25/05/2025
Primeira Leitura: Atos 15,1-2.22-29
Salmo Responsorial: 66(67)-R- Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!.
Segunda Leitura: Apocalipse 21,10-14.22-23
Evangelho: João 14,23-29
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 23“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. 24Quem não me ama não guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou. 25Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. 26Mas o defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito. 27Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. 28Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. 29Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis”. – Palavra da salvação.
Estamos bem próximos da solenidade de Pentecostes e a liturgia nos prepara para essa festa a fim de que nos disponhamos a acolher o Dom de Deus por excelência. A festa de Pentecostes está em continuidade com a festa da páscoa. Jesus sobe aos céus e se oculta de seus discípulos fisicamente para permanecer com eles no dom do Espírito. A partir da Páscoa, Jesus está ausente segundo a carne, mas está presente segundo o espírito. Prestemos atenção a essa presença espiritual de Jesus.
Quando falamos de presença espiritual de Jesus, não falamos de uma presença atenuada ou diminuída. Pelo contrário! Agora, com o dom do Espírito Santo, Jesus está mais presente, mais ativo do que nunca. A Ascensão do Senhor não é um movimento contrário ao da encarnação. Alguns imaginam que na encarnação Deus vem, se torna presente, se encarna, enquanto que na Ascensão Jesus vai embora, nos abandona, está ausente.
A vinda do Espírito Santo, ao contrário, nos revela que a presença glorificada de Jesus é melhor que sua presença terrena, porque é uma presença universal, é uma presença interior e é uma presença eficaz.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, mas não a dou como o mundo”. A despedida de Jesus não é como a de um homem qualquer que vai embora. Jesus parte, mas promete retornar para estar presente com os discípulos. Ao se despedir, ele comunica sua paz. A paz, entre os semitas, era algo concedido por Deus. Não é uma conquista humana, mas um dom de Deus. Jesus comunica aos discípulos a sua paz, a paz que ele alcançou através de sua morte e ressurreição. É esta a sua paz que ele deixa aos seus discípulos.
“Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes o que eu vos disse: ’vou, mas voltarei a vós”. Parecem duas coisas contraditórias, mas que não são, pois estão relacionadas com a morte e a ressurreição de Jesus. A morte é a partida de Jesus para o Pai e a ressurreição marca a nova forma de presença espiritual de Jesus. Com a partida de Jesus e a vinda do Espírito Santo, a nossa situação é profundamente transformada. Jesus não está somente perto de nós, nem somente ao nosso lado, nem tampouco somente entre nós. Ele agora habita dentro de nós pelo espírito derramado em nossos corações.
De fato, quando Deus nos dá, ele não nos dá algo. Ele dá-se a si mesmo a nós. E o Espírito Santo é exatamente esse dom de Deus derramado em nossos corações. O Espírito Santo é Pessoa-dom. É o dom de Deus em Pessoa.
“...e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23)
6º Dom Pascoa - Jo 14,23-29 – Ano C –
Nestes últimos domingos do Tempo Pascal estamos tendo acesso a trechos do discurso de despedida de Jesus, relatado por S. João. E cada domingo apresenta uma boa dose de profundidade. Hoje o ensinamento de Jesus revela, de uma maneira muito clara, que Deus não está e nem pode estar fora de nós, fora da criação. É um Deus conosco, ou melhor, em nós. Deus habita em tudo e em todos.
O evangelho deste domingo ativa nossa sensibilidade mais profunda, fazendo-nos entrar em sintonia com Deus e com a realidade que nos cerca. “Deus habita e age diretamente no coração” e nos conduz com delicadeza, com carinho e com liberdade, preparando-nos para grandes experiências vitais. E nosso coração aberto, atento, sintonizado com a presença íntima de Deus, dispõe-se, coopera e responde à Graça divina, empenhando-se por encontrar “o que tanto busca e deseja”.
Essa é a experiência mística da vida: “sentir Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”.
Fazemos a experiência da intimidade, da presença, da comunhão, da proximidade de Deus em nossa própria vida; vivemos embriagados(as) de Vida, vivemos como um peixe no oceano de Deus, dizendo um profundo sim às ondas, ao vento, ao sol, à existência...; sentimo-nos cativados(as), envolvidos(as), amados(as), sintonizados(as), habitados(as) por Deus de tal maneira que nossos olhos, gestos, nossas atitudes, palavras, nosso coração, nossa existência transbordam Deus; percebemo-nos envolvidos(as) pela “onda” de Deus e sintonizamo-nos com o Seu coração. Tal experiência é incomunicável; ninguém pode vivê-la por nós.
“Todo ser humano foi criado para ser habitado” (Irmão Roger de Taizé). Trata-se de uma expressão surpreendente, uma frase que, de imediato, descreve algo que parece impossível. No entanto, se pensarmos bem, é o que ocorre com toda maternidade. O filho habita na mãe. Também Jesus um dia falou a Nicodemos que é preciso “nascer de novo” e a surpresa dele foi tal que exclamou: “por acaso, pode um homem entrar de novo no ventre de sua mãe?” Para Jesus, “nascer de novo” só é possível por obra do Espírito, convertendo-nos em nova criatura. Igualmente, poderíamos dizer que “sermos habitados” só é possível por obra do Espírito; é Ele que torna presente e real o próprio Deus em nossas vidas. Por isso S. Paulo afirma que somos “templos de Deus” ou “templos do Espírito”.
Quando alguém ama e é amado torna-se uma pessoa habitada pelo amado. Como se recebe a uma pessoa no próprio interior? Através do amor. Pelo amor, o amado se torna presente no mais íntimo do outro, habita no mais profundo dele mesmo. Se isto pode ser uma rica experiência antropológica, pode igualmente ser, e com mais razão, uma experiência teologal. Deus se faz o constitutivo mais íntimo de nossa personalidade quando lhe abrimos nosso coração, entrando no fluxo de Sua Vida. E então é possível dizer com toda verdade: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Cristo vive em nós: isso é exatamente “sermos habitados”. Vive em nós quando acolhemos sua Palavra e nos deixamos guiar por seu Espírito. E então acontece uma maravilha: nós nos sentimos cada vez mais nós mesmos, ao sentir-nos cada vez mais cheios de Deus. Porque Deus, ao habitar-nos, não anula nossa identidade; pelo contrário, nos constitui. É o constitutivo mais íntimo de nossa pessoa.
De forma que o crescimento em humanidade e o estar habitado pela Trindade são diretamente proporcionais, já que crescem na mesma direção. Disse o Mestre Eckhart: “Deus me é mais próximo que eu mesmo o sou de mim mesmo; meu ser depende de que Deus esteja perto de mim e presente em mim. E quanto mais sei disso, mais feliz sou”.
Muitas vezes nem nos damos conta disso. A Trindade não nos invade, não se impõe, não nos anula. Simplesmente se torna habitante, presença, inspiração.
Quando sentimos que somos habitados por Deus? Como é possível sentir isso? Quando sentimos a necessidade de algo mais; quando o cansaço não se converte em derrota, mas em parte do caminho; quando nossa imaginação é a porta aberta à criatividade; quando nosso interior está povoado pelos nomes de tantas pessoas as quais amamos e sentimos que são companheiras nesta viagem que é a vida, sempre presentes de muitas maneiras, mesmo quando já não estão ou podem estar longe; quando sentimos estremecer nossas entranhas ao perceber a dor do outro, mesmo que não o conheçamos e o sentimos próximo; quando desejamos que o futuro seja melhor, e compreendemos que nós somos também responsáveis para torná-lo possível; quando temos a intuição profunda de que há limitações e fragilidades na nossa vida porque somos criaturas; quando o sofrimento, a injustiça e a violência nos afetam, mas encontramos a força para enfrentá-los e seguir adiante; quando temos afã de conhecer mais: o mundo, o ser humano, a criação; quando nos atrevemos a perdoar e pedir perdão: descobrimos que algo, muito dentro, começa a ser curado; quando a alegria e o humor nos invadem e sentimos que não é preciso fazer drama diante daquilo que acontece; quando a beleza nos faz sentir assombro; quando, por um instante, sabemos, sem nenhuma dúvida, que estamos vinculados a outros; quando choramos por amor...
Em todas essas faíscas de humanidade estão os reflexos do Espírito que se move em nós e que nos traz, a seu modo, o pulsar de Deus.
Por isso, nossa oração implica fazer um percurso interior, nossa morada de Deus. No dom da oração, “o coração absorve Deus, e Deus absorve o coração, e os dois se fazem um” (S. João Crisóstomo).
Ao participarmos da mesma Vida de Deus, daquela que o mesmo Jesus participava, experimentamos a completa unidade com Jesus e com Deus. É uma experiência de unidade e identificação tão viva que nada nem ninguém poderá arrancá-la de nós. É uma comunhão de ser absoluta entre Deus e nós. Por isso, quando amamos, é o mesmo Deus quem ama. O Amor-Deus se manifesta em nós como se manifestou em Jesus.
O ritmo frenético e estressante do contexto atual, e, sobretudo, o culto à novidade, ao efêmero, ao superficial, impedem recuperar a dimensão da interioridade em nossa vida diária. Isso também nos impede perceber e sentir a presença divina que se move em nosso “eu profundo”.
Nesse sentido, a oração cristã facilita perceber as ressonâncias interiores do “toque” presencial de Deus, no mais profundo de nós mesmos, pois o santuário da presença de Deus está nesse espaço de intimidade entre a criatura e o Criador. Ele se comunica conosco através dos sentimentos elevados, dos desejos nobres, dos apelos inspiradores...
Deus quer suscitar vibrações novas em nossas vidas, e sua Presença instigante desperta em nós o grande desejo de entrar em sintonia com Seu coração. Abrir os olhos e os ouvidos à Presença e à ação de Deus nos faz ficar atônitos, fascinados e sensíveis à Sua voz que cada dia ressoa em nosso interior.
Talvez seja preciso colocar outro ritmo em nossa existência, que nos permita estar atentos e à escuta das surpresas que Deus tem reservado a cada um de nós. A nós corresponde nos mobilizar e estar atentos aos movimentos do Seu Espírito e dos acontecimentos.
Podemos então afirmar que a busca de Deus e o encontro com Ele, a partir de Sua iniciativa, coincidem com a busca e o encontro de nós mesmos, de modo que buscar a Deus é buscar-nos a nós mesmos, na nossa própria interioridade. Afinal, caminhamos dentro de Deus; dentro d’Ele nos movemos, somos e existimos.
Quando quisermos saber onde está Deus só precisamos olhar-nos por dentro e ver se estamos habitados por Ele. Quando quisermos saber onde está o céu, não miremos para cima; basta que miremos nosso coração. Esse é o céu de Deus e, oxalá, seja também nosso céu.
Para meditar na oração:
O amor torna Deus presente em nós até o ponto de que Jesus e o Pai com o Espírito “morem em nós”, habitem em nós, nos convertam em sua casa, em seu céu.
- Todo cristão é testemunha de uma presença contemplada e ouvida no silêncio da oração. Deixe-se levar como se estivesse num rio, observando-se com um olhar interior, escutando, sentindo, ...
Celebramos o 6º Domingo do Tempo Pascal com este texto do Evangelho de João, no qual Jesus nos diz claramente: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Nessa frase, encontramos o centro de nossa fé cristã: Deus se torna presente em meio à comunidade reunida no amor fraterno e guiada por sua Palavra. Esse é o grande legado que Jesus deixa para a comunidade que deseja segui-lo: o amor mútuo, como ele o demonstrou no serviço fraterno e no amor a ele, que se expressa em “guardar a sua Palavra”.
Uma palavra que vai além dos textos escritos em um livro, ou dos modos de vida e ação moral, social e religiosa. Guardar sua palavra é acolher sua vida em nossa vida pessoal e comunitária. Jesus não oferece um caminho seguro e já trilhado, mas nos convida a acolher sua palavra dia a dia, nas diversas situações em que cada comunidade se encontra. Essa realidade traz consigo o desafio de tornar presente a novidade de sua Palavra, tanto pessoal quanto comunitariamente, levando em conta a diversidade de lugares onde estamos presentes.
Jesus reforça o convite para amá-lo: um amor que é expresso pelo cumprimento de sua palavra. É um amor pessoal e, ao mesmo tempo, um amor compartilhado. O Evangelho de João estava nos transmitindo as palavras de Jesus que meditamos durante este período de Páscoa: o amor de Maria que unge Jesus com o perfume de nardo puro muito caro, o amor como serviço mútuo, amando uns aos outros “como Ele nos amou” e assim Jesus estava revelando esse amor, com gestos e palavras.
Suas palavras não são frases isoladas ou textos que são deixados abertos a interpretações aleatórias. Sua palavra se reflete em sua vida e em suas ações, portanto, cumprir sua palavra é viver e agir como ele agiu, movido, antes de tudo, pelo amor. Em meio a essa comunidade, onde o amor reina como serviço e doação mútua, o amor do Pai está presente e faz sua morada.
E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou. Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.
Jesus descreve que a palavra para amar e guardar vem do Pai, aludindo assim à sua presença em nosso meio. Em meio à perplexidade de uma comunidade que estava ciente da rejeição e do ódio que as atitudes e as palavras de Jesus geravam, especialmente entre os judeus - fariseus e doutores da lei -, Jesus promete a presença do Espírito Santo como o mestre, a presença viva de sua palavra em nosso meio e, fundamentalmente, aquele que nos dá a sua paz: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
Nesses dias, recebemos o novo Papa Leão XIV que, desde o início, tornou presentes as palavras de Jesus: “A paz esteja com todos vocês. Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo ressuscitado, o Bom Pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em seus corações, alcançasse suas famílias e todos os povos da Terra. A paz esteja com vocês”. Primeiro discurso de Prevost, Papa Leão XIV: "O mal não prevalecerá, construamos pontes de paz". Ele também disse aos jornalistas reunidos após o conclave que “bem-aventurados que trabalham pela paz” e continuou dizendo: “A paz começa dentro de cada um de nós, na maneira como nos olhamos, na maneira como falamos uns dos outros. A maneira como nos comunicamos é de fundamental importância. Devemos dizer não à guerra das palavras, das imagens; devemos rejeitar o paradigma da guerra. "Leão XIV aos jornalistas: "Desarmemos a comunicação de todo preconceito, ressentimento, fanatismo e ódio, purifiquemo-la"
A Igreja é a portadora dessa paz que Jesus deu às primeiras comunidades. Em primeiro lugar, recebê-la e permitir que sejamos transformados por ela, e também denunciar tudo o que a ameaça. É a paz daqueles que não permitem a violência, a guerra, a discriminação, o desprezo. Não é a paz dos cemitérios, é uma paz inquieta que brota do Espírito e que leva à construção de pontes, como diz Leão XIV.
Neste tempo de pascoa façamos nossa a oração de Pedro Casaldáliga
Dá-nos, Senhor aquela Paz inquieta que denuncia
a Paz dos cemitérios e a Paz dos lucros fartos.
Dá-nos a Paz que luta pela Paz!
A Paz que nos sacode com a urgência do Reino.
A Paz que nos invade, com o vento do Espírito,
a rotina e o medo, o sossego das praias
e a oração de refúgio.
A Paz das armas rotas na derrota das armas.
A Paz da fome de Justiça,
a paz da Liberdade conquistada,
a Paz que se faz “nossa” sem cercas nem fronteiras,
Que tanto é “Shalom” como “Salam”, perdão, retorno, abraço...
Dá-nos a tua Paz, essa Paz marginal que soletra
Em Belém e agoniza na Cruz e triunfa na Páscoa.
Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta,
que não nos deixa em paz!
Pedro Casaldáliga
A porta de entrada do texto é o versículo anterior, onde Judas, não o Iscariotes, pergunta a Jesus durante a Última Ceia, “porque vais manifestar-se a nós e não ao mundo?” (v. 22). Jesus dá a resposta – o Pai vem morar no cristão que guarda a sua palavra, pois as suas palavras são as do Pai. O mundo (aqui entendido como o anti-reino, não o mundo físico) não ama a Deus. A presença de Deus só pode ser experimentada por quem que o ama. Não é possível amar a Deus sem guardar a sua palavra.
Versículo 26 traz a segunda predição no Último Discurso da vinda do Paráclito (veja Jo 14,15). Aqui se focaliza mais o seu papel de ensinamento, um ensinamento que clarifica o que Jesus ensinou. Ele vai fazer com que os discípulos “lembrem” tudo o que Jesus disse. Aqui “lembrar” significa a capacidade de entender o verdadeiro sentido das palavras e ações de Jesus, depois da Ressurreição (2,22; 12,16). O Espírito Santo, aqui descrito como Paráclito (no sistema judicial grego, o Paráclito era o advogado da defesa), não trará ensinamento que seja independente da revelação de Jesus. Ele vai preservar os discípulos de erro e guardá-los perto de Jesus.
Com este dom, Jesus deixa com a sua comunidade a sua paz. Ele usa a palavra tradicional dos judeus para a paz, Shalom. É uma paz baseada na vinda do Espírito, que será atualizada na noite de Páscoa quando dirá “A paz esteja com vocês! Recebam o espírita Santo” (Jo 20,21-22). Enfatiza que não é a paz como o mundo a entende – simplesmente como a ausência de briga. Muitas vezes a paz que o mundo dá é aquela falsa, que depende da força das armas para reprimir as legitimas aspirações do povo sofrido – como tantos países experimentaram durante as ditaduras de direita e da esquerda.
O shalom é tudo o que o Pai quer para o seu povo. Só existe quando reina o projeto de vida de Deus. Implica a satisfação de todas as necessidades básicas da pessoa humana, da libertação da humanidade do pecado e das suas consequências. Como dizia Paulo VI: “Justiça é o novo nome da paz!”.
O shalom dos discípulos não pode ser perturbado pela sua partida, pois é através da volta do Filho para o Pai que o shalom vai se instalar.
O shalom, a verdadeira paz, é um dom de Deus. Mas precisa da colaboração humana! Diante de tantas barbaridades hoje, de tanta violência no campo e na cidade, da exploração do latifúndio, da impunidade, qual deve ser a atitude do cristão? Se nós acreditamos no shalom, não podemos compactuar com sistemas repressivos ou elitistas que tiram da maioria (ou duma minoria) os direitos básicos que pertencem a todos os filhos/as de Deus.
Às vezes, este shalom convive ao lado do sofrimento e perseguição por causa do Reino, mas quem experimenta na intimidade a presença da Trindade, também experimenta a verdade da frase do texto de hoje, “não fiquem perturbados, nem tenham medo” (v. 27), pois disse Jesus, “eu venci o mundo”.
Por isso devemos sempre “fazer a memória de Jesus” (aqui, destaca-se o momento privilegiado da celebração da santa ceia) – da sua pessoa e do seu projeto, para que tenhamos critérios certos para verificar a presença – ou ausência – do shalom na nossa sociedade, e nos comprometermos com a criação do mundo mais justo que Deus quer.
O texto é a parte final do discurso de despedida de Jesus antes da sua paixão. É interessante que acabamos lendo e meditando este discurso no tempo no qual celebramos a Páscoa, a ressurreição de Jesus, sua vitória definitiva contra a morte. Este discurso de despedida começa no capítulo 13, depois da prática do lava-pés e continua nos capítulos 15-17.
Jesus se despede de seus discípulos e suas discípulas, mas, ao mesmo tempo, diz para a comunidade do seguimento o que devem fazer na espera de seu retorno. Nós também somos a comunidade do seguimento de Jesus que escuta esta palavra hoje.
Na primeira parte do discurso de despedida Jesus nos indica o caminho que conduz a Deus que é Pai e Mãe. Na segunda parte do discurso Jesus fala da comunhão dele com sua comunidade. Na terceira parte deste capítulo 14 do Quarto Evangelho Jesus fala de sua partida e do dom da paz.
No discurso de adeus para os discípulos e as discípulas Jesus assegura que um dia estaria voltando. Agora percebemos que Jesus não fala mais para aquele grupo de discípulos e discípulas presentes na ceia, mas fala para a comunidade do Quarto Evangelho e para cada um e cada uma de nós hoje, partilhando de que forma podemos nos alegrar com a presença de Jesus neste tempo de separação.
Somos pessoas chamadas ao discipulado do Filho que é Jesus para entrar em comunhão com Ele. Existe uma relação de amor que une a discípula e o discípulo ao Filho Jesus, e o Pai e o Filho aos discípulos. Se estamos na caminhada do discipulado de Jesus na construção do seu Reino, Jesus faz morada conosco e com Ele o Pai porque são uma só pessoa.
Morada é uma palavra repleta de sentido. No primeiro testamento morada por excelência era o Templo de Jerusalém (Sal 121,1; 131,3-14; Is 6; 60). Jesus, o Verbo de Deus pela sua Encarnação, cumpriu a promessa da Presença de Deus no meio da humanidade. Para o Quarto Evangelho a morada definitiva do Pai é a comunidade do seguimento do Filho.
Judas Tadeu pediu para Jesus: "Senhor, porque te manifestarás a nós e não ao mundo?" Jesus responde agora a esta pergunta: o mundo são aquelas pessoas que recusam a proposta de Jesus e, com esta recusam a pessoa de Deus Pai. A presença do Filho e do Pai está estritamente ligada à escuta e à prática da Palavra de Jesus que é a palavra do Pai. Jesus diz para a comunidade do seu discipulado que virá o Espírito Santo Consolador que o Pai enviará em nome de Jesus.
O Pai, o Filho e o Espírito são a mesma Pessoa no Amor. O Espírito Santo será quem ensinará e fará recordar. Ensinar, na Bíblia este verbo significa muitas vezes interpretar autenticamente as Escrituras e atualizá-las no tempo presente. Porém, no Evangelho de João existe uma novidade: o Espírito Santo Consolador ensinará, não só as Escrituras, mas a Verdade, tudo o que Jesus comunicou ao Pai, a mesma Pessoa de Jesus e do Pai! O Espírito Santo não só ensina, a Divina Ruah, faz recordar, faz voltar ao coração o profundo sentido de cada acontecimento à luz da vitória da Ressurreição sobre todo forma de morte.
Esta experiência de conseguir interpretar não só o tempo passado mas o presente não é dom para uma pessoa, mas para uma comunidade. O Espírito Santo, a Divina Ruah, faz da comunidade o lugar privilegiado da revelação da pessoa do Pai em Jesus.
Ao término de seu discurso, Jesus volta a falar ao tempo presente para a comunidade dos discípulos e das discípulas que irão vivenciar sua paixão e morte. Para esta comunidade é a Paz de Jesus. O texto do Evangelho não está falando aqui do dom da paz, da tranquilidade ou da ausência de conflitos. Jesus não deseja a paz, ele doa a sua Paz.
A Paz de Jesus é a presença do Pai no Filho! Sabemos que também de "pax" de paz falava o império romano. Esta "pax" era fruto de opressão, de violência e de impostos que tiravam toda a vida do povo, sobretudo dos mais empobrecidos. A comunidade do evangelho de João insiste em dizer que a paz na pessoa de Jesus e no seu projeto que é o Reino nunca vai ser a paz do mundo dos opressores! Mas a certeza de estar no Filho e no Pai no ensino e na recordação do Espírito Santo Consolador faz com que a comunidade não tema nenhum tipo de violência e perseguição.
A comunidade do Quarto Evangelho nos diz que a partida e a nova vinda de Jesus na ressurreição são duas facetas do mesmo acontecimento. Para a comunidade do Quarto Evangelho é importante fazer esta memória de Jesus para que a comunidade pudesse compreender a paixão de Jesus no seu sentido pleno e não como uma derrota, como uma traição por parte de Deus.
Atos dos Apóstolos 15,22-31:
1ª Leitura Atos 15, 22-29 – Vídeo 14 minutos
https://www.youtube.com/watch?v=D5YFRvCiYbo
(Inicia-se após 2 minutos da gravação)
2ª Leitura - Jo 14, 23-29
A porta de entrada do texto é o versículo anterior, onde Judas, não o Iscariotes, pergunta a Jesus durante a Última Ceia, “porque vais manifestar-se a nós e não ao mundo?” (v. 22). Jesus dá a resposta – o Pai vem morar no cristão que guarda a sua palavra, pois as suas palavras são as do Pai. O mundo (aqui entendido como o anti-reino, não o mundo físico) não ama a Deus. A presença de Deus só pode ser experimentada por quem que o ama. Não é possível amar a Deus sem guardar a sua palavra.
Versículo 26 traz a segunda predição no Último Discurso da vinda do Paráclito (veja Jo 14,15). Aqui se focaliza mais o seu papel de ensinamento, um ensinamento que clarifica o que Jesus ensinou. Ele vai fazer com que os discípulos “lembrem” tudo o que Jesus disse. Aqui “lembrar” significa a capacidade de entender o verdadeiro sentido das palavras e ações de Jesus, depois da Ressurreição (2,22; 12,16). O Espírito Santo, aqui descrito como Paráclito (no sistema judicial grego, o Paráclito era o advogado da defesa), não trará ensinamento que seja independente da revelação de Jesus. Ele vai preservar os discípulos de erro e guardá-los perto de Jesus.
Com este dom, Jesus deixa com a sua comunidade a sua paz. Ele usa a palavra tradicional dos judeus para a paz, Shalom. É uma paz baseada na vinda do Espírito, que será atualizada na noite de Páscoa quando dirá “A paz esteja com vocês! Recebam o espírita Santo” (Jo 20,21-22). Enfatiza que não é a paz como o mundo a entende – simplesmente como a ausência de briga. Muitas vezes a paz que o mundo dá é aquela falsa, que depende da força das armas para reprimir as legitimas aspirações do povo sofrido – como tantos países experimentaram durante as ditaduras de direita e da esquerda.
SHALOM
O SHALOM É TUDO O QUE O PAI QUER PARA O SEU POVO.
SÓ EXISTE QUANDO REINA O PROJETO DE VIDA DE DEUS.
IMPLICA A SATISFAÇÃO DE TODAS AS NECESSIDADES BÁSICAS DA PESSOA HUMANA.
IMPLICA A LIBERTAÇÃO DA HUMANIDADE DO PECADO E DAS SUAS CONSEQUÊNCIAS.
COMO DIZIA PAULO VI:
“JUSTIÇA É O NOVO NOME DA PAZ!”.
O shalom dos discípulos não pode ser perturbado pela sua partida, pois é através da volta do Filho para o Pai que o shalom vai se instalar.
O shalom, a verdadeira paz, é um dom de Deus. Mas precisa da colaboração humana! Diante de tantas barbaridades hoje, de tanta violência no campo e na cidade, da exploração do latifúndio, da impunidade, qual deve ser a atitude do cristão? Se nós acreditamos no shalom, não podemos compactuar com sistemas repressivos ou elitistas que tiram da maioria (ou duma minoria) os direitos básicos que pertencem a todos os filhos/as de Deus.
Às vezes, este shalom convive ao lado do sofrimento e perseguição por causa do Reino, mas quem experimenta na intimidade a presença da Trindade, também experimenta a verdade da frase do texto de hoje, “não fiquem perturbados, nem tenham medo” (v. 27), pois disse Jesus, “eu venci o mundo”.
Por isso devemos sempre “fazer a memória de Jesus” (aqui, destaca-se o momento privilegiado da celebração da santa ceia) – da sua pessoa e do seu projeto, para que tenhamos critérios certos para verificar a presença – ou ausência – do shalom na nossa sociedade, e nos comprometermos com a criação do mundo mais justo que Deus quer.
(Traduzido automaticamente pelo tradutor Google sem nossa correção. Se desejar confira com o original em espanhol, logo após a tradução)
SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA CICLO "C"
Primeira Leitura (Atos 15,1-2.22-29):
De acordo com essa história, Paulo está em Antioquia e alguns convertidos da Judeia chegam e insistem na necessidade de ser circuncidado para alcançar a salvação. Ou seja, eles necessariamente têm que se tornar "judeus" para serem salvos. Paulo e Barnabé discutem com eles e, no final, decide-se levar o assunto aos apóstolos e anciãos de Jerusalém. Esta visita de Paulo e Barnabé proporciona a ocasião para o chamado "concílio de Jerusalém" (Atos 15:4-29). O problema subjacente é o mesmo referido por São Paulo em Gl 2,1-10; Embora a novidade seja que os defensores da circuncisão e opositores de Paulo são identificados aqui como “fariseus convertidos à fé” (Hb 15:5). No final do concílio foi escrita uma carta ou decreto apostólico que apenas impôs algumas restrições aos cristãos dos gentios (cf. 15:22-29); mas não a obrigação de ser circuncidado.
A Igreja caminha pelo mundo e, em sua obra evangelizadora, surgem questões que devem ser resolvidas em comunhão e sob a assistência do Espírito Santo. De qualquer forma, "A história não procede apenas por princípios abstratos, mas requer discernimento, que é a sabedoria de esperar o momento certo para propor mudanças que sirvam ao crescimento e não causem divisões mais profundas."1.
Segunda Leitura (Ap 21,10-14.22-23):
O autor tenta apresentar a beleza sublime da Cidade Santa, algo celestial, mas descrito com palavras e figuras humanas, muitas delas tiradas dos profetas (cf. Ez 40,2; Is 54,11ss; 60,1-22; Zc 14). É dada atenção a três elementos da antiga cidade de Jerusalém, com forte carga simbólica: o muro, os portões e os pilares. O parede Continua sendo um símbolo da segurança inviolável que reina na própria cidade. Mas não se trata de confinamento porque são doze portas, três olhando para cada um dos quatro pontos cardeais, sinal de sua abertura universal. E a parede é sustentada por doze pilares, que são "os doze apóstolos do CordeiroAssim, a Igreja é construída sobre o testemunho dos Apóstolos. Mas falta o mais importante da Jerusalém terrena: o templo, o lugar da presença de Deus. E não é necessário porque Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro são o templo, Deus é tudo em todos, vive-se a plenitude da comunhão com Deus. Por isso, não há necessidade de luz, pois tudo está repleto da Glória de Deus e a lâmpada é o Cordeiro. Em suma, a beleza infinita da Cidade Santa surge daqui, da Presença de Deus e do Cordeiro.
Evangelho (Jo 14,23-29):
Os primeiros versículos do texto de hoje fazem parte da seção de João 14:12-26, onde são desenvolvidas quatro promessas que Jesus faz aos seus discípulos em seu discurso de despedida: fazer obras maiores que Ele; o dom do Paráclito; a habitação do Pai e do Filho; a recepção do ensinamento do Paráclito 2. Encontramos essas duas últimas promessas no fragmento que lemos hoje.
Em relação ao habitação do Pai e do Filho Vale lembrar que Jesus está respondendo à seguinte pergunta de Judas – não Iscariotes –: “Senhor, por que te revelarás a nós e não ao mundo?" (Jo 14,22). Esta questão, por sua vez, surgiu por ocasião da declaração anterior de Jesus: "Aquele que recebe os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele." (Jo 14,21).
A primeira resposta de Jesus a Judas – não a Iscariotes – é mais um aprofundamento do que foi dito em 14:21 e não responde diretamente à questão de por que essa revelação foi reservada apenas para seus discípulos. De fato, Jesus diz: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada." (Jo 14,23). Como bem observa G. Zevini3: “A incompreensão de Judas torna-se para Jesus uma nova oportunidade de propor e aprofundar o tema da presença de Deus na vida do crente.”.
Jesus continua afirmando que A “condição” para receber a manifestação divina é o amor por ele. Amor que se manifesta em coisas concretas: cumprir os mandamentos, guardar a sua palavra. Como nos ensina L. Rivas4Esta expressão “guarda a minha palavra” aparece várias vezes em João e seu significado é que aceitar a revelação do Pai que Jesus oferece; Portanto, aqueles que guardam a palavra são aqueles que vivem na fé e a expressam no amor.. E o primeira consequência Essa atitude é a de ser amado pelo Pai. O segunda é que o Pai e o Filho vêm a ele e eles vivem nele. O termo grego usado é seg (lua,), quarto ou habitação, que Jesus já havia usado pouco antes quando disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas (lua,)” (14,2). Neste versículo Jesus falou de nos levar a habitar ao lado do Pai, na morada eterna. Pelo contrário, em 14:23 ele fala em fazer do crente em Jesus um morada de Deus, um lugar onde Deus habita porque é o Pai com o Filho que vêm habitar naqueles que creem e guardam os mandamentos. Este é o habitação do Pai e do Filho no crente5.
Aqui a tradição do Antigo Testamento da presença de Deus entre seu povo se cumpre de uma maneira surpreendente ("Eu porei a minha morada entre vocês» Êx 25, 8; Levítico 26, 11; Ez 37, 27; (Zc 2, 14). De fato, "O lugar da morada de Deus, na tradição bíblica, era a “tenda” (cf. Nm 14,10; Ex 16-17), o “templo” (cf. Sl 121,1; 131,3-14), “Jerusalém” (cf. Lm 6,60). Em João, a morada de Deus é o homem, por meio da encarnação de Jesus e do projeto que Deus realizou com o mundo dos homens."6.
Jesus anuncia que Deus não estará apenas "no meio do seu povo", mas "dentro de cada crente", que se tornará "um templo vivo do Deus vivo".
Num segundo momento Jesus responde por que o mundo não pode receber sua manifestação: simplesmente porque ele não o ama nem cumpre sua palavra, que é a palavra do Pai. De fato, segundo o Evangelho de João, o mundo não ama Jesus, mas o odeia (cf. Jo 7,7; 15,18).
Nos versículos 25 e 26 temos o desenvolvimento da promessa do Espírito: “Digo-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”.
Aqui ao Espírito Santo é atribuída uma dupla missão: ensinar e lembrar. O ensinamento de João é sempre algo exclusivo das pessoas divinas (o Pai, Jesus Cristo e o Espírito) e seu conteúdo é sempre a Revelação. Do contexto desses versículos, deduzimos que a função de "ensinar" do Espírito será fazer conhecer aos discípulos a revelação que Jesus fez durante sua vida terrena, mas que eles não conseguiram compreender completamente naquele momento.
Quanto à ação de “lembrar”, note-se que no vocabulário do quarto evangelho não se trata de uma simples lembrança, É uma reconstrução do passado a partir de uma perspectiva nova e mais profunda, que leva a crer em Jesus e nas Escrituras.. Nessa recordação, os atos e as palavras de Jesus adquirem uma perspectiva especial que antes, em sua situação real, permanecia obscura.
Os versículos 27-29 encerram esta parte do discurso de Jesus, na qual ele se refere novamente ao seu partida. Antes de partir, ele deixa a paz aos seus discípulos: “É minha a paz que eu vos dou; Eu não os dou a você da maneira que o mundo faz" (Jo 14,27). Este é o dom da paz como dom escatológico, o mesmo com que Jesus Ressuscitado saúda os discípulos, dizendo: “A paz esteja com você!(cf. Jo 20:19, 21, 26). Esta predição de paz, segundo o contexto do Antigo Testamento, inclui todos os bens necessários para a vida presente e a plenitude dos bens na vida futura. Aqui, também, vemos o contraste com o mundo, que oferece uma falsa paz; e a oferece ao custo de sacrificar a verdade.
Essa paz guarda os corações dos crentes, que não devem ser perturbados nem intimidados. É impressionante que em João o verbo usado aqui - pentearde (ficar perturbado, ser comovido) - é aplicado a Jesus em algumas situações: antes da morte de Lázaro (cf. 11:33); antes da chegada da “hora” da paixão (cf. 12,27) e antes da traição de Judas (cf. 13,21). No entanto, aqui -
Assim como em 14:1 - Jesus pede aos seus discípulos que não fiquem perturbados, que não fiquem preocupados, mas que creiam nele. Precisamente, e assim termina esta parte do discurso, Jesus lhes disse tudo isso para que, quando as coisas acontecessem, eles cressem nele. Ou seja, devem manter a paz interior fundada na confiança nEle, para além das coisas que acontecem.
Algumas reflexões:
Recapitulando a ideia principal do tempo pascal, nomeadamente, a busca e o encontro com Jesus Ressuscitado em nossas vidas, o Evangelho deste Domingo nos revela um “lugar” privilegiado da sua presença. E eu diria quase um "lugar" raramente visitado e um tanto esquecido, apesar de ser fundamental para a vida cristã. Nós nos referimos a a Presença de Deus dentro de nós, na nossa alma, no nosso coração. Jesus prometeu isso claramente no Evangelho de hoje: "Nós viremos a ele e faremos nele nosso lar". A Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, quer habitar em nós, fazer do nosso coração a sua casa, a sua habitação, o seu lugar de morada.
A este respeito lemos no Catecismo da Igreja Católica n. 260: “O fim último de toda a economia divina é o acesso das criaturas à perfeita unidade da Santíssima Trindade. Mas desde agora somos chamados a ser habitados pela Santíssima Trindade (Jo 14,23).”
E podemos testemunhar que é um "lugar" fundamental da Presença de Deus porque foi lá que muitos dos grandes crentes o encontraram (e desfrutaram). Comecemos com aquele apaixonado buscador de Deus que foi Santo Agostinho: "¡Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! E Você estava dentro de mim e eu estava fora, e então lá fora eu te procurei; E, deformado como eu era, lancei-me sobre essas coisas belas que criaste. Você estava comigo, mas eu não estava com você. Fui afastado de você por aquelas coisas que, se não estivessem em você, não existiriam. Você me chamou e chorou, e quebrou minha surdez; Você brilhou e brilhou, e curou minha cegueira; Você exalou seu perfume, e eu o inalei, e agora sinto saudades de você; Eu gostei de você, e agora sinto fome e sede de você; Você me tocou e eu ansiei pela paz que vem de você" (Confissões, 10, 27).
"Eis que, ó Senhor meu Deus, o Altíssimo, o maior e o todo-poderoso, eu Eu encontrei o lugar onde você mora; e esta é a alma, criado à sua imagem e semelhança, que busca e deseja somente a Você, não aquele que não busca nem deseja. Eu, como ovelha perdida, andava por aí te procurando lá fora, enquanto tu estavas dentro de mim; e eu trabalhei duro procurando por você fora de mim, e você viveu dentro de mim" (Meditações e Solilóquios, 31-32).
Esta presença interior de Deus é o que deslumbra Santa Teresa, tornando-se princípio e fundamento do seu “edifício” espiritual:
Não nos imaginemos vazios por dentro [...]. Eu compreendia bem que tinha uma alma; mas o que essa alma merecia e quem estava nela, se eu não tapasse os olhos com as vaidades da vida para vê-lo, eu não compreenderia. Que, na minha opinião, se, como agora compreendo, neste pequeno palácio da minha alma há espaço para um Rei tão grande, eu não O deixaria sozinho tantas vezes, às vezes estaria com Ele, e me esforçaria ainda mais para garantir que não estivesse tão sujo. Mas que coisa admirável, Ele que preenche mil mundos e muito mais com a Sua grandeza, encerrar-se em algo tão pequeno! Verdadeiramente, como Ele é Senhor, Ele traz consigo a liberdade, e como Ele nos ama, Ele se faz à nossa medida."(O Caminho da Perfeição, 9-11)".
Essa seiva nutritiva da tradição carmelita deu grandes frutos em Santa Isabel da Trindade. Foi assim que ele se expressou em suas cartas ao entrar no Carmelo: "Todo o meu exercício é me interiorizar e me perder naqueles que estão lá. Sinto-o tão vivo na minha alma! Só preciso me recolher para encontrá-lo dentro de mim. É isso que constitui toda a minha felicidade."7. "Acho que encontrei meu paraíso na terra, pois o céu é Deus e Deus está em minha alma. No dia em que entendi isso, tudo ficou claro para mim, e eu gostaria de contar esse segredo em voz bem baixa para aqueles que amo, para que eles também, apesar de tudo, possam se apegar a Deus."8.
Se Deus habita em nossos corações, um efeito claro de sua presença é a paz de coração. Por isso, ao “dom” da Sua presença em nós, Jesus no Evangelho de hoje acrescenta imediatamente o “dom” da Paz. Segundo o Pe. Cantalamessa "Quem melhor celebrou esta Paz divina, que vem de além da história, foi o Pseudo-Dionísio Areopagita. A paz é para ele um dos “nomes de Deus”, com o mesmo título de “amor”. Também é dito de Cristo que Ele mesmo “é” a nossa paz (Ef 2:14-17). Quando Ele diz: “A minha paz vos dou”, Ele nos transmite aquilo que é"9.
A Paz Divina é antes de tudo um dom que Jesus tem para nos dar. Mas o próprio Jesus nos convida no Evangelho de hoje a trabalhar pela nossa paz interior, a não ficarmos preocupados nem agitados. É a paz como uma tarefa. É isto que São Francisco de Sales tanto recomendava. 10: "Tente, minha filha, manter seu coração em paz e com um humor estável. Não estou dizendo para ter paz, mas tente fazê-lo; Deixe que esta seja sua principal preocupação e cuide bem de si mesmo para que a incapacidade de acalmar rapidamente as flutuações de sentimentos e humor não se torne um motivo de ansiedade.".
O Papa Leão XIV disse em seu recente discurso ao corpo diplomático: “Na perspectiva cristã – assim como em outras experiências religiosas – a paz é antes de tudo um dom, o primeiro dom de Cristo: “Eu vos dou a minha paz” (João14,27). Mas é um dom ativo, apaixonado, que afeta e envolve cada um de nós, independentemente da origem cultural ou da filiação religiosa, e que exige, antes de tudo, um trabalho sobre si mesmo. A paz se constrói no coração e a partir do coração, arrancando o orgulho e as pretensões, e medindo a linguagem, porque também se pode ferir e matar com palavras, não apenas com armas.”.
É também tarefa de toda a Igreja, que deve aprender a resolver os conflitos “pacificamente”, como nos diz a primeira leitura de hoje. Se houver amor, se houver comunhão, a Verdade irá se revelando aos poucos até triunfar, sem perder a paz.
E em consideração à Verdade, temos que dizer que esta Presença e morada de Deus em nós, embora permaneça um dom gratuito, requer, exige que algumas pré-condições sejam dadas. De fato, Jesus diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará…” (14:23). Portanto, são necessários o amor e a observância dos mandamentos, que, em última análise, se requerem mutuamente: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15) e “Quem aceita os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo 14,21).
No Evangelho de João, isso implica crer em Cristo, receber sua palavra, sua revelação, e ser fiel a ela na vida — isto é, vivê-la permanecendo em seu amor.
E essa presença de Deus em nós é também a glória suprema da nossa jornada pascal, assim como foi para os apóstolos. Como J. Lafrance corretamente observa11:
“Ao viver uma experiência de intimidade com Cristo, instalou-se no coração dos apóstolos um desejo ardente de permanecer com Cristo. E, no entanto, sua presença deve acabar. Ele deve deixar seu próprio povo para apresentá-los a uma experiência mais espiritual de sua presença. Para que o Espírito Santo nos seja dado e permaneça em nós, é necessário que Cristo retorne ao seu Pai e seja glorificado. Para prolongar a sua presença na terra e permitir-nos permanecer com Ele, Jesus envia o seu Espírito (Jo 14,16-17). O Espírito Santo se instala, portanto, de maneira estável no coração dos homens, é ele quem dá testemunho da nossa união permanente com Deus.”.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO): Você vai ao Pai
Senhor Jesus, tu nos mostraste o rosto do Pai
Envia teu Espírito, a noite está caindo
Os corações escurecem e a carne aperta
A tua palavra é um refúgio que nos abriga
Lá te encontramos, Trinitário
Na fidelidade virás habitar em nós
Imploramos a sua paz com orações incessantes
Habita no coração do Amigo
E o mundo a procura, confuso, ignorante
Você retornará porque você é a Verdade
Você só nos ordena que te amemos
E assim a espera será curta, sem medo, sem preocupação
Nós nos alegraremos com vocês porque vocês estão indo para o Pai
E você também fica e se oferece a Ele para sempre
Na Liturgia, rezar. Amém.
NOTAS
1 G. Zevini – P. G. Cabra (eds.), Lectio Divina para cada día del año. Vol. 4 (Verbo Divino; Navarra 2002) 339.
2 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 393.
3 Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 368.
4 El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 400.
5 Cf. X. León-Dufour, Lectura del Evangelio de Juan. Jn 13-17 Vol. III (Sígueme; Salamanca 1995) 106-107.
6 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme, Salamanca 1995) 368.
7 Carta al canónigo A., 15 de junio de 1903.
8 Carta a la Sra. de S., 1902.
9 Segunda predicación de Adviento, 8 de diciembre de 2006,
10 Ouvres complétes, citado por J. Philippe, Busca la paz y consérvala (San Pablo; Buenos Aires 2003) 93. 11 Morar en Dios (San Pablo; Madrid 1996) 17.
SEXTO DOMINGO DE PASCUA CICLO "C"
Primera lectura (He 15,1-2.22-29):
Según este relato Pablo está en Antioquia y llegan algunos convertidos de Judea que insisten en la necesidad de circuncidarse para alcanzar la salvación. Es decir, tienen que hacerse "judíos" necesariamente para poder salvarse. Pablo y Bernabé discuten con ellos y, al final, se decide llevar la cuestión ante los apóstoles y presbíteros de Jerusalén. Esta visita de Pablo y Bernabé da la ocasión para el llamado "concilio de Jerusalén" (He 15,4-29). El problema de fondo es el mismo que refiere san Pablo en Gal 2,1-10; aunque la novedad está en que los partidarios de la circuncisión y opositores de Pablo son identificados aquí como “fariseos convertidos a la fe” (He 15,5). Al final del concilio se redacta una carta apostólica o decreto que sólo pone algunas restricciones a los cristianos venidos de la gentilidad (cf. 15,22-29); pero no la obligación de circuncidarse.
La Iglesia camina en el mundo y en su tarea evangelizadora van surgiendo cuestiones que hay que resolver en comunión y bajo la asistencia del Espíritu Santo. En fin, "la historia no procede sólo por principios abstractos, sino que requiere discernimiento, que es la sabiduría de esperar el momento oportuno para proponer cambios, de modo que sirvan para el crecimiento y no sean causa de divisiones más graves"1.
Segunda lectura (Ap 21,10-14.22-23):
El autor trata de presentar la belleza sublime de la Ciudad Santa, algo celestial pero descrito con palabras y figuras humanas, muchas de ellas tomadas de los profetas (cf. Ez 40,2; Is 54,11s; 60,1-22; Zac 14). Se presta atención a tres elementos de la antigua ciudad de Jerusalén, con fuerte carga simbólica: la muralla, las puertas y los pilares. La muralla sigue estando como símbolo de la seguridad inviolable que reina dentro de la misma ciudad. Pero no se trata de encierro pues hay doce puertas, tres mirando a cada uno de cuatro puntos cardinales, signo de la apertura universal de la misma. Y la muralla está sostenida por doce pilares, que son "los doce apóstoles del Cordero". O sea que, sobre el testimonio de los Apóstoles se edifica la Iglesia. Pero falta lo más importante de la Jerusalén terrenal: el templo, lugar de la presencia de Dios. Y no hace falta porque Dios Todopoderoso y el Cordero son el templo, Dios es todo en todos, se vive la plenitud de la comunión con Dios. Por esto tampoco hace falta luz, ya que todo está lleno de la Gloria de Dios y la lámpara es el Cordero. En fin, la infinita belleza de la Ciudad Santa surge de aquí, de la Presencia de Dios y del Cordero.
Evangelio (Jn 14,23-29):
Los primeros versículos del texto de hoy forman parte de la sección de Jn 14,12-26 donde se desarrollan cuatro promesas que Jesús hace a sus discípulos en su discurso de despedida: hacer obras mayores que Él; el don del Paráclito; la inhabitación del Padre y del Hijo; la recepción de la enseñanza del Paráclito 2. Estas dos últimas promesas las encontramos en el fragmento que leemos hoy.
Con respecto a la inhabitación del Padre y del Hijo conviene recordar que Jesús está respondiendo a la siguiente pregunta de Judas – no el Iscariote –: "Señor, ¿por qué te vas a manifestar a nosotros y no al mundo?" (Jn 14,22). Esta pregunta, a su vez, surgió con ocasión de la anterior afirmación de Jesús: "El que recibe mis mandamientos y los cumple, ese es el que me ama; y el que me ama será amado por mi Padre, y yo lo amaré y me manifestaré a él" (Jn 14,21).
La primera respuesta de Jesús a Judas – no el Iscariote – es más bien una profundización de lo dicho en 14,21 y no responde directamente al por qué de esta revelación reservada sólo a sus discípulos. En efecto, Jesús dice: "Si alguno me ama, guardará mi palabra, y mi Padre le amará, y vendremos a él, y haremos morada en él" (Jn 14,23). Como bien nota G. Zevini3: “la incomprensión de Judas se convierte para Jesús en una nueva ocasión para volver a proponer y profundizar en el tema de la presencia de Dios en la vida del creyente”.
Jesús sigue afirmando que la "condición" para recibir la manifestación divina es el amor a él. Amor que se manifiesta en lo concreto: cumplir los mandamientos, guardar su palabra. Como nos enseña L. Rivas4esta expresión "guardar mi palabra" aparece varias veces en Juan y su sentido es el de aceptar la revelación del Padre que ofrece Jesús; por tanto, los que guardan la palabra son los que viven en la fe y la expresan en el amor. Y la primera consecuencia de esta actitud es la de ser amados por el Padre. La segunda es que el Padre y el Hijo vengan a él y habiten en él. El termino griego utilizado es moné (monh,), habitación o morada, que ya había utilizado Jesús poco antes al decir: "En la Casa de mi Padre hay muchas habitaciones (monh,)" (14,2). En este versículo Jesús hablaba de llevarnos a habitar junto al Padre, en la morada eterna. Por el contrario, en 14,23 habla de hacer del creyente en Jesús una morada de Dios, un lugar donde Dios habita pues son el Padre con el Hijo quienes vienen a habitar en el que cree y guarda los mandamientos. Esta es la inhabitación del Padre y del Hijo en el creyente5.
Aquí tiene cumplimiento, de un modo sorprendente, la tradición del Antiguo Testamento sobre la presencia de Dios en medio de su pueblo («Pondré mi morada en medio de ustedes» Ex 25, 8; Lev 26, 11; Ez 37, 27; Zac 2, 14). En efecto, “el lugar de la morada de Dios, en la tradición bíblica, era la «tienda» (cf. Nm 14,10; Ex 16-17), el «templo» (cf. Sal 121,1; 131, 3-14), «Jerusalén» (cf. La. 6,60). En Juan la morada de Dios es el hombre, a través de la encarnación de Jesús y el plan que Dios ha realizado con el mundo de los hombres”6.
Jesús anuncia que Dios no sólo estará "en medio de su pueblo" sino "en el interior de cada creyente", que devendrá "templo vivo del Dios viviente".
En un segundo momento Jesús responde al por qué el mundo no puede recibir su manifestación: sencillamente porque no lo ama ni guarda su palabra, que es la palabra del Padre. En efecto, para el evangelio de Juan el mundo no ama a Jesús, sino que lo aborrece (cf. Jn 7,7; 15,18).
En los versículos 25 y 26 tenemos el desarrollo de la promesa del Espíritu: “Yo les digo estas cosas mientras permanezco con ustedes. Pero el Paráclito, el Espíritu Santo, que el Padre enviará en mi Nombre, les enseñará todo y les recordará lo que les he dicho”.
Se le atribuye aquí al Espíritu Santo una doble misión: enseñar y recordar. La enseñanza en Juan es siempre algo exclusivo de las personas divinas (el Padre, Jesucristo y el Espíritu) y su contenido es siempre la Revelación. Por el contexto de estos versículos deducimos que la función "docente" del Espíritu será dar a conocer a los discípulos la revelación que Jesús hizo durante su vida terrena pero que ellos no pudieron captar en profundidad en ese momento.
En cuanto a la acción de "recordar", notemos que en el vocabulario del cuarto evangelio no es un simple traer a la memoria, es una reconstrucción del pasado desde una nueva perspectiva, más profunda, y que lleva a creer en Jesús y en la Escritura. En este recuerdo, los hechos y palabras de Jesús adquieren una perspectiva especial que antes, en su situación real, quedaban en la penumbra.
Los versículos 27-29 cierran esta parte del discurso de Jesús en la cual vuelve a hacer referencia a su partida. Antes de partir les deja a sus discípulos su paz: “Es la paz, la mía la que les doy; no se las doy a la manera del mundo” (Jn 14, 27). Se trata del don de la paz como don escatológico, la misma con la cual Jesús Resucitado saluda a los discípulos diciéndoles: “¡Paz a ustedes!” (cf. Jn 20,19.21.26). Este augurio de paz, según el trasfondo del Antiguo Testamento, incluye todos los bienes necesarios para la vida presente y la plenitud de bienes en la vida futura. Aparece también aquí la contraposición con el mundo que da una falsa paz; y la da a costa del sacrificio de la verdad.
Esta paz custodia el corazón de los creyentes, que no deben turbarse ni acobardarse. Llama la atención que en Juan el verbo utilizado aquí - tarássó (turbarse, conmoverse) - es aplicado a Jesús en algunas situaciones: ante la muerte de Lázaro (cf. 11,33); ante la llegada de la "hora" de la pasión (cf. 12,27) y ante la traición de Judas (cf. 13,21). Sin embargo, aquí -
al igual que en 14,1 - Jesús les pide a sus discípulos que no se dejen turbar, que no se inquieten, sino que crean en Él. Justamente, y así termina esta parte del discurso, Jesús les ha dicho todo esto para que cuando suceda crean en Él. Vale decir que deben conservar la paz interior fundados en la confianza en Él, más allá de las cosas que sucedan.
Algunas reflexiones:
Retomando la idea fuerza del tiempo pascual, a saber, la búsqueda y el encuentro con Jesús Resucitado en nuestra vida, el evangelio de este domingo nos revela un "lugar" privilegiado de Su presencia. Y casi diría un "lugar" poco frecuentado y algo olvidado a pesar de ser fundamental en la vida cristiana. Nos referimos a la Presencia de Dios en nuestro interior, en nuestra alma, en nuestro corazón. Jesús lo ha prometido claramente en el evangelio de hoy: "vendremos a él y haremos morada en él". La Santísima Trinidad, Padre, Hijo y Espíritu Santo, quiere habitar en nosotros, hacer de nuestro corazón su morada, su habitación, su lugar de residencia.
Al respecto leemos en el Catecismo de la Iglesia Católica nº 260: "El fin último de toda la economía divina es el acceso de las criaturas a la unidad perfecta de la Bienaventurada Trinidad. Pero desde ahora somos llamados a ser habitados por la Santísima Trinidad (Jn 14,23)”.
Y podemos testimoniar que es un "lugar" fundamental de la Presencia de Dios por cuanto es allí donde lo han encontrado (y gozado) muchos de los grandes creyentes. Comencemos por ese apasionado buscador de Dios que fue San Agustín: "¡Tarde te amé, hermosura tan antigua y tan nueva, tarde te amé! Y Tú estabas dentro de mí y yo afuera, y así por fuera te buscaba; y, deforme como era, me lanzaba sobre estas cosas hermosas que Tú creaste. Tú estabas conmigo, mas yo no estaba contigo. Me retenían lejos de ti aquellas cosas que, si no estuviesen en ti, no existirían. Me llamaste y clamaste, y quebrantaste mi sordera; brillaste y resplandeciste, y curaste mi ceguera; exhalaste tu perfume, y lo aspiré, y ahora te anhelo; gusté de ti, y ahora siento hambre y sed de ti; me tocaste, y deseé con ansia la paz que procede de ti " (Confesiones, 10, 27).
"He aquí, Señor Dios mío, sumo, inmenso y todopoderoso, que yo he hallado el lugar en el cual Vos habitáis; y éste es el alma, criada a vuestra imagen y semejanza, que a Vos solo busca y desea, no la que no busca ni desea. Yo, como oveja descarriada, anduve perdido buscándote por defuera, estando Vos dentro de mí; y trabajé mucho buscándoos fuera de mí, y vos morabais dentro" (Meditaciones y Soliloquios, 31-32).
Esta presencia interior de Dios es la que deslumbra a Santa Teresa por lo que pasa a ser el principio y fundamento de su "edificio" espiritual:
"No nos imaginemos huecas en lo interior […]. Bienentendía que tenía alma; mas lo que merecía esta alma y quién estaba dentro de ella, si yo no me tapara los ojos con las vanidades de la vida para verlo, no lo entendía. Que, a mi parecer, si como ahora entiendo que en este palacio pequeñito de mi alma cabe tan gran Rey, que no le dejara tantas veces solo, alguna me estuviera con El, y más procurara que no estuviera tan sucia. Mas ¡qué cosa de tanta admiración, quien hinchiera mil mundos y muy mucho más con su grandeza, encerrarse en una cosa tan pequeña! A la verdad, como es Señor, consigo trae la libertad, y como nos ama, hácese a nuestra medida" (Camino de perfección, 9-11)".
Esta nutriente savia de la tradición carmelitana ha dado su gran fruto en Santa Isabel de la Trinidad. Así se expresaba en sus cartas al ingresar al Carmelo: "Todo mi ejercicio es entrar adentro y perderme en Los que están allí. ¡Lo siento tan vivo en mi alma! No tengo más que recogerme para encontrarlo dentro de mí. Eso es lo que constituye toda mi felicidad"7. "Me parece que he encontrado mi cielo en la tierra, puesto que el cielo es Dios y Dios está en mi alma. El día que comprendí eso, todo se iluminó para mí y quisiera decir ese secreto en voz muy baja a los que amo, a fin de que también ellos, a través de todo, se adhieran a Dios"8.
Si Dios habita en nuestro corazón, un efecto claro de su presencia es la Paz del corazón. Por eso, junto al "don" de Su presencia en nosotros, Jesús en el evangelio de hoy añade enseguida el "don" de la Paz. Según el P. Cantalamessa "quien mejor ha celebrado esta Paz divina, que llega de más allá de la historia, fue Pseudo-Dionisio Areopagita. Paz es para él uno de los «nombres de Dios», con el mismo título que «amor». También de Cristo se dice que «es» Él mismo nuestra paz (Ef 2, 14- 17). Cuando dice: «Mi paz os doy», Él nos transmite aquello que es"9.
La Paz divina es ante todo un don que Jesús nos tiene que dar. Pero el mismo Jesús nos invita en el evangelio de hoy a trabajar por nuestra paz interior, a no inquietarnos ni agitarnos. Es la paz como tarea. Es lo que tanto recomendaba San Francisco de Sales 10: "Intenta, hija mía, mantener tu corazón en paz con un humor estable. No digo que lo tengas en paz, sino que intentes hacerlo; que ésta sea tu principal preocupación, y cuídate mucho para que el no poder rápidamente calmar la oscilación de los sentimientos y del estado de ánimo, no se convierta en motivo de intranquilidad".
Al respecto dijo el Papa León XIV en su reciente discurso al cuerpo diplomático: “En la perspectiva cristiana —como también en la de otras experiencias religiosas— la paz es ante todo un don, el primer don de Cristo: «Les doy mi paz» (Jn 14,27). Pero es un don activo, apasionante, que nos afecta y compromete a cada uno de nosotros, independientemente de la procedencia cultural y de la pertenencia religiosa, y que exige en primer lugar un trabajo sobre uno mismo. La paz se construye en el corazón y a partir del corazón, arrancando el orgullo y las reivindicaciones, y midiendo el lenguaje, porque también se puede herir y matar con las palabras, no sólo con las armas”.
Tarea también de toda la Iglesia que debe aprender a solucionar “en paz” los conflictos, como nos narra la primera lectura de hoy. Si hay amor, si hay comunión, la Verdad se irá manifestando poco a poco hasta triunfar, sin que se pierda la paz.
Y por consideración a la Verdad tenemos que decir que esta Presencia y morada de Dios en nosotros, sin dejar de ser un don gratuito, requiere, exige algunas condiciones previas para darse. En efecto, Jesús dice: “Si alguno me ama, guardará mi palabra, y mi Padre le amará…” (14,23). Por tanto, se requiere el amor y la observancia de los mandamientos, que en el fondo se reclaman mutuamente: “Si ustedes me aman, cumplirán mis mandamientos” (Jn 14,15) y “El que recibe mis mandamientos y los cumple, ese es el que me ama” (Jn 14,21).
En el evangelio de Juan esto implica creer en Cristo, recibir su palabra, su revelación y ser fiel a la misma en la vida, o sea, vivirla permaneciendo en su amor.
Y esta presencia de Dios en nosotros es también el coronamiento de nuestro itinerario pascual al igual que lo fue para los apóstoles. Como bien nota J. Lafrance11:
“Al vivir una experiencia de intimidad con Cristo, se instaló en el corazón de los apóstoles un deseo ardiente de permanecer con Cristo. Y, sin embargo, su presencia debe terminar. Debe dejar a los suyos para introducirlos en una experiencia más espiritual de su presencia. Para que nos sea dado el Espíritu Santo y permanezca en nosotros, es necesario que Cristo vuelva a su Padre y sea glorificado. Para prolongar su presencia en la tierra y permitirnos permanecer con él, Jesús envía su Espíritu (Jn 14,16-17). El Espíritu Santo se instala, pues, de manera estable en el corazón de los hombres, es él quien da testimonio de nuestra unión permanente con Dios”.
PARA LA ORACIÓN (RESONACIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE): Vas al Padre
Señor Jesús, que nos has mostrado el rostro del Padre
Envía tu Espíritu, ya cae la tarde
Se oscurecen los corazones y se tensa la carne
Es tu Palabra refugio para cobijarnos
Allí te encontramos, trinitario
En fidelidad vendrás a habitarnos
Imploramos tu Paz con ruegos incesantes
Habita en el corazón del Amigo
Y el mundo la busca confundido, ignorante
Volverás porque eres la Verdad
Solo nos mandas amarte
Y así la espera será breve, sin temor, sin inquietarse
Nos alegraremos contigo porque te vas al Padre
Y también te quedas y a Él te ofreces para siempre
En la Liturgia, orante. Amén.
NOTAS
1 G. Zevini – P. G. Cabra (eds.), Lectio Divina para cada día del año. Vol. 4 (Verbo Divino; Navarra 2002) 339.
2 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 393.
3 Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 368.
4 El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 400.
5 Cf. X. León-Dufour, Lectura del Evangelio de Juan. Jn 13-17 Vol. III (Sígueme; Salamanca 1995) 106-107.
6 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme, Salamanca 1995) 368.
7 Carta al canónigo A., 15 de junio de 1903.
8 Carta a la Sra. de S., 1902.
9 Segunda predicación de Adviento, 8 de diciembre de 2006,
10 Ouvres complétes, citado por J. Philippe, Busca la paz y consérvala (San Pablo; Buenos Aires 2003) 93. 11 Morar en Dios (San Pablo; Madrid 1996) 17.