homens, especificamente se espera a vinda de um descendente de David – uma semente justa – que, praticando a justiça e a lei, fará de Jerusalém um lugar seguro para se viver.
Segunda Leitura (1Ts 3,13-4,2):
São Paulo convida os Tessalonicenses a crescer no amor mútuo e a progredir no caminho da santidade, procurando sempre agradar a Deus. O interessante é que a motivação pois este esforço reside na Vinda do Senhor, que deve assim considerá-los irrepreensíveis diante de Deus.
Evangelho (Lc 21,25-28,34-36):
O evangelho deste domingo nos coloca imediatamente diante da consideração do fim do mundo. Neste fragmento do discurso escatológico de Lucas, recorrendo à simbologia do género apocalíptico, somos informados de que aquelas estrelas (sol, lua e estrelas) que Deus colocou para governar o tempo (cf. Gn 1) nos darão os sinais da chegada de o fim.
Esses sinais apocalípticos, por serem reveladores, geram divisão entre os homens. Assim temos, por um lado, a primeira e principal reação a esta realidade do fim por parte de as cidades qual será o sofrimento; e por parte os homens qual será o pânico (“o povo será vítima da angústia... os homens desmaiarão de medo”).
Por outro lado, todo este quadro de comoção cósmica nada mais é do que o quadro para o anúncio da chegada do Filho do Homem”.cheio de poder e glóriaO título de “Filho do Homem” que Jesus aqui aplica é inspirado em Dn 7,13-14 e representa o Messias como juiz escatológico. Trata-se, portanto, de sua vinda no fim dos tempos para julgar o mundo.
Dada esta demonstração, os discípulos deberán "tenha coragem e levante a cabeça". O contraste com a reação de "o povo e os homens" é claro; e é a Esperança que faz a diferença. Enquanto os homens em geral serão tomados pelo pânico, os cristãos são convidados a confiar, a ter coragem porque a vinda do Senhor lhes traz a libertação.
No contexto do nosso Advento, o gesto de levantar a cabeça é muito rico de significado. Trata-se de olhar além do cotidiano, do imediato que muitas vezes nos aprisiona, tirando perspectiva e sentido da vida.. Erguer a cabeça, ficar de pé, é sinônimo de recuperar a dignidade graças ao sentido transcendente da vida. Em suma, ver além para ter uma avaliação correta da nossa realidade.
Para conseguir isso é necessário um atitude vigilante, daí a advertência do evangelho de hoje para ““Não se deixe atordoar pelos excessos, pela embriaguez e pelas preocupações da vida.” Literalmente o texto diz: "Não deixem que seus corações fiquem pesados ou sobrecarregados... deixe seus corações ficarem cansados".
O termo grego para expressar o primeiro vício – κραιπάλῃ: excesso, devassidão ou dissipação - encontrado apenas aqui em todo o NT. Na literatura grega o seu significado está ligado ao excesso de álcool com todas as suas consequências. Pode estar formando uma unidade de significado com o próximo termo, embriaguez (μέθῃ), que aparece na lista de vícios de São Paulo em Romanos 13:13 e Gálatas 5:21. Quanto ao "preocupações da vida"(μερίμναις βιωτικαῖς) recordemos que esta expressão já aparecia na parábola do semeador, simbolizada pelos espinhos que sufocam a semente do Verbo (cf. Lc 8,14).
Precisamente o maior dano que isto causa é a perda de atenção e a sua consequência será que o dia da vinda do Senhor nos apanhe de surpresa, sem o esperarmos devidamente. A atitude necessária é então uma consciência atenta e vigilante, que é fruto da oração, da súplica ou súplica incessante, que o Senhor pede aqui aos seus discípulos. Lembremo-nos de que a necessidade de oração vigilante é um tema recorrente em Lucas (cf. 6.12; 18.1; 22.40.46). Quem alimentar a espera com orações incessantes poderá escapar de todas as convulsões cósmicas que virão e poderá "estar diante do Filho do homem".
É importante destacar a atitude “corpórea” dos discípulos antes do dia final, pois expressa o seu estado “espiritual” ou “interior”: levante a cabeça, fique diante do Senhor. Para os judeus, ficar de cabeça erguida era a atitude de quem ora, de quem se apresenta com confiança diante de Deus porque tem a consciência limpa e em paz.
Orientações para a homilia:
Como diz A. Nocent: “A orientação deste primeiro Domingo do Advento é claramente escatológica. É uma ocasião para revermos que lugar ocupa o «último dia» e o encontro de todo o Povo de Deus com o seu Senhor na nossa vida concreta."7.
A cada Advento a Igreja coloca o cristão numa situação vital de esperança: deve esperar, ligada a todo o Antigo Testamento, a chegada da libertação de Deus. O a expectativa do crente é, em última análise, a ter esperança num encontro definitivo com Deus. Aqui o A fé, como encontro com Deus, é a substância daquilo que esperamos.
desperte esta esperança transcendente, teológico, é a grande dificuldade e, portanto, o grande desafio no início do Advento. A principal dificuldade é que o homem pós-moderno vive no imediato e está satisfeito com isso. Seu horizonte muitas vezes não vai além do consumo, e isso é cada vez mais perceptível na forma de viver e celebrar o Natal sem distinção de classes sociais. Em alguns, é consumismo de facto; e em outros é apenas um consumismo de desejo. De uma forma ou de outra, apenas o bem-estar individual aparece como objeto de expectativa e conquista. Como aponta R. Cantalemessa, o sentido do eterno foi perdido e a consequência é que "O desejo natural de viver sempre, distorcido, torna-se o desejo ou frenesi de viver bem, ou seja, prazerosamente. A qualidade se resolve na quantidade. Falta uma das motivações mais eficazes da vida moral"8.
O segunda leitura hoje é um exemplo da força motivadora que o Dimensão escatológica da fé. Com efeito, para São Paulo, a escatologia não se limita ao tema dos acontecimentos finais, mas indica uma orientação de toda a vida cristã marcada pela espera do Senhor ressuscitado, com quem viveremos unidos para sempre. Para o ter esperança A vida atual do cristão é escatológica e é uma motivação fundamental para levar uma vida diferente da dos filhos deste mundo (cf. 1Ts 5,4-10; 1Cor 7,17-24). Ou seja, a escatologia não faz apenas parte do horizonte futuro do crente, mas também estrutura a sua vida no presente.
Mas para além de condenar o consumismo como atitude de vida, devemos compreender que, no fundo, ele responde ao desejo de felicidade que todos temos. Sim, porque na vida todos os homens procuram a felicidade, para serem felizes. A este respeito, o Papa Francisco afirma na Bula que convoca para o Ano Jubilar de 2025: “A felicidade é a vocação do ser humano, uma meta que diz respeito a todos. Mas o que é felicidade? Que felicidade esperamos e desejamos? Não é uma alegria passageira, uma satisfação efémera que, uma vez alcançada, continua a pedir sempre mais, numa espiral de ganância onde o espírito humano nunca está satisfeito, mas está sempre mais vazio. Precisamos de uma felicidade que se realize definitivamente naquilo que nos realiza, ou seja, no amor, para podermos exclamar, desde agora: sou amado, logo existo; e existirei para sempre no Amor que não decepciona e do qual nada nem ninguém poderá me separar.”.
Em suma, mesmo em meio às grandes dificuldades que atravessamos como humanidade, somos convidados a esperar com alegria pela salvação que só vem de Deus. É precisamente aqui que devemos ouvir o convite do evangelho de hoje para “animar-nos e levantar a cabeça porque a nossa libertação está próxima”. Porque o esperança cristã Baseia-se na ação de Deus e não na nossa. Se olharmos apenas para nós mesmos, para as nossas forças e recursos, desesperamos; Somente se levantarmos a cabeça e olharmos para Deus poderemos ter esperança.
A este respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 28 de novembro de 2021: “É preciso ter cuidado para não tornar os nossos dias um hábito, para não sermos oprimidos – diz Jesus – pelos pesos da vida (cf. v. 34). As preocupações da vida nos pesam. Hoje, então, é uma boa oportunidade para nos perguntarmos: o que pesa no meu coração? O que está pesando em meu espírito? O que isso faz comigo sentar na cadeira da preguiça? É triste ver os cristãos “no sofá”. Quais são as mediocridades que me paralisam, os vícios, quais são os vícios que me esmagam e me impedem de levantar a cabeça? E quanto aos fardos que pesam sobre os ombros dos irmãos, estou atento ou sou indiferente? Essas perguntas são boas para nós, porque ajudam salve o coração da acídia. Mas, pai, o que é acídia? É um grande inimigo da vida espiritual, também da vida cristã. Acedia é aquela preguiça que nos faz, que nos faz cair na tristeza, que nos tira a alegria de viver e a vontade de fazer as coisas. É um espírito negativo, é um espírito maligno que prende a alma na letargia, roubando-lhe a alegria. Começa com aquela tristeza, escorrega, escorrega, e sem alegria. O Livro dos Provérbios diz: “Guarda o teu coração, porque dele flui a vida” (Pr. 4,23). Guarde o seu coração: isso significa estar atento, vigiar, estar atento! Fique atento, guarde seu coração.
E acrescentemos um ingrediente essencial: o segredo para estar vigilante é a oração. Porque Jesus diz: “Estejam atentos orando em todos os momentos” (Lc 21,36). É a oração que mantém acesa a lâmpada do coração. Principalmente quando sentimos que o nosso entusiasmo está esfriando, a oração o reanima, porque nos leva de volta a Deus, ao centro das coisas. A oração desperta a alma do sono e a concentra no que importa, no propósito da existência. Mesmo nos dias mais movimentados, não negligenciemos a oração.”.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO): Comparecer
Antes de você Senhor
Vamos aparecer, naquele dia
Quando as estrelas se apagam
O mundo fica escuro
e esta vida acabou
Sua presença
Será uma canção de liberdade
Para nós que estamos em peregrinação
Neste momento de angústia e medo
Onde buscamos a Paz
Será sempre oração
a mão estendida de Deus
ao qual nos apegamos
para não cair em tentação
Somos nós, Senhor!
O futuro é incerto
Mas hoje mais do que nunca
Tu Senhor é o nosso refúgio
A quem recorremos para obter seguro?
Você amou tanto o mundo!
Esperamos seu retorno
Porque você está vivo e você é o primeiro
O Alfa, o Ômega, nosso desejo
Venha logo habitar neste solo
Perto e terno, verdadeiro Deus. Amém.
[1] Benedicto XVI, Homilía del 30 de noviembre de 2009.
[2] A. Nocent, El Año Litúrgico. Celebrar a Jesucristo. I. Introducción y Adviento, Santander 1987, 63.
[3] Citado por Pbro. Lic. Alejandro Bóttoli, Charla sobre el ciclo de Navidad (versión digital).
[4] J. Castellano, El año litúrgico. Memorial de Cristo y mistagogía de la Iglesia (CPL; Barcelona 1996) 71
[5] El leccionario de Lucas. Guía homilética para el ciclo C (CPL 50; Barcelona 1991) 5.
[6] A. Nocent, El Año Litúrgico. Celebrar a Jesucristo. I. Introducción y Adviento, Santander 1987, 104.
[7] R. Cantalamessa, Jesucristo el Santo de Dios, Madrid 1991, 94-95.